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Educação
30 de Maio a 03 de junho de 2013
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05/06/13
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A SEMANA
Valor Econômico
03/06/13
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EU & CARREIRA
Escolas recrutam professores estrangeiros
Por Adriana Fonseca | De São
Paulo
O professor suíço Per Axelson,
recém-contratado para dar aulas no
Ibmec, diz que oportunidade no país
pode abrir portas no meio
acadêmico aqui e no exterior
Interessado na economia
brasileira já há algum tempo, o suíço
Per Axelson, que acaba de ser
contratado como professor
permanente do Ibmec, diz que um
período de trabalho no país pode
ser inspirador tanto para a vida
acadêmica como para o trabalho de
consultor. Por conta disso, aliado a
razões pessoais - ele é casado com
uma brasileira -, Axelson estava
atento a oportunidades em
instituições de ensino do país
quando se deparou com um anúncio
da escola carioca.
Como parte do processo de
seleção, Axelson, que tem
doutorado em finanças pela Booth
School of Business, da Universidade
de Chicago, apresentou seu trabalho
de pesquisa e se encontrou com
alguns professores do Ibmec. "Tive
uma impressão muito boa da escola
e não hesitei quando recebi a oferta",
afirma.
Além do título de PhD obtido em
2008, Axelson tem experiência de
mercado, com atuações no setor de
consultoria em Boston e Nova York.
Ele começou a lecionar no Ibmec há
algumas semanas. "Uma experiência
como essa, em um mercado relevante
e em crescimento, vai me ensinar
muito e ainda abrir oportunidades
tanto no Brasil quanto no exterior",
diz.
Axelson é o primeiro estrangeiro
a integrar o corpo permanente de
docentes do Ibmec. Antes, a
presença de professores de fora se
restringia aos visitantes, que vêm para
dar uma ou outra aula.
Fernando Schuler, diretor
executivo do Ibmec, afirma que o
recrutamento do suíço faz parte de
uma política de internacionalização
da instituição. "Não há como pensar
hoje em uma escola de negócios que
não seja global."
A seleção de Axelson deu-se
através da participação do Ibmec em
um evento de recrutamento da
American Economic Association,
que reúne mais de 18 mil acadêmicos
e profissionais de mercado. "Foi a
primeira vez que participamos desse
'job market', mas agora estaremos
sempre presentes", diz Schuler.
Segundo o diretor do Ibmec,
Axelson vai dar aulas na graduação,
no mestrado e em cursos de
educação executiva de curta
duração, além de atuar com
pesquisa. Todas disciplinas
ministradas no idioma inglês.
O Insper, de São Paulo, também
acaba de fechar a contratação de
uma professora estrangeira. A
portuguesa Carla Ramos começa a
dar aulas na escola em agosto. "Se
existem tantos talentos no mundo,
não faz sentido contratar apenas no
Brasil", afirma Sérgio Lazzarini,
diretor de pós-graduação stricto
sensu do Insper.
A prática de abrir o recrutamento
para candidatos de outros países
existe no Insper desde 2005. Carla
é a terceira estrangeira a integrar o
quadro de professores permanentes.
"Cada um traz uma bagagem
diferente, por isso a vivência dos
alunos com esses professores é
enriquecedora", diz Lazzarini. Ele
conta que o acesso da escola aos
estrangeiros se dá, principalmente,
através da sua rede de contatos
internacional.
Nos últimos anos, Lazzarini
observou um crescimento no
interesse dos professores de outros
países em atuar nas instituições de
ensino brasileiras. "A crise americana
ajudou um pouco, assim como o
aumento do interesse pelos
mercados emergentes. Além disso,
os salários pagos aqui também se
tornaram mais compatíveis com os
Continua
Continuação
do exterior", afirma.
03/06/13
pré-selecionada para a vaga. Em
março, durante uma visita à escola,
passou por uma série de entrevistas,
apresentou seu trabalho de pesquisa
aos acadêmicos do Insper e deu uma
aula de 30 minutos. "Acredito que
me mudar para o Brasil neste
momento significa estar no lugar
certo, na hora certa. Trata-se de uma
economia em forte crescimento e
com boas oportunidades para
estudar fenômenos interessantes em
minha área de pesquisa, que é
relacionada ao 'business-tobusiness', redes de negócios e
relações comerciais", diz Carla.
nacionalidade. Segundo Freitas, no
quadro de 600 professores
permanentes da escola no Rio de
Janeiro, há cerca de 20 estrangeiros.
"No momento em que realmente
tomei a decisão de me mudar para o
Brasil, coincidentemente, o Insper
havia aberto uma vaga para atuar em
tempo integral na área de marketing.
Tive sorte com esse 'timing'", afirma
a portuguesa.
Bastante tradicional no país, a
Fundação Getulio Vargas (FGV) há
alguns anos vem contratando
docentes estrangeiros para seu
quadro de professores permanentes.
"Nossa preocupação é dar uma boa
base para o aluno e expor o
estudante a diversas formas de olhar
o mundo. Nesse sentido, é
importante a presença de
professores de outras procedências",
afirma Antonio Freitas, pró-reitor da
FGV.
Nascida na Alemanha, ela serve
de exemplo. No Brasil há 14 anos,
ela dá aulas na escola há nove. "Vim
para trabalhar em um banco de
investimento e algum tempo depois
quis mudar de área", conta Julia, que
conseguiu ingressar na FGV através
de sua rede de contatos.
O processo de recrutamento,
segundo ela, foi rígido. Depois de
submeter seu currículo e duas cartas
de referência para avaliação, ela foi
Ele afirma que, no caso da FGV,
o interesse é por professores com
desempenho acima da média,
independentemente
da
Carla, por exemplo, decidiu vir ao
Brasil depois de uma experiência de
10 anos em escolas do Reino Unido.
Após concluir seu doutorado em
administração na Universidade de
Bath, ela passou a atuar como
pesquisadora e professora da
Manchester Business School, onde
deu aulas no MBA, no mestrado e
no bacharelado. "Há algum tempo eu
já pensava na hipótese de trabalhar
no Brasil", diz Carla. "Meu interesse
pelo país está na expansão de sua
economia e na proximidade cultural
com Portugal."
Ela conta que ficou sabendo da
vaga no Insper através de uma
consultoria de recrutamento
administrada por uma amiga.
Em São Paulo, por sua vez, cerca
de 10% do quadro de docentes é
formado por acadêmicos de outros
países, de acordo com Julia von
Maltzan Pacheco, coordenadora de
relações internacionais da Escola de
Administração de Empresas de São
Paulo (Eaesp) da FGV. "É natural
contratar um estrangeiro para dar
aula, desde que ele seja o melhor
candidato", afirma.
Para encontrar o melhor
candidato, a Eaesp-FGV anuncia a
vaga aberta no Brasil e no exterior,
por meio das escolas internacionais
parceiras. Segundo Julia, uma ou
outra posição se restringe ao país,
mas é raro. "A escola é muito
favorável a receber estrangeiros, mas
não há uma preferência", diz.
O GLOBO
“O que museu tem a ver com
educação?”
Aloizio Mercadante, em visita
a um dos museus da Fundação
Joaquim Nabuco, em Recife
Salgaram a Santa Ceia
É um exagero sugerir que o
governo deflagrou a maratona do
Bolsa Família, nos últimos dias 18 e
19, unicamente para atribuir sua
autoria à oposição , responsável por
ela mediante a difusão de boatos . O
risco seria demasiado grande . E se a
movimentação inesperada de cerca
de um milhão de pessoas em 13
estados tivesse resultado em mortos
e feridos? E se , em vez de um milhão
, tivessem sido quatro, cinco milhões?
TUDO BEM, como adiantou o
ministro Gilberto Carvalho: o bicho vai
pegar este ano, véspera da reeleição
de Dilma ou de uma improvável
derrota dela. Está pegando. Faz-se o
diabo para ganhar , disse a própria
Dilma. Mas ninguém, em sã
consciência, rasga dinheiro. Vence
quem erra menos. Ousadia em
excesso épara quem está
desesperado. Ou aloprou.
EM 2006, candidato à reeleição ,
Lula bateria fácil Geraldo Alckmin no
primeiro turno . Havia sobrevivido ao
escândalo do mensalão graças ao erro
de cálculo da oposição que, ao
impeachment, preferiu esperar que
03/06/13
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ele sangrasse sozinho até a última
gota. Mas, aí, funcionários da
campanha de Lula alopraram
encomendando um falso dossiê contra
Alckmin e José Serra.
FOI UM LANCE com direito a
mala abarrotada de dinheiro, batida
da Polícia Federal em hotel no meio
da noite e prisão do coordenador da
campanha de Aloizio Mercadante,
candidato ao governo de São Paulo e
adversário de Serra. Para não
responder sobre os aloprados, Lula
fugiu ao último debate dos candidatos
a presidente promovido pela TV
Globo. Sua vitória acabou adiada.
O CASO DOS aloprados ficou
por isso mesmo. Ao do Bolsa Família
parece reservado o mesmo destino.
Tudo indica que não estamos diante
de um crime ardilosamente
concebido. O mais provável é que
tenha havido na Caixa um absurdo
erro administrativo . E que, em
seguida, se tenha tentado aproveitálo para desgastar a oposição. Nada
de surpreendente .
O PRESIDENTE DA Caixa
afirmou que só soube de parte do que
acontecera na segunda-feira, 20.
Lorota : soube na tarde do sábado,
18, que a Caixa adiantara, na véspera,
o pagamento do benefício de maio de
quase 700 mil pessoas. Por fim, disse
que precisou de cinco dias para se
inteirar dos detalhes do desastre.
Lorota : bastou o fim de semana,
dispensado até um pulo ao prédio da
RICARDO NOBLAT
Caixa para uma reunião de
emergência.
DE QUANTOS dias precisaria a
oposição para armar uma operação
de telemarketing capaz de atingir um
milhão de pessoas distribuídas por 13
estados? Vazou da Caixa o cadastro
com os números de telefones de uma
fatia dos clientes do Bolsa? Ou a
empresa de telemarketing disparou
telefonemas aleatórios, tendo a sorte
de alcançar quem, mais tarde,
disseminaria boca a boca o boato do
fim do programa? HÁ
PONTOS OBSCUROS de sobra
a respeito do episódio. Um jornal
paulista cobrou do governo respostas
para todos eles. Ouviu de volta : os
esclarecimentos já foram dados, ora.
Evidente que não foram. Se a
imprensa não existisse, os governos
seriam
mais
felizes.
Em
compensação, o distinto público seria
mais enganado do que costuma ser
— dia sim, outro não. Ou dia sim e
outro também.
A DONA DO GATILHO mais
rápido do cerrado, a justiceira
implacável que nada perdoa e cultiva
o medo nos seus domínios, autorizou
a publicação de uma nota em defesa
da direção da Caixa. Se assim não
procedesse, reconheceria que seu
governo erra — e como erra! O
passo seguinte seria se livrar de
auxiliares tão descuidados. Um deles
pediu desculpas aos brasileiros. Dilma
é quem deveria ter pedido
03/06/13
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O PAÍS
Povo e tijolo para ensinar a ler
Há 50 anos, Paulo Freire dava
início ao seu projeto de alfabetizar
em 40 horas 300 alunos de Angicos
(RN)
Juliana Castro
Era um dia como outro qualquer,
em 1963, quando os pais de dona
Maria Eneide de Araújo Melo
ouviram correr na cidade de
Angicos, a 171 km de Natal, no Rio
Grande do Norte, a notícia de que,
ali, os adultos poderiam aprender a
ler e escrever em apenas 40 horas.
Era a oportunidade para quem, quase
aos 30 anos, sequer sabia quantas
letras eram necessárias para riscar
o próprio nome. Analfabetos, como
40% da população brasileira adulta
daquela época, Severino de Araújo
e Francisca de Andrade Araújo
pensaram: "Por que não tentar?". Em
18 de janeiro de 1963, o educador
Paulo Freire deu início à primeira
turma em que aplicaria seu método.
Severino e Francisca estavam em um
dos círculos de cultura, que
contavam com até 15 alunos.
Quatro meses depois, o país
tinha menos 300 analfabetos, graças
ao trabalho conhecido como as 40
horas de Angicos - que completa
agora seus 50 anos. Sem ter com
quem deixar a filha, Severino e
Francisca levavam Maria Eneide,
então com 6 anos, para as aulas.
Mesmo sem ser o público-alvo do
projeto, a pequena aprendeu a ler e
a escrever. Antes de morrer, os pais,
analfabetos até a vida adulta, viram,
com orgulho, a filha virar professora.
- Depois de aprender a ler e a
escrever, eles fizeram questão de
fazer outra identidade, em que
pudessem assinar. Mesmo sendo
uma aula de alfabetização, os
professores incentivavam os alunos
a tirarem os documentos e a
conhecerem seus direitos - disse
Maria Eneide, que hoje tem 56 anos.
Inédito, o projeto rompeu os
conceitos de alfabetização da época.
Primeiro, porque se baseava na
experiência de vida das pessoas.
Segundo, porque um dos objetivos
era dar ao aluno um espírito crítico
sobre o papel do homem no mundo
- as duas primeiras aulas eram
apenas sobre cultura. Terceiro,
porque não existiam cartilhas, com
lições programadas. Paulo Freire
repudiava o uso do material que,
segundo ele, pouco tinha a ver com
a realidade do aluno.
- Ele dizia que eram palavras e
uma metodologia que vinha de cima
para baixo. O aluno era apenas um
objeto - disse Marcos Guerra, um
dos coordenadores dos círculos de
cultura onde era difundido o método
de Paulo Freire, durante seminário
promovido pela Fundação Roberto
Marinho em comemoração aos 35
anos do Telecurso.
No método Paulo Freire, eram
identificados, a partir de uma
conversa, os termos que faziam parte
do cotidiano da turma. Eram as
chamadas palavras geradoras. A
partir de uma expressão mais
simples, os alunos aprendiam o que
eles mesmos apelidaram
carinhosamente de famílias. Assim,
a partir de palavras mais simples
como povo, voto ou tijolo, os adultos
aprendiam as "famílias" silábicas. E
passavam a notar que, com isso, já
poderiam formar outros termos.
- O significado é bem maior do
que uma experiência que repercutiu
fora do Brasil e é válida até hoje. É
um método que desperta o desejo
de continuar aprendendo o resto da
vida - disse o presidente do Instituto
Paulo Freire, Moacir Gadotti.
Freire foi considerado subversivo
O método agradou. A formatura
da turma pioneira em Angicos,
escolhida para ser a primeira a viver
a experiência por ser a terra do
governador do estado à época,
Aluísio Alves, contou com a
presença do então presidente João
Goulart. O método ganhou
expansão, foi exportado para outros
estados e impulsionou o Programa
Nacional de Alfabetização. Numa
época em que analfabetos não
podiam votar, o país ganhava não só
mais pessoas que sabiam ler e
escrever, mas também eleitores. Foi
somente com a promulgação de uma
emenda constitucional em 1985 que
Continua
Continuação
03/06/13
os analfabetos recuperaram o direito
de votar, em caráter facultativo.
O projeto não teve vida longa.
Veio o golpe militar, em 1964, e a
difusão do método caiu por terra.
Uma prática que ensinava aos alunos
não só as letras, mas seu papel no
mundo e sua importância para a
sociedade não agradava aos
militares. Prova disso é um trecho do
Inquérito Policial Militar a que Paulo
Freire respondeu durante a ditadura:
"É um dos responsáveis pela
subversão imediata dos menos
favorecidos", dizia o relatório de
outubro de 1964.
Considerado subversivo, Paulo
Freire terminou preso e exilado.
Mesmo com o pouco tempo de
existência, o método fez o educador
ser, até hoje, um dos brasileiros mais
estudados no exterior.
- O Brasil ainda fala pouco de
Paulo Freire. O mundo se apropriou
muito mais da teoria dele. As grandes
universidades americanas e europeias
lembram nas salas de aula, na grade
curricular, a importância de Paulo
Freire. Se você diz lá fora que
conviveu com Paulo Freire querem
tirar foto com você - lembra Vilma
Guimarães, gerente-geral de
Educação e Implementação da
Fundação Roberto Marinho, que
conviveu com o educador por 40
anos e exalta o legado do amigo.
Apesar de cinquentenário, o
projeto de Paulo Freire ainda é
considerado atual pelos educadores:
- O método não envelheceu.
Continua sendo atual. Se não está
sendo usado é porque não
corresponde ao objetivo dos
governantes - afirmou Marcos
Guerra.
Quando a experiência de Angicos
completou 30 anos, Paulo Freire
voltou à cidade. Reencontrou os
alunos que, emocionados,
agradeciam ao educador que
desenvolveu a teoria que os ajudou
não só a aprender as letras, mas a
escrever o próprio futuro.
03/06/13
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O PAÍS
Programas de alfabetização
não conseguiram atingir metas
Desde o início do século XX,
todas as tentativas do governo
fracassaram
criou a Campanha Nacional de
Erradicação do Analfabetismo.
Em 1988, a nova Constituição
que bradava os direitos e deveres
do povo brasileiro trazia também
uma promessa: a de que haveria
esforços para que o analfabetismo
fosse extinto em dez anos. Não
aconteceu. E 25 anos depois da
promulgação da Carta Magna, o
problema persiste. Segundo dados
do Censo 2010, ainda há 10% de
adultos analfabetos no país.
Em 1964, o educador Paulo
Freire deu início à experiência de
Angicos. Dentro do programa das
Reformas de Base do presidente
João Goulart, o método auxiliou na
composição do Programa Nacional
de Alfabetização, que Paulo Freire
ajudou a desenvolver. O plano
pretendia alfabetizar cinco milhões
de jovens e adultos em dois anos.
Logo após o golpe de 1964, um
decreto dos militares extinguiu o
programa.
O objetivo de fazer com que
todos os brasileiros saibam ler e
escrever é antigo. No início do século
XX, o poeta Olavo Bilac liderou uma
campanha contra o analfabetismo.
Em 1942, ocorreu a criação do
Fundo Nacional do Ensino Primário,
com destinação de 25% dos
recursos à alfabetização de adultos.
Cinco anos depois, o presidente
Eurico Gaspar Dutra iniciou a
Campanha de Educação de
Adolescentes e Adultos, retomada
por Getúlio Vargas em 1952. Mudase o governo, muda-se o programa.
Em 1958, Juscelino Kubitschek
Com a ditadura militar veio, em
1967, o Movimento Brasileiro de
Alfabetização (Mobral), cujo
objetivo era alfabetizar 11,4 milhões
em quatro anos. A erradicação viria
em oito anos. Mais uma meta que
não foi alcançada.
A redemocratização trouxe a
extinção do programa e uma nova
tentativa, por meio da Fundação
Educar, no governo de José Sarney,
que incorporou algumas iniciativas
do Mobral. Eleito, Fernando Collor
repete a história: acaba com o plano
anterior e implanta, em 1990, o
Programa Nacional de Alfabetização
e Cidadania (Pnac). A meta era, em
quatro anos, reduzir em até 70% o
analfabetismo.
Com o impeachment de Collor,
o presidente Itamar Franco instituiu,
em 1993, o Plano Decenal de
Educação para Todos, cuja meta era
acabar com o analfabetismo em dez
anos. O programa foi descontinuado
e, em 1997, o presidente Fernando
Henrique Cardoso criou o Programa
Alfabetização Solidária.
Veio o governo de Luiz Inácio
Lula da Silva e com ele o Programa
Brasil Alfabetizado, criado em 2003,
com o objetivo de universalizar a
alfabetização de brasileiros acima de
15 anos. Lula prometeu erradicar o
analfabetismo em seu primeiro
mandato e chegou a dizer que o
desafio dependia "muito menos de
dinheiro" e "muito mais de disposição
política". Mas foi mais um a fracassar.
Na década passada, a proporção de
adultos iletrados teve queda pífia: de
13,6%, em 2000; para 9,6%, em
2010.
03/06/13
RIO
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Licença da sala de aula
Total de professores afastados hoje 6.500 - cresce no período
letivo e cai nas férias
Natanael Damasceno
Ruben Berta
Um diagnóstico da curva de
licenças médicas concedidas a
professores da rede estadual revela
uma estatística polêmica: a Secretaria
de Educação constatou que os
afastamentos por motivos de saúde
diminuem substancialmente durante
as férias escolares e voltam a subir
durante as aulas. Se por um lado, o
estado aposta na concessão de
benefícios para quem está em sala
de aula e numa política de pente fino
nas perícias médicas para resolver a
distorção - em 2011, contratou uma
empresa para o serviço -, por outro,
o Sindicato Estadual dos
Profissionais de Educação (Sepe)
acredita que, por trás desses
números, estão condições de
trabalho inadequadas. O desafio
ainda é grande a considerar os
dados do último mês de maio:
segundo o secretário de Educação,
Wilson Risolia, 6.500 professores cerca de 9% do total - estão
afastados da função.
A curva de licenças do ano
passado, por exemplo, ainda retrata
a distorção. Em janeiro, havia 2.856
professores afastados. Em fevereiro,
quando começam as aulas, eram
3.985. O número sobe até chegar
em junho a 6.269. Para cair, durante
o recesso de meio de ano, em julho,
para 5.273. Dali, a curva sobe até
atingir o pico de 6.105, em
setembro. Então, os números voltam
a cair, até chegar em dezembro a
1.559.
Atualmente, o estado tem uma
média de carência de professores
em sala de aula que varia entre 800
e 900 profissionais. Wilson Risolia
afirma que, com a mudança nas
perícias, as licenças em época de
férias vêm caindo. Segundo o órgão,
que tem cerca de 75 mil professores
em seu quadro de funcionários, o
número de afastamentos concedidos
em novembro e dezembro de 2012
(3.782 e 1.559, respectivamente)
caiu drasticamente se comparado
com o de licenças nos mesmos meses
do ano anterior (6.619 e 6.045).
- É natural ter uma curva de
licença alta, uma vez que o quadro
de
funcionários
é
predominantemente feminino e há
muita solicitação de licença
maternidade. O que não é normal é
o comportamento da curva. Então,
contratamos perícia médica privada
e isso ajudou bastante. Continua
tendo muito pedido de licença, mas
o número caiu - observa o secretário.
Para o coordenador-geral do
Sepe, Alex Trentino, a análise do
secretário é equivocada. Ele
argumenta que o número de licenças
aumenta durante o período letivo
por causa das más condições de
trabalho a que os professores são
submetidos.
- A curva cresce nos meses de
aula porque as condições de
trabalho são muito ruins. A
superlotação das salas leva a uma
série de situações de estresse que
acabam derrubando o professor afirma o coordenador-geral do
sindicato. - E é lamentável que o
secretário pense dessa forma. A
licença, que é temporária, é um
direito do trabalhador. Ele fala como
se o professor estivesse inventando
um motivo para não trabalhar. Ao
invés de atacar o que leva à licença,
ele questiona o fato de o professor
estar doente.
Alex Trentino argumenta ainda
que não são as licenças que fazem
com que o déficit de professores
aumente. Segundo o Sepe, de julho
do ano passado até hoje, 1.911
professores se aposentaram e 849
pediram exoneração. No mesmo
período, segundo o sindicato, foram
convocados 2.028 profissionais
aprovados em concursos.
- O problema é a carência, a falta
de profissionais. Sai muito mais
professor da rede do que entra. O
cara hoje começa a carreira
ganhando 1.070 reais brutos (para
uma jornada de 20 horas semanais).
Você tem que incentivar o
profissional a ganhar bem. Caso
Continua
Continuação
03/06/13
contrário, ou ele abandona a rede ou
pega várias outras escolas e não dá
uma boa aula. Com uma sobrecarga
tão grande, o problema acaba
estourando na ponta e você então
consegue entender por que a
educação no Rio está tão mal - analisa
Trentino.
Estado diz ter reduzido déficit
Wilson Risolia garante que o
estado tem investido em outras ações
para diminuir o problema da carência
estrutural, como gratificações para
quem é formado em áreas que têm
poucos profissionais, como as
disciplinas de física e matemática, ou
as que são distribuídas para
professores que trabalham em
unidades de difícil acesso. E diz que
o estado está buscando melhorar o
salário dos profissionais.
- Carência haverá sempre. Isso
acontece. Além da carência estrutural
em áreas em que não se consegue
formar servidor. Para cada problema,
a gente desenvolveu um conjunto de
ações. Mas diminuímos o déficit de
12 mil para 800 profissionais e,
depois de anos sem que o salário dos
profissionais recebesse reajustes,
estamos concedendo aumentos reais.
Além disso, vamos começar a
trabalhar com o conceito de
certificação dos profissionais, que
pode triplicar os salários de quem
estiver disposto a ser avaliado e vai
servir como um incentivo para levar
os professores para a sala de aula diz o secretário, acrescentando que
o Rio é o estado que paga o maior
valor pela hora/aula no país.
03/06/13
00
PODER
Estudante da USP é eleita presidente da UNE
Filiada ao PC do B, conterrânea
de Lula chama Eduardo Campos de
'grande governador'
THIAGO
GUIMARÃES
COORDENADOR-ADJUNTO
DA AGÊNCIA FOLHA
Pernambucana de Garanhuns,
terra do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, Virgínia Barros, 27, é
a nova cara da UNE (União
Nacional dos Estudantes) para o
biênio 2013-2015.
Eleita presidente da entidade
ontem, em Goiânia, em congresso
que confirmou a hegemonia do PC
do B sobre o movimento estudantil,
que comanda desde 1991, ela rebate
as críticas de governismo e de
afastamento da UNE da vida real
dos estudantes.
Vic, como é conhecida, diz, por
exemplo, que o governo Dilma
Rousseff é "inconsequente e omisso"
na fiscalização da qualidade do
ensino superior privado.
"A entrada de capital estrangeiro
é preocupante, e não há regulação
sobre padrões mínimos de qualidade
nas faculdades privadas", diz a aluna
de letras da USP, com sotaque
diluído pelos dois anos na capital
paulista.
Virgínia define a gestão Dilma
como "contraditória", pela "política
econômica conservadora", e destina
o mesmo adjetivo ao governo
Eduardo Campos (PSB-PE), por
pendências na saúde e na educação
básica.
Neutra no primeiro turno e próDilma no segundo turno de 2010, a
UNE, afirma ela, ainda não discutiu
2014, mas vê uma eventual
postulação dissidente como
"legítima" --Campos é descrito como
"grande governador" que "ainda vai
contribuir muito para o Brasil".
PRESIDENTA
O viés situacionista se acentua em
menções ao julgamento do mensalão
como "político" e na defesa das
nomeações partidárias nas gestões
do PC do B, seu partido, no
Ministério do Esporte ("São
indicações referendadas nas urnas.").
O tom diplomático dos recémeleitos desaparece em comentários
de Virgínia nas redes sociais --ali há
"caos" no metrô de São Paulo, o
"pós-modernismo" de Marina Silva
"dá enjoo" e o papa Francisco é
"reacionário".
Sobre leis no Congresso para
mudar a meia-entrada no país, que
podem aumentar em mais de 700%
as carteirinhas emitidas pela UNE, a
dirigente prefere não falar em cifras
e diz que a ampliação do benefício
para não-estudantes de baixa renda,
aprovada no Senado, ainda "carece
de regulamentação".
Torcedora do Sport, do Recife,
e fã de Rolling Stones e Strokes, ela,
como Dilma, prefere ser chamada de
presidenta. "Para democratizar
também o português."
03/06/13
00
MERCADO
Diplomas suplementares abrem
caminho para cliente de alta renda
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
Além das certificações
obrigatórias por lei para os
profissionais de finanças que vendem
investimentos, também cresce o
número
de
diplomas
complementares para as pessoas da
área.
Consultores e planejadores
financeiros que atuam de forma
independente, além de gerentes de
bancos, buscam as chamadas
certificações de distinção para
desenvolver a carreira profissional.
A maioria dos clientes de
profissionais com esse tipo de
diploma é de alta renda, que busca
eficiência na gestão dos
investimentos --público que
possibilita ao consultor uma
remuneração maior que a obtida
com o pequeno aplicador.
O custo para tirar os certificados
de distinção, porém, é alto. O exame
para o CFP (planejador financeiro
certificado, na sigla em inglês), um
dos mais reconhecidos no segmento
financeiro, é de cerca de R$ 3.000.
A taxa de inscrição é de R$ 860.
Há ainda a cobrança de uma
anuidade de R$ 700 dos aprovados.
"A taxa serve para pagarmos o
royalty ao órgão mundial que fiscaliza
a certificação", diz Rogério Bastos,
diretor do IBCPF (Instituto
Brasileiro de Certificação de
Profissionais Financeiros),
responsável pelo exame no país.
A prova do CFP, que precisa ser
refeita a cada dois anos, aborda
temas como investimentos, seguros,
impostos, legislação e planejamento
financeiro pessoal.
No
site
do
instituto
(www.ibcpf.org.br), o investidor
encontra uma lista dos profissionais
certificados. A instituição pode ser
acionada pelo investidor em caso de
má conduta dos planejadores
financeiros cadastrados.
Vale ressaltar, porém, que as
certificações dos consultores
financeiros não são garantia de
rentabilidade.
"Investimentos podem dar certo
ou não. Certificações podem
aumentar a eficiência das escolhas,
o que eleva a probabilidade de
sucesso, mas não o garante", diz o
educador financeiro Mauro Calil. Ele
diz que alguns profissionais de má
índole também podem usar as
certificações como um "escudo".
(AF)
03/06/13
00
TEC
Tablet ensina e diverte as crianças,
diz diretora
Alunos de até 3 anos têm uma
aula com tablet por mês em escola
de SP
Aplicativo usado em sala de aula
é específico, e sua busca é
trabalhosa, segundo diretora da
Primetime
RODOLFO LUCENA DE
SÃO PAULO
Depois de terem conquistado
corações e mentes de crianças,
adolescentes e adultos pelo mundo
afora, os tablets se voltam para um
mercado sempre em expansão: o
fabuloso mundo dos bebês.
Cidadãos ainda não alfabetizados ou
que mal conseguem enrolar algumas
palavras encostam suas mãos
gorduchinhas nas telas de vidro para
comandar carrinhos, letras, músicas,
trens e galinhas cantantes.
Fazem isso em casa, por certo,
usando os aparelhos dos pais. E,
cada vez mais, têm os "seus" próprios
gadgets, em escolas de educação
infantil que adotam o tablet como
ferramenta de ensino e diversão para
a meninada de menos de quatro
anos.
"É uma ferramenta interessante
porque traz um tipo de mídia com
grau de interatividade que a televisão
e os filmes infantis oferecem e por
causa da tela sensível ao toque, que
torna o uso mais fácil para as
crianças. É muito intuitivo, e o bebê
não se limita à atividade motora",
avalia Christine Bruder, 40, diretora
da Primetime, escola no Morumbi,
em São Paulo, que atende crianças
de até três anos e usa os aparelhos
desde o ano passado.
Os resultados são positivos,
afirma Jacqueline Cappellano, 40,
coordenadora das turmas de dois a
quatro anos da Escola Internacional
de Alphaville, que também passou a
usar as tabuletas eletrônicas no ano
passado. "A gente sabe que as
crianças aprendem de forma
diferente. Um conteúdo que você
não consiga atingir por meio de uma
estratégia dentro da sala de aula,
usando material concreto, consegue
que a criança entenda por meio da
tecnologia", diz ela.
A turminha adora. No Colégio
Brasil Canadá, em Perdizes, crianças
de três anos sentam em roda para
brincar com o tablet, e o uso do
aparelho se torna uma experiência
coletiva: estão todos conectados a
um sistema de televisão, e o grupo
acompanha pela tela grande, por
exemplo, quando um coleguinha traça
com o dedo o perfil de uma letra.
"O uso da tecnologia faz parte do
mundo deles", diz a professora Bruna
Figueiredo Elias, 27. "E a interação
com o mundo deles é muito
importante. Percebemos que eles
gostam, que se concentram."
Para isso, porém, é preciso ter os
aplicativos corretos --uma busca que
não foi fácil, segundo Bruder. "Os
aplicativos precisariam ser algo
adequado ao interesse das crianças,
e não preparando as crianças para
aprenderem alguma coisa."
"Até os três anos, eles aprendem
pondo a mão na massa, vivendo,
experimentando, com liberdade. E
muitos aplicativos fechavam o bebê
em aperte aqui', aperte agora',
incentivando a rapidez dos
movimentos ou queriam ensinar a
criança a ler, a reconhecer letras,
números. Demorei tempo para achar
conteúdo que fizesse sentido para
apresentar a um bebê", diz.
Além do controle do conteúdo,
há que limitar o tempo de tablet na
mão. "As crianças de dois a quatro
anos têm uma aula por mês", diz
Cappellano, que também delimita o
horário em que suas gêmeas de
quatro anos podem usar os
aparelhos.
03/06/13
00
TEC
Para educadores, gadget não
deve substituir atividades tradicionais
DE SÃO PAULO
O tempo que crianças passam
com eletrônicos, mesmo se
controlado, pode ser demais, dizem
alguns educadores.
"Nós não usamos aqui, dentro do
estabelecimento, nenhum desses
instrumentais. A gente tem como
filosofia que o grande aprendizado
da criança na primeira infância é por
meio do brinquedo. Não o
brinquedo físico, mas o [ato de]
brincar", conta a pedagoga Nereide
Tolentino, 70, diretora da Escola da
Vovó, que funciona há 36 anos e
atende crianças de até seis anos em
Pinheiros.
"Se a gente coloca a criança na
[frente da] televisão ou no
computador ou qualquer um desses
joguinhos em que ela só aperta
botão, ela não tem de criar nem
imaginar nada", reforça Valéria
Rocha, 39, diretora do Quintal do
João Menino, escola maternal e
jardim para crianças de um ano e
meio a seis anos, na Vila Madalena.
Independentemente
de
divergências de filosofias
pedagógicas, há que ter cuidado
com a oferta de tecnologia para as
crianças. A Associação Americana
de Pediatria "desencoraja" o uso de
mídia eletrônica por menores de dois
anos e a colocação de aparelhos de
TV no quarto de crianças. Em um
documento sobre o assunto (bit.ly/
estudoped), a entidade cita estudos
que encontraram efeitos negativos no
desenvolvimento intelectual infantil.
CRIANÇAS LIGADAS
Outros estudos indicam que
poucas pessoas nos EUA deram
ouvidos às recomendações dos
médicos: levantamento realizado pela
Common Sense Media em 2011
mostrou que 30% das crianças com
menos de um ano têm televisão no
quarto.
Nenhuma das escolas ouvidas
pela Folha oferece os aparelhos para
crianças com menos de dois anos. E
dizem que a experiência precisa ser
sempre monitorada.
"As atividades com tablet não
podem substituir explicações do
professor; as brincadeiras com
tablets não podem e não devem
substituir as entre as crianças; o
contato físico com amigos reais é
mais importante --e imprescindível",
diz Bruna Elias.
(RL)
03/06/13
00
NOTAS &
INFORMAÇÕES
Escolas precárias
Não haverá milagre que faça a educação brasileira
dar o salto necessário para colocar o País entre os mais
desenvolvidos do mundo se não forem superados os
entraves básicos, a começar pela infraestrutura das
escolas.
O retrato de décadas de descaso, em que a construção
de boas escolas não passou de mera promessa em
sucessivas campanhas eleitorais, está num levantamento
divulgado pelo movimento Todos pela Educação, segundo
o qual 44,5% dessas unidades dispõem somente do mínimo
para seu funcionamento, isto é, água, banheiro, energia,
esgoto e cozinha, Não têm biblioteca, quadra de esportes
e laboratório, itens considerados necessários para que o
aprendizado se desenvolva de modo satisfatório. Apenas
0,6% dos estabelecimentos pesquisados têm estrutura
completa. É um quadro desalentador.
A pesquisa tomou como base o Censo Escolar de 2011.
Naquele ano, estavam em funcionamento quase 195 mil
escolas, cujos diretores responderam a um questionário a
respeito dos recursos disponíveis nos estabelecimentos. A
metodologia do estudo levou em conta que nem todas as
escolas necessitam de determinados equipamentos ou
espaços, como berçário.
Com isso, foi feita uma escala de categorias de
infraestrutura que considera as diferentes etapas de
aprendizado. A categoria "elementar" é aquela do mínimo
necessário. Já na categoria "básica", além de água e
esgoto e energia elétrica, incluem-se aparelhos de TV e
DVD, computadores, impressoras e sala da diretoria. O
nível "adequado" demanda a presença de tudo isso mais
acesso à internet, sala de professores, biblioteca e espaços
para o desenvolvimento motor e o convívio social dos
alunos.
No último nível, o das escolas "avançadas", aparecem
também laboratório de ciências e estrutura para atender
alunos com necessidades especiais. Para os pesquisadores,
esse é o cenário considerado "mais próximo do ideal" - e
que é quase inexistente na rede educacional do País.
O mérito dessa pesquisa é mostrar que a precariedade
das escolas, tanto públicas quanto privadas, é um problema
generalizado. Girlene Ribeiro de Jesus, da Universidade
de Brasília, que participou do trabalho, disse que, por mais
que esperassem resultados ruins, os pesquisadores se
chocaram com a quantidade de escolas classificadas no
nível "elementar".
As diferenças regionais são ainda mais graves, Na
Região Norte, 71% das 24 mil escolas têm infraestrutura
apenas "elementar". No Nordeste, o porcentual é de
65,1%, enquanto no Sudeste é de 22,7%, no Sul é de 19,8%
e no Centro-Oeste, de 17,6%. Mesmo nas regiões mais
avançadas, a maioria das escolas encontra-se no nível
"básico". No Sudeste, apenas 19,8% são consideradas
"adequadas".
Há também diferenças significativas quando se
analisam as redes federal, estadual e municipal. No nível
federal, a maioria das escolas (62,5%) são "adequadas"
ou "avançadas". Já a maioria das escolas estaduais (51,3%)
está na categoria "elementar", enquanto 62,8% das escolas
municipais encontram-se nas categorias "elementar" e
"básica". É na esfera municipal, aliás, que o problema
parece mais acentuado, pois é nessa rede que se
concentram quase 100% das escolas
que estão mais próximas do piso da categoria
"elementar".
O estudo também confirma a percepção de que a
precariedade estrutural das escolas é um problema bem
mais acentuado no campo do que na cidade. Das escolas
da zona rural, 85,2% estão no nível "elementar", ante 18,3%
nas áreas urbanas. Mesmo as escolas particulares -- muitas
das quais são apenas caça-níqueis espalhados pelo País apresentam graves problemas. Nada menos que 72,3%
desses estabelecimentos têm infraestrutura apenas
"elementar" ou "básica".
No momento em que se discute qual porcentual do
PIB deve ser destinado à educação, é importante ter em
conta quais são as reais prioridades para que se alcance a
tão almejada revolução educacional - e é evidente que as
condições materiais das escolas desempenham nela um
papel crucial.
CORREIO BRAZILIENSE
03/06/13
00
CIDADES
EDUCAÇÃO » Tablet (ainda)
não turbina aprendizado
Adotado há um ano por pelo
menos três grandes escolas
particulares do DF, uso do
equipamento tem impacto tímido no
desempenho dos alunos. Para
especialistas, incorporar a tecnologia
é inevitável, mas é necessário
preparar professores e estudantes
» ANA POMPEU
A possibilidade de ter acesso ao
conhecimento e à informação a um
ou dois toques encanta jovens e
adultos. Com tablets à mão, é
possível organizar calendários, ver emails, entrar em redes sociais,
consultar a internet, ler e até jogar.
Mas justamente no ambiente em que
os primeiros conceitos científicos
são ensinados — as escolas —,
educadores e estudantes travam os
maiores debates sobre a
incorporação dos equipamentos. A
eficiência deles na rotina e a melhor
maneira de incorporá-los ainda são
motivo de pesquisa e estudo. A
unanimidade está na ideia de que a
tecnologia não pode mais ser
deixada longe da sala de aula.
Há um ano, pelo menos três
colégios particulares do Distrito
Federal tomaram a dianteira e
elaboraram formas diferentes de
inserir o computador portátil no
cotidiano escolar. Depois de um
período de testes e avaliações, a
conclusão da maioria das instituições
e de especialistas é de que os
equipamentos são recursos
importantes, mas ainda não
influenciam diretamente o
desempenho final dos estudantes.
Nesse caso, não seriam decisivos
para a aprendizagem. As escolas
públicas estão um passo atrás no uso
das tecnologias. A rede sob
responsabilidade do governo deu
início aos projetos de modernização
neste ano (leia na página 20).
No Colégio Marista, a direção
preferiu trabalhar com uma turma
piloto em 2012, no 1° ano do ensino
médio. Ao mesmo tempo, criou uma
forma de controle para comparar os
resultados. Durante o período
avaliado, os estudantes do primeiro
grupo receberam um tablet da escola.
O equipamento ficou sob os cuidados
dos adolescentes. Os professores
tinham uma porcentagem mínima de
uso do tablet a alcançar. O outro
grupo teve aulas com o mesmo corpo
docente, mas no modelo tradicional.
Motivação, resultados, notas,
disciplinas e outros aspectos
passaram a ser analisados com mais
cautela e reuniões periódicas foram
marcadas com pais, alunos e
professores. “Não houve impacto
negativo nem positivo no
desempenho dos alunos. As duas
turmas terminaram o ano com notas
similares”, avalia a diretora
educacional do colégio, Andrea
Studart.
Em 2013, a instituição decidiu
reorganizar o projeto. Agora, os
aparelhos ficam na instituição e
qualquer mestre interessado pode
levá-los para a sala de aula, seja qual
for a turma ou o ano. “O foco é o
professor e não mais o aluno, como
em 2012. Todos eles estão fazendo
cursos semipresenciais de letramento
digital, porque percebemos que toda
a responsabilidade recai sobre eles”,
explica Andrea. O Marista comprou
80 tablets para emprestar aos alunos.
Alguns usam os pessoais. No total,
a escola investiu R$ 900 mil desde
2011 com estrutura física,
equipamentos e capacitação dos
profissionais.
Professor de biologia do Marista,
Lúcio Bravin apoia o uso do
aparelho como um diferencial do livro
didático. Para isso, no entanto, o
docente precisa dispensar mais
tempo para cada aula. “Rotina,
disposição física da sala e
planejamento mudam muito. Você
tem que refazer aulas que estavam
prontas há tempos com outra
modelagem. Além disso, tem de
perceber quando o quadro é mais
eficiente”, diz.
Continua
Continuação
03/06/13
Em sociologia, o professor
Leandro Grass, da mesma escola,
encontra alternativas para apresentar
conteúdos com os dispositivos
móveis. “Exige mais criatividade,
mas, com ela, temos recursos para
usar em qualquer assunto. E
ganhamos tempo. Podemos fazer
pesquisas bibliográficas nas salas.”
Cesar Berçott ensina geografia no
Maristão. Para ele, o grande mérito
é o debate em ambiente escolar. “O
aluno checa um site e nos confronta.
Isso muda a forma como ele te vê e
é genial”, comemora.
Informação
A figura do professor muda diante
do discípulo, inclusive a relação entre
eles, aponta o diretor dos cursos de
Tecnologia da Informação da
Universidade Católica de Brasília
(UCB) e estudioso do uso de novas
tecnologias na educação Fernando
Goulart. “O educador precisa
transformar o cotidiano em sala de
aula e tornar o aluno parte do
processo. O conteúdo está
disponível na internet. Se o orientador
não for bem treinado, o estudante
termina sobrecarregado de
informação”, revela. Goulart defende
que recursos multimídias precisam
acrescentar algum tipo de emoção
para tornar o conteúdo atraente.
"Rotina, disposição física da sala
e planejamento mudam muito. Você
tem que refazer aulas que estavam
prontas há tempos com outra
modelagem. Além disso, tem de
perceber quando o quadro é mais
eficiente”
Lúcio Bravim, professor do
Marista, ao lado dos colegas
Leandro Grass e Cesar Berçott
Continua
Continuação
03/06/13
CORREIO BRAZILIENSE
03/06/13
00
Alunos mais interessados
Mais radical entre as escolas brasilienses, o Sigma trocou
os livros em papel pelo formato digital. Todos os primeiros
e os segundos anos do ensino médio usam o equipamento,
chegando a quase 800 estudantes. “Os alunos aumentaram
o volume de leitura e fizeram mais exercícios indicados pelos
professores. A avaliação inicial é muito positiva”, conta o
diretor pedagógico da unidade da Asa Norte, Iomar Pirangi
Soares.
O educador atribui a melhora no desempenho à
economia de tempo proporcionada pelos tablets. No
cálculo dele, a turma ganha cerca de 40% da hora/aula. Os
maiores problemas vividos na unidade, por enquanto, são
de ordem técnica. “É um aplicativo que nem todos
conseguem baixar, a bateria que acaba ou uma falha na
rede. Nada no aspecto pedagógico”, analisa.
O professor Eli Guimarães é coordenador de redação
do colégio. Ele também enfatiza como a dispersão foi menor
em relação ao que tinham imaginado anteriormente. “O
nosso material é embarcado no tablet e não está ligado à
internet. Com o celular, os alunos nos traziam mais
problemas do que agora, pois se interessam mais”, afirma.
Na questão do desempenho, também houve melhora nas
notas dos estudantes. Segundo a direção, foi identificada
uma mudança de postura por parte do professor, que passa
a estar mais próximo do aluno.
CIDADES
CORREIO BRAZILIENSE
03/06/13
CIDADES
00
É preciso aprender a usar
Experiência com tablet em
escola particular do DF ajuda o
aluno a assimilar melhor o conteúdo
de disciplinas consideradas difíceis,
como no caso da física. Mas
professores alertam que o bom uso
do aparelho depende de
conscientização por parte dos
estudantes
» ANA POMPEU
Um dos maiores argumentos
contra os tablets em sala de aula é a
perda de foco nas atividades.
Mesmo entre os alunos, as reações
com a novidade são variadas. Alguns
acham desnecessário. Outros, caro
demais. Uma parcela se encanta e
defende o recurso com afinco. A
questão levantada por professores
que trabalham diariamente com o
computador portátil nas escolas é que
a facilidade dos adolescentes com os
equipamentos não se traduz em
saber usá-los para os estudos.
A estudante Cecília Rauber, 17
anos, cursa o 3° ano no Colégio
Marista e teve acesso ao
equipamento apenas duas vezes neste
ano. Em uma delas, o professor
passou um trabalho em grupo e, no
entendimento da aluna, o aparelho
ajudou a envolver todos os
integrantes. “Nesse caso, tínhamos
uma situação-problema para
resolver. Todos participaram, o que
não acontece normalmente nesse tipo
de atividade”, contou. Cecília
acredita que, em vez de copiar a
matéria em um caderno, poderia usar
o tablet para prestar mais atenção ao
professor ao fotografar a lousa.
A facilidade de encontrar
distrações é um receio da estudante
Bruna Lyra, 15 anos. “Na escola,
tem bastante monitoramento nos
trabalhos com o tablet, mas, em casa,
eu fico bem distraída”, admite a
também aluna do Marista. A
adolescente considera ter à mão um
atrativo para o bem e para o mal.
Marina Pimenta, 15 anos, está no 2°
ano. Em 2012, fez parte do grupo
escolhido para as primeiras aulas
com tablet no Maristão. “Nós
poderíamos sair da turma, mas eu
gostei da ideia. Só fiquei preocupada
com as possibilidades de desviar a
atenção. E, realmente, vi vários
colegas acessando páginas, além das
indicadas pelos professores”, diz. O
colégio libera a internet para todos.
No Leonardo da Vinci, a inserção
dos computadores portáteis na rotina
escolar partiu da iniciativa de um
grupo de professores de física. Como
a disciplina é temida por muitos
alunos, em alguns casos, a
responsabilidade de inovar para
melhorar o desempenho caía sobre
os tutores. “Desenvolvemos um livro
digital com texto, imagem, áudio,
vídeo e computação gráfica.
Notamos que o aluno passou a
compreender em um dia um assunto
que levávamos até uma semana para
ensinar”, comparou o professor
Robert Cunha, idealizador do
projeto. A versão para o iPad foi
vendida por R$ 170. O estudante
também precisaria ter o próprio
aparelho.
No início, apenas 10% dos
alunos compraram o material. Mas
os resultados foram satisfatórios de
tal forma que a direção criou um
departamento a fim de elaborar os
livros didáticos em formato digital
para todas as disciplinas. “O
mercado editorial não acompanhou
essa evolução. Eles transformam o
papel em arquivo para dispositivo
móvel. Nós precisamos usar os
recursos disponíveis e harmonizá-los
para a aula”, sugere Cunha.
Além do treinamento para as
novas tecnologias, outra barreira
indicada pelo educador é o próprio
Continua
Continuação
aluno. “Eles são conectados, mas
usam celular e tablet como
ferramentas de comunicação, não de
estudo. Levá-los para a sala de aula
muda o perfil do instrumento”, alerta.
O Leonardo da Vinci espera ter livros
do modelo do professor para todas
as disciplinas até 2014.
O valor e a real funcionalidade do
equipamento, por exemplo, foram
motivo de resistência por parte da
estudante do 3° ano Isabela Akaishi
Padula, 17 anos, do Leonardo. “O
meu pai brigou comigo para comprar.
Eu achava que não valia a pena, era
caro”, disse. Vencida, ela garante que
usa o iPad para estudar. Baixou
aplicativos de provas do vestibular,
do Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) e de vários outros
com exercícios. “Hoje, eu aprendi a
usar. Estudo em qualquer lugar”,
revela.
Não é o caso do colega Gabriel
Maran, 17. “Eu ganhei um em 2010
e ficava nas redes sociais, vendo
sites. Muita gente não está
preparada. Eu mesmo já olhei rápido
o Facebook e voltei para a aula”,
reconhece. Mas Gabriel assegura
que aprende física mais fácil com a
nova tecnologia.
Segurança
Outra mudança que acompanha
o uso frequente do tablet é a atenção
com a segurança. O estudante do 3°
ano Gustavo Drummond, 17 anos,
03/06/13
redobrou os cuidados no caminho da
escola. Ele estuda na 914 Norte e
mora na 214. Quando carrega o
equipamento, prefere usar o ônibus.
Sem o aparelho na mochila, segue a
pé. “O número de alunos com o livro
digital pode ter sido pequeno por
medo de ser assaltado. É caro e
você coloca muita informação lá.
Não dá para descuidar por nenhum
momento”, explica. Quando possível,
os pais buscam o garoto no colégio
e sempre fazem recomendações de
segurança.
3 mil
Total de tablets entregues aos
professores de ensino médio das
escolas do governo
"Desenvolvemos um livro digital
com texto, imagem, áudio, vídeo e
computação gráfica. Notamos que o
aluno passou a compreender em um
dia um assunto que levávamos até
uma semana para ensinar”
Robert Cunha, professor de física
do Leonardo da Vinci, com os alunos
Gabriel (E), Isabela e Gustavo
Sucesso
O iPad foi o primeiro modelo de
tablet a ser apresentado no mercado,
lançado pela Apple. em janeiro de
2010. Em 2011, 400 mil aparelhos
foram adquiridos no país. No ano
passado, o número passou para 580
mil.
CORREIO BRAZILIENSE
03/06/13
00
CIDADES
Atraso na rede pública
Enquanto as escolas particulares
testam formas diferentes de usar os
tablets em sala de aula desde 2012,
a rede pública de ensino começou o
processo apenas neste ano. A
explicação mais forte está na
dimensão da estrutura da Secretaria
de Educação. Com 657 escolas, 40
mil professores e cerca de 488
alunos, universalizar a tecnologia é
mais complicado.
Na semana passada, o GDF
entregou 3 mil computadores
portáteis a professores do ensino
médio. A meta é entregar 5,4 mil até
2014. “Não temos como pedir que
os nossos estudantes comprem esse
material. E, pelo número de pessoas
atendidas, fica extremamente caro
para o Estado comprar tablets para
todos eles. Então, temos de trabalhar
com outra lógica”, argumenta o
subsecretário de Modernização e
Tecnologia da Secretaria de
Educação, Heber Maia.
A escolha pelo ensino médio se
justifica por ser a etapa com mais
problemas para melhorar o Índice de
Desenvolvimento da Educação
Básica (Ideb), mas a ideia é alcançar
todos os profissionais da rede. Por
enquanto, o aparelho está nas mãos
dos educadores, mas não mudou o
método educacional. “Ainda é muito
recente, e não tivemos orientação
sobre como usar”, diz o vice-diretor
do Centro de Ensino Médio
Integrado à Educação Profissional do
Gama, Luiz Cláudio Morais.
Segundo Maia, quem recebeu o
equipamento assinou um termo de
responsabilidade indicando que vai
fazer um curso de capacitação. Além
disso, orientações pedagógicas estão
disponíveis na internet.
JORNAL DE BRASÍLIA
03/06/13
00
BRASIL
JORNAL DE BRASÍLIA
03/06/13
00
MUNDO
UNICEF
Criança com deficiência
sofre com exclusão
Continua
Continuação
03/06/13
JORNAL DE BRASÍLIA
03/06/13
00
CIDADES
DESTAKjornal (DF)
03/06/13
00
BRASÍLIA
Agência BRASIL ECONÔMICO
http://www.brasileconomico.ig.com.br
03/06/2013
Pesquisa : Finep temR$ 30mi para universidades
A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCTI) divulgou edital com
chamada pública, no valor de R$ 30 milhões, para propostas de modernização e
recuperação da infraestrutura física de pesquisa em universidades estaduais e
municipais, exigindo igual quantia como contrapartida dos estados. O prazo para
envio de propostas é 31 de julho e a divulgação do resultado está prevista para
dezembro. ABr
05/06/13
00
PÁGINAS AMARELAS
Nuno Crato
Contra a demagogia na escola
Um dos grandes divulgadores
da ciência, o ministro da Educação de Portugal diz que uma turma entusiasta do politicamente
correto está deixando de lado o
conteúdo e o mérito
O matemático Nuno Crato, 61
anos, notabilizou-se por divulgar e
traduzir para o cotidiano os grandes
teoremas e equações — trabalho
que o fez merecedor do cobiçado
European Science Award, em 2008.
Há dois anos como ministro da Educação e da Ciência em Portugal, ele
comanda hoje uma radical reforma
no ensino que se baseia em metas,
avaliações e mérito. Mesmo antes,
Crato já era figura conhecida e muito discutida por seus colegas da educação. É do ministro o livro O
"Eduquês" em Discurso Direto: uma
Crítica da Pedagogia Romântica e
Construtivista — em que disseminou
o termo "eduquês” para se referir à
linguagem empolada e vazia adotada por uma ala de educadores. Lisboeta que adora o Brasil, Crato falou a VEJA em uma de suas visitas
ao país.
O senhor provocou debate
acirrado entre educadores do
mundo todo ao afirmar que a escola moderna é vítima do
“eduquês”. Por que o assunto
causou tanto barulho?
Minha crítica bate de frente com
uma linha muito celebrada nas es-
colas de hoje. É uma corrente que
dá ênfase excessiva às atitudes e à
formação cívica do aluno e deixa em
segundo plano o conhecimento propriamente dito. Pergunto: como investir em formação cívica se o estudante não consegue nem ler o jornal
? Vejo vários educadores por aí se
perdendo em uma linguagem hermética, dúbia e demagógica — que é o
mais puro “eduquês" — para falar
sobre seus objetivos difusos para a
sala de aula. Essa turma não só resgata como radicaliza teorias do passado para combater práticas na educação que já tiveram sua eficiência
amplamente atestada pela ciência.
Alguns me acusam de ser insensível
ao dizer tais coisas, mas sou um entusiasta do saber científico e
desprezá-lo, a meu ver, só prejudica
o ensino.
Quais boas práticas exatamente essa ala de educadores rejeita?
Muitos batem na tecla de que prova faz mal. Acham que ela submete
o aluno a um alto grau de stress, sem
necessidade. Vão aí na contramão
do que afirmam os grandes pesquisadores. Eles já sabem que, ao ser
questionada e posta a refletir sobre
um conteúdo, a criança consegue
absorvê-lo melhor, avançando no
conhecimento. Também a disciplina
é um ponto em que a condescendência e a leitura enviesada de velhas
teorias ofuscam a razão. Esse grupo
de educadores admite que o aluno
pode ser no máximo incentivado a
respeitar a ordem na sala de aula,
mas nunca, sob nenhuma hipótese,
ele deve ser forçado a fazer isso.
Nesse caso, não é preciso de muita
ciência para saber que o resultado
final será muita bagunça e pouco
aprendizado.
No Brasil, mais da metade das
escolas se define como
construtivista. Isso é bom ou
ruim?
Antes de tudo, é bom esclarecer
que, embora muita gente não saiba,
o construtivismo de hoje é uma interpretação livre da teoria sobre o
aprendizado lançada pelo psicólogo
Jean Piaget há um século. Para mim,
sua vertente mais radical é um equívoco pedagógico completo. Ela se
baseia na ideia de que o professor
não passa de um mero "facilitador"
do aprendizado — esse um termo
muito em voga na linha politicamente correta. Soa bonito, mas é prejudicial ao ensino por derrubar pilares
fundamentais.
Quais são esses pilares?
Um mestre tem o dever de transmitir a seus alunos os conteúdos nos
quais se graduou. E, sim, precisa ter
objetivos bem claros e definidos sobre o que vai ensinar. É ingênuo achar
que o estudante vai descobrir tudo
por si mesmo e ao seu ritmo, quando julgar interessante. Quem de
bom-senso tem dúvida de que, se a
criança puder esperar a hora que
Continua
05/06/13
Continuação
bem lhe apetecer para mergulhar num
assunto, talvez isso nunca aconteça?
A neurociência vem mapeando
os caminhos que a informação
percorre no cérebro de uma criança até ser assimilada. As escolas já começaram a fazer uso desse conhecimento?
Infelizmente, a grande maioria
passa ao largo dessas descobertas.
E isso as mantém congeladas no tempo, aferradas a pensamentos anacrônicos. A neurociência descobriu que
é possível acelerar, e muito, o aprendizado de uma criança à base de incentivos permanentes. Isso tromba
de frente com os principais postulados de Piaget. Ele acreditava que o
processo de retenção de conhecimentos se dava por etapas muito bem
definidas, divididas segundo as faixas etárias. Muitas escolas ainda se
fiam nisso e perdem grandes oportunidades de fazer seus alunos dispararem. Outro problema comum é
a demonização da decoreba por essas correntes que se autoproclamam
modernas. A memorização não é
descartável como querem fazer parecer.
Em
que
medida
memorização pode ser útil?
a
Embora o construtivismo ingênuo
pregue que a memorização prejudica a compreensão, os cientistas afirmam o contrário — que ela é essencial ao aprendizado. Isso porque tem
o papel de automatizar certos raciocínios, ajudando justamente a fazer
pensar melhor sobre questões mais
relevantes e complexas. Numa operação básica de soma ou de subtra-
ção, por exemplo, a criança não precisa a cada nova conta parar para
refletir sobre por que passa o número 1 para cá ou para lá. Seria um
desperdício de energia valiosa, que
pode ser bem despendida nos desafios que verdadeiramente interessam.
Afinal, o que deve ser memorizado por uma criança?
É importante decorar a tabuada,
o nome e a localização de certos rios
e cidades e as datas mais importantes no curso da história, ainda que
elas não sejam precisas. Não há
como o estudante não saber, no mínimo, que a Independência do Brasil aconteceu no século XIX ou que
Aristóteles viveu antes de César. Se
ele se recusa a ter esses marcos básicos na cabeça acha que pode sempre associar os fatos para chegar a
uma resposta, está perdido. A experiência deixa claro que uma pessoa
passa a fazer conexões cognitivas de
muito mais qualidade e valor quando já detém um bom repertório de
conhecimentos elementares. Não é
preciso relacioná-los com o universo todo o tempo inteiro.
Um pensamento muito em
voga nas escolas modernas é o de
que a criança só aprende de verdade aquilo de que ela realmente
gosta. 0 senhor concorda?
Esse é um pensamento limitado.
Veja o caso da leitura. Muitos educadores acham que para ler bem a
criança precisa, antes de qualquer
coisa, ser despertada para o gosto
pela literatura. Só assim ela lerá muito
e ganhará fluência, dizem. A
neurociência lança uma luz interes-
sante sobre essa questão, colocando-a exatamente ao avesso. Ela
mostra que ter fluência na
decodificação dos grafemas é crucial
para ler bem. Em resumo: tem de se
ler muito, mesmo sem gostar. O treino precisa ser permanente, exaustivo. Quanto mais automática se tomar a leitura, mais chances ela terá
de ser prazerosa.
O senhor se notabilizou pela
divulgação da matemática, a
mais temida e odiada de todas as
disciplinas escolares. Que caminhos sugere para tomá-la mais
atraente?
A fórmula que eu defendo não tem
nada de mirabolante. A maior pane
dos estudantes repudia a matemática porque não consegue ultrapassar
os obstáculos que ela vai colocando
pelo caminho. Eles não entendem
bem os conceitos, mas, ainda assim,
o professor faz com que avancem na
matéria. Assim, deficiências elementares acabam ficando para trás. É
uma bola de neve. Numa disciplina
como história, mesmo sem ter assimilado toda a narrativa sobre a colonização no Brasil, o aluno pode se
embrenhar pelo capítulo da Revolução Industrial na Inglaterra. Mas na
matemática não é possível progredir
sobre uma base frágil e cheia de lacunas. Nessa área, o conhecimento
é cumulativo — um depende do outro. Sem dominar a aritmética, não
dá para passar à trigonometria. Se
isso acontecer, e acontece muito, o
estudo vai se tomar improdutivo e
frustrante.
O que falta então para um
bom ensino da matemática?
Continua
Continuação
Organização do conteúdo por
parte dos professores e muito treino
do lado dos alunos. O ensino deve
ser progressivo, sem pular etapas e
sempre reforçando o mais básico. Se
for preciso, que se volte ao início.
As sociedades hoje frequentemente
não valorizam o conhecimento rigoroso, aquele que exige método, empenho e exercício para ser bem
sedimentado. Acham que as crianças vão acabar aprendendo matemática por osmose. Mas elas não aprendem. As avaliações costumam ser
impiedosas ao escancarar as deficiências. Na maioria das disciplinas, o
aluno pode chegar à resposta certa
por aproximação, mas na matemática é diferente. Não canso de repetir
que também os pais têm um papel
importante aí. No lugar de enfatizar
a aversão aos números, eles devem,
isto sim, reforçar a ideia de que a
matemática é essencial para o crescimento de qualquer pessoa em qualquer área. Também podem falar aos
filhos sobre a importância do esforço e do treino mental. Enfim, devem
ajudar a consolidar em casa o valor
e o hábito do estudo.
Currículos muito detalhados
costumam suscitar resistências
por parte de educadores que se
dizem tolhidos em sua liberdade
de ensinar. 0 senhor concorda?
Sempre aparece uma turma para
empunhar a bandeira da liberdade do
aluno, dizendo que ele deve aprender sem as amarras de um currículo.
Esse pessoal sustenta ainda que os
currículos são um limitador da aula
porque podam as asas do professor.
Felizmente, em Portugal, são uma
minoria. É verdade que, as vezes, o
05/06/13
diálogo fica duro com os sindicatos.
Reconheço seu papel de brigar por
melhorias para sua própria classe,
mas nem sempre eles têm colocado
as questões fundamentais e
inadiáveis do ensino à frente das outras que pouco interessam à sociedade.
modelo de gestão da educação do
século XXI ainda faz lembrar muito
o velho sistema soviético, em que um
comitê central concentra todas as
decisões. As escolas públicas precisam de mais autonomia para atrair
os melhores cérebros e avançar mais
rapidamente.
Que resultados a implantação
da política de reconhecer e premiar as melhores escolas tem alcançado em seu país?
A falta de dinheiro é sempre
citada como um fator que impede a melhoria do ensino. 0 senhor
concorda?
As boas escolas recebem mão de
obra extra de qualidade para que
ajudem a consolidar o ensino de alto
nível. Essas escolas conseguem assim dar reforço a alunos com mais
dificuldade e apoiar os que estão
prontos para evoluir em um patamar
mais avançado. Sim, os alunos são
diferentes entre si e por isso mesmo
devem ser tratados de forma diferenciada. A utopia do igualitarismo,
essa que muitos na educação defendem, só seria possível num único e
não desejável cenário — aquele em
que todos são medíocres. Esse é ainda um tabu. Dizer que uma criança
precisa de um apoio especial não significa que ela será excluída. Num
outro espectro, os ótimos alunos também não devem ser escondidos, mas,
sim, radicalmente incentivados a seguirem frente. É um fundamento básico da meritocracia, de eficiência
provada no setor privado.
Acho que nossos desafios dependem menos de dinheiro e mais de
objetivos claros, ambiciosos e de
organização. Para avançarmos, precisamos formar mais e mais engenheiros, médicos e cientistas. As crianças devem ser despertadas desde
cedo para o interesse por essas áreas. Não será à base do velho e empolado "eduquês" que conseguiremos dar o grande salto.
Que princípios empresariais
uma escola poderia adotar?
Toda escola pública deveria poder escolher quem contrata e quem
demite, com base no mérito. É o que
planejo para os próximos anos em
Portugal. Visto como um todo, o
Portugal ocupa apenas o 27°
lugar entre os 65 países do
ranking mundial de ensino da
OCDE Qual é a estratégia para
melhorar?
As escolas portuguesas sempre
se basearam em recomendações
pedagógicas mais gerais e amplas do
que propriamente em objetivos claros e organizados. Estou mexendo
justamente ai, ao sistematizar metas
de aprendizado ano a ano, matéria a
matéria, no detalhe. Ter metas para
a sala de aula é crucial para orientar
não só os professores como também
os próprios pais. Sim, porque, bem
informados sobre os objetivos da
escola, eles podem ir lá cobrar se um
determinado conteúdo foi mal dado
ou ficou para trás.
05/06/13
00
Brasília
Saber moderno
Depois de receberem um aumento salarial que os colocou no topo da remuneração da categoria no País, os professores
da rede pública de Brasília vão ganhar, até
as férias de julho, três mil tablets com conteúdo pedagógico para o ensino médio. O
MEC ajudou na compra.
RICARDO BOECHAT
05/06/13
00
COMPORTAMENTO
A escola de 2014, 2016 e 2018
Jogos, conteúdos colaborativos e aplicativos para celulares estão revolucionando as
salas de aula no Brasil, onde 72% dos estudantes já têm acesso à internet. Saiba
como a tecnologia vai transformar o modo de ensinar e aprender nos próximos anos
A REALIDADE DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO
por Rachel Costa
TRANSFORMAÇÃO
O colégio Santa Izildinha, em São
Paulo, foi um dos primeiros do País a adotar o Sistema UNO, que substitui livros e
cadernos por tablets. A professora
Cleonice Duarte já percebe a melhora nos
resultados de seus alunos
O acesso a computadores e celulares no ambiente escolar brasileiro experimentou uma vertiginosa
ampliação na última década. Em
2005, apenas 35,7% dos estudantes tinham acesso à internet, segundo dados do IBGE. Hoje, o índice
é de 72,6%. Essa invasão das
tecnologias da informação e da comunicação está revolucionando a
maneira de ensinar e aprender. Jogos, conteúdos colaborativos e redes sociais acadêmicas começam a
entrar nas salas de aula. Nos próximos cinco anos, a transformação
deve se disseminar a tal ponto que o
giz e o quadro negro parecerão peças de museu. Testes por SMS,
softwares sofisticados, em especial
para tablets e smartphones, e
aplicativos capazes de organizar as
informações de acordo com as características do estudante serão a
regra nas escolas brasileiras.
Continua
Continuação
É claro que apenas equipamentos e material didático atraente não
garantem a qualidade no ensino. “A
mudança definitiva passa por transformações profundas no modo de
agir, pensar e gerir a educação e as
escolas”, diz Maria Teresa Lugo, coordenadora de projetos do Instituto
Internacional de Planejamento da
Educação, órgão ligado à Unesco.
Uma nova tendência é a elaboração
conjunta de conhecimento. A
internet, além de facilitar o acesso a
conteúdos, simplifica a troca e a produção de informação e saber. “As
pessoas são naturalmente
colaborativas e exercícios pedagógicos que promovem o aprendizado
dessa forma são comprovadamente
benéficos”, avalia Adeline Meira, pesquisadora no Centro de Excelência
para o Ensino e Aprendizado da
Universidade do Texas. A ajuda mútua vale tanto para o aluno quanto
para os professores. “Não saberia
dar aula se tivesse que escrever tudo
sozinha”, admite a professora de
tecnologia educacional Verônica
Martins Carnata. Onde ela leciona,
no Colégio Dante Alighieri, em São
Paulo, existe uma rede para que os
docentes possam compartilhar seus
planos de ensino, mostrando aos
colegas o que deu certo na sala de
aula. “É como se eu pegasse um livro de receitas que só tem fórmulas
testadas por conhecidos”, diz
Carnata. “O mundo hoje é
colaborativo, e nós temos de nos
adaptar.”
Outro modelo interessante para
aproximar a comunidade escolar são
as redes sociais acadêmicas. Um
exemplo é a Koiné, que possui mais
de 12 mil usuários e interliga todas
as unidades de educação do Siste-
05/06/13
ma S (como Senai e Senac). A rede
serve de mural virtual para a comunicação entre a direção e os estudantes, de ponto de encontro entre
alunos de um mesmo curso e para a
realização de tarefas em conjunto.
“Às vezes temos uma dúvida e não
sabemos resolver entre os conhecidos, mas, se colocamos na Koiné,
fica mais fácil, porque um aluno do
mesmo curso que o nosso, mas de
outro Estado, pode saber e nos ajudar”, diz Thaís Dias, 19 anos, aluna
do Senai de São Gonçalo, no Rio
de Janeiro.
Muitas iniciativas têm surgido ao
redor do mundo com o desafio de
testar essas fronteiras entre
tecnologia e pedagogia. Uma delas,
que desembarcou no início do ano
no País, é o Sistema UNO, projeto
educativo do grupo espanhol
Santillana. Após atingir a marca de
420 escolas apenas no México e
dezenas de outras na Argentina, no
Equador, na Colômbia, em El Salvador e na Guatemala, o sistema mira
agora no maior mercado de educação da América Latina: o Brasil. As
mudanças na rotina já são evidentes
nos colégios que o adotaram: em vez
de cadernos e livros, os alunos pas-
sam a carregar tablets e o currículo
passou a ser bilíngue, com grande
ênfase no ensino do inglês. “O interesse dos estudantes é muito maior
com os novos recursos disponíveis”,
conta a professora Cleonice
Rodrigues de Sousa Duarte, do colégio Santa Izildinha, em São Paulo,
um dos pioneiros na adoção do Sistema UNO no Brasil.
As novas tecnologias também
modificam a relação entre mestre e
aluno, dando cada vez mais
protagonismo aos estudantes. “O
professor que sabe tudo não existe
mais”, diz a coordenadora do curso
de programação de jogos do Núcleo
de Estudos Avançados em Educação (Nave), do Rio de Janeiro, Érika
Pessoa. No colégio técnico, jovens
entre 15 e 17 anos são postos diante do desafio de transformar em
games algumas das matérias estudadas no ensino médio. “O que usei no
jogo, nunca mais esqueci”, conta Carolina Rosa, 17 anos, que desenvolveu um game sobre reciclagem de
materiais, conteúdo que viu nas aulas de biologia e agora será usado
por outros estudantes da rede pública do Rio. Um estudo da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp)
Continua
Continuação
mostra que o uso desse tipo de recurso melhorou em mais de 30% o
desempenho dos alunos nas aulas de
física e matemática. Quando analisados aqueles estudantes com pior
rendimento, a diferença na nota foi
ainda maior – o avanço foi de mais
de 50%. “Percebemos uma maior
motivação entre os alunos porque
eles conseguem ver que aquilo faz
mais parte do cotidiano. É mais fácil
falar de análise combinatória se ele
vê isso em um game, estampado em
combinações de roupas possíveis
para uma bonequinha”, exemplifica
o professor Sílvio Fiscarelli, um dos
responsáveis pelo estudo.
Os resultados positivos têm motivado cada vez mais o desenvolvimento de ferramentas e de conteúdos para as salas de aula. Uma das
áreas que têm estado de olho nas
oportunidades são as start-ups, pequenas empresas de tecnologia responsáveis por desenvolver grande
parte das inovações que chegam todos os dias ao mercado. Um bom
exemplo é a Geekie, uma plataforma para a personalização de
conteú-do criada por dois brasileiros que se conheceram nos Estados
Unidos. O foco atual está na preparação dos alunos para o Enem, mas
o objetivo dos criadores é, em um
futuro próximo, ampliar os usos da
plataforma no sistema de ensino.
“Usamos uma tecnologia parecida
com a usada pelo Google, pelo
Faceebok e pela Amazon, só que
dirigida à educação”, explica Claudio Sassaki, um dos fundadores da
Geekie. “Conforme a pessoa
interage com a plataforma, vai descobrindo qual é o seu perfil.”
Assim, toda vez que um aluno
responde a uma das questões do si-
05/06/13
mulado, o sistema define, de acordo
com os erros e acertos do usuário,
quais são as áreas em que ele tem
bom desempenho e quais precisam
de um reforço. O diagnóstico pode
ser usado tanto pelo próprio estudante quanto pelo professor, que tem
acesso aos resultados individuais e a
um panorama geral da classe.
Giovana Batista, ex-aluna do Colégio Bandeirantes, em São Paulo,
aproveitou as dicas do programa
para ajustar seus estudos e garantir
uma vaga na universidade. “O relatório me mostrou que eu precisava
estudar mais geometria. Dei mais
atenção à matéria e isso foi ótimo,
porque caíram várias questões no
vestibular”, conta. “Queremos agora ampliar o uso do software não
apenas para os simulados, mas para
exercícios em geral. Assim, à medida que o aluno for resolvendo as
questões referentes ao que tem de
estudar, o programa será capaz de
identificar seus pontos fracos e sugerir a que e como se dedicar”, diz
Eduardo Tambor, diretor de planejamento do Colégio Bandeirantes.
E há ainda muito mais por vir. Em
um experimento da Universidade de
Durham, no Reino Unido, as cartei-
ras tradicionais foram substituídas
por outras digitais, com telas sensíveis ao toque. “Elas têm a vantagem
de reunir os estudantes ao seu redor
para visualizar e trabalhar sobre um
mesmo conteúdo. Como não há o
obstáculo dos monitores, a capacidade de interação fica muito maior”,
disse à ISTOÉ a pesquisadora Emma
Mercier, uma das realizadoras do
projeto. Testadas por cerca de 100
alunos, as mesas digitais foram capazes de aumentar razoavelmente o
rendimento dos estudantes quando
comparados aos seus colegas que
realizaram atividades semelhantes no
cenário tradicional, com lápis e cadernos. No ambiente digital, a ampliação do repertório de expressões
numéricas foi de 43%, contra 16%
no grupo exposto à sala de aula convencional. “A tecnologia permite fazer coisas que são impossíveis sem
ela, como realizar simulações e compartilhar conteúdos produzidos pelo
estudante em uma tela vista por todos”, diz Emma. É a revolução acontecendo em tempo real.
Colaborou: Laura Daudén
Fotos: Kelsen Fernandes; Gabriel
Chiarastelli
Fotos: Masao Goto Filho /ag. Isto
É
Continua
Continuação
05/06/13
02/06/13
00
METRÓPOLE
Precisamos melhorar impacto das
pesquisas e número de patentes
ANÁLISE:Roberto Leal Lobo
Na última década, várias
organizações vêm divulgando
rankings internacionais de
universidades baseados em
diferentes indicadores, como a
produção científica relevante, o
porte da instituição e a presença
de professores e ex-alunos
agraciados com premiações, a
internacionalização ou até a
presença na mídia ou na web.
Alguns gestores universitários
consideram que os rankings não
significam muito porque são
baseados em critérios voltados aos
países líderes. No entanto, os
diferentes rankings podem dar
informações não só sobre o
reconhecimento internacional das
universidades como oferecer
instrumentos de análise para
identificar, estatisticamente e de
forma comparativa, as principais
características das universidades.
Nesses
rankings,
as
universidades brasileiras não
vinham
se
destacando
proporcionalmente a outros dados
brasileiros, como o PIB e a
produção científica. No entanto,
nota-se uma paulatina melhoria da
colocação de várias de nossas
universidades em praticamente
todos os rankings. Um exemplo é
a 6ª posição mundial alcançada
agora pela USP na área de Ciências
Agrárias no University Ranking by
Academic Performance (Urap). É
fato que precisamos melhorar o
impacto de nossas publicações e
transformar conhecimento em
inovações e patentes para
aumentar nossa competitividade
internacional. A análise dos
rankings pode ajudar.
É EX-REITOR DA USP,
PESQUISADOR E CONSULTOR
DE
ENSINO SUPERIOR
CORREIO BRAZILIENSE
02/06/13
OPINIÃO
00
Educação para o trabalho
» JOSÉ PASTORE
Professor de relações do
trabalho da Universidade de São
Paulo e membro da Academia
Paulista de Letras
Participei em 29 de maio de rico
seminário realizado em Brasília que
buscou encaminhar soluções para
tornar o ensino profissional mais
efetivo para os jovens, as empresas
e a sociedade em geral. O evento
foi patrocinado pela CNI/Senai e
pela Consultoria McKinsey, que
apresentou amplo diagnóstico do
quadro atual e sugestões de
mudanças.
No campo do ensino profissional,
há um sério desencontro:
professores e alunos acham que
ensinam e aprendem bem enquanto
empresários se queixam da má
qualificação dos jovens. Esse
desencontro não surpreendeu, pois
são inúmeros os casos em que as
vagas não são preenchidas por falta
de capacitação, assim como muitos
jovens lamentam não encontrar
trabalho, apesar de se sentirem
acima da média em termos de
formação escolar. Nesse ponto, me
perguntaram: de onde vem o
desencontro? O que as empresas
esperam dos candidatos? Alinhei
algumas respostas que compartilho
com os leitores.
O mercado de trabalho está
muito exigente. A empresa moderna
busca quem seja capaz de dar
respostas e não apenas quem ostenta
este ou aquele diploma. Nos
processos de recrutamento, conta
muito mais a capacidade de pensar
do que uma avalanche de
informações. Além disso, observase ter acabado a dicotomia entre
especialistas e generalistas, porque
a empresa moderna espera que o
candidato tenha experiência e bom
domínio da profissão, e que saiba
usar o bom senso, tenha lógica de
raciocínio, seja capaz de escrever
claramente e entender o que ouve e
lê, sabe trabalhar em grupo, domina
a linguagem da informática etc.
Parte desses atributos se aprende
na escola profissional ou nas
universidades, mas outra parte se
aprende na escola fundamental e
média. Esse é o caso da
aprendizagem da linguagem, da
matemática e das ciências que
ajudam na formação do bom senso
e da lógica de raciocínio. Além disso,
as empresas modernas esperam que
o candidato goste de fazer o que faz,
tenha zelo no uso das máquinas e
equipamentos e saiba respeitar os
colegas e os superiores.
A cada dia que passa aumenta a
importância dos fatores atitudinais
para a conquista e a preservação do
emprego, assim como para a
ascensão na carreira. As empresas
gostam quando os profissionais
entendem que, nos dias de hoje, o
seu emprego depende mais dos
consumidores do que dos gestores
e dos proprietários da firma em que
trabalham. Sim, porque, para manter
o emprego, é essencial atender o que
os consumidores desejam em matéria
de qualidade, preço, pontualidade,
atendimento na pós-venda. Tudo isso
requer competência profissional e
condutas adequadas, além de
demandar empenho, persistência e
paciência.
Para esse novo mundo do
trabalho, já não basta ser adestrado.
É preciso ser educado, e bem
educado, porque, no adestramento,
a pessoa aprende a fazer uma tarefa
que é executada pelo resto da vida.
As novas tecnologias, entretanto,
estão entrando na produção a uma
velocidade irreconhecível, o que
exige grande capacidade de
apreender continuamente, o que só
pode ser garantido pela educação
que transmite ao profissional os
atributos acima indicados.
Ou seja, vivemos um tempo em
que a história corre muito depressa.
Toda vez que isso ocorre, abrem-se
inúmeras situações para os seres
humanos se aproveitarem das novas
oportunidades. Ao mesmo tempo,
criam-se enormes desafios para as
escolas que seguem o ritmo
cadenciado que é próprio do ato de
ensinar e aprender.
Esses desafios vêm se
apresentando em todas as partes do
mundo, o que dirá em um país como
Continua
Continuação
02/06/13
o Brasil, que ainda carrega
deficiências profundas em todo
espectro educacional. Li uma
constatação espantosa no valioso
trabalho Anuário brasileiro da
educação básica 2013, segundo a
qual “apenas um quarto da
população brasileira é considerada
plenamente alfabetizada” (pág. 71).
Uma calamidade!
A nossa caminhada é longa e terá
de ser vencida com foco,
objetividade e estímulos adequados
para alunos, professores e gestores
da educação. No campo do ensino
profissional, quanto maior for o
entrosamento entre as empresas e as
escolas, maior será a probabilidade
de se motivar os estudantes, ter foco
e objetividade e valorizar os mestres
e os diretores de escolas na direção
correta. Essa foi uma das principais
conclusões do referido seminário.
CORREIO BRAZILIENSE
02/06/13
00
CIDADES - MARCAS
& NEGÓCIOS
IESB
Qualidade com reconhecimento internacional
ideia que deu origem à nova
campanha publicitária da faculdade.
Há 15 anos, uma das instituições
de ensino mais reconhecidas da
cidade começou a escrever sua
história. Hoje, com trabalhos
direcionados à formação de
cidadãos para o mundo, o Instituto
de Educação Superior de Brasília
(Iesb) conquistou reconhecimento
internacional como centro de
excelência em educação.
A diretora, Eda Coutinho
Barbosa Machado, conta que o
principal objetivo da instituição é
proporcionar um ensino de
excelência, em que “teoria e prática
caminham juntas” na formação de
profissionais capacitados e
completos para o mercado de
trabalho. De acordo com Eda, o
projeto inicial do Iesb foi escrito em
cima de dizeres do grande cientista
Albert Einstein: a imaginação é mais
importante que o conhecimento –
“Sempre fui a favor de um ensino
sem decoreba, em que os alunos
pudessem imaginar e correr atrás das
suas curiosidades para crescer com
interesse pelas áreas a serem
exercidas. A partir do estímulo à
imaginação, conseguimos explorar a
criatividade de cada indivíduo,
aumentando sua motivação pelo
aprendizado”, explicou a diretora.
Algumas medidas que ganham
destaque sobre esse novo método de
ensino são os laboratórios de última
geração, com 280 computadores da
Mac; e salas com ambientes de
estudo dispostas de forma
diferenciada, que auxiliam à
integração e ao trabalho em equipe;
incentivo ao intercâmbio; além de
projetos voluntários. “Todas as
iniciativas trazem soluções e
resultados importantes para a
formação do profissional que
inserimos no mercado de trabalho.
Afinal, estamos criando pessoas para
o mundo”, avaliou Eda.
Em ano de comemoração, a
diretora afirma que o Iesb traçou
focos de investimentos importantes
para o crescimento contínuo da
instituição, tanto em qualidade de
ensino quanto em estrutura para
atender bem os estudantes: “Este
ano, investimos cerca de R$ 7,5
milhões em compra de
computadores, modernização de
softwares importantes para os
cursos, atualização do centro de
tecnologia da informação (TI) e na
acessibilidade dos alunos à internet,
a fim de agilizar a conexão”, adiantou.
Outro investimento que chama a
atenção é a construção do terceiro
prédio no Iesb Centro-Oeste,
câmpus localizado em Ceilândia.
Hoje, com a oferta de 43 cursos
de graduação e 23 na pósgraduação, o Instituto de Educação
Superior de Brasília tem cerca de
13,5 mil alunos na graduação, 600
na pós, e 2 mil no ensino a distância.
"Todas as iniciativas trazem
soluções e resultados importantes
para a formação do profissional que
inserimos no mercado de trabalho.
Afinal, estamos criando pessoas para
o mundo"
Eda Coutinho Barbosa Machado,
diretora do Iesb
CORREIO BRAZILIENSE
02/06/13
00
REVISTA
DO CORREIO
Amar se aprende amando
Em dezembro passado, foi
aprovada no Congresso a chamada
Lei Berenice Piana, de autoria do
senador Paulo Paim (PT-RS),
batizada em homenagem a uma mãe
do Rio de Janeiro. A lei institui a
Política Nacional de Proteção dos
Direitos da Pessoa com Transtorno
do Espectro Autista, que garante,
entre outras coisas, que gestores
escolares sejam punidos caso
recusem um aluno com autismo em
sua instituição, e dá ainda
atendimento preferencial em bancos
e repartições públicas, além de
reserva de vagas em empresas com
mais de 100 funcionários.
Toda mãe ou pai quando chama
o filho espera que ele responda. Se
pede um abraço, quer receber. Se
dá a bochecha, quer de volta um
beijo. Carinho não é algo que se
ensina ou aprende. Ele vem. O
autismo, entretanto, é a exceção que
desafia a regra. Principalmente, nos
primeiros anos que se seguem ao
diagnóstico — quando a criança
ainda está recolhida em seu mundo
— e em casos de autismo severo, é
comum que a falta de contato visual,
a aversão ao contato físico, o
semblante sério, e o olhar um pouco
perdido deixem angustiados a
maioria dos pais e familiares.
“É agressivo”, resume Evellyn,
mãe de Stella, de 6 aninhos. “Imagina
você trazer um presente para o seu
filho e ele nem dar bola? O autismo
dá uma sugada nessa parte
Para Simone e Marco Antônio, pais de Vinícius, 5 anos, primeiro
veio a negação, depois a aceitação e, agora, é hora de agir
emocional, sim. Você dá e não
recebe. Começa a se perguntar se
um dia vai ouvir um ‘eu te amo’.
Parece besteira, mas para pai e mãe
é importante. No começo, a gente
precisou muito aprender a lidar com
isso”, complementa o escritor Paiva
Junior, pai de Giovani, 6 anos.
O comportamento um tanto
quanto distante e o isolamento quase
total foi o que ajudou a criar no
inconsciente das pessoas a ideia de
que a criança com autismo é fria e
desprovida de amor. “É mentira!”,
protesta Emanuelle Vieira, psicóloga
da Associação dos Amigos dos
Autistas do DF, respaldada pelas
mães da associação. Chegar a esse
consenso, no entanto, nem sempre é
um caminho fácil mesmo para pais,
e envolve principalmente aprender a
interpretar as sutilezas que a criança
— e o adulto — demonstram.
“Assim como deciframos olhares que
são capazes de nos destruir, como
os de zombaria e raiva, também
devemos ter a sensibilidade de
reconhecer o olhar carinhoso, de
amor e de reprovação de uma
criança autista. Pode ser difícil, mas,
ainda assim, é possível”, incentiva a
psicóloga.
Porém, conviver tão de perto
com o autismo envolve mais do que
apenas interpretar olhares. Passa
também por fazer escolhas, rever
planos, repensar a rotina. Há dois
anos, Evellyn decidiu largar o
emprego para se dedicar ao
acompanhamento da filha. Marisa já
Continua
Continuação
desistiu de um doutorado na
Alemanha para continuar cuidando
de perto de Marco Antônio e
Margareth, embora não tenha feito
nenhuma mudança radical na
carreira, nem se lembra qual foi a
última vez que saiu com a família para
almoçar em um restaurante por causa
dos olhares impacientes e do
comportamento do caçula, autista
clássico. O mesmo com Rosângela:
“A gente acaba vivendo em função
deles”.
Todos eles, pais e mães, são
defensores ferrenhos do amor que
sentem pelos filhos, dos seus direitos
e das opções que fizeram do
diagnóstico até aqui, mesmo entre
erros e acertos. Concordam, no
entanto, que amar o filho autista não
é o mesmo que amar o autismo.
Em março passado, o jornalista
Luiz Fernando Vianna, pai de um
menino autista de 12 anos, publicou
um artigo-desabafo sobre o assunto
em um jornal brasileiro. “O
politicamente correto também quer
nos forçar a dizer que é muito legal
ter filhos com determinados
problemas, como se isto nos tornasse
seres humanos melhores”, escreveu,
na época. O texto levantou alguma
polêmica. Mobilizou demonstrações
de empatia e de crítica, mas foi a
forma que ele encontrou de expor,
sem poesia nem floreios, o que é, de
fato, criar um filho autista. “Tem gente
que gosta de falar que é uma bênção,
uma missão… Não é uma bênção
não. É uma droga ver seu filho sofrer,
sofrer com ele. Acho um saco esse
discurso de ‘que bom que eu tenho
um filho autista’. É claro que eu
02/06/13
preferia não ter um filho autista. Mas
já que eu tenho, vamos lá, vamos
fazer o que podemos”, justifica
Vianna.
Não são poucas as mães que, em
algum momento da jornada, se
apegam à justificativa da “missão”
para minimizarem sua dor. Foi assim
com Rosângela, por exemplo. “Era
uma forma de eu me enganar. De
achar que eu tinha sido escolhida de
alguma forma, mas a verdade é que
eu não queria ter um filho autista. Eu
amo meu filho. Mas é difícil e ponto”,
frisa a mãe. “Quem ama autismo é
psicólogo, psiquiatra, gente que lida
com isso porque quer, porque
escolheu. Nós, mães, não
escolhemos. Somos obrigadas”, faz
coro Hélcia, mãe de Mário Alberto.
“Parece uma espécie de avesso
do luto”, reflete Vianna. “Primeiro,
você não aceita. Depois, troca o
discurso. Aceita tanto que passa a
fazer a linha ‘eu posso tudo, eu sou
o pai perfeito’. A verdade é que
existem momentos dificílimos. E acho
que assumir essa dificuldade é um
passo importante para você
conseguir lidar com isso”, continua.
As
estereotipias
são
comportamentos repetitivos
presentes em pessoas com autismo.
Podem envolver o movimento de
pêndulo com o tronco, girar em torno
de si mesmo, passar a mão por horas
em uma determinada textura ou
andar na ponta dos pés. Um dos mais
comuns é o chamado flapping de
mãos, em que o autista sacode as
mãozinhas na altura dos ombros.
Embora longa e exaustiva, a luta
pelo diagnóstico é apenas o começo
da jornada. É depois que vem a
culpa, o preconceito, a compreensão
das limitações e das possibilidades
da criança e, sobretudo, o exercício,
às vezes, sobre-humano de tentar
compreender o universo em que ela
vive e até onde ela pode ir. É nessa
fase que famílias se afastam,
casamentos terminam, o medo — de
sair na rua, do julgamento, do
tratamento, do futuro — aparece, e
que mães e pais mais frágeis caem
em depressão.
Quando soube do diagnóstico de
Stella, por exemplo, Evellyn e o
marido foram parar no consultório de
um psicanalista, o primeiro a propor
algum tipo de acompanhamento para
a menina. “Eu saí de lá arrasadíssima.
Pior do que eu saí do consultório
médico quando recebi o
diagnóstico”, lembra a mãe. “Porque
de um jeito muito sutil, ele deu a
entender que a culpa podia ser
minha.”
Se a psicanálise foi muito usada
no passado para a compreensão do
problema, ela é bem menos difundida
hoje entre os especialistas no assunto
do que a terapia comportamental,
por exemplo, focada muito mais em
dar independência à criança e
estimulá-la a interagir com o mundo
aqui fora do que propriamente
encontrar a origem do problema.
“Algumas mães já chegam aqui
culpadas”, diz o psicanalista Cássio
Zambellini, que há anos recebe
crianças com autismo em seu
consultório. “Mas a questão não é
mais procurar de quem é a culpa. É
Continua
Continuação
ajudar os pais a se envolverem no
tratamento. Se toda vez que eles
olharem para a criança, eles tiverem
esse sentimento de culpa, a coisa não
anda”, sublinha.
Controvérsias à parte, a culpa,
ainda hoje, persegue a maioria das
mães de crianças com autismo. “É
muito injusto”, protesta Marisa, mãe
de Marco Antônio e dona da história
que abre esta reportagem. “Você
espera um filho de um jeito, vem de
outro, você tem que fazer o luto de
um para aceitar o outro e você ainda
ser culpada?”, questiona. A visão da
mãe, aqui, se mistura com a da
psicóloga. “Eu entendo que Kanner
(Leo Kanner, o psiquiatra que
descreveu o distúrbio pela primeira
vez) tenha feito essa abordagem. Era
preciso que se começasse por algum
lugar e ele começou pela mãe. Mas
isso foi nos anos 1940, isso ficou para
trás e tem gente que não acorda”,
desabafa.
Superar a culpa foi a primeira
tarefa dos quatro meses de luto que
Evellyn se permitiu. Nesse tempo,
além das crises de choro, se obrigou
a estudar o transtorno da filha, a
compreender as suas opções e a
escolher o melhor caminho. Depois,
foi a hora de contar para a família.
“Eu só contei quando já tinha uma
solução”, explica. “A princípio, existe
sim um certo estranhamento. As
pessoas desacreditaram, disseram
que ela era saudável, que não tinha
nada. Mas depois entenderam e
aceitaram numa boa. Hoje, ela
recebe o maior carinho e apoio”,
conta.
02/06/13
A mesma sorte não teve Marisa.
O luto, para ela, envolveu não
apenas aceitar que o primogênito
talvez nunca pudesse ir a uma
faculdade, mas também perder o
marido, ver a família se afastar e
assumir o controle do tratamento e
da vida do filho sozinha. “Para minha
família, foi como se eu fosse uma das
sete pragas do Egito. Eu fui isolada.
O que me restou foi estudar para ver
o que eu podia fazer pelo meu filho”,
conta. Hoje, Marco Antônio tem
contato com o pai e passa alguns fins
de semana ao lado dele.
A vida de Rosângela Brida, mãe
de Leandro, de 32 anos, também lhe
guardou suas dificuldades. O marido
saiu de casa quando o menino tinha
12 anos e nunca mais deu notícias.
Os familiares também lhe deram as
costas. Quase 30 anos depois de
Rosângela, foi a vez do casal Simone
Regina Franco, 42 anos, e Marco
Antônio, de 44, escutarem de um
especialista que o filho Vinícius, de 5
anos, é autista. Vinícius é um menino
esperto, agitado. Corre de um lado
para o outro na sala, presta atenção
ao desenho na televisão, sorri, folheia
livros infantis e brinca normalmente.
Aos 3 aninhos, depois de mais de
um ano de desconfianças e consultas
médicas inconclusivas, foi finalmente
diagnosticado autista. Tanto tempo
depois das experiências de Marisa e
Rosângela, a confusão sentimental
que se segue ao momento em que o
médico dá a notícia à família não
mudou. Se a medicina ainda não
chegou a um medicamento específico
para autistas — embora existam
pesquisas avançadas nesse sentido
— que dirá para acudir os pais. Mas,
para Simone e Marco Antônio, não
foi a culpa o sentimento que veio em
seguida. Foi outro tipo de dor, que,
de acordo com os especialistas, é tão
comum quanto ela nessa fase inicial.
“Parece que existe uma reação
padrão. Primeiro, você nega. Pensa
‘não, não deve ser’. Em um segundo
momento, se revolta. E, finalmente,
vê que é isso aí mesmo e o que resta
é aceitar e agir”, conta o pai.
O momento de vivenciar a perda
do filho que até então se acreditava
ter, segundo os especialistas, é
normal. Só deixa de ser saudável
quando passa a atrapalhar o
tratamento da criança. “A gente diz
que o acompanhamento terapêutico
tem três pilares: a criança, a escola e
a família. Se a família não conseguir
recarregar as energias a tempo e ir
atrás do que é preciso, o tratamento
acaba comprometido” avalia a
psiquiatra Daniela Bordini, da
Unifesp, em São Paulo.
Superar a perda e começar a
olhar para frente demanda, muitas
vezes, mais do que vontade própria.
A forma como esse diagnóstico
chega até a família pode ser
determinante também para como a
família vai lidar com a notícia. “A
gente entende que a comunicação do
diagnóstico vai além da informação
de que a criança tem autismo”,
enfatiza a psicóloga da UFRGS
Márcia Semensato. “Envolve
também acompanhar o seu estado
emocional, o desenvolvimento da
compreensão do transtorno, as
dúvidas e expectativas sobre os
primeiros passos a seguir. Isso tende
Continua
Continuação
a reduzir a sensação de medo e
desamparo ao estimular o
protagonismo dos pais para lidar
com a situação”, complementa.
Falar e saber que o seu filho não
é o único autista do mundo também
ajuda a superar a dor. Nesse intuito,
muitos pais acabam se reunindo em
grupos de apoio. Para desabafar,
trocar informações profissionais,
experiências e lutar pelos direitos dos
filhos — este em especial um assunto
bastante sensível à maioria dos pais,
principalmente pela falta de políticas
públicas voltadas aos autistas no país.
Assim nasceu a Asteca, fundada nos
anos 1980 por Marisa com um grupo
de pais, a AMA país afora e, aqui
em Brasília, o Movimento Orgulho
Autista, criado em 2005 por Adriana
Alves e o marido, Fernando Cotta,
pais de um menino autista hoje com
15 anos.
Entre outras linhas de atuação,
desde a fundação do grupo, eles
promovem o Desabafo Autista, em
que, uma vez por mês, pais,
familiares e profissionais se reúnem
para colocarem seus fantasmas para
fora e aprenderem mais sobre o
transtorno. “A verdade é que nós,
mães, nunca estamos prontas para
isso. Ter um filho autista é um luto
que nunca acaba. Eu vejo vizinhos
meus que viram meu filho nascer virar
a cara para ele hoje. Meu filho não é
sobrinho, não é neto, não é afilhado.
Nós somos pais que resolvemos lutar
pelas nossas famílias. E é importante
estarmos unidos”, sublinha Adriana.
02/06/13
Meu filho, meu mundo
Nem sempre as lutas de pais
em favor dos seus filhos autistas se
restringem ao ambiente de casa, da
escola e dos consultórios onde são
atendidos. A de Barry e Samahria
Kaufman e de seu filho, Raun, por
exemplo, acabou ganhando o mundo
numa época em que pouco se falava
ou mesmo sabia sobre o autismo. Na
década de 1970, Raun foi
diagnosticado autista severo com QI
abaixo de 40. Os especialistas diziam
que ele estaria fadado a uma vida de
limitações. Ignorando as
perspectivas médicas, no entanto, o
casal saiu à procura de uma forma
que pudesse aproximá-los do filho
ao mesmo tempo em que o
aproximava do mundo aqui fora. Eles
abandonaram então as opções
tradicionais que a psicologia na
época oferecia e criaram uma
abordagem que enfatiza muito mais
a relação interpessoal do que outras
habilidades.
O método ficou conhecido
como Programa Son-Rise. Raun se
diz hoje “recuperado” e
completamente fora do espectro,
possibilidade vista com cautela ainda
por boa parte dos especialistas. Ele
acabou por se formar em uma
renomada universidade americana, a
Brown University, e ocupa
atualmente o cargo de CEO do
Autism Treatment Center of America,
em Massachussets, fundado por
seus pais. A história da família está
contada no filme Meu filho, meu
mundo, de 1979. Embora hoje o
método seja usado no mundo todo
por pais e mesmo profissionais com
algum sucesso, há uma nuvem de
críticas e ressalvas. Há
questionamentos com relação ao
diagnóstico inicial de Raun e mesmo
sobre a falta de estudos confiáveis
que comprovem a eficácia do
método.
A fotografia como ponte
O fotógrafo americano
Timothy Archibald se sentia
totalmente desconectado do Elijah,
que tem autismo, hoje com 11 anos.
Quando o menino tinha 5, ele
começou a fotografá-lo. O projeto,
chamado Echolilia, transformou-se
num livro com 43 fotos, no qual
registra alguns dos rituais repetitivos
do filho, conforme notícia publicada
no site da BBC. Segundo o pai, o
relacionamento entre os dois mudou
completamente depois. “O que
aconteceu com Eli e eu é que logo
conseguimos uma base, uma história
compartilhada. É como quando você
sofre um acidente de carro e só você
e seu amigo sobrevivem, é criado um
vínculo, ocorre uma aproximação”,
disse o fotógrafo à BBC. Mais
detalhes
no
site
www.timothyarchibald.com/blog
01/06/13
O PAÍS
00
Formulário do Enem causa
polêmica com domésticas
Mercadante disse que questão
deve ser modificada ano que vem,
em respeito aos trabalhadores da
categoria
Leonardo Vieira
Quase dois meses após a
aprovação da "PEC das
Domésticas", que ampliou os
direitos trabalhistas da categoria, um
questionário aplicado a candidatos
que vão prestar o Exame Nacional
do Ensino Médio (Enem) em 2013
causou desconforto entre alunos,
empregadas do ramo e o Ministério
da Educação (MEC).
No ato da inscrição, o estudante
precisou responder a um questionário
socieconômico com itens como a
renda mensal familiar e a
escolaridade. No entanto, na questão
número 7, o candidato deveria
assinalar, entre os itens na lista, quais
ele possui dentro de casa. Na
relação, entre objetos como TV,
geladeira, aspirador de pó,
automóvel e computador, surge a
opção "empregada mensalista". O
questionário foi criticado pela
categoria:
- É um ato discriminatório porque
nos reduziu a objetos. Não foi
perguntado se na casa do aluno havia
pais, filhos ou parentes. Só objetos
e as empregadas domésticas. E o
mais grave é que quem elaborou
esse questionário são pessoas
ligadas à educação, formadores de
opinião. Será que eles ensinam para
as crianças que empregadas são
utensílios domésticos? - questiona a
presidente da Federação Nacional
das Trabalhadoras Domésticas
(Fenatrad), Creuza de Oliveira.
De acordo com a a socióloga
Maria Salete Souza de Amorim,
coordenadora do curso de Ciências
Sociais da Universidade Federal da
Bahia (UFBA), a pergunta deveria
ter sido feita separadamente:
Em nota, o MEC reconheceu o
problema. O órgão afirmou que "o
ministro Aloizio Mercadante
considera que a forma da pergunta
que se refere a trabalhadores
domésticos é inadequada e vai
encaminhar a necessidade de sua
adequação, preservando os critérios
técnicos, mas garantindo
integralmente o respeito àqueles
trabalhadores".
Já para o professor da
Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (USP)
Ocimar Munhoz Alavarse,
especialista em questionários
socieconômicos, a polêmica seria
"exagerada". Mas a pergunta
específica sobre empregada
mensalista poderia ter sido feita
separadamente.
O questionário é aplicado aos
candidatos do Enem desde 1998. O
formulário serve para o MEC avaliar
o perfil de quem faz o exame e, com
base nisso, elaborar políticas
educacionais.
- Dentre os itens apresentados,
constam apenas objetos, portanto,
não cabe o item "empregada
mensalista". Seria necessário criar
outra questão com outras categorias
para inserir essa informação observou.
- Não necessariamente isso deve
ser interpretado como posse de bens
materiais, pois "ter em sua casa"
pode assumir no português a ideia
de haver, existir, encontrar etc...
Como hipótese, poderia haver a
alternativa "empregada mensalista"
separadamente - sugere Alavarse.
01/06/13
00
O PAÍS
Ciência sem Fronteiras abre
inscrições na terça-feira
Bolsas são para Canadá,
Alemanha, Estados Unidos, Hungria
e Japão
Na próxima terça-feira, o Ciência
sem Fronteiras, programa do
governo federal que concede bolsas
de estudo no exterior, irá abrir novas
chamadas para graduação-sanduíche
(parte do curso no exterior) no
Canadá, Alemanha, Estados
Unidos, Hungria e Japão. As
inscrições ficarão abertas entre os
dias 4 de junho e 8 de julho. Os
contemplados iniciarão suas
atividades nas universidades
estrangeiras a partir de meados de
2014.
De acordo com o Ministério da
Educação (MEC), os interessados
deverão possuir nota do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem)
igual ou acima de 600 pontos, em
teste realizado após 2009, para
participar da seleção. É necessário
também ser brasileiro ou
naturalizado, estar regularmente
matriculado em instituição de ensino
superior no Brasil em cursos
relacionados às áreas prioritárias do
programa, possuir bom desempenho
acadêmico e ter concluído 20% do
currículo previsto para o curso de
graduação. As orientações e os
editais serão publicados no site do
programa no dia 4.
Conforme dados divulgados pela
pasta, o Ciência sem Fronteiras já
concedeu 41.133 bolsas desde sua
criação, em 2011. Desse total,
23.851 alunos foram aprovados em
2012, sendo que mais de 19 mil já
estão no exterior. Outros 17.282
candidatos foram selecionados em
chamadas este ano.
OPORTUNIDADE de trabalho
O MEC lançou em abril o Portal
Estágios e Empregos, que
disponibiliza ofertas no mercado de
trabalho para estudantes bolsistas e
ex-bolsistas do Ciência sem
Fronteiras. O objetivo do portal é
promover aproximação do meio
empresarial com o ambiente de
pesquisa e desenvolvimento e com
a própria comunidade científica e
tecnológica. Além disso, a intenção
é que os estudantes trabalhem na
área em que estudam e que atuem
em pesquisa e inovação.
01/06/13
00
COTIDANO
MEC retira menção a domésticas do Enem
Inscrição da prova tem
pergunta 'inadequada'
bens como rádio e automóvel, o
item "empregada mensalista".
DE BRASÍLIA
O Ministério da Educação vai
mudar trecho de questionário
preenchido pelos candidatos no
Enem (Exame Nacional do Ensino
Médio), para alterar uma
referência a empregadas
domésticas que considerou
"inadequada".
O modelo foi alvo de críticas.
"Do jeito como está, parece que
somos coisa da casa", diz Creuza
Oliveira, presidente da Federação
Nacional das Trabalhadoras
Domésticas. Para ela, a inclusão
foi um "erro grosseiro", resultado
de um estereótipo que persiste. "É
preciso começar a mudar isso.
Somos uma categoria que contribui
para a economia."
A inscrição na prova, pela
internet, inclui uma série de
perguntas sobre o perfil
socioeconômico do candidato,
como a escolaridade dos pais, o
rendimento mensal da família e o
que possui em casa.
É justamente esse último ponto
que será alterado. Entre as opções
da pergunta "Você tem em sua
residência?" estavam, além de
Por meio da assessoria de
imprensa, o ministro Aloizio
Mercadante disse que a forma da
pergunta é "inadequada". A nota
informa que será sugerida uma
alteração "preservando os
critérios técnicos, mas garantindo
integralmente o respeito àqueles
trabalhadores".
01/06/13
00
RIBEIRÃO
PARAGUAI
Alunos brasileiros participam
de Olimpíada de Matemática
DE SÃO PAULO - A 24ª
Olimpíada de Matemática do Cone
Sul, que será realizada em
Assunção, no Paraguai, terá a
participação de uma equipe
brasileira.
O evento acontece entre os dias
4 e 5 de junho.
Cada país será representado
por uma equipe de até quatro
estudantes com, no máximo, 16
anos. Além do Brasil, haverá
equipes da Argentina, Bolívia,
Chile, Equador, Paraguai, Peru e
Uruguai. Dois professores também
integram os grupos.
Os
brasileiros
foram
selecionados no ano passado
durante a 34ª Olimpíada Brasileira
de Matemática. A equipe é
composta por dois estudantes de
São Paulo, um do Rio de Janeiro
e outro de Pernambuco.
A última vez que o Brasil
ganhou a competição foi em 2010.
01/06/13
00
NOTAS &
INFORMAÇÕES
O sucesso e os desafios da USP
Trabalhando com base numa metodologia semelhante
à que tem sido utilizada nas avaliações das melhores
universidades do mundo, a QS Quacquarelli Symonds
University Ranking - uma organização internacional de
consultoria especializada em avaliação de desempenho
educacional - voltou a apontar a USP como a primeira
classificada na lista das melhores instituições de ensino
superior da América Latina.
Foi a terceira vez que a USP apareceu na liderança,
desde que a QS Quacquarelli Symonds começou a
elaborar um ranking específico para a América Latina,
em 2011. O primeiro estudo da série comparou o
desempenho de 200 instituições da região - e, da lista
das 20 melhores, 8 eram brasileiras.
O último levantamento comparou 300 instituições - e,
da lista das 10 melhores, 4 são brasileiras. Todas elas
são públicas. Duas - as Universidades Federais do Rio
de Janeiro (UFRJ) e de Minas Gerais (UFMG) - são
mantidas pela União. As outras 2 - USP e Unicamp - são
mantidas pelo governo do Estado de São Paulo. A terceira
universidade paulista - a Unesp - aparece em 11º lugar
no ranking da QS Quacquarelli Symonds.
Nas três edições desse levantamento, a USP se
destacou em todos os indicadores, tais como proporção
de professores com doutorado, produtividade de
pesquisa do corpo docente, número de matrículas,
reputação acadêmica, reputação entre empregadores,
número de publicações por professor, citações em
estudos científicos, impacto das pesquisas na internet e
investimento em tecnologia.
O levantamento também avalia o desempenho dos
cursos de graduação e pós-graduação, linhas de pesquisa,
recursos didáticos, métodos pedagógicos e
empregabilidade dos formandos. Aponta, ainda, o grau
de internacionalização das universidades latino-americanas
e os investimentos que elas têm feito para se converterem
em instituições de qualidade mundialmente reconhecida.
Com cerca de 58,3 mil graduandos, 13,8 mil
mestrandos e 14,6 mil doutorandos, além de 16,8 mil
funcionários técnico-administrativos, a USP oferece 249
cursos de graduação e mantém 239 programas de pósgraduação. Seu vestibular é um dos mais concorridos
do País - em 2012, inscreveram-se 146,8 mil candidatos.
No ano passado, a USP graduou cerca de 7,6 mil
estudantes e concedeu 3,5 mil títulos de mestrado e 2,4
mil de doutorado. O corpo docente é integrado por 5,8
mil professores, dos quais 99% têm o título de doutor e
86,6% trabalham no regime de dedicação integral e
exclusiva. Com quatro campi na cidade de São Paulo e
seis no interior, a USP mantém uma editora, um jornal,
revistas, museus, hospitais universitário e veterinário, um
cinema, uma orquestra e 56,9 mil - microcomputadores
operando em rede. Suas bibliotecas, que foram
frequentadas por 2,8 milhões de usuários no ano passado,
têm um acervo de 16,3 milhões de volumes.
As colocações da USP, Unicamp, UFRJ e UFMG
no ranking da QS Quacquarelli Symonds se devem à
prioridade que foi dada à pesquisa acadêmica e científica
nos últimos anos, por meio do aumento do número de
bolsas de estudo e financiamento de projetos, por
agências nacionais e internacionais de fomento. Mas,
apesar desse sucesso, as quatro universidades brasileiras
melhor colocadas no ranking da América Latina ainda
estão muito distantes das melhores instituições de ensino
americanas e europeias - especialmente nos campos das
ciências exatas e de tecnologia. Segundo os
coordenadores do levantamento, todas elas apresentam
"um baixo desempenho em nível global".
Em outras palavras, em matéria de ensino superior o
Brasil é apenas um líder de caráter regional, diz o
responsável pela pesquisa, Ben Stowe. O País não tem
nenhuma universidade entre as 100 melhores do mundo
no ranking global da QS Quacquarelli Symonds. A USP,
a melhor universidade colocada nessa pesquisa, ficou
na 139ª posição. Nossas universidades ainda têm de
percorrer um longo caminho para chegar a uma boa
colocação no ranking mundial.
CORREIO BRAZILIENSE
01/06/13
00
BRASIL
ENEM » Doméstica vira
objeto em ficha do Enem
GRASIELLE CASTRO
Mesmo encerradas, as inscrições
para o Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) continuam e render
polêmicas. Após ataque de hacker
e instabilidade no sistema, o
formulário online para se candidatar
ao exame causou desconforto entre
as empregadas domésticas. O
questionário apresentava uma
relação de bens e perguntava
quantos dos objetos listados o
estudante tem em casa — como
geladeira, telefone fixo e aparelho de
tevê. Nessa lista de opções, porém,
estava o item empregados
domésticos mensalistas. O Ministério
da Educação reconheceu que a
pergunta estava inserida de forma
inadequada e que será corrigida na
próxima edição do certame.
A presidente da Federação
Nacional das Trabalhadoras
Domésticas (Fenatrad), Creuza
Maria de Oliveira, ficou perplexa
com o questionário. “Trabalhador é
um ser humano, não é utensílio da
casa, do patrão, da patroa, e merece
ser tratado com respeito. A pergunta
foi feita como se o trabalhador fosse
algo da casa, mas não é. Essa foi uma
falha muito grande”, criticou. Para a
sindicalista, a pasta errou e
discriminou a categoria. “A gente
espera que o ministério altere a
pergunta e se retrate diante da
categoria de mais de 8 milhões de
trabalhadores,
formada,
majoritariamente, por mulheres
negras.”
Em nota, o ministro Aloizio
Mercadante considerou que a forma
como o questionário aborda a
questão dos trabalhadores
domésticos “é inadequada” e que vai
“encaminhar a necessidade de sua
adequação, preservando os critérios
técnicos, mas garantindo
integralmente o respeito àqueles
trabalhadores”. A assessoria do
MEC explicou que o questionário é
formulado com base no Critério de
Classificação Econômica Brasil
(CCEB), da Associação Brasileira
de Empresas de Pesquisa (Abep),
com o objetivo de mensurar a
situação dos participantes por classes
sociais. A pasta salienta que o
formulário tem o objetivo de ajudar
a identificar fatores para entender e
explicar o desempenho dos inscritos
no Enem.
JORNAL DE BRASÍLIA
01/06/13
00
CIDADES
Continua
01/06/13
Continuação
31/05/13
00
EDUCAÇÃO
Programa começa
a inscrever estudantes
Agora são 37 vagas para alunos
da rede pública
O candidato deve ter excelente
desempenho escolar, como nas
finalistas da edição de 2007 do
programa
A partir de hoje, estarão abertas
as inscrições para a 12ª edição do
programa Jovens Embaixadores,
intercâmbio estudantil realizado pela
Missão dos Estados Unidos da
América no Brasil. Para 2014 o
programa ampliou o número de
participantes de 35 para 37
estudantes brasileiros no Ensino
Médio da rede pública.
Os candidatos devem ter
excelente desempenho escolar,
trabalho voluntário, boa fluência em
inglês, perfil de liderança e que
queiram representar o Brasil como
jovens embaixadores em um
intercâmbio de três semanas, em
janeiro de 2014, nos Estados
Unidos. As inscrições para o
programa serão efetuadas somente
on-line e estarão disponíveis de 31
de maio a 9 de agosto no Facebook
dos Jovens Embaixadores.
O
programa
Jovens
Embaixadores foi criado pela
Embaixada dos Estados Unidos no
Brasil em 2003 e, desde 2012,
passou a ser reproduzido em todos
os países do continente americano.
Desde o lançamento, 331 jovens
brasileiros da rede pública já
participaram do programa. Mais
informações sobre o programa, visite
o site: Jovens Embaixadores.
Valor Econômico
31/05/13
00
ESPECIAL
No Norte, vagas ficam
abertas em concursos e nas faculdades
Por Juliana Elias | De São Paulo
O problema da falta de médicos
é claramente mais grave no
Nordeste e no Norte, onde, em
muitos casos, o único acesso à
comunidade se dá por vários dias de
barco. Mas também nas periferias
das grandes cidades, o dilema está
presente.
Os prefeitos estimaram, em
documento ao governo, em 13 mil o
déficit de médicos no país, número
que não foi preenchido com a
criação de incentivos para a atração
de profissionais nessas áreas com o
Programa de Valorização da Atenção
Básica (Provab), que oferece bolsa
mensal de R$ 8 mil e bônus de 10%
nos créditos dados pela residência
aos médicos participantes do
programa.
Da criação do programa ano
passado até agora foram
preenchidas cerca de 3.800 dessas
vagas, segundo o Ministério da
Saúde. O valor é substancialmente
mais alto do que a média de R$
1.946,91 de salário bruto mensal
pago pelas secretarias estaduais de
saúde por uma jornada de 20 horas
semanais, segundo dados da
Federação Nacional dos Médicos
(Fenam). Mesmo na saúde privada,
a média de salário inicial é de cerca
de R$ 4 mil pela mesma jornada,
segundo Geraldo Ferreira,
presidente da Fenam.
"Claro que isso é uma média
aproximada para a saúde básica, que
chega próximo ao Provab em uma
jornada de 40 horas", afirma Ferreira.
Na residência, a bolsa paga pelo
governo é de R$ 2.861 brutos.
"Você pode ficar um ou dois anos
no programa e abater os créditos
quando for fazer residência. Mas
vemos isso com alguma reserva
porque a saúde familiar precisaria de
um profissional com qualificação
maior", afirma Ferreira.
No Amazonas, o último concurso
público realizado pelo Estado para
a chamada de especialistas para o
interior, em 2010, ofereceu 134
vagas com salários que iam de R$
7,2 mil a R$ 19,8 mil, escalonados
de acordo com a distância do
município. De todos os classificados,
apenas 29 apareceram para assinar
os contratos. Destes, cinco já
deixaram a função desde então.
Com 1,1 médico para cada 1.000
habitantes, o Amazonas sustenta o
sexto pior índice demográfico do
país. "E este número mostra apenas
parte do déficit", diz o secretário
estadual da Saúde, Wilson Alecrim.
"O Amazonas tem cerca de 3,5 mil
médicos, mas apenas 450 deles
moram e atuam fora de Manaus." Em
municípios distantes como Maués,
Jutaí e Envira, a rede pública conta
com apenas um clínico-geral ou um
recém-formado para toda a
população, e nenhum especialista,
como obstetra, anestesista ou
cirurgião. Em Maués, por exemplo,
a 258 quilômetros de Manaus, só se
chega em 45 minutos de avião ou 18
horas de barco.
A falta de atendimento, contudo,
não é exclusividade das regiões mais
remotas. "Em Porto Alegre, se eu
abro vagas para o Hospital das
Clínicas ou para o Hospital
Conceição, que são nossos
melhores, vão surgir centenas de
interessados. Mas eu tenho
dificuldades em colocar médicos nos
bairros mais carentes, como Vila
Bom Jesus, Vila Cruzeiro e Lomba
dos Pinheiros, que nem são tão
distantes do centro", conta José
Fortunati, prefeito da capital gaúcha
e presidente da Frente Nacional dos
Prefeitos.
" Porto Alegre é a quinta melhor
colocada, dos mais de 5.500
municípios do Brasil, no IDSUS, e
ainda assim nós também temos
dificuldades", acrescentou,
referindo-se ao índice do Sistema
Único de Saúde que classifica as
melhores estruturas da rede pública.
Clóvis Boufleur, gestor de
relações institucionais da Pastoral da
Criança, ONG que dá apoio médico
a gestantes e crianças em
comunidades carentes de todo o país,
pontua não só a falta de estrutura "há a total ausência de serviços como
pediatria e obstetrícia em vários
municípios", diz - como as
consequências para a saúde que isso
Continua
Continuação
provoca. "O maior índice de
mortalidade infantil do país hoje é
relacionado ao primeiro mês de vida,
e o maior índice de mortalidade
materna é relacionado ao parto, o
que é consequência da falta de
atendimento. Muitas gestantes não
têm acesso ao pré-natal ou têm que
se deslocar grandes distâncias para
isso", diz Boufleur.
Em 2010, segundo os dados mais
recentes da Organização Mundial da
Saúde (OMS), 90,2% das gestantes
brasileiras recebiam consultas
constantes durante a gravidez, mas
dados da Pastoral da Criança
mostram que em algumas locais os
níveis são africanos: no Acre o prénatal cai para 75,4% das mulheres
e, no Amapá, para 78,3%. Entre as
piores cidades, estão a fluminense
31/05/13
Valença (79,4%), a amazonense São
Gabriel da Cachoeira (51,7%) e a
pernambucana Palmares (50,9%) índices similares ao de países como
Butão (77,3%); Guiné (50,3%) e
Senegal (50%).
O país já descentralizou a
formação de médicos, mas essa não
é, necessariamente, uma solução. Na
Universidade Federal do Acre
(Ufac), que oferece desde 2002 o
único curso de medicina do Estado,
são abertas anualmente 40 vagas,
número que deve ser ampliado para
80 a partir de 2014. Ainda assim, no
vestibular de 2011 para 2012,
nenhum dos 40 aprovados apareceu
para fazer matrícula. "As 40 vagas
foram preenchidas, mas só depois de
muitas chamadas", contou o
coordenador do curso, Thor Dantas.
Foram oito chamadas no total. "Os
primeiros colocados passam em
outras universidades e são de outro
Estado e preferem não vir." De
qualquer forma, Dantas entende que,
embora ainda incipiente, a criação e
ampliação de vagas locais tanto para
a graduação quanto para a
especialização de médicos é um
primeiro empurrão para fixar os
profissionais na própria região. "O
perfil do médico acriano já está
mudando. A maior parte dos
especialistas registrados hoje pelo
CRM já é de médicos que fizeram
residência no Estado. Antes não
tinha", contou o coordenador, que se
formou em medicina pela
Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). "Eu que optei por
voltar depois." (Colaborou Rodrigo
Pedroso)
JORNAL DE BRASÍLIA
31/05/13
00
CIDADES
30/05/13
PODER
00
Politização torna coleta
de provas mais difícil, diz PF
Para agentes, embate entre
governo federal e oposição atrasa
identificação dos boatos sobre o
Bolsa Família
Pagamento antecipado pode ter
estimulado corrida aos bancos, mas
ação de telemarketing ainda é alvo
de apuração
MATHEUS LEITÃO DE
BRASÍLIA
Estimulada por integrantes do
governo e da oposição, a tentativa
de politizar a investigação sobre o
boato do encerramento do Bolsa
Família tem prejudicado as
apurações e diligências feitas por
agentes da Polícia Federal.
Segundo a Folha apurou, os
investigadores reclamam, nos
bastidores, que o viés político do
caso dificulta sobretudo a coleta de
provas nos Estados em que houve
saques em massa dos benefícios.
Instaurado para descobrir a
origem da falsa notícia sobre o fim
do programa social, que teria
causado corrida aos bancos nos dias
18 e 19, o inquérito corre em meio
ao acirramento das declarações de
conteúdo político.
Já no primeiro dia a ministra
Maria do Rosário (Direitos
Humanos) escreveu no Twitter que
os boatos "devem" ter sido criados
pela oposição ao governo Dilma
Rousseff.
A
declaração,
embora
posteriormente suavizada pela
ministra, tem gerado reações da
oposição, que chegou a pressionar
o diretor-geral da PF, Leandro
Daiello, para uma solução rápida do
caso.
estão sendo ouvidos em seguida.
VAIVÉM
Para a corporação, outro fator
que causou constrangimento dentro
da polícia foi o desencontro de
informações prestadas pela Caixa
Econômica Federal publicamente e
para os investigadores.
LINHA CRUZADA
Investigadores que apuram o
envolvimento de empresa de
telemarketing no Rio no caso
descobriram que um beneficiário do
programa recebeu a suposta ligação
em uma linha telefônica ilegal,
procedente do morro do Alemão.
Em um primeiro momento, o
banco estatal afirmou que liberou o
benefício após a confusão provocada
pelos boatos, e com o único objetivo
de aplacar o pânico dos beneficiários
do programa.
Após a Folha revelar que uma
dona de casa em Fortaleza (CE)
conseguiu retirar seu pagamento de
forma antecipada, o banco admitiu
que houve mudança no calendário de
repasses na véspera da eclosão das
falsas notícias em 13 Estados do país.
VARREDURA
A PF tem ouvido pessoas
atendidas pelo programa em todos
os Estados em que houve corrida às
agências da Caixa. As regiões Norte
e Nordeste são os principais focos
da investigação policial por ora.
Os depoimentos têm levado os
investigadores a nomes novos, que
Os agentes esperam chegar à
origem da boataria para tentar
responder se a difusão da falsa
notícia ocorreu de forma articulada
ou não.
A linha irregular cria obstáculos
para o rastreamento da chamada.
Para os investigadores, a suspeita é
que o telefonema tenha sido feito por
uma central comunitária instalada na
favela.
Uma operadora informou à PF
que o telefone do beneficiário
cadastrado no Bolsa Família estava
desconectado por falta de
pagamento.
O fato de a Caixa ter adiantado
o dinheiro é uma das linhas de
investigação.
De acordo com os policiais, a
antecipação não explica a boataria
generalizada, mas pode ter gerado
"ilações" a respeito. Para a PF, o
adiantamento do pagamento pela
Caixa pode ter contribuído para o
aumento dos saques.
30/05/13
00
METRÓPOLE
Alunos surdos ainda
não têm material
Davi Lira
Mesmo após quatro meses do
início do ano letivo, professores e
pais de alunos das Escolas
Municipais de Educação Bilíngue
para Surdos (Emebs) de São Paulo
reclamam que os livros didáticos
adaptados ao ensino da Língua
Brasileiras de Sinais (Libras) ainda
não foram entregues. Eles
questionam também a falta de
material escolar, como lápis e
cadernos, de uniformes e de mais
profissionais intérpretes nessas salas
de aula especiais.
Tidas como modelo no País, as
seis Emebs distribuídas na capital
atendem mais de mil alunos. Todos
eles possuem algum tipo de
deficiência auditiva.
"Deveriam ser entregues de
quatro a cinco livros de matérias
como Português em Libras, além de
lápis, borracha e cadernos para
escrever e desenhar, mas eles ainda
não chegaram", afirma a dona de
casa Fátima de Lourdes, de 40 anos.
Seu filho Lucas Campos, de 11, está
matriculado no 4.º ano do ensino
fundamental da Escola Hellen Kelier,
na zona sul da cidade.
De acordo com duas professoras
da Emebs Mário Pereira Bicudo, na
zona norte, que preferiram não se
identificar, a falta do material didático
na escola compromete o trabalho
pedagógico. "As Emebs precisam
melhorar muito."
Outra mãe, que também optou
pelo anonimato, critica a demora na
entrega do uniforme escolar para seu
filho de 4 anos que estuda na Emebs
Neusa Bas-setto, localizada na
Mooca.
A falta de professores titulares e
substitutos foi um dos problemas
identificados pelo Ministério Público
de São Paulo, que investiga as
Emebs.
Consultada, a Secretaria
Municipal de Educação nega a falta
de livros didáticos. "Todo o material
específico foi entregue em outubro
de 2012 e é válido para os anos
2013 e 2014", informou em nota.
Sobre uniformes, a secretaria
disse que o atraso foi "ocasionado
pela não aquisição por parte da
gestão anterior, havendo necessidade
de nova contratação". A respeito da
falta de professores titulares, afirmou
que o quadro está completo, "com
exceção da Emebs Hellen Keller,
onde está em processo a contratação
de dois professores intérpretes". Em
relação aos substitutos, a informação
é que contratações "estão em curso".
30/05/13
00
Direito precisa ser
colocado em prática
Análise: Ana Claudia Balieiro Lodi
Discussões sobre a educação de surdos
em nosso País não são novas, Hoje,
diferentes sentidos são atribuídos ao
conceito de educação bilingue e, na maioria
das vezes, eles se distanciam de seus
principais princípios.
É direito da criança surda iniciar sua
escolarização desde a educação infantil.
Além disso, alunos surdos precisam
conviver com seus pares. É importante
também a presença de professores e
funcionários surdos na própria escola.
O processo de ensino-aprendizagem
leve ser feito por profissionais bilíngues, que
usam Língua Brasileira de Sinais (Libras)
como idioma de interlocução - e não o
português. Os conteúdos escolares devem
contemplar aspectos socioculturais dos
surdos, o que não é observado nos livros
utilizados.
A educação bilíngue para surdos é um
direito que precisa ser reconhecido também
na prática.
É professora da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da USP em Ribeirão
METRÓPOLE
CORREIO BRAZILIENSE
30/05/13
00
Prestígio
Com a indicação pela presidente Dilma
Rousseff do jurista Luís Roberto Barroso
para ocupar a 11ª cadeira do Supremo
Tribunal Federal, a Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ), cujo curso de
direito é considerado um dos melhores do
país, passou a contar com três de seus
docentes no Supremo Tribunal Federal. Os
demais são o presidente da Corte, Joaquim
Barbosa, e o ministro Luiz Fux.
BRASÍLIA-DF
CORREIO BRAZILIENSE
30/05/13
00
MEC abrirá as inscrições
para bolsas no exterior
As inscrições do programa
Ciência sem Fronteiras serão
abertas na próxima terça-feira, para
graduação sanduíche no Canadá, na
Alemanha, nos Estados Unidos, na
Hungria e no Japão. Os candidatos
têm até 8 de julho para preencher
os formulários. Os selecionados
devem embarcar em meados do ano
que vem. Para participar é preciso
ter nota superior a 600 pontos no
Enem. Desde 2011, o programa já
concedeu 41,1 mil bolsas de estudo
no exterior.
BRASIL
CORREIO BRAZILIENSE
30/05/13
00
Era melhor…
UnB, 21ª universidade latinoamericana no ranking da QS
Quacquarelli Symonds University
da América Latina. Nona
universidade brasileira. Não é
muito pouco para uma
universidade que nasceu como
símbolo revolucionário na
educação planetária? O que
fizeram da velha e modernizadora
Universidade de Brasília? O que
diria Darcy Ribeiro e sua equipe,
com quem veio para criar um novo
conceito de ensino universitário?
Confesso que, felizmente, vivi
outra UnB, já distante.
» A.C. Scartezini,
Lago Sul
SR. REDATOR
CORREIO BRAZILIENSE
30/05/13
00
CIDADES
ENTREVISTA IVAN CAMARGO »
"Temos potencial para ser a melhor"
Reitor comemora a ascensão
da Universidade de Brasília na
América Latina, mas quer mais
» THAÍS PARANHOS
Não há nenhum motivo para que
a Universidade de Brasília não esteja
entre as cinco melhores do Brasil,
porque a universidade são as
cabeças, e nós temos uma matériaprima muito boa%u201D
Há pouco mais de seis meses no
cargo de reitor, Ivan Camargo
comemora as primeiras conquistas
da Universidade de Brasília (UnB).
A instituição de ensino superior subiu
quatro posições na avaliação da QS
Quacquarelli Symonds University
Rankings da América Latina. Teve a
segunda maior evolução entre as 30
melhores do ano passado: agora, é
a oitava colocada no Brasil e a quinta
entre as federais. Em entrevista ao
Correio, Camargo atribuiu a
ascensão ao trabalho de alunos e
professores, mas garante que a UnB
tem potencial para ser a número 1
do país.
Mais importante do que ocupar
a 21ª lugar no ranking da América
Latina, Camargo destacou a
mudança de rumo da UnB. Em 2012,
conforme lembrou, a instituição de
ensino superior da capital federal
havia perdido posições. “Nós
estávamos caindo e agora estamos
subindo. E insisto que temos potencial
muito grande para continuar
crescendo”, avaliou o reitor.
Ivan falou também da
necessidade de buscar recursos para
o desenvolvimento de pesquisas, um
dos itens levados em conta na
avaliação da qualidade da instituição.
“Temos trabalhado bastante com as
fundações de apoio, trazendo
dinheiro para a universidade. A nossa
postura é muito clara de captação de
recursos para pesquisa e inovação
dentro da UnB”, disse. O reitor
destacou ainda o sucesso da política
de cotas e a importância do sistema
para os estudantes.
Em um balanço do trabalho à
frente da reitoria, Camargo indicou
que a nova gestão conseguiu acabar
com contratos irregulares da
universidade e diminuir os gastos para
evitar um novo deficit nas contas.
“Temos conseguido desenvolver
aqueles três grandes eixos que a
gente determinou: conformidade
legal, austeridade orçamentária e
união”, comentou. “A Universidade
de Brasília tem potencial para, não
nos quatro anos que faltam, mas nos
próximos 10, ser a melhor
universidade do Brasil”, completou.
A que o senhor atribui a
melhora da UnB no ranking de
universidades da América
Latina?
Basicamente, ao trabalho dos
professores e dos estudantes. Nós
estamos muito satisfeitos de ter dado
esse resultado, mas ainda achamos
que temos potencial para melhorar
muito. E a gente consegue melhorar
com trabalho em sala de aula,
cobrando dos estudantes a
participação e a presença, e também
na gestão. Então, é a gestão e o
trabalho acadêmico.
Quais são os pontos positivos
que o senhor destaca dessa
avaliação?
O que acho muito positivo é a
mudança. Nós estávamos caindo e,
agora, estamos subindo. E insisto que
nós temos potencial muito grande
para continuar crescendo. Não há
nenhum motivo para que a
Universidade de Brasília não esteja
entre as cinco melhores do Brasil. A
universidade são as cabeças, e nós
temos uma matéria-prima muito boa,
tanto nos nossos estudantes quanto
no quadro de docentes que, como o
ranking indicou, é formado por
doutores muito bem formados e
engajados com esse processo de
formação.
O ranking aponta alguns itens
que precisam ser melhorados,
como o desempenho dos
estudantes, a reputação do
Continua
Continuação
empregador e a citação de
artigos. Como o senhor avalia
esses três pontos na UnB?
O aluno vai ter o desempenho de
acordo com a cobrança. A gente
precisa cobrar mais desse estudante,
porque, se ele for instigado, vai nos
dar uma resposta. Quanto à citação
de artigos, isso vai vir naturalmente.
Um dos pontos fortes da
Universidade de Brasília é a
pesquisa, nós temos um centro de
excelência e outros em formação
que, em breve, vão dar muito
resultado. Você começa a produzir
e começa a ser citado. A gente
precisa melhorar nesse ponto, fazer
uma publicação, evidentemente, que
tenha interesse nacional e
internacional. Acho que tudo isso
caminha junto.
Há uma demanda muito grande
em toda vaga para professor que a
gente abre na UnB. O trabalho do
professor universitário é muito
reconhecido e valorizado. Não
acredito que temos restrição na
contratação, ao contrário, é muito
atrativa a carreira de professor
universitário no Brasil.
O que a universidade pode
fazer para dar mais destaque aos
trabalhos científicos
desenvolvidos?
A gente tem que incentivar a
comunicação interna e a externa.
Temos que usar a nossa Secretaria
de Comunicação, primeiro, para
captar esses grandes trabalhos que
têm impacto social. Há muito
trabalho que é difícil dar divulgação,
porque é de ponta, tem todo um
simbolismo matemático. Mas eu
tenho confiança de que a nossa
30/05/13
Secretaria de Comunicação vai
conseguir garimpar o nosso
pesquisador, o trabalho do estudante
e do professor, e levar ao público,
que é do que a gente precisa.
Em relação aos investimentos,
como a atual gestão tem
tratado essa questão?
Um ponto fundamental é que,
para fazer pesquisa, você precisa de
muito dinheiro. O governo financia o
ensino universitário no Brasil, nossa
universidade é publica. Mas isso não
impede, não restringe a nossa
pesquisa. A nossa postura tem sido
na busca de recursos privados para
incentivar a pesquisa. Temos
trabalhado bastante isso com as
fundações de apoio, trazendo
dinheiro para a universidade e
construindo laboratórios para que
façam pesquisas mais engajadas com
a necessidade da sociedade. Nossa
postura é muito clara de captação de
recursos para pesquisa e inovação.
As cotas sociais podem
influenciar positiva
ou negativamente no
desempenho da universidade?
Nós temos experiência antiga de
cotas raciais, implementadas há 10
anos, mas isso ainda será tratado nos
números. Montamos uma comissão
para avaliar e apresentar um balanço
ao nosso Conselho de Ensino,
Pesquisa e Extensão (Cepe). A
sensação que tenho é de uma
avaliação muito positiva. Falo dos
meus alunos negros da engenharia
elétrica. Eles têm destaque muito
positivo, são os melhores da turma.
Posso induzir que esse processo de
cotas sociais seja um sucesso
também na Universidade de Brasília.
O estudante pode entrar com um
desempenho menor no vestibular,
mas, sem dúvida, essa diferença
rapidamente se equilibra, e o
estudante vai conseguir se destacar.
Como fica a situação do
Programa de Apoio a Planos
de Reestruturação e Expansão
das Universidade Federais
(Reuni)?
A UnB vai cumprir as metas?
Acredita que o programa ajudou
a universidade a melhorar a
posição no ranking?
O nosso empenho é muito firme
na consolidação dessa expansão.
Ninguém imaginou que a gente
conseguiria fazer uma expansão com
o trabalho que tem nos dado. A
gestão pública tem muita dificuldade
para contratar, então, a gente
começa pelo estudante, é mais fácil
trazer o aluno. Agora, as obras de
infraestrutura demoram um
pouquinho mais por causa de toda a
dificuldade da coisa pública, a
fiscalização, entre outros. De fato,
está um pouco atrasada a questão
da infraestrutura em relação à
chegada de alunos. No entanto,
tivemos aumento significativo no
quadro de professores e
conseguimos
fazer
boas
contratações. A base para a
consolidação do Reuni já está feita.
E tenho muita esperança que, com
esse degrau que considero
indispensável, o Brasil abra ainda
mais vagas na universidade pública.
Com a equipe que chegou e com
esses novos estudantes, tenho muita
confiança de que vamos continuar
crescendo nesses rankings todos.
Continua
30/05/13
Continuação
Qual o balanço que o senhor
faz dos seis primeiros meses
à frente da reitoria?
O balanço, na minha avaliação, é
muito positivo. Temos conseguido
desenvolver aqueles três grandes
eixos que a gente determinou nessa
nova gestão: conformidade legal,
austeridade orçamentária e união.
Estamos revertendo algumas coisas
que não estavam em conformidade
legal, estamos fazendo um controle
muito sério e comprometido do
orçamento, gastando menos e
mostrando isso ao Ministério da
Educação (MEC) para diminuir o
nosso deficit. E estamos conseguindo
com respeito ao Cepe, com muita
discussão e diálogo, com a
participação de diversos grupos da
universidade. Estamos conseguindo
avanços significativos e espero que
nos próximos anos a gente melhore
ainda muito mais. Como disse, a
Universidade de Brasília tem
potencial para, não nos quatro anos
que faltam, mas nos próximos 10, ser
a melhor universidade do Brasil.
Perfil
Formado pela UnB
A trajetória de Ivan Camargo até
se tornar reitor da Universidade de
Brasília começou há 35 anos, quando
ele ingressou no curso de engenharia
elétrica da UnB. Ao completar a
graduação, fez mestrado e doutorado
no Institut National Politechnique de
Grenoble, na França, e, em 1989,
voltou à instituição brasiliense para
dar aulas. Tornou-se chefe de
departamento e coordenou o
Programa de Pós-Graduação. Entre
1999 e 2002, participou da
assessoria da direção da Agência
Nacional de Energia Elétrica e
enfrentou a crise energética do país
durante o governo de Fernando
Henrique Cardoso (PSDB), entre
1994 e 2002.
Voltou à UnB e, em 2003, foi
nomeado decano de Graduação da
gestão de Lauro Mohry. No cargo,
iniciou o sistema online de matrícula
e avaliação dos professores, e
instituiu as cotas para negros. Em
2011, foi convidado pelo governo de
Dilma Rousseff (PT) para ocupar a
Superintendência de Regulação dos
Serviços de Distribuição.
No ano passado, Camargo
concorreu, ao lado da vice-reitora,
Sônia Bao, ao cargo máximo da
Universidade de Brasília. À frente da
Chapa 86: A UnB somos nós, ele foi
para o segundo turno das eleições
com a professora do Instituto de
Geociências Márcia Abrahão. O
reitor foi escolhido com 51,4% dos
votos da comunidade acadêmica.
29/05/13
00
EDUCAÇÃO
Professores ainda
poderão pegar tablets
Quem não recebeu o
equipamento deve se informar nas
regionais
A meta do GDF é beneficiar
todos os professores do ensino
médio
A Gerência de Administração
Patrimonial da Secretaria de
Educação fará um cronograma de
entrega dos tablets para os
professores que não foram retirá-los
durante a cerimônia realizada no
Centro de Convenções. As datas e
horários de entrega serão divulgados
no site da Secretaria de Educação
(SEDF) e para as Coordenações
Regionais de Ensino.
Na última terça-feira, o Governo
do Distrito Federal distribuiu 3 mil
tablets para professores dos Centros
de Ensino Médio da rede pública. A
ação faz parte de um programa da
Secretaria de Educação que visa
modernizar as unidades educacionais
públicas do DF.
A SEDF, em parceria com
Ministério da Educação, fez o
investimento de cerca de R$ 840 mil
na compra dos equipamentos. A
meta do GDF é beneficiar todos os
professores do ensino médio e
ampliar o programa de modernização
das escolas públicas, que inclui
também a aquisição de lousas digitais
e acesso à internet banda larga para
as unidades educacionais.
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