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fruticultura
Retratos de uma visita
BOLZANO – A PROVÍNCIA ITALIANA ONDE A MAÇÃ É RAINHA (Parte I)
Após sucessivos adiamentos provocados por múltiplos motivos,
concretizámos, em Novembro passado, na companhia de um
conjunto de técnicos da DRABL e DRATM, um objectivo que
há muito perseguíamos: participar na INTERPOMA – Feira
Internacional de Maçã, e, simultaneamente, visitar a província
de Bolzano (Südtirol/AltoAdige), um autêntico “santuário”
da fruticultura europeia
O
Südtirol, para os 330 mil
habitantes de língua germânica, ou Alto Adige
para os 135 mil que preferem o italiano, é uma região que,
geograficamente, faz fronteira a norte e este com a Áustria (Tirol Setentrional e Salzburgo), a sudeste com
Vêneto (província de Bellino), a sul
com Trento, a oeste com a Suíça
(Cantão Grisões) e a sudoeste com a
Lombardia (Sondrio). Pertenceu à
Áustria por muitos séculos, tendo
sido anexada pela Itália em 1918,
após a I Guerra Mundial. Deve o seu
nome – Tirol – ao Castelo de Tirol,
na cidade de Bolzano, morada dos
condes que dominavam a área na
Idade Média e que dividiam o poder
com o Príncipe - bispo de Trento.
A produção da fruticultura
Agricolamente falando, a província de Bolzano possui uma superfície
agrícola útil de 272.000 hectares e
uma população activa de 8%. Na generalidade, as explorações agrícolas
são familiares, possuem uma superfície média compreendida entre 2 e 4
hectares e são quase totalmente
(97,5%) dirigidas pelo próprio agricultor, que considera a aquela última dimensão como a área ideal para
que, com base na mão de obra familiar, se possa obter uma boa rentabilidade.
Sendo o factor terra com aptidão
frutícola um bem escasso, o preço
por hectare atinge valores verdadeiramente astronómicos e quase irreais – 350.000 euros – o que faz com
que o mercado fundiário de compra e
venda, praticamente, não exista
No que concerne à fruticultura,
cujo forte desenvolvimento ocorreu
no período compreendido entre o
final dos anos cinquenta e o princípio
da década de sessenta, pode dizer-se
que é a actividade agrícola economicamente mais importante, como,
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etc. – não observámos grandes novidades, constatando-se, isso sim, que
os fruticultores italianos se vêem
obrigados a realizar um maior número de tratamentos por campanha
para combaterem o pedrado e o
bichado, para além de já se debaterem com novos problemas fitossanitários de elevada gravidade
como são o “Fogo Bacteriano” e a
“Apple Proliferation”, doenças que,
felizmente, ainda não nos atingiram.
Ainda que a produção se faça a
partir dum conjunto diversificado
de variedades, as macieiras do grupo Golden – Reinders e Clone B –
continuam a ser as mais utilizadas
(36%), seguidas dos grupos Gala
(19%) – Schenitzer e Brookfield;
Red Delicious (15%) – Erovan e
Sandige; Fuji (10%) – Kiku 8; e
Granny Smith (8%). Os restantes
12% integram variedades como a
Pink Lady (5%), Braeburn (5%) e
Jonagored (2%).
Face aos mercados de destino, os
produtores de Bolzano têm de se
manter permanentemente actualizados relativamente às exigências
aliás se demonstra pelos 18 mil hectares ocupados e pela produção anual de 900 mil toneladas, cifra que,
por si só, representa metade do total
do país, 16% da Europa a 15, tanto
como na Alemanha e o triplo do produzido em Portugal.
Sendo a produtividade média de
50 toneladas/hectare, facilCOM 900 MIL
mente se deduzirá que esse
TONELADAS
DE
quantitativo só é atingível
PRODUÇÃO,
CIFRA
com o recurso à utilização de
QUE, POR SI SÓ,
tecnologias de ponta, das
REPRESENTA
METADE
quais realçamos a qualidade e
DO
TOTAL
DO
PAÍS,
uniformidade do material ve16%
DA
EUROPA
A 15,
getativo utilizado (produzemTANTO
COMO
NA
se 5.000.000 de plantas/ano) e
ALEMANHA E O TRIPLO
a densidade de plantação suDO PRODUZIDO EM
perior a 3000 árvores/ha, dois
PORTUGAL
aspectos que estão intimamente relacionados. Só a utilização de porta enxertos ananicantes,
como
o
EMLA
9,
predominante (90%) nas plantações,
permite o compasso de 3x1 e de
3x0,60 que a esmagadora maioria
dos fruticultores ali utiliza.
Quanto às restantes técnicas –
fertilizações, combate a pragas e doenças, sistemas de condução, podas,
decorrentes dos hábitos alimentares
dos consumidores e das preocupações com os modos de produção.
Para responder a esses imperativos,
95% da produção é feita segundo as
normas da “produção integrada” e
90% está certificada pelo sistema
EUREPGAP.
Existem também 450 hectares
submetidos ao Modo de Produção
Biológico (MPB) com a produção
global de 14.000 toneladas, assegurada por 140 produtores e com resultados financeiros da ordem dos
12 milhões de euros.
Quanto à disponibilidade comercial de novas variedades, ela está
assegurada pela renovação dos pomares, que é realizada à média de
8% por ano e sempre que a sua
idade atinge 12-15 anos. Refira-se
que, ao contrário do que sucede em
Portugal, Espanha ou França, por
exemplo, em Bolzano não existem
quais quer apoios financeiros para a
instalação das plantações, facto que
acentua ainda mais a importância
socio-económica que o sector tem
naquela região. Francisco Fernandes
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