Viticultura
Características da traça-da-uva (Lobesia botrana)
na vinha e seu comportamento durante a campanha
2003
A traça da uva, Lobesia botrana, é uma praga que está presente em todas as regiões vitícolas
do país, com maior ou menor representatividade dependendo do meio envolvente.
Trata-se de uma borboleta com cerca de 10-13 cm de envergadura, possui asas acinzentadas
com algumas manchas castanhas escuras de formas irregulares.
Os ovos são semelhantes a uma escama com cerca de 1mm, de coloração branca amarelada
e brilhantes quando expostos ao sol.
As lagartas, provenientes destes ovos, apresentam dimensões que evoluem desde 1mm até 1
cm, com coloração amarelo esverdeado ou acastanhado.
Ciclo Biológico
A Lobesia Botrana, normalmente, apresenta 3 gerações.
Hibernam na forma de pupa, casulo castanho escuro,
escondidas nas fendas da casca da videira, nas folhas caídas
e no solo.
Das pupas resultam os adultos da 1ª geração que irão fazer
as posturas junto aos botões florais. Aproximadamente 8
dias mais tarde começam a sair as primeiras lagartas que
envolvem os botões florais com fios de seda.
As gerações seguintes desenvolvem-se após a alimpa, onde
as posturas são feitas nos bagos. As lagartas da 2ª geração
aparecem normalmente na fase de bago de ervilha ou no
fecho dos cachos; as da 3ª geração, geralmente, manifestamse na maturação.
A figura ao lado
representa
esquematicamente o desenvolvimento das 3
gerações da traça ao
longo
do
ciclo
vegetativo da videira.
Ciclo de vida da traça
Fonte: adaptado de Stockel in Amaro, Pedro et all
(2001) - "A Protecção Integrada na VInha na Região
Norte". Projecto PAMAF 6077
Sintomatologia
provocados
e
estragos
1ª geração: a traça é detectada pela
presença de ninhos nas inflorescências
(fios de seda que envolve os botões
florais). Nesta geração é de temer uma
redução na produção em castas
sensíveis ao desavinho, caso contrário,
os ataques não afectam a produção,
nesta fase, a videira possui uma
capacidade de recuperação dos botões
florais danificados.
2ª e 3ª geração: verifica-se a presença de ovos nos bagos,
mais
tarde
verificam-se
perfurações efectuadas pelas
lagartas. Estes sintomas são
mais fáceis de detectar na 3ª do
que na 2ª geração. Os estragos
provocados pelas perfurações
das
lagartas
provocam
prejuízos directos no caso das
uvas de mesa (desvaloriza o
produto). As perfurações nos
bagos também podem provocar prejuízos indirectos
comportando-se como “porta de entrada” para
desenvolvimento de podridões. Estes prejuízos verificam-se
quer nas uvas de mesa, quer nas uvas para vinificação.
Estimativa do risco
Condições favoráveis ao desenvolvimento da praga
As condições climáticas têm grande influência no
desenvolvimento desta praga. A temperatura ideal está
compreendida entre os 20 e 25ºC, podendo desenvolverse, em menor intensidade, com valores de temperatura não
incluídos neste intervalo. Quando a temperatura for inferior
a 14ºC e superior a 36ºC não se verifica o desenvolvimento
das posturas. Em relação à humidade relativa, a mais
favorável encontra-se num intervalo dos 40 aos 70%.
A estimativa do risco tem em vista o acompanhamento da
evolução da população, utilizando para esse fim as
armadilhas com feromonas sexuais e observação periódica
da cultura. O número de capturas de adultos na armadilha,
indica-nos a evolução da população, devendo esta ser
complementada por observações visuais de 100 cachos,
para detectar o número de ninhos (na 1ª geração) ou o
número de ovos e perfurações (2ª e 3ª geração). As
armadilhas devem ser colocadas na vinha no início do
desenvolvimento vegetativo, ao nível dos cachos.
Viticultura
25
20
15
10
5
0
Os gráficos apresentados, são resultado do número de
capturas existentes nas armadilhas em diferentes regiões
vitícolas do país, no ano de 2003.
16- 23- 30- 7Jun Jun Jun Jul
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
14- 21- 28- 4Jul Jul Jul Ago
Tondela
Nível Económico de Ataque (NEA)
3-Jun 16-Jun 30-Jun
14-Jul
Ourentã-N
Azenha
28-Jul 11-Ago 25-Ago
Ourentã-S
V. Bairro
O NEA é a intensidade do inimigo, a partir da qual se justifica
um tratamento de modo a que o prejuízo na cultura seja
inferior ao custo do tratamento. Este valor é determinado
pela observação de 100 cachos (2 cachos x 50 cepas
escolhidas ao acaso).
8-Set
Sangalhos
Podentes
Região
do
Ribatejo
Região
do
Oeste
1ª
Geração
200 - 300 ninhos
200 - 300 ninhos
2ª
Geração
5 - 20% de
cachos atacados
5 - 15% de
cachos atacados
1 - 10% de
cachos atacados
3ª
Geração
1 - 10% de
cachos atacados
1 - 10% de
cachos atacados
1 - 10% de
cachos atacados
70
60
50
40
Outras
Regiões
200 - 300 ninhos
30
20
10
0
8Mai
15Mai
22Mai
29Mai
5Jun
12Jun
19Jun
Castedo
Pinhão
Favaios
Sanfins do Douro
26Jun
3Jul
10Jul
17Jul
24Jul
31Jul
S. Mamede Ribatua
Vale Mendiz
S.Tª. Eugénia
Fonte: Gonçalves, M. & Ribeiro, J. R. (2000) – “Protecção Integrada na Vinha. Lista
dos produtos fitofarmacêuticos. Níveis Económicos de Ataque.” Direcção Geral de
Protecção das Culturas.
140
Meios de protecção
120
100
80
60
40
20
0
24Abr
8Mai
22Mai
5Jun
19Jun
3Jul
Barcelos
Celorico de Basto
Lousada
Baião
17Jul
31Jul
14Ago
28Ago
Famalicão
Penafiel
Amarante
Como luta cultural são recomendadas intervenções em
verde (desponta e desfolha) para favorecer a luminosidade
e arejamento do cacho.
Quanto à luta biológica, biotécnica e química, a
oportunidade de tratamento está relacionada com o modo
de acção do produto a utilizar, podendo tratar-se de um
ovicida ou larvicida.
Evolução da população de Lobesia botrana em diferentes
regiões vitícolas do país
60
50
40
30
20
10
0
5-Abr
18-Abr
2-Mai
16-Mai
3-Jun
21-Jun
Alm.
Alp.
Gouxa
Benfica
V.Cavalos
Santarém
30-Jun
16-Jul
31-Jul
Os gráficos apresentados em seguida são resultado de
observações periódicas realizadas pelos técnicos da AJAP
na sua área de intervenção. Estes são referentes às regiões
vitícolas onde a praga se manifesta com maior intensidade,
nomeadamente no Entre Douro e Minho, nas sub-regiões
Baixo Corgo e Cima Corgo na Região demarcada do Douro
em Trás os Montes, na Região Demarcada do Dão e Bairrada,
e na região Ribatejo Oeste.
Eng.ª Anabela Martins
Técnica do Gabinete de Coordenação Regional de Entre
Douro e Minho
Bibliografia
(1) - Gonçalves, M. & Ribeiro, J. R. (2000) – “Protecção Integrada na Vinha. Lista dos produtos fitofarmacêuticos. Níveis Económicos de Ataque.” Direcção
Geral de Protecção das Culturas. (2) - Amaro, Pedro et all (2001) – “A protecção Integrada na Vinha na Região Norte”. Projecto PAMAF 6077. (3) – Júlio,
Eduardo (2001) – “Guia de Protecção Fitossanitária da Vinha”. Direcção Geral de Protecção das Culturas.
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