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4 fev 2015 O Globo VERA ARAÚJO varaujo@ oglobo.com. br
Uma força letal
Número de fuzis apreendidos pela Polícia Militar no estado cresce 100% em
janeiro
“Uma grande quantidade das armas apreendidas é fabricada no Brasil. Elas saem do país, vão para Paraguai,
Argentina e Venezuela, e acabam retornando” Robert Muggat Especialista em segurança pública
A tese de que o expressivo número de casos de vítimas de balas perdidas registrado em janeiro no
estado — 32, mais de um por dia — está relacionado a uma grande quantidade de armas nas mãos de
bandidos ganha força. A Polícia Militar informou ontem que, no mês passado, apreendeu nada menos que
41 fuzis. No mesmo período de 2014, PMs recolheram 20.
Também chama a atenção a quantidade encontrada de fuzis AK­ 47: 18, o que corresponde a 44% do
total. Trata­se de um armamento de fabricação russa ou tcheca, resistente a altas temperaturas. E,
segundo policiais, há indícios de que boa parte do material apreendido foi fabricada recentemente.
O número de pistolas apreendidas também impressiona: saltou de 173 para 253, comparando­se
janeiro de 2014 com o mesmo mês deste ano, o que representa um aumento de 46,24%. Já a
quantidade de granadas e outros explosivos recolhidas em operações policiais passou, no período, de 59
para 69.
Apenas o número de revólveres apreendidos apresentou uma redução: caiu de 279 para 194, ou seja,
30,47%, na comparação entre os meses de janeiro de 2014 e deste ano.
BELTRAME QUER INTEGRAÇÃO
Ao comentar os números, o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, voltou a dizer
que, sem um aumento do patrulhamento nas fronteiras e um trabalho de integrado com investigadores
de outros estados e a Polícia Federal, a PM do Rio continuará “enxugando gelo’’ no que diz respeito ao
combate ao tráfico de armas. Ele defendeu a criação de centros interestaduais de inteligência,
coordenados por policiais federais, para tentar impedir a entrada de fuzis, pistolas e munição no país,
principalmente pelas divisas dos estados do Paraná, do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul.
— Quando eu era delegado da Polícia Federal, participei de uma experiência desse tipo que deu bons
frutos. Não acabaria de vez com o problema, mas ajudaria bastante a reduzir o tráfico de armas —
afirmou Beltrame.
A procedência das armas é algo que intriga a polícia. Embora o armamento apreendido em janeiro
ainda esteja sob análise, dados de um relatório confidencial da Coordenadoria de Informação e Inteligência
Policial (Cinpol) do Rio revelam que as armas mais apreendidas no Brasil são pistolas da marca Taurus, que
são fabricadas aqui. Segundo investigadores, a maioria é exportada para o Paraguai e retorna para cá.
Entre as armas de longo alcance, fuzis da americana Colt também aparecem no topo da lista de mais
apreendidos. De acordo com policiais, essas armas costumam fazer a rota Estados Unidos­Paraguai­Brasil.
No último sábado, a apreensão de seis pistolas desmontadas da marca Taurus, que estavam com uma
mulher que veio do Paraguai para o Rio, reforçou a suspeita de que há um esquema de saída e entrada de
armas no Brasil. Robert Muggat, especialista em segurança pública e diretor do Instituto Igarapé, diz que
isso é bastante comum:
— Uma grande quantidade das armas apreendidas é fabricada no Brasil. Elas saem do país, vão para
Paraguai, Argentina e Venezuela, e acabam retornando. É preciso apertar o cerco nas fronteiras com esses
países.
Para o especialista, pior do que o aumento da quantidade de fuzis apreendidos no mês passado é o
crescimento no número de apreensões de armas de curto calibre, como as pistolas.
— Quando fazemos pesquisas sobre o tipo de projétil que atinge as vítimas de balas perdidas, nós,
pesquisadores, chegamos à conclusão que a maioria é ferida por disparos de armas de pequenos calibres.
Não há dúvidas sobre a necessidade de a polícia utilizar armas pesadas, mas também precisamos pensar
no uso proporcional da força em áreas mais conflagradas, como as zonas Norte e Oeste. Defendo ações
mais inteligentes por parte das forças policiais.
Para o subchefe operacional do Estado­ Maior da PM, coronel Cláudio Lima Freire, a reestruturação do
Comando de Operações Especiais — que inclui o Batalhão de Operações Especiais (Bope), o Batalhão de
Choque, o Batalhão de Ações com Cães e o Grupamento Aeromarítimo —, que passou a atuar mais em
comunidades conflagradas, inclusive em áreas com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), fez com que as
apreensões de armas no estado crescessem.
— São 2.200 homens bem­ treinados, prontos para agir a qualquer momento, dando suporte às UPPs
ou aos batalhões que tiverem problemas em suas áreas, como foi o caso do Morro do Juramento, em
Vicente de Carvalho, onde apreendemos 11 fuzis. Houve um trabalho de integração com o 41 º BPM (
Irajá) e batalhões vizinhos. Foi um resultado operacional significativo, vamos investir mais nisso —
explicou.
MAIS PRISÕES E DROGAS
A quantidade de cocaína apreendida no mês passado também impressiona: foi 1,1 tonelada. Em
janeiro do ano passado, PMs apreenderam apenas 56 quilos. Ou seja, houve um aumento de quase
2.000%. As apreensões de maconha subiram de 2,1 para 2,4 toneladas, um crescimento de 12,37%. Já
as apreensões de crack tiveram um aumento de 214%, passando de 4,2 kg para 13,3 kg.
Já o número de prisões feitas pela PM subiu de 1.387, em janeiro do ano passado, para 1.892 no
mesmo mês deste ano. Isso corresponde a um crescimento de 36,41%.
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