Parte I - Fábricas de interiores: montagens e desmontes
Ana Paula Jesus de Melo
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MELO, APJ. Fábricas de interiores: montagens e desmontes. In JACÓ-VILELA, AM., CEREZZO,
AC., and RODRIGUES, HBC., orgs. Clio-psyché: fazeres e dizeres psi na história do Brasil [online].
Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2012. p. 1-2. ISBN: 978-85-7982-061-8.
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PARTE I
FÁBRICAS DE INTERIORES:
MONTAGENS E DESMONTES
Caminhando com Clio entre as engrenagens do tempo, encontramos
os rastros dispersos de uma jovem Psyché, recentemente naturalizada
brasileira. Longe de um único interesse ou um único trajeto, a jovem se
infiltra nas escolas, invade as famílias, dita regras de relacionamento;
emancipa-se de seus tutores, a Filosofia e o Psiquiatra; casa-se —Antropologia,
Sociologia, História, Medicina...—, divorcia-se; retorna, não raro na
qualidade de amante.
Reivindica direitos na Academia dos Sábios Ilustres; torna-se mestra
em ensinar a ser pai, mãe, filho, homem, mulher, normal, anormal, criança,
adulto, velho... Penetra fábricas e escritórios, hospitais e asilos; mas
mantém o antigo consultório, presente do pai.
Foi foca de imprensa, antes de chegar a redatora; dá conselhos à
mulher do lar e à moderna, em revistas especializadas; atua agressivamente
no meio empresarial da propaganda e marketing; escreve roteiros de
novelas, filmes... e, às vezes, dirige e encena!
Ghost writer em teses sobre urbanismo, arquitetura, política
econômica, ergonomia... deixa perceber, nos meandros de cada anônimo
texto, ainda o seu estilo, o seu traçado. Interessa-se por um tudo, da
matemática pitagórica à física quântica, da tragédia grega à poesia moderna,
dos deuses antigos à globalização, e às vezes nada lhe interessa, a não ser a
própria face no espelho.
Monogâmica, heterossexual, namoradinha tijucana, familiarista, dual,
edipiana, saudosista de tudo que poderia ter sido e não foi... seu corpo é
apenas um campo de sintomas (de sua normalidade, ou desajuste). Poligâmica,
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bissexual, hipponga, grupalista, existencialista, meiaoitista, liberada, quer
transar o corpo numa boa nas rotações de 60 revoluções por minuto...
Em tantos fazeres, entre tantos discursos, Psyché constrói e desconstrói,
num movimento febril de fábricas, o cotidiano de nossos interiores.
Ana Paula Jesus de Melo
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