O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Agradecimentos
Aos meus amigos, entre eles os jovens com quem trabalho na minha associação: são
uma inspiração para mim!
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Resumo
A juventude enquanto conceito encontra-se em constante evolução e atualização,
sendo associada na generalidade dos autores por um conjunto de alterações
biológicas e fisiológicas importantes e decisivas, acompanhadas por um processo de
amadurecimento da personalidade e maior conhecimento e envolvimento na vida
social, familiar e especialmente entre pares. Este momento de “moratória” dos
jovens permite uma experimentação e apropriação da sua vida e responsabilização
pelas suas decisões, dando a oportunidade ao jovem de se envolver nas decisões e
ser mais ativo na sociedade. O papel das associações juvenis e em especial da figura
do animador sociocultural no processo de estimulação, reflexão e acompanhamento
dos jovens através de metodologia de educação não formal, torna-se essencial para
um maior envolvimento dos futuros adultos que compõe a nossa comunidade, com
vista a um futuro de melhor qualidade de participação. Participação juvenil é muitas
vezes utilizada como sinónimo de “participação ativa”, significando mais do que
simplesmente participar numa atividade. Refere-se a todo o processo de
identificação de necessidades e exploração de soluções, tomando decisões e
planeando ações dentro das comunidades e organizações que procuram apoiar a
sociedade civil.
Este trabalho de investigação pretende caraterizar os jovens de ensino secundário
de Vila Nova de Famalicão, identificando os seus hábitos de participação ativa e o
seu conhecimento sobre a forma, procedimentos e atores de políticas locais e
nacionais. Na segunda fase, os mesmos jovens e demais interessados na temática
(dirigentes associativos e autoridades locais na área da Juventude) foram convidados
a construir de forma coletiva soluções e possíveis medidas para combater os
problemas identificados através da fase de questionários, ou reforçar/melhorar
possíveis situações face à participação juvenil no concelho.
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Abstract
“Youth” as a concept is constantly evolving and updating, being associated in most
authors to a set of important biological and physiological changes, followed by a
process of personality maturity and greater awareness and commitment to social
and familiar life, especially among peers.
This moment of “moratorium” allows youth to experience and initiate a sense of
ownership on one’s life, taking responsibility for one’s actions and decisions, giving
opportunity to participate in a more active way in the society.
The role of youth organizations and especially the role of the animator for youth in
the process of motivating, supporting reflection and accompanying youth through
non formal education become essential for a better engagement as future adults
that will compose the new society, with the objective of achieving a better quality in
youth participation.
Youth participation is commonly associated to “active participation”, meaning more
than participating in one single activity. It refers to all the process of identifying the
needs, exploring solutions, making decisions and planning actions inside their
communities and organizations that aim at supporting the civil society.
This research aims at identifying the profile of youth from the high school in Vila ova
de Famalicão, listing their participation styles and their knowledge about local and
national procedures and actors regarding youth policies.
During the second phase of this action research method, the same target group of
the first stage and other interested on the subject (e.g. youth representatives and
local authorities in youth) were invited to build collective solutions and possible
measures to implement in order to face the problems met through the first stage
and to improve the quality of youth participation at local level.
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Índice
Introdução
Capítulo I – Identificação do problema e questões da investigação
8
1.1 Identificação do problema
8
1.2 Finalidades
9
1.3 Questões da investigação
10
1.4 Pertinência da investigação
10
Capítulo II – Revisão da Literatura
12
2.1 Definição de conceitos
12
2.1.1- A Juventude
12
2.1.2- A participação ativa como instrumento de cidadania
15
2.1.3- Empowerment dos jovens para uma efetiva participação
16
2.1.4- Experiência em processos de consulta a jovens
18
2.1.5- O animador sociocultural como agente essencial na transformação social 23
Capítulo III – Metodologia
25
3.1 – Modelo de Investigação-Ação
26
3.2 – Escolha do método de investigação
28
3.2.1 – Vantagens e desvantagens desta escolha
3.3 - Questão inicial e hipóteses
32
3.4- Objetivos
39
3.5- Caracterização da amostra (concelho, escolas secundárias envolvidas, Rede
Associativa Jovem, jovens voluntários envolvidos)
45
3.6- Papel da investigadora
46
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Capítulo IV – Descrição dos dados recolhidos
48
4.1 – Análise e interpretação de dados (questionário e processo de consulta) 48
4.2 – Processos de consulta (grupos de foco)
64
4.3 – Reflexão e avaliação da investigação-ação
71
Capítulo V – Aprofundamento dos resultados e follow-up
73
5.1- Cultura de participação associativa local dos jovens
73
5.2- Participação consciente e informada
74
5.3- Processo de consulta
75
5.4- Concurso de Ideias Empreendedoras como follow-up do processo
de consulta
76
Capítulo VI – Conclusões
78
Bibliografia
81
Anexos
85
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Introdução
No âmbito do Mestrado em Ciências da Educação, especialização em Animação
sociocultural, surge o desafio de selecionar um tema de interesse na área e explorar
questões relevantes para a prática da Animação Sociocultural. Pela natureza
transversal a várias áreas da Animação Sociocultural, o mestrando deve eleger uma
área de interesse pessoal e que traga aspetos inovadores à praxis, gerando
curiosidade e abrindo novos caminhos nesta dimensão do conhecimento. Esta
dissertação de Mestrado tem por objetivo refletir sobre o papel do animador
sociocultural na promoção da participação ativa dos jovens na sociedade, mapeando
a realidade dos jovens de ensino secundário do concelho de Vila Nova de Famalicão
num dado ano letivo (2010/2011) no que respeita aos seus hábitos de participação
microlocal (dentro da escola), local (no seu concelho) e nacional. Este tema revela-se
muito pertinente perante um gap cada vez maior entre gerações e maior
afastamento dos jovens perante as esferas de participação existentes, pelo que o
facto de a investigadora coordenar diariamente projetos com e para jovens numa
Associação juvenil vem facilitar toda a investigação e permitir uma maior
legitimidade no planeamento estratégico da própria associação, servindo melhor os
jovens do concelho em que atuam.
Este trabalho pretende responder de forma efetiva, esclarecendo sobre o número
de jovens que participam em atividades extracurriculares (participação social), o
número de jovens que participam em espaços políticos e a qualidade da informação
dos jovens relativamente à política (participação política) e por fim, ao reunir a
informação e, numa perspetiva de investigação-ação, convidar de novo os jovens e
os dirigentes associativos para refletir sobre os resultados e sugerir medidas de ação
para prevenir/inverter certas tendências que afastam os jovens da influência de
decisões e reforçar comportamentos pró-participação.
Para responder a este desafio, o trabalho encontra-se dividido em capítulos que nos
permitem, após uma identificação das questões centrais da investigação e numa
primeira fase (capítulo I), esclarecer os conceitos relacionados com o tema, tais
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
como Juventude, participação ativa enquanto instrumento de cidadania,
empowerment dos jovens e o papel do animador sociocultural neste contexto
(capítulo II). No capítulo III abordam-se as questões relacionadas com a escolha da
metodologia e as suas caraterísticas enquanto investigação-ação, referindo o
enquadramento geográfico e social desta investigação. No capítulo IV podemos
visualizar os dados resultantes da aplicação do questionário desta investigação e
inferir sobre os seus resultados, terminando no capítulo V com um aprofundamento
dos dados recolhidos e propostas de ação para a continuidade deste trabalho de
promoção de participação ativa com jovens a nível local.
Participação juvenil é muitas vezes utilizada como sinónimo de “participação activa”,
significando mais do que simplesmente participar numa actividade. Refere-se a todo
o processo de identificação de necessidades e exploração de soluções, tomando
decisões e planeando acções dentro das comunidades e organizações que procuram
apoiar a sociedade civil.
Em relação aos jovens, a participação destes é frequentemente considerada como o
envolvimento nas tomadas de decisão que os afectam directa e indirectamente.
Porquê participar?
É um direito inerente a todos os seres humanos a oportunidade de estar envolvido e
ser ouvido nas decisões que têm impacto sobre os próprios. Este é um direito
consagrado na Convenção dos Direitos das Crianças das Nações Unidas, artigo 12.
A participação de todos os cidadãos é essencial a um processo saudável de
democracia. Esta premissa inclui obviamente a participação dos jovens. Esta é uma
razão pertinente e bastante actual num cenário de “descrença” e distanciamento
dos jovens perante processos eleitorais (apenas 29% dos jovens europeus entre os
18 e os 24 anos votaram para as eleições europeias de 2009, com uma média
nacional de 39% em Portugal, de acordo com estudos da Unidade de
Acompanhamento da Opinião Pública do Parlamento Europeu).
Participar mais porque é necessário melhorar a qualidade, melhor direccionar e
tornar mais eficientes os serviços e projectos prestados pelas autoridades locais e
nacionais. Através do envolvimento de jovens no planeamento e gestão dos
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
projectos, poderemos garantir que estes são mais eficazes a servir os reais
problemas e necessidades dos jovens contrapondo com a visão distanciada e
exterior de um trabalhador ou técnico na área da juventude.
Participar é também um espaço de excelência para o desenvolvimento de
competências nos próprios jovens, que podem melhorar os seus níveis de
autoconfiança ao verem refletidas as suas opiniões e experiências como contributo
para mudanças positivas na sua comunidade. Este desenvolvimento de
competências também se reflete no desenvolvimento pessoal e social do jovem e
contribui para a empregabilidade do próprio jovem envolvido.
Capítulo I – Identificação do problema e questões da investigação
1.1 Identificação do problema
Em 2010, ano em que iniciou esta investigação, a disciplina de “Formação Cívica” era
uma disciplina integrante do currículo de 12º ano. Esta disciplina, pelo caráter mais
informal e livre de currículos formatados, permitia aos jovens, em contexto regular e
dentro da escola (o que já de si permite um ambiente seguro), utilizar a sua
criatividade e desenvolver as suas competências de gestão e implementação de
projetos. A chamada “metodologia de projetos” conduz os jovens através de um
processo em que os próprios definem tema, objetivos, metodologia e implementam
as próprias atividades, sendo avaliados nesta disciplina com reflexo na média
curricular. Os jovens de 12º ano já demonstram alguma maturidade e aliando a
regularidade das aulas e o incentivo à realização de projetos inovadores, a
conjuntura estaria alinhada para que esta disciplina resultasse enquanto processo e
resultados, envolvendo os alunos na reflexão crítica e implementação de ideias, num
verdadeiro espírito empreendedor. No ano letivo de 2010/2011 a que se reporta
esta investigação, a disciplina de Formação Cívica era ministrada por um único
professor, o que se revela insuficiente para orientar cada grupo de alunos numa
lógica de metodologia de projeto e acompanhamento do processo educativo. A
acrescentar a esta realidade, o facto de não existirem currículos com algumas
orientações, manuais de acompanhamento e formação específica para lecionar
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Formação Cívica, os professores não têm os instrumentos necessários para a
execução desta ação educativa.
É no âmbito destas disciplinas, com um menor objetivo nos resultados mas sim no
processo de trabalho de grupo e implementação de ideias, que existe o espaço e a
oportunidade de refletir temas importantes e significativos para os próprios jovens e a
sua construção enquanto cidadãos mais conscientes e ativos em sociedade, para além
do treino de competências para o empreendedorismo.
Apesar de estar preconizado nos objetivos do Ensino, a necessidade de se
“proporcionar aos alunos experiências que favoreçam a sua maturidade cívica e sócioafetiva, e aumentem atitudes e hábitos positivos de relação e cooperação” (Moura,
2002: 208), tem-se constatado que este objetivo não se encontra refletido no aumento
e diversidade de formação a professores que os prepare de forma específica para
disciplinas como Formação Cívica. Desta forma, os professores nem sempre têm
condições de promover, com regularidade, atitudes relacionadas com estas questões,
ou de valorizar o pluralismo cultural e os saberes familiares, no atual ensino
aprendizagem, plural e heterogéneo. Assim, a reduzida cultura de investigação e a
falta de aposta em formação especializada de professores, as práticas pouco
conscientes da realidade circundante e pouco sensibilizadas para a educação para a
cidadania, para a diversidade cultural e para as relações humanas, a reduzida
bibliografia traduzida para português no campo da educação para a cidadania e
desenvolvimento de competências para o empreendedorismo em contexto escolar, e a
ainda a fraca articulação da escola com a comunidade associativa local, são um
conjunto de fatores que conduz ao subaproveitamento destes potenciais espaços de
participação em contexto escolar.
1.2 Finalidades
Através desta investigação, é possível ambicionar as seguintes finalidades:
(1) Caraterizar os jovens de ensino secundário de Vila Nova de Famalicão
relativamente aos seus hábitos de participação social e política e também
relativamente à informação que detêm sobre a cultura política local e nacional
em alguns dos seus campos;
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
(2) Recolher de forma progressiva e numa construção coletiva com jovens e
dirigentes associativos, aquelas que são as suas recomendações para a mudança
na sua cidade em diversas áreas como a educação, mobilidade, acesso à cultura,
entre outros;
(3) Advocacy (processo político por um indivíduo ou grupo organizado com vista à
influência de decisões políticas e económicas) por parte da associação YUPI (à
qual a investigadora presidia à época da investigação), no sentido de garantir
que as recomendações são recebidas e absorvidas pelas autoridades locais na
área da Juventude, sendo implementadas as medidas possíveis.
1.3 Questões da investigação
Para o desenvolvimento deste estudo, formularam-se as seguintes questões:
(1) Qual a participação dos jovens famalicenses que frequentam o ensino
secundário em grupos locais de ação, associações ou outras atividades
extracurriculares?
(2) Qual o nível de informação e interesse relativamente à participação política
(microlocal, local e nacional) por parte dos jovens famalicenses em frequência do
ensino secundário em Vila Nova de Famalicão?
(3) Como podem os jovens, as associações locais, juventudes partidárias e
autoridades locais na área da juventude, contribuir para um aumento de
informação e efetiva participação dos jovens representados ou não por
associações ou grupos informais de jovens?
1.4 Pertinência da investigação
Desde 2007 que a investigadora dedica o seu trabalho e atuação local à estimulação
da participação ativa dos jovens através de voluntariado e do incentivo à reflexão
das experiências extracurriculares (em contexto de educação não formal), e desta
forma entende que existe uma lacuna enorme no desenvolvimento de crianças e
jovens fora da escola. A escola, na sua formatação e no seu enfoque cada vez mais
em resultados académicos, oferece cada vez menos espaços para a verdadeira
revolução das mentes, a revolução necessária para melhorar e desenvolver as
competências de jovens que já não terão o mesmo cenário que os seus pais tiveram
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
quando saíram da escola. A visão “assistencialista” do conhecimento, onde o
professor é especialista e hierarquicamente acima aos seus alunos no que toca a
conhecimentos (saber saber), é cada vez mais posta em causa numa sociedade de
informação e conhecimento onde o conteúdo e acesso à informação se encontra
naturalmente mais facilitado para os jovens do que para os seus professores. A
incoerência desta educação traz consequências na relação professor-aluno e
sobretudo uma descredibilização da escola por parte dos alunos e ainda mais grave,
uma desadequação entre as necessidades de educação como preparação para o
futuro e o programa curricular implementado.
O associativismo e as atividades fora de contexto escolar vêm devolver e
complementar o conhecimento trabalhado em contexto formal de educação com
um conjunto de princípios e atitudes necessárias ao aprendente. Sem estas
competências do saber ser/saber estar, os jovens têm a sua ação limitada e o
conhecimento torna-se absorto de significado já que o jovem não se encontra
preparado para reconhecer o valor e a utilidade do conhecimento. Também num
contexto académico cada vez mais apressado, há também dificuldades na gestão do
tempo para incluir o saber fazer, aspeto crucial na capacitação dos jovens e no
aumento da autoconfiança para o exercício prático em várias áreas. A participação
em atividades extracurriculares permite a exploração dos domínios do saber
ser/saber estar e do saber fazer, o que facilitam a descoberta e valorização do saber
saber por parte dos jovens.
Os espaços de educação não formal permitem a reflexão, debate e descoberta de
temas pouco trabalhados entre os jovens como a informação ou literacia política.
Um último estudo da Universidade Católica e CESOP (Magalhães & Moral, 2008),
refere que “de um ponto de vista quer absoluto quer comparativo, os portugueses
evidenciam atitudes de baixo envolvimento com a política. A relação entre a idade e
o grau de importância dada à (e interesse na) política é curvilinear, ou seja, menor
entre os muito jovens e entre os mais velhos.” Esta situação remete-nos para a
pertinência de investigar para além da quantificação também as razões que afastam
as pessoas de forma geral dos mecanismos de decisão. “Os jovens encontram-se
menos expostos à informação política pelos meios de comunicação convencional do
que o resto da população. E em geral − e não apenas aqueles que ainda não
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
chegaram à idade do voto − os jovens tendem a exibir menores níveis de
conhecimentos políticos” do mesmo estudo (Magalhães & Moral, 2008) vem
confirmar mais uma vez a necessidade de entender a nível local esta lacuna de
informação e, numa perspetiva de investigação-ação envolver os próprios jovens e
outros atores importantes como os dirigentes associativos, na definição e
implementação de estratégias que promovam a consciencialização, aproximação e
intervenção mais direta dos jovens a nível local.
Neste sentido, considera-se pertinente quantificar os níveis de participação que os
jovens demonstram neste tipo de grupos, clubes, associações ou outros. Este estudo
servirá como base para o novo plano para a Juventude visto que dotará a ação do
conhecimento da realidade no que toca à participação dos jovens a nível local.
A investigadora acredita que através desta pesquisa, os diferentes atores envolvidos
nas questões da participação de jovens compreenderão a necessidade e urgência
em atuar, compreender e criar estratégias de motivação e envolvimento de jovens
na construção da sua própria comunidade.
Capítulo II – Revisão da Literatura
2.1 Definição de conceitos
2.1.1- A Juventude
O termo juventude começou a ser categorizado recentemente no início do século XX,
por se tratar de uma categoria social recentemente construída, manifesta-se de modos
diferentes de acordo com o momento em que a sociedade passa. Não se pode dizer
que existe uma juventude, mas várias juventudes como pode ser percebido na citação:
“(...) a juventude é uma categoria socialmente construída. Ganha contornos próprios
em contexto históricos, sociais distintos, e é marcada pela diversidade nas condições
sociais (...), culturais (...), de género e até mesmo geográficas, dentre outros aspetos.
Além de ser marcada pela diversidade a juventude é uma categoria dinâmica,
transformando-se de acordo com as mutações sociais que vem ocorrendo ao longo da
história. Na realidade, não há tanto uma juventude e sim jovens, enquanto sujeitos
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
que a experimentam e sentem, segundo determinado contexto sociocultural onde se
inserem” (Dayrell 2007: 4).
Dayrell (2007) afirma que essa condição juvenil vai depender de onde esses jovens
estão inseridos na sociedade. E essa condição manifesta-se em várias dimensões, na
qual destaca cinco características nas quais esta se manifesta: o trabalho; as culturas
juvenis; a sociabilidade; espaço e tempo e a transição para a vida adulta.
O facto de se falar dos jovens como uma “unidade social”, um grupo dotado de
“interesses comuns” e de se referirem à juventude como fazendo parte de uma cultura
unitária juvenil, é per si manipulador. A questão central torna-se mais complexa
quando por um lado reconhecemos relativas similaridades entre jovens ou grupos
sociais jovens (em termos de expetativas, consumos culturais), e por outro lado
observamos curiosas diferenças sociais entre os jovens. A sociologia da juventude, ela
própria, tem vacilado, como veremos, entre duas tendências:
a) Numa das tendências, a juventude é considerada no mesmo conjunto social
cujo principal atributo é o de ser constituído por indivíduos pertencentes a uma
dada “fase da vida”, prevalecendo a busca dos aspetos mais uniformes e
homogéneos que caracterizam esta fase da vida – geração definida em termos
etários;
b) Na outra tendência sociológica, a juventude é tomada como um conjunto social
necessariamente diversificado, perfilando-se diferentes culturas juvenis em
função de diferentes pertenças de classe, diferentes situações económicas,
diferentes interesses, diferentes oportunidades ocupacionais. Neste sentido,
seria um abuso de linguagem integrar sobre o mesmo conceito de juventude
um conjunto de universos sociais que não têm entre si praticamente nada em
comum (Pais, J., 1990)
Para uma maior compreensão do fenómeno da juventude, para além de a
conceptualizar segundo correntes mais psicológicas ou sociológicas, também devemos
olhar para um enquadramento mais alargado que nos permita inferir sobre a situação
atual desta “juventude” no mundo atual, cada vez mais globalizado e visto à escala
europeia e menos à escala nacional.
No âmbito dos resultados emanados do Livro Branco da Comissão Europeia Um novo
impulso à juventude europeia (Bruxelas, 2011), devemos considerar algumas
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numa perspetiva de Investigação-ação
conclusões relativas à realidade da juventude a nível europeu, que refletem também
uma tendência portuguesa.
A primeira conclusão deste Livro Branco remete-nos para o prolongamento da
juventude. Os demógrafos observam que, sob a pressão de fatores económicos
(capacidade de emprego, desemprego, etc.) e de fatores socioculturais, os jovens são,
em média, mais velhos quando transpõem as diferentes etapas da vida: final de
estudos, acesso ao emprego, constituição de família, entre outros. A segunda
conclusão a considerar são os itinerários não lineares. Assiste-se hoje a "um
emaranhado das sequências de vida": uma pessoa pode ser ao mesmo tempo
estudante, membro de uma família, trabalhador, ou candidato a emprego, viver em
casa dos pais, sendo cada vez mais frequentes as idas e voltas entre estes diferentes
estatutos.
Os percursos individuais são tanto menos lineares quanto as nossas sociedades
deixaram de oferecer determinadas garantias (segurança do emprego, prestações
sociais).
A terceira conclusão a ter em linha de conta é a que nos apresenta os modelos
coletivos tradicionais, que perdem a sua pertinência em proveito de trajetórias
pessoais cada vez mais individualizadas. "Os calendários familiar, matrimonial e
profissional [de cada indivíduo] deixaram de se organizar de forma estandardizada".
(Livro Branco, 2011) Este aspeto exerce o seu impacto por exemplo nas políticas
conduzidas pelas autoridades públicas.
Desta forma, e no âmbito desta investigação, podemos entender a juventude com um
conjunto de características semelhantes no que respeita às expetativas generalizadas
para o futuro e num sentimento partilhado de afastamento da política e níveis baixos
de interesse na participação, conforme sugerem estudos na área (Magalhães & Moral,
2008). Por outro lado, é necessário ter em consideração ao longo da investigação que a
juventude ou juventudes em estudo tem origem geográfica semelhante (concelho de
Vila Nova de Famalicão) mas apresentam contextos socioculturais e demográficos
muito distintos, com diferentes níveis de acesso a oportunidades na área educativa,
cultural e desportiva, o que não deixa de ser um fator diferenciador na população em
estudo. De acordo com estas diferenças nos jovens das 9 escolas secundárias sob
investigação, podemos afirmar que ao estudar a juventude em Famalicão, estudamos
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numa perspetiva de Investigação-ação
as juventudes em Vila Nova de Famalicão em todas as suas particularidades e
diferenças, mas também permitindo encontrar dados semelhantes que sirvam de base
a uma intervenção mais holística e de acordo com as necessidades e interesses de
todos os envolvidos.
2.1.2- Participação ativa como instrumento de cidadania
A participação convencional e ritualista através do voto programado e ditada por
calendários eleitorais, para além de constituir uma pseudoparticipação (Lopes,
2006: 427), cria uma desresponsabilização dos próprios cidadãos que encerram
nestes momentos o seu poder de ação direta. Se considerarmos os jovens até aos 18
anos, constatamos que não estão sequer incluídos nestes ciclos de participação
pontual e direta, pelo que o grau de comprometimento com as decisões se encontra
longínquo e qualquer ação de influência de decisão política se encontra facilmente
enquadrável em ações ilegais (manifestações, assembleias populares, marketing de
guerrilha, entre outros cada vez mais populares entre os jovens pela sua perceção
de influência direta em decisões e reflexão de mais apoiantes).
Uma verdadeira participação deve estar refletida num comprometimento com o
desenvolvimento, fruto de uma democracia participativa e de um convite
permanente à reflexão e opinião dos cidadãos, assumindo desta forma a
responsabilidade conjunta das ações com influência na coisa pública e na vida em
comunidade. (Lopes, 2006:427).
De acordo com Lopes (2006:429), a política educativa das últimas décadas têm
condicionado e limitado a participação. Podemos observar nas escolas a atual
“cultura” do medo e do silêncio, o medo do “erro” que não permite opiniões
distintas e evita criar novos caminhos através de processos mais criativos, o que traz
consequentes bloqueios à participação, à vida em comunidade e ao próprio
desenvolvimento do sentido crítico dos jovens, com as lógicas consequências que
estes acontecimentos trazem ao futuro como cidadãos plenos na construção da
própria sociedade.
“Ser cidadão não é uma tarefa cómoda, é muito complicada, as pessoas não nascem
cidadãs, fazem-se no tempo e no espaço”, dizia Juan Suaréz (Lopes, 2006), e nesse
sentido poderemos questionar qual o tempo e o espaço que criamos enquanto
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numa perspetiva de Investigação-ação
sociedade para as nossas crianças e jovens se desenvolverem como cidadãos? Será
na escola, sobrelotada de currículos que pressionam professores e alunos contra o
tempo e os resultados quantificáveis? Será na família onde todos trabalham horas
extraordinárias e o número de irmãos é tendencialmente mais reduzido, e por isso
há menor tempo em quantidade e qualidade pela disponibilidade mental que nos
sobra em família?
O espaço privilegiado das associações e grupos informais de jovens constituem-se
como essenciais para o acompanhamento e desenvolvimento de jovens numa
determinada comunidade. Desta forma, entendemos o conceito trazido por Ana
Sastre (2000), que defende que a “participação deve ser definida como um direito
de cidadania que implica estar informado, opinar na vida política e social da
comunidade; deve ser orientada para um objetivo concreto (um projeto, uma
organização, uma tarefa); deve ser organizada e intencional, pois, não se trata de
uma manifestação humana espontânea, mas antes de uma ação social coordenada e
organizada.” As associações constituem um laboratório seguro para os jovens para
serem informados, partilharem opiniões, negociarem ideias e implementarem
projetos em conjunto, num processo semelhante à vida em comunidade mais
alargada. Este espaço seguro permite a descoberta do próprio, a vivência com o
outro e alargar horizontes e reflexões que noutros contextos estariam muito
dificultados por tempo e espaço (escola, família, grupo de pares).
2.1.3- Empowerment dos jovens e condições para uma efetiva participação
O interesse pelo conceito de empowerment tem vindo a aumentar ao longo do tempo
e uma prova disso é o crescente número de artigos que podemos encontrar acerca do
tema. Neste sentido, é possível afirmar que o empowerment se tem vindo a tornar
um construto indispensável para a compreensão do desenvolvimento dos indivíduos,
organizações e comunidade (Perkins & Zimmerman, 1995). Este conceito tem as suas
raízes nos Estados Unidos, no final da década de 70 (Fazenda, s/d), nas lutas pelos
direitos civis e nos movimentos feministas, sendo que, mais tarde, na década de 80, o
empowerment começou a sofrer algumas influências dos movimentos de autoajuda e
da Psicologia Comunitária. Este conceito é ainda influenciado pelos movimentos que
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visam a defesa dos direitos de cidadania sobre os vários domínios da vida social
(Carvalho, 2004).
Definir o conceito de empowerment revela-se bastante complexo, tendo em conta os
diferentes contextos, populações e fases de desenvolvimento a que o mesmo pode ser
aplicado. Mas, apesar das múltiplas definições apresentadas pela literatura, muitas
delas partilham e chegam a um consenso relativamente a alguns aspetos conceptuais
do conceito de empowerment (Moniz & Morgado, 2010).
Perkins & Zimmerman (1995) afirmam que as várias definições de empowerment são,
normalmente, consistentes com uma visão do conceito como um processo em
andamento, centrado na comunidade local, que envolve o respeito mútuo, a reflexão
crítica, a preocupação e a participação em grupo, através da qual as pessoas que
necessitam de mais recursos de valor ganham um maior acesso e maior controlo sobre
esses recursos (Cornell Empowerment Group, 1989), ou simplesmente como o
processo através do qual as pessoas ganham o controlo sobre as suas vidas e
participação democrática na vida da sua comunidade (Rappaport, 1987).
Como já foi mencionado anteriormente, o empowerment é um conceito
multidimensional que pode ser aplicado a diversos contextos e populações, tornando
os jovens um grupo etário que também pode ser alvo de estratégias ou projetos
relacionados com o empowerment e com a tentativa de uma maior participação na
comunidade.
A respeito do empowerment dos jovens, Putnam (cit. por Silveira, 2005), defende que
a participação dos jovens em atividades participativas, em parcerias com associações
existentes na sua comunidade, contribui para o desenvolvimento das normas sociais,
da confiança nas instituições e da confiança nas outras pessoas.
Através de uma extensa revisão da bibliografia surgem quatro modelos conceptuais de
Empowerment da juventude (Jennings et al, 2006). Os mesmos autores conseguiram,
após a análise dos quatro modelos de empowerment, identificar seis dimensões do
que pode ser denominado de empowerment da juventude, que se caracteriza por ser
um quadro conceptual que se baseia na integração dos processos e dos resultados do
empowerment da juventude, tanto a nível individual como a nível coletivo. Assim, são
17
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
analisados quatro modelos que têm sido desenvolvidos para explicar e guiar os
esforços da comunidade em capacitar os jovens (Castela, 2011).
1) Ciclo de empowerment dos adolescentes (Chinman e Linney, 1998);
2) Modelo de programa de desenvolvimento e empowerment da juventude (Kim
et al, 1998)
3) Modelo de parceria transacional (Cargo et al, 2003)
4) Modelo de educação do empowerment (Wallerstein, Sanchez-Merki e Velarde
com base em pressupostos de Freire, 2005). (Castela, 2011)
O modelo utilizado nesta investigação segue os princípios do modelo de parceria
transacional, na medida em que, ao contrário de outros modelos que se baseiam em
teorias psicológicas do desenvolvimento, este modelo é bastante mais pragmático já
que envolve diretamente os jovens na melhoria da qualidade de vida local, através
de intervenções nas áreas que interessam aos próprios jovens. Este modelo
conceptualiza o empowerment como um processo de cooperação entre adultos e
jovens, sendo que um dos elementos chave deste processo é o papel dos adultos em
criarem um ambiente acolhedor e facilitador da comunicação e da horizontalidade
do próprio processo. Outro aspeto central neste modelo é a noção da interrelação
que existe entre os resultados do empowerment a nível individual e a nível
comunitário, na medida em que se espera que os jovens experimentem resultados
individuais através da participação e do sucesso dos esforços para a mudança da
comunidade (Jennings et al, 2006).
Os autores estudados nesta seção partilham que a promoção do empowerment dos
jovens deve ter em consideração 6 dimensões: um ambiente acolhedor e seguro,
participação e envolvimento com significado, uma partilha equitativa do poder entre
adultos e jovens, o envolvimento numa reflexão crítica sobre os processos
interpessoais e sociopolíticos, a participação em processos sociopolíticos para uma
mudança efetiva, e a integração dos níveis individual e comunitário do empowerment.
Analisando a questão da participação de uma forma mais holística através da Carta
Europeia para a Participação dos jovens a nível local e regional revista recentemente
(2003) no Congresso de Autoridades locais e regionais do Conselho da Europa,
podemos entender que a participação de jovens se tornou uma forte prioridade do
18
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Conselho da Europa que tem incentivado um variado número de iniciativas que
visam dotar os jovens da informação e competências necessárias para o seu
envolvimento pleno.
2.1.4- Experiência em processos de consulta a jovens
O processo de consulta envolve recolher informação junto das pessoas sobre um
determinado assunto para apoiar a ação/decisão. Consultar os jovens que apoiem a
implementação de novas medidas na área da juventude, significa reunir informações
que sejam relevantes nos domínios que interessam aos jovens envolvidos (Youth
Consultation Guide, 2004).
Os jovens têm diferentes padrões de comunicação, estilos de vida, prioridades e
gostam de diferentes atividades, comparando com os adultos. O processo de consulta
precisa então de desenvolver diferentes métodos de comunicação e facilitação que
incluam os jovens e compreendam o público-alvo nas suas especificidades. Estudos
indicam que, se envolvermos os jovens em primeira instância recolhendo as suas
opiniões e identificando as suas necessidades e interesses, estes estarão mais
comprometidos e ativos no acompanhamento das medidas sugeridas. (Youth
Consultation Guide, 2004).
Um dos processos mais alargados de consulta a jovens de nível europeu resultou na
edição do Livro Branco da Comissão Europeia Um novo impulso à juventude europeia
(2001). O processo de consulta que serviu de base conceptual para este Livro Branco
estendeu-se de Maio de 2000 a Março de 2001 e abrangeu jovens europeus de todas
as origens, organizações de juventude, comunidade científica, responsáveis políticos e
respetivas administrações na área da juventude. A sua amplitude, duração, diversidade
das pessoas consultadas e riqueza de ensinamentos fazem desta uma consulta sem
precedentes à escala europeia. Para alguns Estados-Membros, constitui igualmente
uma estreia. A mobilização foi considerável:
– os Estados-Membros organizaram 17 conferências nacionais, que reuniram vários
milhares de jovens e recolheram 440 sugestões;
– o Encontro Europeu de Paris em Outubro de 2000, sob a Presidência francesa,
permitiu colocar os resultados das conferências nacionais numa perspetiva europeia;
19
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
- 450 jovens delegados representando 31 países acordaram a seleção de cerca de 80
sugestões;
– em Fevereiro de 2001 foram ouvidas no Comité Económico e Social em Bruxelas mais
de 60 organizações ativas no terreno;
– a comunidade científica, representada por uma dezena de investigadores
pluridisciplinares, foi mobilizada para fornecer uma abordagem prospetiva sobre a
evolução da juventude;
– em cada uma das capitais europeias foram organizados encontros com os
responsáveis políticos e administrativos mas também com os Conselhos Nacionais da
Juventude, tendo sido organizadas duas reuniões dos Diretores-Gerais de tutela da
Juventude (uma no lançamento destes encontros bilaterais, outra no encerramento
das consultas);
– em meados de Março de 2001, realizou-se um encontro em Umeå, sob a Presidência
sueca. Jovens, organizações de juventude, investigadores e autoridades públicas
delinearam as prioridades que devem orientar a ação política;
– em 24 de Abril de 2001 teve lugar uma jornada de debate no Parlamento Europeu,
que contou com a participação de quase 300 pessoas, essencialmente jovens. (Livro
Branco para a Juventude, 2001)
Deste processo de consulta emergiram quatro mensagens fundamentais (Livro Branco,
2011):
1) Para uma participação ativa dos jovens enquanto cidadãos
Os jovens consultados reivindicam a sua condição de cidadãos responsáveis. A este
título, pretendem ser mais diretamente associados à vida da comunidade. Além disso,
a participação dos jovens não pode limitar-se a uma única consulta, e ainda menos a
sondagens de opinião, devendo antes incluir os jovens no processo de tomada de
decisões.
2) Alargar e reconhecer melhor os campos de experimentação
Os jovens gostariam que os poderes públicos reconhecessem que a educação e a
formação não se limitam àquelas que são ministradas de forma tradicional ou formal.
20
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Do seu ponto de vista, este período charneira da aprendizagem e experiência pessoal
ganharia se fosse tratado de forma mais global e incluísse os aspetos não formais da
educação e da formação.
Nesta ótica, merecem destaque a mobilidade e o voluntariado, que continuam a ser
práticas demasiado limitadas e escassamente reconhecidas: desenvolvê-las em
articulação com as políticas relativas aos domínios da educação e da formação
representa, para os jovens, uma prioridade.
3) Desenvolver a autonomia dos jovens
A autonomia é uma reivindicação básica dos jovens. Essa autonomia assenta nos meios
à sua disposição e, em primeiro lugar, nos meios materiais. Neste aspeto, a questão do
rendimento é fulcral. As políticas do emprego, da proteção social, do auxílio à inserção
mas também da habitação e dos transportes afetam a juventude.
São políticas necessárias para lhes proporcionar maior autonomia, pelo que deverão
incorporar os seus pontos de vista e os seus interesses e aproveitar as conquistas e
experiências no domínio em causa.
4) Por uma União Europeia campeã de valores
A grande maioria dos jovens identifica-se com certos valores que são também os da
construção europeia. No entanto, isso não os impede de achar que as instituições são
entidades longínquas, pouco acessíveis, e muito pouco sensíveis às suas preocupações.
Consideram que deve ser feito muito mais, e a todos os níveis de intervenção pública,
para garantir os direitos fundamentais de cada indivíduo e, sobretudo, para garantir os
direitos das minorias e lutar contra toda e qualquer forma de discriminação ou de
racismo. (Livro Branco para a Juventude, 2001)
A nível local, os processos de consulta na área da juventude não são uma tendência
generalizada, existindo poucos Municípios com práticas nestes âmbitos. No entanto, o
papel das associações juvenis tem sido um forte estímulo à reflexão por parte dos
jovens e consequente legitimidade para advocacy perante os decisores políticos locais.
A título de exemplo, a nível nacional e local:
21
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
- O Conselho Nacional da Juventude lançou de Janeiro a Abril de 2011 uma série de
seminários regionais que culminaram num seminário nacional sob o tema “Rumo ao
Emprego Jovem”, que permitiu a auscultação e construção coletiva de possíveis
medidas de combate ao desemprego jovem, para futura negociação entre CNJ e
diferentes Comissões políticas que integra (CNJ, 2011);
- O Conselho Nacional da Juventude lança no ano de 2012 um conjunto de seminários
regionais seguidos de um seminário nacional sob o tema “Portugal participa! –
Participação dos jovens e Inclusão social de jovens com menos oportunidades”, que
pretendeu reunir contributos dos jovens relativos a esta matéria e idealizar medidas
concretas para apresentação e discussão a nível europeu no próximo encontro
europeu, que encerra a Presidência da União Europeia tripartida entre Polónia,
Dinamarca e Chipre (CNJ, 2012);
- A nível local pode referir-se o papel das associações juvenis na estimulação da
participação ativa dos jovens e do seu comprometimento com os problemas e soluções
para a melhoria de vida na sua comunidade. Um exemplo vivo é o caso da Associação
juvenil Dínamo que lançou o desafio a jovens de Sintra para participarem com ideias
para a transformação da sua cidade, culminando numa Carta de Recomendações para
a Participação local, finalizada em Março de 2012 (Dínamo, 2012). Este processo
resultou numa verdadeira mobilização de jovens que pretendem refletir a cidade e
encontrar, em conjunto com decisores políticos, um caminho comum de
entendimento e resolução de problemas.
Enquanto metodologia, o diálogo estruturado a nível europeu não é recente, mas num
contexto nacional, esta prática não tem sido explorada. Para além do know-how
necessário para convidar, facilitar e negociar os temas em debate com os diferentes
envolvidos, é indispensável uma verdadeira vontade política e disponibilidade para
criticar de forma construtiva as políticas atuais com vista a uma melhoria. Esta cultura
de participação e de horizontalidade entre eleitos e eleitores não é muito usual, pelo
que a sociedade civil deverá ter um papel mais preponderante no estímulo à reflexão
independente e apartidária, comprometida pelos e com os cidadãos e futuros
cidadãos.
22
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
2.1.5- O animador sociocultural como agente essencial na transformação social
Enquanto jovem, começam a manifestar-se sentimentos de pertença a grupos,
normalmente associados à cultura da imagem, tendências musicais e estéticas,
paralelamente à libertação da tutela e do controlo familiar, num desafio de
afirmação de identidade pessoal. As linhas orientadoras da Animação Juvenil surgem
desta forma para responder às necessidades de desenvolvimento e afirmação de
identidade, entre as quais:
- a liberdade, no sentido de procura do desconhecido, o risco como processo de
auto e heteroconhecimento;
- a promoção do associativismo: associado à afirmação de identidade individual
surge a necessidade de socialização e canal de aprendizagens diversas;
- a participação, que entende o jovem como ativo e envolvido desde o processo de
decisão até à implementação, colocando-o no centro da ação;
- o voluntariado, como processo solidário e integrante do desenvolvimento humano,
também associado à capacidade de influência dos jovens na resolução de problemas
da sua comunidade. (Lopes, 2006: 318)
A animação sociocultural investe em práticas de cidadania plena, mediante as quais
o ser humano é incitado a intervir na causa pública. Esta intervenção solicitada a
cada cidadão deve ter por base um conjunto de informação, consciencialização,
cultura e vivência democráticas que promovam à pessoa as condições de se tornar
ator protagonista no seu desenvolvimento social, cultural, educativo e político.
(Lopes, 2006: 565).
Como nos anima Lopes, M. (2006:568), é necessário “viver a participação e rejeitar a
delegação”; a animação sociocultural deve ter “como missão futura (…) promover
uma pedagogia de libertação como nos ensinou Paulo Freire”; “defender um novo
associativismo que vá ao encontro do pulsar deste novo tempo e que constitua um
espaço propício de educação não formal”; valorizar a dimensão da política,
entendida como meio de participação na causa pública e não reduzida apenas a um
jogo exercido por uma classe política”. Animados por estes objetivos da Animação
Sociocultural, perspetivamos esta disciplina do saber como um motor da
23
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
transformação social, necessária para estimular o desenvolvimento de jovens mais
conscientes, críticos e interventivos na sociedade.
Assim sendo, entre os vários objetivos da Animação Juvenil, surge-nos como
pertinente para esta investigação a importância do fortalecimento da interação e
interrelação dos jovens, mediante uma metodologia ativa, participada, horizontal e
de valorização da autoestima e do protagonismo dos jovens. O associativismo juvenil
é uma escola de valores para a cidadania, que, ao ser experimentada pelos jovens
num contexto seguro, pode ser considerada uma tecnologia educativa potenciando
a complementaridade com o sistema de educação formal e aportar um conjunto de
saberes, experiências e vivências únicas. (Lopes, 2006:318)
É na perspetiva de Salas Larrazábal (1998) que “o animador é um educador, porque
estimula a ação, o que se supõe uma educação na mudança de atitudes”, que se
posiciona esta investigadora. É na criação de oportunidades de reflexão sobre
questões importantes para o quotidiano dos jovens e na estimulação de ideias
inovadoras e identificadas através de um processo coletivo e comprometido, que
este projeto se desenrola. O papel de um/a animador/a centra-se nos indivíduos
jovens e na comunidade em que se desenvolve, no sentido de promover a
autonomia e crescimento pessoal dos atores envolvidos, para além da melhoria de
qualidade de vida da comunidade. Através da abordagem da educação não formal, é
possível criar um ambiente facilitador de troca de experiências, de diálogo franco e
de estímulo à reflexão organizada, com vista à consciencialização da realidade que
nos rodeia e à idealização de soluções para os problemas que enfrentamos.
Numa lógica cada vez mais participativa e num quadro de cooperação europeia em
matéria de juventude para 2010 a 2018 que prevê o diálogo estruturado como
metodologia para a reflexão e identificação de medidas de prevenção e redução de
problemas, surge o animador como peça fundamental na mediação dos diferentes
atores neste processo. O conceito de diálogo estruturado, desenvolvido a partir de
2005/2006, é um marco fundamental nas políticas europeias de juventude e através
do qual a juventude europeia é chamada a participar no debate alargado sobre os
temas prioritários da União Europeia. Este diálogo supõe que os governos e as
administrações, inclusive as da UE, fomentem o debate com os jovens sobre
24
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
determinados temas, cujos resultados devem ser úteis para a decisão política. Esse
debate é estruturado quer em termos dos temas escolhidos, quer nos tempos e
métodos de trabalho (Conselho Nacional da Juventude, 2011).
Desta forma, o/a animador/a será o profissional mais habilitado em termos de
competências de facilitador, animador de grupos e mediador entre diferentes faixas
etárias e situações sociais. Num processo de diálogo estruturado, será o animador
que detém um bom conhecimento de dinâmicas de grupo na área da educação não
formal, e por conseguinte que pode moderar o debate consoante os temas
escolhidos de uma forma atrativa para o grupo, tendo em conta que jovens, técnicos
e decisores políticos fazem parte de um mesmo grupo bastante heterogéneo. Estes
momentos de diálogo estruturado requerem uma boa preparação técnica através de
uma planificação de objetivos, resultados quantificáveis do processo e utilização de
uma variedade de métodos (com predominância dos métodos ativos que estimulam
a participação) que envolvam e comprometam os participantes, desde os jovens aos
decisores políticos. É numa lógica de “animar o espírito” que muitas vezes estas
sessões de diálogo estruturado decorrem, já que partimos frequentemente de um
grupo de jovens com vontade de participar mas com baixa perceção de
eficácia/influência na tomada de decisões decorrente destes processos, e de um
grupo de decisores políticos que ainda credibiliza pouco os momentos de
auscultação e negociação direta com a população ou por outro lado que não tem
hábitos de debate e comunicação com jovens, sendo difícil estabelecer uma
plataforma de entendimento e comunicação efetiva entre estes dois públicos. O
facilitador do processo de diálogo estruturado deve por isso reunir um conjunto de
competências que, no entender da investigadora, coincidem com o perfil de um
animador, tais como: competência de organização de informação e devolução da
mesma de forma visual, atrativa e intuitiva; competência de animação e facilitação
de grupos; competência de negociação entre diferentes faixas etárias e interesses,
entre outras.
Nesta investigação-ação, o diálogo estruturado é fundamental ao processo de
participação de jovens nas tomadas de decisão. Após uma fase de questionários
aplicados a uma amostra significativa de jovens de ensino secundário de Vila Nova
de Famalicão, foi possível implementar o diálogo estruturado através de “grupos de
25
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
foco”, onde os diversos temas já se encontravam organizados e se convidavam
jovens, dirigentes associativos e de juventudes partidárias de diferentes idades a
pronunciar-se sobre os resultados dos questionários e produzirem ideias coletivas
para a promoção de medidas para atenuar/resolver problemas ou melhorar aspetos
positivos para os próprios jovens. No final deste trabalho em “grupos de foco”, e
como está contemplado num processo de diálogo estruturado, os jovens, dirigentes
associativos e decisor político local na área da Juventude (Vereador da Juventude)
foram chamados a esclarecer as medidas propostas e negociar a possível
implementação das mesmas.
Capítulo III – Metodologia
3.1 – Modelo de Investigação-Ação
A metodologia a utilizar na realização deste projeto prende-se com a Investigaçãoação, que se destaca pela descoberta e exploração de factores e pela possibilidade que
nos dá de se realizar a investigação no próprio espaço de ação - a rede associativa
juvenil de Vila Nova de Famalicão.
De uma forma simplificada podemos afirmar que a Investigação-ação é uma
metodologia de investigação orientada para a melhoria da prática nos diversos campos
da ação. Já como refere Serrano (1998: 111), a investigação-ação, tem como objetivo
básico e essencial, “por um lado obter melhores resultados naquilo que se faz e, por
outro, facilitar o aperfeiçoamento das pessoas e dos grupos com que se trabalha”. Esta
metodologia orienta para a melhoria das práticas mediante a mudança e a
aprendizagem a partir das consequências dessas mudanças e permite a participação de
todos os implicados. O seu objetivo é a reflexão sobre a ação de forma a transformar a
realidade. Alguns autores caracterizam-na como uma metodologia apelativa e
motivadora porque se centra na prática e na melhoria das estratégias utilizadas, o que
leva a uma eficácia da prática muito maior. Assim, pode dizer-se que “a investigaçãoação orienta-se para o aperfeiçoamento mediante a mudança e para a aprendizagem a
partir das consequências das mudanças: é participativa; segue uma espiral de ciclos de
26
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
planificação, ação, observação e reflexão; é um processo sistemático de aprendizagem
orientado para a praxis.” (Serrano, 2004: 111).
Existem muitas e variadas definições do modelo de investigação-ação e muitos são os
teóricos que o definem.
Por exemplo, Cohen & Manion referem que a investigação-ação se adequa a qualquer
situação, sempre que seja identificado um problema numa situação específica, ou
sempre que se aplique uma nova abordagem. Descrevem-na como “um procedimento
in loco, com vista a lidar com um problema concreto localizado numa situação
imediata (…) controlado passo a passo (…) durante períodos de tempo variáveis,
através de diversos mecanismos (…), de modo que os resultados subsequentes possam
ser traduzidos em modificações, ajustamentos, mudanças de direção, redefinições, de
acordo com as necessidades, de modo a trazer vantagens duradouras ao próprio
processo em curso”. (Bell, 1993, pp. 20-22)
Bell refere que a investigação-ação precisa de ser pensada e planeada como qualquer
outra investigação, dependendo dos métodos que forem seleccionados para a recolha
de dados. Defende que os investigadores quantitativos recolhem os factos e estudam a
relação entre eles. Realizam medições com a ajuda de técnicas científicas que
conduzam a conclusões quantificadas e, se possível, generalizáveis. Os investigadores
que adoptam uma perspetiva qualitativa estão mais interessados em compreender as
perceções individuais do mundo. Procuram compreensão, em vez de análise
estatística. Duvidam da existência de factos “sociais” e põem em questão a abordagem
“científica” quando se trata de estudar seres humanos (Bell 1993: 20).
Sanches (2005) entende que esta metodologia permite ao investigador partilhar
informação com os seus pares, compreender o processo de uma perspetiva interna,
encontrar respostas pertinentes, oportunas e adequadas à realidade em que trabalha
e usar um processo dinâmico, motivador, inovador e responsável entre todos os
intervenientes do processo educativo (p. 130).
Enquanto que Bogdan & Biklen (1994) defendem que a investigação-ação, situada
dentro da investigação qualitativa, envolve um estudo ativo, empenhado, sistemático,
uma participação constante do investigador no próprio local da investigação e uma
27
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
associação directa e sistemática entre a ação, a reflexão e a mudança, a partir do
registo escrito de todos os dados recolhidos e dos seus valores. Entendem que este
método compreende “uma atitude prática, centrada nas inquietações do investigador
e é usada como um instrumento de mudança social, que consiste na recolha de
informações sistemáticas, com o objetivo de promover mudanças sociais” (pp. 292294).
Nesta linha de pensamento, Patton defende que os métodos qualitativos possibilitam
ao investigador fazer o trabalho de campo sem estar restringido a categorias já
determinadas e tornar a pesquisa mais profunda, aberta e pormenorizada (1980: p.
13).
Sendo assim a Investigação-ação é um modo de investigação que toma por objeto um
fenómeno situado no contexto da vida real, onde o investigador está pessoalmente
implicado e aborda o seu campo de investigação a partir do interior, reunindo
informação tão numerosa e tão personalizada quanto possível, com vista a abranger a
totalidade da situação.
3.2 – Escolha do método de investigação
Nesta investigação decidiu usar-se um método de pesquisa e de desenvolvimento
pedagógico que se relacionasse com o conhecimento do quotidiano dos jovens e que
permitisse adaptar e testar estratégias nacionais e internacionais de vários autores,
refletir e avaliar a sua eficácia, num contexto específico e compreender problemas
reais, relacionados com os conceitos em estudo.
A própria revisão de literatura sobre métodos de investigação levou à constatação, de
que uma investigação qualitativa acabaria por ser mais promissora e adequada ao
estudo do problema desta investigação. Assim, a natureza de uma investigação-ação
essencialmente prática, na resolução de problemas educativos, diagnosticados em
situações específicas, tornou-se atrativa para a investigadora, no papel de
investigadora mas também de animadora.
Outro motivo deveu-se ao facto de ser um método que se adequa a uma reflexão
profunda e multifacetada (Kemmis, 1988), que permite um diálogo ao longo da
pesquisa, faz uma avaliação formativa dos processos (Stenhouse, 1987), interage
constantemente entre o investigador e os sujeitos da amostra, admite a realização de
28
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
correções no decurso da investigação e que pode ser ligado à inovação curricular. Um
método que coloca em prática, num curto período de tempo, um modelo teórico
crítico, que permite questionar e experimentar práticas em contexto natural, numa
dialética de reflexão-ação-reflexão contínua e sistemática, como defende Elliott
(1994). Assim, a investigação-ação foi a metodologia que se adequou às finalidades da
investigação, por facilitar a resolução de problemas dos jovens, integrar e valorizar os
interesses e necessidades destes e privilegiar a integração e reflexão e por estar atenta
à mudança e à intervenção social. Foi o modelo mais apelativo e adequado ao
contexto e à amostra em estudo, porque:
(I) Permitiu experimentações práticas em contextos naturais de sala de aula e em
contextos de encontros informais de jovens num curto espaço de tempo;
(II) Adaptou-se à profissão, experiência profissional e associação onde a investigadora
é órgão social com responsabilidades, como animadora;
(III) Facilitou as colaborações e o entendimento entre os principais participantes da
ação: jovens, dirigentes associativos, decisores políticos, investigadora;
(IV) Permitiu melhorar a qualidade da comunicação entre associações juvenis do
mesmo Concelho e escolas secundárias, a partir da pesquisa, da mudança de atitudes e
comportamentos, por parte dos inquiridos e participantes;
(v) Procurou resolver problemas no próprio local da investigação, permitindo à
investigadora questionar práticas, produzir materiais, tomar notas, implementar e
testar estratégias de acção e técnicas de recolha de dados, avaliar e refletir a sua
eficácia de forma alternada, sistemática e contínua;
(VI) Deu respostas ao problema selecionado.
E conclui-se, que a escolha do método investigação-ação, esteve relacionada com
todos os benefícios que este poderia trazer.
3.2.1 – Vantagens e desvantagens desta escolha
Cohen & Manion (1994) referiram que o modelo de investigação-ação incide na
resolução de problemas específicos, “sempre que queremos um conhecimento
específico para um problema específico, numa situação específica” (p. 271).
29
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Segundo eles, este método como método empírico, reúne, partilha, estuda, regista,
reflete, avalia e atua sobre a informação recolhida, através do registo, das observações
e da análise de comportamentos e atitudes. Constitui, nesta sequência, a base das
revisões que levaram à melhoria e ao progresso da situação que se pretende alterar.
Psathas refere que numa investigação-ação, “os investigadores qualitativos em
educação estão continuamente a questionar os sujeitos de investigação, com o
objetivo de perceber “aquilo que eles experimentam, o modo como eles interpretam
as suas experiências e o modo como eles próprios estruturam o mundo social em que
vivem” (Bogdan & Biklen, 1994: p. 51).
Enquanto que Elliott (1994) define a investigação-ação, como o estudo de uma
situação social, que tenta melhorar a qualidade da acção em si mesma e que tem
como objectivo proporcionar elementos que sirvam para facilitar o exercício prático,
em situações concretas e a validade das teorias e hipóteses, geradas e não
dependentes das provas científicas, mas da forma inteligente e acertada como ajuda
as pessoas a actuarem. Para este investigador, o modelo de Lewin envolve uma espiral
de ciclos, onde o ciclo básico das atividades identifica a ideia inicial, reconhece a
situação, efectua a planificação geral, desenvolve a primeira fase da acção,
implementa, avalia a ação e revê o plano geral. A partir deste ciclo, os investigadores
adiantam-se e buscam a espiral para desenvolverem a segunda fase da acção,
implementar, avaliar o processo, rever o plano geral e desenvolver a terceira fase da
ação, que implica a implementação e avaliação do processo num ciclo contínuo,
sistemático e alternado, até considerarem o problema solucionado ou reduzido ou
encontrarem os dados necessários ao estudo. Assim, Elliott (1994) define um modelo
em três ciclos, semelhante ao de Lewin porque crê que o seu modelo constitui uma
excelente base para nos levar a pensar em que consiste a investigação-ação (p. 88).
Refere que quem utiliza o modelo de Lewin pode ter tendência a pensar que é possível
fixar antecipadamente a ideia geral, que o reconhecimento só consiste em descobrir
factos e que a implementação é um processo linear (1994: p. 89). Faz uma revisão ao
modelo de Lewin, dizendo que:
1 - É possível modificar a ideia geral;
2 - O reconhecimento inclui a análise e a descoberta de factos, reintegração do
cumprimento da espiral, sem obedecer ao início do processo;
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
3 - A implementação de uma fase da acção nem sempre é fácil, pois não deve proceder
à avaliação dos factos de uma ação, até que se tenha comprovado em que medida
estes foram implementados.
Conclui-se, segundo os três ciclos de Elliott (1994) e após este ter feito uma
reformulação aos três ciclos de Lewin, que o método de investigação-ação é um tipo
de prática reflexiva que privilegia, em simultâneo, a prática e a teoria pois permite ao
investigador recolher dados, formular questões, avaliar e refletir numa dialética de
reflexão-ação-reflexão, alternada, contínua e sistemática, em todos os ciclos da ação,
até encontrar dados suficientes e concretos ao seu estudo. E que a investigação-ação
corresponde a uma metodologia suficientemente flexível, facilmente alterada,
adaptada e complementada, no final de cada ciclo (p. 89). Por fim, este investigador
defende uma ação, que envolve ciclos de planeamento, observação, reflexão e
avaliação, que tem de ser bastante flexíveis para permitir que se façam alterações e
ajustamentos.
A investigação-ação é um procedimento, um ato contínuo desenhado para abordar um
problema concreto numa situação específica. É um processo de investigação que se vai
desenvolvendo passo a passo, sobre períodos de tempo, e usando uma variedade de
instrumentos, que possibilitam a reflexão e avaliação sobre a ação e que está
relacionado com a formação de uma equipa de trabalho, capaz de alcançar mais
facilmente mudanças e respostas do que indivíduos isolados. É um método que se
relaciona com a adaptabilidade e a flexibilidade, proporcionando mudanças durante a
sua implementação, encorajando a experimentação e a inovação e a obtenção de
dados concretos num curto espaço de tempo e que, como todos os outros modelos,
tem vantagens e desvantagens. Cohen & Manion (1986) referem que a investigaçãoação é preferível às abordagens subjetivas para resolver os problemas, embora lhe
falte o rigor de uma investigação científica.
No entanto, também têm sido levantadas muitas objeções à investigação-ação,
levadas a cabo pela falta de rigor científico e pelo facto dos seus objetivos serem
demasiado situacionais e específicos. Segundo estes investigadores, o facto de ser
situacional exclui a sua aplicação em outros contextos educativos (1994: p. 271). Outra
desvantagem diz respeito ao facto de este método não ir para além da resolução de
problemas práticos, ter pouco ou mesmo nenhum controlo sobre as variáveis
31
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
independentes e, como referem Cohen & Manion, apresentar resultados que não são
generalizáveis, mas restritos ao meio envolvente na qual a investigação tem lugar
(Serrano, 1994). As suas críticas advêm da forma amadora, sem rigor científico, como,
muitas das vezes, se usa o método. Contudo, pode ser tão rigoroso como qualquer
outro método de investigação, quando usado por um investigador (Moura, 2000).
3.3 – Plano da Acção
3.3.1 - Calendarização do projeto
1º Passo - Construção dos questionários
No âmbito da disciplina de Área de Projeto da Escola Secundária D. Sancho I do ano
letivo de 2010/2011, um grupo de alunas (Ana Silva, Ana Moreira, Ana Barbosa e
Ana Morais1) escolheu por tema “Jovens na democracia”, com o objetivo de
compreender as perceções dos jovens relativamente ao sistema de democracia e à
sua participação ativa em sociedade. O questionário “Play demo!” foi construído
pela investigadora baseado em 4 sessões de facilitação do grupo “Jovens na
1
Nome fictício para proteção dos jovens envolvidos
32
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
democracia”, recolhendo ideias e conceitos importantes e trabalhando estes
conceitos de forma neutra e refletida através de um questionário. Após este
trabalho de recolha, análise e tratamento pela investigadora, o questionário recebeu
contributos de melhoria por especialistas nas áreas mais técnicas e políticas, através
de diferentes atores envolvidos2: Presidente da Concelhia do Partido Social
Democrata em Vila Nova de Famalicão, deputado na Assembleia Municipal de Vila
Nova de Famalicão pelo Partido Comunista Português e doutorando em Marketing
Político e Professor Assistente de Comunicação Institucional na Licenciatura em
Comunicação Empresarial da Universidade Católica.
2º Passo – Seleção da amostra e aplicação dos questionários
A aplicação do questionário abrangeu um total de 527 estudantes entre o 10º e o
12º do ensino regular e profissional de todas as instituições de ensino famalicenses,
entre as quais: a Escola Cooperativa Vale S. Cosme, a Escola Cooperativa de Riba
d’Ave, a Escola Secundária Camilo Castelo Branco, a Escola Secundária D. Sancho I, a
Escola Secundária Padre Benjamim Salgado, a Escola Profissional CIOR, a Escola
Profissional FORAVE.
O número total de estudantes entre o 10º e 12º anos é de 5009 no ano lectivo de
2010/2011, pelo que este estudo representa 10.5% da população em estudo. A
amostra foi construída de forma aleatória (foi sistematizada a informação sobre
número de turmas e tipologia de ensino – geral ou profissional e gerados de forma
aleatória um grupo de 10.5% em cada escola e de forma aleatória os números das
turmas para a amostra) e os questionários aplicados entre Janeiro e Março de 2011
nas diferentes escolas, em cooperação com a Direcção e professores das mesmas.
Através deste questionário pretendeu-se recolher informações sobre a visão dos
jovens em relação à democracia e a sua participação a nível local. Os resultados dos
questionários aplicados a todas as escolas secundárias do concelho foram analisados
para a construção de uma campanha de informação dirigida aos jovens.
2
Nomes omitidos para proteção dos envolvidos, apenas identificação de cargos para melhor
contextualização
33
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
O preenchimento do referido questionário teve uma duração média de 15 a 20
minutos de aplicação e foi de tratamento estatístico anónimo e confidencial.
Perfil dos respondentes
Legenda:
Feminino
Masculino
Legenda:
15 anos
16 anos
17 anos
18 anos
16 anos
34
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
3º Passo: Recolha e tratamento de dados estatísticos
A recolha de dados e tratamento estatístico dos questionários foram realizados pelo
grupo de alunas do 12º2 “Jovens na democracia”, com supervisão da coordenadora
do projeto/investigadora e de um especialista de informática da Escola Secundária
D. Sancho I (seleção aleatória das turmas para amostra no programa Excel).
4º Passo: Encontros de consulta a jovens e dirigentes associativos (grupos de foco)
O principal objetivo destes encontros de jovens e dirigentes associativos na área da
juventude foi o de analisar os dados dos questionários relativos aos índices de
participação activa dos jovens e perceções dos jovens sobre a vida política e
participativa e apontar algumas justificações para estes dados, assim como refletir
de forma conjunta para uma série de recomendações que poderiam colmatar as
lacunas existentes, resolver problemas ou apresentar novas ideias que
aproximassem de forma mais consistente os jovens de forma geral à vida associativa
e política enquanto exercício de cidadania.
O encontro de dia 6 de Maio foi dedicado a jovens “não organizados” (isto é,
estudantes não representantes de qualquer associação ou grupo de jovens) entre os
15 e os 19 anos do ensino secundário de Instituições de ensino do concelho (Escola
Secundária Camilo Castelo Branco, Escola Secundária D. Sancho I e Escola Secundária
Padre Benjamim Salgado) com a participação voluntária de 40 jovens. Este encontro
realizou-se no auditório da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco e contou com
o desenvolvimento de diversas dinâmicas de grupo e desafios que colocavam os
jovens numa postura de reflexão face aos resultados do questionário, sugerindo
propostas genéricas de intervenção para a sua resolução.
No dia 7 de Maio o encontro realizou-se na Casa das Artes de Vila Nova de
Famalicão, tendo como público jovens representantes de associações de estudantes,
jovens representantes de parlamentos de jovens a nível local e nacional, jovens de
grupos informais com interesse no tema e dirigentes associativos (associações
culturais, juvenis e juventudes partidárias) num total de 25 participantes. O
encontro teve como objetivo fazer um ponto de situação relativamente à perspetiva
35
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
dos diferentes participantes sobre a “participação ativa juvenil” e, tendo por base o
documento genérico de intervenção delineado no dia anterior, especificar medidas e
recomendações
na
área
da
juventude
para
os
problemas/necessidades
identificados. Neste encontro o grupo participante era muito heterogéneo, com
idades entre os 16 e os 36 anos, refletindo-se numa dinâmica muito rica de
intercâmbio de ideias e argumentos.
Dos encontros com jovens e dirigentes associativos, os participantes identificaram
de forma espontânea os diversos contextos de participação onde um jovem actua:
Família, Escola, Associações, Grupos de amigos, Media, Cidade, País, Europa.
Perante estes resultados e comparando com a literatura nesta área, podemos
compreender a lacuna da participação individual (“eu” enquanto contexto de
participação), que por exemplo é refletido através de escolhas pessoais
(vegetarianismo, boicote de compras em determinada superfície,..) e que atribui
poder e responsabilidade a cada um de nós enquanto cidadãos e nos compromete a
nível individual, mas facilmente é negligenciado.
Relativamente às condições para a participação de um jovem (sentido lato), foram
apontadas várias, entre as quais: Responsabilidade, Linguagem acessível e
“descomplicada”, Informar, Apoiar, Comunicação/marketing, Contacto intersocial
(diversidade),
Escuta
ativa,
Desenvolvimento
de
competências
(atitude
participativa), Oportunidades/espaços de participação.
Remetendo para um dos conceitos teóricos da Participação (Modelo RMSOS –
condições para a participação), podemos elencar as condições de participação em 5
dimensões/condições:
direito
de
participar,
meios
para
a
participação,
suporte/apoio à participação, oportunidade para a participação e espaços onde
participar. Comparando as respostas recolhidas com o modelo apresentado,
podemos inferir que os participantes tiveram uma perspetiva muito prática,
identificando Meios e Suporte/apoio à participação (informar, apoiar, linguagem,
escuta), e também Oportunidades e espaços de forma mais generalizada.
Quando o grupo foi questionado relativamente ao perfil de um jovem participativo,
várias
capacidades,
conhecimentos
e atitudes
36
foram
identificados
pelos
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
participantes, tais como: Ativo; Corajoso; Sensível; Exigente; Dinâmico; Orgulhoso;
Preocupado; Interessado; Confiante; Ambicioso; Com autoconhecimento; Com
vontade; acesso a Educação política; Motivação; Liderança; Delegação de tarefas;
Proativo; Otimista; Altruísta/com espírito de serviço; Sentido de comunidade e
Sentido de pertença.
Perante estas respostas, podem ser várias as interpretações, também estas
discutidas com o próprio grupo. Relativamente ao perfil pode dizer-se que é
bastante ambiciosa a conjugação de tantas características positivas na mesma
pessoa ou grupo de pessoas, pelo que pode ser um fator de inibição e
desculpabilização por parte dos jovens para não serem tão ativos (porque exige
numerosas caraterísticas cumulativamente) mas também como uma clara
consciência de que ser ativo está associado a muitas outras características positivas
que podemos ir desenvolvendo durante a vida através do envolvimento em
associações ou outros grupos.
5º Passo: Edição e apresentação dos resultados à comunidade
Após os encontros em Maio de 2011, seguiu-se um período de reflexão e edição das
diferentes conclusões, sendo revisto por todo o grupo de trabalho dos encontros
(jovens e dirigentes associativos), assim como pelos diferentes parceiros do projecto
até Setembro de 2011.
Em Setembro de 2011, estes resultados foram devolvidos de forma organizada e
trabalhada aos vários participantes dos questionários e dos encontros (grupos de
foco) para que fossem revistos e validados. Desta forma, foi possível apresentar à
Rede Associativa Juvenil de Vila Nova de Famalicão e ao Conselho Municipal da
Juventude, dois órgãos consultivos e de debate das questões da juventude, os
resultados deste trabalho. A apresentação foi também realizada perante a
comunidade local e a imprensa, por forma a disseminar os resultados e causar o
maior impacto possível desta investigação.
37
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
3.3.2 – Descrição do contexto
Este trabalho de investigação desenvolve-se no concelho de Vila Nova de Famalicão,
pelo que merece uma pequena incursão por este domínio geográfico. Vila Nova de
Famalicão é hoje uma terra frequentemente mencionada como um dos principais
centros culturais, comerciais e industriais do país. Situada estrategicamente entre as
cidades de Braga, Guimarães e Porto, Vila Nova de Famalicão é uma cidade de
referência no Baixo Minho e no Vale do Ave. Liderando um dos pólos de
desenvolvimento do Vale do Ave, a cuja Associação de Municípios pertence, o
concelho de Vila Nova de Famalicão, com cerca de 140.000 habitantes, é uma terra
de encantos e oportunidades (in www.vilanovadefamalicao.org a 30/05/2012).
Composto por 49 freguesias, o concelho de Vila Nova de Famalicão possui 9
estabelecimentos de ensino secundário, num total de 5009 alunos no ano letivo de
2010/2011 (ano em que decorreu o presente estudo).
Vila Nova de Famalicão possui um forte dinamismo associativo reforçado por uma
política que apoia a criação de novas associações através da atribuição de subsídios
específicos para a realização de atividades em domínios que a Câmara necessita de
parceiros. Em particular as associações juvenis e que trabalham na área da
juventude são muito ativas e intervêm em diferentes áreas (desportivas, culturais,
voluntariado, inclusão social) oferecendo um vasto leque diverso de oportunidades
aos jovens de Vila Nova de Famalicão.
Os jovens envolvidos diretamente na equipa de aplicação dos questionários são
jovens que voluntariamente se ofereceram para a concretização deste projeto e são
interessados pelo tema e pela promoção da discussão do tema entre os seus pares.
Este grupo composto por 4 raparigas entre os 17 e os 18 anos encontrava-se no 12º
ano e acompanhou todas as fases do projeto, contribuindo com ideias, divisão de
tarefas e a aplicação dos questionários nas turmas selecionadas. O seu empenho e
aproximação etária ao público-alvo tornaram-se essenciais para que a investigação
conseguisse identificar as questões de forma pertinente e pudesse assim inferir
resultados muito próximos da realidade dos jovens.
38
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Em todos os ciclos, o papel de investigadora consistiu na implementação, reflexão e
avaliação das estratégias educativas, relacionadas com os conceitos em estudo e com
as técnicas de recolha de dados. Serviu para apoiar os jovens na articulação das suas
necessidades e interesses e na reflexão sobre vários domínios dos hábitos de
participação ativa, preparando todos os instrumentos de trabalho, observando,
questionando, registando os comentários dos intervenientes ao longo da ação,
implementando estratégias e atividades e usando técnicas e materiais, previamente
estabelecidos pela equipa de trabalho. Na fase dos encontros de auscultação, a
investigadora actuou como facilitadora, ajudando os jovens a encontrar caminhos para
ultrapassar lacunas ao nível dos problemas identificados nos questionários, planificou
a avaliação e refletiu todas as atividades realizadas. Conduziu a sua investigação de
forma sistemática e rigorosa, recolhendo informações, fomentando a confiança e
partilhando saberes entre todos os intervenientes, discutiu, refletiu e avaliou com os
jovens e dirigentes associativos os resultados do estudo, ao nível das suas
aprendizagens, necessidades, interesses e dificuldades.
Segundo Yin (1989) a investigadora não é uma observadora passiva, porque ela própria
desempenha, no momento do estudo, vários papéis interventivos.
Para Bogdan & Biklen (1994) a investigadora assume vários papéis diferentes:
inquiridora; ouvinte; exploradora; negociadora; avaliadora; narradora; observadora e
animadora, pois cabe-lhe a seleção das perguntas e dos instrumentos de trabalho e a
tomada de decisões.
3.4 – Recolha de dados
A recolha de dados tem como principal finalidade registar o que aconteceu nas
diferentes fases do projeto, de forma que fosse possível refletir e avaliar contínua e
sistematicamente.
Foram identificadas formas de recolha de dados, durante o planeamento e
implementação da mudança curricular e formas de avaliação das atitudes e
comportamentos, relativamente à mudança, depois de colocadas em prática, ao longo
das diferentes fases. As informações recolhidas, a partir da utilização dos diversos
instrumentos, foram registadas o mais fielmente possível, com a preocupação de
39
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
descrever, analisar e interpretar todos os dados recolhidos. Assim, foram utilizados
comentários dos jovens e dirigentes associativos, foram recolhidas e analisadas as
opiniões e as notas de campo da observadora, no sentido de se perceber e concluir
que estas foram eficazes ao estudo e que existirão alterações a introduzir, em futuras
práticas e investigações.
De referir que os primeiros dados recolhidos através de recolha de opiniões com
diferentes jovens foram bastante úteis e pertinentes à realização das perguntas do
questionário.
A câmara fotográfica e de filmar foram usadas nos encontros de auscultação,
facilitando a observação e análise dos processos pedagógicos e permitindo à
investigadora uma visão mais global e correta, no momento da apresentação dos
resultados.
Os métodos e técnicas usados para a recolha dos dados foram os mencionados:
(1) Notas de campo;
(2) Observações participantes;
(3) Programação de encontros de auscultação;
(4) Conversas informais com jovens e especialistas em temas de participação ativa,
política e social;
(5) Vídeo e fotografia;
(6) Questionários.
3.4.1 – Instrumentos e técnicas de recolha de dados:
Como instrumentos de trabalho foram utilizados nas diferentes fases de investigação,
as notas de campo, as observações participantes, os registos audiovisuais, os registos
visuais e escritos, a entrevista e os questionários, de modo a satisfazer os objetivos
deste estudo e encontrar respostas ao problema e às questões da tese. Segundo Graue
& Walsh (2003: 94), os dados recolhidos “provêm das interacções do investigador num
contexto local, através das relações com os participantes e de interpretações do que é
importante para as questões de interesse”.
O uso de múltiplos métodos de recolha de dados contribui para desviar certas
incertezas ou evitar subjetividades, pelo que foram recolhidos vários dados ao longo
das diferentes fases da investigação-ação e usadas técnicas diversificadas, como:
40
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
(1) Notas de campo
As notas de campo e as observações participantes permitiram sistematicamente
descrever, apresentar as ideias e fazer reajustamentos e mudanças, reflexões e
avaliações de todo o processo pedagógico e dos resultados.
Segundo Bogdan & Biklen (1994) as notas de campo correspondem ao “relato escrito
daquilo que o investigador ouve, vê, experiência e pensa no decurso da recolha e
reflete sobre os dados de um estudo qualitativo”, pretendem melhorar a qualidade da
escrita e a destreza manual, face a uma série de registos realizados de forma contínua
e sistemática, saídos diretamente das suas cabeças e representando um estilo
particular, sempre refletido e muito ponderado (p.150).
A investigadora/observadora, durante cada encontro, registou e descreveu toda a
ação, tirou notas de campo e registou algumas impressões in loco, que a levou a
refletir e avaliar as falhas e os sucessos dos intervenientes, face a tudo que lhes fora
proposto (Cohen & Manion, 1990: p. 171). Tudo o que foi considerado importante foi
registado e analisado para ajudar a recordar e a entender o contexto, compreender os
comportamentos e as ações dos jovens. As vantagens de utilização deste instrumento
foram várias, pois permitiu durante a análise relembrar factos e acontecimentos de
forma a que outras pessoas experimentassem, indirectamente, o que aconteceu nesta
investigação, uma vez que continham comentários dos jovens e textos mais
descritivos, tão úteis à reflexão e avaliação das intervenções, ao desenvolvimento
profissional e pessoal da investigadora.
(2) Observações participantes
Nesta investigação, a observação participante esteve sempre presente nas diferentes
fases da investigação-ação e foi levada a cabo pela investigadora e observadora.
Segundo Graue & Walsh (2003), a observação participante “fornece-nos uma descrição
mais completa da parte do mundo social que está a ser investigada” (pp. 127 e 128).
Na perspetiva de Serrano (1994), a observação participante tem lugar quando um
observador participa na vida do grupo, conversa com os seus membros, estabelece
contactos próximos com eles e tenta assegurar que a sua presença não perturbe ou
interfira no percurso natural dos acontecimentos.
41
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Segundo Cohen & Manion (1994), a observação participante leva a investigadora a
participar ativamente na investigação e a integrar-se na amostra. Referem, como
vantagens, que:
(1) A observação participante é mais eficaz do que as experiências e pesquisas quando
se pretende recolher comportamentos e ações não verbais;
(2) Na observação, os investigadores são capazes de discernir comportamentos
diferentes dos habituais e tomar notas apropriadas, acerca das características mais
salientes;
(3) Os estudos realizados através da observação estendem-se por um longo período de
tempo, permitindo aos investigadores desenvolverem uma relação mais afetiva e
informal com a amostra que estão a observar, geralmente em ambientes mais naturais
do que os que são utilizados em pesquisa e experiências;
(4) Os estudos realizados através da observação são menos reativos, do que os outros
métodos de recolha de informação. Por exemplo, em experiências de laboratório e em
pesquisas que dependem de respostas verbais para perguntas estruturadas, pode
haver um desequilíbrio sobre os dados que os investigadores pretendem investigar.
No entanto, salientam algumas desvantagens, tais como a subjectividade:
(1) Os valores imergidos da observação participante são, várias vezes, descritos como
subjetivos, influenciáveis, impressionistas e com falta de avaliação científica.
Nesta investigação, a observação participante como utensílio de recolha de dados e
enquanto processo de tomada de decisão, teve lugar nos vários espaços onde a
investigação decorreu, principalmente no encontro de auscultação com jovens e
dirigentes associativos. Foi completada in situ ou após a ação, a partir das notas
escritas da investigadora e observadora.
(2) Registos audiovisuais, visuais e escritos
Os registos visuais e escritos dos jovens e dirigentes associativos, realizados em
momentos diferentes da investigação-ação, constituíram um valioso dado de
interpretação e análise, sobre o que se pretendia investigar, verificar e concluir. Os
registos audiovisuais, gravações em vídeo e fotográficos, serviram para registar
42
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
visualmente a dinâmica de todo o percurso da intervenção, gestos e atitudes dos
participantes.
No contexto deste estudo foram usados registos audiovisuais, fundamentais ao auxílio
da memória e confirmação de todos os outros registos escritos, que captaram aspetos
visuais das ações.
O uso da máquina fotográfica digital e da câmara de vídeo permitiu, como defendem
Bogdan & Biklen (1994, p. 143), que se conseguissem excelentes registos das ações,
gestos, comentários e expressões dos jovens e que a investigadora, segundo Pérez
(1998, pp. 51-52), obtivesse uma grande quantidade de informação, sobre a realidade
circundante, como suporte à memória e reflexão de todos os pormenores, que de
outra forma, teriam sido facilmente esquecidos.
É de referir que houve uma habituação rápida aos dois instrumentos de recolha de
dados, embora a investigadora tenha consciência que este método de recolha de
informação pode ser muito perturbador e constituir um elemento de distracção.
Bogdan & Biklen (1994) referem que a máquina fotográfica, um instrumento familiar
aos jovens, não gera tantas reacções estranhas em nenhum dos intervenientes, apesar
de ter sido usada de duas maneiras, como suporte dos registos visuais dos
participantes e análise dos mesmos. E mencionam que é, “um meio de lembrar e
estudar detalhes que poderiam ser descurados se uma imagem fotográfica não
estivesse disponível para os refletir” (p. 189).
Collier refere que “a câmara é um excelente meio de estabelecer relação”, entre a
investigadora e os intervenientes (In Bogdan e Biklen, 1994: p. 189).
As gravações em vídeo foram realizadas em formato digital e gravadas num disco
externo, por um técnico de informática para suporte digital, facilmente manuseadas,
visualizadas num computador e analisadas.
As fotografias digitais foram armazenadas em ficheiros num computador portátil,
permitindo um rápido e eficaz acesso, sem custos e desperdícios de tempo e
permitindo o armazenamento de um grande número de fotografias, face à utilização
de um cartão de 512Mb.
A transcrição à mão do som dos registos audiovisuais foi realizada de forma parcial e
não total, uma vez que se pretendia registar apenas os comentários dos jovens mais
pertinentes e relacionadas com o estudo. As duas câmaras, associadas aos outros
43
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
instrumentos, permitiram obter imagens necessárias e oportunas à análise dos dados e
a futuras investigações e complementaram as notas de campo, as observações
participantes e todos os outros dados recolhidos.
Neste estudo, todas estas produções foram efetuadas no interior da sala do encontro
de auscultação (Biblioteca Municipal e Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão).
Os registos visuais e escritos realizados pelos participantes foram complementares ao
estudo e descritos nesta investigação em momentos diferentes, por constituírem um
valioso dado de análise/ interpretação e avaliação.
(4) Questionários
A técnica do questionário foi essencial à recolha de dados, junto dos jovens de ensino
secundário de Vila Nova de Famalicão, permitindo à investigadora refletir e avaliar os
hábitos de participação ativa dos jovens na vida social, associativa e política, chegar a
conclusões mais pertinentes, modificar futuras práticas e propor novas investigações.
O questionário, segundo Bell (1997), corresponde a uma técnica que consegue
recolher boa informação se o inquérito formulado for bom, se fornecer informação
necessária ao investigador, se for aceite pelos sujeitos em estudo e se não levantar
novas questões ou problemas, no momento da sua análise e interpretação (p. 99).
Oppenheim refere que é difícil planificar um bom inquérito, e que mesmo as pessoas
com uma linguagem simples e abundante e com um senso insólito, têm dificuldades
em formular um questionário, já que estes fatores não são suficientes à sua conceção.
Este investigador defende que é preciso “atentar na seleção do tipo de questões, na
sua formulação, apresentação, ensaio, distribuição e devolução dos questionários”.
(Bell, 1997: pp. 99)
Por outro lado, Bell (1997) refere vantagens deste instrumento, afirmando que
constituem uma forma rápida e relativamente barata de recolher informação, se
pensarmos que os inquiridos responderem em concordância com os objetivos da
investigação. Neste sentido refere-se que nesta investigação a técnica do questionário
foi utilizada como um importante instrumento de pesquisa e uma ferramenta crucial,
ao nível da recolha de dados. Esta técnica envolveu várias semanas de planeamento,
leitura, trabalho de investigação, preparação e validação, questionário-piloto validado
por três profissionais de áreas distintas: um especialista em Marketing Político, um
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
dirigente político concelhio do Partido Social Democrata e um deputado da Assembleia
Municipal do Partido Comunista Português, antes de a investigadora os aplicar aos
sujeitos em estudo. Neste caso, menciona-se que os questionários usados foram
delineados a partir dos principais assuntos operacionais que foram investigados, dos
erros e lacunas identificados e do desenho desta investigação, uma vez que nenhum
questionário pode ser implementado se o investigador não tiver uma completa
especificação das variáveis que pretende avaliar/medir e dos instrumentos que tem de
construir (Bell: pp. 100-116). A investigadora monitorizou a aplicação de todos os
questionários nas 7 escolas secundárias do concelho, com características semelhantes
ao que constituíram a população em estudo, a fim de corrigir e evitar possíveis falhas
durante a realização dos questionários. Preparou cuidadosamente o respectivo guião e
carta de apresentação à Direção das Escolas Secundárias, para obter um questionário
bem concebido e com boa apresentação e poupar dias de trabalho e tempo, durante a
análise e interpretação dos dados
3.5 – Análise de dados
Para Bogdan & Biklen (1994) a objetividade que se deve manter na análise de dados,
relaciona-se com a integridade e com a honestidade do investigador, no momento da
descrição dos dados recolhidos (p. 295). E para a investigadora e jornalista Jessica
Mitford, a objetividade conduz à anulação do ponto de vista pessoal, pois defende
que, “o rigor é essencial, não só para a integridade do trabalho, mas também para
evitar processos por difamação, (…), e quaisquer modificações naquilo que é dito (…).”
(Bogdan e Biklen, 1994: p. 296)
A análise de dados deve ser feita ao longo do estudo e não apenas após a recolha de
todos os dados, (Le Compte e Preissle, cit. por Pérez, 1998: p. 189). Assim, refere-se
que a análise desta investigação-ação incidiu no exame e comparação dos dados
recolhidos, nas fontes atrás mencionadas e na transcrição das informações obtidas,
nas entrevistas e questionários, a partir dos textos escritos e das suas audições
gravadas, e nas notas de campo da investigadora e observadora.
As respostas dadas pelos participantes foram todas codificadas e comparadas,
ajudando a investigadora a seleccionar a informação mais relevante e a tomar decisões
45
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
sobre os passos seguintes que consistiram na selecção de temas ou categorias de
análise.
A análise de dados serviu para verificar se os principais objetivos deste estudo foram
desenvolvidos e se foram obtidas respostas adequadas às questões chave, após a
investigadora ter formulado as questões, a partir do problema inicial, revisto a revisão
da literatura e o plano geral, feito novas leituras e investigações, sempre relacionadas
com o tema a nível nacional e internacional e a partir de fontes primárias e
secundárias (livros, artigos e internet), lido e relido as suas notas de campo já
transcritas para um processador de texto, e visualizado as gravações em vídeo,
analisado as várias respostas dadas pelos participantes e apresentado as informações
mais relevantes ao estudo.
De acordo com Bogdan & Biklen (1994), nesta investigação foi realizado um trabalho
mecânico dos dados recolhidos e tornado “manejável algo de potencialmente
complexo”, permitindo à investigadora a realização de leituras mais organizadas e
eficazes e direcionando múltiplos esforços, após vários trabalhos de campo (p. 232).
3.6 – Considerações éticas
Começa-se por dizer que a ética está relacionada com a honestidade e a
confidencialidade, com “a atitude que cada um leva para o campo de investigação e
para a sua interpretação pessoal dos factos” (Graue & Walsh, 2003: p. 76).
Neste estudo foram contempladas algumas questões éticas, relacionadas com a
comunicação, o acordo mútuo, a confidencialidade, a fidelidade, a autorização, o
respeito, o acordo e a informação dos resultados obtidos, às pessoas envolvidas no
estudo, e realizados os agradecimentos a todas as pessoas envolvidas direta e
indiretamente.
Todos os dados foram recolhidos no contexto real a observar, após a obtenção de
todas as autorizações solicitadas, pois como refere Lee (2003) “o estudo das pessoas
sem a sua permissão viola alguns importantes princípios éticos” (p. 92). Este autor
argumenta que todas as pessoas devem ter conhecimento, autorizando ou não a sua
participação em qualquer investigação, sob a pena de ser violado o princípio de
autonomia e de privacidade. Assim, antes de iniciar a recolha dos dados, a
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
investigadora tentou tomar todas as precauções éticas necessárias à privacidade,
como:
(i) Pedir permissão por escrito, à Direção das Escolas Secundárias envolvidas para
a realização do estudo;
(ii) Pedir permissão a todos os intervenientes dos encontros de auscultação para o
registo vídeo e fotográfico do dia, com utilização de imagens e sons para
fins unicamente de investigação e de forma anónima;
Foram esclarecidos todos os intervenientes, com lealdade e objectividade, do que era
pretendido, passando estes a confiar na investigadora e a tornarem-se mais
espontâneos nas suas atitudes, e da publicação na tese das fotografias selecionadas;
(iii) Respeitar a questão do anonimato, não identificando os participantes pelo seu
nome e omitindo a sua identidade;
(iv) Tratar todos os dados recolhidos durante a investigação com cuidado e rigor.
47
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Capítulo IV – Descrição dos dados recolhidos
4.1 - Análise e interpretação dos dados (questionário e focus groups)
Os resultados abaixo apresentados referem-se ao tratamento de dados estatísticos
dos questionários, seguidos das principais ideias e recomendações pelo grupo
participante:
1- Perante a pergunta “Participas em algum grupo? E em qual(is)?”, apenas 30%
dos inquiridos respondeu “Sim”. Considerando o universo de 30% que
respondeu afirmativamente:
Legenda:
Grupos desportivos
Grupos religiosos
Grupos políticos
Outros
48
Grupos estudantis
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Considerando os que responderam negativamente (70% dos inquiridos):
Legenda:
Falta de tempo
Desinteresse
Outros
Não respondem
Legenda:
Extinção do grupo
Desinteresse
Falta de tempo
Outros
Não respondem/não
participam
49
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
2 – Perante a pergunta “Votaste para a Associação de estudantes da tua escola?”,
as respostas foram:
Legenda:
Sim
Não
Legenda:
Incumprimento das
promessas eleitorais
Falta de confiança nos
candidatos
Outros
(Inexistência de AE)
(Desinteresse pela
eleição em si)
50
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Legenda:
Plano de atividades
Campanha
Outros
Não responderam
Elementos
constituintes
Ideias/recomendações apontadas pelo grupo no processo de consulta (grupos de
foco):
- A falta de informação é causada por uma certa inércia e comodismo individual
(reflexo do próprio meio) e pela falta de acesso à mesma através da diversidade de
espaços de informação.
- Soluções passariam por campanhas de informação e sensibilização direcionadas
para as faixas etárias a nível do 1º a 3º ciclos do ensino básico e ensino secundário
(atuação ao nível mais precoce possível para prevenir a “iliteracia política” atual);
- Existência de apoios da Junta de freguesia e Câmaras municipais para criação de
espaços culturais, educativos e recreativos para promover o acesso à informação e
estimular o espírito crítico, seria essencial para a criação de espaços de informação e
ocupação educativa;
- O desenvolvimento de vias de comunicação e acesso (especialmente para zonas
isoladas e rurais) poderia ajudar a aproximação de jovens que sofrem de maior
isolamento geográfico e têm menos oportunidades de participação e conhecimento/
envolvimento em diferentes actividades.
51
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
- Outra sugestão seria a atribuição da responsabilidade à rede associativa na criação
de uma compilação de informação das associações por áreas de interesse e
localização geográfica (para posterior divulgação aos jovens) – esta divulgação de
informação seria realizada online mas também em visitas às escolas para a
promoção das associações famalicenses (com sugestão da realização de uma
semana associativa em casa escola do concelho, atribuindo um dia por cada área de
intervenção);
- A implementação da disciplina de Formação Cívica no percurso escolar obrigatório
com objetivos concretos e adequados (englobando áreas de conhecimento de
cultura geral e análise da situação económica, política e social atual) é uma das
medidas mais vincadas pelos jovens e dirigentes associativos neste encontro.
3-Perante o conjunto de questões relativas ao conhecimento e identificação de
autoridades locais, regionais e nacionais, é possível visualizar os diferentes níveis de
conhecimento dos jovens:
Legenda:
Responde de forma correta
Responde de forma incorreta
52
Não responde
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Legenda:
Responde de forma correta
Responde de forma incorreta
Não responde
Responde de forma incorreta
Não responde
Legenda:
Responde de forma correta
53
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Legenda:
Responde de forma correta
Responde de forma incorreta
Não responde
Responde de forma incorreta
Não responde
Legenda:
Responde de forma correta
54
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Legenda:
Responde de forma correta
Responde de forma incorreta
Não responde
Responde de forma incorreta
Não responde
Legenda:
Responde de forma correta
55
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Legenda:
Responde de forma correta
Responde de forma incorreta
Não responde
Responde de forma incorreta
Não responde
Legenda:
Responde de forma correta
Ideias/recomendações apontadas pelo grupo no processo de consulta (grupos de
foco):
- Organização de Olimpíadas de conhecimento geral nas escolas de 2º e 3º ciclos do
Ensino básico e ensino secundário, à semelhança de outras Olimpíadas de caráter
56
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
mais específico como a Matemática ou o Português. Os departamentos de Ciências
Sociais e Humanas de cada escola em articulação com os Pelouros da Juventude e
Educação seriam responsáveis pela iniciativa estimulando a participação de equipas
verticais, com proposta de eliminatórias intraescola e posteriormente interescolas.
Estas Olimpíadas abordariam temas como a cidadania, ambiente, política,
democracia, história, cultura, geografia, entre outros;
- Integração na componente letiva de Formação Cívica um conjunto de conteúdos e
manuais de estimulação para a reflexão crítica e debate de questões da actualidade.
4- Perante o pedido de correspondência entre diferentes afirmações e orientações
político-partidárias, temos que:
Políticas de esquerda (afirmações no questionário)
- O estado está muito presente nas nossas vidas
- O casamento pode realizar-se entre pessoas do mesmo sexo
- Distribuição igual para todos
- O indivíduo não escolhe que tipo de educação, saúde ou segurança social quer para
si, mas elas são asseguradas, de forma igual, pelo estado
- Principal preocupação na distribuição da riqueza
- Estado está presente em todas as actividades
57
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
- Rendimento igual para trabalho igual
Políticas de direita (afirmações no questionário)
- O estado está pouco presente nas nossas vidas
- O casamento deve ser só realizado entre pessoas de sexos opostos
- Distribuição de acordo com o mérito de cada um
- Cada indivíduo escolhe que tipo de educação, saúde e segurança social quer para
si, mas tem de pagar pela diferenciação em relação à base que o estado proporciona
- Principal preocupação na criação de riqueza
- O Estado está presente nas funções de soberania e regula a actividade privada
- Igualdade de oportunidades (e não de rendimentos) para todos
Legenda:
Mal informado
Pouco informado
(Até 3 respostas corretas)
(de 4 a 7 respostas corretas)
Informado
Bem informado
(de 8 a 11 respostas corretas)
(de 11 a 14 respostas corretas)
Ideias/recomendações apontadas pelo grupo no processo de consulta (grupos de
foco):
- Como razões para o baixo nível de conhecimento dos jovens relativamente ao
enquadramento partidário de cada afirmação, os jovens apontam: tipo de linguagem
por parte dos políticos; desinteresse pelo tema; abordagem pela comunicação
social; falta de informação e descredibilização da classe política;
- Uma das soluções mais focadas foi a necessidade de “descomplicar” a linguagem
política, tornando-a mais simples e pragmática (acessível para todos);
- Os participantes defenderam que deverá ser uma responsabilidade dos próprios
políticos o esclarecimento de certos conceitos técnicos (ligados à vida financeira e
económica) que são desconhecidos pela população em geral;
58
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
- Mais uma vez a referência a áreas integradas no percurso escolar como a
Formação Cívica ou Área projeto para a estimulação da reflexão, fornecendo
informação aos jovens sobre dúvidas e situações atuais;
- Os participantes salientaram que é importante para o próprio processo
participativo o reconhecimento do empenho dos jovens que de forma ativa
contribuem para o bem-estar da comunidade escolar (através de associações de
estudantes/académicas).
De forma mais específica, propõe o grupo:
1ª- Inclusão de Educação para a Cidadania na disciplina que será criada no âmbito da
moção já aprovada na Assembleia da República (que prevê o término da Área
Projeto). Nessa disciplina deverá constar educação para a política:
- Diferenças entre políticas de esquerda e direita;
- Esclarecimento de conceitos políticos;
- As funções e hierarquias da política local e nacional;
- Outros tópicos de interesse
2ª- Organização de um evento de esclarecimento político nas escolas do concelho,
com presença das várias personalidades ligadas às juventudes partidárias do
concelho (assegurando o pluralismo de opiniões com a indicação aos palestrantes de
um discurso mais educativo e menos retórico);
3ª- Utilizar os instrumentos outdoor da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão
com: esclarecimento de conceitos políticos (exemplo: O que é um Orçamento de
Estado?); mensagens de consciencialização para a participação cívica ativa (através
do Portal da Juventude da Câmara Municipal);
4ª- Utilização do site do Portal da Juventude e/ou outros do Município como
instrumento de esclarecimento político, através de:
- janelas de pop-up;
- publicidades laterais;
- conteúdo do próprio site.
1- Perante a questão da intenção do voto e as diferenças de voto branco, nulo e
abstenção, resultou que:
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Legenda:
Não respondem
Sim
Não
Sim, mas não sei a diferença
Legenda:
Não respondem
Sim
Não
Sim, mas não sei a diferença
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Legenda:
Não respondem
Sim
Não
Não sei
Legenda:
Muito interesse
Algum interesse
Nenhum interesse
Não responde
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Pouco interesse
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Ideias/recomendações apontadas pelo grupo no processo de consulta (grupos de
foco):
- A realização de mais iniciativas empreendedoras e de informação aos jovens em
contexto de escola sobre a importância do voto;
- Valorização da voz do cidadão através da garantia de espaços de participação não
manipulados e com legitimação das tomadas de decisão aí concertadas;
- Fomentar o espírito crítico dos jovens, através da criação de momentos de reflexão
intra e interescolas, assim como entre associações que visem o debate transparente
e apartidário;
- Promover a importância da democracia através de campanhas apelativas aos
jovens sobre o valor do voto, utilizando redes sociais, outdoors e campanhas em
espaço públicos relevantes.
- Desenvolvimento de formação na área do empreendedorismo com especialistas,
promovida nas escolas e pela própria Câmara;
- Utilização da metodologia de educação não formal em iniciativas camarárias, em
encontros da rede associativa e em tertúlias escolares;
- Criação de Parlamentos Jovens nas Freguesia e de um Parlamento Concelhio de
Jovens. Estes Parlamentos seriam abertos à participação de todos os jovens e
realizar-se-iam de 3 em 3 meses para discutir ideias e iniciativas para o Concelho.
2- Perante a questão aberta sobre o que uma Casa da Juventude deve ter, as
respostas mais frequentes foram: atividades de ocupação de tempos livres e de
utilidade social, informação sobre assuntos de interesse para jovens (emprego,
formação, bolsas de estudo), promoção de workshops e atividades artísticas
diversas.
3- Perante a questão aberta sobre “Problemas/questões que encontres à tua volta
(que estão directamente relacionados contigo) e que gostavas de ver
resolvidas”, os jovens apontam problemas locais e problemas nacionais, assim
como problemas diretos e indiretos face à juventude, tais como: excesso de carga
horária dos alunos, possível encerramento de cooperativas de educação por falta
de apoios, falta de controlo na atribuição de escalões sociais, falta de tempo e
62
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
dinheiro para atividades fora da escola, poucas condições para a prática
desportiva, falta de qualidade nas estradas secundárias. Problemas mais globais
como aumento do IVA, desemprego, estado da economia, falta de acessos para
deficientes, toxicodependência e abuso de substâncias e criminalidade e
corrupção, também foram mencionados pelos jovens inquiridos.
Ideias/recomendações apontadas pelo grupo no processo de consulta (grupos de
foco):
- Apostar na formação de modo a participar de forma consciente e informada acerca
da realidade;
- A Casa da Juventude deve manter e reforçar serviços como a Orientação
vocacional, apoio à saúde juvenil, apoio ao emprego e empreendedorismo e apoio
ao voluntariado, assim como manter um centro de documentação actualizado, em
formato livro e digital.
- A Casa da Juventude deve apostar/investir para se posicionar como um Espaço de
Experimentação de Educação não formal (articulação com associações, escolas para
experimentação/workshops de diferentes áreas e tertúlias/debates em temas de
cultura geral); deve prestar apoio técnico à concretização de ideias/projectos dos
jovens não organizados em associações; na área da Informação/apoio, deverá
investir na informação sobre mobilidade nacional e internacional dos jovens
(intercâmbios, campos de trabalho, encontros e oportunidades de participação) e na
prestação de informação sobre associações famalicenses.
Outras medidas políticas na área da Juventude (não enquadráveis nos campos
acima):
- Construção do plano de actividades e orçamento do Pelouro da Juventude em
cooperação com o Conselho Municipal de Juventude e a Rede Associativa;
- Atribuição de 50% do orçamento decorrente da construção do plano de atividades
a projetos para serem executados pelas associações (negociação em CMJ e Rede
Associativa e fiscalização pela Câmara).
- A longo prazo criar um programa educativo de estímulo à participação activa
durante o 1º ciclo e através de metodologias de Educação Não Formal;
63
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
- Implementar uma melhoria na rede de transportes que permita aos jovens das
freguesias mais isoladas a utilização de equipamentos localizados no centro urbano;
- Adaptação de horários de equipamentos para jovens (como a Casa da Juventude) a
horários mais compatíveis com a época escolar).
4.2 – Processos de consulta (grupos de foco)
Os encontros de dia 6 e 7 de Maio tinham por objetivos:
− Promover a reflexão acerca dos níveis de participação dos jovens no concelho;
− Facilitar o debate acerca de quais são as condições para a participação e que
tipo de perfil exploramos em cada pessoa enquanto cidadão activo;
− Elaborar recomendações para o município pôr em prática no sentido de uma
maior adesão dos jovens ao nível da participação cívica e política.
A programação destes encontros foi da responsabilidade da investigadora, tendo
solicitado auxílio a 2 formadores da Bolsa de Formadores do Conselho Nacional da
Juventude. Tendo por base a educação não formal como facilitador de troca de
experiências, como potenciador da participação e gerador de reflexões de
aprendizagem, esta metodologia foi utilizada para criar um maior dinamismo entre
os participantes e conseguir resultados mais efetivos. O dia 6 de Maio foi dedicado a
jovens de ensino secundário “não organizados” em qualquer associação e
pertencentes a 3 escolas secundárias distintas. O dia 7 de Maio foi programado para
um conjunto mais heterogéneo, formado por jovens sem qualquer associação, mas
também jovens ativos em espaços como o Parlamento de Jovens Nacional e
Europeu, dirigentes associativos e dirigentes de juventudes partidárias, abrindo o
leque de oportunidades e riqueza na diversidade do grupo (programação poderá ser
encontrada nos anexos).
Parecer dos jovens relativamente a serviços/políticas atuais na área da Juventude
(jovens, associações, escolas, Pelouro da Juventude):
1- Disponibilidade de oferta formativa
2- Acesso a oferta formativa
3- Emprego – busca proativa
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
4- Emprego – oferta proativa
5- Empreendedorismo – apoios
6- Saúde – oferta
7- Associativismo
8- Apoios a associações
9- Formação de dirigentes associativos
10- Importância do reconhecimento da Educação Não formal
11- Aposta nos grupos informais de jovens
12- Voluntariado jovem
1- Disponibilidade de oferta formativa
Avaliação negativa:
- Famalicão possui nas escolas muitos cursos profissionais, mas podiam ser mais
ajudados a nível material;
- Bastante oferta mas em áreas repetidas e às vezes desajustada à zona de Famalicão;
- Devia haver mais disponibilidade formativa;
- Má distribuição dos cursos de ensino secundário (culpa da falta de liberdade a nível
nacional);
- Investimento excessivo em áreas de formação musical ou artes performativas;
- Áreas específicas como agricultura não têm oferta formativa.
Avaliação razoável:
- Existe, mas ainda falta mais oferta de formação ao longo da vida;
- Pouco esclarecimento e desconhecimento de saídas profissionais.
Avaliação positiva:
- Penso que existe oferta formativa em áreas diferentes, o que é positivo;
- Há muitas empresas privadas mas ainda peca por escassez em áreas mais técnicas.
2- Acesso a oferta formativa:
Avaliação negativa:
- Baixo conhecimento e necessidade desenvolver espírito de iniciativa;
65
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
- Falta de liberdade de escolha da escola (problema nacional);
- Devido a fatores como o aspeto financeiro, essa oferta por vezes não é acessível
(como por exemplo na área da música e artes performativas);
- Falta divulgação e adequação da oferta à necessidade;
- Falta de tempo por parte dos profissionais responsáveis pelo Serviço de Orientação
Vocacional nas escolas;
- Desconhecimento de serviços públicos na Casa da Juventude de apoio à orientação
vocacional.
Avaliação razoável:
- Devia estar mais disseminada, apostar na publicidade;
Avaliação positiva:
- O acesso encontra-se bastante facilitado a todos;
- Jovens referem que jornais locais e internet têm bastante informação a este nível.
3- Emprego – busca proativa
Avaliação negativa:
- Começam a haver algumas medidas para promover o empreendedorismo mas ainda
há muito trabalho a fazer;
- Baixos incentivos (à procura fora do concelho);
- Há muita gente que se continua a aproveitar dos subsídios de desemprego;
- Falta de informação sobre ofertas de emprego no concelho;
- As pessoas ainda “ficam à espera”;
-
Devia
existir
formação
nas
escolas
para
trabalhar
competências
de
empreendedorismo.
Avaliação razoável:
- A taxa de desemprego em Famalicão diminuiu;
- Entre os jovens que ainda frequentam o ensino secundário ainda existe um
sentimento de esperança e de desafio perante os obstáculos económicos.
66
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
4- Emprego – oferta proativa
Avaliação razoável:
- Existem portais de apoio? Como ocorre a procura?
- Falta publicitação de oportunidades (exemplo: website municipal)
5- Empreendedorismo – apoios
Avaliação razoável:
- Nota-se uma preocupação crescente (embora existam limitações financeiras);
- Existe a Associação de Empreendedores de Famalicão, mas faltam programas de
apoio como a isenção de impostos na criação de empresas;
- Começam a surgir alguns apoios ao empreendedorismo, no entanto há muito ainda
a fazer;
- Pouco conhecimento por parte dos jovens de ensino secundário sobre associações
que promovem e apoiam o empreendedorismo;
- Área projecto é uma boa oportunidade para desenvolver competências de gestão e
de iniciativa (com a anulação desta disciplina é um ponto negativo);
Avaliação positiva:
- O concurso de ideias empreendedoras é uma boa iniciativa;
- FINICIA é o próprio contacto com entidades públicas e facilita o empreendedorismo.
Há muita cooperação e os apoios surgem. Bom hábito a cuidar;
- Vila Nova de Famalicão através da Associação de Empreendedores deu um grande
passo para o apoio ao empreendedorismo.
- O facto de frequentar um curso profissional foi manifestado pelos jovens estudantes
como uma forma prática para compreender a realização de projectos.
6- Saúde – oferta
Avaliação negativa:
- Faltam soluções a nível público no que diz respeito à saúde mental;
67
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
- O serviço público de saúde é insuficiente.
Avaliação razoável:
- Boa oferta, mas falta integrar informação sobre terapias complementares;
- Devíamos captar um hospital privado além do da Trofa (que é apenas diurno);
- Existe bastante oferta na saúde, tanto no privado como no público.
7- Associativismo
Avaliação negativa:
- Falta de crédito na sociedade/comunidade;
Avaliação razoável:
- Poucas associações juvenis;
- Associações com potencial e jovens interessados mas com dificuldades em mobilizar
outros participantes;
- Em crescimento e já criada a Rede Associativa;
- Estruturas como o Conselho Municipal da Juventude e a Rede associativa são um
potencial de trabalho e cooperação;
- Grande variedade de associações que abrangem várias áreas.
- Segundo os jovens estudantes, as associações devem ser mais apoiadas e
reconhecidas (mas tem de acrescentar uma mais valia à comunidade)
8- Apoios a associações
Avaliação negativa:
- Maior atribuição de fundos às associações juvenis;
- Falta um programa/estratégias de apoio às associações;
Avaliação razoável:
- Deviam ser maiores os apoios, indo de encontro às suas necessidades (apoios não só
financeiros);
- A Casa da Juventude para apoio às associações;
68
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
- A Câmara apoia as associações através da Rede associativa;
- Preocupação do Pelouro da Juventude nas necessidades das associações;
- A evoluir devido à rede associativa, mas ainda assim as associações só.
Avaliação positiva:
- Apoios existentes, mas falta de conhecimento da realidade e dos projetos das
associações para os distribuir adequadamente;
- Aumento do número de associações;
- Jovens estudantes são da opinião que associações da sociedade civil são
importantes para o desenvolvimento da comunidade.
9- Formação de dirigentes associativos
Avaliação negativa:
- Deveria haver uma rede de apoio às associações;
- Maior disponibilidade dos dirigentes;
- Está a dar os primeiros passos;
- Pouca formação disponível para líderes associativos;
Avaliação razoável:
- Temos associações no concelho que se preocupam e dão soluções a este nível;
- Estão a dar-se os primeiros passos mas formação propriamente dita, ainda não
sobressai;
- Formação em curso por parte da AEF e YUPI;
- De louvar as formações que aconteceram nos dois últimos anos. Podiam ser
promovidas formações pelas próprias associações de partilha de conhecimentos
10- Importância do reconhecimento da Educação Não formal
Avaliação negativa:
- Não existe reconhecimento das aprendizagens não formais;
- Poucas iniciativas no âmbito da Educação não formal;
69
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
- Inserida em Famalicão através da YUPI, tem ganho cada vez mais importância. Deve
ser estimulada e dotar os dirigentes associativos com estas ferramentas (possível
formação);
- Ainda não se acredita no sucesso deste método.
Avaliação razoável:
- Ainda há um longo caminho a ser percorrido para a educação não formal ser
reconhecida pela população (país, por exemplo).
Avaliação positiva:
- Jovens estudantes reconhecem que a informalidade e não universalidade deste tipo
de educação facilita o partilhar de experiências;
- Este grupo também refere que iniciativas como este encontro são de louvar porque
realmente dão importância à voz dos jovens através de métodos que facilitam a
participação.
11- Aposta nos grupos informais jovens
Avaliação negativa:
- Poucas apostas municipais na criação de grupos informais;
- Grupos informais não são chamados ao Conselho Municipal da Juventude;
Avaliação positiva:
- Muitas iniciativas de desporto e artes;
- Bons apoios da Câmara (experiência própria);
- Apoio prestado por associações como a YUPI;
- Vila Nova de Famalicão apresenta associações como a YUPI que aposta em grupos
informais.
12- Voluntariado Jovem
Avaliação razoável:
- Delegar maior responsabilidade aos jovens;
- Existe pouca divulgação/informação nessa área.
70
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Avaliação positiva:
- Como a YUPI deveria haver mais associações assim;
- Tem sido feito um trabalho importante de formação (a continuar); falta fazer a
ponte com a oferta formativa divulgada pela Rede Social;
- Temos uma bolsa de voluntariado para jovens do nosso concelho;
- Temos uma bolsa de voluntariado juvenil;
- Famalicão está num bom caminho nesta área através da YUPI.
4.3 – Reflexão e avaliação da investigação-ação
Como já referido através da explanação das vantagens e desvantagens da
investigação-ação no capítulo III, é possível identificar a possível influência que um
investigador, mesmo que mantendo um certo distanciamento, possa causar no
processo e resultados sem disto ter consciência. A influência inconsciente que um
investigador pode causar nestes processos é uma das desvantagens que foi
assumida para que, por outro lado, a investigadora tivesse uma perspetiva da
realidade o mais fidedigna possível, encontrando-se completamente integrada no
contexto da investigação.
O facto de se ter integrado uma equipa de jovens em todas as fases da investigação
possibilitou que fossem levantadas questões e gerar curiosidade por parte da
investigadora que de outra forma não aconteceriam, e que depois se refletiu muito
útil já que as perguntas foram adaptadas para melhor compreensão por parte dos
jovens. Este aspeto foi fundamental já que os questionários eram autoaplicados e
nalgumas situações de aplicação, não estava presente qualquer elemento da equipa
de investigação na sala no momento da aplicação, pelo que se relevou muito
pertinente que o questionário fosse facilmente percebido pelos inquiridos.
A investigação-ação também permite uma maior reflexão e inquietação dos
envolvidos, porque através da investigação os jovens envolvidos foram-se
questionando sobre possíveis soluções e muitos destes jovens foram mesmo
empreendendo novas ideias para a resolução de certas problemáticas da sua
comunidade e /ou escola.
71
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Por todas as razões elencadas, a escolha deste método de investigação revelou-se
acertado e gratificante, cumprindo os objetivos desejados do ponto de vista da
mobilização de jovens, afirmação do papel do animador na promoção da
participação dos jovens, e na influência nos processos de tomada de decisão a nível
de políticas da juventude.
72
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Capítulo V – Aprofundamento dos resultados e follow-up
5.1- Cultura de participação associativa local dos jovens
As associações funcionam como escolas de democracia, proporcionando aos seus
membros competências sociais que os tornam mais aptos a intervirem politicamente,
ao mesmo tempo que incutem e reforçam as “virtudes cívicas" que promovem o
interesse comum e a tolerância em relação aos outros.
De acordo com os resultados de uma investigação levada a cabo pela Federação
Nacional de Associações Juvenis relativamente ao perfil do associativismo em Portugal
(2011, www.fnaj.pt), o associativismo juvenil desempenha um papel crucial na
ocupação dos tempos livres, é um espaço de construção de sociabilidades e
identidades juvenis, assim como garante oportunidade de acesso a meios e
equipamentos que de outra forma estaria dificultado. Trabalhando em associações, os
jovens desenvolvem o espírito empreendedor, crítico, reflexivo, e valores como a
solidariedade, justiça, compromisso, liderança, cooperação, criatividade e consciência
social. É uma verdadeira “escola de cidadania”, suportada em trabalho de equipa e
aprendizagem constante.
O papel do associativismo juvenil é assim fundamental na influência direta na
sociedade para responder de forma mais adequada à necessidade dos jovens e
devemos considerar alguns aspetos fundamentais da ação das associações:
- Formação/aprendizagem/socialização da identidade coletiva;
- Fomento do espírito de participação cívica e da aprendizagem democrática;
- Catalisador da energia empreendedora e criativa da juventude;
- Pólos de educação não formal.
Perante os resultados da investigação da FNAJ que envolveu as mais de 1630
associações juvenis em Portugal à data desta mesma investigação, podemos inferir
algumas semelhanças com as conclusões dos grupos de foco desta pesquisa. Nos
grupos de foco, havia uma clara expressão de necessidade de desenvolvimento pessoal
e social através de metodologias de educação não formal que fossem mais orientadas
para a reflexão e consciência social, ao invés do investimento no conhecimento puro e
em currículos exigentes relativamente a gestão de tempo e conteúdos académicos.
Muitos jovens reconhecem o papel das associações juvenis enquanto “escolas de
73
O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
cidadania”, mas são pouco estimulados para a participação nestas, ou pressionados
noutros meios (por exemplo a escola) para que se dediquem exclusivamente a esta.
Também podemos analisar que, à semelhança do país, os jovens apresentam baixas
taxas de participação em associações ou grupos informais de jovens, demonstrando
uma reduzida cultura de participação entre os jovens. Este fenómeno condiciona assim
o desenvolvimento dos jovens pela falta de oportunidades e desafios ao trabalho em
equipa, cooperação, consciência social, criatividade e empreendedorismo, cada vez
mais apreciados e valorizados no mercado de trabalho e ao qual a escola dedica pouca
atenção.
Estamos perante uma situação incoerente, onde por um lado as associações poderiam
assumir um papel complementar à educação integral dos jovens, fornecendo
instrumentos, capacidades e competências para uma maior autonomia e realização de
vida dos jovens, e por outro uma escola que, ao absorver os alunos em currículos
extensos e focados exclusivamente em conhecimento, não permite e estimula os
jovens à reflexão crítica e iniciativa, exigindo maior tempo aos alunos para uma
participação constante e produtiva em associações.
5.2- Participação consciente e informada
A participação dos jovens em projetos e associações deve ser sempre um processo
claro e transparente para todos os envolvidos. Desta forma, há que realizar uma
avaliação de necessidades no início de cada projeto. Tal como em outros projetos,
este foi alvo de uma investigação cuidada relativamente aos objetivos pretendidos
pelos diversos envolvidos no processo (investigadora, associação que enquadrou
este projeto, jovens envolvidos e auscultados, dirigentes associativos e autoridades
locais). Em processos de construção coletiva como foi esta investigação, é necessário
ter em atenção as diferentes perspetivas perante o objetivo, conseguindo incluir as
diferentes ideias e realizando total ou parcialmente os envolvidos.
A participação consciente é uma participação que é honesta, transparente
relativamente ao seu objetivo, o mais adequada possível à realidade e pretende
exercer determinada influência através da reflexão proporcionada. Nesta
investigação é expressamente clara a intenção de “dar voz aos jovens”, criando uma
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
plataforma facilitada e acessível a todos os jovens para partilharem as suas opiniões
e, de forma organizada, fazer chegar esse contributo aos decisores políticos locais.
A participação informada é a que baseia os processos de consulta, visto que, para
uma verdadeira reflexão e posicionamento face a diferentes temáticas, é preciso
reunir um conjunto de informações úteis e que vão servir de base para o
pensamento crítico e argumentado por parte dos jovens e dos dirigentes
associativos, facto reconhecido como essencial e de aumento de credibilidade para
todos os envolvidos, especialmente para os decisores políticos.
Desta forma, esta pesquisa pretendeu implementar uma fase inicial de informação,
recolhendo dados sobre a situação atual de hábitos de participação de jovens, e
devolvendo estes dados de uma forma organizada aos jovens e dirigentes
associativos que, numa fase secundária, tiveram como objetivo refletir e sugerir
medidas de intervenção política.
5.3- Processo de consulta e grupos de foco
Os processos de consulta a nível europeu são utilizados a larga escala para aumentar
a legitimidade das decisões mas também numa perspetiva de aproximar os cidadãos
à informação e à influência e envolvimento nas tomadas de decisão. A nível local
estes processos, especialmente em Portugal, não são muito populares e por isso
existe uma falta de prática na expressão de medidas e recomendações
consequentes desta falta de experimentação. No concelho de Vila Nova de
Famalicão, esta foi a primeira experiência a larga escala de envolvimento de jovens
na expressão de opiniões através de processos de consulta, pelo que podemos
observar alguma imaturidade subjacente às respostas e orientações sugeridas pelos
jovens e pelos próprios dirigentes associativos. Esta inexperiência também é
partilhada pelos decisores políticos a nível local que manifestaram um certo
desconforto no posicionamento perante as recomendações dos jovens e,
especialmente, sobre a forma como devolver as respostas ou aplicar algumas
medidas sugeridas pelos jovens e destacar a importância dos mesmos para a
implementação de determinada política, ideia ou serviço. Um exemplo muito
expressivo da falta de perceção do processo de consulta como complexo por parte
dos decisores políticos, foi o “descrédito” atribuído a medidas sugeridas pelos jovens
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
que já se encontravam em prática, ao invés de compreender o verdadeiro problema
que reside na falta de conhecimento e informação dos jovens sobre as
possibilidades e equipamentos que já existem à sua disposição.
As limitações de um processo de consulta são várias, tais como: falta de
representatividade de todos os jovens do concelho, diferentes níveis de informação
que conduzem a diferentes opiniões e orientações, diferentes idades e falta de
experiência neste tipo de processos. Por outro lado, podemos concluir que a
oportunidade garantida aos jovens e dirigentes associativos, assim como a decisores
políticos, de poder experimentar e treinar a construção coletiva, a reflexão, a
cooperação e a análise de efeitos e consequências das medidas planeadas, foi um
excelente exercício de cidadania e aproximou os jovens envolvidos à informação e
influência de decisões, assim como trouxe uma maior consciência social. O resultado
desta investigação e a análise do primeiro processo de consulta a jovens em Vila
Nova de Famalicão foi tema do Conselho Municipal da Juventude de Setembro de
2011, onde foi reconhecido, de forma unânime, a necessidade e importância da
continuidade na aposta em projetos de investigação que baseiem e norteiem a
implementação de políticas na área da juventude.
5.4- Concurso de Ideias Empreendedoras como follow-up do processo de consulta
Uma das sugestões do processo de consulta e especificamente dos grupos de foco,
foi a implementação de um conjunto de iniciativas que estimulasse e apoiasse o
desenvolvimento de projetos locais idealizados e implementados por jovens. Desta
feita, e a título de exemplo, foi desenvolvido pela associação YUPI (associação
enquadradora desta investigação) e em cooperação com o Pelouro da Juventude do
Município de Vila Nova de Famalicão um Concurso de Ideias Empreendedoras para o
concelho de Vila Nova de Famalicão. Este Concurso, dedicado a equipas de jovens
em ensino secundário de Vila Nova de Famalicão, tinha por objetivo estimular os
jovens a identificar uma necessidade do concelho e sugerir uma atividade prática e
exequível para a sua resolução. No âmbito deste Concurso os jovens foram
motivados a apresentar projetos, tendo sido aprovados um conjunto de 10 projetos
em áreas diversas e envolvendo de forma direta mais de 35 jovens. Um dos projetos
vencedores encontra-se neste momento em fase de finalização e apresentação da
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
sua “ideia inovadora” para a cidade: um projeto de partilha de bicicletas. O projeto
BUÉ (bicicletas urbanas ecológicas) foi desenhado por um grupo de 5 jovens de uma
das escolas secundárias do concelho de Vila Nova de Famalicão e prepara-se para
lançar 15 bicicletas de utilização gratuita por parte dos jovens, sensibilizando para a
prática desportiva, a mobilidade urbana e ecológica e a ocupação de tempos livres
de forma saudável. Este projeto é um exemplo bastante expressivo do poder de
influência, envolvimento ativo e mobilização dos jovens que processos de consulta e
reflexão podem exercer a nível local.
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Capítulo VI – Conclusões
Na reta final deste projeto internacional mas com um grande enfoque nas realidades
locais, é indispensável agradecer a todos os jovens que participaram, em especial ao
grupo “Jovens na democracia” pela entrega voluntária e apaixonada pelo tema e
pelo debate empolgante que sempre conseguiu manter com a sua presença e
impulso. A este grupo de jovens se deve o trabalho, a energia e o rumo que o
projeto foi tomando, chegando a envolver mais de 600 jovens e dirigentes
associativos e implicando o Pelouro da Juventude neste processo pioneiro de
auscultação a jovens em Vila Nova de Famalicão.
É de salientar a importância dos processos participativos de auscultação a jovens e
dirigentes associativos no caminho de uma verdadeira democracia e cada vez mais
aproximada às pessoas. Este foi também um momento importante de expressão de
ideias e valorização do papel de cada cidadão na construção de uma sociedade mais
justa e equilibrada.
A metodologia da educação não formal, com o objetivo de facilitar a comunicação e
criar uma plataforma de melhor entendimento entre os jovens e dirigentes
associativos, foi muito valorizada e reconhecida como eficaz pelos participantes em
detrimento de momentos formais e passivos que se revelam pouco motivantes e
ativos para os jovens.
De realçar o envolvimento de todas as escolas do concelho na aplicação dos
questionários e de metade destas no processo de auscultação através dos encontros
de 6 e 7 de Maio, o que se revela um verdadeiro reconhecimento da importância
que estes projetos podem ter na formação e desenvolvimento dos jovens e a
necessidade cada vez mais premente da cooperação entre educação não formal e
formal.
As associações que participaram no encontro e marcam de forma regular a sua
presença em espaços de participação como a Rede associativa jovem e o Conselho
Municipal da Juventude, aderiram com energia e credibilidade a este projeto, porém
de salientar que o envolvimento das juventudes partidárias ficou um pouco a
desejar.
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
Franklin Roosevelt afirmou "nem sempre podemos construir o futuro para a nossa
juventude, mas podemos construir a nossa juventude para o futuro". As associações e
jovens de Vila Nova de Famalicão demonstram desta forma a sua intenção na
construção de uma democracia mais participativa, chamando os jovens ao seu papel
de cidadão activo.
Este projeto de investigação abre caminhos para a afirmação da animação
sociocultural em diferentes áreas da prática comunitária e com um público jovem.
São refletidas várias perspetivas de autores sobre a importância da animação
comunitária para uma verdadeira participação ativa da e na comunidade, conjugando
conceitos de animação sociocultural com as atuais práticas de educação não formal
para facilitar a comunicação com jovens e poder de forma mais assertiva responder
ao desafio de aproximar mais os jovens aos processos de decisão local. O papel do
animador sociocultural assume extrema importância, já que o conjunto de
competências associadas a este ramo profissional garante o perfil ideal para
estimular, motivar, acompanhar e avaliar com e para jovens um verdadeiro exercício
de cidadania e de experimentação de participação ativa.
As limitações subjacentes a este projeto de investigação incluem a eventual influência
da investigadora no seu papel de observadora participante, o que poderá contribuir
para uma influência dos resultados. Esta influência de resultados é quase nula na fase
de aplicação dos questionários, mas será mais acentuada na fase de consulta com
jovens e dirigentes associativos dada a comunicação direta entre os intervenientes e
visto que a observadora tem uma ação mais direta ao assumir o papel de facilitadora
dos encontros de consulta. Outra limitação a refletir tem a ver com a “imaturidade” e
inexperiência dos jovens e dirigentes associativos envolvidos, assim como da própria
comunidade local neste tipo de processos, o que dificulta o ritmo da investigação e
por vezes a torna mais superficial do que o pretendido.
Relativamente ao futuro, pretende a investigadora continuar a explorar as questões
da participação ativa dos jovens a nível local, com especial destaque para este
processo enquanto influenciador das tomadas de decisão a nível político. No âmbito
da animação sociocultural e com base em metodologias de educação não formal
propõe a investigadora desenvolver uma pesquisa que aumente o reconhecimento da
importância do papel das associações juvenis no desenvolvimento pessoal e social
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O animador sociocultural enquanto promotor de cidadania e participação ativa dos jovens
numa perspetiva de Investigação-ação
dos jovens e como uma verdadeira “escola de cidadania”, através do estudo e
identificação de competências específicas que encontram nas associações juvenis um
espaço de experimentação, treino e desenvolvimento e contribuem fortemente para
a afirmação do valor dos jovens no campo pessoal, social e profissional.
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Agradecimentos Aos meus amigos, entre eles os jovens com quem