VII SENABRAILLE CAMPINAS 2011
Biblioteca da Escola Estadual Técnica
em Saúde, no HCPA (ETS):
inclusão e acolhimento
Autoras:
Kátia Soares Coutinho (ETS)
Alessandra M. Cantoni (Col. Marista São Pedro)
Eliane Lourdes da S. Moro (FABICO/UFRGS)
Lizandra Brasil Estabel (IFRS/Porto Alegre)
1 Introdução
# Relato de experiência # Biblioteca da Escola
aborda o estágio
Estadual Técnica em Saúde,
curricular obrigatório
no Hospital de Clínicas de
exigido pelo Curso
Porto Alegre (ETS)
Técnico em
realizado pela estudante A.
Biblioteconomia do
- hoje técnica em
Instituto Federal do Rio
biblioteconomia - que
Grande do Sul, Campus
apresenta limitação
Porto Alegre (IFRS).
visual total.
Problema:
Como uma unidade de informação
pode contribuir para que um
estagiário com limitação visual
total realize com êxito a sua
prática de estágio?
Objetivo principal
Demonstrar como a prática do
estágio curricular contribui
para a empregabilidade do
aluno egresso do Curso Técnico
em Biblioteconomia.
Objetivos específicos
• elencar os aspectos psicológicos que
envolvem o estágio curricular;
• mostrar as adaptações possíveis - em
termos de acessibilidade física, digital e
atitudinal (acolhimento) - para que uma
estagiária cega consiga superar os
desafios;
Objetivos específicos (continuação)
• demonstrar as possibilidades de
inserção de um técnico em
biblioteconomia com limitação visual
no mundo do trabalho;
• dar visibilidade ao aprendizado
proporcionado pelo esforço e pela
superação demonstrados pela aluna.
Justifica-se este relato para que se
pense na função social da biblioteca
e dos profissionais que ali atuam, já
que é neste setor que a informação
deve ser disponibilizada a cada um
dos seus usuários e não usuários e
o acolhimento e a inclusão devem
estender-se a todos, sem distinção.
2 Estágio: preparação para
o mundo do trabalho
Legislação (artigo 1º):
Estágio é ato educativo escolar
supervisionado, desenvolvido no ambiente
de trabalho, que visa à preparação para o
trabalho produtivo de educandos que
estejam frequentando o ensino regular em
instituições de educação superior, de
educação profissional, de ensino médio, da
educação especial e dos anos finais do
ensino fundamental, na modalidade
profissional da educação de jovens e
adultos. (BRASIL, 2008, online).
Curso Técnico em Biblioteconomia
(IFRS):
160 horas de prática de estágio
curricular
[...] “em instituição previamente
cadastrada, sob a supervisão de
bacharel em biblioteconomia, com a
posterior socialização das atividades
desenvolvidas e a entrega de um
Relatório de Estágio” (IFRS, online)
Bibliotecário orientador de
estagiários
• prever as atividades mais adequadas,
pertinentes à personalidade,
capacidades e talentos dos
estudantes;
• incentivá-los no futuro exercício
profissional descobrindo aptidões
inatas;
• novas habilidades;
• possibilidade de superação das
limitações físicas.
Via de mão dupla, de interação
e de dialogicidade:
* O que o bibliotecário mostra ou
orienta,
o que já existe e é uma prática
diária,
com rotinas já consolidadas...
* Por outro lado, recebe, em troca:
* sugestões de melhorias,
* novas estratégias,
* caminhos ainda não
percorridos,
* que possam contemplar
necessidades e demandas dos
usuários da biblioteca;
* práticas sobre acessibilidade
utilizadas pela própria pessoa
com limitação visual.
Parceria entre o profissional e o
estagiário
• simbiose entre as necessidades da
biblioteca e o aprendizado necessário;
• proatividade do estagiário e o que pode
ser feito;
• relacionado às aptidões já existentes e
as que vão sendo propiciadas
(atividades do estágio curricular);
• habilidades e talentos inerentes à
diversidade humana.
3 Contatos Iniciais
Antes de A. iniciar seu estágio:
• divulgação e diálogo, junto ao corpo
docente e funcionários da ETS;
• preparação para que todos pudessem
ter uma melhor compreensão das
potencialidades da futura estagiária;
• receptividade e melhor acolhimento;
• equipe diretiva da ETS - disposta a
colaborar (Diretora Elige);
“A diretora da ETS acolheu-me com
muita sinceridade e simpatia.
Os professores da escola já sabiam
que uma aluna cega do Instituto
estagiaria na biblioteca.
O apoio da bibliotecária nos primeiros
dias da minha atuação contribuiu
para que eu pudesse me ambientar.”
(CANTONI, 2010, p. 25).
No início, como conhecer a
instituição e sua biblioteca?
Neves (2004) coloca a leitura da
biblioteca como a percepção tanto de seu
espaço físico como de aspectos mais
sutis:
* a disponibilidade de quem atende o
usuário;
* as boas vindas, o acolhimento;
* o acompanhamento das necessidades
informacionais dos leitores.
“Quando comecei o estágio, não sabia se
seria capaz de executá-lo. Eram muitas as
limitações. Não conseguia caminhar pela
biblioteca, sentia muito medo e
insegurança.” (CANTONI, 2010, p. 25).
Primeiros encontros
expressos
potencialidades
percebidos
receios
4 Necessidades da
Estagiária
“No período que antecedeu ao estágio [...],
resolvi procurar a professora doutora L. E.
para comunicá-la sobre o meu cancelamento
[...] de matrícula. Eu estava [decidida] a
trancar o curso e interromper toda a
caminhada realizada até então. Foram muito
importantes as palavras de incentivo da
professora para que eu continuasse a seguir
em frente. Não vislumbrava um futuro
promissor dentro de uma biblioteca. Não
conseguia me ver trabalhando, pois todos os
meus colegas considerados ‘normais’ já
estavam atuando na área da
biblioteconomia.” (CANTONI, 2010, p. 24).
Início estágio curricular - fundamentais:
# recuperação da auto-estima;
# confiança em sua capacidade de
superação.
A equipe envolvida (IFRS/ETS)
auxiliou, incentivando A. a prosseguir:
[...] “aos poucos fui descontraindo e
percebendo a realidade dessa biblioteca
escolar. Com o passar dos dias fui me
adaptando aos usuários e professores da
escola.” (CANTONI, 2010, p. 25).
Necessidades da estagiária:
* Letramento em Braille;
* Utilização de tecnologia assistiva no
laptop:
[...] “programas que eu utilizei para
estudar e acessar a informação de textos
para leitura ou para contação de histórias:
o JAWS e o DOSVOX.” (CANTONI, 2010,
p. 12).
* Permuta de material bibliográfico: site
“Trocando Livros”.¹
¹Disponível em: <http://www.trocandolivros.com.br/>. Acesso em: 6 set. 2011.
5 Estágio de A. na ETS
Habilidades
Demonstradas
Para Vygotsky (1984), as relações sociais, a
interação com o outro, o contexto sóciohistórico e cultural, efetivam a
aprendizagem, construída através da
mediação de signos e instrumentos:
[...] “aos poucos, com a ajuda dos colegas
estagiários que me orientavam e
cooperavam nas atividades, foram surgindo
ideias para novas tarefas.” (CANTONI, 2010,
p. 25)
“Foi imprescindível a colaboração, o apoio e
a orientação da bibliotecária K. no cotidiano
da biblioteca.” (CANTONI, 2010, p. 25).
5.1 Sinalização das estantes
Acessibilidade na Biblioteca da ETS:
[...] “meu trabalho era escrever na fita
Rotex com reglete e punção.”
5.2 Histórias narradas e contadas
Diretora da ETS sugeriu que A.
realizasse a Contação de Histórias
para crianças e adolescentes
atendidos pelo Programa de Apoio
Pedagógico (PAP), mantido pelos
professores da ETS, junto aos
pacientes (crianças, adolescentes e
adultos) em atendimento no
Hospital de Clínicas de Porto
Alegre (HCPA).
5.3 Importância do sentido do tato
A supercompensação (VYGOTSKY,
1983, MORO; ESTABEL, online) fica
evidente na fala da aluna: “Percebi
que a pessoa cega é capaz de utilizar
outros sentidos físicos que facilitam a
[minha] comunicação e integração
com os usuários da biblioteca. São
desenvolvidos outros sentidos na falta
da visão.” (CANTONI, 2010, p. 23).
A. realizou várias atividades utilizando
suas habilidades manuais, envolvendo o
sentido do tato:
a) montagem de exposição, prendendo
figuras recortadas (sistema esquelético)
em um barbante que foi posteriormente
pendurado na Biblioteca da ETS;
b) restauração de material bibliográfico
danificado no laboratório do IFRS;
c) higienização das prateleiras e dos
livros com trincha apropriada;
Proatividade - vital na hora de
pensar em uma colocação profissional,
pois no mundo do trabalho é
necessário mostrar suas habilidades
para conseguir e, posteriormente,
exercer uma atividade laboral.
[...] “Com o término do estágio
curricular obrigatório observei a
importância da prática dos
ensinamentos adquiridos ao longo do
curso e as oportunidades que surgem
no dia-a-dia.” (CANTONI, 2010, p. 25).
6 Considerações Finais
Inclusão – componentes sociais, de
interação com o outro (WARSCHAUER,
2006).
Percepção da estagiária:
[...] “os cegos não necessitam conviver
somente com os cegos; acredito na
inclusão às avessas, pois o mundo é
habitado por pessoas diferentes e é
importante que os indivíduos se integrem
dentro de um ambiente que seja propício
para o seu desenvolvimento pleno.”
(CANTONI, 2010, p. 23).
Assim, ao sentir-se capacitada para
exercer na prática - durante o seu
estágio - a teoria aprendida no curso
técnico, A. C. restaurou a confiança
em suas potencialidades:
[...] “adquiri muita auto-confiança e
segurança.”
[...] “Consegui autonomia para
organizar as estantes e até sentar
atrás do balcão” [atendimento ao
usuário]. (CANTONI, 2010, p. 25).
Atualmente, A. C. desenvolve suas
atividades profissionais junto à
biblioteca de uma escola privada,
em Porto Alegre, planejando e
realizando atividades de interação
e de afeto com os alunos do Ensino
Fundamental, através das
dinâmicas de contação de histórias.
Referências
BRASIL. Presidência da República. LEI Nº 11.788, DE 25 DE SETEMBRO DE 2008.
CANTONI, Alessandra Marília. Biblioteca Estadual Técnica em Saúde no Hospital de Clínicas de Porto
Alegre. 2010. 27 f. Relatório de Estágio (Curso Técnico em Biblioteconomia)-Instituto Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.
INSTITUTO FEDERAL. Curso Técnico em Biblioteconomia: Regulamentação do estágio curricular
obrigatório. Disponível em:
<http://www.poa.ifrs.edu.br/wpcontent/uploads/2010/02/regulamentacao_estagio_biblio.pdf> Acesso
em: 22 ago. 2011.
MORO, Eliane Lourdes da Silva; ESTABEL, Lizandra Brasil. Supercompensação (Videoconferência).
Disponível em:
<http://virgo.pop-rs.rnp.br/proinesp/supercomp_eliane_lizandra/index.htm>. Acesso em: 22 ago.2011.
NEVES, Iara Conceição Bitencourt. Ler e Escrever na Biblioteca. In: NEVES, Iara Conceição Bitencourt et
al. Ler e Escrever: compromisso de todas as áreas. 6. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2004. P. 219-229.
VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
WARSCHAUER, Mark. Tecnologia e Inclusão Social: a exclusão digital em debate. São Paulo: Senac,
2006.
AGRADECEMOS A ATENÇÃO!
Apresentação disponível nos blogs
BIBLIOTECA ETS
<http://bibliotecaets.blogspot.com/>
Grupo de Pesquisa Leia
(FABICO/UFRGS)
<http://leia-fabicoufrgs.blogspot.com/>
No site do evento
Download

Biblioteca da Escola Estadual Técnica em Saúde, no HCPA (ETS