EM TORNO DA VERDADE E DA MENTIRA
Lannoy Dorin
Verdade veio do latino veritas, atis. “É a propriedade de estar conforme os fatos ou a
realidade; exatidão, autencidade” (Houaiss). É o que não pode ser contestado e, portanto, aceito por
motivo de justiça. Disse Cícero: “Veritatem imitari”, reproduzir a realidade. O contrário, o
antônimo, é mentira, palavra de origem controversa (que gera discussão). Talvez tenha vindo do
Latim, no qual mentir é mentior, íris, iri, itus, sum. Dizer uma grande mentira é mentiri tantam rem.
É engano, falsidade, desmentida pelos fatos reais.
Como disse o filósofo Francis Bacon (1561 – 1626), a verdade é amiga do tempo, não da
força. É como cortiça na água: sempre vem à tona.
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Cronos, a personificação do tempo na mitologia grega, era filho do Céu e da Terra (Urano e
Geia), sábios e conhecedores do futuro. Comentam alguns autores que era cego e surdo, mas tudo
via, ouvia e sabia. Sua irmã e esposa Reia pôde enganá-lo, mas matá-lo... Nem Zeus, seu filho, pois
segundo a tradição órfica, pai e filho se reconciliaram e Cronos foi viver nas Ilhas dos Abençoados
(Dictionary of classical mythology), de Pierre Grimal. Londres: Penguin Books, 1990).
O Tempo é deus. Tanto que os físicos o casaram com a Energia. E dentre esses físicos, há
que se citar Einstein.
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Albert Einstein (14-3-1879 –– 18-4-1955), Nobel de Física em 1921, nasceu em Ulm,
Alemanha, e faleceu em Princeton, Estados Unidos da América, onde foi professor de Física
Teórica na Universidade. Em 1925, esteve no Brasil, proferindo conferências, explicando sua
equação “muito simples”, em que energia é igual à massa pela velocidade ao quadrado. Quem o
ouviu não achava a equação dele tão simples assim. Hoje, ela ( E = mc2) “é a única da Física que
qualquer pessoa na rua reconhece”, como diz Stephen Hawking no seu livro O universo numa casca
de noz (São Paulo: Arx, 2002). E esse físico inglês explica que, entre as consequências dessa teoria
de Einstein, “estava a percepção de que, se o núcleo de urânio se frassionar em dois núcleos com
massa total ligeiramente menor, uma tremenda quantidade de energia seria liberada”. Mas que não
se culpe Einstein pelas bombas atômicas que o governo norte-americano jogou no Japão. Isto seria
“como culpar Newton”, diz Hawking, “pelas quedas de aviões por ter descoberto a gravidade”.
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Sobre a mentira, disse o filósofo alemão Jürgen Habermas (1929 –
) : “Com palavras,
pode-se mentir e exercer o poder, mas não pode existir uma língua que esteja inteiramente baseada
em mentira e engodo” (revista Deutschland, 4/2009).
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O campo de atividade brasileira em que há mais mentirosos é a política. Os políticos em
geral mentem mais que bula de remédio. Um diz que foi professor universitário, aí Cronos descobre
que ele não tem nem diploma de curso superior. Outro faz discurso sobre a beleza da verdade, mas
não diz que teve filho fora da casamento. E vai por aí afora.
À mentira, segue-se a ocultação de um fato real, verdadeiro. Mas o Tempo é implacável.
Quando a verdade aparece, ele ri às bandeiras despregadas, que não estão nas paredes, mas nos
mastros e são desfraldadas, agitadas ao vento.
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Éolo (Aíolos) na mitologia grega era a personificação dos ventos. Quando brigava com Zeus,
o deus maior e seu pai, ou com Acesta, sua mãe, aconselhava-se com o casal Chrónos – Alétheia,
Tempo – Verdade. E essa sábia dupla o aconselhava a soprar em todas as direções. Diziam-lhe que
tinha que ser imparcial. Então, soprava com tanta força, ora para um lado, ora para outro, que todas
as pessoas ficavam sabendo das verdades até então acobertadas. E tanto isso é verdade que, quando
um político parlapatão começou a atacar seus adversários, Éolo soprou com tal força que o mundo
ficou sabendo que A falou mal de B e B de C, o qual revidou, dizendo que era igual a B e A. Mas
não disse que a síntese sempre tem algo mais que a soma dos estranhos que a compõem.
Como dizia o famoso pensador romano Rufino Leocádio, “quando um político fala mal do
outro, o seu discurso é denominado projeção”.
Projectio, onis, em Latim, é arremesso, ação de estender, alongamento. Projectare é lançar
para a frente. E os romanos usavam uma expressão que bem serve para estes nossos tempos: jam te
premet nox = dentro em breve, a noite pesará sobre ti. Razão pela qual, o senador mais votado era o
que não falava. Ele representava os mais poderosos e só votava. Felizmente, isso só acontecia em
Roma de antanho.
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