Texto para estudo em grupo do curso do Tema Específico:
Campanha de Fraternidade Amalia Domingo Soler.
A violência sob a ótica espírita
Osmar Marthi Filho
Transformação moral proposta pelo Espiritismo nos impulsiona ao
progresso espiritual.
Sabemos, com o estudo da Doutrina Espírita, que somos espíritos em
um longo processo de evolução, através de diversas reencarnações, que são
oportunidades que a Misericórdia Divina nos concede de vivenciar situações
que nos fazem amadurecer espiritualmente, auxiliando-nos a desenvolver o
potencial divino que há em nós, já que viemos de Deus, fomos criados por Ele,
tendo, portanto, uma característica divina em nós que precisaremos
desenvolver, ampliando nossa visão espiritual através do conhecimento e do
sentimento, as duas asas que nos auxiliam a alçar os vôos maiores de nossa
ascensão ao Pai.
Na questão 919 de O Livro dos Espíritos(1), Allan Kardec inquire os
Benfeitores Espirituais da Humanidade: “Qual o meio prático mais eficaz que
tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?” ao que
os mentores espirituais ensinam: “Um sábio da Antigüidade vo-lo disse:
“Conhece-te a ti mesmo”.”
Muitíssimo oportuno esse ensinamento, pois que o objetivo maior do
Espiritismo em nossas vidas deve ser o de nos auxiliar em nossa
transformação moral, impulsionando-nos ao progresso espiritual, destino final
de todos nós; mas para que possamos lograr êxito nessa transformação, mister
se faz que nos conheçamos. De outro modo como nos modificaremos, se não
conhecermos nossas reações, nossos sentimentos, nossos pensamentos? E
uma das principais formas de nos conhecer é convivendo com nossos
semelhantes, pois aí, nesse contato constante, é que poderemos verificar
nossas reações, os sentimentos que afloram em nós diante de determinadas
atitudes de nosso semelhante, e a partir daí empreendermos esforços para
transformar para melhor esses sentimentos e atitudes.
Estamos, portanto, caro leitor, inseridos no meio mais adequado ao
nosso progresso espiritual, já que em linhas gerais programamos nossa
existência material justamente visando trabalhar em nós determinadas
tendências que, reconhecemos, precisam ser modificadas. Entendemos, então,
a razão pela qual precisamos conviver com nosso semelhante, pois é através
dele que nos conheceremos e exercitaremos as qualidades morais que farão
de nós espíritos melhores. Como exercitaríamos, por exemplo, a caridade, o
amor, o perdão, se não tivéssemos contato com aqueles a quem precisamos
amar, perdoar e auxiliar ?
É portanto necessidade evolutiva do espírito a convivência, não apenas
por isso, mas também para que possamos aprender uns com os outros, já que
como cada um de nós tem sua própria vivência, suas próprias experiências,
através dos milênios de nossa evolução; é natural que tenhamos muito que
aprender e ensinar, principalmente aqueles que, tendo conquistado
determinados valores ético-morais, uma relativa estabilidade emocional, social,
poderão auxiliar os mais imaturos do ponto de vista evolutivo.
Isto ocorre comumente em nosso planeta, isto é, espíritos mais maduros
convivendo com outros ainda muito imaturos. Vamos encontrar essa assertiva
na resposta à questão 755 de O Livro dos Espíritos(2), na qual os Espíritos
Superiores ensinam que “Espíritos de ordem inferior e muito atrasados podem
encarnar entre homens adiantados, na esperança de também se adiantarem.
Mas, desde que a prova é por demais pesada, predomina a natureza primitiva.”
Temos observado com bastante freqüência fatos que nos chocam
profundamente, pelo grau de violência, de atrocidade que os caracteriza, não
apenas em nosso país, mas no planeta de forma geral, e muitos se perguntam:
“Como pode um ser humano cometer tamanha atrocidade?” Temos nessa
questão de O Livro dos Espíritos a resposta a essas reflexões, pois que se
trata de espíritos ainda bastante primitivos, com pouca maturidade espiritual, os
que praticam tais atos, que tiveram a oportunidade da presente reencarnação a
fim de se adiantar na escala evolutiva, mas que, sob determinadas
circunstâncias, não conseguem vencer seus impulsos mais primitivos, incidindo
novamente em atitudes de extrema violência. Naturalmente que as vítimas de
tais atos têm também suas necessidades reencarnatórias, pois que precisam
de experiências mais dolorosas como forma de difíceis resgates.
Encontraremos no capítulo “Miscigenação Cármica” do livro A
Constituição Divina(3) de nosso confrade Richard Simonetti, as seguintes
orientações, que nos auxiliarão a compreender melhor essa questão:
“A crueldade não é sinônimo de loucura. Apenas revela uma condição
evolutiva. Em indivíduos assim o senso moral é incipiente, prevalecendo neles
as iniciativas do bruto, sempre disposto a resolver suas pendências pela
violência.” E o referido autor continua, nos dando valioso roteiro de como
podemos contribuir para que esses indivíduos possam receber orientações da
sociedade em favor de seu próprio progresso, tais como “participar de
iniciativas que visam ao bem estar coletivo (...) favorecendo sempre o
desenvolvimento moral daqueles que convivem conosco, com a força
irresistível do exemplo.”(4)
Precisamos ainda, como sociedade numa relativa maturidade,
proporcionar também a esses espíritos oportunidades de crescimento moral e
intelectual, através da educação, além de ações voltadas para seu bem estar
imediato, no tocante a trabalho, alimentação, saúde e conhecimentos éticomorais que lhes sirvam de subsídios para atitudes equilibradas.
Vejamos, caro leitor, quanto podemos, como espíritas, auxiliar esses
irmãos, pois que temos valiosas oportunidades em nossas casas espíritas de
desenvolver atividades educativas para o espírito, auxiliando-o em suas
necessidades mais imediatas, e, sobretudo, oferecendo-lhe a luz do
conhecimento espírita, que nos descortina a pureza dos ensinamentos de
Jesus, de forma a tocar os corações humanos, transformando o ser, inclusive
como uma ação preventiva de tais atitudes violentas.
Nossa reação, portanto, diante de atitudes de grande impacto, pelo grau
de violência de seus causadores, não pode ser de revolta com esses
indivíduos, ou para com os governantes, as autoridades, ou com o país de
forma geral, mas sim, deve ser uma atitude de compreensão, caridade e ação
no bem, inclusive através da oração, com a emissão de pensamentos nobres e
serenos tanto para os causadores de tais fatos, como também para as
autoridades em qualquer âmbito de ação.
Vamos encontrar em A Gênese(5), de Allan Kardec, no cap. XVIII,
importantes ensinamentos sobre os graves momentos que enfrentamos na
Humanidade, com a afirmativa do Codificador de que “são chegados os
tempos”, ou seja, passamos por momentos de mudanças na Humanidade, em
que “não são mais as entranhas do planeta que se agitam: são as da
Humanidade”, conforme afirma no item 7 do referido capítulo, isto é, o íntimo
de cada criatura deve ser modificado, transformado, tocado realmente pelos
ensinamentos e vivência dos ensinos de Jesus, iluminados pelos
esclarecimentos da Doutrina Espírita; como o Grande Roteiro de nossas almas,
o Grande Norte de nossas vidas, o Leme Seguro sob o qual podemos
readquirir forças na longa trajetória de nossa evolução, ao combater nossas
tendências inferiores, trabalhando em nós o homem novo, para que possamos
também conduzir os espíritos que caminham conosco, transformando a Terra
na morada do Bem, do Amor e da Paz.
Bibliografia:
1 – KARDEC, Allan: O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon
Ribeiro, 83ª edição, Rio de Janeiro: FEB – Federação Espírita Brasileira, 2002,
questão 919, p. 423.
2 – idem, ibidem, resposta à questão 755, p. 354.
3 – SIMONETTI, Richard. A Constituição Divina, 8ª edição,
Bauru: Gráfica São João Ltda, 1993, p. 68.
4 – idem, ibidem, p. 69.
5 – KARDEC, Allan: A Gênese. Tradução de Guillon Ribeiro,
42ª edição, Rio de Janeiro: FEB – Federação Espírita Brasileira, 2002, Cap.
XVIII, p. 405.
Revista Internacional de Espiritismo – Janeiro 2007
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