DIVERSIDADE ARBÓREA DE UMA ÁREA DE CERRADO NO PARQUE NACIONAL
DE CHAPADA DOS GUIMARÃES, MATO GROSSO, BRASIL.
Victor Hugo de Oliveira Henrique¹
Diogo Diógenes Ribeiro Barbosa²
Mackson Alexandre²
Augusto Paulo da Silva Oliveira²
RESUMO
Com o objetivo de realizar análises de riqueza e similaridade de comunidades
florísticas em uma região do Cerrado, foi feito um levantamento utilizando a
metodologia de quadrado e transecto. Foram identificados 34 indivíduos, sendo o
quadrando com 15 indivíduos e o transeco com 19. Quanto ao índice de Shannon, o
quadrante obteve 1,5227 e o transecto 2,0244. Já os valores recíprocos de Simpson,
o quadrante obteve 0,28 e o transecto 0,16. Duas espécies foram coletadas
exclusivamente através do método de Quadrante: Alibertia edulis e Sinarouba
versicolor e seis espécies exclusivamente no método Transecto: Astronium
fraxinifolium, Callisthene paniculata, Ouratea hexasperma, Pterodon emaginatus e
Sclerolobium suberosum. O trabalho possibilitou observar a diversidade arbórea da
região e analisar as famílias e espécies botânicas predominantes.
Palavras-chave: diversidade arbórea, Cerrado, Chapada dos Guimarães
ABSTRACT
In order to accomplish wealth of analysis and similarity of floristic communities in a
Cerrado region, a survey was done using the methodology square and transect. 34
individuals were identified, the squaring of 15 individuals and the transeco with 19.
As for the Shannon index, the quadrant obtained 1.5227 and 2.0244 transect.
Already the reciprocal values of Simpson, the quadrant obtained 0,28 and 0,16
transect. Two species were collected exclusively through the quadrante method:
____________________________________________________________
¹Graduado em Ciências Biológicas – IB/UFMT
Mestrando em Educação (Educação Ambiental) – IB/UNESP
E-mail: [email protected]
²Graduandos em Ciências Biológicas – IB/UFMT
Alibertia edulis and Sinarouba versicolor and six species exclusively on Transect
method: Astronium fraxinifolium, Callisthene paniculata, Ouratea hexasperma,
Pterodon emaginatus and Sclerolobium suberosum. The work allowed to observe the
tree diversity of the region and analyze families and dominant plant species.
Keywords: tree diversity, Cerrado, Chapada dos Guimarães
INTRODUÇÃO
O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro em extensão territorial, abrangendo
mais de 200 milhões de hectares, e ocupando aproximadamente 25% do território
nacional. O Cerrado abriga cerca de um terço da biodiversidade brasileira,
totalizando 5% da fauna e da flora mundial. Aproxima-se uma riqueza de 116 mil
espécies de animais e plantas neste bioma (MEDEIROS, 2004).
Segundo Medeiros (2004), o Cerrado possui uma grande concentração de espécies
endêmicas, mas vêm perdendo expressivamente sua biodiversidade, tal fenômeno é
chamado de “hotspot”.
O fato de o Cerrado ser considerado um “hotspot”, faz com que o conhecimento
sobre o uso de metodologias de amostragem para medir a biodiversidade seja de
extrema importância, para facilitar nas ações de manejo e conservação deste bioma.
A melhor maneira de medir essa biodiversidade é através dos índices de riqueza e
de diversidade, são os mais usados em estudos ecológicos e de conservação, pois
fornecem dados úteis para avaliar problemas ambientais.
Uma maneira economicamente possível de quantificar a diversidade de um meio é
através de amostragens. Quando se mede corretamente uma amostra, é possível
obter uma análise representativa da população em estudo (KREBS, 1999 apud
MEDEIROS, 2004).
Os índices de diversidade são ferramentas criadas com o objetivo de descrever as
comunidades biológicas em termos de riqueza e uniformidade para serem utilizados,
principalmente em Biologia da conservação e avaliação ambiental. Dados de
diversidade são muito úteis para comparar padrões em diversos locais ou em
diversos gradientes, ou, em uma mesma área ao longo do tempo.
Segundo Magurran (1988), existem três categorias para a medida da diversidade.
Primeiro são os índices de riqueza de espécies, que refere-se a uma medida do
número de espécies em uma parcela definida, segundo são os modelos de
abundância de espécies, que é a distribuição dos indivíduos e por fim, os índices
baseados na abundância proporcional de espécies, é nesta categoria que aparecem
os índices de Shannon e Simpson.
A diversidade de um determinado bioma, pode ser classificada em 3 níveis; a
diversidade total de uma área, que denominamos de diversidade gama; a
diversidade alfa, sendo a riqueza de espécies em uma comunidade; e a diversidade
beta, que corresponde as alterações na composição das espécies nas comunidades,
ao longo de um gradiente (MEDEIROS, 2004).
Duas medidas populares de diversidade na ecologia são os índices de Shannon e
de Simpson. O índice de Shannon é uma das medidas mais empregadas na área.
Esse índice assume que todos os indivíduos de uma comunidade são amostrados
aleatoriamente, sendo essa comunidade muito grande. Ainda, ele considera que
todas as espécies estão representadas nas amostras. O índice de Simpson é uma
das medidas de diversidade mais simples de caracterização da comunidade. O valor
de D aumenta à medida que aumenta a uniformidade, e para um dado valor de
riqueza da comunidade, D também cresce.
H’ = - ∑ Pi *ln Pi (Índice de Shannon)
D = 1 / ∑S Pi2 (Índice de Simpson)
Pi = proporção de indivíduos ou biomassa em relação ao total da amostra. S =
riqueza total de espécies (BEGON, TOWNSEND, HARPER, 2007)
Deste modo, o trabalho objetiva realizar análises de riqueza e similaridade de
comunidades florísticas em uma região do Cerrado e comparar os métodos de
levantamento de biodiversidade quadrado e transecto.
MATERIAIS E MÉTODOS
Área de Estudo
O trabalho foi realizado em uma área de Cerrado, dentro do Parque Nacional de
Chapada dos Guimarães, próximo ao rio Mutuca, localizada na Rodovia Emanuel
Pinheiro, na MT-251, entre as coordenadas geográficas de 15º 21’ 57,55” de latitude
sul e 55º 57’ 15,29” de longitude oeste. No local existe um Balneário muito
frequentado, as margens do rio Mutuca.
O rio Mutuca é um rio de águas transparentes, ideal para banho e é bem e indicado
para crianças, pois não é fundo cerca de 35 cm, é um lugar de fácil acesso, pois fica
próximo da rodovia que liga Chapada dos Guimarães à Cuiabá (PORTAL CHAPADA
MT)
Figura 1 - Localização da área de estudo. Fonte: Google Earth
O clima no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, segundo classificação de
Köppen, possui o Clima Tropical de Savana (Aw). Conforme Seplan (2001), a região
que compreende a Baixada Cuiabana e os Planaltos da Chapada dos Guimarães
está
compreendida
na
unidade
climática
de
Clima
tropical
continental,
alternadamente úmido e seco das chapadas, planaltos e depressões, dos topos e
cimeiras dos chapadões. Tanto a região da Baixada Cuiabana, quando os Planaltos
da Chapada caracterizam-se pela presença marcante de uma estação chuvosa
(outubro a março) e uma seca (abril a setembro). Na estação seca ocorrem as
“friagens”, invasão da massa polar sobre o continente, levando a quedas bruscas de
temperatura (ICMBIO, 2009).
Figura 2 - Localização da área de estudo. Parque Nacional de Chapada
dos Guimarães. Fonte: ICMBio
Métodos utilizados
Os métodos utilizados foram quadrado e transecto. Após escolhida a área para o
levantamento foi marcado um ponto inicial, fixando uma estaca no solo e mediu-se
10m para frente com a trena totalmente esticada e reta, neste ponto fixou-se outra
estaca e amarrou-se o barbante em ambas estacas, esse procedimento foi repetido
até fixar-se as quatro estacas formando um quadrado, para conferir se a distância
entre as estacas estavam corretas, utilizou-se a trena novamente e mediu-se 4m e
um lado do quadrado e 3m em um lado adjacente, a distância transversal entre os
dois pontos marcados foi de 5m. Após a montagem do quadrado, os indivíduos
foram morfotipados, os dados foram anotados em uma tabela e depois foram
coletadas amostras para identificação.
Para montar o transecto, esticou-se a trena por 25 metros deixando-a totalmente
reta (marcando o início e final) e amarrou-se um barbante com comprimento de 2m
na fita e partindo do ponto inicial de um dos lados da fita percorreram-se os 25
metros, coletando, etiquetando os indivíduos e preenchendo a ficha de todos
presentes no espaço amostral dos 2 metros.
Em cada quadrado e transecto foram considerados os indivíduos arbóreos que
apresentaram, no mínimo 5 cm de diâmetro e 30 cm de altura.
O material botânico foi coletado e identificado, e posteriormente foi prensado.
Os dados foram tabelados utilizando o Microsoft Excel e foi calculado o índice de
diversidade de Shannon e o índice de dominância. Para a análise de similaridade
foram usados os índices de Jaccard (Sj).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi amostrado um total de 34 indivíduos, sendo o quadrando com uma amostra de
15 indivíduos e o transeco com uma amostra de 19. Quanto ao índice de Shannon, o
quadrante obteve 1,5227 e o transecto 2,0244. Já os valores recíprocos de Simpson,
o quadrante obteve 0,28 e o transecto 0,16.
O índice de Shannon ressalta as espécies raras e o recíproco de Simpson evidencia
as espécies em comum, os dados sugerem então que o transecto possui um maior
número de espécie raras e o quadrante o maior número de espécies em comum
(BARROS, 2007).
O Transecto foi o melhor método para a coleta, pois dos 34 espécimes, 19 deles
foram coletadas por esse método, enquanto o Quadrante ficou representado por 15.
Os dados evidenciaram que duas espécies foram coletadas exclusivamente através
do método de Quadrante: Alibertia edulis e Sinarouba versicolor. Por outro lado o
Transecto permitiu registrar seis espécies não registradas no Quadrante: Astronium
fraxinifolium, Callisthene paniculata, Ouratea hexasperma, Pterodon emaginatus e
Sclerolobium suberosum.
A grande abundância da Curatella americana pode ser explicada pela influência da
latitude, sendo que essa espécie costuma apresentar maior abundância em áreas de
menor latitude, como é o caso da região do Rio Mutuca (FELFILI 1993) e por ser
uma das espécies vegetais mais comuns de todo o cerrado Mato-grossense.
Tabela 1 - Relação das espécias escontradas no levantamento na área de
estudo. Q = quadrante; T = transecto
Família
Nome Científico
Nome Popular
Q T
Alibertia edulis (Rich.)
Rubiaceae
Puruí, marmelada
2 0
A. Rich.
Astronium fraxinifolium
Anacardiaceae
Gonçalo-alves
0 2
Schott
Carvão-branco,
Callisthene fasciculata
Vochysiaceae
Cinzeiro, Capitão-do0 5
(Spreng.) Mart.
campo, Jacaré-mirim
Curatella americana L.
Dilleniaceae
Lixeira
7 5
Ouratea hexasperma
Ochnaceae
Vassoura de bruxa
0 1
var. planchonii Engl.
Plathymenia reticulata
Amarelinho, candeia,
Mimosaceae
2 1
Benth.
oiteira
Pterodon emarginatus
Fabaceae
Sucupira-branca
0 1
Vogel
Sclerolobium aureum
Fabaceae
Pau–pombo
1 1
(Tul.) Benth.
Sclerolobium
Tapassuaré, Bascuaré,
0 1
Caesalpiniaceae paniculatum Vogel var.
Angá
subvelutinum Benth.
Simarouba versicolor A. é-de-Perdiz / MarupáSimaroubaceae
2 0
St.-Hil.
do-Campo
Terminalia argentea
Combretaceae
Capitão-do-campo
0 1
Mart.
Vatairea macrocarpa
Fabaceae
Amargoso
1 1
(Benth.) Ducke
Total
15 19
Considerando o índice de Jaccard, a similaridade entre o quadrante e o transecto
que foi de 0,3333, podemos pressupor que houve um alto grau de compartilhamento
de espécies. Segundo Barros (2007) quanto menos espécies as comunidades
compartilham, maior a diversidade beta.
CONCLUSÃO
Através do elevado índice de Shannon e baixo do Recíproco de Simpson no
transecto, conclui-se que a comunidade tem um número considerável de espécies
raras e uma similaridade grande entre os dois métodos e que ambos os métodos de
amostragem devem ser complementares.
Além do contexto ambiental, o trabalho possibilitou observar a diversidade arbórea
da região e analisar as famílias e espécies botânicas predominantes na região.
É evidente e fundamental a importância da continuidade dos estudos com
levantamento arbóreo, para que possamos encontrar medidas que diminuam a
dificuldade de compreender a importância do apoio ecológico, que poderá assim,
garantir a sobrevivência das espécies.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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4. Diversidade Arbórea de uma área de cerrado no Parque