DESPERTANDO PARA A PRODUÇÃO INTELECTUAL: A IMPORTÂNCIA DA
PESQUISA CIENTÍFICA
ELVINA MARIA DE SOUSA BARBOSA*
JOELSON RAMOS*
*
MARIA DO SOCORRO S. CIRÍACO*
Resumo
O presente trabalho pretende apresentar a importância da produção
científica para a vida acadêmica e profissional, buscando despertar no aluno o
interesse pela pesquisa científica. Trata-se de pesquisa bibliográfica, abordando
desde os motivos para iniciar a produção científica, como deve ser a produção
científica na vida universitária, passando por uma breve descrição dos tipos de
trabalhos acadêmicos, os agentes fomentadores da pesquisa e noções dos
benefícios que o estudante-pesquisador terá com esta atividade.
Palavras-chave: Produção científica. Pesquisa. Metodologia.
*
Alunos do quarto bloco do curso de graduação em Biblioteconomia da Universidade Estadual do Piauí – UESPI.
[email protected]; [email protected]; [email protected].
2
1 SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA
A importância da produção científica para a vida acadêmica e profissional
será abordada a partir de pesquisa bibliográfica, iniciando-se com os conceitos
básicos para os termos: lógica, metodologia, lógica científica e produção científica.
Para chegarmos ao entendimento desses conceitos realizamos pesquisa
nos textos de teóricos como Severino, Lakatos, Bagno, Stern e Volpato, e
concluímos que:
•
A lógica é uma ciência que tem como objeto de estudo as relações de
coerência entre o pensamento e o discurso. Utilizando-se de regras e
princípios pré-estabelecidos, procura fazer a distinção entre argumentos
válidos ou não, buscando o uso formal da verdade e do pensamento
coerente.
•
Metodologia é conjunto de métodos e técnicas utilizados para a
realização de uma pesquisa, é o uso de diferentes ferramentas e meios
pelos quais os pesquisadores desenvolvem raciocínios, teorias,
hipóteses.
•
A lógica científica une esses dois conceitos, traduzindo o estudo das
relações de coerência entre o pensamento e o discurso através da
utilização de ferramentas (métodos) que levarão ao desenvolvimento de
novas descobertas e teorias. Implica, pois, a discussão dos estudos
científicos, das pesquisas e métodos elaborados nos diversos campos
do conhecimento.
•
Produção científica compreende a produção intelectual, científica e
acadêmica
do
pesquisador,
demonstrando
sua
evolução
e
especialização na área de estudo.
Começar uma vida de produção científica e intelectual exige a tomada de
atitudes como perseverança, disciplina e muita curiosidade sobre o objeto de estudo.
Para Salomon (2004, p.301), a evolução dessa vida científica tem início com o
estágio leigo, evoluindo para os estágios de trabalhador intelectual até converter-se
em pesquisador e, finalmente, autor. Cada estágio tem suas características, sendo o
LEIGO o que identifica aquele que pretende tornar-se pesquisador/produtor científico
iniciando seus estudos e pesquisas. Em seguida teremos os seguintes estágios:
3
•
TRABALHADOR INTELECTUAL: Neste estágio o estudante deve
adquirir hábitos de estudos, de leitura e de registros (documentação
pessoal).
•
PESQUISADOR: Nesta fase é importante munir-se de material teórico,
através de fontes de pesquisas amplas e fidedignas (referencial teórico).
•
AUTOR: Etapa em que os resultados do estudo e da pesquisa deverão
ser divulgados para chegar ao conhecimento da comunidade científica e
assim, serem validados pelos demais pesquisadores.
Um modelo de lógica científica muito utilizado é o que atua de acordo com o
princípio conhecido como Navalha de Occam (STERN, 2009), segundo o qual
“pluralidade não deve ser colocada sem necessidade”, também conhecido como
princípio da parcimônia: “a explicação mais simples é a melhor” ou “não multiplique
hipóteses desnecessariamente”.
Ou seja, o conceito mais simples, a conclusão
mais provável, é a melhor escolha. Não se deve dizer nada além do necessário.
Em todos os estudos e pesquisas o que deve prevalecer é a coerência.
Partindo do simples para o complexo, o pesquisador deverá ser capaz de fazer
conclusões de fácil interpretação e entendimento, pois afirmações não comprovadas
levam ao descrédito de quem as formulou.
Nos estudos, registros, pesquisas e divulgações científicas é importante que
o estudioso se certifique da correta aplicação dos métodos e teorias abordados, a
fim de manter a integridade e fidelidade dos dados a serem apresentados. Volpato
(2006, p.74) ao falar da importância da veracidade dos fatos nos relatos científicos,
cita o físico Max Planck que dizia “o cientista não é o mais honesto dos homens,
mas a ciência dá um grande prêmio à honestidade”. Volpato também afirma que
(Ibid., p.11) “p que torna uma história verdadeira não é a forma como é contada, mas
sim os fatos e as relações que a compõem”. Esta afirmação traduz uma
preocupação que todo pesquisador deve ter consigo em cada atividade de sua vida
profissional: na elaboração de um trabalho científico deve-se relatar fielmente o
processo realizado, mesmo que seja preciso reconsiderar o propósito inicial da
pesquisa, reformulando a própria conclusão.
4
2 INICIANDO A PRODUÇAO CIENTÍFICA
Para Perini (1996, apud BAGNO, 2007, p.9)
“as habilidades de raciocínio, observação, formulação e testagem de
hipóteses [...] são um pré-requisitos à formação de indivíduos capazes de
aprender por si mesmos, criticar o que aprendem e criar conhecimento
novo”.
A pesquisa científica é uma investigação feita com o objetivo expresso de
obter conhecimento específico e estruturado sobre um determinado tema. O
pesquisador deve ter como foco de análise um objeto ou assunto bem delimitado,
concentrando todo seu esforço na solução do problema proposto.
Diariamente todos nós realizamos pesquisas das mais variadas formas, sem
nos darmos conta de que o fazemos, por exemplo:
•
Ler o manual de instruções de um DVD;
•
Ler a bula de um remédio buscando seus efeitos colaterais;
•
Andar de loja em loja procurando o melhor presente para um amigo;
•
Executar uma receita de bolo, separando os ingredientes;
•
Buscar o significado de uma palavra desconhecida em um dicionário.
No entanto, a pesquisa científica vai além dessa rotina despercebida. Ela
tem um propósito e segue uma estrutura pré-definida para que tenha seus
resultados validados.
A pesquisa científica é o fundamento de toda e qualquer ciência. A principal
maneira de conferir se um estudo ou trabalho foi motivo de pesquisa é verificar se
ela provocou avanços, pois conforme Bagno (2007, p.18) “se não houve avanços é
porque não houve pesquisa - e se não houve pesquisa é porque não é ciência”. Ele
cita como exemplo uma consulta aos livros de Ciências de ontem e de hoje.
Rapidamente poderemos confirmar que muitas descobertas foram reveladas ao
longo do tempo, comprovando que pesquisas na área foram realizadas e validadas.
O grau de desenvolvimento de um país também é revelado pela sua
representação junto à comunidade científica mundial, pois acompanha a
preocupação e comprometimento dos governos com o crescimento científico e
tecnológico da nação. Por esta razão toda pesquisa deve ter por objetivo principal a
divulgação de seus resultados junto à comunidade científica, uma vez que os índices
de publicação científica são fatores determinantes tanto para o crescimento do país
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como para o próprio pesquisador. Em matéria divulgada pela Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) em sua edição número 160
(junho/2009), sobre o crescimento da produção científica brasileira, o Brasil aparece
em 13.º lugar no ranking da Web of Science 2008 (um conjunto de base de dados
mundial), à frente da Holanda e da Rússia. Isto significa que pesquisas estão sendo
publicadas e, principalmente, estão sendo vistas em todo o mundo.
3 COMO, POR QUE E PARA QUÊ FAZER PESQUISA CIENTÍFICA
Conforme visto anteriormente, fazer pesquisa científica é de primordial
importância para o crescimento e desenvolvimento de um país e da ciência.
Para o aluno, universitário ou não, calouro ou veterano, o ato de iniciar uma
pesquisa parece, num primeiro momento, precipitado e, às vezes, distante de sua
realidade. Grande parte dos estudantes desconhece as possibilidades e o caminho
para fazer pesquisa. Limitam-se, quando muito, a realizar trabalhos escolares
superficiais, achando que somente quando estiverem formados deverão tomar
atitudes mais amadurecidas em relação ao aprofundamento dos seus estudos. Isto
se deve ao fato de que boa parte do corpo docente, em especial dos ensinos
fundamental e médio, também desconhece estas possibilidades, limitando-se a
cumprir sua carga horária nas escolas.
Iniciar uma pesquisa científica, seja no ensino médio, seja na universidade,
levará o estudante ao amadurecimento de suas idéias e conceitos, estimulará sua
criticidade e promoverá uma maior responsabilidade do mesmo com relação ao seu
ambiente e com o mundo. O estudante será conduzido a levantar hipóteses, a
formular idéias, a questionar, a testar teorias e a criar suas próprias conclusões. Por
fim, ele será levado a querer divulgar o que está sendo feito, pois, um dos grandes
estímulos para o pesquisador é o reconhecimento por parte de outros estudiosos.
Ao iniciar um trabalho científico o estudante inicia uma nova etapa em sua
vida profissional. A partir daí ele estará sendo observado pela comunidade
acadêmica e científica e seu desempenho será avaliado. Este é um dos fatores
motivacionais para o início de uma pesquisa científica. À medida que está sendo
observado e avaliado, o estudante-pesquisador terá o reconhecimento pelo seu
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trabalho e, com isto, crescerão suas chances de obter sucesso no mercado de
trabalho.
Para iniciar-se na vida de pesquisador, o estudante deve seguir alguns
passos básicos:
1.
Identificar e buscar informações sobre a área com a qual tenha maior
afinidade, pois dificilmente se consegue ir adiante estudando algo que
não se gosta.
2.
Conhecer os órgãos de fomento à pesquisa ligados às universidades,
fundações públicas e privadas e os diversos programas de incentivo à
pesquisa, mantidos por órgãos federais, estaduais e municipais e
também empresas privadas. Por exemplo: FINEP, CNPq, Fundações
Estaduais de Pesquisa (Fapepi, Fapesp, Fapese, Fapeam), Fundação
Ford, Banco Santander, Banco Itaú, etc. Esses órgãos destinam
recursos para pesquisas através de editais divulgados nos seus
respectivos sites.
3.
Fazer contato com os professores-pesquisadores das instituições de
ensino e nas áreas em que esteja interessado em aprofundar seus
estudos.
Para
esse
primeiro
contato
é
importante
conhecer
antecipadamente as linhas de pesquisas do pesquisador (verificar no
Currículo Lattes do mesmo) para então apresentar-se e tentar uma
indicação em projeto por ele coordenado. Não é tarefa fácil, pois a
maioria dos pesquisadores já possui uma espécie de “banco de
talentos” com alunos já familiarizados com os assuntos a serem
estudados.
Uma
opção
é
iniciar
como
voluntário
desses
pesquisadores, que passarão a avaliar o interesse e produtividade do
estudante e, posteriormente, poderão indicá-los para as bolsas de
pesquisa e iniciação científica.
A elaboração dos passos acima citados é fruto de nossa observação
pessoal e de questionamentos feitos a alguns pesquisadores na Universidade
Federal do Piauí (UFPI) e Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Não
encontramos essas informações em livros de metodologia científica, elas refletem o
nosso entendimento sobre o tema, podendo não ser aplicadas à realidade de outros
Estados.
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Um dos meios para iniciar a produção científica são as bolsas oferecidas
pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que
“é uma agência do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) destinada ao fomento
da pesquisa científica e tecnológica e à formação de recursos humanos para a
pesquisa no país.” (site do CNPq). Essas bolsas são disponibilizadas em diversas
modalidades e possuem critérios específicos para solicitação. Os interessados
devem consultar as normas vigentes nos editais de chamamento para concessão de
bolsas, diretamente no site do CNPq.
4 A PESQUISA NA DINÂMICA DA VIDA UNIVERSITARIA
Abordaremos a seguir os processos para se realizar uma pesquisa e as
modalidades básicas de trabalhos científicos, independentemente da área de
conhecimento em que a mesma será realizada.
O processo de investigação é
constituído de uma seqüência que segue as seguintes etapas:
a) ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
Antes de ser realizado, um trabalho de pesquisa precisa ser planejado. O
projeto é o registro deste planejamento. Para elaborar o projeto o pesquisador
precisa ter bem claro o seu objeto de pesquisa, os problemas, hipóteses, elementos
teóricos e etapas que pretende percorrer. Cada item deve obedecer a normas
técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), pois elas são
indispensáveis para a avaliação do projeto. Esse tipo de trabalho pode ser feito a
qualquer momento, independentemente de exigência dos professores.
b) LEVANTAMENTO DAS FONTES E DOCUMENTOS
A referência como técnica tem por objetivo a descrição e a classificação dos
livros e documentos similares, seguindo critérios, tais como autor, gênero, conteúdo,
período, etc. Todo material consultado pelo pesquisador deverá ser corretamente
referenciado para servir de validação do trabalho realizado e de pesquisas para
novos estudos.
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Conforme o assunto a ser aprofundado, o pesquisador poderá fazer uso de
diversas fontes de pesquisa, partindo dos principais teóricos da área e sempre
procurando as informações mais atualizadas sobre o tema. Materiais podem ser
consultados em bibliotecas, centros de documentação, fundações de pesquisa,
entidades públicas e privadas, arquivos públicos, jornais, e muitos outros.
Ao realizar pesquisas e buscar informações, o pesquisador deverá anotar
em lugar apropriado a origem da informação (fichamento). Um livro, um periódico,
uma revista científica e até mesmo uma conversa informal que tenha contribuído de
maneira essencial ao seu trabalho, devem ser referenciados conforme as normas
técnicas adequadas. O bibliotecário é o profissional capacitado a executar esta
tarefa corretamente. Para os iniciantes em trabalhos científicos isto pode parecer
supérfluo, mas para os avaliadores desses trabalhos e pesquisas, é uma atividade
que vai demonstrar o quanto o pesquisador aprofundou e valorizou o tema e que,
certamente, contribuirá na avaliação final do trabalho.
A Internet enquanto fonte de pesquisa e validação de informação tornou-se
indispensável para os diversos campos de conhecimento. Isto porque representa
hoje um grande acervo de dados colocado à disposição de todos os interessados, e
que pode ser acessado com extrema facilidade graças à sofisticação dos atuais
recursos informacionais no mundo inteiro. É preciso saber garimpar. Os sites de
pesquisa devem ser de interesse particular da área acadêmica, devendo o
pesquisador priorizar aqueles disponibilizados ou indicados pelas próprias
bibliotecas das grandes universidades e dos organismos de pesquisa e fomento,
nacionais e internacionais.
c) A ATIVIDADE DE PESQUISA E A PRÁTICA DA DOCUMENTAÇÃO
Terminado o levantamento das fontes, é chegado o momento de se iniciar o
trabalho da pesquisa propriamente dito, o momento de leitura e da coleta de dados.
Antes de explorar as fontes bibliográficas o pesquisador deve ter em mãos a
estrutura geral do seu trabalho, conforme anunciado no projeto. Serão essas idéias
que nortearão a leitura e a pesquisa que se inicia.
A primeira medida, no entanto, é operar uma triagem em todo o material
recolhido durante a elaboração das referências. Nem tudo será necessariamente
lido, pois nem tudo interessa devidamente ao tema a ser estudado. Deve-se iniciar
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pelos textos mais recentes e mais gerais, indo para os mais antigos e mais
particulares.
d) ANÁLISE DOS DADOS E A CONSTRUÇÃO DO RACIOCÍNIO
DEMONSTRATIVO
Construção lógica ou síntese é a coordenação inteligente das idéias
conforme as exigências racionais da sistematização própria do trabalho. Pode
acontecer que devido aos desdobramentos ocorridos durante a pesquisa, alguma
mudança se faça necessária para o estabelecimento do plano definitivo, pois a
ordem lógica do pensamento de quem escreve pode não coincidir com a ordem de
descoberta e de intuição do autor pesquisado. Nesta etapa o pesquisador deverá
exercitar intensamente sua capacidade de interpretação dos dados e sua criticidade,
de acordo com seu objetivo.
e) A REDAÇÃO DO TEXTO
Consiste na expressão literária do raciocínio desenvolvido no trabalho.
Recomenda-se que a montagem do trabalho seja feita através de uma primeira
redação de rascunho até chegar-se ao produto final.
É imprescindível que o pesquisador conheça as normas da ABNT ou solicite
o apoio de um bibliotecário, pois cada tipo de apresentação possui características e
exigências próprias. Do ponto de vista da apresentação geral, um trabalho científico
contém as seguintes partes, que irão variar conforme o tipo de trabalho:
•
Elementos pré-textuais: são elementos que antecedem o texto com
informações que ajudam na sua identificação e utilização, como: título e
sub-título (se houver), nome do autor, resumo na língua do autor,
palavras-chave, capa, lombada, folha de rosto, listas (se houver),
sumário. (NBR 6022:2003; NBR 15287:2005).
•
Elementos textuais: parte do trabalho em que é exposta a matéria:
introdução,
desenvolvimento,
conclusão.
(NBR
6022:2003;
NBR
15287:2005).
•
Elementos pós-textuais: são elementos que complementam o trabalho:
título, e sub-título (se houver) em língua estrangeira, resumo em língua
estrangeira, palavras-chave em língua estrangeira, notas explicativas,
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referências, glossário, apêndices, anexos. (NBR 6022:2003; NBR
15287:2005).
Cada um desses elementos deve ser estudado de forma específica, em
trabalho mais aprofundado e não serão abordados neste momento. O pesquisador
deve ter a preocupação de consultar as diferentes normas da ABNT antes de
publicar sua pesquisa. Para tanto, poderá contar com o auxílio de um profissional
bibliotecário que fará a revisão de todo o aspecto normativo do trabalho, adequandoo às exigências da ABNT.
AS MODALIDADES DE TRABALHOS CIENTÍFICOS
Os trabalhos de natureza científica embora tenham caráter universal nas
suas estruturas lógicas e metodológicas, diferenciam-se em função de seus
objetivos e da natureza do objeto abordado e em função de exigências específicas
de cada área do saber humano onde as várias normas de natureza técnica devem
adaptar-se adequadamente.
a) TRABALHO CIENTÍFICO E MONOGRAFIA
De acordo com a NBR 6022:2003, artigo científico é “parte de uma
publicação com autoria declarada, que apresenta e discute idéias, métodos,
técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento”. A norma
NBR 6023:2003 define monografia como sendo “item não seriado, isto é, item
completo, constituído de uma só parte, ou que se pretende completar em um
número preestabelecido de partes separadas”. Inferimos das leituras realizadas que
monografia é o trabalho que reduz sua abordagem a um único assunto, a um único
problema, com tratamento especificado, tendo como característica a unicidade e
delimitação do tema. Ou seja, um artigo cientifico é também uma monografia, e
ambos são formas de trabalhos exigidas durante os cursos de graduação e de pósgraduação lato sensu (especialização).
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b) TRABALHOS DIDÁTICOS
Fazem parte intrínseca da formação técnica ou científica dos estudantes e
os levam a buscar, nas devidas fontes, elementos complementares àqueles
adquiridos no próprio curso. É nesta fase que além de ampliar seus conhecimentos,
o aluno se iniciará no método da pesquisa e da reflexão. Não se exige originalidade
nestes trabalhos, o que o qualifica é o uso correto do material preexistente. Nesta
categoria são incluídos os “comunicados científicos” que são trabalhos apresentados
em eventos (fóruns, congressos, seminários, reuniões) e visam informar sobre o
andamento de determinada pesquisa.
c) TCC – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
A norma NBR 14724:2005 estabelece os critérios de informação e
apresentação de trabalhos acadêmicos e define
“trabalhos acadêmicos – similares (trabalho de conclusão de curso –
TCC, trabalho de graduação interdisciplinar – TGI, trabalho de
conclusão de curso de especialização e/ou aperfeiçoamento e outros):
Documento que representa o resultado do estudo, devendo expressar
conhecimento do assunto escolhido, que deve ser obrigatoriamente
emanado da disciplina, módulo, estudo independente, curso, programa e
outros ministrados. Deve ser feito sob a coordenação de um orientador”.
(grifo do autor).
Parte integrante da atividade curricular de muitos cursos de graduação,
articulado ao próprio conteúdo do curso, em que o aluno formula um projeto e passa
a desenvolvê-lo cumprindo um cronograma nele estabelecido de comum acordo com
seu orientador. Pode ser um trabalho teórico, documental ou de campo. Também
chamado de monografia, por sua natureza única e específica.
d) RELATÓRIO DA PESQUISA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
Segundo a norma NBR 15287:2005, projeto de pesquisa “compreende uma
das fases da pesquisa. É a descrição da sua estrutura”. O relatório da pesquisa de
iniciação científica é um tipo de relatório diferenciado pelo fato de que está vinculado
a uma bolsa, subsídio financeiro para que o aluno possa se dedicar mais
intensamente às pesquisas e investigação. São acompanhados e avaliados por
comissões especializadas. O graduando pode desenvolver um projeto pessoal, sob
a supervisão de um orientador ou participar do desenvolvimento do projeto e
pesquisa do próprio orientador. Neste relatório o aluno deve seguir o que foi
proposto no projeto de pesquisa.
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e) RESUMOS E RESENHAS
Resumo é um trabalho de extração de idéias. Para NBR 6028:2003, resumo
é a “apresentação concisa dos pontos relevantes de um documento”. Ainda segundo
esta norma, o resumo pode ser crítico, também chamado de resenha. Pode ser
indicativo, quando cita os pontos principais do documento, mas sem apresentar
dados e também pode ser informativo, quando especifica com maiores detalhes o
documento em análise.
Resenha, recensão de livros ou análise bibliográfica é uma síntese ou
comentário de livros publicados e são feitos em revistas especializadas das várias
áreas da ciência, das artes e da filosofia. É através delas que se toma conhecimento
prévio do conteúdo do livro.
f) ENSAIO TEÓRICO
No ensaio há maior liberdade por parte do autor, no sentido de defender
determinada posição sem que tenha de se apoiar no rigoroso e objetivo aparato de
documentação empírica e bibliográfica. São características desse tipo de trabalho: o
rigor lógico, a coerência de argumentação, exige grande informação cultural e muita
maturidade intelectual. Não se dispensa, obviamente, o uso correto das normas
técnicas da ABNT.
g) RELATÓRIOS TÉCNICOS DE PESQUISA
Trata-se comumente de exigência institucional de quem financia bolsas ou
projetos, para avaliar o andamento dos projetos financiados ou simplesmente
historiar seu desenvolvimento. O relatório pode iniciar com uma retomada dos
objetivos do próprio projeto, passando, em seguida, à descrição das atividades
realizadas e dos resultados obtidos, devendo ser encerrado com a programação das
próximas etapas da continuidade da pesquisa. Deve-se obedecer a norma NBR
15287:2005.
Segundo Salomon (2004, p.253) os termos aplicados aos diferentes
trabalhos acadêmicos nem sempre tiveram os nomes que têm hoje, pois essas
terminologias variam conforme a época e o país. Por exemplo, a denominação
“método das ciências sociais” surgiu na terceira década do século 19, passando a
chamar-se “trabalho científico escrito” no século 20.
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No contexto dessa evolução Salomon (Ibid., p.254) destaca a importância do
bibliotecário e da documentação como fundamentais no processo de construção do
trabalho acadêmico, enfatizando que “é possível realizar pesquisa científica [...]
freqüentando apenas os centros de documentação, bibliotecas e bancos de dados”
mas completa dizendo que:
“...infelizmente, ainda se ensina pouco em nossos cursos superiores
brasileiros ‘como se usa uma biblioteca’ e, no entanto, a documentação é a
mola real de qualquer trabalho científico e da própria formação superior”.
Infere-se dessa afirmação que o trabalho de pesquisa
científica exige grande empenho por parte dos interessados, especificamente na
coleta de dados.
PARA CONSTRUIR CONHECIMENTO NOVO
Segundo Salomon (2007, p. 253) o uso de novos termos para designar
velhas coisas, juntamente com a reestruturação do ensino e dos sistemas de
formação profissional, provocou reformas e reformulação de conceitos, abordagens
e até mesmo dos rituais das solenidades de formaturas. Claro que isto também
levou a uma maior projeção intelectual e profissional de quem possui os melhores
títulos. Essa última é, sem dúvida, a mola propulsora e o caminho mais óbvio para
quem inicia uma produção acadêmica e científica.
O mundo competitivo em que vivemos exige do estudante, já nas primeiras
séries, uma atitude inquisitiva, curiosa, participativa, em que a pesquisa se faz
necessária e imprescindível desde aquele primeiro experimento com o grão de feijão
posto em um chumaço de algodão, pelo qual todos nós um dia passamos. Para o
estudante-pesquisador, ali se faz ciência e ali se inicia a jornada científica.
Em qualquer das ciências, humanas ou exatas, da saúde ou da educação,
existe pesquisa científica e inúmeras possibilidades de novas descobertas, bastando
que se dê o passo inicial e que o estudante-pesquisador se inquiete diante dos
ensinamentos básicos das grades curriculares e busque novos caminhos.
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Waters (2006, p.75), preocupado com a falta de curiosidade e interesse da
maioria dos jovens pela pesquisa, em todos os sentidos da palavra, mas, em
especial, à pesquisa acadêmica, cita Benjamin Franklin, que em 1913 escreveu:
Cada vez mais somos assaltados pelo seguinte sentimento: nossa
juventude é nada mais que uma noite passageira... [que] será seguida pela
grande “experiência”, os anos de compromisso, de empobrecimento das
idéias, de falta de energia. Assim é a vida. É isso o que nos dizem os
adultos, e foi isso que eles viveram... “.
Na opinião de Waters alguns teóricos tentam suprimir na juventude
acadêmica a expectativa de novas descobertas, temendo perderem o posto de
“deuses” do saber. Nesta categoria ele cita Stanley Fish (reitor de uma conceituada
universidade
americana),
um obcecado pela desconstrução da teoria do
conhecimento que propõe a busca por novas idéias de uma forma conveniente
somente à sua própria vontade de poder. Para Waters, Fish e seus seguidores
temem a idéia de algo novo, que não tenha sido criação deles, fazendo diferença na
vida das pessoas.
O que Waters enfatiza, e o que o preocupa, é a corrida pelo status, pelo
poder, em detrimento da qualidade com o que está sendo feito, pesquisado e
divulgado na comunidade científica. Muitos pesquisadores estão preocupados em
publicar indistintamente, sem critérios de conteúdo, inovação ou qualidade. Este é o
grande perigo da vida acadêmica e do pesquisador: cair na tentação de publicar
incessantemente, repetindo as mesmas idéias, os mesmos métodos, trocando
apenas a posição das palavras, somente para contar pontos nas avaliações de
currículo e constar em citações bibliográficas. E este é um caminho que o estudantepesquisador deve procurar evitar, pois para sobressair-se neste mundo competitivo,
o que conta mais é a inovação.
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REFERENCIAS
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documentação: artigo em publicação periódica científica impressa: apresentação.
Rio de Janeiro: 2003.
______. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de
Janeiro: 2002.
______. NBR 6028: informação e documentação: resumo: apresentação. Rio de
Janeiro: 2003.
______. NBR 14724: informação e documentação: trabalhos acadêmicos:
apresentação. Rio de Janeiro: 2005.
______. NBR 15287: informação
apresentação. Rio de Janeiro: 2005.
e
documentação:
projeto
de
pesquisa:
BAGNO, Marcos. Pesquisa na escola: o que é, como se faz. 21. ed.. São Paulo:
Ed. Loyola, 1998.
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Bolsas. Disponível em: <http://www.cnpq.br/bolsas/index.htm>. Acesso em: 16 jun.
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MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 5.
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SALOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. 11. ed. São Paulo: Martins
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SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. rev. e
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16
STERN,
Leonardo.
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<http://www.pesquisapsi.com>. Acesso em: 15 jun. 2009.
Disponível
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VOLPATO, Gilson Luiz. Dicas para redação científica. 2. ed. Botucatu: Gilson Luiz
Volpato, 2006.
WATERS, Lindsay. Inimigos da esperança: publicar, perecer e o eclipse da
erudição. Tradução Luiz Henrique de A. Dutra. São Paulo: Ed. da UNESP, 2006.
Download

DESPERTANDO PARA A PRODUÇÃO INTELECTUAL: A