“A CRIAÇÃO DA EMPRESA JÚNIOR: O CASO DA UNIVERSIDADE
REGIONAL DE BLUMENAU”
AUTORES
Maria Jose Carvalho de Souza
Pedro Guilherme Kraus
INSTITUIÇÃO
Universidade Regional de Blumenau
O objetivo deste trabalho é descrever o processo de criação da Empresa Júnior dos alunos do curso
de Administração da Universidade Regional de Blumenau, Santa Catarina.
Uma das discussões correntes no campo de ensino da administração é o distanciamento entre o que é
ensinado na escola e a realidade prática das organizações.
O estágio supervisionado (obrigatório) não está, por várias razões, suprindo a lacuna na formação
dos futuros administradores. Com uma carga obrigatória de 10% do total de tempo do curso, o estágio
supervisionado carrega consigo a última obrigação do graduando para poder se formar.
Uma das propostas que está sendo introduzida no Brasil para minimizar este problema é a Empresa
Júnior. A Concepção da Empresa Júnior nasceu na Europa. Na França, essa experiência já existe desde 1967,
com relativo sucesso.
No Brasil a Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas foi a pioneira, sendo seguida por
diversas escolas.
A Empresa Júnior é composta e administrada por alunos de graduação. Com “caráter de uma
empresa real, com Diretoria Executiva, Conselho de Administração e estatuto próprio, sendo que os diretores
e conselheiros são eleitos por todos os membros efetivos” (Estatuto de Empresa Júnior da FGV; 1990).
Os objetivos gerais de uma Empresa Júnior são:
“- fornecer um complemento prático à formação teórica dos alunos;
- incentivar o espírito empreendedor e abrir espaço a novas lideranças;
- colocar o aluno em contato direto com o seu mercado de trabalho;
- proporcionar ao micro, pequeno e médio empresário um trabalho de qualidade e com preços acessíveis; e
- valorizar a Instituição de Ensino como um todo no mercado de trabalho em questão” (Estatuto de Empresa
Júnior da FGV; 1990).
Na Universidade Regional de Blumenau discutia-se desde 1990, entre os alunos do curso
de
Administração e professores do Departamento de Administração, a necessidade de criação da Empresa Júnior.
Em dezembro de 1991 foi proferida uma palestra pelo acadêmico Wagner Elias Erner, primeiro diretor
presidente da Empresa Júnior da FGV.
Muito embora, com toda a predisposição para a implantação da Empresa Júnior, dos fatores, na
época, obstaculizavam sua implementação:
a) o curso de administração era oferecido apenas no período noturno;
b) a dificuldade de encontrar empresas dispostas a participar da experiência.
Estas dificuldades somente foram superadas em fevereiro de 1992, quando o SEBRAE/SC procurou
a Universidade oferecendo sua tecnologia na área de consultoria às micro e pequenas empresas.
O interesse do SEBRAE deu-se, após a constatação da impossibilidade deste órgão atender a
demanda de consultorias e assessórias na microrregião do Médio Vale do Itajaí. O SEBRAE possui apenas
dois técnicos para atender 13 municípios.
A proposta do SEBRAE era calcada na necessidade da Universidade assumir uma postura de
integração com o segmento das pequenas e micro empresas. A alternativa colocada pelos técnicos do
SEBRAE era a criação de uma Empresa Júnior na área de administração aos moldes da experiência européia.
A idéia rapidamente foi apoiada pelos professores e representantes discentes, estes, já haviam visitado no ano
de 1991, a Empresa Júnior da FGV durante três dias e estavam motivados com a possibilidade.
Outro fator que colaborou para a viabilização da Empresa Júnior, a nosso ver, foi a introdução, a
partir do 1º semestre de 1992, do curso de Administração no período matutino. A experiência tem mostrado
que os alunos que estudam nesse período, em sua maioria, não trabalham e podem dedicar-se integralmente
ao curso.
As partes interessadas, professores, alunos e técnicos do SEBRAE, traçaram uma estratégia para
divulgar a intenção de criação da Empresa Júnior. Representante dos três segmentos realizaram palestras
conjuntas, onde era mencionada a história, os objetivos e a importância da Empresa Júnior, como forma de
aproximar os conhecimentos obtidos em sala, da realidade das organizações. Nestas ocasiões, também, foram
preenchidas fichas de adesão pelos interessados, com um total de 215 num universo de 780 alunos.
Neste ponto, parecia que as maiores dificuldades estavam superadas. Formou-se então um grupo de
trabalho com: um professor, um técnico do SEBRAE e três acadêmicos. Esta equipe ficou responsável pela
elaboração de uma proposta de convênio Universidade-SEBRAE, bem como o esboço do estatuto da Empresa
Júnior, adotando-se o estatuto da FGV como modelo.
Alguns problemas ocorridos
conhecidos do grupo de trabalho, como:
em
outras
experiências
de
criação
de
empresas
juniores
eram
- a partida por parte dos alunos quando a Empresa Júnior é uma concessão do departamento;
- a tendência sobejamente sabida dos membros do departamento tentarem influenciar e conduzir o
processo.
Quanto ao primeiro item, o professor e o técnico do SEBRAE tomaram o cuidado de que os alunos
assumissem o processo. Esses atores, deliberadamente, adotaram um papel consultivo, deixando os
acadêmicos a responsabilidade de organização quando dos trabalhos em grupo. O professor, principalmente,
era apenas mais um membro do grupo, um facilitador, não o “dono da verdade”.
Este papel do professor não pode ser confundido com passividade, pois visava gerar o
comprometimento dos alunos com o processo.
Como já era esperado pelo grupo de trabalho, alguns professores do departamento de administração e
outros interessados na experiência, procuraram dar opiniões para direcionar as ações, afirmando que os
graduados “não são maduros o suficiente para assumirem a direção da Júnior”, ou de outra forma “deveríamos
realizar um período de experiência, no qual o departamento mantivesse o controle”. Muito embora, essas e
outras reações sejam consideradas normais, o grupo de trabalho tinha consciência dos problemas que
determinadas ingerências poderiam ter sobre o processo.
Caso houvesse ingerência havia a possibilidade da Empresa Júnior nascer como uma concessão do
departamento aos estudantes, apenas uma forma disfarçada de estágio e com a conotação de obrigatoriedade,
o que fere o espírito da Empresa Júnior no mundo.
Os resultados não somente do grupo de trabalho, mas também com a colaboração de outros
estudantes em tarefas operacionais foram além do esperado. Por exemplo, um estudante paralelamente aos
trabalhos do grupo desenvolveu um banco de dados com as fichas preenchidas, para facilitar a manipulação
das informações.
Em apenas três semanas esta fase preliminar foi concluída.
O grupo de trabalho também estabeleceu alguns critérios, para seleção dos primeiros 30 graduados
que receberiam dos técnicos do SEBRAE treinamentos de consultores juniores. Estes trinta realizariam os
primeiros trabalhos de consultoria e no segundo semestre ministrariam cursos de formação aos demais
integrantes da Empresa Júnior, fechando dessa forma o ciclo.
Ficou estabelecido que somente entrariam em projetos de consultoria os estudantes que passassem
por este cursos de formação de consultores.
O SEBRAE, todavia, devido a existência de uma demanda reprimida, solicitou que os futuros
consultores juniores participassem de um trabalho de coleta de dado, como primeira atividade do convenio
Empresa Júnior – SEBRAE.
Nas escolas onde a Emp resa Júnior vem dando certo, ela nasceu de forma espontânea, ou seja, de
baixo para cima. Embora não seja esse o caso da Empresa Júnior dos alunos de Administração da FURB,
entendemos que a estratégia adotada conseguiu motivar os verdadeiros benefícios: os aluno do curso de
administração.
Concluindo, entendemos que a criação da Empresa Júnior dos alunos do Curso de Administração e
sua efetividade dependerão em muito deste início. Em nosso ponto de vista, a estratégia adotada foi crucial
para formar uma cultura de autonomia dos alunos, para com o departamento e colocar os graduados como
responsáveis diretos dessa atividade prática, tão importante em sua formação.
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