A RECEPÇÃO EM DUAS VIAS DA TEOLOGIA EM SCHELLING NA
DÉCADA DE 1790
Gabriel Almeida Assumpção
Bacharel em Psicologia - UFMG
Mestrando em Filosofia - UFMG
Bolsista do CNPq
[email protected]
Resumo:
Abstract:
Nossa tese é de que a filosofia inicial de Schelling é
marcada por recepção de duas vias da teologia: de
um lado, Schelling mostra uma visão positiva da
teologia (a possibilidade de uma hermenêutica que
mostre como mitos e relatos bíblicos são formas de
apresentar ideias importantes para o ser humano).
De outro lado, o filósofo apresenta uma visão
negativa (a apropriação da doutrina dos postulados
kantianos como regresso a uma filosofia pré-kantiana
disfarçada de kantismo – o ‘dogmaticismo’). A
primeira visão se encontra em textos como Über
Mythen (1793) e a segunda, nas Philosophische Briefe
über Dogmatismus und Kriticismus (1795).
Our thesis is that Schelling’s initial philosophical steps
are characterized by a twofold reception of theology:
from one side, Schelling displays a positive view on
theology (the possibility of an hermeneutic that
approaches myths and biblical stories as ways of
presenting important ideas for human beings). On
the other hand, the philosopher reveals a negative
view on theology (‘dogmaticism’, a misappropriation
of the Kantian postulates of practical reason as
regress to a pre-Kantian philosophy disguised as
Kantianism. The first view is presented in texts such
as Über Mythen (1793) and the second view, in the
Philosophische Briefe über Dogmatismus und
Kriticismus (1795).
Palavras-chave: Kant. Mitos. Postulados. Schelling. Key-words: Kant. Myths. Postulates. Schelling.
Theology.
Teologia.
1. INTRODUÇÃO: DUAS VIAS PARA A TEOLOGIA
Schelling é conhecido por apresentar diversas fases em seu pensamento. Mesmo em
um período curto de tempo, observamos uma mudança considerável, tanto na terminologia
adotada pelo filósofo quanto pelo foco de seus textos. Essa rápida mudança na terminologia
e na forma de abordar problemas por Schelling mostra a versatilidade do filósofo. Não
obstante a riqueza de gêneros textuais (que incluem tratados, diálogos, aforismos) e de
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temas, há questões que são recorrentes em sua filosofia: a liberdade, a religião, a mitologia 1.
Em De malorum origine (1792) e em Über Mythen (1793), Schelling aceita uma noção
de liberdade que julga estar presente no Gênesis e em outros mitos da Antiguidade, como o
mito de Prometeu: a liberdade leva a incorrer no mal devido ao desejo de conhecimento e de
liberdade ilimitada à qual, todavia, não se está destinado2. De malorum origine pode ser
considerado o primeiro escrito filosoficamente relevante de Schelling. A interpretação das
escrituras à luz da razão é influência do Tractatus Theologico-Politicus de Spinoza. Outra
influência apontada por Augusto é Rousseau3. Nota-se também menções frequentes, da
parte de Schelling, a Herder, e o artigo de Kant sobre o mal radical também é importante
nessa dissertação4. Segundo Puente:
É precisamente essa aproximação à teologia, na verdade, uma preocupação
constante de Schelling (como comprova, por exemplo, sua dissertação de
mestrado concluída em 1792 (De malorum origine), que oferece uma saída da
imediateidade (Unmittelbarkeit) da ‘intuição intelectual’5.
Nessa obra, Schelling condena a hybris humana, o excesso impulsivo da natureza
humana em busca da felicidade6. Posteriormente, Schelling continuará criticando tal impulso,
nas Philosophische Briefe über Dogmatismus und Kriticismus (Cartas Filosóficas sobre
Dogmatismo e Criticismo) (1795), ao elogiar o pensamento de Spinoza, no qual, segundo
Schelling, “a beatitude não é recompensa da virtude, mas a virtude mesma” 7. Essa obra do
filósofo de Leonberg foi escrita, em grande parte, como crítica à ortodoxia de Tübingen,
onde Schelling estudou com Hegel e com Hölderlin. No Seminário, vivia-se numa obediência
quase monástica, e não se falava de liberdade8. Além disso, a ortodoxia de Tübingen era
acusada, por Schelling, de se servir da filosofia de Kant apenas para salvar a teologia, ao fazer
1 AUGUSTO, R.: La liberdad incondicionada del Yo absoluto en el joven Schelling, pp. 55-56.
2AUGUSTO, R.: La liberdad incondicionada del Yo absoluto en el joven Schelling, p. 39s.
3AUGUSTO, R.: La liberdad incondicionada del Yo absoluto en el joven Schelling, p. 40n.
4SCHELLING, F. W. J. Ein kritischer und philosophischer Auslegungsversuch des ältesten Philosophems von
Genesis III…, § 1, p. 105n.
5PUENTE, F. R. As concepções antropológicas de Schelling, p. 16.
6AUGUSTO, R.: La liberdad incondicionada del Yo absoluto en el joven Schelling, p. 41.
7SCHELLING, F. W. J., Philosophische Briefe über Dogmatismus und Kriticismus (de agora em diante, BDK),
Achter Brief, p. 91. No original: „Seeligkeit ist nicht Lohn der Tugend, sondern die Tugend selbst.“ (tradução
nossa)
8FRANK, Manfred. Eine Einführung in Schellings Philosophie, p. 16.
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uso ilegal dos postulados da razão prática pura; os quais não ampliam o saber, mas operam
na prática, na produção do sumo Bem. Sobre as Cartas, afirma Schelling, mais de uma década
mais tarde.9
As Cartas sobre Dogmatismo e Criticismo (...) contém uma polêmica viva contra a
então mal empregada e quase que universalmente válida chamada ‘prova moral’
da existência de Deus, do ponto de vista da então não menos geral opinião que
prevalecia, a da oposição entre sujeito e objeto. Para o autor, essa polêmica
parece, em relação à forma de pensar à qual se refere, manter ainda toda sua
força.10
Vejamos como Schelling, nessa fase de seu pensamento, vê que a teologia oferece
duas vias, uma frutífera e uma infrutífera. A primeira reside na possibilidade de uma
hermenêutica que estude textos religiosos enfatizando os mitos como sensibilização de
ideias valiosas para a humanidade, ao passo que a segunda consiste nas práticas teológicas
de Tübingen, pelas quais se tenta salvar a teologia natural do colapso decorrente, em parte,
das duras críticas de Kant e de Hume.
2. A VIA FRUTÍFERA OU HERMENÊUTICA: O PAPEL DOS MITOS
Desde jovem, o filósofo se interessava pelo mundo das religiões antigas,
particularmente da Grécia e do Oriente11. No Magisterschrift, já se observa claramente
conexão entre liberdade e o mal, elo que será central em textos posteriores de Schelling,
como o Freiheitschrift de 1809.
A história de vários povos mostra que a razão possui um interesse na origem do mal
humano, pois humanos dos mais eruditos, em diversas culturas, tentaram entender esse
problema12. Em quase todos os povos, há uma tradição de uma era dourada e de um estado
9PIEPER, A. Editorischer Bericht, pp. 12-13.
10SCHELLING, F. W. J.; Philosophische Untersuchngen über das Wesen der menschlichen Freiheit und die damit
zusammenhängenden Gegenstände. No original: “Die Briefe über Dogmatismus und Kriticismus (...) enthalten
eine lebhaft Polemik gegen den damals fast allgemengeltenden und vielfach gemissbrauchten sogenannten
moralischen Beweis von der Existenz Gottes aus dem Gesichtspunkt des damals nicht weniger allgemein
herschenden Gegensatzes von Subjekt und Objekt. Dem Verfasser scheint diese Polemik in Ansehung der
Denkweise, auf sie sich bezieht, noch immer ihre volle Kraft zu haben”. (tradução nossa).
11TORRES, Maria José de. Perspectivas sobre religion y filosofía en los inicios del idealism alemán: Fichte y
Schelling antes de 1794, p. 121.
12SCHELLING, F. W. J. Ein kritischer und philosophischer Auslegungsversuch des ältesten Philosophems von
Genesis III…, § 1, p. 105.
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de felicidade perdido dos ancestrais13. Tentou-se explicar racionalmente a causa do mal. Os
humanos, ignorantes da natureza e das suas leis, suspeitam de forças obscuras operando por
trás de suas ações14.
Em De malorum origine, o mal surge pelo desejo de conhecimento e de liberdade
ilimitados, é a própria liberdade que possibilita a aparição do mal. A razão é apresentada
tanto como negativa – aspira à maior sabedoria e nos faz cair no mal por ambição, levando
ao mal moral – como também tem sua forma positiva, permitindo-nos alcançar metas da
humanidade, combatendo o mal físico15.
Um ano depois de seu mestrado, Schelling publica Über Mythen nos “Memorabilien”
de H. E. Paulus16, uma revista dedicada à história da religião e da literatura oriental 17. O mito,
segundo Schelling, configura primitivamente a visão de mundo da juventude da humanidade,
que é caracterizada pelo autor com os termos ‘ingenuidade’ e ‘simplicidade’ 18. Esses termos,
no entanto, não devem ser entendidos pejorativamente, mas sim como algo positivo. Para
Schelling, essa ingenuidade é algo mais vivo e expressivo: os mitos surgem pela necessidade
de conteúdos sensíveis, de transmissão viva da história de um povo e dos questionamentos
sobre a origem das coisas, sobre as causas da mudança, etc. De acordo com Frank:
No semestre de inverno de 1792/93, aparece um outro trabalho com o título Sobre
mitos, ditos históricos e filosofemas do mundo antigo. Aqui, bem como na exegese
do mito do pecado original e de sua tradição, Schelling não é, de modo algum,
adepto da ortodoxia. Ao contrário, ele faz a sua leitura dos mitos no espírito da
crítica da razão, e busca a prova de que os conhecimentos primordiais das religiões
antigas recuperam, necessariamente, em si, elementos que são facilmente
acessíveis a uma interpretação racional. Schelling, então, não seguiu a direção de
sua família e do Seminário, mas buscou caminhos novos e heterodoxos, os quais
em muitos aspectos já trazem em si o futuro da filosofia, que a posteridade viria a
associar com seu nome (o ensaio sobre os mitos, de certa forma, já contém
sementes das preleções de Munique e das preleções sobre a Mitologia de Berlin)19.
13SCHELLING, F. W. J. Ein kritischer und philosophischer Auslegungsversuch des ältesten Philosophems von
Genesis III…, § 1, p. 105n.
14SCHELLING, F. W. J. Ein kritischer und philosophischer Auslegungsversuch des ältesten Philosophems von
Genesis III…, § 1, p. 105.
15AUGUSTO, R.: La liberdad incondicionada del Yo absoluto en el joven Schelling, p. 39.
16JACOBS, W. G. Editorischer Bericht, p.187.
17AUGUSTO, R.: La liberdad incondicionada del Yo absoluto en el joven Schelling, p. 43.
18DISTASO, L. The Paradox of Existence. Philosophy and Aesthetics in the Young Schelling, p. 6.
19FRANK, Manfred. Eine Einführung in Schellings Philosophie, p. 15. No original: “Im Wintersemester 1792/1793,
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No caso do mito da Queda presente no Gênesis, por exemplo, temos o problema da
queda no negativo, a divisão entre os sentidos e o intelecto; entre inocência e limitação pelos
sentidos. O mito retrata a queda do Absoluto para o âmbito da finitude, da contingência, da
precariedade. O reconhecimento dessa realidade gera sofrimento e necessidade de conferir
sentido à nova situação no mundo, uma vez que a plenitude total de sentido da era da
origem está perdida20. Retomando algo de que tratara em De malorum origine, Schelling
afirmará que o mito da Árvore do Conhecimento (Baum des Erkenntnis) é rico
psicologicamente, na apresentação da triste disposição na qual o ser humano se encontrou
no primeiro uso de sua liberdade21. Ainda sobre o método de Schelling, temos uma análise de
Distaso:
Schelling escolheu uma abordagem crítica e filosófica para os textos sagrados, e
inicialmente deu boas-vindas ao método histórico-científico, que estudava o papel
psicológico da imaginação e da demonstração da simplicidade da linguagem em
povos primitivos. Esse método foi seguido na Alemanha pela “Escola de
Göttingen” de Heyne e de Eichorn, cujos méritos consistem, sobretudo, em
repensar o mito sob uma luz racional, isto é, como fase necessária e matinal da
tentativa, pela parte da jovem humanidade, de moldar o começo do mundo num
contexto narrativo22.
Nesse sentido, os conhecimentos primitivos mais antigos de todos os povos contêm,
em parte, lendas históricas, que se relacionam com a história do mundo em geral – ou apenas
com a história das raízes de um povo – e, em parte, filosofemas apresentados
erscheint eine weitere Examnsarbeit mit dem Titel Über Mythen, historische Sagen und Philosopheme der
ältesten Welt. Hier wie schon in der Exegese der Südenfall-Mythos und seiner Tradition ist Schelling keineswegs
treuer adept der Ortodoxie. Im Gegenteil tu ter das Seine, die Mythen im Geist der Vernunftkritik zu lesen, und
versucht den Nachweis, dass die alten Religionskunden durchaus Elemente in sich bergen, die einer Rationalen
Interpretation zugänglich sind. Schelling folgt also nicht der konservativ-traditionellen Richtung seines
Elternhauses und des Stifts, sondern sucht neue und unorthodoxe Wege, die in vielen schon die Zukunft der
Philosophie in sich tragen, die die Nachwelt einmal mit seinem Namen verbinden wird (Die Myhenabhandlung
etwa enthält bereits Keime der Münchener und Berliner Mythologie-Vorlesungen)” (tradução nossa).
20DISTASO, L. The Paradox of Existence. Philosophy and Aesthetics in the Young Schelling, p. 6.
21SCHELLING, F. W. J.. Über die Mythen, historische Sagen und Philosopheme der ältesten Welt (De agora em
diante, Über Mythen), p. 236.
22DISTASO, L. The Paradox of Existence. Philosophy and Aesthetics in the Young Schelling, p. 4. No original:
“Schelling chose a critical and philosophical approach to the sacred texts, and he initially welcomed the
historical-scientific method, that studied the psychological role of imagination and the demonstration of the
simplicity of the language in primitive peoples. This method was followed in Germany by Heyne’s and Eichorn’s
“School of Göttingen”, whose merits consist, above all, in rethinking myth in a rational light, i.e. as the
necessary and dawning phase of the attempt of a young humanity to frame in a narrativecontext the beginning
of the world”. (tradução nossa).
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historicamente. Filosofemas seriam conjeturas/hipóteses, composições sobre a origem do
mundo e do gênero humano, sobre fenômenos particulares na natureza, assim como sobre
os objetos do mundo suprassensível. Os conhecimentos primordiais mais antigos de todos os
povos se iniciaram com a mitologia, segundo Schelling23.
Faz-se pertinente diferenciar entre mitos históricos e mitos filosóficos. A diferença
principal é a seguinte: “A meta dos mitos históricos é a história, a meta dos mitos filosóficos
– doutrina, apresentação de uma verdade. A meta geral de filosofemas míticos foi sempre a
sensibilização de uma ideia, a qual se quer apresentar de qualquer maneira 24”. Quanto mais
profunda a meta a se atingir, tanto mais profunda deve ser a vestimenta do mito. Podemos,
então, sempre que explicamos um filosofema mítico, observar historicamente que o criador
do filosofema queria que sua história fosse realmente compreendida, mas não que se
acreditasse nela como história real. Um exemplo dado pelo filósofo são os mitos de que
Platão se serve em sua filosofia.25
O que o criador de filosofemas quer é convencer os outros da verdade ‘sensibilizada’
mediante a história (o mito). Quando o fato contado corresponde à sensibilização de uma
verdade determinada, então o fim principal do mito é autenticamente a apresentação de
uma verdade26. A importância da sensibilização de ideias é algo que, provavelmente,
Schelling herda de Kant. Consideremos, por exemplo, a Crítica da faculdade de julgar, na qual
Kant indica a importância da sensibilização (Versinnlichung) de ideias estéticas27. Ainda que
não seja possível conhecimento teórico das ideias, é possível simbolizá-las, como afirma Kant
no parágrafo 59, sobre o belo como símbolo do bem moral28.
Mediante o mito, uma verdade filosófica pode ser tornada sensível historicamente.
Trata-se da apresentação imediata (unmittelbar) de uma verdade, ainda que sob condições
sensíveis. Tal apresentação é totalmente conforme o espírito do mundo antigo (Geist der
ältesten Welt). O homem em sua “infância” não quer uma verdade abstrata; ele busca uma
23SCHELLING, F. W. J.. Über Mythen, p. 195.
24SCHELLING, F. W. J.. Über Mythen, p. 212.
25SCHELLING, F. W. J.. Über Mythen, p. 212.
26SCHELLING, F. W. J.. Über Mythen, p. 212s.
27KANT, I., AA, 5: 341ss.
28KANT, I., AA, 5: 351ss.
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verdade que quer recitar (vortragen); tornar apreensível, e torná-la próxima da
sensibilidade29. O caráter do mundo antigo é, sobretudo, essa sensibilidade, que não se
entende por abstrações ou conceitos, mas deve se apresentar como única figura viva 30. A
filosofia mitológica não é obra da arte, mas obra da carência de uma filosofia que gere
conteúdos sensíveis31.
Diferentemente de Kant, para Schelling o elemento central na religião não é a razão
prática pura, mas a imaginação como faculdade do ânimo mais ativa – o que não significa, no
caso do filósofo, adotar uma hermenêutica reducionista, mas uma concepção de espírito
como também ligado à sensibilidade e à natureza sensível. É a imaginação que conta para a
participação entusiasmada de um povo em crenças as quais fundam sua história atual32.
Tal é a avaliação positiva que Schelling fornece da religião, que observamos
principalmente em seus estudos de textos de mitologia e da Bíblia. Vejamos, no entanto,
como o filósofo foi gradativamente notando aspectos nas doutrinas teológicas de Tübingen
que ele viria a criticar nas Cartas Filosóficas sobre o Dogmatismo e o Criticismo.
3. A VIA INFRUTÍFERA, ‘DOGMATICISTA’ OU ÉTICO-TEOLÓGICA: CRÍTICA DE SCHELLING
À ORTODOXIA DE TÜBINGEN
Por erros editoriais, as Cartas Filosóficas foram publicadas com o nome de Cartas
filosóficas sobre o dogmatismo e o criticismo. Schelling pedira a Niethammer, o editor do
periódico em que as publicou, que diferenciasse entre ‘dogmatismo’ e ‘dogmaticismo’.
Dogmatismo seria a filosofia de Spinoza e de Leibniz, que colocam o princípio da filosofia no
não-Eu, na objetividade, ao passo que o Criticismo seria a de Kant e de Fichte, cujo princípio
da filosofia é o Eu, a subjetividade transcendental. Dogmatismo e criticismo se contrapõem.
Já o ‘dogmaticismo’ seria a tentativa de esclarecimento da ortodoxia de Tübingen (“die
Erklärungsversuche der Tübinger Orthodoxie”), e uma tentativa de sistema crítico
29SCHELLING, F. W. J.. Über Mythen, p. 222s.
30SCHELLING, F. W. J.. Über Mythen, p. 224.
31SCHELLING, F. W. J.. Über Mythen, p. 225.
32TORRES, Maria José de. Perspectivas sobre religion y filosofía en los inicios del idealism alemán: Fichte y
Schelling antes de 1794, p. 121.
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degenerado, que tentava erguer um novo dogmatismo a partir do criticismo 33.
Schelling se irritava com a apropriação da filosofia kantiana para fins não kantianos,
ou seja, legitimar os dogmas teológicos, trazendo de volta a teologia natural que Kant
condenara na primeira Crítica34. Schelling era bolsista na época, no seminário de filosofia e
teologia de Tübingen. Os diretores do seminário tinham muitas ressalvas morais quanto aos
bolsistas, os quais tinham contato com a filosofia e estavam fugindo da ortodoxia. Destacamse Johann Friedrich Flatt e Süsskind. Eles já notaram ateísmo em Vom Ich als Prinzip (1795) de
Schelling, associando-o a Spinoza.35
Há dois grandes problemas que Schelling vê na forma como se ensina a doutrina
kantiana dos postulados em Tübingen. Primeiro, perde-se de vista a dimensão prática da
filosofia kantiana, cujo propósito não era restaurar uma metafísica teórica, mas limitar as
preocupações metafísicas ao âmbito prático. O próprio Kant menciona que os postulados
decorrem da lei moral e, portanto, da autonomia da vontade, sendo irredutíveis a sanções
arbitrárias de uma vontade alheia36.
Schelling já se debruçara sobre tal problema em Vom Ich als Prinzip der Philosophie,
também de 1795, pensando que o verdadeiro fim último não seria a moralidade causando a
felicidade segundo uma conexão necessária, mas sim se tornar independente da felicidade 37.
Schelling chega a afirmar que não deve haver Deus como objeto de crença, mas sim um
simples Eu puro absoluto38, o Eu que coloca a realidade, que a afirma mediante exercício da
liberdade.
Para Schelling, a ideia de um Deus moral “(...) é tão vazia quanto qualquer outra
representação antropomórfica. (...) ela quer homenagear, ao mesmo tempo, o fraco e o
forte; o desalento moral e o poder autônomo moral” 39. (grifo do autor). Por que se chega a
33PIEPER, A. Editorischer Bericht, pp. 7-8.
34Cf. a respeito da crítica de Kant à teologia natural HÖSLE, V. Why Teleological Principles Are Inevitable for
Reason: Natural Theology after Darwin, p. 46.
35PIEPER, A. Editorischer Bericht, pp. 9-10.
36KANT, I. AA, 5: 128s.
37SCHELLING, F. W. J., Vom Ich als Prinzip der Philosophie, § XIV, p. 123ss.
38SCHELLING, F. W. J., Vom Ich als Prinzip der Philosophie, § XIV, p. 129s.
39SCHELLING, F. W. J., BDK, Erster Brief, p. 51. No original: “(...) sie ist so leer, als jede andre
anthropomorphische Vortellung (…): sie will der Schwähe und der Stärke, der moralischen Verzagheit und der
moralischen Selbstmacht zugleich huldigen”. (tradução nossa).
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um Deus moral? A resposta kantiana: porque (a) a razão teórica é demasiado fraca para
conceber um Deus e (b) a ideia de um Deus só é realizável por exigências morais 40.
Essa discussão schellinguiana remete ao que Kant discute na Dialética da razão
prática pura, na segunda Crítica. Para Kant, um postulado da razão prática pura é “(...) uma
proposição teórica, porém indemonstrável como tal, na medida em que é inseparavelmente
inerente a uma lei prática a qual vale a priori incondicionalmente” 41. O postulado não se
separa da lei moral, pois se trata de um objeto da vontade determinada pela lei moral: “Eles
[os postulados] partem da proposição fundamental da moralidade, que não é postulado
algum, mas uma lei, através da qual a razão determina imediatamente a vontade (...) 42”.
Kant enfatiza que os postulados não são instrumentos de conhecimento teórico:
“Esses postulados não são dogmas teóricos, mas pressuposições com intenção
necessariamente prática, logo não expandem o conhecimento especulativo, mas conferem
realidade objetiva às ideias da razão especulativa em geral (mediante sua referência à razão
prática)43”. O que se fazia em Tübingen, todavia, era justamente tentar restaurar uma
teologia natural a partir dos postulados práticos kantianos, tornando quaisquer proposição
teórica que não passasse pelo crivo da Crítica em um postulado prático.
Em Kant, todavia, o que ocorre não é isso. Os postulados surgem apenas para fins
morais, e não expandem o conhecimento teórico/especulativo. Imortalidade da alma e
existência de Deus, dessa forma, são pressuposições necessárias da razão para que seja
concebível uma união perfeita entre moralidade como causa e felicidade como efeito, ou o
sumo Bem44. A imortalidade da alma se ligaria a um desenvolvimento moral que tendesse ao
infinito, tarefa para a qual o tempo de uma vida terrestre é muito pouco 45. Esse
desenvolvimento para se estar à altura da lei moral se faz necessário, segundo Kant, porque
40SCHELLING, F. W. J., BDK, Erster Brief, p. 52.
41KANT, I. AA, 5: 120s. No original: “(…) [Worunter ich] einen theoretischen, als solchen aber nicht erweislichen
Satz [verstehe], so fern er einem a priori unbedingt geltenden praktischen Gesetze unzertrennlich anhänght”.
Todas as traduções são de nossa responsabilidade.
42KANT, I. AA, 5: 132. No original: “Sie [d.h.,die Postulaten] gehen alle vom Grundsatze der Moralität aus, der
kein Postulat, sondern ein Gesetz ist, durch welches Vernunft unmittelbar den Willen bestimmt (...)”.
43KANT, I. AA, 5: 132s.. “Diese Postulate sind nicht theoretische Dogmata, sondern Voraussetzungen in
Notwendig praktischer Rücksicht, erweitern also nicht das spekulative Erkenntnis, geben aber den Ideen der
spekulativen Vernunft im Allgemeinen (vermittelst ihrer Beziehung aufs Praktische) objektive Realität (...)”
44KANT, I. AA, 5: 121-130.
45KANT, I. AA, 5: 121ss.
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a virtude deve produzir a felicidade, para que o sumo Bem seja possível, e a virtude só é
possível com adesão plena à lei moral. Deus, por sua vez, se configura como um ser moral
perfeito que é, ao mesmo tempo, criador da natureza, podendo interferir no curso da
mesma, de modo a garantir felicidade aos seres racionais finitos que se fizerem dignos da
felicidade46, estado consciencial que envolve a noção de agrado da vida e que acompanha o
indivíduo durante sua existência47.
A liberdade, no sentido de ponto de vista inteligível, é a outra pressuposição
necessária: a moralidade só é concebível porque a liberdade se expressa no mundo, para
Kant48. A adoção dos postulados da razão prática pura (liberdade, imortalidade da alma e
existência de Deus), pressuposições necessárias para conceber o sumo Bem como possível é,
para o filósofo de Königsberg, uma carência da razão pura no uso prático 49. Os postulados da
existência de Deus e da imortalidade da alma/vida futura são objetos de um tipo específico
de tomar por verdadeiro: a crença/fé (Glaube), e não de saber (Wissen), não consistindo em
conhecimento teórico. Schelling critica essas noções kantianas de forma contundente:
A razão teórica não deve, por si mesma, penetrar até o objeto Absoluto, mas
agora, que o descobristes, como querer impedi-la de, também, tomar parte na
descoberta? Portanto, a razão teórica teria, agora, de se tornar outra razão
inteiramente outra, ela deveria, com o auxílio da razão prática, expandir-se, para
permitir, perto de seus antigos domínios, ainda um novo50.
Compete pensarmos até que ponto a crítica não estaria voltada ao próprio Kant, e
não seria muito mais uma alavanca para exposição de teses schellinguianas, ainda que
Schelling afirme se opor a certos intérpretes do criticismo, à forma como é apresentado em
Tübingen, não ao criticismo em si mesmo51.
46KANT, I. AA, 5: 123-130.
47KANT, I. AA, 5: 22s.
48KANT, I. AA, 5: 3ss; 4; 31ss; 41ss.
49KANT, I. AA, 5: 4s; 142s.
50SCHELLING, F. W. J., BDK, Erster Brief, p. 53. No original: „Die theoretische Vernunft soll für sich selbst zum
absoluten Object nicht hindurchdringen; nun aber, da ihr es einmal entdeckt habt, wie wollt ihr sie abhalten, an
der neuen Entdeckung auch Theil zu nehmen? Also müsste nun wohl die theoretische Vernunft eine ganz andre
Vernunft, sie müsste durch Hilfe der praktischen erweitert werden, um neben ihren alten Gebiete noch ein neues
zuzulassen“. (tradução nossa).
51SCHELLING, F. W. J., BDK, Erster Brief, pp. 53-54n.
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Schelling ironiza a ortodoxia de Tübingen: eles teriam criticado as provas difíceis de
se captar do dogmatismo, e oferecido uma via mais curta, imprimindo com o carimbo da
razão prática (Stempel der praktischen Vernunft) tudo o que não se pode provar
teoricamente52. O filósofo de Leonberg critica o uso excessivo da doutrina dos postulados
para tentar salvar a teologia natural. E também a censura moral imposta aos que se opõem a
essas práticas de Tübingen: “Eu louvo os velhos, honrados wollfianos: quem não acreditava
em suas demonstrações, era tido por uma cabeça não filosófica. (...) Quem não acredita nas
demonstrações de nossos novíssimos filósofos, a este é aplicado o anátema de reprovação
moral53” (grifo do autor).
A crítica à ortodoxia de Tübingen retorna em Über Offenbarung und Volksunterricht
(1798), um curto escrito de Schelling que resgata elementos tanto de Über Mythen quanto
das Cartas Filosóficas. Trata-se de uma discussão a partir de uma obra de Niethammer (o
editor do jornal em que Schelling publicara, anonimamente, as Philosophische Briefe e outros
textos), Doctrinae de revelatione modo rationis praeceptis consentano stabiliendae periculum
(1797), escrito que, segundo Schelling, irritou a pseudofilosofia dos novos teólogos 54.
Provavelmente, o autor refere-se às tentativas de se erguer uma teologia a partir da filosofia
kantiana, como no caso do seminário de Tübingen.
Schelling declara que “finalmente, é a hora de se parar de considerar o conceito de
revelação como ideia da razão, ou ainda como postulado da razão prática55” (grifo do autor).
Isso deve ocorrer, pois a pretensa necessidade prática ou aceitabilidade de uma revelação é
reduzida à necessidade ou aceitação de um elemento de apoio externo à moralidade 56.
Para o filósofo de Leonberg, simplesmente não há auxílio externo para a
moralidade: quando se é moral, deve-se conter o anelo pela felicidade, não se precisando
52SCHELLING, F. W. J., BDK, Zweiter Brief, p. 58. Comprar com Stempel der Indivitualität – p. 72.
53SCHELLING, F. W. J., BDK, Zweiter Brief, p. 58. No original: „Ich lobe mir den alten, ehrlichen wolfianer; wer an
seine Demonstrationen nicht glaubte, gelt für einen unphilosophische Kopf . (....). Wer an die Demonstrationen
unser neusten Philosophen nicht glaubt, auf dem haftet das Anathem moralischer Verworfenheit“. (tradução
nossa).
54SCHELLING, Friedrich W. J. Über Offenbarung und Volksunterricht, p. 249.
55SCHELLING, Friedrich W. J. Über Offenbarung und Volksunterricht, p. 249. No original: “Es ist Zeit endlich,
dass man aufhöre, den Offenbarungsbegriff als Vernunftidee, oder gar als ein Postulat der praktischen Vernunft
zu betrachten”
56SCHELLING, Friedrich W. J. Über Offenbarung und Volksunterricht, p. 249.
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mais de elementos de apoio57. Schelling observa que, segundo os novos teólogos, o
argumento moral para a existência da revelação seria muito fraco, caso não fornecessem
reconhecimento teórico do mesmo58. Aqueles que trataram a revelação como um postulado
prático devem, a seu ver, apresentar conceitos totalmente falsos da natureza e da essência
dos postulados práticos59. Para os que tentam utilizar postulados práticos para fins teóricos,
como no caso do conceito de revelação, a essência do kantismo é que o que é recusado pela
porta de entrada da filosofia teórica reaparece na porta dos fundos dos postulados
práticos60.
Ao mesmo tempo, Schelling considera aspectos sócio-históricos envolvidos nas
religiões: para o filósofo, as ideias com as quais os grupos religiosos revigoram sua força
moral já são pressupostas como disponíveis há tempos remotos pela humanidade. É uma
sorte peculiar para os povos mais cultos, quando um conhecimento religioso primevo do
mundo e tais ideias estão gravadas historicamente61. A história da religião é, então, uma
revelação itinerante, ou apresentação simbólica dessas ideias, tanto quanto a história de
nosso gênero é o desenvolvimento em andamento do plano moral do mundo, a que se deve
reconhecer como predestinado pela razão62.
4. CONCLUSÃO
Observamos como Schelling mostra uma visão positiva da teologia, que aqui
chamamos ‘via hermenêutica’. Trata-se da possibilidade de uma hermenêutica que mostre
como mitos e relatos bíblicos são formas de ilustrar ideias importantes para o ser humano.
Também há, todavia, uma via negativa, uma visão negativa, que denominamos ‘via
dogmaticista ou ético-teológica’. Nesse caso, o que está em jogo é a apropriação da doutrina
dos postulados kantianos como regresso a uma filosofia pré-kantiana disfarçada de kantismo
– o ‘dogmaticismo’. Em ambos casos, há uma discussão sobre a liberdade: em relação aos
57SCHELLING, Friedrich W. J. Über Offenbarung und Volksunterricht, p. 249s.
58SCHELLING, Friedrich W. J. Über Offenbarung und Volksunterricht, p. 250.
59DÜSING, K. Die Rezeption der Kantischen Postulatenlehre in den frühen philosophischen Entwürfen
Schellings und Hegels, p. 58.
60SCHELLING, Friedrich W. J. Über Offenbarung und Volksunterricht, p. 250.
61SCHELLING, Friedrich W. J. Über Offenbarung und Volksunterricht, p. 255.
62SCHELLING, Friedrich W. J. Über Offenbarung und Volksunterricht, p. 255.
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mitos, eles podem mostrar usos bons e ruins da liberdade. Já no caso da moral, o
‘dogmaticismo’ de Tübingen cerceia tanto a liberdade de expressão dos estudantes e
oponentes intelectuais, quanto encobre uma filosofia que começa a partir de um não-Eu (o
Deus moral como postulado prático), que também limita a liberdade do Eu, da subjetividade
transcendental.
Algo que chama a atenção é que a sensibilidade é tratada de forma ambígua: ao
mesmo tempo em que é valorizada na apresentação simbólica das ideias mediante os mitos,
é desprezada na questão do sumo Bem. Schelling reconfigura a noção de sumo Bem,
substituindo-a pelo Eu absoluto como fim último definitivo (letzter Endzweck), estado no
qual móbiles sensíveis já não fazem mais sentido.
É digno de nota que o diálogo com Kant se dá nos dois âmbitos, seja na importância
de sensibilização de ideias filosóficas, seja na temática do mal radical, ou ainda em sua crítica
aos postulados práticos kantianos à la Tübingen. Há, nas Cartas Filosóficas, críticas – ora
implícitas, ora explícitas – a muitos pressupostos do próprio Kant, como a cisão entre
moralidade e felicidade, e o fato de Kant ter se atido a um pensamento dualista.
Outro ponto fecundo desse trabalho é notar como esses temas ressurgirão na fase
tardia do pensamento de Schelling: uma versão amadurecida de seu pensamento sobre
mitos desponta nos cursos tardios como a Filosofia da Mitologia. O próprio Schelling
reconhece que uma intuição da filosofia positiva já estava presente nas Cartas Filosóficas: a
filosofia positiva seria um ‘dogmatismo mais poderoso e soberano’ (“mächtiger, herrlicher
Dogmatismus”)63. Parece, desse modo, que a via preferida de Schelling foi a via frutífera ou
hermenêutica: o mito expressa ideias ricas para a humanidade, e tenta oferecer respostas
ilustrativas, sugestivas para questionamentos humanos.
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