Eixo sustentável: Uma proposta de um oitavo eixo para a Ferramenta
Estrategigrama.
Axis of Sustainability: A proposal for an eighth axis for the tool Strategigram
Autor: Luciano Maciel Ribeiro1 Coautores: Silvia Silva da Costa Botelho2 e Nelson
Lopes Duarte Filho3
Resumo:
A sociedade atual necessita de um pensamento cada vez mais estratégico sobre os seus
recursos. Definir o seu posicionamento estratégico é uma forma de ampliar as
possibilidades de minimizar os impactos negativos de suas ações de inovação. Este
pensamento abre espaço para uma visão mais complexa sobre a realidade e
consequentemente sobre formas de atuação que visem manter a sustentabilidade do
planeta. A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu dimensões para atuação
sustentável, são elas: Dimensão Social; Dimensão Econômica; Dimensão Ecológica;
Visão de Mundo. Estas dimensões representam uma ampliação da visão de muitas
empresas, as quais valorizam apenas a Dimensão Econômica. As inovações,
independentemente da sua classificação, representam mudanças, logo os seus impactos
podem estar alinhados ou não com a sustentabilidade nas suas diferentes dimensões. A
inovação tem os Parques Tecnológicos como um importante habitat. Estes locais, por
sua natureza, podem exercer um papel de intermediários em redes pois eles promovem
diversas ações de relacionamento entre os atores. Logo, podem ser fortes indutores de
ações sustentáveis. Os parques tecnológicos utilizam a ferramenta estrategigrama,
desenvolvida pelo International Association of Science Parks (IASP), a qual permite a
geração de um gráfico com sete eixos: Localização (urbana x não-urbana); Uso da
tecnologia (criadora ou utilizadora de tecnologia); Fomentar empresas ou desenvolver
empresas existentes; Foco num ramo empresarial ou diversidade; Escolher empresas
locais ou atrair empresas de outras regiões/países; Como avaliar a utilização do trabalho
em rede e networking nos parques; Como escolher o melhor modelo de gestão e
governança desses centros tecnológicos. Essa ferramenta permite a comparação das
principais escolhas de posicionamento entre parques nacionais e internacionais,
facilitando a compreensão de suas escolhas estratégicas. O presente estudo tem por
objetivo adicionar um 8º eixo, capaz de apontar a dimensão da sustentabilidade como
forma de verificar a presença desta dimensão na atuação do Parque. Seguindo a
metodologia desenvolvida pelo IASP o artigo apresenta questões a serem inseridas no
questionário desenvolvido e utilizado mundialmente, a partir de uma revisão de artigos
e livros sobre o tema, como forma de fundamentar a proposta. As respostas apontadas
contribuirão diretamente para a construção do 8º eixo aqui denominado
1
Mestre, Universidade Federal do Rio Grande, Caixa Postal 474, 96201-900 - Rio Grande - RS,
fone:+555332336623 e [email protected]
2
Doutora, Universidade Federal do Rio Grande, Caixa Postal 474, 96201-900 - Rio Grande - RS,
fone:+555332336623 e e-mail:[email protected]
3
Doutor, Universidade Federal do Rio Grande, Caixa Postal 474, 96201-900 - Rio Grande - RS,
fone:+555332336623 e e-mail: [email protected]
Sustentabilidade. Possibilitando assim refletir sobre o papel dos Parques Tecnológicos
nessa área e criando uma forma de definir ações que possam contribuir para as
diferentes perspectivas da Sustentabilidade. A relação entre inovação e sustentabilidade
tem uma crescente participação na agenda corporativa no que tange a dimensão
econômica, mas existe uma forte lacuna que pode ser ampliada nas outras dimensões já
apontadas aqui. Para este motivo, a proposta usa o Parque Tecnológico como um
importante vetor para a construção da Sustentabilidade.
Palavras chaves:
Parques Tecnológicos; Estrategigrama; Sustentabilidade e Ambientes de inovação.
Abstract:
Today’s society needs increasingly strategic thinking about its resources. Defining its
strategic positioning is a way to expand the possibilities of minimizing the negative
impacts of its innovation actions. This thought makes room for a more complex view of
reality and consequently on forms of actions intended to maintain the sustainability of
the planet. The United Nations (UN) established four dimensions to sustainable
development, namely Social Dimension, Economic Dimension, Ecological Dimension
and Worldview. These dimensions represent an extension of the vision of many
companies that usually value only the Economic Dimension. Regardless of
classification, innovations mean changes, so their impact may or may not be aligned
with sustainability in its various dimensions. Innovation has Science Parks as an
important habitat. These places can, by nature, play an important role as intermediate
bodies in networking because they promote several relationship initiatives between
actors and, therefore, can be strong inducers of sustainable actions. Science Parks use
the tool Strategigram developed by the International Association of Science Parks
(IASP), which allows the generation of a graph with seven strategic axes: location
(urban x non-urban); use of technology (creator or user of technology); encourage
businesses or develop existing businesses; focus on a business or business diversity;
choose local businesses or attract companies from other regions/countries; how to
evaluate the use of networking and networking in the parks; how to choose the best
management model and governance of these technology centers. This tool allows the
comparison of the main positioning choices between international and national parks,
making it easier to understand their strategic choices. This study aims to add an 8th axis
able to point the dimension of sustainability as a way to verify the presence of this
dimension in the Park performance. By following the methodology developed by IASP,
the article presents issues to be included in the questionnaire developed and used
worldwide based on a review of articles and books on the subject so as to support the
proposal. The answers found will directly contribute to the construction of the 8th axis
here called Sustainability, thus enabling reflection on the role of Science Parks in this
area and creating a way to define actions that may contribute to the different dimensions
of sustainability. The relationship between innovation and sustainability is a growing
interest in corporate agenda regarding the economic dimension; however, there is a
strong gap that can be expanded into other dimensions already mentioned here. For this
purpose, the proposal uses the Technology Park as an important vector for the
construction of Sustainability.
Keywords:
Science Park; Strategigram; Innovation; Sustainability
I.
INTRODUÇÃO
A transição para um novo paradigma de
desenvolvimento e os seus desafios são
acompanhados de inovações no terreno das
ideias e nas consciências das sociedades,
incluindo a formulação de novas propostas de
desenvolvimento. (BUARQUE, 2002)
A sociedade atual necessita de um pensamento cada vez mais estratégico sobre os seus
recursos. Definir o seu posicionamento estratégico é uma forma de ampliar as
possibilidades de minimizar os impactos negativos de suas ações de inovação. Este
pensamento abre espaço para uma visão mais complexa sobre a realidade e
consequentemente sobre formas de atuação que visem manter a sustentabilidade do
planeta.
A sustentabilidade não é a razão para a existência da maioria das empresas. A
justificativa mais presente é a produção de valor para acionistas, logo a perspectiva de
atuação não visa diretamente o benefício da sociedade. Mesmo sendo esta uma visão
desagradável, é a realidade (WERBACH, 2010). Por outro lado, Desenvolvimento
Sustentável é uma forma de perceber que as pessoas/empresas que estão vivas/atuando
hoje são responsáveis pelas gerações que irão viver e atuar aqui no futuro (PAULA,
2008).
Uma proposta para ampliar ou incorporar uma visão mais sustentável e utilizar a
“linha de resultado operacional”, termo cunhado pelo consultor John Elkington, a qual
representa os custos e valores associados aos negócios, rompendo com a simples
utilização de parâmetros contábeis tradicionais, é mostrada na figura 1 (WERBACH,
2010).
Figura 1 - Linha de resultado operacional sustentável
Fonte: Werbach (2010,
p. 104)
A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu dimensões para atuação
sustentável, são elas: Dimensão Social; Dimensão Econômica; Dimensão Ecológica;
Visão de Mundo. Essas dimensões representam uma ampliação da visão de muitas
empresas, as quais valorizam apenas a Dimensão Econômica.
As inovações, independentemente da sua classificação, representam mudanças.
Logo, os seus impactos podem estar alinhados ou não com a sustentabilidade nas suas
diferentes dimensões. A inovação tem os Parques Tecnológicos como um importante
habitat. Estes locais, por sua natureza, podem exercer um papel de intermediários em
redes pois eles promovem diversas ações de relacionamento entre os atores. Podem,
assim, ser fortes indutores de ações sustentáveis.
Os parques tecnológicos utilizam a ferramenta estrategigrama desenvolvida pelo
International Association of Science Parks (IASP), a qual permite a geração de um
gráfico com sete eixos: Localização (urbana x não-urbana); Uso da tecnologia (criadora
ou utilizadora de tecnologia); Fomentar empresas ou desenvolver empresas existentes;
Foco num ramo empresarial ou diversidade; Escolher empresas locais ou atrair
empresas de outras regiões/países; Como avaliar a utilização do trabalho em rede e
networking nos parques; Como escolher o melhor modelo de gestão e governança
desses centros tecnológicos. Essa ferramenta permite a comparação das principais
escolhas de posicionamento entre parques nacionais e internacionais, facilitando a
compreensão de suas escolhas estratégicas. As transações devem escolher os melhores
caminhos nas decisões, buscando evitar elevados custos internos, efetivando uma
verdadeira governança das ações desenvolvidas e consequentemente reduzindo os seus
custos (BARNEY e CLARK, 2007).
O presente estudo tem por objetivo adicionar um 8º eixo, capaz de apontar a
dimensão da sustentabilidade como forma de verificar a presença desta dimensão na
atuação do Parque. Seguindo a metodologia desenvolvida pelo IASP o artigo apresenta
perguntas a serem inseridas no questionário desenvolvido e utilizado mundialmente, a
partir de uma revisão de artigos e livros sobre o tema, como forma de fundamentar a
proposta. As respostas apontadas contribuirão diretamente para a construção do 8º eixo,
aqui denominado Sustentabilidade. Possibilitando, assim, refletir sobre o papel dos
Parques Tecnológicos nesta área, e criando uma forma de definir ações que possam
contribuir para as diferentes dimensões da Sustentabilidade.
A relação entre inovação e sustentabilidade tem uma crescente participação na
agenda corporativa no que tange a dimensão econômica. Mas existe uma forte lacuna
que pode ser ampliada nas outras dimensões já apontadas aqui. Para este motivo a
proposta usa o Parque Tecnológico como um importante vetor para a construção da
Sustentabilidade. O desenvolvimento e a difusão de inovações tecnológicas precisam
fortemente de ações de governança, capazes de contribuírem socialmente e de forma
sustentável com os ambientes onde estão inseridos (HILMAN et al., 2011).
Assim o Parque pode contribuir para a criação de “empreendedores
sustentáveis”, indivíduos identificados com as necessidades envolvidas nas diferentes
dimensões da Sustentabilidade (BOSZCZOWSKI e TEIXEIRA, 2009). É possível obter
taxas superiores de inovação quando uma estratégia combinada com uma inserção
tecnológica está presente na organização, desde que esta a reconheça como um fator
crítico para o crescimento sustentável (BERMAN e HAGAN, 2006).
O presente trabalho objetiva mostrar que é importante ir além dos Registros, dos
Depósitos de Patentes, ou seja, da preocupação exagerada com a Propriedade Intelectual
e com os resultados financeiros advindo destes produtos. A sustentabilidade, olhada
nesta perspectiva, normalmente está associada a uma dimensão ou visão apenas
financeira, e pouco portadora de futuro. É necessário incentivar a capacidade das novas
gerações para atuarem fortemente na economia criativa, reconhecendo nela a
portabilidade para ações sustentáveis, (FLORIDA, 2005).
II.
PARQUES TECNOLÓGICOS E O PAPEL DA UNIVERSIDADE
A implantação física dos Parques não pode ser vista como principal ação dos atores. A
complexidade exige um esforço muito grande entre todas as partes envolvidas. Caso o
Governo não esteja em sintonia o Parque, não serão atingidos os objetivos. A criação
de um Parque Tecnológico depende de várias questões referentes às Políticas Públicas
adotadas pelo país. Quando é adotado um modelo linear de inovação, o país assume o
risco de afastar-se da proposta mais ampla de um Parque. Num estudo feito no
Cazaquistão sobre a atuação dos Parques é reforçada a necessidade de uma gestão
planejada e profissional, pois, quando a visão está mais baseada no modelo linear de
inovação, a inserção e parcerias com as empresas passa a ser menor, abrindo espaço na
parte final do processo, de forma a impossibilitar o atendimento dos objetivos principais
de um Parque. Devido a estes e outros fatores, estes locais atuam em alguns momentos
quase como incubadoras, (RADOSEVIC e MYRZAKHMET, 2009).
Os Parques Tecnológicos são habitats da inovação, ressaltam a importância da
gestão, são ambientes empresariais que buscam catalisar a criatividade e a inovação,
desenvolvendo toda a região (BELLAVISTA e SANZ, 2009).
A universidade enfrenta três principais crises: a de hegemonia, a de legitimidade
e a institucional. Estas crises obrigam a construção de um significativo esforço de
mudança dos principais atores para tentar buscar uma melhor forma de definir o seu
papel na sociedade, (SANTOS, 2005).
O ensino pode ser visto como uma prática social por concretizar a interação
entre professores e alunos, refletindo os contextos sociais aos quais pertencem
(SACRISTÁN, 1995). Desta forma, o modelo de Parque Tecnológico abre espaço para
repensar as práticas de ensino, tornando-se um terreno de exercício profissional do
docente, onde o professor precisa afirmar constantemente seu papel, sendo constante a
necessidade de construir e paralelamente e repensar a própria identidade. Este é um
processo promissor para os docentes, possibilitando um repensar como profissionais
(ARROYO, 2011).
O conhecimento nestes ambientes representam uma ordem sócio-científica onde
uma visão centrada no conhecimento passa a contribuir diretamente para a
sustentabilidade das ações realizadas, permitindo uma visão de mundo centrada no
conhecimento (CHOUDHURY e KORVIN, 2001).
A universidade necessita criar espaços de fortalecimento do ambiente local para
que verdadeiramente os benefícios do apoio aos ambientes de inovação possam refletir
na permanência dos casos de sucesso, seja do pesquisador ou da empresa, criando as
condições para que os mesmos consigam manter as suas operações na região, que o
crescimento não seja a motivação para ocupar outro espaço, permitindo que o local
possa verdadeiramente se apropriar dos benefícios (FLORIDA, 2005).
III.
ESTRATEGIGRAMA
A ferramenta Estrategigrama foi desenvolvida por Luiz Sanz, diretor do IASP.
Encontra-se disponível no site da associação, utiliza acesso Web e usa a tecnologia
Flash. Ela pode ter diferentes usos, permitindo várias ações estratégicas, desde a
concepção, etapa de instalação e outros níveis de maturação. A sua utilização torna
possível efetuar comparações de um parque com centenas de outros que adotem o uso
da metodologia e do software, (MAZZAROLO, 2010) e (VIKSTRÖM, 2006).
Estrategigrama é uma metodologia que permite compreender e comparar as
estratégias adotadas em Parques Tecnológicos, possibilitando repensar o planejamento e
valorizar a possibilidade de ações de correção (MAZZAROLO, 2010). A ferramenta
contém sete eixos fundamentais na avaliação de Parques Tecnológicos:
- Localização (urbana x não-urbana);
- Uso da tecnologia (criadora ou utilizadora de tecnologia);
- Fomentar empresas ou desenvolver empresas existentes;
- Foco num ramo empresarial ou diversidade;
- Escolher empresas locais ou atrair empresas de outras regiões/países;
- Como avaliar a utilização do trabalho em rede e networking nos parques;
- Como escolher o melhor modelo de gestão e governança desses centros
tecnológicos.
O posicionamento nos eixos é obtido através de um índice que varia entre 10 e 10, conforme figura 2, onde cada item é determinado por esses indicadores, mediante
respostas obtidas no questionário da metodologia disponível a partir da ferramenta. Isso
permite aos parques tecnológicos construírem estratégias e planejarem mudanças a
médio e longo prazo, até mesmo reposicionando fortemente as suas maneiras de atuação
(MAZZAROLO, 2010) e (VIKSTRÖM, 2006). Conforme pode ser observado na figura
2, diferentes Parques com diferentes estratégias de atuação podem ser comparados e as
suas concepções estratégicas sobre a forma de agir nestes ambientes de inovação podem
ser visualizadas. O diferencial dessa ferramenta, para outras utilizadas habitualmente na
gestão, é que ela permite compreender desde a concepção, a estrutura de instalação,
inclusive os níveis de maturação do Parque Tecnológico.
Figura 2 - Localização e entorno dos Parques Internacionais
Fonte: Ribeiro et. al (2012)
Eixo da Sustentabilidade
A proposta de um novo eixo focado na sustentabilidade busca complementar as ações já
desenvolvidas e muitas vezes representadas mas que, por forte caráter de
intangibilidade, a sua visualização torna-se mais complexa. Desta forma, as premissas
para a criação desse eixo serão destacadas abaixo, evidenciando a necessidade da sua
existência na Ferramenta.
A ONU preconiza a visão de três dimensões como mencionado anteriormente:
Dimensão Social; Dimensão Econômica e Dimensão Ecológica. A visão acima pode ser
ampliada pelo Quadro 1.
Quadro 1 - Exemplos de variáveis específicas para rastrear a sustentabilidade
Cultural
Ambiental
Econômica
Social
Categoria
Descrição
Ações que podem afetar todos os
membros da sociedade; a categoria inclui
pobreza, violência, injustiça, educação,
saúde pública, direitos trabalhistas e
humanos
Variável específica a ser rastreada




Acidentes por hora de trabalho
Grau de segurança do produto
Práticas contra a corrupção
Desempenho transparente na rotulagem,
determinado por agências externas de classificação






Crescimento do faturamento
Percentagem de lucro
Faturamento por empregado
Reservas para despesas futuras
Satisfação do cliente
Gasto de material usado (em peso ou volume) por
dólar de faturamento
 Percentagem de insumos reciclados
 Gasto de energia por unidade de faturamento
 Percentagem da oferta de produtos ou serviços
adaptados ao local
 Energia poupada por medidas de conservação e
eficiência
 Gasto total de água
 Percentagem e volume total de água tratada e
reutilizada
 Emissão total direta e indireta de gases de efeito estufa
Ações que afetam a ecologia; a categoria
por peso
inclui mudança climática, preservação de
 Efeitos negativos sobre a biodiversidade
recursos naturais, pegada de carbono e
conservação
 Custos anuais de transportes
 Visitas a fornecedores
 Horas de treinamento e desenvolvimento por
empregado por ano
 Percentagem de produtos adquiridos dentro de um
raio de 800km a partir das instalações
 Retenção de funcionários
 Percentagem de funcionários cobertos por excelentes
Ações por meio das quais as comunidades
planos de saúde
manifestam sua identidade e preservam e

Diversidade
cultural da força de trabalho
cultivam suas tradições e costumes de
geração em geração
 Tradições claramente culturais
Fonte: WERBACH (p. 106, 2010)
Ações que afetam o modo como os seres
humanos satisfazem suas necessidades
básicas; a categoria inclui oportunidade
de emprego, acesso à saúde e moradia
segura
O quadro 1, permite ampliar a importância dos indicadores, como forma de
monitorar ações estratégicas para a gestão. Mesmo sendo reconhecida e utilizada
mundialmente esta visão, ela já sofreu diferentes críticas que proporcionaram melhorias
e ampliaram a forma de ver a Sustentabilidade. Por exemplo, autores como Enrique Leff
e Ignacy Sachs, adotados para embasar a proposta aqui desenvolvida, apresentam outras
perspectivas.
Para Ignacy Sachs a Sustentabilidade tem 8 dimensões:
1. Social: Preocupada com a homogeneidade social e a qualidade de vida;
2. Cultural: Global mas local, agir sem esquecer as tradições locais em detrimento
da necessidade da inovação;
3. Ecológica: Preservar os recursos não renováveis e ampliar a produção de
recursos renováveis;
4. Ambiental: Manter e melhorar os ecossistemas naturais;
5. Territorial: Melhoria do ambiente urbano, reduzindo disparidades inter-regionais
e protegendo áreas ecologicamente frágeis;
6. Econômica: Desenvolvimento Econômico Sustentável com níveis racionais de
autonomia para a pesquisa e científica e tecnológica;
7. Política (Nacional): Capacidade para gerenciar um projeto nacional com
empreendedores com coesão social;
8. Política (Internacional): Inserção e condução de ações objetivando evitar guerras
e garantir a paz e a cooperação Internacional.
Para Enrique Leff as dimensões são:
1. Dimensão econômica - Propõe uma mudança, baseada na produtividade
ecotecnológica sustentável para cada região, de caráter endógeno, rompendo
com a forma de atuação econômica atual;
2. Dimensão social - Busca atender a qualidade de vida, através de novas
estratégicas capazes de incrementar a produção que atenda às necessidades
básicas da população;
3. Dimensão ambiental - Consiste em estratégias sustentáveis para recuperar e
conservar áreas importantes em ecossistemas a partir da premissa de escolher as
melhores formas de uso e apropriação da biodiversidade;
4. Dimensão institucional - Capacidade de instrumentalizar a desconcentração
econômica, prioritariamente através da distribuição das atividades produtivas,
buscando como pilar o desenvolvimento rural de forma integrada, sob uma
ordem ecológica de utilização do espaço urbano e rural;
5. Dimensão cultural - Substituição dos direitos humanos tradicionais pelos direitos
culturais e éticos, de forma a ultrapassar os direitos jurídicos de igualdade entre
os homens, fortalecendo a cooperação, a participação, a divisão familiar e social.
Já o presente trabalho pretende evitar possíveis falhas para empreendimentos inovadores
conforme mostrado no Quadro 2.
Quadro 2 - Principais falhas de mercado relacionadas com a proteção do ambiente
Falhas
Exemplo
Número de agentes
económicos insuficientes para
garantir um mecanismo
concorrencial
Efeitos externos
Distribuição de rendimentos e de
riqueza de forma não equitativa
Ação
Concorrência imperfeita nos
mercados ambientais
Política de concorrência.
Sobre exploração dos
recursos naturais
Internalização dos custos
sociais.
Políticas sociais.
Dimensão social do
desenvolvimento sustentável
Risco moral e seleção adversa,
condições de incerteza
Informação assimétrica
Seguros
Velocidade de ajustamento
demasiado lenta
Evolução do preço do petróleo
Tributação.
Incentivo ao investimento
socialmente sub ótimo (mercados
míopes?)
Investimentos «verdes»
Política tecnológica.
Mercados ausentes
Biodiversidade, fauna, flora,
etc.
Criação de novos mercados.
Fonte: Bürgenmeier (p. 79, 2005)
Líderes Sustentáveis:
O papel dos gestores como Líderes Sustentáveis é cada vez mais importante. Nesta
perspectiva a visão das suas atribuições deve ser repensada. Entre as possíveis
atribuições para um Líder Sustentável, seguem abaixo uma lista com as vinte mais
importantes, construída a partir do Pacto Global da ONU (VOLTOLINI, 2011, p.6869):
1. Comandar a elaboração de uma estratégia consistente de sustentabilidade para a
empresa, buscando a cooperação entre as diferentes áreas e as questões/causas
mais relevantes para o negócio e o seu setor de atuação; fazer com que o
conceito permeie a cultura organizacional, transformando-o em um valor
corporativo relevante para a definição da identidade da companhia;
2. Garantir uma coordenação entre as diversas funções corporativas da empresa
com o objetivo de maximizar o desempenho em sustentabilidade;
3. Com base em uma análise permanente de cenários, avaliar riscos e
oportunidades relacionados com questões de sustentabilidade para a empresa e o
setor;
4. Assegurar que a empresa identifique, de forma clara, todos os impactos
socioambientais negativos causados por suas operações; cuidar para minimizálos ou eliminá-los;
5. Definir políticas específicas e cenários para o futuro, estabelecendo metas
mensuráveis de curto, médio e longo prazos;
6. Envolver e educar funcionários e colaboradores, adotando programas de
treinamento e desenvolvimento, e também sistemas sólidos de incentivo;
7. Realizar monitoramento e mensuração de desempenho baseados em métricas
específicas para, por exemplo, gestão de água, energia, emissões de gases de
efeito estufa, poluição, efluentes e biodiversidade;
8. Responsabilizar, pela execução da estratégia, áreas corporativas essenciais,
como compras, marketing, recursos humanos, jurídico e relações institucionais,
assegurando que nenhuma delas atue em conflito com os compromissos e
objetivos de sustentabilidade da empresa;
9. Alinhar estratégias, metas e estruturas de incentivo de todas as unidades
operacionais com os objetivos e compromissos de sustentabilidade da empresa;
10. Analisar cada elo da cadeia de valor, mapeando impactos, riscos e
oportunidades;
11. Envolver fornecedores na estratégia de sustentabilidade; sensibilizar, treinar e
capacitar parceiros de negócio; monitorar o quanto estão alinhados com os
compromissos e práticas da empresa;
12. Rever processos e modos de produzir; desenvolver produtos e serviços ou
conceber modelos de negócio que contribuam para promover a sustentabilidade;
13. Realizar investimento social alinhado com as competências da empresa e o
contexto operacional de seu negócio, enquadrando-o em sua estratégia de
sustentabilidade; atuar sempre em sintonia com as políticas públicas
correlacionadas para garantir maior eficácia nos resultados;
14. Integrar campanhas e iniciativas públicas, assumindo, em suas comunicações
(palestras, aulas magnas, artigos), compromissos com as questões mais
relevantes de sustentabilidade;
15. Coordenar esforços com outras organizações - de primeiro, segundo e terceiro
setor - a fim de potencializar investimentos e não anular outras iniciativas de
desenvolvimento sustentável;
16. Cooperar com organizações do mesmo, setor e com outras partes interessadas
em iniciativas que ajudem a encontrar respostas para desafios comuns, local ou
globalmente, com ênfase naquelas que venham a ampliar o impacto positivo
sobre a cadeia de valor;
17. Fazer o papel de mentor para empresas do mesmo setor ou de outro setor que
ainda se encontrem em estágio inicial de implantação de práticas sustentáveis;
na condição de referência em liderança em sustentabilidade, facilitar o acesso a
informações por parte daqueles que desejam conhecer a política da empresa;
18. Comunicar, de forma ampla, os resultados e a evolução de suas práticas de
sustentabilidade, visando prestar contas às partes interessadas e à sociedade, e
também estimular o comportamento sustentável de outras empresas;
19. Envolver e educar os stakeholders para que conheçam as políticas da empresa e
participem, a seu modo; de sua consecução no dia a dia;
20. Capitanear o processo de mudança, inserir as dimensões social e ambiental na
noção de sucesso empresarial, superar a inércia e o apego aos modelos
consagrados, estabelecendo uma visão e uma missão de sustentabilidade.
Metodologia
Inicialmente construiu-se um referencial teórico; após, foram apresentados alguns
posicionamentos sobre as dimensões da Sustentabilidade a dois gestores; então, foramlhes solicitadas perguntas que pudessem posicionar a atuação do parque, no que foi
denominado neste trabalho de oitavo eixo da ferramenta Estrategigrama. Os resultados
estão apresentados a seguir.
Resultados:
Para reformular a ferramenta Estrategigrama, no que diz respeito as dimensões citadas
acima, são necessários construir perguntas capazes de compreender a ação do Parque
nessas perspectivas. Para tal, são apresentadas a seguir algumas possíveis perguntas, ou
direcionamentos, que devem estar presentes no instrumento, para criar o 8º eixo focado
na Sustentabilidade, como resultado do trabalho realizado com os gestores de empresas
citados, que atuam sob o olhar da sustentabilidade.
Dimensão Social:
Qual a realidade da distribuição de renda na região?
Existe pleno emprego na Região?
Qual a qualidade de vida na Região onde o Parque atua?
Os principais recursos e serviços sociais são ofertados na Região?
Dimensão Cultural
Existe incentivo para ações da economia criativa e o respeito a tradição local?
O Parque incentiva ações de inovações com tecnologias locais para problemas locais?
Existe um plano de ações sociais para o local onde o Parque está inserido?
Dimensão Ecológica
Existe alguma exigência de preservação do potencial dos recursos não renováveis nas
ações das empresas residentes?
O Parque incentiva a construção de propostas de inovação para recursos renováveis?
Dimensão Ambiental
O Parque exige contrapartida de preservação de ambientes possivelmente degradados
nos projetos de inovação desenvolvidos no ambiente?
Existe captação de recursos para manter ou melhorar os ecossistemas naturais
presentes?
Dimensão Territorial
Existe uma política de incentivo para a melhoria do ambiente urbano?
O Parque possui um plano para minimizar as disparidades inter-regionais?
Existe a adoção de práticas e ações para áreas consideradas ecologicamente frágeis?
Dimensão Econômica
Existe autonomia na pesquisa científica e tecnológica?
Qual a preocupação com a modernização dos instrumentos de produção?
Dimensão Política (Nacional)
Existe um plano de integração dos empreendedores instalados com ações sociais com
outros Parques?
Existe participação do Parque na construção e fóruns sobre Políticas Públicas no nível
Regional e Nacional?
Existe representatividade dos Gestores do Parque nas associações que representam o
Parque?
Dimensão Política (Internacional)
Qual o nível de cooperação do Parque com empreendedores e Parques de outros países?
Como são comercializadas as tecnologias sociais desenvolvidas no ambiente do Parque?
Qual o nível de inserção do Parque no cenário internacional globalizado?
Existe participação em organismos internacionais da área?
Considerações finais
Essas perguntas foram apresentadas aos gestores de empresas que possuem experiência
nesta área de atuação, e estão preocupados com as questões da sustentabilidade. O
resultado da investigação, portanto, não é conclusivo.
Respeitando o caráter qualitativo da pesquisa, ele é apenas parte de um processo de
reflexão sobre o papel da gestão nas empresas modernas, abrindo espaço para ampliar a
sua visão nos ambientes de inovação, principalmente nos Parques Científicos e
Tecnológicos.
A relação entre inovação e sustentabilidade tem uma crescente participação na agenda
corporativa no que tange a dimensão econômica, mas existe uma forte lacuna que pode
ser ampliada nas outras dimensões já apontadas aqui. Para este motivo a proposta usa o
Parque Tecnológico como um importante vetor para a construção da Sustentabilidade.
A existência de um oitavo eixo contribui diretamente para uma condução mais
estratégica das ações dos diferentes atores. Não só dos gestores do Parque, mas também
das empresas nele instaladas. Para as empresas residentes é fundamental perceber estes
objetivos desde o início da atuação no Parque. Só assim será possível os seus
alinhamentos, desde as primeiras etapas, permitindo que os projetos e pesquisas
desenvolvidos possam facilmente buscar na sustentabilidade uma forma constante de
pensar o futuro da empresa e da região na qual estão inseridos. É importante que elas
repensem os seus papeis como produtores, mas também como agressores ou
destruidores de áreas e recursos não renováveis, provocando a ampliação da degradação
atual com que as empresas convivem atualmente.
Desta forma, o Parque passa a ocupar um papel não mais meramente de Gestor de
Processo de Ciência & Tecnologia, e passa a conduzir ações decisivas no fomento de
Políticas Públicas que visem a Sustentabilidade em diferentes níveis, sendo um
elemento comprometido com o Planejamento Estratégico da Região e do País.
Não é preconizado aqui uma simples pressão sobre o governo, e sim apresentados
mecanismos que possam apontar para uma participação ativa e representativa de
agências de fomento, grupos de debate em diferentes Ministérios Nacionais, integração
em conselhos, comissões e comitês ligados à área de atuação do Parque.
Outro ponto importante é a dificuldade das Universidades Brasileiras em hoje
receberem investimentos. Uma boa integração com as empresas via Parque pode
garantir recursos financeiros mediante a projetos e participação de alunos e
pesquisadores. Porém, a falta de visão estratégica e sustentável pode comprometer o
sucesso desses tipos de empreendimentos, se permitir que e projetos possam degradar
de alguma forma o ambiente, de forma e não se tornarem sustentáveis no futuro.
Torna-se necessário estar presente em todos os atores econômicos envolvidos a
compreensão dos benefícios decorrentes do progresso de toda a humanidade, acima ou
no mesmo nível dos problemas locais. Logo, deve existir constante preocupação com os
conceitos de sustentabilidade, mantendo-a no centro das atenções, de modo a ampliar
verdadeiramente o capital humano e social.
Limitações do estudo
A metodologia foi apoiada nos autores Ignacy Sachs e Enrique Leff. Seria interessante
ampliá-la com a visão de outros autores, mesmo tendo sido considerada a relevância
desses dois. Sempre existem lacunas que podem ou foram exploradas por outros
trabalhos, interligando a ferramenta a moderna visão de novos conceitos. Desta forma, a
continuidade nessa dimensão é fundamental para ampliar a qualidade da proposta
apresentada. Outro ponto a ser mencionado é a necessidade da aplicação do
instrumento, e a definição das variáveis que envolvem o estudo, em ambientes que já
adotam, de forma madura, ações ligadas a sustentabilidade, tanto na sua forma de gestão
como de construção de ações estratégicas.
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