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Uma vida íntegra
por Mike Riccardi | 21 de maio de 2015
“Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de
que, com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal,
mas na graça de Deus, temos vivido no mundo, e de modo particular
convosco. Porque nenhumas outras coisas vos escrevemos, senão as que
já sabeis ou também reconheceis; e espero que também até ao fim as
reconhecereis. ” 2 Coríntios 1.12-13
Quando escreveu 2 Coríntios, o apóstolo Paulo estava enfrentando
acusações contra seu caráter e ministério. Falsos mestres, dizendo serem
apóstolos de Cristo, se infiltraram na igreja de Corinto e, com o fim de
enfraquecer a influência de Paulo para que a deles crescesse, começaram
um ataque direto à legitimidade do apostolado de Paulo. Muito de 2
Coríntios é uma defesa à integridade de Paulo como um ministro do
Evangelho. E ele começa essa defesa declarando que sua consciência
está limpa em relação à todas as acusações que estão sendo feitas contra
ele.
Mas ele sabe que teria sido muito fácil para os hipócritas, cujas próprias
consciências já haviam sido cauterizadas, simplesmente apelar para a
consciência dos coríntios com o intuito de se livrar de qualquer acusação.
Em 2 Coríntios 1.12-13, Paulo explica que o testemunho de sua
consciência limpa é algo mais do que simplesmente um recuo a um
estado privado e interior do seu coração que ninguém pode verificar. A
consciência limpa é baseada numa vida real de integridade. E essa vida
de integridade é marcada por uma série de coisas.
Simplicidade
Primeiro, Paulo diz que ele conduziu a si mesmo em simplicidade. Essa é
a palavra grega haplotes. Ela significa “inteireza”, “indivisibilidade”.
Simplicidade é o oposto de duplicidade. Paulo usou esse termo em
Colossenses 3.22 para exortar os escravos a obedecerem sinceramente a
seus mestres terrenos, e não apenas mostrar que estavam fazendo coisas
boas: “Vós, servos, obedecei em tudo a vosso senhor segundo a carne,
não servindo só na aparência, como para agradar aos homens, mas em
simplicidade de coração, temendo a Deus” (ARC). Em outras palavras,
não obedeçam ao seu senhor de maneira meramente externa; não trabalhe
na duplicidade de se esforçar calorosamente quando seu chefe está te
vendo, e depois ser descuidado quando ele não está por perto. Obedeça
com simplicidade de coração – seja a mesma pessoa o tempo todo,
sabendo que seu objetivo não é simplesmente agradar a homens, mas ao
Senhor, perante quem você sempre está presente.
Assim, quando Paulo diz que se conduziu em simplicidade em seu
ministério para os Coríntios, isso significa que não haviam partes
complexas no caráter de Paulo, como se ele estivesse pintando uma
figura de si mesmo sendo uma pessoa na superfície mas alguém
realmente diferente em seu íntimo. Não existia um exterior artificial nele
de modo que você teria que penetrar para conhecer o real Paulo. Não
havia desonestidade ou algum esquema traiçoeiro da parte dele para
parecer ser algo que ele não era, para que ele pudesse tirar vantagem dos
Coríntios. Com Paulo, o que você vê é o que você leva.
Sinceridade
Segundo, intimamente relacionada com simplicidade, Paulo diz que se
conduziu em sinceridade. Essa é uma palavra grega fascinante:
eilikrineia. É uma palavra composta, de helios, “sol”, e krino, “julgar”.
Literalmente: “julgado pelo sol”.
Agora, qual o sentido disso? Bem, uma das maiores indústrias nos dias
de Paulo era a indústria de cerâmica. E, como qualquer outra coisa, os
vários tipos de cerâmica variavam em qualidade. A cerâmica de pior
qualidade era grossa, sólida, fácil de fazer. Mas a cerâmica mais
requintada era mais fina e, portanto, mais frágil. Frequentemente, quando
a cerâmica fina estava no fogo, ela quebrava. Agora, ao invés de
descartar aqueles vasos que estavam quebrados, mercadores desonestos
preenchiam as rachaduras com uma cera dura e perolada que se
misturava com a cor da cerâmica quando pintada. Na luz comum,
ninguém conseguia apontar a diferença. Mas ao segurar uma peça de
cerâmica contra o sol para testá-la, a imperfeição tornava-se perceptível,
porque a cera era mais escura do que o restante do vaso. Mercadores
honestos geralmente botavam placas em seus produtos com o termo em
latim “sine cera”, que quer dizer “sem cera”. Assim “sine cera” é de
onde vem a palavra em português “sincero”.
E assim Paulo diz, “Pela graça de Deus, minha conduta é
‘testada-pelo-sol’. Você pode analisar a minha vida contra a penetrante
luz solar da Palavra de Deus, e você não achará em meu caráter
rachaduras que tentei consertar com cera artificial. Eu não estou
desonestamente criando esquemas para aparecer de um jeito perante os
homens enquanto sou totalmente diferente abaixo da superfície”. Ele até
diz em 2 Coríntios 2.17, “Porque nós não somos, como muitos,
falsificadores da palavra de Deus, antes falamos de Cristo com
sinceridade, como de Deus na presença de Deus”. O homem ou mulher
de integridade vive a vida inteira na penetrante e ardente luz da presença
do próprio Deus. E quando mantidos no brilho de Sua luz, eles são
classificados como sine cera, sem cera.
Não com sabedoria carnal
Em seguida, Paulo fala que ele não se conduziu em sabedoria carnal.
Sabedoria carnal é aquele tipo de astúcia e inteligência sagaz que marca
aqueles que que são egoistamente ambiciosos – aqueles que desejam
colocar-se à frente e agarrar o poder, a influência e o reconhecimento.
Em Tiago 3.13-16, Tiago contrasta a verdadeira e divina sabedoria com a
sabedoria carnal:
Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas
obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amarga inveja, e
sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais
contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é
terrena, animal e diabólica. Porque onde há inveja e espírito faccioso aí
há perturbação e toda a obra perversa.
Veja, o homem íntegro não se vale de sabedoria carnal, fingindo ser algo
que ele não é para então tirar vantagem das pessoas para seu próprio
ganho. Ele não é motivado por ambição invejosa, arrogante e egoísta que
busca poder e influência.
Na graça de Deus
Ao invés disso, ele se conduz, em quarto lugar, na graça de Deus. Note o
quão bruscamente a sabedoria carnal é contrastada com a graça de Deus
aqui. Elas são mutuamente exclusivas. Se você vai operar baseado na
sabedoria carnal, buscando conivente e astutamente assegurar posições
de influência, você está totalmente fora da graça de Deus. Porém, se você
está conscientemente submetendo sua vida ao poder santo e energizante
da graça de Deus, você irá falar como Paulo em 2 Coríntios 4.2, onde ele
diz, “Antes, renunciamos aos procedimentos secretos e vergonhosos; não
usamos de engano nem torcemos a palavra de Deus. Pelo contrário,
mediante a clara exposição da verdade, recomendamo-nos à consciência
de todos, diante de Deus.”
O que você vê é o que você leva
E então Paulo diz: “Eu tenho me conduzido com integridade. Minha
conduta é marcada pela simplicidade e sinceridade de Deus, não com
sabedoria carnal, mas na graça de Deus”. E então, no início do versículo
13 ele nos dá um exemplo dessa integridade. Ele diz, “Porque nenhuma
outra coisa vos escrevemos, além das que ledes e bem compreendeis”.
Os falsos apóstolos acusaram Paulo de hesitar (2 Coríntios 1.17). Eles
falaram que o seu “sim” algumas vezes era “não” e o seu “não” era
algumas vezes “sim”; o acusaram de ter escrito uma coisa querendo dizer
outra; diziam que suas cartas eram fortes e impressionantes mas que ele
teria se comportado de forma bem diferente pessoalmente (2 Coríntios
10.10).
E Paulo diz, “De jeito nenhum!”, ele não escreve nada além do que eles
podem ler e compreender. Não há necessidade de ler nas entrelinhas. Não
existe significado oculto ou segredo algum em suas cartas. Não há duplo
sentido que os Coríntios precisavam decifrar para entender sua
verdadeira intenção. Ele não estava “tentando comunicar” algo
escondendo o significado com chavões enganosos. Como disse John
MacArthur, “Paulo escreveu o que ele queria dizer, e ele queria dizer o
que ele escreveu. Suas cartas eram claras, diretas, consistentes, genuínas,
transparentes e sem ambiguidade.”
E você?
Esse é o perfil da vida de integridade, que é uma receita para a
consciência limpa. Agora precisamos nos perguntar: por esse padrão,
somos homens e mulheres de integridade?
Você se conduz em simplicidade? A pessoa que você mostra ser por fora
é a mesma que é por dentro? Ou você tem uma “dupla identidade”? Você
tem uma personalidade “cristã” que você apenas assume para
impressionar seus amigos cristãos e seu pastor? Você finge ser algo que
você não é porque você está tão apaixonado pelo louvor dos homens que
você parou de trabalhar pela recompensa que Deus dá?
E você se conduz em sinceridade? Se sua vida fosse analisada contra a
luz da Palavra de Deus, você seria avaliado como sine cera, sem cera?
Ou a esplendorosa luz da própria face de Deus revela rachaduras em seu
caráter – rachaduras que mostram que você está fingindo ser algo que
não é? Talvez você esteja tentando preencher artificialmente essas
rachaduras com a cera da moralidade cristã externa – presença na igreja,
estudos bíblicos, conversas “espirituais”, mas no fundo você é outra
coisa.
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Você repudia a sabedoria carnal? Você renuncia a todo caminho
vergonhoso e traiçoeiro? Ou você é motivado por ambição invejosa e
egoísta que utiliza astúcia mundana e sabedoria carnal para tirar
vantagem das pessoas somente para conseguir o que deseja?
E quando você se comunica com as pessoas – face a face ou virtualmente
– o que você quer dizer está sempre estampado em suas palavras? As
pessoas podem perceber a sua verdadeira intenção apenas te ouvindo
falar? Ou você brinca com as pessoas? Você esconde desonestamente as
suas verdadeiras intenções em significados ambíguos para se
auto-proteger e conseguir informações? As pessoas tem que ler nas
entrelinhas quando estão conversando com você? Ou o seu discurso é
marcado pela “clara exposição da verdade”? (2 Coríntios 4.2)
Esse é o perfil de uma vida de integridade. Isso é de onde a consciência
limpa provêm. Que Deus lide conosco por meio de Sua Palavra, para
receba de seu povo aquilo que ele é Digno, por meio de Cristo, pelo
poder santificador do Espírito Santo.
Traduzido por Fernanda Vilela | Reforma21.org | Original aqui
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