A utopia revolucionária da Fundação para a Ciênc...
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OPINIÃO
A utopia revolucionária da
Fundação para a Ciência e a
Tecnologia
PEDRO BICUDO
27/01/2014 - 19:51
As áreas científicas que a fundação decidiu apoiar nos novos
programas de doutorais, cujos primeiros resultados foram
divulgados em 2013, são “subsubáreas” da ciência e da tecnologia.
Sou totalmente adverso a esta mania revolucionária (que estranho
surgir num Governo PSD/CDS) de destruir o que existe e de fugir
para uma utopia mirabolante. Os países mais desenvolvidos são
aqueles que constroem de forma sólida e rigorosa sobre uma base
que já exista. Que preservam o que já têm. E que, passo a passo, de
forma clara e bem planeada, avançam em direcção ao futuro.
O problema das bolsas (ou falta delas) da Fundação para a Ciência e
a Tecnologia (FCT) não surgiu há uns dias, começou nos programas
doutorais, com orçamentos milionários, que são os flagships da FCT
na era de Miguel Seabra. Quem quiser saber quais foram as
“subsubáreas” da ciência e da tecnologia que a FCT de Miguel
Seabra decidiu financiar com estes programas de doutoramento
milionários, estão todas aqui (http://www.fct.pt/apoios
/programasdoutoramento/concursos
/docs/2012_FCT_PhD_Programmes-PostAdminAppeal_110713.zip).
É claro nesta listagem e nos resultados dos concursos de bolsas
recentes que os temas que ganharam a lotaria dos programas de
doutoramento da FCT são claramente minoritários, que estes
programas doutorais minoritários são a aposta para os próximos anos
em detrimento das bolsas de mérito individual, como o próprio
primeiro-ministro foi levado a defender no Parlamento
(http://www.publico.pt/ciencia/noticia/passos-coelho-nega-cortenas-bolsas-de-doutoramento-1620055), que em todos os outros temas
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ficou um deserto de bolsas, pois a FCT gastou a maior parte do seu
orçamento nestes programas e noutros projectos de âmbito muito
restrito, e que os temas que foram excluídos correspondem à maioria
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da ciência
e da tecnologia.
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Concluímos assim que a estratégia para bolsas de doutoramento do
Governo/FCT não vai desenvolver a economia nacional, nem agora
nem no futuro, nem vai aproximar a ciência das empresas, mas vai
atrofiar a maioria das áreas tecnológicas – que são todas igualmente
importantes – e, como tal, vai fazer regredir a economia nacional.
Num caminho reformista (que seria o que se esperaria de um
Governo PSD/CDS), saliento que as universidades portuguesas, pelo
menos as melhores, já têm todas cursos de doutoramento, há dezenas
de anos, ligados aos seus departamentos. Esses cursos de
doutoramento é que são a base da tecnologia portuguesa, e estão
naturalmente associados aos melhores centros de investigação.
Funcionam bem e todos cumprem os critérios para funcionarem com
qualidade. Poderiam ser melhorados? Claro que poderiam,
principalmente se tivessem estabilidade e tivessem um número
mínimo de alunos, que teriam se a FCT e instituições privadas
atribuíssem bolsas aos alunos dos cursos de doutoramento das
universidades – e não a estes enxertos que são os programas
doutorais da FCT. E poderiam ser guiados pela FCT no sentido que o
Governo achasse estratégico.
Mas esta “revolução” de Miguel Seabra, esta “lotaria”, é um
desperdício dos (excessivos) impostos pagos pelos contribuintes.
Professor e físico do Instituto Superior Técnico
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