CEFAC
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA
LINGUAGEM
FONOAUDIÓLOGO E O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO
INFANTIL
UMA RELAÇÃO VIVA
MARILYDIA GONÇALVES COSTA
SÃO PAULO
1999
CEFAC
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA
LINGUAGEM
FONOAUDIÓLOGO E O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO
INFANTIL
UMA RELAÇÃO VIVA
Monografia de conclusão do curso de
especialização em Linguagem Orientadora:
Mirian Goldenberg
MARILYDIA GONÇALVES COSTA
SÃO PAULO
1999
RESUMO
Trata-se de uma pesquisa teórica baseada e subsidiada pela leitura de
textos de vários autores. Com esta pesquisa, voltamos nossa atenção para a
observação e reflexão sobre as possibilidades de atuação do fonoaudiólogo na
educação infantil.
Atualmente, podemos considerar que o trabalho do fonoaudiólogo nas
escolas tem sido mais requisitado e as instituições tem percebido sua importância na
superação ou auxílio de alguns problemas, dai a refletirem sobre a necessidade deste
profissional no processo pedagógico.
Há alguns anos, percebia-se uma falta de identidade entre o
fonoaudiólogo e o sistema educacional; hoje há uma tendência de reconhecer que este
profissional juntamente com o educador e outros especialistas poderão levar o
educando a desenvolver harmonicamente suas potencialidades, suprir deficiências e
construir seu próprio conhecimento.
O trabalho do fonoaudiólogo atenuado com a professora é fundamental
para o desenvolvimento geral da criança.
O período pré-escolar é uma fase de desenvolvimento emocional e
cognitivo da criança, implicando, de forma geral, no desenvolvimento de sua própria
vida. Assim sendo, o fonoaudiólogo precisa estabelecer uma relação com os pais a
fim de orientá-los sobre as possíveis dificuldades de seus filhos e, se necessário,
encaminhá-los a outros profissionais.
SUMMARY
It concerns a theoretic search supported by and based on the reading of
many texts from different authors. Through that search we turned our attention to the
observation and reflection about the working chances of the phonoaudiologist in
children’s education.
Nowadays we are able to consider that the phonoaudiologist’s work
inside schools has been more requested; the institutions have been noticing the
importance of that kind of professional when in the overcome or assintance of some
problems. For this reason, there is an increasing reflection about the need of that
professional inside the pedagogical process.
A few years ago, we cold see lack of identity between the
phonoaudiologist and the educational system; today there is a tendency of recognizing
that, this professional together with the educator and other specialists are able to
develop, harmonically, the potentialities of the pupil and are also able to supply his
deficiencies and build his own knowledge.
The phonoaudiologist’s work attenuated by the teacher is essential for the
general development of the child.
The preschool time constitutes a period of emotional and cognitive
development for the child, involving, in a general way, the development of is own life.
Then, the phonoaudiologist needs to establish a relationship with the parents so that
they are orientated about any difficulties faced by their children and, if needed, lead
them to another professional.
“Quando
os
homens
falarem
melhor, melhor será sua vida em
sociedade. Somente quando se
esgota a esperança no poder persuasivo da fala, em sua força de
convencimento, reluzem as armas
e se impõe a violência.”
Pedro Salinas
SUMÁRIO
Introdução
1
Discussão Teórica
4
Cosiderações Finais
21
Referências Bilbiográficas
24
INTRODUÇÃO
Desde meados do século XIX, no Rio de Janeiro, já era praticada uma
reabilitação conhecida como Educação Especial, que era destinada ao ensino de
surdos.
Em São Paulo, a prática da Fonoaudiologia iniciou-se na década de
vinte, ligada ao magistério e com fins de corrigir os vícios de linguagem provocados
pelos diferentes sotaques estrangeiros.
Como profissão, foi regulamentada nos anos 80, quando ganhou seu
espaço legalmente definido. Como diz a lei 6965, de 09 de dezembro de 1981, “é o
profissional com graduação plena em Fonoaudiologia, que atua em pesquisa,
prevenção, avaliação e terapia fonoaudiológica na área da comunicação oral e escrita,
voz e audição, bem como em aperfeiçoamento dos padrões da fala e da voz”. Pode-se
observar, com nitidez, atividades e áreas de atuação que definem o campo de trabalho
do fonoaudiólogo, sendo a Instituição Escolar uma delas, tanto como prestadora de
serviços, como integrante da equipe profissional.
Neste estudo, poderemos observar as possibilidades de atuação do
fonoaudiólogo na educação infantil e afirmar sua importância na instituição escolar.
Assim, pretende-se mostrar que este profissional pode ser muito
relevante no período escolar da criança com finalidade de prevenir, melhorar e
preparar o aluno para evolução da alfabetização e futura formação de indivíduos mais
hábeis para a leitura e escrita.
O reconhecimento e a identificação precoce das dificuldades em
aprender a ler e a escrever é, na maioria das vezes, a diferença entre o fracasso e o
sucesso escolar.
PACHECO e CARAÇA (1993) afirmam que o processo de comunicação
1
realiza-se à medida que a integração criança-meio se aprofunda e que a linguagem se
desenvolve.
Para PIAGET (1977) o conhecimento implica uma série de estruturas
construídas progressivamente por meio da contínua interação entre o sujeito e o meio
físico e social. Portanto o ambiente escolar, deve ser estimulante e favorecer esta
interação e, para isso, deve estar fundamentado numa proposta de processos
dinâmicos subjacentes à construção das estruturas cognitivas.
A educação infantil deve propiciar interação com o meio físico,
permitindo às crianças que organizem suas experiências, aprendam a observar e
raciocinar, que manipulem o que lhes interessam. Um trabalho condizente com a
realidade da criança, familiarizando-a com os aspectos que favorecem a
aprendizagem.
Segundo PIAGET (1977) o principal objetivo da educação é criar homens
que sejam capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras
gerações já fizeram, homens que sejam criativos, inovadores e descobridores. O
segundo objetivo é formar mentes que possam ser críticas, verificar e não aceitar tudo
o que lhes é oferecido.
O
trabalho
com
crianças
de
pré-escola
deve
visar
ao
seu
desenvolvimento integral, já que a criatividade, o desembaraço, a precisão nos
movimentos, a atenção e a capacidade de resolver problemas são habilidades com as
quais nos defrontamos a todo momento. Cabe, então, ao educador desta faixa etária,
preparar seus alunos para desenvolvê-las.
Ao ingressar na escola, a criança transpõe o limiar da família e passa a
conviver com pessoas de sua idade, descobrindo, a sua maneira, novos valores, novas
experiências, que vêm enriquecer a si própria e com as quais possa compactuar-se.
Essa socialização dá-lhe confiança, adaptabilidade e rendimento intelectual. Para
2
muitas delas, o convívio social proporcionado pela escola oferece possibilidades que
a família, raras vezes, tem condições de propiciar.
Há educadores que, ainda, avaliam o aluno como receptor de
conhecimento de fora para dentro, quando, na realidade, deve ser avaliado como
sujeito construtor de conhecimento, o professor precisa dividir e centrar sua atenção
nas transformações que ocorrem com seu aluno. É necessário que se formem
professores com sólida fundamentação teórica, que lhes traga autonomia suficiente
para que possam avaliar, continuamente, o desempenho de seu aluno, deixando de
ficarem centrados no “sucesso do produto”.
O professor, como agente facilitador do conhecimento do aluno, deve
constantemente refletir sobre sua ação pedagógica e assumir uma postura crítica
diante do contexto social. Desempenhando um papel muito importante na educação infantil, cabe-lhe a responsabilidade de propiciar ao educando condições para encontrar
por si mesmo as melhores formas de resolver os problemas que desafiam sua
curiosidade e estimulam sua reflexão.
A expansão da educação infantil no Brasil e no mundo tem ocorrido de
forma crescente nas últimas décadas, acompanhando a intensificação da urbanização,
a participação da mulher no mercado de trabalho e as mudanças na organização e
estruturas das famílias. Além disso a sociedade está mais consciente da importância
das experiências na primeira infância, motivando demandas para a educação infantil.
As orientações que vão ser expostas não são rígidas, nem fixas e devem
adaptar-se às necessidades e possibilidades de cada escola, mas devemos sempre
ter em mente que o trabalho do fonoaudiólogo educacional deve ser realizado junto à
equipe pedagógica.
Partindo desse pressuposto, este trabalho é designado a todos aqueles
que, de uma forma ou de outra, interferem no processo de ensino-aprendizagem.
3
4
DISCUSSÃO TEÓRICA
Hoje em dia, pergunta-se muito com quantos anos deve-se mandar as
crianças para a escola. Existem duas “correntes”, uma que acredita que a criança deve
ir o mais cedo possível para a escola e outra já acha que esperar um pouco é melhor.
Para ZORZI (1999) “é comum observamos crianças que chegam à
escola muito tímidas, inseguras. Outras chegam agressivas, birrentas ou com outros
problemas de relação e que, passado algum período de vivência escolar, evoluem
sensivelmente. Isto também pode ocorrer, no caso de crianças com problemas no
desenvolvimento de linguagem. O argumento, muitas vezes usado, de que é preferível
esperar a criança começar a falar para, então mandá-la para a escola não é muito
convincente.
Pelo contrário, temos ouvido, com muita freqüência, o relato de pais
afirmando que seus filhos começaram a falar, ou passaram a falar melhor, logo depois
de terem ingressado na escola” (p.95).
Em crianças que apresentam algum tipo de distúrbio de comunicação, o
que se observa é o aceleramento da aquisição de linguagem.
Conforme ZORZI (1999) devemos estar atentos às características das
crianças e à proposta da escola. Deve-se exigir que a criança evolua, mas sempre em
um nível de resposta que consiga dar.
A criança, desde muito cedo, percebendo o mundo a sua volta,
comunica-se de alguma forma e, inicialmente, começa a entender como fazê-lo por
meio da fala, pois é um ser social que nasce com capacidades afetivas, emocionais e
cognitivas. Tem desejo de estar próxima de outras pessoas e é capaz de interagir e
aprender com elas de forma que possa compreender e influenciar seu ambiente,
ampliando suas relações sociais, interações e formas de comunicação. As crianças
5
sentem-se cada vez mais seguras para se expressarem e aprenderem nas trocas
sociais, com diferentes crianças e adultos, cujas percepções e compreensões de
realidade também são diversas.
Para haver desenvolvimento, as crianças precisam aprender com os
outros, por meio dos vínculos que estabelecem. Se as aprendizagens acontecem na
interação com outras pessoas, sejam elas adultos ou crianças, elas também
dependem dos recursos de cada criança.
Dentre os recursos que as crianças utilizam, destacam-se a imitação, o
faz-de-conta, a oposição, a linguagem e apropriação da imagem corporal.
O educador deve estar consciente de que, na pré-escola, as crianças
necessitam atuar ainda muito próximos de situações concretas e reais para, mais
tarde, operarem abstratamente e constituírem idéias e conceitos sobre o mundo
natural que as cerca.
A preocupação da educação infantil deve estar centrada nas
necessidades momentâneas da criança, no “hoje”, e com uma educação direcionada
para o que ela é agora, no presente. É necessário, portanto, disposição para mudar e
enfrentar desafios que, com certeza, virão.
O período pré-escolar é uma fase fundamental no desenvolvimento
emocional e cognitivo da criança, implicando, de uma forma geral, o desenvolvimento
de sua própria vida. O conhecimento implica uma série de estruturas construídas
progressivamente por meio de contínua interação entre o sujeito, o meio físico e social.
O desenvolvimento das funções cognitivas deve ser compreendido na
medida em que se compreendem as relações entre o sujeito e o objeto no ato do
conhecimento, favorecendo a interação com o meio social que englobe tanto a
cooperação entre as crianças, quanto entre estas e os adultos.
A criança pode beneficiar-se muito quando tem a possibilidade de viver
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em um ambiente educacional que lhe ofereça oportunidade de agir com liberdade,
manipulando materiais adequados para o seu desenvolvimento.
A educação infantil deve propiciar o desenvolvimento global e harmônico
da criança, das capacidades física, emocional, intelectual e social, de forma
equilibrada, sem exagero de um em detrimento do outro; deve acontecer por meio de
uma educação que permita à criança encontrar os meios para a estruturação de seu
conhecimento.
A escola tem a função de promover a construção do conhecimento,
assim como todos os outros níveis de educação, pois desta construção depende o
próprio processo de constituição dos indivíduos que a freqüentam. Brincar na escola
não é exatamente igual a brincar em outras ocasiões, porque a vida escolar é regida
por algumas normas que regulam as ações das pessoas e a interação entre elas.
Assim, as brincadeiras e os jogos têm uma especificidade quando ocorrem na escola,
pois são medidos pelas normas institucionais.
O professor deve necessariamente conhecer o papel fundamental do
jogo e destinar espaço físico e temporal para a sua execução.
Incluir a brincadeira e o jogo na escola tem, como pressuposto, o duplo
aspecto de servir ao desenvolvimento da criança, enquanto indivíduo, e à construção
do conhecimento, processos esses intimamente ligados.
A criança, em idade escolar, dedica parte de seu tempo a brincar de fazde-conta. Dessa forma, descobre a linguagem, e a narrativa passa a ter melhor
compreensão de si e do outro, por meio de sua contraposição com as pessoas e os
objetos que constituem o seu meio e que são culturalmente definidos.
O brincar na escola tem também uma função informativa para a
professora, que, ao observar a brincadeira e as inter-relações entre as crianças em
sua realização, aprende bastante sobre seus interesses, podendo perceber o nível de
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realização em que elas se encontram, suas possibilidades ou interações, suas
habilidades para se conduzirem de acordo com as regras do jogo, assim como suas
experiências do cotidiano e as regras do comportamento revelados pelo jogo de fazde-conta.
A ação do educador deve ser, antes de tudo, refletida, planejada e, uma
vez executada, avaliada. É importante que o educador se oriente no sentido de ampliar
o repertório das crianças, não só do ponto de vista lingüístico, como cultural.
O jogo é um recurso pedagógico por excelência para a educação infantil,
uma vez que é a forma primordial de construção do conhecimento pela criança.
Por meio do que chamamos de brincadeira, a criança aprende a
conhecer a si própria, as pessoas que a cercam, as relações entre os indivíduos e os
papéis que cada um possui. Por meio do jogo ela aprende sobre a natureza, eventos
sociais, a dinâmica interna e a estrutura de seu grupo.
Por meio do jogo ela consegue, também, entender o funcionamento dos
objetos e explorar suas características físicas. Configurado-se, nas inúmeras
brincadeiras infantis, a criança repete no jogo as impressões que vivencia no
cotidiano, pois é uma atividade de que ela necessita para atuar sobre tudo que a
rodeia e desenvolver seu conhecimento.
A maneira de falar diversifica as modalidades de interação, favorecendo
o intercâmbio de idéias, realidades e pontos de vista. A observação das interações
espontâneas revela o quanto as crianças conversam entre si. Não seria possível
inventar os temas de conversa, pois o repertório é infinito, refletindo vivências
pessoais, desejos, fantasias, projetos e conhecimentos.
A partir do primeiro ano de vida, quando começa com a linguagem, esta
vai atuando como reguladora de seu comportamento, proporcionando-lhe novas
formas de atenção, memória e ação. Sua importância aumenta na medida em que ela
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cresce e se torna membro de grupos sociais mais complexos que a família; como
amigos, colegas, a escola e a comunidade.
A linguagem é representada por meio da fala, da mímica, da escrita,
entre outras. Quanto mais a criança vai adquirindo a capacidade de se expressar pela
fala, por gestos ou por escrito e procura compreender a linguagem dos outros, mais
seu pensamento se organiza e se enriquece. Portanto, uma interação cada vez maior
entre a criança e o meio ambiente favorece sua capacidade de expressão e enriquece
seu pensamento. A escola não tem o direito de ignorar ou deter a marcha desse
processo, mas, como parte dele, favorecer a formulação do leitor.
A linguagem escrita também começa a entrar na vida da criança; muito
cedo, ela observa, pensa, faz perguntas, formula hipóteses, experimenta e tira suas
próprias conclusões, por isso não é possível encarar a aprendizagem de leitura e
escrita como um momento estanque na vida do sujeito, já que é sabido que a
necessidade de comunicação é inerente ao homem.
Para FERREIRO (1986) o processo de aquisição da língua escrita não
pode ser considerado um processo natural e espontâneo, no qual o professor se limita
a ser um espectador passivo, bastando rodear a criança de livros para que ela
aprenda sozinha.
É um processo que exige ter acesso a informações socialmente
vinculadas, já que as propriedades da língua escrita só podem ser descobertas por
meio de outros importantes meios e da participação em atos sociais, onde a escrita
seja utilizada por fins específicos.
A escrita lhes apresenta desafios intelectuais, problemas que devem ser
resolvidos precisamente, para que as crianças possam entender quais são as regras
da construção interna do sistema.
A aprendizagem de linguagem oral e escrita é “peça” importante para as
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crianças aumentarem suas possibilidades de inserção e de participação de práticas
sociais. O trabalho com a linguagem constitui um dos eixos básicos na educação
infantil, dada a sua importância para a formação do sujeito.
Para se aprender uma língua, não adianta só saber palavras, mas sim os
seus significados culturais e o modo como as pessoas do seu meio sócio-cultural
entendem, interpretam e representam a realidade.
A linguagem oral está presente no dia-a-dia e na prática das instituições
de educação infantil, à medida que todos participam: crianças e adultos, falam, se
comunicam entre si, expressando sentimentos e idéias.
Várias instituições entendem a linguagem e a maneira como as crianças
aprendem de modo bastante diferente.
Para algumas, o aprendizado da linguagem oral é visto como um
processo natural, que ocorre em função da maturação biológica; prescinde-se, nesse
caso, de ações educativas planejadas com a intenção de favorecer a aprendizagem.
Para outras, ao contrário, acredita-se que a intervenção direta do adulto
é necessária e determinante para a aprendizagem da criança. Desta concepção
resultam orientações para ensinar às crianças pequenas, cuja aprendizagem se dá de
forma cumulativa e cuja complexidade cresce gradativamente. Nessa perspectiva, a
linguagem é considerada apenas como um conjunto de palavras para nomeação de
objetos, pessoas e ações.
O trabalho com a linguagem oral, nas instituições de educação infantil,
tem se restringido a algumas atividades, entre elas as rodas de conversa.
Quanto ao aprendizado da linguagem escrita, concepções semelhantes
àquelas relativas ao trabalho com a linguagem oral vigoram na educação infantil.
Pesquisas realizadas, nas últimas décadas, baseadas na análise de produções das
crianças e das práticas correntes, têm apontado novas direções no que se refere ao
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ensino e à aprendizagem de linguagem oral e escrita, considerando a perspectiva da
criança que aprende. Ao se considerar as crianças ativas na construção de
conhecimentos e não receptoras passivas de informações, há uma transformação
substancial na forma de compreender como elas aprendem a falar, a ler e a escrever.
Para aprender a ler e a escrever, a criança precisa construir um
conhecimento de natureza conceitual; precisa compreender não só o que a escrita
representa, mas também de que forma ela representa graficamente a linguagem. Isso
significa que a alfabetização não é o desenvolvimento de capacidades relacionadas à
percepção, memorização e treino de um conjunto de habilidades sensório motoras, e
sim um processo no qual as crianças precisam resolver problemas de natureza lógica,
até chegarem a compreender de que forma a escrita alfabética em português
representa a linguagem, e assim, poderem escrever e ler por si mesmas.
Segundo Bettelheim (1984) “Uma criança só ficará ávida por ler se
acreditar que a leitura lhe abrirá um universo de experiências maravilhosas, a
compreensão do mundo e a tornará senhora de seu destino.
A literatura, sob forma religiosa e sob a forma de mitos, foi um dos
maiores feitos do homem, pois que nesses feitos o homem explorou, por vez primeira,
o sentido de sua existência e a ordem do mundo ” (p.222).
Além da linguagem falada, a comunicação acontece por meio de gestos,
de sinais, linguagem corporal, que dão significado e apoiam a linguagem oral dos
bebês. A criança aprende a verbalizar por meio da apropriação da fala do outro. Esse
processo refere-se à repetição, pela criança, de fragmentos da fala do adulto ou de
outras crianças, utilizados para resolver problemas em função de diferentes
necessidades e contextos nos quais se encontram. Portanto, aprender a falar não
consiste apenas em memorizar sons e palavras. A aprendizagem da fala pelas
crianças não se dá de forma desarticulada com a reflexão, o pensamento, a
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explicitação de seus atos, sentimentos, sensações e desejos.
A construção da linguagem oral não é linear e ocorre em um processo de
aproximação sucessiva com a fala do outro, seja ela do pai, da mãe, do professor, dos
amigos e daqueles ouvidos na televisão e pelo rádio.
As crianças possuem seus próprios ritmos, e a conquista de suas
capacidades lingüísticas se dá em tempo diferenciado, sendo que a condição de falar
com fluência, de produzir frases completas e inteiras, provém da participação em atos
de linguagem. A ampliação de suas capacidades de comunicação oral ocorre
gradativamente, por meio de um processo de idas e vindas que envolve tanto a
participação das crianças nas conversas cotidianas, em situações de escuta e canto
de músicas, em brincadeiras, com a participação em situações mais formais de uso
da linguagem, como aquelas que envolvem a leitura de textos diversos.
Nas sociedades letradas, as crianças, desde os primeiros meses, estão
em permanente contato com a linguagem escrita e, por meio desse contato
diversificado em seu ambiente social, descobrem o aspecto funcional da comunicação
escrita, desenvolvendo interesse e curiosidade por essa linguagem. Diante do
ambiente de letramento em que vivem, as crianças podem fazer, a partir de dois ou
três anos de idade, uma série de perguntas como: “O que está escrito aqui?”, ou ”O
que isto quer dizer?”, indicando uma reflexão sobre a função e o significado da escrita,
ao perceberem que ela representa algo.
Para aprender a escrever, a criança terá de lidar com dois processos de
aprendizagem paralelos: o da natureza do sistema de escrita da língua - o que a
escrita representa - e como as características da linguagem que se usa para escrever.
A aprendizagem da linguagem escrita está intrinsicamente associada ao contato com
textos diversos, para que possam desenvolver a capacidade de escrever
autonomamente.
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A observação e a análise das produções escritas das crianças revelam
que elas tomam consciência, gradativamente, das características formais dessa
linguagem. Constata-se que, desde muito pequenas, as crianças podem usar o lápis e
o papel para imprimir marcas, imitando a escrita dos mais velhos, assim como se
utilizam de livros, revistas, jornais, gibis, rótulos para “ler” o que está escrito. Não é
difícil encontrar crianças folheando livros, imitando sons e fazendo gestos como se
estivessem lendo.
As hipóteses elaboradas pelas crianças em seu processo de construção
de conhecimento não são idênticas em uma mesma faixa etária, porque dependem do
grau de letramento de seu ambiente social, da importância que tem a escrita no meio
em que vivem e das práticas sociais de leitura e escrita que podem presenciar e
participar.
No processo de construção dessa aprendizagem, as crianças cometem
“erros”. Os erros, nessa perspectiva, não são vistos como falta ou equívoco, eles são
esperados, pois se referem a um momento evolutivo no processo de aprendizagem
das crianças. Eles têm um importante papel no processo de ensino, porque informam o
adulto sobre o modo das crianças pensarem naquele momento e escrever. Mesmo
com esses “erros”, permite as crianças avançarem, uma vez que só escrevendo é
possível enfrentar certas contradições. Desse modo, as crianças aprendem a produzir
textos antes mesmo de saberem grafá-los de maneira convencional.
O processo de aquisição da leitura e de suas possibilidades é algo que
se inicia na mais tenra idade e se prolonga até a vida adulta. Tem sido motivo de muita
pesquisa e estudo, sendo ainda um campo de muitas hipóteses e poucas certezas e
definições.
O desenvolvimento da linguagem se constitui em estrutura fundamental
para a formação do pensamento. A linguagem está inserida num contexto mais amplo
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de comunicação. Mesmo antes de começar a falar, a criança já é capaz de se
comunicar com os outros por meio de expressões faciais, gestos, choros, sorrisos. Por
meio das interações estabelecidas com os adultos, o bebê vai construindo um
repertório que lhe permite começar a se comunicar por meio dos sons que emite,
fazendo a transição de uma comunicação baseada nos gestos e expressões faciais
para uma comunicação lingüística.
Atualmente os educadores reclamam muito contra o crescente desinteresse dos estudantes, de todos os graus, pela leitura. Muitas e diferentes razões são
apontadas para o fato: descuido familiar, decadência do ensino, excesso de facilidade
na vida escolar, apelos com muitas formas de diversão, entre outras.
Contra essa situação não se tem feito muita coisa. Diremos mesmo que
contra algumas dificuldades não há como lutar. Mas acreditamos que um ponto pode
ser atingido: o professor. Pode-se trabalhar com ele, melhorar seus conhecimentos e
sua visão quanto à leitura infantil.
A educação infantil tem o papel de fazer a criança compreender o que é
a escrita e a leitura.
Não podemos perder de vista que a comunicação é inerente ao homem.
A partir do primeiro ano de vida, quando a criança adquire a linguagem, esta vai
atuando como reguladora de seu comportamento, proporcionando-lhe novas formas de
memória e ação. Sua importância aumenta à medida que ela cresce e se torna
membro de grupos sociais mais complexos que a família e os amigos.
A criança em contato com atos de leitura e de escrita significativos e
funcionais se sente motivada para iniciar as primeiras descobertas a respeito da
escrita.
O aluno deve ficar exposto às atividades que ajudem o processo de
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alfabetização, tais como o uso da leitura e da escrita, mesmo que não haja ainda o
domínio formal e sistematizado do código lingüístico, mas que sirva para o
desenvolvimento de seu pensamento. A criança está descobrindo o mundo, portanto,
pode descobrir o mundo gráfico.
A questão da aprendizagem da leitura é a discussão dos meios por meio
dos quais o indivíduo pode construir seu próprio conhecimento, uma vez que, sabendo
ler, ele se torna capaz de atuar sobre o acervo de conhecimento acumulado pela
humanidade por meio da escrita, desse modo, produz seu conhecimento.
Mas de maneira como essa aprendizagem foi concebida até hoje, foi
necessário interpor, entre o indivíduo e o ato de ler, um saber considerado prérequisito para que o indivíduo possa ler a língua escrita.
Desse modo, assim como as ciências físicas, a história, a literatura, a
alfabetização têm um conteúdo, a escrita, espera-se que, de posse do conhecimento
da relação entre o oral e a escrita, o aprendiz seja capaz de ler. No caso da
alfabetização, o importante não é (ainda) o conteúdo da escrita, mas a estrutura da
escrita. O processo de alfabetização é considerado o período de instrumentalização,
período em que se busca evidenciar o princípio fundamental que rege o sistema
alfabético. Após o domínio da técnica, o indivíduo aplica esse saber teórico sobre a
língua escrita na prática da leitura.
Não podemos pensar numa escola que exclua a leitura nos primeiros
anos, como vem ocorrendo sistematicamente com algumas delas. A maior parte de
nossas crianças tem na escola o único espaço que lhes possibilita o contato com
publicações de toda ordem, incluindo os livros.
Muito ao contrário do que se supõe, a leitura pode ser dada mesmo se
tratando de crianças que ainda não conhecem letra alguma; ela pode olhar para as
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ilustrações enquanto a professora lê o texto. Nesta fase inicial, começam a tomar
contato com o livro, aprender a manuseá-lo, a reconhecer sua formas e perceber a
diagramação. A educação infantil precisa garantir este contato inicial com os livros e
nunca mais deixar de atuar.
A leitura só poderá ser apreciada e incorporada à vida das pessoas se
os livros, na idade escolar, se tornarem agradáveis e sugestivos.
A avaliação deve estar centrada para a ansiedade da família e do educando, por isso ela deve ser contínua, paralela e diagnóstica, preocupando-se não só
com os aspectos cognitivos do aluno e suas habilidades, mas com seus valores e as
posturas assumidas mediante acompanhamento e registro de seu desenvolvimento,
levando em consideração as observações diárias em sala de aula e nas atividades
extraclasse.
Imprescindível oferecer à crianças os mais variados materiais de leitura.
O professor deve transformar a sala de aula num ambiente estimulante das mais
variadas situações, para que a criança possa manifestar-se, expressando livremente a
compreensão e os questionamentos que se fazem a partir de leitura do real.
A leitura de histórias também pode propiciar um clima de afetividade e
apresentar a vantagem de o texto escrito trabalhar com as convenções lingüísticas e a
produção literária com a qualidade estética da linguagem. Estes dois aspectos
combinados permitem que as crianças desfrutem de uma forma muito mais rica do
fascinante poder das palavras do mundo da escrita.
A partir da leitura, é preciso incentivar a criança a se manifestar, a
participar. O professor deve “ler para elas”, a criança deve fazer oralmente a sua
interpretação. O professor deve ler de forma literal, porém clara e agradável.
Importante que surjam perguntas e comentários por parte das crianças para não
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transformar-se num material didático alheio aos seus interesses.
Em contato com os livros de literatura infantil, ouvindo histórias, a criança
apresenta motivação para a leitura desses textos e para a produção de histórias.
Faz-se necessário, a organização do trabalho com livros e leitura. Devese dar condições adequadas, ou seja, melhor posição e acesso visual são
importantes.
Para trabalhar literatura infantil junto às crianças, antes de mais nada é
necessário ser um leitor incansável. O trabalho de interpretação, análise e seleção de
livros infantis exige um conhecimento literário imprescindível por parte do professor,
que deverá incentivar a criança a escolher livremente sua leitura e, gradativamente, se
tornar apta a fazer a seleção. Deve-se dar liberdade ao aluno para fazer sua própria
leitura, valorizando o que lê.
GOODMAN (1997) acredita que a alfabetização começa com atividades
que os outros membros da família já fazem: reagir a sinais, logotipos e rótulos,
compartilhar livros, rabiscar recados. Muitas crianças levam livros para cama,
abraçando-os como se fossem ursinhos de pelúcia. As crianças experimentam
avidamente a escrita, porque essa contribuição que a família faz em casa é de grande
importância, trabalhando, assim, em conjunto com a escola, que é uma das maiores
fontes de aprendizagem, lugar onde a criança desenvolve seu potencial de aprendiz.
Na escola, é importante o ambiente alfabetizador. A criança em contato
com atos de leitura e de escrita significativos e funcionais se sente motivada para
iniciar as primeiras descobertas a respeito da escrita.
A criança deve ficar exposta a atividades que ajudem o processo de
alfabetização tais como o uso da leitura e da escrita, mesmo que não haja ainda o
domínio formal e sistematizado do código lingüístico, mas que sirva para o
desenvolvimento de seu pensamento.
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O material a ser utilizado para que o ambiente seja alfabetizador, deve
ser bastante variado e interessante para ser significativo para a criança.
A alfabetização acontece bem antes do ingresso da criança na escola,
ou seja, quando ela representa e interpreta (lê e escreve) o pensamento e as idéias
por meio da fala, dos gestos, dos símbolos individuais e coletivos, dos desenhos e da
linguagem escrita.
Assim utilizar-se de letras e escritas diversas para expor e interpretar o
mundo é alfabetizar-se.
A criança desenvolve, desde cedo, manifestações de leitura que vão
evoluindo de acordo com o seu crescimento, percebe a presença da mãe, identifica
pessoas conhecidas, chora, provoca barulhos, faz mímicas, identifica cores e formas.
A linguagem escrita também vai evoluindo na medida em que a criança
tem acesso e identifica, mesmo sem conhecer o sistema alfabético, o teor das placas
de rua, dos ônibus, dos folhetos, das mensagens da TV, do cinema, dos livros, jornais
e revistas.
Um dos principais objetos de educação infantil deveria ser o de ensinar a
criança a observar os fatos cuidadosamente.
Qual é o melhor método para a aprendizagem da leitura e da escrita?
Como uma criança aprende a ler? Deve-se alfabetizar na pré-escola? Qual é o
procedimento correto nesta fase? Várias indagações desse tipo têm sido feitas
atualmente.
Acreditamos que a criança, o tempo todo, interage com o mundo que a
cerca, inclusive com a escrita. A riqueza de experiências que ela adquire em contato
com esse mundo torna-se fundamental para o desenvolvimento cognitivo. Mesmo sem
saber escrever, utiliza suas experiências e vivências para construir hipóteses em
relação a linguagem, portanto é capaz de lidar com a escrita mesmo sem representá-la
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convencionalmente.
As palavras se apresentam para as crianças, no início, sem um
significado coerente. Elas aparecem junto a várias outras e em determinados
contextos. Formulando suas próprias hipóteses e compartilhando-as com as de seus
colegas, vai pouco a pouco, aprimorando-se do mundo da escrita. Cabe ao professor
valorizar essas experiências reconhecendo-as como etapas da alfabetização. O
importante é canalizar a curiosidade da melhor forma possível.
Assim procedendo, o professor estará respeitando as diferenças
individuais, satisfazendo a necessidade de expressão das crianças, facilitando as
descobertas individuais sobre o mecanismo da leitura e adequando o ensino ao
interesse dos alunos.
O professor deve estar atento para o conhecimento prévio da criança. É
necessário conhecer melhor o pensamento do aluno, levando em consideração o seu
desenvolvimento cognitivo, verificando o que ela já sabe e como raciocina, a fim de ser
capaz de sugerir atividades e fazer perguntas no momento certo, para que a mesma
possa desenvolver o seu próprio conhecimento.
O educador deve ser o criador de situações de aprendizagem, ser
questionador, conhecer como anda o desenvolvimento do aluno, quais as etapas
evolutivas, e de que forma se estrutura seu pensamento. É preciso interrogar a criança
no momento oportuno para poder sugerir os caminhos do pensamento. Nesse sentido,
o professor deve oferecer, incentivar e favorecer as atividades de interação verbal, o
diálogo, a participação, as manifestações críticas e as reivindicações das crianças.
Mesmo que algumas não se manifestem verbalmente seus pensamentos, elas podem
desenvolver mentalmente suas idéias, a partir das intervenções do grupo. O importante
é que se assegure o direito de cada uma de se manifestar da forma que quiser.
O trabalho em linguagem deve levar o aluno a saber usar a língua como
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veículo de comunicação, desenvolver a capacidade de pensar e expressar idéias,
expandir a capacidade de criação, enriquecer o vocabulário, favorecendo a
socialização, a compreensão de ordens, avisos, comunicações, instruções, corrigir
“defeitos” de pronúncia, articulação, encadeamento de idéias e concordância,
desenvolver a atenção, a observação e a memória para ser capaz de fazer
associações, interpretar e compor histórias, desenvolver as habilidades necessárias à
aprendizagem da leitura e da escrita.
O fonoaudiólogo propõe ao professor como o profissional poderá,
ludicamente, atuar em sala de aula, ressaltando que não se quer uma transposição de
papéis e, sim uma atuação em equipe .
Desta forma, além de atuar com as dificuldades do aluno em questão,
pode-se trabalhar com a coletividade, o que produz um resultado global, bem como
realizar encaminhamento a profissionais de áreas afins, administrando o conceito mais
adequado do caso.
Além do fonoaudiólogo trabalhar em parceria com o professor visando o
desenvolvimento global do aluno, ele não pode esquecer de trabalhar com a saúde
vocal do professor. Se considerarmos que a maioria dos professores de educação
infantil é o sexo feminino o que isso por si determina maior predisposição a problemas
vocais, o abuso vocal crônico também é um aspecto importante, entre outros.
O fonoaudiólogo pode realizar palestras, cursos, oficinas, para
esclarecer melhores maneiras para o uso vocal, e este profissional estando
trabalhando diretamente com o professor poderá orientá-lo no dia a dia.
Durante muito tempo, a fonoaudiologia era vista como uma ciência
paramédica; os fonoaudiólogos atuavam clinicamente visando à correção de
problemas e preocupando-se com que as crianças falassem ou escrevessem
corretamente.
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De acordo com OLIVEIRA e OLIVEIRA (1995) o fonoaudiólogo clínico e
o escolar possuem algumas diferenças que são importantes a serem observadas, pois
contribuem para o estabelecimento de vínculos mais próximos à realidade escolar.
Observar e discutir os métodos pedagógicos é importante, mas não se
pode parar por aí, à vista disso, nos tornamos espectadores da vida escolar da qual
fazemos parte.
O fonoaudiólogo educacional é membro ativo dentro da estrutura
escolar, não está ali para criticar o que o professor faz, e sim lhe sugerir estratégias
para alcançarem juntos determinado objetivo pedagógico. Logicamente que o
professor não está na sala de aula para ser “reprodutor” de estratégias
fonoaudiológicas, pois ele é o profissional capacitado para contribuir com suas
experiências e com um envolvimento maior, estando trabalhando em conjunto.
O contato com os pais é de grande importância, pois estes precisam ser
esclarecidos do papel do fonoaudiólogo dentro da instituição educacional, já que este
profissional estará ali para prevenir, detectar problemas de comunicação, e não para
realizar terapias fonoaudiológicas de “troca letras” na fala e na escrita.
O fonoaudiólogo realiza reuniões com os pais ou responsáveis a fim de
explicar-lhes o seu trabalho junto à equipe pedagógica e também para orientações e
encaminhamentos a outros profissionais.
ZORZI (1999) considera que a orientação aos pais também é uma
situação de escuta, na qual assumimos o papel de ouvir o que a família traz. Quando
possível, trabalhamos a ansiedade inerente à situação de ter filhos com problemas de
distúrbios da comunicação em geral.
A orientação a pais traz resultados diversos, depende da aceitação de
cada família; umas são mais disponíveis a aceitar mudanças ou novas posturas, outras
já são mais fechadas, não aceitando com facilidade modificações, assim o
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fonoaudiólogo tende a estar preparado a trabalhar com todo tipo de família.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Às vésperas do terceiro milênio, a educação apresenta novos
parâmetros curriculares e inovações para os que buscam qualificações num mundo
cada vez mais competitivo.
Vivemos um novo momento histórico e político que é o resultado teórico
e político, resultado de um desenvolvimento científico e tecnológico sem precedentes.
A sociedade em que vivemos exige um novo perfil de cidadão, cujo
processo de formação deve atender às demandas do mundo moderno no que diz
respeito ao multiculturalismo, ao uso da tecnologia, ao conhecimento integral do
homem como também o respeito à ecologia e à cidadania.
Como espaço norteador da educação, cabe à escola, em todos os níveis
e modalidades de ensino, contemplar a cultura como centro das relações entre
aprendizagem e desenvolvimento de maneira global.
Entendemos ser necessário rejeitar uma pedagogia analiticamente
identificada como reprodutora do sistema social, fazendo-se imprescindível uma
pedagogia voltada para a transformação. Para tanto, essa pedagogia deve estar
centrada no ser humano enquanto ser político e, em conseqüência disso, ser
ideologicamente definida. Para sua execução, é necessário, uma relação democrática
entre educador e educando, dando atenção a dois elementos básicos do processo
cultural: a contigüidade e a ruptura no processo de elevação cultural. Para, isso é
necessário agir politicamente no planejamento, na execução e na avaliação do ensino.
Embora o professor não seja o único agente de educação, cabe-lhe ser
o criador de situações de aprendizagem, quando a criança utiliza os objetos sociais de
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conhecimento. Não podemos esquecer que grande parte dos comportamentos e das
atitudes dos alunos depende dos professores.
Assim sendo, o educador precisa ter entusiasmo, otimismo, ser
comprometido com a educação, acreditar nas possibilidades dos alunos, ser capaz de
exercer uma influência positiva na classe como um todo e em cada aluno.
A escola é o lugar onde, às vezes, se gera e, ocasionalmente, se trata
uma série de transtornos de linguagem, de causas e gravidades diversas.
PACHECO e CARAÇA (1993) afirmam que as escolas têm o
compromisso de dar a melhor educação possível para cada criança. Para isso é
necessário conhecê-las integralmente, considerando todos os seus aspectos
perceptuais e cognitivos.
Há alguns anos, quando se iniciava a trajetória da Fonoaudiologia
Educacional, percebia-se, às vezes, certa resistência ou mesmo desconfiança por
parte dos profissionais da escola, talvez porque desconhecessem o trabalho do
fonoaudiólogo, ou o fonoaudiólogo não conhecesse a escola. Não havia uma rejeição
dirigida à área, mas uma falta de identidade entre o fonoaudiólogo e o sistema
educacional. Hoje, este sentimento vem mudando, a escola tem solicitado o
fonoaudiólogo.
A escola é um espaço importante de atuação, sendo que não está
restrita
somente
às
triagens,
orientações,
encaminhamentos,
mas
contribui
efetivamente dentro do processo educacional, realizando um trabalho integrado entre
pais, professores, alunos e outros profissionais que fazem parte da equipe.
O trabalho do fonoaudiólogo e do professor tem como objetivo o
aprendizado do aluno.
Sabe-se que a escola é um agente ativo no desenvolvimento da
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linguagem, então, assumirá sua responsabilidade com eficiência se contar com um
profissional em comunicação oral e escrita.
Para SCAVAZZA (1991) a fonoaudiologia tem-se colocado como uma
ciência que, por meio de “ações preventivas”, poderá colaborar com a escola. Como
especialista em linguagem ou em problemas de linguagem, o fonoaudiólogo tem
assumido uma postura em que o seu saber técnico-científico-específico é usado para
detectar, tratar e, inclusive, prevenir problemas de linguagem.
CAVALHEIRO (1991) afirma que a participação do fonoaudiólogo com
pré-escolares é de suma importância, em função das rápidas e significativas
transformações que ocorrem em vários aspectos do desenvolvimento da criança. É
nesta etapa que as intervenções no desenvolvimento da comunicação podem ter
resultados mais produtivos.
Atuar preventivamente junto à instituição escolar é mais uma
oportunidade para a integração e a interdisciplinaridade que são fundamentais para o
estabelecimento da melhoria da qualidade de vida do pré-escolar.
O que as crianças dizem e fazem pode contar muito a respeito de seu
pensamento e de sua inteligência; o que não fazem ou não conseguem fazer também
pode contar muito a respeito de suas capacidades.
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fonoaudiólogo e o professor de educação infantil uma relação viva