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Os desafios do Fórum segundo Saramago
Nobel de Literatura concedeu entrevista exclusiva ao programa de rádio Mundo do
Fórum
José Saramago, prêmio Nobel de literatura 1998, será palestrante do Fórum Social
Mundial 2005. Autor de livros célebres como “O Evangelho Segundo Jesus Cristo“,
“Memorial do Convento” e “Ensaio sobre a Cegueira”, Saramago tem demarcado
fronteiras na luta contra a globalização, a qual define como apenas apenas mais um
nome para o imperialismo. Mas para ele, a palavra não basta. É preciso transformar todo
o discurso em ação. É esse o desafio do Fórum segundo Saramago: tornar-se em
instrumento de ação e demarcar um novo sentido para a utopia: “Coloquemos aquilo
que é utopia, aquilo que é o conceito, não o coloquemos em lugar nenhum. Coloquemos
no amanhã e no aqui. Porque o amanhã é a única utopia”.
José Saramago concedeu esta entrevista exclusiva na tarde desta quarta-feira (19/01) à
jornalista Denise Ritter, integrante da Assessoria de Comunicação do FSM e editora do
programa de Rádio “Mundo do Fórum”. A entrevista vai ao ar no site nesta sexta-feira
(22/01),
www.forumsocialmundial.org.br
e
na
integra
no
site
www.fsm.procempa.com.br/com
Ele não falará aos jornalistas durante o Fórum Social Mundial 2005. Veja a seguir os
principais trechos:
As propostas do Fórum
“Eu penso que o Fórum Social Mundial este ano deveria ser um lugar onde não nos
limitássemos simplemente a reivindicar. Enfim, com todas as razões e com todos os
melhores motivos que se possa imaginar. A idéia de que um outro mundo é possível,
mas em lugar de pôr este rótulo, este desejo num futuro - porque efetivamente quando
nós estamos a dizer um outro mundo é possível é uma coisa que estamos a colocar no
futuro. Enfim, se pensas que um dia chegaremos à concretização deste outro mundo
possível, que hoje mal se define nas nossas prórias idéias, na nossa própria consciência,
mas que de qualquer forma se apresenta como um objetivo a alcançar.
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Eu creio que o estado do mundo, enfim, a consciência de que - e cada vez mais forte,
aliás, não é porque eu tenha dito, mas a verdade é que ando a dizer há uns quantos anos
que a globalização é uma forma nova de imperialismo. Por trás dessa idéia
aparentemente simples de uma globalização econômica, esconde-se, hoje nem sequer
esconde-se, uma ambição imperialista que nos mostra os sonhos de poder dos Estados
Unidos, o sistema capitalista que, enfim, tem um objetivo claro.
A globalização econômica é uma arma nova dum projeto imperialista que passa, com
certeza, por um novo tipo de exploração mundial e se não nos prepararmos para
enfrentar- não quer dizer que não tenhamos enfrentado já, muitas e muitas vezes - mas
há, penso eu que há e, enfim, se não é assim eu peço sinceramente que me desculpem,
há uma dispersão de vontades. (....)
“Não estou a dizer que o Fórum Social Mundial deve se transformar num partido
político, evidentemente. Não se trata disso. Trata-se simplesmente de que a gravidade
da situação do mundo exige que se o Fórum Social Mundial, que até agora tem
desempenhado um papel importantíssimo na consciência universal das pessoas, tenho
uma idéia que pode estar equivocada, evidentemente. Mas tenho esta idéia de que é
necessário passar a um outro estágio que implique ao longo do ano a presença das
propostas e dos objetivos consensuais“.
Um Fórum permanente
“ (...) As baterias têm que funcionar para pôr o motor a funcionar. Esta é a minha
idéia.Teria de inventar, em Porto Alegre, enfim, algo que não fosse uma ONG, que se
dilui na quantidade quase astronômica de ONGs, mas que fosse, efetivamente, que se
apresentasse como um fórum de debates de idéias não simplemente que as pessoas se
encontram e vão ter idéias e ficam, enfim, contentes com isso e vão aprender algo, e
comunicar algo, mas que seja mais do que isso. Que seja um instrumento para a ação”.
A utopia transformada em amanhã
“Se eu pudesse riscava a palavra utopia dos dicionários. Mas claro não posso, não devo
e nem o faria. Eu penso que nós, e há que reconhecer que os jovens são muito sensíveis
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à idéia da utopia. Mas como toda a gente sabe, digamos, a utopia é alguma coisa que
não se sabe onde está. O próprio termo está a dizê- lo: U e topos. Portanto, algo que não
se sabe onde está. Que se supõe que existe mas não se sabe onde está. Repara: há uma
contradição interna no conceito de utopia, sobretudo no uso que se faz dele como algo
que, de repente, toda a gente diz ou diz-se muitas vezes, todos nós precisamos de uma
utopia. Eu acho que não precisamos de uma utopia.
Então, quando digo que riscaria a palavra utopia e (....) se eu tivesse que substituí-la,
então, enfim, substitui-la-ía por uma palavra que já existe: esta palavra é simplesmente
amanhã. É para amanhã o trabalho que hoje se faz. Portanto, coloquemos aquilo que é
utopia, aquilo que é o conceito, não o coloquemos em lugar nenhum. Coloquemos no
amanhã e no aqui. Porque o amanhã é a única utopia (...)“.
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