Dissertações
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DISSERTAÇÕES
A Cidade Azul
TÍTULO DA DISSERTAÇÃO:
- Uma visão ecológica em
V i e i r a d a S i l v a - u m c o n t r i b u t o para a p a r t i c i p a ç ã o D e m o c r á t i c a
A U T O R A : M a r i a Teresa N o b r e Q u i r i n o da Fonseca
M E S T R A D O : F i l o s o f i a da N a t u r e z a e d o A m b i e n t e , F a c u l d a d e de Letras
da U n i v e r s i d a d e de L i s b o a , 2 0 0 5 .
O R I E N T A D O R A : Prof. Doutora M a r i a L u í s a R i b e i r o Ferreira
A Cidade Azul
f o i o e s p a ç o u t ó p i c o e n c o n t r a d o para centrar a r e f l e -
x ã o sobre as c o n d i ç õ e s e m q u e a h u m a n i d a d e p o d e r á estabelecer u m sistema de novas r e l a ç õ e s . Esta abertura para a crise a m b i e n t a l , centrada
n u m a c o n s t e l a ç ã o d e v a l o r e s q u e s ã o o seu s u s t e n t á c u l o , c o r r e s p o n d e n d o ,
p o r sua vez, a u m a a t i t u d e renovada, assente na garantia de p a r t i c i p a ç ã o
ética e democrática.
É a p i n t o r a H e l e n a V i e i r a d a S i l v a q u e m nos i n t r o d u z na
Cidade
Azul, c o m o u r b a n i s t a , mas t a m b é m p r i n c i p a l habitante. T o r n o u - s e essenc i a l , para p e r c e b e r m o s a a m p l i t u d e das v i v ê n c i a s , apreender na obra de
V i e i r a d a S i l v a as q u e s t õ e s q u e a e s t r u t u r a m e l h e c o n f e r e m u m sentido
h o l í s t i c o e processual. Este d a d o f o i d e t e r m i n a n t e para c o n f i g u r a r m o s a
sua v i s ã o alargada, fazendo-a corresponder a u m a v i s ã o e c o l ó g i c a . Esta
v i s ã o a q u e V i e i r a d a S i l v a fez corresponder a sua c o n s t r u ç ã o , c o m g é n e se na v o n t a d e , u m a f o r ç a d e t e r m i n a d a entre ser e d e v i r , q u e d e c o r r e u de
u m h a b i t a r d i s t i n t o : v i v i d o n o f e m i n i n o . V i e i r a c o n f i g u r o u esta cidade,
fundamentalmente
poética,
n u m l u g a r de v i v ê n c i a s
fundadas
na sua
m e m ó r i a , de e x p r e s s ã o c o l e c t i v a , q u e a m p l i o u n u m a p r o j e c ç ã o espacial,
de sentido c ó s m i c o e c é n i c o . Este topos f o i , depois de projectado, revelado
e i d e n t i f i c a d o c o m o u n i v e r s a l , oferecido n o seu Testamento, u m poema
passado c o m o testemunho. A
aceitação
c o l e c t i v a deste
Testamento c o n -
duz-nos a u m a atitude p a r t i c i p a t i v a renovada, q u e antecipou o s u r g i m e n t o
d o c o n c e i t o d e sustentabilidade, e nos remete para a partilha d o mundo,
baseada n a c o n s t r u ç ã o d e m o c r á t i c a e n u m a v i s ã o p o s i t i v a d o futuro.
V i e i r a da S i l v a a b r i u - n o s u m a porta para u m a c i d a d e , i l u s o r i a m e n t e
m o n o c r o m á t i c a , e m a z u l , q u e pelas suas qualidades estruturantes, d e i x a
passar o c o l o r i d o da v i d a . A s s i m , pela m ã o da p i n t o r a p e r c o r r e m o s alguns
dos sentidos c o n s t r u t i v o s e estruturais decorrentes da p i n t u r a , d a a r q u i t e c t u r a , d a e d u c a ç ã o e da f i l o s o f i a d o a m b i e n t e e da natureza. E n t r a r neste
e s p a ç o u t ó p i c o f o i r e v e l a d o r e d e s m u l t i p l i c a d o r de valores f u n d a m e n t a i s
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para uma sobrevivência da humanidade, mas também de aprofundamento
de aprendizagens com sentido numa prática pedagógica.
No presente estudo procurámos responder e justificar esta construção
em termos estruturais e semânticos. Ao longo das sucessivas abordagens,
que decorrem, quanto a nós, desse modo de habitar feminino - e que avalizam uma progressão - , surgem os quatro capítulos interligados por quatro
termos chave: I - Aceitar; II - Conhecer; III - Construir; IV - Partilhar.
No primeiro capítulo, procurámos encontrar, através do documento
- poema - , que é o Testamento, legado por Vieira aos Amigos, os traços
principais que definem a sua maneira de ser e de estar no mundo. Estabelece nele um encontro com a metafísica e a ontologia, deixando transparecer o sentido místico da artista. Constitui, assim, o primeiro passo para
entender como Vieira vê os outros - neste caso, os amigos de um círculo
próximo, que lhe proporcionam esta oportunidade de abertura. O poema
reflecte a construção de um arquétipo, invisível, que é simultaneamente
viagem e passagem, uma síntese da sua vida, E na sua imaginação dinâmica, que tudo radica, então, espaço e tempo confluem no mesmo movimento. A grande forma, quanto a nós, está presente nessa chave, simples,
que se constitui no aceitar. Esta é a presença que se revela na alteridade e
constitui uma projecção do feminino.
No segundo capítulo, vamos conhecer a construção da cidade azul,
confrontando o modo do 'fazer' de Vieira, com a utopia e o sentido poético. Aqui, pretendemos analisar, também, o papel desempenhado pela
memória, um tempo, que em Vieira, está sempre no presente.
No terceiro capítulo, abrimos o território à construção, com o intuito
de penetrar no habitar feminino de Vieira da Silva. Este, funciona como
um entendimento abrangente da sua vida, apresentando a dinâmica do seu
projecto, que revela não só a importância da sua visão, como o que ele
pode representar, num contributo democrático. Ao longo de oito sub-capítulos apresentámos, sucessivamente:
- a cidade-biblioteca, como a configuração de uma cenografia cósmica, que permite o acesso ao conhecimento, confirmando a 'consciência de mundo', traçada entre o sensível e o inteligível;
- a cidade do conhecimento, a cidade-biblioteca que permitirá através do entrecruzamento da ética, da educação, da estética e da
emoção, construir uma aprendizagem que assegura uma sobrevivência humana;
- o papel do amor configurado, por sua vez, como suporte da obra,
fruto de uma dualidade amorosa entre Vieira e Arpad, confluindo
sempre para a circularidade primordial da criação;
- a aproximação ao percurso espiralado, que nos conduz a um sentido de liberdade, onde o homem se toma na personagem que se
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dilui na obra, coincidindo com uma 'estética da liberdade', símbolo do poder da humanidade para sobreviver, configurado num
sentido de antecipação;
o entendimento da participação do homem numa harmonia com a
natureza;
a compreensão de escalas distintas;
a construção de uma espécie de guião de uma estética universal;
o tabuleiro de xadrez, funcionando como um território mundo, cenário onde nos situamos, neste início de milénio, como num confronto onde as regras se perderam;
o espaço do jogo em que o sujeito se encontra com o outro, entre a
objectividade e a subjectividade de julgamentos;
a pluralidade de culturas - onde fica por encontrar o movimento
certo para as peças - com coerência orgânica, para obter uma coesão universal;
o habitar em xadrez - que implica visualizar a totalidade do campo, que está limitado e é dominado por regras;
o encontrar os espaços de liberdade que permitam o equilíbrio da
ordem possível na unidade e na diferença;
a cidade que se constitui, no século XXI, como um espaço refúgio,
que se alarga ao mundo e que para Vieira da Silva se tornará num
espaço de acolhimento da humanidade como uma antecipação;
a rede de cidades enquadra a continuidade do projecto cosmopolita
da 'paz perpétua' onde os valores validam a imagem;
a porta, fronteira móvel, sempre presente na obra e que só no fim
da vida se abrirá. É a descoberta de uma investigação que efectuou
em vida. 'A cidade azul' reveíar-se-á como um suporte durante a
sua vida, uma projecção sustentada, um modelo que há que cuidar.
No quarto capítulo abre-se a revelação de uma visão global em que
Vieira se tomou hábil, uma partilha, que nos serve para reflectir sobre os
modos de sobreviver, definindo, para cada um de nós, o percurso: como
caminho de resistência ao consumismo - de autolimitação, como espaço
de vivência participativa democrática, como antecipação de quadros futuros (ambientais) para, por fim, nos regozijarmos em ser habitantes da Terra.
Desta forma, fixámos alguns dos aspectos, presentes na obra de
Vieira da Silva, que consolidam a exigência de um novo habitar; o que
pretendemos mostrar é, de certa forma, como as atitudes e valores a adoptar, são susceptíveis de transformar as nossas cidades em cidade azul:
espaços de acolhimento sem fronteiras, onde, face à globalização, se adivinham novas condições de existência e de defesa dos direitos humanos,
de uma cultura de paz e de um desenvolvimento sustentado. Contudo, a
apreensão deste espaço passa pelas experiências da infância e pela educa-
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edificação - p a r t i n d o da c o n s o l i d a ç ã o de
padrões-chave, f o r m a d o s e m contextos adequados e f u l c r a i s para u m
d e s e m p e n h o f u t u r o . É , c o n t u d o , n o agir - entre a tensão utópica e a reaç ã o , c o m o p r i n c í p i o s de u m a
l i d a d e - que se e n c o n t r a ancorada a f o r ç a da m u d a n ç a .
T e n t á m o s registar, ao l o n g o deste ' p r o j e c t o ' de V i e i r a da S i l v a , o
c o n t r i b u t o para u m a n o v a d e m o c r a c i a , coesa, a r t i c u l a d a ,
responsável,
participativa, c o m o uma força
que, sob a
esclarecida,
invisibilidade,
a g l u t i n e as m ú l t i p l a s sensibilidades, de f o r m a ' a m o r o s a ' , c r í t i c a e c r i a t i va, c o m v i s t a à s o b r e v i v ê n c i a p l a n e t á r i a .
T Í T U L O D A D I S S E R T A Ç Ã O : O Pensamento E c o l ó g i c o de A l b e r t o C a e i r o
AUTOR: Carlos Café
M E S T R A D O : F i l o s o f i a da N a t u r e z a e d o A m b i e n t e , F a c u l d a d e de L e t r a s
da U n i v e r s i d a d e de L i s b o a , 2 0 0 6
O R I E N T A D O R : Professor D o u t o r V i r i a t o S o r o m e n h o - M a r q u e s
Resumo
Pretende-se responder à s seguintes perguntas: existe u m pensamento
e c o l ó g i c o na poesia de A l b e r t o Caeiro? Se s i m , quais s ã o as suas caracter í s t i c a s p r i n c i p a i s ? A resposta à p r i m e i r a pergunta é: n ã o obstante a a v e r s ã o
d o poeta à s conjecturas f i l o s ó f i c a s ,
Caeiro. A
existe um pensamento ecológico em
segunda p e r g u n t a é respondida ao l o n g o de toda a d i s s e r t a ç ã o .
A d i s s e r t a ç ã o e s t á d i v i d i d a e m t r ê s partes. A P r i m e i r a Parte intitula¬
-se
«Um novo olhar sobre o poeta do olhar novo»,
e nela o autor faz u m a
busca pela obra d o poeta n o s e n t i d o de i d e n t i f i c a r e c l a r i f i c a r o seu p e n s a m e n t o e c o l ó g i c o . Os t r a ç o s mais i m p o r t a n t e s desse pensamento p o d e m
ser s i n t e t i z a d o s nos conceitos/teses que se seguem:
1. C o n c e p ç ã o da N a t u r e z a : a N a t u r e z a é u m l u g a r c a r a c t e r i z a d o pela
paz e c o m u n h ã o c o m as coisas ( T o d a a paz da N a t u r e z a s e m gente / V e m
sentar-se a m e u l a d o . ) ; o H o m e m c o n t e m p o r â n e o n ã o s ó j á n ã o pertence
1
a esse m u n d o , c o m o é , i n c l u s i v e , u m f a c t o r de p e r t u r b a ç ã o da h a r m o n i a
da N a t u r e z a ( N a c i d a d e as grandes casas f e c h a m a v i s t a à chave, / E s c o n dem
1
o h o r i z o n t e , e m p u r r a m o nosso o l h a r para l o n g e de t o d o o c é u , /
Todas as citações da obra de Alberto Caeiro aparecem, ao longo deste resumo, entre ( )
num tamanho de letra ligeiramente inferior ao do texto. Por razões de espaço, prescindimos de identificar os poemas citados. A edição utilizada é: PESSOA, Fernando - Poemas Completos de Alberto Caeiro: Prefácio de Ricardo Reis, Posfãcio de Alvaro de
Campos. Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha; posfãcio de Luís de Sousa Rebelo. l. ed. Lisboa: Editorial Presença, 1994. 351 p. (Ler Pessoa).
a
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