Espiroquetas no estômago: Uma sensação ancestral
Noé Yoitiro Costa Hashimoto, Nidia Alice Pinheiro.
Centro de Ciências Naturais e Humanas (CCNH), Universidade Federal do ABC
{[email protected], [email protected]}
Os estudos de microorganismos que parasitam a mucosa
gástrica apresentam mais de um século. E conforme
esperado, na ciência, quanto mais respostas são obtidas
maior parece ser o número de dúvidas que pululam.
produziram artigos de revisão em português sendo dois
deles com enfoque voltado para criança e o adolescente, um
sobre biopatologia, um relacionando H. pylori com afecção
hepática, outro sobre apoptose, outro sobre aspectos
zoonóticos e o último enfoca aspectos gerais de infecções,
todos relacionados com o H. pylori.
Hoje, nos mais diversos animais, são obtidos isolamentos
de bactérias parasitas do trato gastrointestinal, e há quem
diga que onde quer que procuremos (seres vivos) serão
achados esses tipos de organismos.
O próprio tratamento da bactéria visando sua erradicação
ao ser detectada é um tema de controvérsia no meio clínico.
E em muito devido à falta de literatura de fácil acesso e
esclarecedora sobre o tema em questão.
A partir dos anos 80, com o isolamento da, que viria ser
a primeira e mais estudada espécie do gênero Helicobacter
(H pylori), obteve-se grandes investimentos de pesquisa
sobre essa espécie, a qual é reconhecida por inúmeras
afecções na mucosa gástrica, entre elas o câncer.
Juntamente, a descoberta de outras espécies propiciou,
além de modelos para melhor compreensão dos
mecanismos dessa bactéria em humanos, uma nova
preocupação: a ameaça zoonótica.
Dada a importância de produção de artigos de revisão, os
quais têm por objetivo precípuo a sumarização do que há de
melhor e mais confiável na literatura científica. E em face
da seriedade e necessidade de uma ampla discussão sobre o
tema sumarizado acima, o presente projeto visa à mitigação
dessas discussões, apresentando um complemento e um
suplemento das revisões previamente produzidas.
INTRODUÇÃO
Em 1994, H pylori foi considerada carcinógeno do tipo I
pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer
ligada a Organização Mundial da saúde.
Como o processo carcinogênico envolve acúmulo de
alterações genéticas, acredita-se que o H. pylori possa estar
atuando numa fase inicial da cadeia de alterações que leva
ao câncer. Segundo Correa (1992) esta seqüência de
mudanças poderia iniciar-se por um complexo processo
multipassos desde a mucosa normal até gastrite crônica,
gastrite atrófica, metaplasia intestinal, displasia e neoplasia,
como pode ser observado pelo esquema 1.
O artigo proposto contempla uma abordagem
convergente, i.e., começou-se com uma revisão sobre o
gênero e suas mais de 30 espécies enfatizando aspectos
históricos, morfológicos e bioquímicos complementando
com outras características particulares (zoonose, genômica
etc) de acordo com a espécie a ser discutida. Isto foi feito
posto que haja uma carência ainda maior de literatura
dessas outras espécies em português, existem indícios de
uma potencial zoonose e, amiúde, é através destas ou de
seus hospedeiros que se modela a infecção por H pylori em
humanos, sendo importantes, portanto, para se entender o
patógeno protagonista.
Após isso focalizamos neste com uma abordagem
histórica pormenorizada, seguindo através de sua
microbiologia, morfologia e características bioquímicas,
testes de diagnóstico, genoma, transmissão, fatores de
virulência e suas relações com doenças.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para todo trabalho científico uma bem fundamentada
revisão da literatura é necessária, em se tratando de um
artigo de revisão essa prática é precípua e deve ser feita de
forma rigorosa, abrangente e bem fundamentada.
Para tanto foram utilizadas bases de dados confiáveis,
principalmente:
Alguns autores (Kodaira et al, 2002), (Ladeira et al,
2003), (Silva et al,2003), (Targa et al, 2005), (Bittencourt
et al, 2006), (Carvalho et al, 2007) e (Siqueira et al, 2007)
- Highwire Stanford (highwire.stanford.edu);
- PubMed/ NCBI(www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/);
- Scielo (www.scielo.org/).
Através da pesquisa nessas fontes foram referenciados
180 artigos além daqueles que serviram apenas de apoio,
esses artigos foram retirados do acervo de 60 revistas
científicas nacionais e, na sua grande maioria,
internacionais.
Houve também sessões de discussão dos artigos a fim de
trabalhar a capacidade crítica do discente e orientar a
escrita do artigo.
Ainda no que se diz respeito as técnicas para melhor
aceitação e entendimento do artigo por parte do leitor
foram sempre que possíveis utilizadas tabelas, figuras e
esquemas (adaptados da literatura), como o esquema 1
acima.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na parte de discussão sobre as espécies conseguimos a
montagem de uma tabela que enfatizava todas as
características mais importantes morfológicas, bioquímicas
e de parasitismo das mais de 30 espécies de Helicobacter,
as quais em sua maioria já haviam sido discutidas em texto.
Seguindo a parte de histórico uma outra tabela serviu
para resumir os principais feitos na história do H pylori,
começando em na metade do século XIX até o isolamento e
caracterização desencadeados por Marshall e Warren
(figura 1)..
Técnicas invasivas
(endoscopia e biopsias)
- Análise histológica;
Técnicas não invasivas
-Prova rápida da urease;
- Teste da respiração: urea
C13-C14;
- Cultura;
- Testes sorológicos;
- Moleculares (PCR, RT-PCR e
ship DNA)
- Detecção de antígenos em
fezes.
Tabela 1: Principais métodos para detecção de H. pylori.
Adaptado de (Díaz et al, 2009).
Após isso se seguiu com uma análise do genoma e
transmissão, dois tópicos extensamente ligados,
principalmente, pelas evidências que indicam o parasitismo
da H pylori desde nossos ancestrais africanos antes das
migrações e sugere esta como um eficiente marcador
molecular para se estudar as migrações humanas (figura 2).
Dado que os resultados condizem com os achados
arqueológicos e genômicos em humanos.
Figura 2 – Padroeiros da Helicobacter pylori. Reitrado de
Covacci et al, 1999.
Figura 1 – Padroeiros da Helicobacter pylori. Reitrado de Kidd
& Modlin, 1998.
Os principais métodos de diagnóstico foram discutidos
ressaltando o fato de não existir o melhor método, i.e., são
técnicas diferentes com benefícios diferentes devendo-se
adaptar as condições físicas do ambiente e do paciente
(Tabela 1).
Continuou-se através da análise de alguns fatores de
virulência (essenciais para patogenicidade e colonização),
figura 3. Todos aqueles produtos gênicos capazes de
contribuir para a instalação ou manutenção da infecção, ou
cuja ausência reduz abruptamente o processo patogênico
são chamados fatores ou determinantes de virulência. Em
se tratando de HP, os flagelos bem como a estrutura
espiralada da bactéria são considerados fatores de
virulência uma vez que favorecem a propagação da bactéria
a partir do lúmen até o topo das células epiteliais –
associada a liberação de urease responsável, entre outras
funções, pelo aumento e tamponamento do pH. Ao chegar
na superfície das células podem se ligar através de adesinas
(proteínas de superfície) e desencadear mudanças
estruturais e fisiológicas na mucosa que fornecerão as
condições necessárias para manutenção do patógeno e
eventualmente, uma vez que isso seria prejudicial a
colonização, induzirão processos patológicos, e.g., úlceras
pépticas, gastrites e carcinoma. Afecções que foram
tratadas na seqüência.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
Blaser , MJ; Atherton, JC. Helicobacter pylori
persistence: Biologya and disease. J. Clin. Invest., 2004.
Carvalho GD ; Pinto PSA ; Vargas, M. I. ; Nero, LA .
Aspectos zoonóticos do Helicobacter spp.. Bioscience
Journal (UFU), v. 24, p. 121-130, 2008.
Correa P. Human gastric carcinogenesis: a multistep and
multifactorial process. First American Cancer Society
Award Lecture on Cancer Epidemiology and
Prevention. Cancer Res 1992.
Covacci A, Telford JL, Giudice GD, Parsonnet J,
Rappuoli R. Helicobacter pylori Virulence and Genetic
Geography. Science 1999
Díaz LB, Domínguez LET, González BLR. Métodos
para la detección de la infección por Helicobacter
pylori. Rev Cubana Med 2009.
Kidd M, Modlin IM. A century of Helicobacter pylori:
paradigms lost-paradigms regained. Digestion 1998.
Kodaira, MS; Escobar AMU; Grisi S. Epidemiological
aspects of Helicobacter pylori infection in childhood
and adolescence. São Paulo .Rev. Saúde Pública, 2002.
10. Ladeira MSP; Salvadori DMF; Rodrigues MAM.
Biopatologia da Helicobacter pylori. Rio de Janeiro. J.
Bras. Patol. Med. Lab. 2003.
Figura 3 – Helicobacter e fatores de virulência (CagA, VacA,
urease, flagelos e morfologia). (http://www.helico.com, Atherton
et al, 1999, Monteccuco et al, 1999, Blaser& Atherton, 2004, )
CONCLUSÕES
O artigo de revisão abordou diversos aspectos da
Helicobacter pylori, desde sua história, análises clínicas,
transmissão, relação com o ser humano, patologias e
espécies relacionadas. Ainda a pesquisa para composição
de um artigo de revisão tenha tentado abranger o máximo
possível o tema com profundidade conveniente, não se teve
a pretensão de esgotar totalmente o assunto, o que, de fato,
seria impossível.
Contudo, pode-se perceber que existem ainda muitas
dúvidas pendentes implicando numa vasta área de trabalho
para pesquisadores das ciências da vida. Espera-se ter
contribuído para o aumento da boa literatura sobre o tema
bem como estímulo a novos pesquisadores.
REFERÊNCIAS
1.
2.
Atherton J C, Cover T L, Twells R J, Morales M R,
Hawkey C J, Blaser M J. Simple and accurate PCR –
based system for typing vacuolating cytotoxin alleles of
Helicobacter pylori. J Clin Microbiol 1999.
Bittencourt, PFS. et al . Úlcera péptica gastroduodenal e
infecção pelo Helicobacter pylori na criança e
adolescente. Porto Alegre J. Pediatr. (Rio J.) 2006.
11. Montecucco C, Papini E, de Bernard M, Zoratti M.
Molecular and cellular activities of Helicobacter pylori
pathogenic factors. FEBS Lett 1999.
12. Silva ,MCB. ; Freitas LAR; Paraná R. Prevalência e
evidência etiopatogênica do Helicobacter pylori na
doença parenquimatosa crônica de fígado. Salvador. R.
Ci. méd. biol., 2003.
13. Siqueira JS , Lima PSS , Barreto A S ,Júnior LJQ .
Aspectos gerais nas infecções por Helicobacter pylori –
Revisão . RBAC, 2007.
14. Targa, AC; Silva, AE. Apoptose: implicações na
carcinogênese gástrica e sua associação com
Helicobacter pylori. Arq Ciênc Saúde 2005.
Download

Espiroquetas no Estômago: Uma Sensação Ancestral