E CONHECEREIS A VERDADE E ELA VOS LIBERTARÁ
JESUS PROMETE LIBERDADE AOS JUDEUS QUE CRÊEM NELE – João 8.31-36
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Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos,
e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
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Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres?
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Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado.
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O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre.
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Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.
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Os Judeus chegaram à fé em Jesus! E desta vez não por verem seus sinais como em Jo 2.23, mas por ouvirem sua palavra. No entanto,
como o processo da vida, a fé pode ser inicialmente um frágil broto, carecendo com toda a certeza de crescimento e apoio. Por isso Jesus se dirige
agora também especialmente aos judeus que haviam sido tocados pelo seu auto testemunho e depositaram sua confiança nele. ―Então disse
Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos. ‖
Pela primeira vez ouvimos agora da boca de Jesus a palavra ―permanecer‖, que mais tarde tornará a ser importante na instrução a seus discípulos
(Jo 15.4-7; 15.9-11). Jesus não critica a fé desses ouvintes, e tampouco mede seu tamanho. Contudo o movimento interior que levou à fé pode
esfriar ou ser sufocado por outras influências (Mt 13.5-7). Por isso passa a depender tudo do ―permanecer‖. Jesus, porém, não exorta apenas em
termos genéricos em favor desse permanecer, mas fala imediatamente de ―permanecer em sua palavra. Os judeus que creram haviam ouvido
apenas oralmente a palavra de Jesus e agora têm de mantê-la na memória e, refletindo, têm de se ocupar sempre de novo com ela. No entanto,
nem mesmo isso é o suficiente. Desse modo ainda podemos levar sempre a verdadeira vida fora dessa palavra e permanecer na palavra apenas por
algumas horas devotas isoladas. Os que creem ―permanecem em sua palavra‖ somente quando permitem que ela os determine no dia-a-dia em
todo seu pensar, falar e fazer. Nesse caso terão de contar com o ―escândalo‖ que a palavra de Jesus traz irremediavelmente quando de fato
vivemos a partir dela. Agora tudo dependerá de permanecer, apesar disso, na palavra de Jesus. Apenas depois serão ―realmente seus discípulos.
Do contrário, sua condição de discípulos em breve poderia evidenciar-se como aparência e ruir.
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Quando, porém, permanecem na palavra dele, acontece um evento de enorme significado em suas vidas. Jesus lhes anuncia:
―Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. ‖
Acaso não conheceram a verdade quando chegaram à fé em Jesus? Fé em Jesus com base em sua palavra não existe sem reconhecimento.
Contudo, em Jo 6.69 vimos que da fé brota um conhecimento novo e mais profundo. A verdade‖ é tão inesgotável, tão grande, tão abrangente,
que não há limites para seu conhecimento ao se permanecer na palavra de Jesus. Jesus quer dizer com - conhecer a verdade não é o mero saber de
fatos e a constatação de acertos, mas refere-se à verdade essencial, viva, que nos mostra quem Deus é realmente e quem nós seres humanos
somos de fato. Ela nos revela como chegamos à vida eônica, que alvos gloriosos Deus tem com toda criação, e como Deus concretiza esses seus
alvos. Toda essa verdade não pode ser apreendida com a força do próprio intelecto, mas é revelada cada vez mais pelo Espírito Santo (Jo 16.13)
àqueles que permanecem na palavra de Jesus. Jesus mais tarde dirá a seus discípulos que ele em pessoa ―é‖ essa verdade (Jo 14.6).
Permanecendo na palavra dele, portanto, eles entram em conexão essencial com a verdade viva de Deus.
Verdades na Bíblia:
Alethinos – Contraste com as aparências, mostra-se sincero
1) o que não só tem o nome e semelhança, mas a verdadeira natureza correspondente ao nome, em todos os aspectos correspondentes à idéia
significada pelo nome, real, verdadeiro e genuíno 1a) ao contrário do que é fictício, falsificado, imaginário, simulado ou pretensa 1b) que contrasta
com a sua realidade 1c) aparências opostas ao que é imperfeito defeituosa, frágil, incerta 2) verdadeiro, verídico, sincero
Alethes - falar a verdade, não mentir!
1) verdadeiro 2) amar a verdade, falar a verdade, verdadeira
Aletheia – revelação divina na vida do homem
- Objetivo:
- O que verdade em qualquer assunto em consideração (verdadeiramente, em verdade, de acordo com a verdade / de uma verdade, na realidade,
de fato, certamente)
- O que é verdade em coisas pertencentes a Deus e os deveres do homem, a verdade moral e religiosa
- A verdadeira noção de Deus, que estão abertas à razão humana sem a intervenção sobrenatural
- Verdade ter como ensinado na religião crista, respeitando Deus e a execução dos seus propósitos através de Cristo, respeitando os direitos do
homem opostos às superstições dos gentios e ter invenções dos Judeus, e as opiniões corruptos e professores preceitos ósmios falsos mesmo entre
cristãos.
Verdade aqui é descobrir, o ato de retirar algo de cima para ver o que está em baixo. Mostrar o segredo!
Texto que falam desta verdade:
- Mateus 22.16
- Marcos 5.33
- Marcos 12.32
- João 1.14
- João 1.17
- João 3.21
- João 4.23.24
- João 15. 26
- João 16.13
Verdade é descobrir o que está encoberto. Trazer a luz!
O fato de que a ―verdade‖ de que fala Jesus é uma realidade que transforma toda a vida deles, é evidenciado pela promessa seguinte que Jesus
agrega ao conhecimento da verdade. Ele promete: ―E a verdade vos libertará.‖ Também na experiência geral da vida constatamos o poder
libertador da ―verdade‖. Tanto o engano e a ilusão quanto a mentira e a falsidade nos tornam inseguros e cativos. Toda pessoa experimenta
profunda libertação, mesmo sob dores, quando em sua vida consegue irromper a verdade, superando o engano e a mentira. No entanto, o poder
libertador da verdade que nós já podemos experimentar preliminarmente independente de Deus, torna-se pleno quando a verdade total e última
também traz liberdade total e completa. Novamente é Paulo quem pode apresentar-se a nós como ilustração dessa liberdade. Ele experimentou
em si próprio como Cristo nos ―liberta para a liberdade‖, motivo pelo qual também deseja ver a igreja nessa ―liberdade da pessoa cristã‖ (Gl 5.1).
33 Agora, porém, mostra-se o pouco que esses ―judeus que crêem‖ entendem a Jesus. ―Responderam-lhe: Semente de Abraão somos nós e
jamais fomos escravos de alguém. Como podes dizer: Sereis livres?‖ No começo da fé ainda não desaparecem nossa velha natureza e nosso modo
de pensar. Ainda estão presentes mesmo naquele que se tornou crente e pode mostrar-se vigoroso e desinibido. Afinal, eram judeus os que
chegaram à fé em Jesus, e imediatamente eles se revelam como ―judeus‖ genuínos apesar de sua fé. Irrompe todo o orgulho judaico, que já
opunha resistências tão grandes à atuação de João Batista: ―Semente de Abraão somos nós!‖ (cf. Mt 3.9). Por essa razão não conseguem fazer
nada com a grande promessa de Jesus. ―Nós jamais fomos escravos de alguém. ‖ Como é que ainda careceriam de ―libertação‖? Ao longo da
interpretação rabínica da Escritura ressoa sempre de novo o orgulho pela ―liberdade‖ que os israelitas possuem enquanto ―filhos de Abraão‖ e
―filhos de Deus‖ nessa sua posição perante Deus, diferenciando-se de todos os demais povos. Sob a pressão da escravidão exterior esse orgulho
pela liberdade interior talvez tenha se tornado tanto mais fervoroso. Exteriormente tiveram de se curvar a muitas dominações estrangeiras. Porém
interiormente eles ―jamais foram escravos de alguém‖. Por consequência, também aqueles que haviam sido tocados e movidos por Jesus, se
contrapõem melindrados contra a sua palavra que questiona a ―liberdade‖ deles. ―Como podes dizer: Sereis livres?‖
34 Também diante desses seus adeptos Jesus tem novamente a mesma difícil tarefa que ele tinha de cumprir em todo Israel. É preciso desvelar a
inverdade e o irrealismo daquilo que eles pensam possuir, e dar o doloroso golpe contra seu falso orgulho (cf. acima, p. 147). Pensam que não são
―escravos‖ e não precisam de uma ―libertação‖. Então jamais compreenderão a Jesus em sua trajetória até a cruz. Pois ser ―Salvador‖,
―Libertador‖, é justamente essa a obra dele. Por isso, Jesus precisa mostrar-lhes sua verdadeira ―escravidão‖. ―Replicou-lhes Jesus: Em
verdade, em verdade vos digo: Todo o que comete pecado é escravo do pecado.‖ O zelote é torturado pela falta de liberdade política sob o
domínio de Roma. Existe, porém, uma escravidão que é infinitamente mais difícil e perigosa, ainda que exteriormente possa estar oculta. É a
escravidão que leva à perdição eterna. Nessa escravidão encontra-se ―todo o que comete pecado‖. Constitui a ação da própria pessoa seguir a
tentação pecaminosa e passar a cometer esse pecado específico. O ser humano obviamente pensa que esse ato não seria grave. Seria tão somente
um ―deslize‖, uma ―falha‖ isolada. Na realidade ele próprio não seria atingido por isso e não teria perdido sua liberdade. Contudo Jesus lhe diz:
―Agora te tornaste escravo‖, ―escravo do pecado‖. Quem comete pecado, está atrelado à culpa e a partir de si jamais poderá desvencilhar-se
dessa culpa. No entanto, ele também cai de um pecado em novos pecados, numa história de pecados que o acorrenta. Ademais, ao praticar o
pecado ele celebrou um pacto com o maligno, do qual ele próprio não consegue se soltar. De fato tornou-se um ―escravo‖, cujo ―senhor‖ agora é
o diabo. ―Todo‖ o que comete pecado torna-se escravo, ou seja, também o israelita. Ser descendente da semente de Abraão não protege contra
isso.
35 Esse é um fato cujo alcance os judeus precisam reconhecer. Jesus estabelece um nexo com a metáfora recém-usada do ―escravo‖, sem agora
levar em conta, de quem o ser humano pecador se tornou escravo. Pois vale de um modo bem geral: ―O escravo não fica na casa para sempre.‖
Não possui o vínculo indissolúvel com a casa como um filho possui. ―O filho, sim, para sempre.‖ O escravo, porém, pode ser vendido adiante em
qualquer dia ou despedido da casa de outra maneira. Os judeus ainda estão ―na casa‖. Pertencem a Deus como ―seu‖ povo. E referências da
Escritura como Lv 12.7; Sl 36.8; 84.4 evidenciam como Israel percebia sua pertença à ―casa de Deus‖ através do ―habitar‖ de Deus em seu meio
por intermédio do tabernáculo e do templo. É disso que se orgulham como ―semente de Abraão‖. Contudo, sendo eles ―escravos‖ e anda por
cima ―escravos do pecado‖, Deus poderá excluí-los a qualquer dia de sua casa. Com isso Jesus está dizendo aos judeus a mesma coisa de que João
Batista já os transmitiu em tom de advertência. A pertença a Abraão jamais pode assegurar contra Deus, como se Deus estivesse atrelado aos
judeus (Jo 3.9).
36 ―Escravos do pecado‖ têm de ser ―libertados‖. Isso é absolutamente necessário. Quem, porém, pode fazê-lo? Essa é a pergunta decisiva para
cada pessoa. Na falsa autonomia do ser humano desde a queda do pecado, ele constantemente pensa que precisa e pode cooperar nessa
libertação através de seus próprios esforços em ―melhorar‖, ―mudar‖, ―propiciar‖ e outras ações. Precisamente o judeu considerava o
cumprimento da lei a superação do pecado. Porém é tudo em vão. Jesus sabe a verdadeira resposta, porque ela é viva e eficaz em sua pessoa.
―Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.‖ O Filho é o único que é verdadeiramente livre, livre de egoísmo, de preocupações,
do temor da morte, livre de qualquer apego à própria honra e propriedade (Fp 2.5ss), apenas vinculado ao Pai e vivendo para ele. Livremente ele se
entrega para nos libertar. Agora ele não declara nada de mais específico acerca de sua obra de libertação. Após sua ―exaltação‖ na cruz eles o
reconhecerão. Agora ele lhes diz apenas com toda a determinação que por intermédio dele ―serão verdadeiramente livres‖. Se experimentarem
algo disso, seu relacionamento de fé iniciado se tornará profundo e firme. Então ―permanecerão em sua palavra‖, porque não conseguem mais
viver diferentemente.
Em vários pontos a proclamação de Jesus, de acordo com a narração de João, podia causar a impressão de que estaria em jogo tão somente ―a
vida‖ como tal, ―a luz‖ em geral, ―a fé‖ como mera atitude sem uma delimitação maior. O presente trecho, porém, evidencia que também no
evangelho de João a perspectiva está claramente voltada para o pecado e que a tarefa central do ―Filho‖ é vista na libertação do pecado.
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Conhecereis a Verdade (Guilherme 17 e 24-03)