NPI-FMR
MODERNIZAÇÃO E DESAGREGAÇÃO SOCIAL : UM EXERCÍCIO FENOMENOLÓGICO –
PARTE 1
Bertalot-Bay, M. M.
Pós-graduando do Departamento de Geociências da UNICAMP
Apoio: Instituto Elo: www.elo.org.br
RESUMO
A questão ambiental e a questão social são relacionadas ao processo de modernização e
foram claramente reconhecidas como a grande problemática a ser enfrentada pela humanidade pelo
menos desde a conferência mundial “Rio 92”. Quais são as tendências básicas desse processo? Para
responder a essa pergunta partimos do pressuposto de que a instalação de um processo de modernização
numa determinada comunidade engendra um movimento de desagregação dessa unidade social.
Para identificar a validade desta hipótese escolhemos realizar esta pesquisa descritiva com
base na observação de duas comunidades tradicionais (a “Caipira”, no interior de São Paulo, Brasil e a de
“Ladakh”, no Himalaia), que se organizaram praticamente sem contato com o processo de modernização
ocidental e que, a partir de um certo momento, foram submetidas a esse processo. As estruturas sociais
tradicionais estudadas refletem pensamentos, sentimentos, decisões, acordos e ações que construíram
hábitos de comportamento e suas respectivas estruturas físicas através de várias gerações. Estas
unidades sociais alcançaram um relativo equilíbrio na relação com o meio ambiente e desenvolveram uma
coesão social e ações coletivas de ajuda mútua que possibilitaram a satisfação das necessidades básicas
dos indivíduos e tempo para a realização de festejos e outras atividades de lazer. A partir da instauração
do processo de modernização essas estruturas sociais sofrem alterações profundas que resultam de um
poderoso processo de desagregação que abarca inúmeros âmbitos e detalhes da vida dessas comunidades
tradicionais produzindo desequilíbrios que facilmente podem ser subestimados, tanto sobre o meio
ambiente, como sobre as próprias unidades sociais e sobre o desenvolvimento dos seus indivíduos.
Espera-se que este estudo contribua para uma compreensão mais aprofundada desse processo
de desagregação, pois este parece ser o primeiro passo a ser dado para encontrar caminhos que
possibilitem suprimir os efeitos negativos da desagregação, sem que para tal seja necessário negar o
processo de modernização como um todo.
Revista Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar, São Manuel, 10/05/2006. http://www.fmr.edu.br/npi_2.php. 4p.
ABSTRACT
The environmental and the social questions are related to the modernization process and were
clearly recognized as the great problem to be faced by humanity at least since the world conference “Rio
92”. Which are the basic tendencies of this process? To answer this question we assume that the
instalation of a modernization process in a certain comunity engenders a disaggregation movement within
this social unity.
To identify the validity of this hipothesis we chose to realise this research basing our
observations on two traditional comunities (the “Caipira”, interior of São Paulo, Brazil and the “Ladakh”
community, in the Himalaia), that organized themselves with almost no contact with the western
modernization process and that, at a certain moment were involved in this process. The studied traditional
social structures represent thoughts, feelings, decisions, agreements and actions that build behaviour
habits and their correspondent physical structures through many generations. These social unities
achieved a relative balance in their relation to the environment and developed social interdependence and
mutual help activities that enabled them to satisfy their basic necessities and yet find time for feasts and
other ludic activities. The modernization process introduces profound changes on social structure and
habits as a result of a powerfull disaggregation process that invades many realms of life of these
traditional communities, producing disharmonie in the environment, in the social unities themselves as
well as in the individual development; consequences that can easily be underestimated.
This study should contribute to a deeper understanding of this disaggregation process as it
seems that this could be a first step to find ways of overcoming its negative consequencies without
necessarily denie the modernization process as a whole.
INTRODUÇÃO
O processo de modernização centrado na dinâmica do capital, do mercado e da tecnologia,
transformou as relações sociais do planeta nos últimos séculos.
A frase acima expressa uma temática que conta com a dedicação de milhares de analistas,
políticos, sociólogos, antropólogos, economistas e outros que se referem a esse processo das mais
variadas formas e com base nas mais diversas premissas e referenciais teóricos. Inúmeros exemplos
dessas análises também surgiram a partir da conferência mundial “Rio 92” e da decorrente Agenda 21. A
questão ambiental e a questão social, engendradas pelo desenvolvimento tecnológico, aparecem como a
grande problemática a ser enfrentada pela humanidade desde então.
Parece ocorrer uma relação de auto-realimentação entre o processo de modernização por um
lado e, por outro lado, a desagregação social que o acompanha e o respectivo desenvolvimento dos
indivíduos. Essa auto-realimentação se daria a ponto de fazer com que esses elementos apareçam, na
realidade, como diferentes aspectos de um todo indissociável e em constante transformação. Desse ponto
de vista, superar a desagregação social, por exemplo, significaria ao mesmo tempo superar (= ir além de)
o processo de modernização e encontrar novas formas de inserção do indivíduo na comunidade. Esta
hipótese, no entanto, é por demais abrangente para o escopo da presente pesquisa.
Os limites, tanto metodológicos quanto cronológicos, impostos à presente monografia impõe
a realização de apenas um primeiro passo na direção de uma pesquisa mais ampla que possibilite a
abrangência dessa temática.
Nesta etapa procurou-se, portanto, responder apenas às seguintes perguntas: Como se
caracteriza o processo de modernização? Quais são os fenômenos de desagregação social que o
acompanham? É possível identificar tendência(s) básica(s) desse processo?
Partiu-se da hipótese de que a instalação de um processo de modernização numa determinada
comunidade engendra um movimento de desagregação da unidade social por ele afetada.
Para confirmar, rejeitar ou reformular a hipótese acima, escolheu-se observar duas
comunidades tradicionais que se formaram sem contato com o processo de modernização ocidental e que
a partir de um certo momento foram submetidas a esse processo.
A pesquisa realizada por Antonio Candido (CANDIDO, 1982) descreve a sociedade caipira
tradicional no interior de São Paulo e as transformações ocorridas a partir da sua inserção no mercado
capitalista. Da mesma maneira Helen Norberg-Hodge (NORBERG-HODGE, 1992) descreve as
transformações ocorridas no agrupamento social em Ladakh, no Himalaia. O estudo comparativo das
transformações que aconteceram nestes dois agrupamentos sociais a partir de condições completamente
diversas, permitiu a identificação de tendências ligadas ao processo de modernização.
Trata-se, portanto de uma pesquisa descritiva baseada em revisão bibliográfica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CANDIDO, Antonio, Os parceiros do Rio Bonito, São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1982, 284 p.
NORBERG-HODGE, Helena, Ancient Futures – Learning from Ladakh, San Francisco, Cierra Club
Books, 1992, 204 p.
ANCIENT FUTURES: Learning from Ladakh. Direção de Helena Noberg-Hodge e Eric Walton.
Produção de John Page. USA, Berkeley: International Society for Ecology & Culture (ISEC), 1993. 1
videocassete (60 min) VHS/NTSC, son, color, legendado.
GLOSSÁRIO
Desagregação social – neste trabalho o termo é utilizado em sentido bem amplo abarcando
vários aspectos da vida social como as relações de trabalho, a relação do grupo com o meio ambiente, a
relação entre os indivíduos resultante das várias outras relações, as relações dadas pelos festejos, relações
de afeto de dependência etc.
Modernização – neste trabalho significa o processo através do qual uma sociedade
transforma as suas estruturas e relações em função do avanço da dinâmica do capital, do mercado e da
indústria.
Proletarização – processo de transformação das relações de trabalho, principalmente no que
diz respeito à perda de domínio sobre os meios de produção e passando gradativamente à condição de
assalariado. Neste trabalho refere-se ao processo através do qual o caipira perde o acesso à terra e passa a
depender de salário como colono, camarada ou “bóia-fria”.
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