Matematicamente pensando: Globalização mais humana
Carlos Morais
Começou mais um ano. É o momento ideal para definir e começar a por em prática
novos projetos, novas ideias e novas formas de encarar os problemas e de os resolver.
Portugal continua, e espero que continue por muito tempo, a ser um país em paz e
com uma democracia consolidada. São dois aspetos essenciais que garantem que é possível
pensar e idealizar soluções para os problemas que afetam os portugueses.
Custa-me ver cair sobre cada um de nós dificuldades e mais dificuldades. O país
não precisa de mentiras nem de falsas promessas, mas também não faz qualquer falta a
exaltação das dificuldades e a permanente divulgação da incapacidade dos portugueses
para ultrapassarem a crise, nomeadamente o défice e o desemprego.
Os últimos tempos têm sido difíceis, muitos portugueses sentiram-se impotentes
para ultrapassar os seus problemas. A globalização a que temos assistido nos últimos anos
torna os Governos prisioneiros das organizações e das empresas multinacionais e os
cidadãos reféns das leis desses Governos. Já não são os Governos que impõem regras às
multinacionais que operam nos seus países, mas pelo contrário são as multinacionais que
impõem as regras para poderem entrar nesses países.
É esta a lógica dum mundo onde tudo acontece e os Governos democraticamente
eleitos pouco mais podem fazer do que concordar, em quase tudo, com as organizações ou
empresas que financiam os seus projetos.
É urgente que se comecem a considerar valores e questões éticas. Esta lei da selva
não pode continuar. Muitas das organizações multinacionais têm funcionado como balões
presentes em todos os países. Em alguns países mostram-se como balões cheios capazes de
brilhar, de atrair e de apresentar uma dimensão que agrada e ilude as comunidades onde se
inserem, noutros são balões vazios prontos a encher ou a desaparecer, conforme os ventos
lhe corram de feição. Ainda há outros onde é manifesto o vazio deixado depois de terem
rebentado.
Não tenho nada contra as grandes empresas e o seu crescimento, assim como não
critico que cada pessoa ou empresa procure evoluir o máximo nas dimensões que considera
relevantes. Mas, estou completamente contra que se procure o tal máximo num tempo
mínimo que implique esmagar os mais fracos ou aqueles que não têm meios para se
defenderem. Nos tempos que correm os mais fracos são sempre os trabalhadores, do sector
público ou privado, e os mais fortes são sempre os detentores do capital.
Não importa como nasceu cada empresa, não importa como evoluiu, não importa
como são os valores e o carácter dos responsáveis, importa apenas saber se dá lucro ou
prejuízo. Se uma empresa tem grande capacidade financeira então é uma empresa boa e os
seus dirigentes são ótimos, mas se os recursos financeiros escasseiam então as pessoas que
a dirigem, ou nela trabalham, são fracas e a empresa deve fechar ou ser deslocalizada. Uma
sociedade dividida em bons e maus, ou em fracos e fortes, não tem futuro.
É essencial associar ao conceito de lucro de uma empresa o bem-estar e a
estabilidade no emprego das pessoas que nela trabalham. Aceito que cada empresa deva
preocupar-se em rentabilizar os investimentos, assim como tornar-se atraente para os
investidores, mas sem atropelos àqueles que dão vida às empresas e delas dependem para
sobreviver. É fundamental que se torne a valorizar o trabalho e a dignidade humana.
O mundo tornou-se dependente de organizações poderosas e regulado pela lei da
oferta e da procura. A lei da oferta e da procura existe mas só funciona em alguns
domínios. Veja-se o que acontece na agricultura e na pesca, onde a oferta e a procura só
serve para que pescadores e agricultores tenham cada vez menos proveitos do seu trabalho.
Por outro lado, os derivados do petróleo beneficiam permanentemente de tal lei para
aumentarem os preços aos consumidores como entenderem. Estou convencido que se o
petróleo dependesse de agricultores e pescadores ainda teriam de pagar para que alguém o
consumisse.
Morais, C. (2012). Matematicamente pensando: Globalização mais humana. Mensageiro de Bragança, 12 de
Janeiro de 2012, p. 5.
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