Cultura
Entrevista1 com o Vereador Luís Rema
Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Alenquer
- A quantidade de espaços culturais no concelho é actualmente em número
suficiente, ou existem algumas carências a este nível?
- Existem cerca de 80 espaços culturais no concelho. Há sempre uma ou outra
colectividade que tem necessidades em termos directivos, mas uma maioria
significativa, cerca de 50%, utiliza bem o seu espaço. Os outros 50%, muitas vezes as
colectividades... como há um bairrismo, qualquer localidade tem de ter o seu espaço,
muitas vezes não há gente suficiente nas colectividades para dinamizar as colectividades
e depois, como se sabe, esta questão de ser director de uma colectividade exige um
grande sacrifício e não é toda a gente que está disponível para isso, e ainda mais nos
tempos de hoje, que são tempos difíceis. As pessoas andam sempre a correr de uns lados
para os outros, e de facto aquele espírito de dar um bocadinho para a colectividade e
proporcionar coisas aos outros está-se a perder.
E portanto, como são sempre os mesmo, há os cansaços naturais, o que faz com que
muitas vezes existam hiatos entre as colectividades, ficam meio moribundas. Penso que
de uma forma geral as colectividades são uma mais valia no nosso concelho, e lá está,
50% delas têm trabalhado muito bem.
Por exemplo, há três localidades, Fiandal, Bogarréus e Canados, que são três
localidades muito próximas umas das outras e cada uma tem a sua colectividade, quer
dizer, em vez de se juntarem e criarem uma colectividade grande, com gente, não, cada
uma tem a sua e não há fronteira entre as localidades, não se conhece porque as casas
são contínuas, o espaço entre umas e outras é pouco.
Ora três localidades com três colectividades ... não há gente muitas vezes para fazer um
trabalho que fique.
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Alguns imprevistos relacionados com a gravação áudio desta entrevista impediram a sua transcrição
integral, mas são aqui apresentados alguns excertos que foi possível transcrever.
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Os espaços são bonzinhos, atendendo ao número de habitantes, têm condições, só que
isto foi feito numa determinada altura, com muita energia, e dentro daquele espírito “se
os outros têm nós também temos”. Mas depois por razões naturais da vida, não há gente
para ficar à frente das colectividades, porque cansa, de facto.
- Existem diferenças entre as duas diferentes partes constituintes do concelho em
matéria cultural?
- Olhe, isto não é nada científico ... É mais fácil nas freguesias mais rurais, nós temos
algumas localidades no concelho em que qualquer espectáculo que levemos lá as
colectividades enchem. Se não enchem, toda a gente vai ver. É mais fácil fazer
determinado espectáculo em algumas freguesias do que propriamente na sede do
concelho, claro que isto tem uma razão, as pessoas aqui têm outros horizontes, têm
outras perspectivas, têm outras possibilidades de ir ver um espectáculo por exemplo a
Lisboa, ir à discoteca, aqui e acolá, e há localidades em que isso não acontece, portanto
qualquer espectáculo que lá vá as pessoas aproveitam para ver.
Há meia dúzia de localidades que eu sei que qualquer espectáculo que lá vá o número de
pessoas pode rondar à volta dos 200, o que é muito bom tendo em consideração que são
espectáculos amadores.
(...)
Quanto maior é o meio mais difícil é levar as pessoas a determinado sítio. Há uma
maior receptividade das pessoas dos meios mais afastados.
- E devido a isso há uma preocupação em adequar os espectáculos aos sítios?
- A minha preocupação tem sido a de proporcionar a todos espectáculos diferentes. Eu
tenho consciência de que o folclore, que é a actividade que mais força tem no nosso
concelho, faz algum sucesso em termos de público em qualquer localidade. Acho
também que por isso acontecer não há que permanecer sempre qualquer tipo de
espectáculo na base do folclore e portanto acho que se deve dar a possibilidade às
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pessoas de confrontarem aquilo que vêem normalmente com outras actividades que
nunca tenham visto.
Só para lhe dar um exemplo, nós já levámos a algumas localidades do concelho
pequenas música de violinos, claro que eu peço ao grupo que não toque só músicas
clássicas, que toque também algumas músicas ligeiras e as pessoas são confrontadas
entre ver 4 violinos a tocar numa igreja com os demais programas de folclore que
normalmente vêem. Claro que tenho a consciência de que se fosse folclore estariam 100
pessoas e que no violino estão só 20, mas acho que há o direito e há o dever de as
autarquias proporcionarem a essas pessoas espectáculos o mais dispersos ou o mais
diferentes possíveis, para as pessoas poderem confrontar os seus gostos.
(...)
Não se deixa de realizar iniciativas por saber que não vão ter aderência. Eu estou
consciente do público, dos números, mas tenho de lutar contra isso!
- Qual é o principal impulsionador de actividades culturais no concelho?
- É a autarquia, embora haja colectividades que trabalham muito bem. Nós nos últimos
5 anos fizemos mais de 1 500 eventos da nossa responsabilidade, idealizados por nós,
pagos por nós, feitos no espaço das colectividades. O nosso objectivo é colocar ao
serviço deste tipo de iniciativas o maior número de pessoas. Meter todas as pessoas a
trabalhar e a conviver umas com as outras.
Nos últimos 5 anos temos feito, à excepção deste ano por condicionantes económicas,
temos feito cerca de 200 actividades por ano. Se não fosse a crise económica, este mês,
o mês de Novembro, chamado Novembro Cultural, só este mês fazíamos 60 actividades,
ia-mos a todas as localidades, fazíamos actividades o mais dispersas possíveis, música
popular, música ligeira, teatro, ballet, ...
(...)
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- Quando se realizam eventos culturais ao nível das colectividades as coisas
funcionam bem?
- Sim, as coisas funcionam muito bem, o prazer que me dá é poder mobilizar as pessoas
das colectividades e dos outros órgãos a participar, a fazer, a agir. A cultura é algo que
demora muito tempo.
A nível de grupos organizados, posso-lhe dizer que actualmente temos 10 grupos de
folclore, 3 bandas de música e 3 grupos de teatro, aos quais a autarquia presta apoios em
termos de subsídios e transporte.
As coisas funcionam, há uma ligação muito estreita, uma empatia.
- Quais são os interlocutores/parceiros privilegiados da autarquia na realização de
actividades culturais?
- A nível de concelho, não existe assim um interlocutor principal na realização das
actividades, são todos aqueles que queiram colaborar connosco.
- Acha que existe no concelho a necessidade da construção de mais espaços
destinados a actividades culturais?
- Penso que sim, há que criar espaços polivalentes para podermos levar lá espectáculos,
porque se as pessoas sabem que vão sair de casa para ir para lugares frios, com cadeiras
de plástico, as pessoas não saem. Há que criar condições e proporcionar espaços
culturais em que as pessoas se sintam bem. Se souberem que vão para um espaço
adequado em termos de envolvência, as pessoas até vêm. Portanto esta é uma das áreas
prioritárias.
- Quais são os principais obstáculos à criação de mais actividades?
- Sem dúvida é a questão financeira, porque a cultura não é uma questão prioritária,
existem outros problemas mais importantes que é necessário resolver, de modo que a
cultura acaba por passar para segundo plano.
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- Ao nível das principais iniciativas culturais realizadas no concelho ...
- Temos várias actividades no concelho, posso-lhe dizer que em 12 meses do ano temos
6 meses com ideias temáticas. Temos o mês de Junho, que era o mês da Lusofonia, mas
que agora se chama mês Intercultural, que dedicamos à cultura de outros países,
convida-se dois países de fora da Europa. Temos Maio, que é o mês da poesia, Julho é o
mês dedicado às actividades ao ar livre, a que chamamos de “Sons ao Vivo”, etc. e
todos os anos implementamos uma nova ideia. A ideia deste ano foi o Mercado
Medieval, e são sempre ideias que ficam ao longo do tempo. Para o ano, a nossa
iniciativa nova vai tentar ser num dos meses em que não há ideias temáticas, e vai ser a
reposição das festas do Espírito Santo. Isto é tudo previsto todos os anos.
Para além dos meses temáticos, há diversas iniciativas nos outros meses em que não
existe nada, e algumas iniciativas pontuais das diversas colectividades.
Paralelamente a isto existem sempre exposições aqui na Biblioteca.
De grande importância são também as feiras que se realizam actualmente no concelho, a
Feira do Vinho e do Cavalo e a Feira da Ascensão, que trazem ao concelho muitos
visitantes.
Depois temos também o Museu Municipal Hipólito Cabaço, que é particular, e se
encontra aberto uma vez por mês. É o melhor museu da península ibérica em termos de
qualidade e quantidade e qualidade de obras, o que também é uma mais-valia para o
nosso concelho. Há ainda a Casa Museu Palmira Bastos e o Museu Municipal.
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