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Cachoeira do Sul, 15 e 16 de março de 2003
Eduardo Florence
SÁBADO
N
A estética da culinária
os dias de hoje a experiência da
gastronomia recuperou nos meios
intelectuais a capacidade do homem de desenvolver o sentido do
paladar e da multiplicidade cultural que nos
envolve. Longe dos tempos que falar em boa
mesa e boa comida era algo frívolo e sofisticado, no qual os intelectuais transmitiam
uma idéia monástica que viver e comer como
ascetas, a pão, água e feijão, fossem as reais
estéticas que nos levariam a crescer no intelecto e no posicionamento. Hoje, embora possamos ter objetivos políticos e conceituais
diversos, gostar e aguçar o sentido e o prazer
do olfato e do paladar com um bom jantar de
sábado, copiando receitas de livros europeus,
tornou-se algo superior no desenvolvimento
dos sentidos assim como escutar uma boa
música, ler um bom livro e olhar um quadro.
Os odores de uma boa comida nos envolvem, sabores que se transformam na boca,
alguns explodem o gosto, outros aveludam a
gustação. O ritual de ter uma salada, uma
entrada, um prato principal e uma sobremesa, e estes com temperos diversos que incluem pimenta, coentro, basílico, vinho, tomilho e afins, pode resultar num prazer e crescimento nos conceitos que nos façam celebrar e apreciar o experimentalismo estético
de poder usufruir todos os prazeres do mundo.
Apreciar pratos diferentes e sofisticados
antes de denegrir a comida simples do dia-adia pode até a ressaltar. Espinhaço de ovelha
com pirão como existe na fazenda das
Casuarinas é um prazer indescritível. O feijão
temperado e a mandioca com carne de panela
de ferro, farofa temperada, pastel, carne de sol
com cebola frita são inesquecíveis.
No entanto, crescer com os risotos, carnes com molhos diversos, saladas com muitos verdes temperados com aceto balsâmico
e mel, tomates adocicados como os do Rocco
com queijo de búfalo e manjericão, descobrir
os cogumelos frescos e a cada estação os
produtos típicos do momento é como aprender a escutar Beethoven. Toda boa comida
necessita um vinho, desnecessário é a linguagem pedante dos enólogos. E os espumantes gaúchos são a melhor tradução de
algo estimulante e de futuro. Também é
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fundamental o óleo de oliva. Múltiplos e
variados. Hoje existem com limão macerado,
com manjericão, com alecrim. Saudáveis e
indispensáveis.
Cozinha é uma forma de arte. Arte e
sabedoria e memória. Tem os seus segredos,
seja no trivial, como no sofisticado. No trivial, como Robuchon, o maior cozinheiro do
mundo, que, revelando parte de como conseguir fazer o melhor purê de batatas, afirmou
que o segredo é ter todas as batatas, ao serem
cozidas, o mesmo tamanho. O resto é conseqüência. Sofisticado. Porque nem só de pão
vive o homem. Sem esquecer a fome zero, é
claro. Nem a rigidez do nosso orçamento a
cada dia mais devorado por impostos e mais
impostos.
Árvores
Tipuanas são
árvores originadas do
norte da Argentina e
sul da Bolívia. Foram
plantadas em Cachoeira na década de 1920,
substituindo velhas
paineiras que existiam
na Praça José Bonifácio. São o que sobrou
de uma bela praça que
foi se destruindo aos
poucos e hoje apenas
serve para táxis,
estacionamento,
camelôs e donos de
trailers.
Notícias do
condado
No condado de
São João existe
uma assembléia
cameral.
Com muitas
exceções, o que a
ressalta é a venda
da consciência
que acontece
todas as manhãs.
Alguns
camerísticos se
vendem por uma
casa, uma moeda
de ouro e até
mesmo por um
buraco.
No condado
troca-se tudo, por
cargos, empregos
e afagos do conde.
Por coisas
assim que as
pessoas do lugar
começaram a
chamar o Palácio
Cameral com o
espanholado
nome de La
Bagaceirada.
Créditos
■ As ilustrações que
existem nesta coluna
são de autoria do artista
Joaquim da Fonseca,
grande amigo e parceiro
de papos e vinhos.
■ A história de Cachoeira na Revolução
Farroupilha tem sua
fonte no historiador
Aurélio Porto.
Imagens
A Praça da Matriz, no dia 29 de setembro de 1835 recebeu Bento Gonçalves e suas tropas, após
lutarem contra os legalistas imperiais em Rio Pardo. Vitoriosos e com um esquadrão de cachoeirenses revolucionários, que tinham saído de Cachoeira no dia 26, chefiados por Antonio Vicente da
Fontoura, e com seu estado maior composto de Gaspar Gonçalves e Manduca Carvalho. No retorno
reúnem-se na praça e depois é celebrado um Te Deum na Igreja Matriz de Nossa Senhora da
Conceição. O relato foi feito por Gaspar Francisco Gonçalves, revolucionário farroupilha, cirurgiãomor e juiz de paz em Cachoeira. Em 1836, Bento Manuel, em fase contra-revolucionária, invade a
cidade de Cachoeira no dia 1º de março e manda prender os três revolucionários: Noé Ramos, Tristão
da Cunha e Souza e Gaspar Gonçalves, sendo este último preso na casa de Roque Franco de Godoi
(uma das mais tradicionais famílias cachoeirenses), situada na Rua 15 de Novembro. Também
houve a visita de Corte Real, que se tornou coronel da Legião de Rio Pardo e Cachoeira pelos
farroupilhas. Cachoeira vivia tempos entre ser legalista e ser revolucionária. Quando se proclamou
a República de Piratini e foram criadas escolas públicas, aqui foi nomeada a primeira professora
cachoeirense. Seu nome: Ana Francisca Rodrigues Pereira. A Câmara de Cachoeira teve sua última
reunião republicana em 1º de maio de 1840. A vila foi abandonada pelos farroupilhas e em 10 de
junho voltou a reconhecer D. Pedro II como seu soberano. Todos os documentos e arquivos da
Câmara tiveram suas páginas relativas ao período republicano arrancadas e queimadas.
Volta e meia aparecem manifestações
reclamando de suas
existências e dos
galhos que caem
durante temporais.
Árvores caídas em
temporal houve inúmeras nos últimos
dias. Aqui perto de
casa caiu cinamomo,
quaresmeira, bolãode-ouro e outras
menos votadas.
Se os taxistas
andam apreensivos,
tenho uma sugestão
exemplar. Vamos
transferi-los para a
Moron, entre a
Andrade Neves e a
Sílvio Scopel. No lado
das casas.
Resolve-se todos os
problemas, principalmente devolvendo à
população a quadra
mais linda de Cachoeira, que é o túnel verde
ao descer a Andrade
Neves, vindo da 7.
Eduardo Minssen,
conte comigo. E experimentem tocar nas
tipuanas!
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