Expectativa é de que pecuaristas aumentem produção de olho no mercado internacional. A
alta do preço internacional do leite está estimulando as indústrias brasileiras a exportarem e,
com isso, os pecuaristas a aumentarem a produção.
Analistas de mercado, produtores e indústrias acreditam que "agora é a vez do leite" e que o
País deve se tornar um grande participante deste mercado em um cenário inferior a uma
década.
Apenas nos últimos dois anos, as empresas investiram R$ 300 milhões na ampliação de seus
parques fabris, de olho nos embarques de leite em pó - cujo preço internacional subiu mais de
100% em 12 meses. A expectativa agora é que o pecuarista volte a injetar recursos na
atividade, e as taxas de crescimento de produção cheguem a 5% ao ano. Em 2006 foi de 2,3%.
"Houve uma mudança no cenário internacional nos últimos 12 meses. Isso pode favorecer ao
único país que tem condições de aumentar a produção. Portanto, é a hora do Brasil no
mercado internacional", diz Rodrigo Alvim, presidente da Comissão Nacional de Pecuária de
Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Segundo ele, o consumo de
lácteos aumentará 4% ao ano até 2050 no mundo e os grandes produtores não têm condições
de ampliar suas produções (ver box abaixo). No primeiro semestre, o Brasil exportou 10%
mais, somando US$ 80,6 milhões e voltando a ser superavitário (US$ 11,85 milhões).
De olho neste futuro promissor, o pecuarista Mário Camilo, de Uberlândia (MG) investiu R$
300 mil na ampliação de seu plantel, além da genética. Com isso, dobrará a produção de leite.
"O mercado de leite é promissor para os próximos três a quatro anos", diz Camilo. Apesar de
vender para uma cooperativa que não exporta, ele diz que ganha indiretamente, pois com "o
mercado internacional favorável, o interno fica desabastecido". Camilo afirma que os preços
atuais do leite permitem o investimento, uma vez que as margens estão em 30%.
A analista Cristiane de Paula Turco, da Scot Consultoria, diz que como as empresas têm
aproveitado o momento para exportar, está havendo uma disputa entre elas. "Tem laticínio
‘roubando’ produtor do outro". Segundo ela, são as exportadoras que pagam mais. Enquanto a
média nacional gira em torno de R$ 0,62 o litro, estas empresas pagam até R$ 0,90. "As
empresas que exportam estão atrás de leite para cumprir os contratos", atesta Eduardo
Dessimoni, da Comissão de Leite da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais
(Faemg).
O preço ao produtor em junho - R$ 0,62 pelo litro - foi 28% superior ao praticado um ano
antes, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São
Paulo (Cepea/USP). Neste mesmo período, as cotações internacionais do leite em pó subiram
110% - US$ 5 mil a tonelada. "Ainda não se sabe até quando os valores de hoje são um novo
patamar ou uma bolha. Mas o certo é que os US$ 2 mil históricos não se sustentam", diz
Marcelo Pereira de Carvalho, diretor da Agripoint. De acordo com ele, apesar de hoje o Brasil
ter 1% do mercado mundial, em até uma década será um grande player porque, entre outras
coisas, a União Européia terá de atender ao seu mercado interno, devido ao corte nos
subsídios.
Gustavo Beduschi, pesquisador do Cepea/USP, não acredita em uma bolha, já que além da
queda da oferta há o aumento do consumo. "Não é pontual", avalia. Opinião semelhante tem
Darlan Palharini, secretário-executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Rio Grande
do Sul (Sindilat). "Em médio e longo prazo este mercado continua aquecido". O estado recebeu
investimentos de R$ 120 milhões nos últimos dois anos.
Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil
23/07/2007
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