Uma publicação do Colégio Dante Alighieri
I S S N 2 2 3 8 -2 9 3 3
Ano I - No 2
“O Brasil só será
uma potência
econômica se
investir em
tecnologia”
Milton Michida/A2 Fotografia
Em entrevista exclusiva à
InCiência, Secretário da Educação
de SP, Herman Voorwald, exalta
importância da pré-iniciação
e da iniciação científica
PESQUISAS:
Robô com Bluetooth
para auxiliar resgate
em catástrofes
Pomada pode ajudar
na cicatrização de
feridas de diabéticos
Telhado verde
beneficia meio
ambiente
Software busca
despertar interesse
pela leitura
Uma amiga contra
os transtornos
alimentares
Embalagens
ecológicas feitas
de biomassa
COLUNISTAS:
André L. Viegas e Leo Weber: Sobre as contribuições da ciência jovem
Rubem Saldanha: Do feijão com algodão à inovação
Roseli de Deus Lopes: O papel da escola por um mundo sustentável
+ (Expediente)
Presidente:
Dr. José de Oliveira Messina
Diretor Geral Pedagógico:
Prof. Lauro Spaggiari
Comitê Científico:
Profª Ms Sandra Rudella Tonidandel
Profª Ms Valdenice M. M. de Cerqueira
Profª Ms Carolina Lavini Ramos
Jornalista Responsável:
Fernando Homem de Montes
MTB 34598
Comitê Editorial
Profª Ms Sandra Rudella Tonidandel
Profª Ms Valdenice M. M. de Cerqueira
Fernando Homem de Montes
Gustavo Antonio
Textos:
Gustavo Antonio
Desenvolvimento do Logotipo:
Thiago Xavier Mansilla Maldonado
Revisão:
Luiz Eduardo Vicentin
Projeto Gráfico:
Nelson Doy Júnior
Diagramação:
Simone Alves Machado
Contato:
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sugestões para o email:
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Créditos finais:
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cedidos por terceiros para publicação nesta
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e empresas que, com sua colaboração,
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parcial do conteúdo, desde que citadas as fontes e desde que a obra
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2
Uma publicação
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+ (Indice)
C1
(editorial)4
(Entrevista: Herman Voorwald,
secretário da educação de SP )6
[(ponto de vista) - 1
André Luis Viegas e Leo Weber]12
[(ponto de vista) - 2
Rubem Saldanha]14
C2
[(pesquisa) - Tecnologia – Robô com
Bluetooth pode ajudar no resgate de
vítimas de catástrofes )]16
C3
[(pesquisa) - Saúde – Uma
“amiga” contra os transtornos
alimentares )]20
[(pesquisa) - Sustentabilidade –
“Telhado verde” com materiais
reutilizáveis beneficia meio ambiente e
pode gerar alimentos ]24
C4
[(pesquisa) - Saúde – Alunos
desenvolvem pomada que pode
ajudar na cicatrização de feridas de
diabéticos ]28
[(pesquisa) - Sustentabilidade –
Embalagens ecológicas para mudas:
sai o plástico, entra a biomassa ]32
C5
[(pesquisa) - Tecnologia e Educação –
“Reino da Leitura” usa tecnologia para
despertar interesse por livros ]36
[(ponto de vista) - 3
Roseli de Deus Lopes ]40
[(Institucional)
Revista InCiência é lançada com a
presença de especialistas da área ]42
C1: Milton Michida/A2FOTOGRAFIA / C2: Vitor Sternlicht / C3: Antônio Augusto
Martins Pereira Júnior e Stephanie Alves de Oliveira Silva / C4: Arquivo pessoal dos
pesquisadores / C5: Arquivo pessoal dos pesquisadores
3
+ (Editorial)
{A prática da ciência
reaviva o sentido
do seu ensino}
Sandra M. R. Tonidandel
Profª. Coordenadora do Departamento de Ciências da
Natureza do Colégio Dante Alighieri e Doutoranda em Ensino
de Ciências pela Faculdade de Educação pela USP
Valdenice Minatel
Profª. Coordenadora do Departamento de Tecnologia
Educacional do Colégio Dante Alighieri e Doutoranda em
Educação: Currículo – Novas Tecnologias pela PUC-SP
Q
uem teve a oportunidade de ouvir, no
início deste ano, os especialistas presentes no
lançamento da InCiência deve ter ficado, além de
emocionado com o evento, ansioso por saber
quais seriam os próximos passos no rumo da
expansão e continuidade da publicação. De fato,
é um grande desafio garantir a produção de
uma revista que, além de divulgar os excelentes
trabalhos dos jovens brasileiros na área de préiniciação científica, dedica-se também a incentivar
mais e mais estudantes a mergulhar no fascinante
mundo do conhecimento científico – um mundo
cheio de surpresa, inovação e criatividade. Da
mesma forma, é um desafio a conquista de novos
leitores, despertando-lhes sempre a curiosidade
“do que será que vem por aí?”.
Ao ler as páginas do segundo número da
InCiência, acreditamos que o leitor perceberá
que essas expectativas estão sendo satisfeitas,
pois,nesta edição, há excelentes trabalhos de
jovens pesquisadores! Cabe destacar, também, as
diferentes áreas de conhecimento contempladas
4
pelos projetos relatados na publicação. Chama a
atenção, ainda, que, nas fotos, os estudantes estão
sempre sorrindo, felizes com o que produziram.
Claro que abrir espaço para a divulgação de
mais artigos científicos situa-se no plano das
nossas ambições. Fiquem certos de que estamos
trabalhando para isso. Entretanto, é importante
reconhecer que, em um ponto, já conquistamos
um resultado para lá de positivo: a excelente
qualidade do material aqui reproduzido.
Reforçando e complementando o conteúdo que
mostra o desenvolvimento de novas pesquisas na
área de pré-iniciação, temos a honra de publicar
aqui uma entrevista com o atual secretário da
Educação do Estado de São Paulo, prof. Herman
Voorwald, um homem da ciência, um pesquisador
ligado à educação, dado que é reitor licenciado da
Unesp.
Nessa entrevista, destaca-se a ideia de que a préiniciação científica é uma ferramenta fundamental
para o pleno desenvolvimento dos jovens, cuja
importância se constata não apenas para o
surgimento de novos pesquisadores em nosso
país, mas também para formar profissionais
capazes de resolver problemas de forma mais
autônoma, mais criativa e mais inovadora.
O secretário deixa claro que investir no
conhecimento é imprescindível para tornar os
jovens não apenas usuários de novas ferramentas,
mas também geradores de tecnologias. O
desenvolvimento de programas desse tipo
em todas as escolas é peça-chave para que o
ensino de ciências seja completo, uma vez que
transforma o papel do estudante: ele deixa de ser
aquele que aprende o que outros descobriram
para tornar-se um investigador de conhecimentos
e produtor de tecnologias, valorizando a própria
capacidade de criar, pensar e agir de forma a
melhorar a sociedade em que vive.
Este número da InCiência também assinala a
atividade das feiras de ciências no âmbito nacional
e internacional como alavanca da motivação e da
idealização dos projetos de pré-iniciação. Tanto
assim que a equipe de colunistas foi ampliada: há
textos de profissionais ligados aos três eventos
mais importantes da área para nosso país.
Além de Roseli de Deus Lopes, coordenadora
geral da Febrace (Feira Brasileira de Ciências e
Engenharia), juntam-se ao time André Luís Viegas,
coordenador da Mostratec (Mostra Internacional
de Ciências e Tecnologia) e Leo Weber (diretorexecutivo da Fundação Liberato), que assinam um
texto em parceria. Rubem Saldanha, gerente da
educação da Intel do Brasil, é outro que inaugura
sua participação.
Por sinal, a Intel é a grande patrocinadora da
Intel-ISEF (International Science and Engeneering
Fair), a maior Feira de Ciências do mundo,
realizada anualmente nos Estados Unidos. A
Intel-ISEF recebe a delegação brasileira composta
pelos ganhadores da Mostratec e da Febrace, das
quais estes saem credenciados. Os estudantes
premiados nesses eventos recebem treinamento,
estrutura e incentivo da Intel, de forma que
possam todos embarcar para os Estados Unidos
representando nosso país. Por uma analogia,
podemos dizer que a Intel-ISEF são as Olimpíadas
ou a Copa do Mundo da pré-iniciação científica!
Poucos sabem, mas os jovens brasileiros têm feito
bonito nessa mostra, melhorando ano a ano as
apresentações, os trabalhos e as ideias. Esperamos
que a InCiência possa inspirar aos jovens e seus
professores uma participação rica e ativa!
Rubem Saldanha estreia sua coluna com um
texto que provoca nossa curiosidade ao fazer um
paralelo entre a inovação e a simples experiência
do feijão com algodão. Segundo ele, é irrigando
desde cedo o interesse do jovem pela ciência –
por meio da pré-iniciação científica, por exemplo
– que a escola e o professor farão brotar, mais
que uma inteligência amadurecida, uma mente
aberta à verdadeira inovação.
Tecnologia e transformação social são, por assim
dizer, duas pontas do eixo da história. Por meio
da pré-iniciação científica pode-se insuflar, nas
escolas e nos jovens, as mudanças necessárias
e sugeridas por Roseli de Deus Lopes em sua
coluna, na qual trata da Rio+20. É também pela
valorização da cultura científica no ambiente préuniversitário que os jovens podem desenvolver
uma postura reflexiva, crítica, buscando olhar
os problemas que atingem sua comunidade e
pensando em formas, balizadas pela criatividade
e pela ciência, para resolvê-los, conforme
comentam os colunistas André e Leo.
Os textos ressaltam a importância de fornecer
um espaço privilegiado para os jovens brasileiros:
o espaço da construção do conhecimento pela
ferramenta da ciência, o espaço em que os
estudantes se sentem capazes de boas ideias
e boas ações, em benefício não apenas deles
mesmos, mas de outras pessoas e do ambiente
em que vivem.
Não poderíamos, entretanto, deixar de ressaltar
que os trabalhos desenvolvidos na pré-iniciação
científica pelos jovens dependem do incentivo e
da orientação de seus professores orientadores.
O papel dos educadores, motivando e orientando,
é indispensável para fazer com que os jovens
deem o melhor de si em seus projetos. Aos
professores orientadores, nossa homenagem.
À semelhança da primeira edição, o número dois
de InCiência apresenta uma versão impressa e
outra digital. Se você, jovem que trabalha com
algum projeto de pré-iniciação científica, quiser
ver seu trabalho publicado nesta revista, envie
seu artigo por meio do endereço http://www.
colegiodante.com.br/inciencia/envio/.
Uma comissão de professores-pesquisadores
fará uma avaliação e dará o parecer sobre sua
pesquisa. Se for aprovado, é só aguardar nosso
contato!
5
+ (Entrevista)
“A pré-iniciação e a
iniciação científica
são fundamentais
para formarmos mais
doutores”, diz Secretário
da Educação de SP
Oficina Dante em Foco
A
ntes de assumir a Secretaria da
Educação de São Paulo, em janeiro de
2011, Herman Voorwald construiu uma
sólida carreira acadêmica em algumas das
mais conceituadas instituições de ensino
do país e do exterior: graduou-se na Unesp,
fez mestrado no ITA, doutorado na Unicamp
e pós-doutorado no Laboratório Soete, na
Bélgica. Sabe como ninguém a importância
da pesquisa. Tanto que, segundo ele, o Brasil
só será uma potência econômica se investir
em ciência, mais especificamente na préiniciação científica (voltada para os alunos
6
da escola básica) e na iniciação científica
(para alunos de universidades).
“Para mim, o mais importante para que esse
país crie essa cultura da ciência e forme
mestres e doutores é desenvolver no jovem
o gosto pela ciência”, diz Herman Voorwald,
reitor licenciado da Unesp, nesta entrevista
exclusiva à InCiência, em que também falou
sobre políticas públicas para educação e
pesquisa, além de reafirmar seu objetivo de
instaurar a Escola de Período Integral em
todo o estado de São Paulo.
Milton Michida/A2FOTOGRAFIA
Para Herman, o Brasil só será uma potência
econômica se investir em ciência
8
Felipe Guerra
InCiência: Secretário, como surgiu o
interesse do senhor pela ciência. Houve
o incentivo de algum professor ou de
algum familiar?
Herman Voorwald: Houve. Preciso dizer,
honestamente, que minha intenção inicial era
seguir Educação Física, porque gosto muito de
esporte, fui um atleta quase que profissional.
Mas meu pai era engenheiro químico e dizia
que a engenharia seria, em muitos anos, uma
profissão extremamente importante no Brasil.
Meu pai já tinha essa visão do Brasil ser uma
das grandes potências econômicas do mundo,
e a engenharia seria importante para alavancar
o crescimento do país. Por conseguinte, eu
segui engenharia.
InCiência: Como pesquisador há mais de
30 anos, como o senhor vê a importância
da pesquisa na escola básica?
Herman Voorwald:A pesquisa é importante
de forma geral. Mais importante do que
comprar tecnologia é desenvolver tecnologia.
Esse é o grande salto deste país: é se tornar um
país que invista no conhecimento. O estado
de São Paulo dá exemplo nesse sentido. Tem
três grandes universidades públicas, e eu
sou reitor de uma delas (é reitor licenciado
da Unesp), com muito orgulho, e também
tem uma grande agência de fomento, que é
a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo), da qual eu também
tenho a honra de fazer parte do Conselho
Superior. Na realidade, só se construirá
um país tecnologicamente independente se
nós investirmos na ciência. E para isso, nós
devemos começar na educação básica. É muito
importante que nós tenhamos a sensibilidade
de perceber que se a educação básica for
sólida, se os ciclos I e II do Fundamental e
o Ensino Médio derem para o jovem uma
formação, quer seja para o mercado de
trabalho, quer seja para a cidadania, esse
jovem, quando ingressar no Ensino Superior,
terá uma condição de evolução muito rápida
e contribuirá, ou como profissional, ou como
cientista, para o desenvolvimento do país.
InCiência: E qual é a importância de
uma boa pré-iniciação científica?
Herman Voorwald: Eu considero que,
dos programas (de pesquisa), o de iniciação
científica é o mais importante. Eu orientei
vários mestrados, vários doutorados, mas
eu gosto demais da iniciação científica. Sou
um defensor incondicional do investimento
na iniciação científica. Já a pré-iniciação
científica é um passo anterior, pegar o jovem
da educação básica, principalmente, dos
O secretário pretende implantar o modelo de
período integral em todas as escolas do estado de
São Paulo
últimos anos do Ensino Fundamental e do
Ensino Médio e já estimulá-lo ao gosto pela
pesquisa. Isso fará com que esse menino, no
momento em que estiver fazendo um curso
superior, se entusiasme, continue e siga no
mestrado, doutorado, pós-doutorado. Então
a pré-iniciação científica e a iniciação científica
são fundamentais se quisermos formar mais
doutores. Esse país precisa de mais doutores,
a relação de doutores por habitante é baixa. Se
o Brasil quiser ser uma potência econômica, o
país tem que desenvolver e dominar tecnologia,
e para isso nós devemos formar gerações
de profissionais que tenham conhecimento,
fundamentalmente, através de programas de
iniciação, mestrado e doutorado.
InCiência: Como o senhor concilia a
burocracia da administração pública
com o incentivo à pesquisa?
Herman Voorwald: Na minha vida pessoal
como pesquisador, eu tenho um grupo de
pesquisa chamado grupo de Fadigas e Materiais
Aeronáuticos, que hoje tem 20 projetos de
iniciação científica, fora os de mestrado e
doutorado. Eu me encontro com esse grupo
quase uma vez por semana, e nós trabalhamos
em conjunto os projetos da equipe,
projetos financiados e que estão gerando
conhecimento. Como secretário de estado,
o entendimento que tenho da importância
da ciência fez com que o programa chamado
“Educação, compromisso de São Paulo”, que
o governador Geraldo Alckmin lançou no final
do ano passado, tivesse como um dos pilares
um novo modelo de escola e uma nova carreira
para o professor. Esse novo modelo é uma
escola de Ensino Médio em tempo integral.
Esse jovem ingressa na escola e lá permanece
das 7h30 da manhã às 5 da tarde, com um
corpo de professores em tempo integral, para
que esse jovem possa ter uma formação que o
estimule a seguir uma carreira.
InCiência: Qual relação o senhor vê
entre a capacidade dos alunos de inovar,
de criar, com o desenvolvimento do
nosso país?
Herman Voorwald: Eu considero que
o brasileiro é muito criativo. Eu vejo isso,
enquanto pesquisador, pelos alunos que me
procuram. O brasileiro tem uma facilidade
de encontrar caminhos alternativos que
viabilizem a solução do problema. No que
diz respeito à ciência e tecnologia no cenário
mundial, o Brasil tem ultrapassado países muito
tradicionais. Isso se deve, sem dúvida, primeiro:
a uma política de investimentos, do governo
federal,dos governos estaduais, através das
fundações de amparo, que têm financiado
a pesquisa. Segundo, há uma preocupação
das universidades em uma formação mais
sólida. As universidades estão buscando os
rankings internacionais, o que significa, entre
outras coisas, ter uma participação mais
incisiva na geração do conhecimento, e isso
evidentemente é passado para os jovens que
estão nas universidades. Nós estamos criando
gerações de jovens que cada vez mais estão
se envolvendo em atividades de ciência e
tecnologia.
InCiência: Como reitor da Unesp, o
senhor acredita que a pré-iniciação
científica faz com que os estudantes
cheguem mais maduros e preparados à
universidade?
Herman Voorwald: Não tenho dúvidas.
Como eu disse, a pré-iniciação científica
começa a desenvolver no jovem o espírito
crítico. O aluno que ingressa na faculdade
tem que ter esse espírito crítico, de discutir,
estudar, amadurecer, enfim, se envolver
com atividades outras além da sua formação
clássica na faculdade. A pré-iniciação científica
é o passo inicial para que depois esse jovem se
sinta estimulado a se engajar em um grupo de
pesquisa para fazer um trabalho de iniciação
científica e, na sequência, em se entusiasmando
em continuar sua carreira acadêmica, fazer
mestrado, doutorado, pós-doutorado e
entrar em uma faculdade como pesquisador,
em um instituto de pesquisa. Para mim, o
mais importante para que esse país crie essa
cultura da ciência e forme mestres e doutores
é desenvolver no jovem o gosto pela ciência.
InCiência: Em sua opinião, como os
alunos que são premiados em feiras
nacionais e internacionais, como a
Febrace, a Mostratec, a Intel Isef, podem
ser valorizados nas universidades
públicas brasileiras?
Herman Voorwald: Na realidade, eu
entendo o seguinte: esse jovem que foi
premiado já tem outro entendimento da
importância de um trabalho científico além
das disciplinas tradicionais. Já é um jovem
com outro perfil. Eu acho que, na realidade,
a premiação servirá de estímulo para que ele
dê continuidade a suas atividades de pesquisa.
InCiência: Existe a possibilidade do
modelo de Período Integral, até agora
implantado no Ensino Médio de escolas
convidadas para o projeto, tornar-se
obrigatório nas escolas públicas em um
curto prazo?
Herman Voorwald: É fundamental que
o aluno esteja em tempo integral na escola.
9
a criança estudar uma hora a mais por dia, ela
ganha um dia na semana. Multiplique isso pelo
tempo de estudo que esse jovem tem. Então
é fundamental que ele tenha mais atividades
dentro da instituição.
InCiência: Como a pré-iniciação
científica se insere nesse contexto de
Período Integral?
Herman Voorwald: É uma ação que eu
pretendo desenvolver aqui no estado de São
Paulo, nas escolas de Ensino Médio em tempo
integral e depois no Ciclo II em tempo integral.
Quero viabilizar o processo no contraturno
com disciplinas eletivas. Mas tem que ser uma
ação por adesão, porque o aluno tem que
estar entusiasmado para fazer isso [projeto
de pré-iniciação científica].
InCiência: Como uma revista de
divulgação de pré-iniciação científica,
como a InCiência, pode ser usada em
ambientes escolares que já têm essa
prática de pré-iniciação ou até naqueles
que não têm esse tipo de projeto?
Herman Voorwald: Uma das minhas
maiores alegrias foi quando um artigo meu,
da minha tese de mestrado, foi publicado.
Eu acho que o retorno da publicação é um
estímulo que só aquele que tem o artigo
Milton Michida/A2FOTOGRAFIA
Se nós quisermos dar ao aluno uma melhor
formação, é importante que haja mais
participação dele nas atividades da escola. A
questão não é estar na escola fisicamente,
a questão é termos um projeto pedagógico,
garantindo que o aluno, na escola, além das
disciplinas da matriz curricular, tenha as
disciplinas eletivas que deem a ele a formação
que julga necessária para seu projeto de
vida. Não tenho dúvidas de que a escola de
tempo integral é o caminho. O governador
Geraldo Alckmin já sinalizou que é prioridade
dele encaminhar o estado de São Paulo para
que Ciclo II do Ensino Fundamental e Ensino
Médio estejam em tempo integral. O Ciclo I
no estado de São Paulo é municipalizado, cabe
aos municípios. O Ciclo II e o Ensino Médio
estão sob responsabilidade do estado.
InCiência: Isso valeria também para as
escolas particulares?
Herman Voorwald: Essa é uma ação que
julgo que será seguida. A tendência mundial
é exatamente ter o jovem na instituição
para que ele receba uma formação mais
completa. Tenho conhecimento de muitas
escolas particulares que já têm essa ação. É a
tendência. Basta que a gente pense: cada hora
a mais de um dia de estudo representa na
semana quase um dia a mais de aula. Então, se
10
Herman Voorwald concilia o cargo de secretário com suas atividades acadêmicas de pesquisador
que entender que existe muita competência
nas universidades. E as universidades têm que
entender que essa parceria é possível sem que
a universidade perca a autonomia.
InCiência: E como fazer para que a
sociedade brasileira seja efetivamente
beneficiada por essas pesquisas?
Herman Voorwald: Na realidade, não
há pesquisa que não seja importante. Pode
ser que algo que tenha sido trabalhado não
tenha uma aplicação prática hoje. Mas em
função da evolução, amanhã já pode ter uma
grande aplicação. Eu acho que não deve haver
restrição a qualquer tipo de pesquisa. Mas,
em última instância, no meu entendimento, a
pesquisa tem que estar a serviço da melhor
condição de vida da população. Tem que
dar um retorno social para a população. As
universidades têm programas de extensão
universitária muito interessantes. Inclusive as
universidades têm pró-reitoria de extensão
universitária porque, na realidade, uma parte
significativa das atividades desenvolvidas
nesses projetos pode ter uma atuação muito
forte nas comunidades e com a população
de maneira geral. Então, qualquer que seja a
pesquisa, ela sempre resultará em uma maior
interação e em uma maior ação junto com a
sociedade.
Felipe Guerra
publicado consegue entender. Eu considero
fundamental que haja um documento que
possa dar visibilidade a todo esforço de um
grupo de pessoas num sentido da execução
de uma proposta que deu certo. Então eu
acho que não tem nada mais entusiasmante no
sentido de continuidade na linha e no estímulo
à ciência. Então, gosto demais das revistas de
pré-iniciação científica, gosto das revistas que
deem visibilidade aos resultados dos trabalhos
que foram concluídos.
InCiência: Em qual ramo de pesquisa o
governo do estado de São Paulo mais
investe atualmente?
Herman Voorwald: Quem fomenta a
pesquisa no estado de São Paulo é a Fapesp,
uma grande fundação, que tem uma gestão
muito focada. O objetivo dela é desenvolver
ciência. A tendência hoje é a geração de
conhecimento, a tendência hoje é inovação,
essa é a palavra que está na mesa. O estado de
São Paulo não tem uma diretriz única, o estado
de São Paulo entende que todas as áreas são
importantes, que o país tem que crescer de
forma uniforme em todos os segmentos.
InCiência: Como é possível criar
mecanismos para que as empresas
financiem as universidades brasileiras?
Herman Voorwald: Na realidade, não é
que elas financiem, nós temos que entender
que a linguagem nem sempre é a mesma entre
a academia e a iniciativa privada, e o tempo de
resultado também nem sempre é o mesmo.
Mas é importante que haja uma associação
de interesses. O estado de São Paulo tem nas
universidades públicas, estaduais e federais, e,
em muitas universidades privadas, pessoas de
muita competência, que têm, com atuações
junto com as empresas, trabalhado no sentido
da geração do conhecimento. Quer dizer, há
um sentimento de que todo o conhecimento
dessas instituições de ensino e pesquisa tem que
ser aproveitado e tem que estar a serviço do
desenvolvimento do estado. As empresas têm
Herman Voorwald foi entrevistado por alunos da
oficina Dante em Foco
11
(Ponto de vista)1
Sobre as contribuições
da ciência jovem
*André Luís Viegas
**Leo Weber
C
12
ada ser humano tem o direito a ter
uma ideia, ainda que simplificada, de como
o mundo funciona. Assim argumentava o
astrônomo Carl Sagan sobre a necessidade
de entendimento, divulgação e universalização
da ciência. Nesse aspecto, observando a
realidade de nosso país, verifica-se a existência
de projetos e ações em várias frentes, cuja
visão de futuro e cujos objetivos passam pela
ampliação do corpo científico, o que pode nos
permitir um desenvolvimento em longo prazo.
A essas questões soma-se a construção de uma
cultura científica, o que tem sido buscado em
nível pré-universitário, sendo uma realidade já
consolidada em muitos locais no âmbito do
Ensino Médio e Técnico, e em plena ascensão
também no Ensino Fundamental. O caminho
para universalização apresenta indícios de
estar aberto, e esse é um fato a ser celebrado.
O acesso ao método científico por parte
dos alunos pré-universitários favorece,
desde os primeiros contatos, as indagações,
a problematização e a postura reflexiva do
estudante. Escolher um tema de pesquisa
passa pela percepção de que há algo inerente
a esse tema que mereça ser esclarecido,
investigado e possivelmente modificado. A
confirmação ou não das possíveis respostas
ao problema identificado, o entendimento das
variáveis e limitações que envolvem a coleta
de resultados significativos, as conclusões
às quais o pesquisador consegue chegar
conhecendo e aplicando a racionalidade do
método permitem ao estudante construir
sua concepção de como o conhecimento
científico pode ser gerado, quais suas regras
e implicações e o que significa ser um
cientista no século XXI. Mais do que isso,
permite “abrir caminhos” para possibilidades
e escolhas futuras, em que o estereótipo do
pesquisador isolado do mundo, trancado em
um laboratório ou bancada, é substituído
pelo entendimento de que bom pesquisador
é aquele atento e definitivamente integrado à
realidade ao seu redor e suas necessidades.
Entre as oportunidades que potencializam
o interesse dos jovens estudantes pelo
desenvolvimento de projetos de pesquisa,
está, sem dúvida nenhuma, a participação
em feiras científicas e tecnológicas.
Recentemente, tivemos a oportunidade de
integrar uma equipe que se preparava para
uma grande feira de ciência jovem. Em meio
a essa preparação, fomos todos – professores
e jovens pesquisadores – convidados a refletir
sobre alguns aspectos importantes que uma
feira desse tipo potencializa. Compartilhamos
com você, leitor da InCiência, algumas dessas
ideias.
O aprendizado que uma feira proporciona é
marcante! Ser da vida um eterno aprendiz,
como diz a canção, é uma escolha que leva
qualquer ser humano a tornar-se melhor do
que já foi. O quadro e giz podem dar lugar
a banners, protótipos, pôsteres. Aprendese muito mais quando se ensina, e os jovens
pesquisadores ensinam sobre os temas que
pesquisaram e o trabalho que desenvolveram
O convívio dos jovens com professores que
acreditam no seu potencial e, de forma tão
brilhante, o utilizam, produz também um
sentimento de admiração, de encantamento. A
responsabilidade, a dedicação, as realizações e
o amadurecimento observados nos trabalhos
desses pesquisadores tornam a participação
em feiras científicas algo emblemático na vida
de muitas pessoas. Por isso, cabe a quem já
vivenciou essa experiência também multiplicar
seus efeitos, mostrando a diferença que é capaz
de fazer em sua realidade. E permitindo, dessa
forma, que cada vez mais pessoas possam se
encantar também.
Andrey Armyagov/Shutterstock
com domínio técnico que muitas vezes
surpreende o próprio professor.
É inegável a contribuição que cada pesquisador
traz, não apenas para a sua própria formação.
Há tudo aquilo que está à sua volta e que vai
também sendo modificado, como a família,
os colegas, o ambiente da escola. O caminho
da pesquisa passa a ser visto como algo não
apenas viável, mas também recompensador
dos esforços.
O trabalho na pesquisa mostra que há muito
que resolver e que a ciência pode ser um
caminho para muitas soluções. Isso não quer
dizer que o caminho seja fácil. Pelo contrário.
O dia a dia de quem assume o desafio da
pesquisa é árduo, exige superação – que em
muitos casos beira o heroísmo de alunos e
professores. Por outro lado, o alcance de
objetivos em situações adversas mostra que o
limite é algo relativo, muitas vezes imaginário,
e pode ser transposto com trabalho e
dedicação.
As feiras científicas, como a Mostratec – que
em outubro de 2012 terá sua 27ª edição –
são eventos que renovam as motivações,
ventilam e abastecem as mentes de ideias,
por meio das trocas que a convivência entre
os diferentes pesquisadores proporciona. É
dessa convivência, da percepção entre os
diferentes lugares e realidades que resulta
a construção de redes de relacionamento.
O jovem passa a sentir-se parte de uma
comunidade. Uma renovada e fundamental
comunidade científica.
*Coordenador da 27ª Mostratec
**Diretor Executivo da Fundação Liberato
13
(Ponto de vista)2
Do feijão com algodão
à inovação
*Por Rubem Saldanha
Q
14
uem nunca fez a experiência do feijão no
algodão, em um recipiente umedecido, durante
os primeiros anos da escola? Em que após
cinco dias, podíamos observar o nascimento
das raízes do feijoeiro? Este, provavelmente,
é o primeiro contato que qualquer estudante
tem com a iniciação científica no ensino
básico. Com essa iniciativa, mesmo que muito
simples, a escola já começa a estimular o
espírito científico e inovador dos estudantes.
Ficar somente nela não é suficiente. Temos
que avançar.
Quando o adolescente ingressa no Ensino
Médio, movido pela sua curiosidade crescente,
ele sempre vai querer entender o porquê de
tudo. Sanar essa curiosidade pelo novo, por
meio do conhecimento, é provavelmente o
mais importante passo para estimular esses
estudantes a desenvolverem pesquisas de
iniciação científica próprias. E é nessa hora
que o professor precisa, mais do que nunca,
estar atento para o que este jovem quer saber.
Mas se engana quem acha que estou falando
de estudantes fazendo explodir vulcões e
realizando a eletrólise da água em mesinhas da
escola. Você ficaria espantado em conhecer
alguns dos projetos que estudantes de Ensino
Médio estão desenvolvendo pelos rincões
mais longínquos deste país. Alguns exemplos
deles estão aqui na InCiência.
Acredito muito que jovens são feitos,
naturalmente, para quebrar paradigmas.
Muitas ideias desenvolvidas por estudantes
de Ensino Médio, quando fomentadas e
orientadas, se tornam projetos altamente
inovadores. Isso porque os jovens não têm a
visão viciada dos adultos.
Tomem, por exemplo, o ganhador do Intel
ISEF de 2012, Jack Andraka. Um jovem de 15
anos que desenvolveu um método de detecção
de câncer de pâncreas em estágio inicial com
90% de precisão. Ou então, o jovem brasileiro
Leonardo Bodo, 17, que descobriu uma
substância com efeito antibiótico em teias
de aranha. São jovens de Ensino Médio que
visualizaram um problema na sua comunidade
ou uma oportunidade de pesquisa e foram
atrás.
É muito importante a escola assumir seu
papel e, ao lado dos professores, estimular
seus estudantes. Pensando em longo prazo,
os jovens que iniciam projetos científicos
no Ensino Médio adquirem uma maturidade
que os tornam bem mais preparados que
os demais, já que pensam, agem e escrevem
de maneira científica desde cedo. E, quando
ingressam na universidade, têm a oportunidade
de elevar seus projetos a outro patamar,
transformando-os em pesquisas aplicadas
para resolver os problemas da sua região, país
e, quem sabe, do mundo inteiro, em um ritmo
muito mais acelerado do que o dos colegas
que não tiveram esta oportunidade desde
cedo.
Logicamente, não é somente incentivar
professores no Ensino Médio que vai fazer
com que nos tornemos um país líder em
pesquisa e desenvolvimento. É necessário
Levent Konuk/Shutterstock
investir muito. Países que
têm uma longa tradição de
investimento em pesquisa
científica
apresentam,
invariavelmente, um PIB
(Produto Interno Bruto)
muito mais alto do que
países que não investem.
Mas é possível virar o jogo,
como mostra a Coreia do
Sul.
O PIB per capita coreano,
em 1976, girava em torno
de 3 mil dólares. E o seu
investimento em pesquisa
na época era menor que
0,5% do PIB. Em 20 anos,
os coreanos aumentaram
o seu investimento para
mais de 3%, o que elevou
o PIB per capita do país
para impressionantes 28
mil dólares, enquanto o PIB
per capita brasileiro ficou em torno de 10 mil
dólares, com um pouco mais de 1% do PIB
investido em pesquisa (dados da OCDE e da
MCT de 2007).
Com tudo isso, podemos observar a
importância dos diversos tipos de incentivo
que são necessários quando se pensa em
pesquisa e inovação em um país. Começa no
feijão com algodão e passa tanto pela préiniciação científica ainda no Ensino Médio
quanto pelos grandes investimentos públicos
e privados na pesquisa e desenvolvimento do
país.
E o resto, é só deixar na mão de jovens
brilhantes, como estes que têm seus artigos
na InCiência. Jovens que “suam o cérebro”
para fazer a diferença, crescer e se tornar a
raiz da inovação.
*Gerente de Educação da Intel Brasil
15
+(Pesquisa)1
Robô com Bluetooth
para ajudar no
resgate de vítimas
de catástrofes
V
itor Martes Sternlicht conseguiu a
difícil proeza de juntar o “bom”, o “barato”
e o “útil” em seu projeto de pré-iniciação
científica desenvolvido no GEETec (Grupo
de Estudos Experimentais em Tecnologia)
do Colégio Dante Alighieri. Valendo-se de
materiais, ao mesmo tempo, de baixo custo
e de alta tecnologia, como um shield (placa)
de Bluetooth, o aluno do 9º ano produziu
um robô que explora e mapeia ambientes.
Não bastasse isso, o protótipo tem como
um de seus principais objetivos exercer uma
utilidade nobre: ajudar em resgates de vítimas
de catástrofes, desabamentos e incêndios,
mapeando locais a que o ser humano não
consegue ter acesso por questões físicas.
“A ideia é possibilitar o mapeamento de
qualquer ambiente inacessível a uma pessoa
por um simples protótipo robótico, que pode
ser adaptado para resistir a condições
extremas, como o frio de grandes geadas, o
calor de monumentais incêndios, a ausência
de gás oxigênio, e muitas outras”, afirma Vitor
no relatório da pesquisa “Navegação em
16
ambientes desconhecidos por robô móvel
autônomo baseado em plataforma Arduino
com Linguagem C”, vencedor de quatro
prêmios na última Febrace (Feira Brasileira
de Ciências e Engenharia).
O projeto consiste em um robô de 17 cm
x 17 cm, baseado na plataforma Arduino
com linguagens de programação C e C++. O
protótipo conta com dois motores (de corrente
contínua com caixa de redução), sensores (de
fotodiodo (luz) e de ultrassom, por exemplo)
e um chassi mecânico. Mas seu pioneirismo
está mesmo na utilização do Bluetooth,
tecnologia de transmissão de dados sem fio,
nesse caso, do robô para o computador da
pessoa que faz o monitoramento. De acordo
com levantamento de pesquisas realizadas
nessa área, o trabalho de Vitor apresenta
pela primeira vez o uso do Bluetooth
para a comunicação em um sistema de
mapeamento brasileiro.
O robô faz a exploração dos ambientes
utilizando o método de decomposição em
células adjacentes (ou seja, a divisão do
Vitor Sternlicht
o que facilita o entendimento do
usuário. Há ainda opções para abrir
e salvar mapas, conferir a posição
do robô e informações sobre o
processo de exploração, botões
para iniciar e interromper a conexão
e um histórico de comunicações
(que arquiva as mensagens
enviadas e recebidas).
Vitor Sternlicht
Preço baixo e melhorias
Inovador na tecnologia, o projeto
de Vitor tem outro grande trunfo:
o preço. Quando comparado com
produtos similares, o trabalho do
Interface é simples para possibilitar a fácil compreensão
do mapa e das atividades do robô pelo usuário
aluno do Dante apresenta um valor
relativamente baixo (R$ 1.055,70)
–
o
segundo
mais barato, o Lego NXT, custa
espaço livre do local em regiões simples),
aproximadamente
R$ 2.500,00.
que fornecem, cada uma, diferentes
Entre
os
objetivos
do
trabalho, Vitor destaca
dados, como luminosidade ou presença de
justamente
a
utilização
do robô como uma
obstáculos. A trajetória inicial desenvolve-se
alternativa
barata
de
ferramenta
de ensino
para leste, com o protótipo se movimentando
para
conceitos
de
eletrônica
e
programação
a oeste ao retornar para explorar as áreas
em escolas públicas. “O Vitor consegue
que não haviam sido mapeadas na primeira
desenvolver um trabalho complexo com
varredura.
materiais baratos. Ele mostra a possibilidade
O mapeamento é feito pelo robô com
de se fazer alta tecnologia com baixos custos,
uma placa Arduino comandada por um
microcontrolador ATMega
328, em parceria com
Munido de sensores, robô pode ajudar em resgates de vítimas de
catástrofes, desabamentos e incêndios
outro software executado
em um computador com
Windows. A comunicação
entre os dois se dá em
tempo real pelo sistema
de Bluetooth, cuja vantagem é exatamente
eliminar o limite de
memória, permitindo que
ambientes muito maiores
sejam
explorados,
além de possibilitar
o armazenamento de
dados
para
análise
posterior.
Do
computador,
o
usuário poderá visualizar
o mapeamento em uma
interface simples, que
reproduz graficamente,
em 2D, o ambiente
explorado. As situações
das células, das linhas
e das paredes são
ilustradas por cores,
Departamento de Audiovisual do Dante
Com seu projeto, Vitor (centro) recebeu quatro prêmios na última Febrace
18
proveitoso. Além das inovações técnicas,
pude usar o trabalho para melhorar meu
conhecimento nas linguagens C e C++.
Mas é um projeto que pode ser melhorado
de infinitas formas e tenho muito trabalho
pela frente para viabilizar o uso do robô no
cotidiano”, afirma Vitor Martes.
Vitor Sternlicht
o que é importante para a democratização da
robótica”, diz a professora Valdenice Minatel,
coorientadora do estudante no projeto.
A conclusão da primeira etapa do projeto
obteve êxito: o mapeamento foi realizado e
os dados gerados podem ser usados para
construir um simples mapa gráfico ou até para
o desenvolvimento de outras plataformas
de mapeamento mais complexas. O uso do
Bluetooth é outra característica importante,
pois elimina o limite de armazenamento de
informações.
Mesmo assim, Vitor ainda pretende
aprimorar o trabalho. Entre as melhorias
planejadas estão o desenvolvimento de
outros sensores (como os de temperatura
ou radiação, que podem ser instalados
de acordo com o objetivo proposto) e a
capacidade de analisar mapas e traçar rotas
(como um GPS), permitindo, por exemplo,
que o robô percorra o caminho mais curto
até algum ponto determinado pelo usuário,
desviando de obstáculos, depois de
mapear o ambiente. Além disso, pretende
disponibilizar o mapeamento para tablets.
“O trabalho está caminhando bem e o que foi
feito até agora já é uma vitória, já foi muito
Ideia de Vitor é disponibilizar o
mapeamento também para tablets
Sobre o Pesquisador
Departamento de Audiovisual do Dante
A ideia surgiu durante a Olimpíada de
Robótica da Escola de 2010. “Durante as
férias, comecei a pesquisar e, no primeiro
semestre de 2011, fui cuidando da parte
de programação. A partir do meio do ano,
comecei a trabalhar no robô mesmo”, diz
ele, que foi premiado na Febrace 2012 com
quatro prêmios (3º lugar em Ciências Exatas
e da Terra, Intel Excellence in Computer
Science Award, e vagas na International
Sustainable World Project, nos EUA, e
na XX International Conference of Young
Scientists (ICYS), na Indonésia).
aplicativo para Android) e um em parceria
com Antonio Lino, no Cientista Aprendiz,
para desenvolver um moto perpétuo (gerador
de energia).
Projeto de Vitor tem como um de seus trunfos
o baixo preço quando comparado a produtos
similares
Departamento de Audiovisual do Dante
V
itor Martes Sternlicht não conhece o
significado da palavra acomodação. Além
das aulas regulares do 9º ano, o estudante
participa da High School (curso com
disciplinas de escolas americanas), do time
de basquete do Colégio e dos projetos
Cientista Aprendiz, Dante em Foco e
GEEtec. Foi nesse último que, com a
orientação do pesquisador Rodrigo da Silva
Viana e da professora Valdence Minatel
Melo de Cerqueira, Vitor desenvolveu o
robô que mapeia ambientes.
Na verdade, todas as obrigações de Vitor
estão relacionadas à sua paixão pela
tecnologia. Tanto que, em seus momentos
de folga, o estudante tem como hobby
justamente mexer com conceitos de
programação. “Não sei precisar a data,
mas faço robótica desde pequeno”, diz o
estudante, que pretende cursar faculdade
de engenharia ou ciência da computação.
Além das melhorias que planeja realizar no
projeto do robô que mapeia ambientes,
Vitor tem três ideias de pesquisas: duas
relacionadas ao trabalho anterior (encontrar
um bioindicador ou construir uma máquina
que consiga encontrar pessoas no meio de
desabamentos a certa distância e criar um
Vitor foi orientado por Rodrigo da Silva Viana
(com ele na foto) e por Valdenice Minatel
19
+(Pesquisa)2
Uma “amiga” contra
os transtornos
alimentares
B
ianca Spina Papaleo, de 16 anos,
escolheu como tema de seu trabalho de préiniciação científica um problema de saúde
que atinge muitos adolescentes de sua faixa
etária: os transtornos alimentares. E, com
um projeto dividido em três partes, a aluna
da 2ª série do Colégio Dante Alighieri e do
programa Cientista Aprendiz propôs uma
iniciativa inovadora no combate a essas
graves doenças.
No trabalho “Transtornos alimentares:
reconhecimento de padrões comportamentais e contribuições para novas
abordagens na tutoria de jovens”, Bianca
planejou não só entender e identificar
comportamentos que mostrem predisposição
a transtornos alimentares, como também
fornecer importantes informações para
as equipes pedagógicas das escolas
lidarem melhor com alunos com distúrbios
mentais. Além disso, por meio da figura da
20
“Amiga Terapeuta”, pretende instituir um
adolescente treinado por especialistas, que
tenha conhecimentos para apoiar aqueles
que apresentem indícios de enfermidades
como anorexia e bulimia.
“O projeto nasceu do meu interesse pela
área de transtornos alimentares, uma vez
que eu queria encontrar um meio de ajudar
pacientes com transtornos, diminuindo seu
sofrimento e solidão, e, ao mesmo tempo,
descobrir mais sobre o assunto”, afirma
Bianca, fazendo questão de frisar que
os transtornos estudados são distúrbios
mentais, contrariando a ideia errônea que
muitas pessoas têm de que esses problemas
não passam de manias ou de um estilo de
vida escolhido pelo adolescente.
Tanto isso é verdade, que a anorexia nervosa
(caracterizada pela distorção da imagem
corporal, pelas práticas recorrentes de dietas
radicais ou jejuns intensos, pela busca pela
Departamento de Audiovisual do Dante
magreza extrema e pelo medo mórbido de
engordar) pode causar paradas cardíacas,
anemia, prejuízos à coagulação sanguínea,
além de consequências psicológicas, como
sintomas de depressão, tristeza, desânimo e
tentativas de suicídio. Problemas parecidos
são atribuídos à bulimia nervosa, doença
constituída por episódios de compulsão
periódica (como as ingestões seguidas,
dentro de um período de até 2 horas, de
uma quantidade de comida muito maior
do que o normal), acompanhada de um
sentimento de culpa e falta de controle,
gerando comportamentos compensatórios
para prevenir ganho de peso.
Perante os graves problemas que os
transtornos alimentares podem causar,
Bianca defende a necessidade de uma rápida
identificação dos sintomas das doenças.
Assim, a primeira fase de seu trabalho teve
como objetivo justamente compreender
quais são os padrões da personalidade de
pessoas com transtornos do tipo.
Respaldada pelos conhecimentos de Ana
Paula Gonzaga, responsável pelo CEPPAN
(Clínica de Estudos e Pesquisas em
Psicanálise da Anorexia e Bulimia do Hospital
das Clínicas da USP), Bianca elaborou e
aplicou questionários – primeiramente, a
180 alunos do Dante e, posteriormente, a
outros 60 estudantes (30 de outra escola
particular e 30 de uma escola pública) –, a
fim de identificar padrões de comportamento
que indicassem uma tendência potencial de
desenvolver um transtorno alimentar.
O questionário abordava os seguintes
tópicos: o perfeccionismo; ser filho único ou
primogênito; a competitividade entre irmãos;
faixa de idade dentro da adolescência e
escola particular x escola pública, contendo
perguntas como “possui insatisfação corporal? Sente-se envergonhado do quanto
come perto dos outros? Tem o costume de
fazer dietas radicais/jejuns”?
Em seguida, Bianca cruzou e analisou os
resultados dos questionários, chegando à
conclusão de que algumas características
estão fortemente presentes em adolescentes
Projeto de Bianca pretende ajudar pacientes com
transtornos, diminuindo o sofrimento e a solidão
dessas pessoas
com possibilidade de desenvolver transtornos
alimentares: perfeccionismo, ser filho único
ou primogênito (devido à autocobrança para
agradar aos pais); ter 11 anos ou possuir
entre 14 e 16 anos (períodos que marcam,
respectivamente, as primeiras mudanças
no corpo dos adolescentes e as entradas
na fase adulta e na vida sexual, além da
pressão pré-vestibular) e estudar em escolas
particulares (em virtude dos padrões socioculturais desses jovens e por a família cobrálos mais em razão de ter altas expectativas
para o futuro).
Próximos passos
Vencedora de três prêmios na Febrace (Feira
Brasileira de Ciências e Engenharia) 2012,
Bianca está motivada para dar sequência
ao trabalho. Na segunda etapa do projeto, a
estudante pretende iniciar um programa de
“formação” de professores. O procedimento,
prioridade da aluna no momento, consistirá
em reuniões com professores, orientadores
e funcionários interessados em participar
da iniciativa, com o objetivo de ampliar a
percepção da equipe pedagógica para os
comportamentos sinalizadores de algum
distúrbio mental. Ainda nesta fase, será
definido o modelo dessa “intervenção” na
escola.
21
Departamento de Audiovisual do Dante
Bianca conquistou três prêmios na Febrace 2012
22
Rita Maria Saraiva de Barros
A longo prazo, o objetivo de Bianca é a
implantação do projeto “Amiga Terapeuta”,
que visa combater uma das principais
decorrências dos transtornos alimentares: o
isolamento social, que pode ocorrer pelo fato
de os encontros com amigos muitas vezes
envolverem comida, além de o problema de
saúde, por si só, já tornar a convivência com
os colegas mais difícil.
A estudante afirma que, inicialmente, o
projeto trabalharia apenas com jovens
que tenham alta ou média probabilidade
de desenvolver um transtorno alimentar
(que seria identificado pelas equipes),
como forma de prevenção e intervenção
antes do agravamento da doença. Além
disso, seria feita uma ponte entre a
equipe multidisciplinar (de psicólogos,
psicanalistas, psiquiatras, nutricionistas e
endocrinologistas especialistas no assunto)
e a escola, a família e os amigos do paciente,
de modo a aconselhar sobre como devem
agir em relação ao transtorno e sobre como
podem ajudar da maneira correta.
Bianca aplicou questionários a estudantes a
fim de identificar padrões de comportamento
que indicassem uma tendência potencial de
desenvolver um transtorno alimentar
Sobre a Pesquisadora
Além das atividades regulares da escola
e do Cientista Aprendiz, Bianca acha
tempo para participar da High School,
da oficina Dante em Foco, de aulas de
Espanhol, dança e canto. Mas a agenda
cheia não é capaz de tirar a empolgação
da estudante.
“Quando você faz um projeto por livre
e espontânea vontade, você faz com
amor. Então, não vai ser a falta de tempo
que me fará largar o trabalho. Enquanto
puder, continuarei fazendo esse projeto
sobre transtornos alimentares”, diz
Bianca, que sempre gostou da área de
humanas, mas que pretende cursar
engenharia de produção ou engenharia
química fora do Brasil.
Departamento de Audiovisual do Dante
A possibilidade de trabalhar na área da
psicologia, ajudando milhares de pessoas
que sofrem com transtornos alimentares
sempre despertou o interesse de Bianca
Spina Papaleo. Assim, a estudante chegou
ao programa Cientista Aprendiz com seu
tema de pesquisa já definido.
Hoje, em seu terceiro ano de projeto, a aluna
da 2ª série do Ensino Médio do Dante pode
comemorar os primeiros resultados de
seu trabalho, orientado pelas professoras
Rita Maria Saraiva de Barros e Sandra
Tonidandel. Tanto que, na Febrace 2012,
Bianca conquistou três prêmios: terceiro
lugar em Ciências Humanas, Certificate
of Award Achievement in Research in
Psychological Science (certificado oferecido
pela American Psychological Association)
e o prêmio “Um futuro mais inteligente”,
oferecido pela IBM.
Bianca explica seu projeto para estudantes durante a Febrace 2012
23
+(Pesquisa)3
“Telhado verde” com
materiais reutilizáveis
beneficia meio
ambiente e pode
gerar alimentos
C
om o crescente desenvolvimento
tecnológico e o avanço da industrialização
nos grandes centros urbanos, a busca
por soluções sustentáveis que minimizem
o impacto ambiental tem sido o foco
das atenções de pesquisadores. Nesse
sentido, os estudantes Antônio Augusto
Martins Pereira Júnior e Stephanie Alves
de Oliveira Silva elaboraram o trabalho
“Montagem de um telhado verde com a
utilização de materiais de baixo custo”,
no qual propuseram uma alternativa: um
sistema de “telhado verde” construído com
materiais reutilizáveis. Além disso, testaram
um incremento à técnica, com a inovadora
possibilidade de se produzirem alimentos a
partir das plantas da cobertura vegetal.
Segundo os autores do projeto, o mecanismo
do “telhado verde” já é muito difundido em
24
países como Alemanha, Áustria e Noruega, mas
ainda não encontra a mesma receptividade
no Brasil. Construída necessariamente sobre
telhas de fibrocimento (amianto), a cobertura
viva (ou ainda, cobertura vegetal, telhado
vivo, ecotelhado ou biocobertura) consiste
na técnica de aplicação de solo e vegetação
sobre coberturas de edifícios devidamente
impermeabilizadas.
Entre os benefícios gerados pela utilização
de “telhados verdes” estão: conforto
térmico e acústico para ambientes internos;
controle do escoamento de águas da
chuva no telhado; aumento da retenção
da água pluvial no local, contribuindo para
evitar enchentes; redução da poluição e da
emissão de carbono; diminuição do efeito da
ilha de calor urbana e queda da temperatura
do micro e do macro ambiente externo.
Antônio Augusto Martins Pereira Júnior e Stephanie Alves de Oliveira Silva
O sistema é instalado sobre uma telha de fibrocimento, em que cada fileira de garrafas fica localizada
em uma depressão da superfície
A ideia dos estudantes ao elaborar o projeto
foi desenvolver um sistema, viável e barato,
que ao mesmo tempo trouxesse benefícios
ao meio ambiente e à população de baixa
de renda (com a produção de alimentos
orgânicos).
“O nosso projeto é de grande relevância socioambiental, dado que possibilita a reutilização
de materiais que seriam descartados no
meio ambiente e proporciona todos os
benefícios do telhado verde convencional
para a sociedade de baixa renda, além da
pequena produção de alimentos orgânicos,
sem nenhum tipo de agrotóxico”, afirmam
os autores, que também buscaram outra
inovação ao utilizar, no plantio, a técnica
de compostagem (processo biológico
pelo qual restos orgânicos, como papel,
folhas, estrume e restos de comida, são
transformados em adubo).
Custo
Quando falam em materiais reutilizáveis e de
baixo custo, os autores do projeto se referem
a garrafas pet (utilizadas como recipientes
para o plantio do vegetal), embalagens
tetrapack (para reflexão da radiação solar),
manta de bidim ou um tecido poliéster (a
fim de possibilitar o escoamento da água de
uma garrafa pet para outra sem que a terra
deslize entre elas) e rebite ou arame calibre
16 (para unir as garrafas).
O uso desses elementos – que, no telhado
verde, neste trabalho em específico, se
integraram a mudas de vegetais Sedum e
a mudas de batata-doce (Ipomoea batatas)
e amendoim (Arachis hypogaea L) – faz
com que o projeto seja viável pelo preço
aproximado de R$ 16,00/m2, enquanto as
empresas especializadas na construção
de telhados verdes cobram, em média, R$
75,00/m2.
Montagem
Com esses materiais em mãos, os
pesquisadores montaram o “telhado verde”.
O sistema foi constituído por fileiras de
garrafas pet, que continham aberturas de 8
cm x 8 cm em seus centros – onde foram
plantadas as mudas. Entre os frascos,
25
Antônio Augusto Martins Pereira Júnior e Stephanie Alves de Oliveira Silva
Antônio Augusto Martins Pereira Júnior e Stephanie Alves de Oliveira Silva
O telhado verde pode produzir alimentos, o que seria de grande valia para comunidades carentes
ligados por rebite ou arame, implantouse uma manta de bidim.
Esse sistema foi instalado sobre uma
telha de fibrocimento, em que cada
fileira de garrafas ficou localizada em
uma depressão da superfície.
Protótipos
Os pesquisadores optaram por
utilizar três protótipos durante o
desenvolvimento do trabalho. O primeiro,
chamado de protótipo-piloto, teve a
intenção de verificar se os materiais
escolhidos serviriam efetivamente para
construir o ecotelhado. Um mês após
essa análise, elaborou-se o protótipo
I, em que foram plantadas mudas de
batata-doce (Ipomoea batatas), planta
de alta adaptabilidade e fácil cultivo.
Essa primeira versão, além de não
exigir manutenção periódica, pode
resistir a situações de extrema seca.
O projeto utiliza materiais reutilizáveis e de
baixo custo, como garrafas pet
Sobre os Pesquisadores
C
olegas no Centro Federal de Educação
Tecnológica de Minas Gerais, Antônio e
Stephanie entraram para a área de pesquisa
científica com a intenção de contribuir para
a sociedade em questões que envolvessem
sustentabilidade e acessibilidade. E acreditam
ter atingido esse objetivo com o projeto
“Montagem de um telhado verde com a
utilização de materiais de baixo custo”,
agraciado com os prêmios da Editora USP
e da revista InCiência, além de ter sido
credenciado para a Feira Nordestina de
Ciências e Tecnologia .
“A ideia desse projeto surgiu da vontade
de proporcionar benefícios, tecnologia e
conscientização ambiental para a população
de baixa renda, geralmente excluída”,
explicam os estudantes, que foram
orientados pela professora Rosane Resende
Leite na pesquisa. Atualmente, Stephanie,
técnica em Turismo e Lazer, cursa Direito
na Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), enquanto Antônio está no quarto
módulo do curso técnico em edificações no
CEFET-MG e pretende estudar Engenharia
Ambiental.
de três meses, proporcionou 250 g de
amendoim aos pesquisadores. Ou seja,
o projeto atingiu seu objetivo, pois tanto
trouxe benefícios ambientais (como o reuso
da água e de garrafas pet), como produziu
alimentos.
“A estrutura sustentável de telhado verde é
viável, eficiente e econômica, podendo ser
instalada em qualquer tipo de construção
que utilize telhas de fibrocimento. Por tal
motivo, concluiu-se que esse sistema
será de grande valia para comunidades
carentes, pois, além possibilitar os diversos
benefícios de uma cobertura vegetal,
pode gerar alimentos”, afirmam os autores
Antônio e Stephanie, que, esperançosos
quanto à popularização do telhado verde,
ainda elaboram uma cartilha e um blog
direcionados à população contendo o passo
a passo da montagem do sistema.
Apesar do envolvimento com outras atividades,
os dois seguem trabalhando no projeto do
ecotelhado. “Estamos aprimorando o projeto
para ampliar o seu expoente de melhoria para
a sociedade e para o meio ambiente, sempre
em prol da eco-eficiência. Essas melhorias
incluem a possibilidade de novas culturas no
telhado, maior divulgação do projeto, criação
de um blog e instalação da estrutura em mais
casas”, afirmam.
Rosiane Resende Leite
Por fim, no protótipo II, constituído por mudas
de amendoim (planta resistente ao sol e à
escassez de água e que também poder ser
consumida), os pesquisadores tentaram
diminuir ainda mais o custo do projeto:
partindo do pressuposto de que muitas
pessoas não têm condições financeiras para
adquirir uma rebitadeira (usada para afixar
os rebites), utilizaram arame para unir as
garrafas, e a manta de bidim foi substituída
por outro tecido de poliéster.
Durante a primeira semana após o plantio, em
todos os protótipos, as mudas foram regadas
duas vezes. No período seguinte, porém, a
rega dos vegetais ocorreu apenas uma vez
por semana. Do protótipo I, após o quarto
mês de cultivo, colheu-se aproximadamente
1 kg de batatas. Já o protótipo II, depois
Stephanie e Antônio elaboram uma cartilha e um
blog direcionados à população contendo o passo-apasso da montagem do sistema
27
+(Pesquisa)4
Alunos desenvolvem
pomada que pode
ajudar na cicatrização
de feridas de diabéticos
E
m seu projeto de pré-iniciação científica,
Renata Colla Thosi e Walter Von Söhsten
Xavier Lins resolveram testar, em laboratório,
a eficiência de uma substância proveniente
da medicina popular. Os alunos da 2ª série
do Ensino Médio do Colégio Dante Alighieri
trabalharam com a planta Bauhinia fortificata
(popularmente conhecida como pata-devaca) na elaboração de uma pomada com
elementos que podem ajudar na cicatrização
de feridas de diabéticos. Em longo prazo, o
produto teria chances de surgir como uma
alternativa viável e barata no mercado
farmacêutico brasileiro, uma vez que não usa
insulina animal, mas sim uma substância de
origem vegetal.
O projeto de Renata e Walter, intitulado
“Pomada à base do extrato da planta
28
Bauhinia fortificata: avaliação da estabilidade
e eficácia na cicatrização de lesões
cutâneas de animais diabéticos”, mostra
sua grande relevância quando levamos em
conta os dados a respeito do diabetes no
mundo atualmente. Segundo informações
presentes na própria pesquisa, 246 milhões
de pessoas sofrem com a doença. Até 2025,
esse número deve chegar a 380 milhões. No
Brasil, aproximadamente 5,2% da população
adulta (acima de 18 anos) têm diabetes, de
acordo com informações de 2007.
Diante desse panorama, Renata e Walter
resolveram abordar um aspecto específico
do diabetes: a dificuldade no processo de
cicatrização de feridas em indivíduos que
possuem a doença.
Aproximadamente
15% de todos os pacientes terão, em algum
Arquivo Pessoal dos pesquisadores
Pomada de procedência vegetal seria mais
acessível à população, economicamente falando
momento, lesões de difícil cicatrização,
mesmo realizando um tratamento insulínico
e um minucioso controle diabético. A
doença, além de acarretar amputações não
traumáticas (que não resultam de acidentes:
de carro, de trabalho, por exemplo) nos
pacientes diabéticos, gera um problema de
saúde pública, devido a fatores como alto
custo hospitalar, infecções, incapacidade
física, redução da produtividade, perda da
independência e diminuição da qualidade de
vida.
Para tratar do problema, os dois alunos
recorreram a um procedimento típico do uso
popular, a partir da observação de que a
Bauhinia fortificata é a planta mais utilizada
no Brasil como remédio natural antidiabético
– suas folhas são utilizadas para se fazer o
chá.
O efeito hipoglicemiante (capacidade de
diminuir a taxa da glicose do sangue) em
nosso organismo é dado pela insulina. No
entanto, em diabéticos essa atividade está
prejudicada, uma vez que a insulina aparece
em pequenas e insuficientes quantidades
em seu organismo, dificultando a reposição
de certos tecidos cruciais no processo de
cicatrização humana. No chá da pata-devaca, o provável responsável por esse mesmo
efeito hipoglicemiante é o componente
químico kampferol, já identificado em
estudos anteriores.
Hipótese e desenvolvimento da pomada
Antes do trabalho de Walter e Renata,
outras pesquisas já haviam verificado que
o processo de cicatrização de lesões de
ratos diabéticos era acelerado pelo uso de
creme enriquecido com insulina animal,
sugerindo que esta participa dos eventos
celulares e moleculares na reconstituição do
tecido. Contudo, a inovação dos alunos do
Dante, que também fizeram experimentos
com ratos, foi justamente trabalhar com
uma pomada de procedência vegetal, cuja
obtenção e fabricação são mais fáceis,
rápidas e baratas do que a de origem animal
– assim, um eventual remédio com base
vegetal seria mais acessível à população,
economicamente falando.
“A nossa hipótese de investigação é
verificar se é possível desenvolver e avaliar
a estabilidade de uma pomada à base de
extrato de Bauhinia forficata, bem como
avaliar sua eficácia em acelerar o processo
de cicatrização de ratos diabéticos, uma vez
que, popularmente, essa planta já é utilizada
como hipoglicemiante. Portanto, poderá
ter um efeito tópico positivo na aceleração
[da cura] das lesões cutâneas de animais
diabéticos”, afirmaram os alunos no relatório
da pesquisa.
Assim, com o desenvolvimento do trabalho,
Renata e Walter fizeram a extração, a
separação de frações e a identificação do
flavonoide kampferol nas folhas da Bauhinia
fortificata.
Em seguida, desenvolveram duas pomadas,
um gel e uma emulsão. O primeiro creme
29
Departamento de Audiovisual do Dante
Walter e Renata também apresentaram seu projeto na Genius Olympiad, nos EUA
30
em que também conquistaram o direito de
participar da Genius Olympiad, na Oswego
State University of New York (SUNY), nos EUA.
Nesse evento, realizado de 24 a 29 de junho
de 2012 na cidade de Oswego, Renata e
Walter foram avaliados por seis professores
da Universidade, que lhes atribuíram a
medalha de bronze (terceiro lugar) na
categoria “Genius Science”.
Sandra Tonidandel
apresentou baixa estabilidade e acabou
descartado. Já a segunda pomada, que
era hidrófila (miscível em água), apresentou
evoluções. “Mudamos a base e melhoramos
a estabilidade”, diz Renata.
Os alunos enviaram para a Unicamp a
pomada hidrófila, o gel, a emulsão e as
bases, que acabaram redirecionados à USP
para avaliações. Segundo Renata, a fase de
testes não se encerrou, mas os resultados
obtidos até o momento são animadores.
Caso se confirme a eficácia da pomada no
processo de aceleração da cicatrização de
feridas de animais diabéticos, a intenção da
dupla é patentear o projeto – Walter ressalva,
porém, que para isso serão necessários
mais baterias de testes.
De qualquer forma, enquanto aguardam
os resultados, Renata e Walter já podem
comemorar a conquista de seis distinções:
medalha de ouro na categoria Ciências Exatas
e da Terra na Mostra Paulista de Ciências e
Engenharia (MOP) de 2011; primeiro lugar
em Destaque Inovação; segundo lugar em
Ciências da Saúde e terceiro lugar em Rigor
Científico na Febrace 2012, competição
Renata e Walter receberam o bronze na categoria
“Genius Science” na Genius Olympiad, nos EUA
Sobre os Pesquisadores
Com seis prêmios no currículo (ver na matéria),
a pomada passa por mais um período de
testes. “Dando certo a pomada, gostaríamos
de patenteá-la, porque, além de gerar lucro,
seria algo comercialmente barato, que poderia
ajudar grande parte da população”, diz Walter,
que pensa em cursar faculdade de Engenharia
Elétrica.
Em parceria com Renata Colla Thosi, Walter
associou a ideia da “pata-de-vaca” a uma
pesquisa já existente sobre uma pomada
para lesões de diabéticos composta de
insulina animal. Assim, sob a orientação das
professoras Mara Cristina Pane e Sandra
Tonidandel, a dupla planejou a elaboração de
um creme a partir da insulina vegetal.
Já sua companheira de trabalho, Renata, está
decidida a prestar Medicina. “Pensava em
fazer medicina e entrei no Cientista Aprendiz
para trabalhar com um tema ligado à saúde
para ver se era mesmo o que queria. E o
projeto só me motivou ainda mais a querer
fazer medicina”, diz.
Departamento de Audiovisual do Dante
Quando lhe sugeriram o tema diabetes para
seu projeto de pesquisa no programa Cientista
Aprendiz, Walter Von Söhsten Xavier Lins
lembrou-se de uma história que sua mãe,
formada em medicina, contava a respeito do
caráter medicinal do chá da planta Bauhinia
fortificata, a famosa “pata-de-vaca”, para o
tratamento de diabetes.
Walter e Renata comemoram, com a orientadora Sandra Tonidandel, os quatro prêmios
recebidos na Febrace 2012
31
+(Pesquisa)5
Embalagens
ecológicas para
mudas: sai o plástico,
entra a biomassa
N
o momento em que a sociedade busca
alternativas ecologicamente viáveis para
as mais diversas atividades, Ana Gabriela
Person Ramos, Graziele Cristine da Silva e
Tatiane Cipriano Florido, da Etec Conselheiro
Antonio Prado (Etecap), de Campinas,
decidiram pesquisar um tema diretamente
ligado à sustentabilidade. No projeto
“Embalagens ecológicas para mudas”, as
estudantes abordaram a possibilidade
de substituir o plástico por resíduos de
biomassa na produção de embalagens para
mudas.
Apesar de sua grande utilidade, o plástico
apresenta inúmeros problemas para o
meio ambiente, como o longo tempo
32
necessário para sua decomposição – pode
chegar a quinhentos anos. Além disso, em
alguns casos há a liberação da dioxina,
substância tóxica para o meio ambiente,
que surge quando o plástico não pode ser
reciclado e tem que ser incinerado. Falando
propriamente de seu uso em embalagens
para mudas, o material prejudica o solo e
o crescimento da raiz, enovelando-a, o que
provoca um alto índice de mortalidade após
o plantio.
Tentando minimizar o prejuízo para o meio
ambiente, as autoras da pesquisa cogitaram
a utilização da biomassa para fabricar
embalagens ecológicas. A biomassa é
constituída principalmente de substâncias
Departamento de Audiovisual do Dante
Preocupadas com os problemas ambientais
gerados pelo plástico, as pesquisadoras propõem
o uso de biomassa nas embalagens
montaram, em formato de vasos, embalagens
de jornal e de resíduos de biomassa (bagaço
de cana, casca de coco verde, serragem,
palha de arroz, sementes, casca de ovo,
casca de banana) agregados à cola, argila,
amido ou amido tratado para dar a liga.
Depois de prontas, as embalagens tiveram
seus procedimentos de decomposição
analisados em duas composteiras. Em uma
delas, o processo foi verificado após cinco
Foto do arquivo do Prêmio Jovem Cienstista
de origem orgânica, como lenha, bagaço de
cana-de-açúcar, resíduos florestais, resíduos
agrícolas, casca de arroz, excrementos de
animais, entre outras. As vantagens de sua
utilização como embalagem para mudas são
inúmeras, tais como: reaproveitamento dos
resíduos; rápida decomposição, fazendo com
que a embalagem não prejudique o solo e não
gere lixo; as mudas podem ser transplantadas
sem a retirada da embalagem, pois, ao se
decompor, a biomassa torna-se fornecedora
de nutrientes para a planta e, com a rápida
decomposição, evita-se o enovelamento da
raiz.
“Para substituir o plástico de forma ecológica,
nada melhor do que aproveitar resíduos de
biomassa, proporcionando, assim, a solução
de dois importantes problemas ambientais:
o descarte de resíduos de biomassa
(lixo orgânico) e a produção excessiva de
plástico. A biomassa é renovável e ainda
serve de substrato (suporte) para as plantas
quando decomposta no solo”, afirmam as
autoras do projeto. Entretanto, elas fazem
a ressalva de que, apesar de ser vantajoso
em termos ambientais, o uso da biomassa
como embalagem de mudas apresenta um
custo bem mais alto (R$ 3,00 em média) em
relação às embalagens plásticas (R$ 0,10).
A pesquisa
Como as próprias pesquisadoras ressaltam
no projeto, a ideia de se utilizar biomassa como
embalagem para mudas não é novidade – já
existem fábricas especializadas nesse nicho
de mercado. Entretanto, o projeto de Ana
Gabriela, Graziele e Tatiane inova na massa
usada para dar liga ao invólucro. Além disso,
as mudas que são plantadas nas embalagens
conseguem absorver os nutrientes que a
biomassa proporciona quando se inicia o
processo de decomposição.
Assim, partindo dessa hipótese de se
utilizarem resíduos de biomassa para
desenvolver embalagens compostáveis
(ou seja, que passem pela compostagem,
processo de transformação de restos
orgânicos em adubo), as pesquisadoras
As estudantes receberam o prêmio Jovem Cientista
das mãos da presidente Dilma Rousseff
33
Graziele Cristine
meses e depois de dez meses. Nesse último
período, as embalagens de jaca verde,
bagaço de cana e cola e as de fibra de coco
e cola se decompuseram totalmente. Já na
composteira dois, as embalagens com amido
tratado e fibra de coco, casca de banana e
palha de milho apresentaram elevado grau
de decomposição.
Por outro lado, as embalagens de jaca
madura e cola e as de resíduo com amido
puro se decompuseram antes de submetidas
ao teste de compostagem. Já as com os
agentes ligantes de argila e calcário não
apresentaram estágio de decomposição
significativa em dez meses de análise.
Logo, as pertencentes a esses três grupos
se mostraram inviáveis como embalagens
de mudas – ou por não resistirem tempo
suficiente antes de serem enterradas, ou
por não fornecerem substrato para as
plantas pela demora na decomposição,
respectivamente.
De um modo geral, as embalagens que
apresentaram melhores resultados foram as
de resíduo e cola e resíduo e amido tratado,
sendo essas últimas as mais resistentes.
Diante dos resultados apresentados, as
pesquisadoras concluíram que o objetivo
foi alcançado. “A produção de embalagens
Departamento de Audiovisual do Dante
Pesquisadora Tatiane faz o primeiro teste de
moldagem com a massa
Orientadas pela professora Erica Bortolotti –
a segunda da direita para esquerda – as três
pesquisadoras também brilharam na Febrace
34
a partir de resíduos de biomassa é uma
alternativa fácil e viável em substituição
ao plástico, com a vantagem de que não
gera lixo, é renovável e limpa, podendo
promover mudanças no hábito populacional
e sensibilizar ambientalmente. Além
disso, pode representar uma alternativa
em comunidades de baixa renda, que
muitas vezes recolhem lixo para revenda,
fomentando assim a prática do artesanato
e da recuperação de resíduos orgânicos”,
afirmam Ana Gabriela, Graziele e Tatiane.
Educação ambiental
Além do experimento com biomassa, o
projeto também tinha entre seus objetivos
específicos promover a conscientização
ambiental, sensibilizando os estudantes
em relação às questões como geração e
descarte de lixo. Dessa forma, durante a festa
junina da escola em que as pesquisadoras
estudavam, a Etecap, em 2011, foi realizada
uma exposição das embalagens na “barraca
do Meio Ambiente”, em que os visitantes
podiam responder a um questionário a
respeito do projeto ecológico.
Arquivo pessoal das pesquisadoras
As respostas exaltaram a importância da
pesquisa e deram sugestões sobre como
melhorá-la. “É muito importante que as
pessoas estejam conscientes dos problemas
que o plástico traz. Então, pretendemos
conscientizar pelo menos aquelas pessoas
que conhecem o nosso projeto, pois aí
estaremos satisfeitas com o resultado de
tanto trabalho e saberemos que valeu a
pena”, afirmam as pesquisadoras.
Q
Pesquisadoras fizeram embalagens com os mais
diversos tipos de materiais
Sobre as Pesquisadoras
uando recebeu a ligação informando que
seu projeto havia conquistado o primeiro lugar
do prêmio Jovem Cientista, uma das integrantes
do grupo formado por Ana Gabriela, Graziele
e Tatiane desligou o telefone achando que não
passava de um trote. Contudo, ao receber
uma segunda ligação, ela pôde comemorar
juntamente com as outras duas colegas.
“No começo, achávamos que era impossível
ganhar, pois havia muitos projetos inscritos,
do Brasil inteiro”, explicam as pesquisadoras,
que receberam o prêmio Jovem Cientista 2011
diretamente das mãos da presidente Dilma
Rousseff. Além dessa honraria, a pesquisa das
estudantes, orientada pela professora Erica
Gayego Bello Figueiredo Bortolotti, também
ficou com o primeiro lugar em Ciências
Agrárias na Febrace 2012, ocasião em que
ainda ganhou o prêmio da revista InCiência.
Enquanto se preparam para os vestibulares,
as três estudantes continuam trabalhando no
projeto. “Pretendemos aperfeiçoá-lo ainda
mais, pois faltam muitas análises e pesquisas
para que o projeto realmente esteja concluído.
Essas análises que ainda estão faltando serão
muito importantes para o aprimoramento
das embalagens”, dizem as pesquisadoras, que
pensam em patentear o trabalho.
35
+(Pesquisa)6
“Reino da Leitura”
usa tecnologia para
despertar interesse
de jovens por livros
E
m um país que já se caracteriza pelo baixo
índice de leitores, como o Brasil, a expansão
da internet e das novas formas de tecnologia
em geral pode acentuar o desinteresse pelos
livros. Entretanto, três jovens da ETEC Jorge
Street, de São Caetano do Sul, criaram um
projeto para tentar reverter essa situação.
Edson Junior Barbosa, Gabriel Pimenta
Lima e Keyla Maria Barbosa dos Santos
desenvolveram o software (programa de
computador) “Reino da Leitura”, que aparece
como uma alternativa por utilizar a tecnologia
justamente a favor da leitura.
Segundo dados do Censo de 2010, realizado
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
36
e Estatísticas), o Brasil tem cerca de 14
milhões de analfabetos. A preocupação do
projeto de Edson, Gabriel e Keyla recai em um
caso especial, o dos chamados “analfabetos
funcionais”, adultos que sabem assinar o
nome, porém não conseguem interpretar o
que leem. Um dos objetivos do “Reino da
Leitura” é justamente evitar a proliferação
dessa dificuldade, investindo, para isso, no
incentivo à leitura dos jovens.
O foco do projeto está nas crianças,
principalmente nas que se enquadram na
faixa etária entre sete e dez anos, pelo fato
de, para os pesquisadores, ser essencial
incutir nos jovens o interesse pela leitura
ainda no começo da vida escolar.
Arquivo pessoal dos pesquisadores
Considerando esse dado e contando com
as diversas possibilidades tecnológicas
existentes, Edson, Gabriel e Keyla criaram
um software que, por meio de personagens
e jogos, incentiva a criança a ler. “A culpa
pela falta de interesse nos livros pode ser
atribuída a vários fatores. Alguns ficam
traumatizados por uma leitura forçada,
outros não têm estímulo, outros apenas
trocam os livros por tecnologia. O objetivo
principal é desenvolver um software que
consiga, de uma forma lúdica, incentivar
a criança a ler, instigando-a a buscar nos
livros o que a televisão e a tecnologia nunca
poderão suprir: ‘o poder da imaginação’”,
explicam os autores do projeto.
Pesquisas
Além da fundamentação teórica e da procura
por softwares similares ao pretendido, os
autores do projeto realizaram pesquisas
com grupos específicos para saber quais
assuntos e fatores atraem o interesse da
criança para a leitura. Foram entrevistados
bibliotecários (para esclarecer o que mais
chama a atenção dos pequenos quando
estão em contato com os livros, quais as
reações mais comuns e que obras causam
normalmente pouco interesse), as mães de
crianças e, obviamente, as próprias crianças.
Com embasamento teórico e prático,
além de conhecimentos técnicos sobre
informática – tais como linguagem de
programação (Visual Basic 2008) e editores
de imagem (Photoshop e Corel Draw) –, os
pesquisadores começaram a desenvolver o
software.
Personagens e Jogos
Voltado para a fase conhecida como “idade
dos contos de fadas”, período em que a
criança é extremamente suscetível à fantasia
e se identifica com o ambiente mostrado nas
histórias, o “Reino da Leitura” tem como
grande trunfo, segundo seus idealizadores,
apresentar personagens próprios, que
participam dos jogos educativos propostos
no programa.
A pesquisa conquistou o primeiro lugar na área de
informática da feira de tecnologia da ETEC Jorge
Street
Todos os personagens, de alguma forma,
encontram o caminho para o “Reino da
Leitura”. Nanda é uma garota levada que,
ao ser colocada de castigo pela mãe em um
quarto, descobre um baú cheio de livros. Gui
troca o videogame por histórias de magos e
dragões. Já a mimada Monique esquece seu
gosto pelo consumo ao se deparar com uma
nova diversão: contos de fadas e romances.
A garota Nick e o fã de futebol Rodrigo
deixam o preconceito contra a leitura de lado
e tornam-se leitores assíduos.
A intenção é que as crianças se identifiquem
com as personagens por meio das dificuldades
que cada uma delas tem com relação à
leitura. “Quando a criança se identifica
com o problema, estabelece uma conexão.
Assim, quando a personagem encontrar a
solução, a criança pode ficar estimulada a
seguir pelo mesmo caminho. E o vínculo de
amizade entre aquela personagem escolhida
pela criança fica cada vez mais aparente,
pois durante os jogos é esta personagem
que dá dicas quando a tarefa está difícil
37
ou parabeniza usando o nome da própria
criança quando esta acerta as respostas”,
explicam os pesquisadores.
Os jogos são essenciais no projeto.
Brincadeiras como “Escrevendo sua
história”, “Jogo da Forca”, “Jogo da Memória”,
“Jogos das Tirinhas” e o quiz de perguntas
têm objetivos específicos, mas, no geral,
visam despertar na criança a capacidade
de interpretar textos e figuras, bem como
desenvolver seu potencial de leitura e de
escrita. Outro elemento fundamental para o
“Reino da Leitura”, o layout do programa foi
desenvolvido com o uso de cores alegres e
vivas, além de o castelo pelo qual a criança
é conduzida durante os jogos ter um aspecto
acolhedor, animado e familiar, a fim de
prender a atenção do usuário.
O trabalho foi apresentado para uma banca
examinadora na ETEC Jorge Street (onde
os pesquisadores faziam um curso técnico
de informática) e, em seguida, na feira de
tecnologia da instituição (conquistando o
primeiro lugar na área de informática). Nas
avaliações, o layout foi elogiado, enquanto
melhorias foram sugeridas nos jogos e nas
animações.
Diante dos acertos e dos problemas apresentados, os pesquisadores ainda pretendem
promover melhorias, principalmente nas
animações, já que estas são fundamentais
na estética e no resultado final de todo
trabalho. Além disso, já desenvolveram parte
de um site para divulgar o “Reino da Leitura”.
“Há a possibilidade de patentearmos o
projeto e já estamos providenciando para
que ele possa cumprir sua função social.
Foi uma oportunidade incrível para nós,
mas é preciso ainda muito investimento.
Temos consciência de que esse foi apenas
o primeiro passo e ainda falta uma longa
jornada”, afirmam Edson, Gabriel e Keyla.
Arquivo pessoal dos pesquisadores
Jogos educativos e personagens que se identificam com o usuário são os trunfos do software
38
Sobre os Pesquisadores
“Um país se faz com homens e livros”.
Foi essa frase de Monteiro Lobato que
inspirou e norteou o projeto de conclusão
de Edson, Gabriel e Keyla no curso técnico
de informática.
Os estudantes viram
no ensinamento do consagrado escritor
justamente a essência do objetivo que tinham
de transformar a sociedade por meio da
educação. Aproveitaram para unir o útil ao
agradável, juntando a essa meta o amor que
sempre tiveram pela leitura.
“Essa frase do Monteiro Lobato foi de
grande importância, pois nos motivou e nos
mostrou que o Brasil só será plenamente
desenvolvido
quando
seus
cidadãos
cultivarem o hábito da leitura. Os livros são
agentes transformadores da sociedade e
nosso trabalho visa exatamente incentivar
as crianças, que são o futuro do país, e
torná-las, desde cedo, amantes dos livros,
para que possam transformar a sociedade
e fazer do Brasil o ‘país do agora’”, afirmam
os pesquisadores, orientados no trabalho
pela professora Márcia Cristina dos Santos
Ferreira.
Premiados com o primeiro lugar na área de
informática na feira de Ciências e Tecnologia
na ETEC Jorge Street , em São Caetano do
Sul-SP, e com o prêmio InCiência na Febrace
2012, os três estudantes seguiram caminhos
diferentes: Keyla estuda na Faculdade de
Direito de São Bernardo; Gabriel se esforça
para entrar em Engenharia Química na USP;
enquanto Edson sonha com o curso de
Ciências da Computação.
Contudo, os três continuam unidos pelo
amor à leitura. “Nós amamos a leitura
desde crianças e a vemos até hoje como algo
mágico, capaz de transformar o mundo e
você mesmo. Por isso, tínhamos que mostrar
isso a todos”, explicam os pesquisadores.
Arquivo pessoal dos pesquisadores
Para realizar o projeto, Edson, Gabriel e Keyla Maria se inspiraram na frase de Monteiro
Lobato: ‘Um país se faz com homens e livros’
39
(Ponto de vista)3
O papel da escola na busca
por um mundo sustentável
*Por Roseli de Deus Lopes
U
40
m tema relevante para os leitores da
InCiência é o da sustentabilidade, ainda mais
em ano de Rio+20, conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável,
realizada na cidade do Rio de Janeiro, em
junho.
Em atividades preparatórias e durante a
Rio+20, as três dimensões da sustentabilidade
- a econômica, a ambiental e a social foram amplamente discutidas por chefes e
representantes de estados e pela sociedade
civil. Ao final da conferência, foi publicado
o documento “O Futuro que Queremos”,
aprovado pelos 188 estados-membros,
em que renovam o comprometimento
pelo desenvolvimento sustentável e pela
promoção de um futuro econômico, social
e ambientalmente sustentável para nosso
planeta e para as gerações presentes e futuras.
Recomendo a leitura cuidadosa desse
documento para que possamos acompanhar e
cobrar o cumprimento dos compromissos ali
firmados e para que cada um possa identificar
qual a responsabilidade que lhe cabe para a
construção da sustentabilidade.
Muitos dos atuais problemas econômicos,
ambientais e sociais exigem mudanças
de hábitos de consumo e em relação ao
meio ambiente. Assim, o caminho para a
sustentabilidade requer, além de ações de
caráter emergencial para combate à miséria
em alguns países, prioridade absoluta para a
Educação e para a democratização do acesso
à informação qualificada.
A educação, em todos os níveis, deve propiciar
equidade para que os diferentes talentos
aflorem e se desenvolvam; deve formar
indivíduos críticos e protagonistas, conscientes
de seus papéis na sociedade, comprometidos
com o desenvolvimento sustentável e capazes
de identificar e resolver problemas.
É preciso educar as crianças e os jovens para
que adquiram e cultivem bons modos; para
que possam ser agentes de transformação
capazes de reeducar e provocar mudanças de
hábitos naqueles que já não mais frequentam
as escolas.
Além disso, hoje, tão fundamental como dar
acesso à água potável e à eletricidade, é dar
acesso à informação qualificada. Indivíduos
com boa formação na escola e que têm
acesso a dados e notícias de qualidade, se
tornam capazes de converter informação em
conhecimento, aplicando-o para identificar e
resolver problemas.
Para construir o futuro que queremos,
econômico,
social
e
ambientalmente
sustentável, é preciso que cada um faça a
sua parte, atuando como produtor e como
consumidor de forma consciente e com
responsabilidade social e ambiental. E, para
atingir esse objetivo, tudo começa na escola!
*Coordenadora Geral da Febrace (Feira
Brasileira de Ciências e Engenharia)
(Institucional)
Revista InCiência é
lançada com a presença
de especialistas da área
O
Colégio Dante Alighieri realizou, em 9
de fevereiro, um encontro de importantes
incentivadores da pesquisa científica no Brasil.
O motivo foi o lançamento da primeira edição
da revista InCiência, publicação semestral
voltada para o estímulo à pré-iniciação
científica e tecnológica.
Participaram do evento, realizado no auditório
Miro Noschese, o Secretário da Educação de
São Paulo, Herman Voorwald, a presidente da
SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência), profa. dra. Helena Nader, a
coordenadora da Febrace (Feira Brasileira de
Ciências e Engenharia), profa. dra. Roseli de
Deus Lopes, o gerente de educação da Intel
Brasil, Rubem Saldanha, a vice-diretora da
Escola Estadual Andrônico de Melo, Rosângela
Chiari, e o coordenador pedagógico de Ensino
Fundamental II e do Ensino Médio do Colégio
Bialik e assessor do Colégio Giordano Bruno,
Rogério Giorgion. A mediação ficou por
conta da coordenadora do Departamento de
Ciências da Natureza do Dante e responsável
pelo programa Cientista Aprendiz, profa.
Sandra Tonidandel, coidealizadora da revista.
Também estiveram presentes o presidente
do Colégio Dante Alighieri, dr. José de
Oliveira Messina, o diretor geral pedagógico
42
da Escola, prof.
Lauro Spaggiari,
e a coordenadora do Departamento
de
Te c nlog i a
Edu-cacional
e do GEETec
(Grupo
de
Estudos Experimentais em Tecnologia), profa.
Valdenice Minatel, coidealizadora da InCiência.
Sobre a InCiência
Levando em conta que a pesquisa científica no
Brasil tem mais destaque no nível superior e
na pós-graduação, a revista InCiência pretende
dar espaço para a divulgação de trabalhos
de alunos dos ensinos Fundamental e Médio
do todas as escolas brasileiras, e não só do
Colégio Dante Alighieri.
Os jovens que trabalham com pré-iniciação
científica e quiserem participar da publicação
precisam enviar seus artigos para inciencia@
colegiodante.com.br.
Uma comissão de professores-pesquisadores
avaliará o trabalho. Caso a pesquisa seja
aprovada, os responsáveis pela revista entrarão
em contato com o aluno-pesquisador para
publicar o artigo na InCiência.
Convidados debateram sobre a importância do ensino de ciências nas escolas
43
Download

“O Brasil só será uma potência econômica se investir em tecnologia”