JOÃO LUIS ABRANTES BERTOLI
UMA AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DE INOVAÇÃO NO BRASIL
EM PERSPECTIVA COMPARADA A PAÍSES EUROPEUS
FLORIANÓPOLIS-SC
2013
0
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO SOCIOECONÔMICO - CSE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
JOÃO LUIS ABRANTES BERTOLI
UMA AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DE INOVAÇÃO NO BRASIL
EM PERSPECTIVA COMPARADA A PAÍSES EUROPEUS.
Monografia submetida ao curso de Ciências
Econômicas da Universidade Federal de Santa
Catarina, como requisito obrigatório para a
obtenção do grau de Bacharelado.
Orientador: Prof. Dr. Pablo Felipe Bittencourt
FLORIANÓPOLIS – SC
2013
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS
A banca examinadora resolveu atribuir a nota 9,0 ao aluno João Luis Abrantes Bertoli
na disciplina CNM 5420– Monografia, pela apresentação deste trabalho.
Banca examinadora:
______________________________
Prof. Dr. Pablo Felipe Bittencourt
______________________________
Prof. Dr. Helberte João França Almeida
______________________________
MSc. Gabriel Passos de Figueiredo
FLORIANÓPOLIS – SC
17/07/2013
2
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos professores do departamento de Economia e Relações
Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina pela formação que me
proporcionaram.
Ao meu orientador Pablo Felipe Bittencourt, pelas horas que dedicou a mim
neste trabalho. E, principalmente, por ter me mostrado o melhor caminho para se
entender inovação.
A todos os meus amigos que tive a oportunidade de conhecer em Florianópolis,
e em especial aos meus colegas de curso que me ajudaram a fazer da minha experiência
universitária única.
Também agradeço aos meus amigos de Joinville e Rio Grande, que sem dúvida
contribuíram para minha formação como pessoa.
À minha namorada Mariana Morais pelos momentos felizes e alegres que
dividimos. Também pelo apoio e os conselhos, e, em especial, por ser uma companheira
de verdade.
À minha irmã, que apesar dos desentendimentos, é uma grande parceira. A todos
os meus familiares que me apoiaram e me orientaram nas minhas decisões. Em especial
a minha mãe e ao meu pai, Ana Carla Bertoli e José Augusto Bertoli, por todo apoio que
me deram. Não esquecendo também os meus avós que para mim são o maior exemplo
de vida que eu tenho.
3
RESUMO
BERTOLI, João Luis Abrantes. Uma avaliação do Sistema Nacional de Inovação
Brasileiro. Monografia – Curso de Ciências Econômicas, Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 2013.
O presente trabalho tem como objetivo avaliar as características gerais do Sistema
Nacional de inovação brasileiro procurando identificar, a partir de indicadores de
Inovação, os gargalos e limitantes que afetam o desenvolvimento de inovações de maior
impacto. Para isto se traz ao contexto do trabalho as abordagens teóricas
neoschumpeterianas das Revoluções Tecnológicas (RT) e dos Sistemas Nacionais de
Inovação (SNI). Os dados mostram uma evolução nos principais indicadores de
inovação no Brasil, porém ao comparar aos dados da Europa a avaliação é que grande
parte das inovações brasileiras possuem baixo impacto e pouca diferenciação de
mercado. Isto caracteriza os processos inovativos no Brasil como sendo passivos, os
motivos estão ligados às relações dos atores que compõe o SNIB, restringindo a criação
de um quadro que favoreça o aprendizado criativo.
Palavras-chaves: Inovação-Brasil; Inovação-Limitantes; Sistema Nacional de Inovação
Brasileiro; Aprendizado criativo.
4
ABSTRACT
This study aims to evaluate the general characteristics of the Brazilian National System
of Innovation (BNSI) seeking to identify, based on indicators of innovation, the limiting
bottlenecks that affect the development of innovations with greater impact. In order to
do this the study brings up to the context the theoretical work of the neoschumpeterians
of Revolutions Technology (RT) and the National Systems of Innovation (NSI). The
data show an evolution on the main indicators of innovation in Brazil, but when
comparing with the data of Europe the assessment is that most Brazilian innovations
have low impact and little market differentiation. This characterized the innovative
processes in Brazil with liabilities, the reasons for this are connected with the relations
of the actors who make up the BNSI, restricting the creation of a framework that
encourages creative learning.
Keywords: Bottlenecks; Limiting; Brazilian National Innovation System; Creative
learning.
5
LISTA DE FIGURAS
Quadro 1: Tipos de SNI´s segundo Albuquerque. ........................................................ 31
6
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: As fases de uma revolução tecnológica. ........................................................ 17
Figura 2: A evolução de uma tecnologia: uma trajetória tecnológica. .......................... 18
Figura 3: Coevolução de um sistema tecnológico e seu entorno para os
eletrodomésticos. ............................................................................................................ 19
7
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Percentagem de empresas industriais que inovaram, total e por número de
empregados no Brasil e na Europa de 2006 a 2008 – Países Selecionados.................... 41
Tabela 2: Dispêndio de empresas industriais inovativas e sua proporção em relação ao
faturamento no Brasil e na Europa – Países Selecionados ............................................. 44
Tabela 3: Percentual de dispêndio em P&D interno sobre o faturamento das firmas por
intensidade tecnológica dos setores e o total da manufatura no Brasil e na Europa –
Países selecionados. ........................................................................................................ 46
Tabela 4: Pessoal ocupado em atividades internas de P&D nas firmas durante o período
de 2006 a 2008 para o Brasil e para a Europa – Países selecionados. ............................ 47
Tabela 5: Principal responsável no desenvolvimento de produto e processo nas
empresas que implementaram inovações no Brasil e na Europa - Países selecionados. 48
8
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Evolução da Taxa de Inovação Brasileira ( PINTEC I, II, II e IV). ............ 36
Gráfico 2: Percentual das empresas que implementaram inovações só de produto, só de
processo e de produto e processo ( PINTEC I, II, II e IV). ............................................ 37
Gráfico 3: Percentual de empresas que inovaram em todos os setores da economia, em
setores da indústria de alta tecnologia e média-alta tecnologia e da toda a manufatura do
Brasil e da Europa entre 2006 a 2008 - Países selecionados .......................................... 38
Gráfico 4: Percentual de empresas inovadoras com inovações só de produto, só de
processo e de produto e processo para o Brasil e para Europa entre os anos de 2006 a
2008 – Países Selecionados. ........................................................................................... 39
Gráfico 5: Percentagem de empresas que inovaram em produto para o mercado e para a
firma como percentual de empresas que inovaram em produto entre os anos de 2006 a
2008 – Países selecionados. ............................................................................................ 40
Gráfico 6: Gastos em P&D interno no Brasil sobre o faturamento das empresas
(PINTEC I, II, II e IV). ................................................................................................... 42
Gráfico 7: Gastos em atividades Inovativas no Brasil sobre o faturamento das empresas
( PINTEC I, II, II e IV). .................................................................................................. 43
Gráfico 8: distribuição percentual dos dispêndios em atividades inovativas das
indústrias com atividade inovadora no Brasil e na Europa – Países Selecionados. ....... 45
Gráfico 9: Percentual e número de empresas que receberam qualquer tipo de
financiamento público no Brasil e na Europa – Países selecionados. ............................ 49
9
SUMÁRIO
1.
1.1.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11
Problema .............................................................................................................. 11
1.2. Objetivos.................................................................................................................. 12
1.2.1. Objetivo Geral ..................................................................................................... 12
1.2.2. Objetivos específicos ............................................................................................ 13
1.3. Metodologia ............................................................................................................. 13
2. REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS E O PARADIGMA TECNOECONÔMICO ... 16
2.1. As janelas de oportunidade para o desenvolvimento............................................... 20
2.2. Sistemas Nacionais de Inovação.............................................................................. 23
2.2.1. O Conceito de Sistemas Nacionais de Inovação .................................................. 23
2.2.2. Notas sobre as instituições nos SNIs .................................................................... 27
2.3. O Sistema Nacional de Inovações Brasileiro: Aspectos teóricos e empíricos
recentes ........................................................................................................................... 30
3.
UMA ANALISE RECENTE DE INDICADORES DE INOVAÇÃO
BRASILEIROS EM PERSPECTIVA COMPARADA A PAÍSES EUROPEUS. ........ 35
3.1. Análise de indicadores da atividade de inovação no Brasil..................................... 35
3.2 Esforço em inovação ................................................................................................ 42
3.3 Principais Responsáveis pela Inovação e o papel do Financiamento Público .......... 47
3.4 Síntese....................................................................................................................... 50
4
CONCLUSÃO ........................................................................................................ 53
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 56
10
1. INTRODUÇÃO
1.1. Problema
No Brasil, as inovações caracterizam-se por possuírem baixo impacto, uma vez
que não apresentam um diferencial para a indústria que seja capaz de competir com
economias mais desenvolvidas. Desta forma, há gargalos e limitações dentro do nosso
Sistema Nacional de Inovação (SNI) que restringem o florescimento de inovações de
maior impacto. Consequentemente, estes fatores impedem o aproveitamento de
oportunidades para o desenvolvimento. Para tanto, em termos iniciais, o objetivo da
presente pesquisa é entender estes gargalos e limitações responsáveis pelo baixo
impacto das inovações brasileiras.
Os dados de inovação das empresas brasileiras (PINTEC) se destacam pelo
baixo desempenho no grau de novidade dos produtos, tendo em vista que é o grau de
novidade que identifica quão novo um produto é. Os produtos de uma empresa podem
ser classificados como novos de três maneiras: o produto pode ser novo apenas para
empresa, mas não para o mercado nacional; o produto pode ser novo para o mercado
nacional, mas não para o mundo e; o produto pode ser novo para o mundo.
O que se supõe é que quanto maior o grau de novidade - ou quanto mais novo o
produto for - melhor será para o país, uma vez que o maior grau de novidade de seus
produtos representa inovações que possuem um maior impacto na economia nacional.
Os dados indicam que a maior parte das inovações no Brasil apresenta um grau
de novidade bem baixo, ou seja, que a maioria das inovações em produtos é nova
apenas para as empresas. Podemos com isso supor que a indústria brasileira demonstra
pouco diferencial em seus produtos e apresenta pouca competitividade.
As limitações e os gargalos do Brasil são apontadas como os fatores
responsáveis por este fraco desempenho no grau de novidade dos produtos, o que
caracteriza nossas inovações como sendo inovações de baixo impacto.
Em termos específicos este trabalho tem como objetivo responder a seguinte
pergunta, utilizando a abordagem dos Sistemas Nacionais de Inovação e os dados da
Pesquisa de Inovação e Tecnologia (PINTEC): Quais são os fatores que impedem o
florescimento de inovações de maior impacto no Brasil?
11
Para responder a esta questão, além da introdução, o trabalho apresenta três
capítulos e uma conclusão, mostradas na sequência.
No capítulo 2 são apresentadas e discutidas questões sobre a teoria das
Revoluções Tecnológicas e o Paradigma tecnoeconômico. O objetivo é mostrar em que
período, no andar das Revoluções tecnológicas e do Paradigma tecnoeconômico,
acontece o surgimento de janelas de oportunidade para o desenvolvimento. È
apresentada também a abordagem dos SNI’s (Sistemas Nacionais de Inovação), sua
utilidade para as pesquisas de inovação, os elementos que compõem os Sistemas
Nacionais de Inovação e suas principais interações e é apresentado os principais
gargalos e limitantes recentes do Sistema Nacional de Inovação Brasileiro (SNIB) que
restringem o florescimento de inovações de maior impacto no Brasil.
O capítulo 3 é realizado uma avaliação dos dados da Pesquisa de Inovação
Tecnológica (PINTEC) em comparação com os dados da Europa (Eurostat),
identificando os elementos que venham a permitir inferir sobre os processos de
inovação realizados no Brasil.
Por último, como considerações finais, o trabalho ressalta os fatores que
restringem o desenvolvimento de inovações com maior impacto e aponta a necessidade
de uma estratégia para o país aproveitar as janelas de oportunidade e criar maior
competitividade para indústria.
1.2. Objetivos
1.2.1. Objetivo Geral
Avaliar características do Sistema Nacional de Inovação Brasileiro a partir de
indicadores
de
inovação,
procurando
ressaltar
gargalos
que
restringem
o
desenvolvimento de inovações de maior impacto no território brasileiro.
12
1.2.2. Objetivos específicos
Os objetivos do trabalho estão divididos em duas competências:
i.
Apresentar constructos teóricos da abordagem neoshumpeteriana, por
entendê-los, como capazes de explicar o baixo nível de inovações de alto
impacto das empresas brasileiras.
ii.
Identificar e avaliar elementos dos processos de inovação típicos das
empresas brasileiras, em perspectiva comparada aos de alguns países
Europeus.
1.3. Metodologia
Para cumprir o primeiro objetivo específico utilizou-se como referência as
contribuições teóricas de Carlota Perez sobre as “revoluções tecnológicas” e as “janelas
de oportunidades” para o desenvolvimento econômico de países periféricos, assim como
as contribuições de Lundvall, sobre Sistemas Nacionais de Inovação (SNI).
Especificamente, se faz uma descrição do que Perez e outros autores chamam de
revoluções tecnológicas e de paradigma tecnoeconômico, como referências para a
compreensão das possibilidades que teoricamente se ampliam nos períodos
caracterizados por janelas de oportunidade ao desenvolvimento de economias
periféricas.
O método de pesquisa do estudo caracteriza-se como analítico-descritivo. O
processo analítico consiste no estudo dos dados e das informações coletadas visando à
explicação do fenômeno determinado pelo estudioso. A pesquisa descritiva delineia o
tema, isto é, o enfoque é dado na descrição de como os agentes conduz ou conduzem a
atual situação (GIL; 2002).
O referencial teórico/analítico dos Sistemas Nacionais de Inovação (SNIs) se
encaixa na perspectiva acima referida, por apoiar a identificação de elementos e suas
relações responsáveis
pela promoção, difusão e criação de conhecimentos
economicamente relevantes, ou seja, de inovações, entendidas como o elemento central
do desenvolvimento capitalista, pelos autores da corrente neoschumpeteriana do
pensamento econômico. A abordagem dos SNIs pode ser basicamente definida como
um conjunto de elementos que se relacionam dentro de um espaço nacional, com foco
13
no desenvolvimento de inovações. Neste espaço, aspectos diversos são considerados,
inclusive fatores políticos e financeiros por serem capazes de transformar as estruturas
tecnológicas,
econômicas
e
institucionais
dos
Sistemas
Nacionais
Inovação
(VILASCHI, 2005).
A partir desta abordagem buscou-se identificar fatores capazes de explicar,
teoricamente, gargalos e limitações do Sistema Nacional de Inovação Brasileiro (SNIB),
ou seja, fatores capazes de interferir na capacidade do país de ampliar a frequência de
inovações em seu território, mas também de aproveitar eventuais janelas de
oportunidade. Para isso, identificamos e apresentamos um conjunto de evidências
relacionadas ao sistema nacional de inovações brasileiro.
Para cumprir o segundo objetivo específico foi utilizado as informações
estatísticas de pesquisa e Inovação, disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) em sua Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC), os
dados são referentes aos anos de 1998 a 2000, de 2001 a 2003, de 2004 a 2005 e de
2006 a 2008. Além destes dados, foram utilizados os dados de inovação do Gabinete de
Estatística da União Européia (Eurostat) que é a organização que produz os dados
estatísticos para a União Européia. A organização disponibiliza os dados da pesquisa
Community Innovation Survey (CIS), que é uma pesquisa de inovação realizada em 27
países membros da União Européia e mais três outros países membros da European Free
Trade Association (EFTA). Os dados da CIS utilizados neste trabalho são referentes aos
anos de 2006 a 2008 e comparados com os dados no mesmo período da PINTEC.
Outra fonte, utilizada para formulação dos dados, é “Manufacturing
performance: a scoreboard of indicators” da OECD (ORGANIZATION FOR
ECONOMIC COOPERATION AND DEVELOPMENT). Este estudo é uma referência
para a divisão de dados em setores de alta tecnologia, média-alta tecnologia, médiabaixa tecnologia e baixa tecnologia. Esta divisão ajuda a analise em setores chaves da
economia nacional.
Os países selecionados para elaboração das tabelas e gráficos obedeceram as
classificações tipológicas dos Sistemas Nacionais de Inovação segundo os trabalhos de
Albuquerque (1996 & 1999) e Viotti (2005). Em alguns casos a seleção dos países
obedeceu mais o critério da disponibilidade dos dados, pois muitas vezes a Eurostat não
disponibiliza algumas informações. Os dados quando divididos em setores de alta,
média-alta, média-baixa e baixa tecnologia estão entre estes casos.
14
Os indicadores foram escolhidos entre os principais e mais relevantes para
atender os objetivos do presente trabalhando, seguindo em especial a referência de
Viotti (2005). Os indicadores analisados são divididos na três seções do capítulo três. A
primeira tratados indicadores de atividades inovativas são eles: evolução da Taxa de
Inovação Brasileira (PINTEC I, II, II e IV); percentual das empresas que
implementaram inovações só de produto, só de processo e de produto e processo (
PINTEC I, II, II e IV); percentual de empresas que inovaram em todos os setores da
economia, em setores da indústria de alta tecnologia e média-alta tecnologia e da toda a
manufatura do Brasil e da Europa entre 2006 a 2008; percentual de empresas inovadoras
com inovações só de produto, só de processo e de produto e processo para o Brasil e
para Europa entre os anos de 2006 a 2008; Percentagem de empresas que inovaram em
produto para o mercado e para a firma como percentual de empresas que inovaram em
produto entre os anos de 2006 a 2008; percentagem de empresas industriais que
inovaram, total e por número de empregados no Brasil e na Europa de 2006 a 2008.
A segunda seção procurou explorar os principais indicadores relacionados ao
esforço em inovar: gastos em P&D interno no Brasil sobre o faturamento das empresas
(PINTEC I, II, II e IV); gastos em atividades Inovativas no Brasil sobre o faturamento
das empresas ( PINTEC I, II, II e IV); dispêndio de empresas industriais inovativas e
sua proporção em relação ao faturamento no Brasil e na Europa; distribuição percentual
dos dispêndios em atividades inovativas das indústrias com atividade inovadora no
Brasil e na Europa; Percentual de dispêndio em P&D interno sobre o faturamento das
firmas por intensidade tecnológica dos setores e o total da manufatura no Brasil e na
Europa.
A terceira seção do capítulo três trata de dois indicadores que podem dizer muito
sobre os processos inovativos em cada país são eles: principal responsável no
desenvolvimento de produto e processo nas empresas que implementaram inovações no
Brasil e na Europa; Percentual e número de empresas que receberam qualquer tipo de
financiamento público no Brasil e na Europa.
Por fim, demais materiais bibliográficos, especialmente artigos, livros e outros
materiais publicados pelos estudiosos da inovação - principalmente os que trabalham
com a abordagem de Sistemas Nacionais de Inovação – também foram utilizados como
referência para o presente trabalho.
.
15
2. REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS E O PARADIGMA
TECNOECONÔMICO
A proposta desse capítulo é entender o surgimento de janelas de oportunidades
de desenvolvimento produtivo e inovativo, abertas em períodos específicos à países
menos desenvolvidos, os quais seriam definidos por regularidades históricas das
revoluções tecnológicas identificadas por PEREZ (2009). Para isso, primeiramente
buscaremos definir o termo revolução tecnológica e o paradigma tecnoeconômico.
Inicialmente podemos definir as revoluções tecnológicas como um conjunto de
inovações que dão origem a uma série de trajetórias tecnológicas, as quais são
impulsionadas por transformações sociais, que mudam as relações entre os indivíduos
dando origem a um novo ‘senso comum’, definido como o paradigma tecnoeconômico;
este paradigma é o conjunto das melhores práticas de compartilhar este ‘senso comum’
(PEREZ, 2009).
Assim, é possível identificar que uma revolução tecnológica segue uma
trajetória, em que pode ser dividida em duas grandes fases, sendo a primeira
denominada de Instalação e a segunda de Desprendimento. Cada uma destas duas
grandes fases é subdividida em outras duas, a primeira fase do período de instalação é
chamada de “irrupção” e a segunda de “frenesi”. As fases do período de desprendimento
são denominadas respectivamente de “sinergia” e “maturidade”. Estas duas grandes
fases duram em torno de vinte a trinta anos cada uma delas e entre as duas há um
período denominado de “intervalo de reacomodação”, que varia para cada revolução,
podendo durar alguns anos ou mais uma década (AREND; FONSECA, 2012).
A fase de Instalação é caracterizada pela irrupção (figura 1) de novas tecnologias
revolucionárias que recebem o suporte de um capital financeiro ocioso, fruto dos
períodos finais da revolução anterior. Quando uma revolução encontra-se em suas fases
finais, os mercados se apresentam saturados e os investimentos de baixo risco diminuem
muito, o que acaba por fazer com que o capital que não encontra os ganhos nas
tecnologias da revolução anterior migre para as novas tecnologias, dando origem ao
começo de uma nova revolução. Na fase de frenesi o comportamento do capital
financeiro por ganhos com a revolução, acaba por gerar uma bolha tecnológicafinanceira que culminará com o colapso e no período de intervalo entre uma fase e outra
(AREND; FONSECA, 2012).
16
O colapso tecnológico-financeiro do “intervalo de reacomodação” acaba por
produzir uma cobrança em cima do estado por medidas que recomponham a economia,
e as mudanças no quadro institucional são comuns de acontecer neste período. As
intervenções estatais caracterizam a segunda fase de uma revolução tecnológica, ao
contrário do período anterior que é regido pelo capital financeiro, nesta fase, os critérios
do capital produtivo são o que regem a revolução, em detrimento do financeiro
(AREND; FONSECA, 2012).
A fase de desprendimento também é caracterizada pela oportunidade que os
países periféricos teriam de ingressar na revolução tecnológica, devido ao estancamento
e à saturação que os mercados domésticos dos países centrais, que iniciaram a revolução
apresentam. Isso atrairia investimentos produtivos em regiões com mercados potenciais.
Assim, é possível que países em desenvolvimento possam se aproveitar de uma
internacionalização para se desenvolver e alcançar o patamar tecnológico dos países
centrais (AREND; FONSECA, 2012).
Figura 1: As fases de uma revolução tecnológica.
Fonte: AREND; FONSECA, 2012, a partir de PEREZ (2004)p. 37.
Por fim, a fase de maturação do período de desprendimento apresenta os
mercados mundiais bastante saturados e as tecnologias que se originaram desta
revolução já na maturidade. Novas tecnologias aparecerão e estas conviverão por um
17
tempo simultaneamente com as antigas até que os ganhos se tornem mais atrativos e a
nova revolução comece a se sobressair à antiga.
Similar a uma revolução tecnológica a trajetória de uma tecnologia individual
acompanha o desenvolvimento da revolução. A trajetória tecnológica é um padrão que
as tecnologias seguem, quanto ao ritmo e a direção, que começa desde os estágios mais
iniciais de introdução no mercado, até a sua maturação. Esta trajetória está dividida em
quatro partes, que podem ser acompanhadas na figura 2. A primeira parte é de
introdução de uma inovação radical (ou de um novo produto lançado no mercado), tratase de uma fase em que a tecnologia está em ‘experimentação’, até que se encontre o
design dominante. A segunda parte é a fase inicial de desenvolvimento de inovações
incrementais, é o começo de um processo de difusão e aprimoramento da tecnologia já
existente.
Figura 2: A evolução de uma tecnologia: uma trajetória tecnológica.
Fonte: PEREZ, 2001.
A terceira parte é de aceleração das inovações incrementais, as quais crescem se
aproximando de um nível em que é possível identificar certo esgotamento, pois nesse
estágio os aprimoramentos não acrescentam tanto (em valores) ao produto como no
estágio anterior. Por exemplo, na trajetória dos eletrodomésticos, em que nas etapas
iniciais se têm o desenvolvimento de produtos como aspiradores, lavadores e secadores,
nas etapas finais, por outro lado, o que se vê são inovações incrementais de menor
conteúdo tecnológico como a faca elétrica e o abre latas. A quarta fase caracteriza-se
por ser uma fase de exaustão de inovações incrementais, o produto chega à maturidade e
as vantagens comparativas de custos e produtividade tornam-se mais relevantes na
busca por diferenciais de mercado (PEREZ, 2001).
18
Figura 3: Coevolução de um sistema tecnológico e seu entorno para os
eletrodomésticos.
Fonte: PEREZ, 2001
Esta Trajetória tecnológica pode resultar na origem de uma série de outras
inovações ligadas ao seu sistema tecnológico, como é exemplificado na figura 3. Um
exemplo foi a invenção da televisão, a qual gerou uma série de outros mercados e
indústrias especializadas, como canais e programas de televisão e um conjunto de
equipamentos que aprimoraram a qualidade e a transmissão da imagem (PEREZ, 2009).
Observa-se nas duas figuras que a trajetória de uma tecnologia individual está
interconectada a um sistema tecnológico. Este sistema tem como origem uma revolução
tecnológica (RT). Uma RT é definida como uma série de avanços tecnológicos
transformadores que formam uma constelação de tecnologias interdependentes (PEREZ,
2009). É como a invenção da eletricidade e os aprimoramentos nas redes de transmissão
elétrica que permitiram que equipamentos domésticos de maior tecnologia, como
geladeira, lavadora, aparelhos de som e televisão, chegassem às casas das famílias de
todo o mundo. Mais estritamente, o que define uma Revolução tecnológica são dois
fatores básicos: o primeiro trata-se de uma mudança radical em um conjunto de
elementos e relações interconectados, que dão origem a novos sistemas tecnológicos; e
o segundo, nas palavras da autora: “the capacity to transform profundly the rest of the
economy (and eventually society)” (PEREZ, 2009, p. 6). Ainda segundo Perez (2009),
este último fator é o que garante que o termo seja chamado de Revolução. Os
19
consumidores se verão com novos mercados e uma nova cultura emergirá. As intuições
se sentirão obrigadas a abarcar o contexto com nova regulamentação e novas leis, assim
como treinamento especializado e outras facilidades (PEREZ, 2009).
Esta capacidade de transformar profundamente toda a economia e a sociedade
são influências associadas ao paradigma tecnoeconômico (PEREZ, 2009). Este
paradigma é o desdobramento da RT em outras disciplinas, além da economia.
Enquanto as novas indústrias tecnológicas se tornam os motores do crescimento, o
paradigma tecnoeconômico tem o papel de reorganizar e desenvolver o conteúdo da
revolução em produtividade por toda economia (PEREZ, 2009). O paradigma cumpre o
seu papel de maneira simultânea ao andamento da revolução, difundindo as ideias e as
práticas da nova revolução, transformando estruturas organizacionais, modelos de
negócios e estratégias, de forma a superar obstáculos e descobrindo novas formas mais
adequadas de produção, rotinas e estruturas (PEREZ, 2009).
No começo o impacto é pequeno, mas com o tempo ele se espalha
transformando a economia, o território, comportamentos e ideias, até que este novo
paradigma torna-se o novo senso comum (PEREZ, 2009). Para cada revolução existe
um paradigma tecnoeconômico correspondente.
Para que as transformações de uma RT aconteçam por completo é necessário
que o ambiente de surgimento seja propício para seu desenvolvimento. Neste sentido, a
abordagem dos SNI’s é útil para mostrar os elementos e relações responsáveis pela
construção deste ambiente. Todavia, para que estes elementos e relações se
desenvolvam em um território nacional, é preciso aproveitar oportunidades de
desenvolvimento tecnológico que surgem entre uma revolução e outra, como veremos
no item a seguir.
2.1. As janelas de oportunidade para o desenvolvimento
Nesta seção o objetivo é entender a abertura de janelas de oportunidades para o
desenvolvimento. Estas oportunidades são originadas partir da segunda metade de uma
revolução tecnológica e de seu respectivo paradigma e o começo de uma nova; o
aproveitamento destas oportunidades proporciona ao país longos períodos de
prosperidade e bonança.
20
Uma revolução tecnológica origina um conjunto de sistemas tecnológicos que
dão início a uma série de trajetórias, as quais são divididas em quatro fases, como
explicadas na seção anterior. A fase inicial é a fase de desenvolvimento e adequação dos
produtos e também caracterizada por um conteúdo maior de mão de obra e custos mais
elevados na sua fabricação, pois necessita ser testada e as rotinas ainda não estão bem
estabelecidas. As últimas fases caracterizam-se por um processo de maturação, as
inovações incrementais se tornam menos frequentes, o time to market é muito veloz, os
mercados já se encontram saturados, os processos de produção já são bastante rotineiros
e mecanizados (PEREZ, 2001).
Quando alcança o nível de maturação tecnológica, a produção destes produtos é
atraída para a periferia, devido às vantagens de custo oferecidas por estes países, como
mão de obra e matéria-prima. Como os processos produtivos já estão bem consolidados
torna-se fácil transferi-los para os países menos desenvolvidos, assim, surge desta fase a
oportunidade de adquirir a tecnologia e conhecimento da revolução tecnológica que está
prestes a acabar. Esta transferência torna possível um processo de inovações locais que,
aliados a mercados crescentes, explicam o crescimento da produção e da renda em
economias menos desenvolvidas (PEREZ, 2001).
Para Carlota Perez (2001) há oportunidade de desenvolvimento para países da
periferia quando as inovações atingem a fase de maturação, à medida que as
necessidades de vantagens de custo levam a transferir tecnologias para os países da
periferia. A absorção destas novas indústrias acaba trazendo consigo necessidades de
infraestrutura que ajuda no desenvolvimento à medida que são atendidas. Este fato
promove a infraestrutura necessária para receber tais tecnologias e com isto explorar os
ganhos financeiros.
Para que este processo aconteça com sucesso é necessário que os elementos
responsáveis pela criação, promoção e difusão de inovações e suas relações, estejam
bem estabelecidos, sendo capazes de gerar um ambiente mais propício para o
desenvolvimento de inovações, constituído no que chamamos de Sistemas Nacionais de
Inovação, tema discutido na próxima seção.
Ainda que a maturação tecnológica de uma revolução signifique o aumento das
possibilidades produtivas a países menos desenvolvidos como o Brasil. O
aproveitamento das janelas de oportunidade também está relacionado ao conjunto de
possibilidades tecnológicas que emergem do surgimento das fases iniciais da nova
revolução. Esta fase, que ocorre ao mesmo tempo em que a quarta e última fase da
21
revolução tecnológica anterior, é marcada pela concentração dos conhecimentos
relevantes em instituições públicas, como universidades e centros de pesquisa e se torna
disponível para o público (PEREZ, 2001). Ocorre que os conhecimentos científicos
ainda não foram cristalizados em produtos, ou estão sendo em baixa frequência, como
no atual caso das nanotecnologias. Os conhecimentos científicos avançam em áreas do
conhecimento com alto potencial de exploração econômica, muitas vezes identificada
em estratégias nacionais de desenvolvimento, mas com grandes dificuldades de
aplicação tecnológica. Este é o momento em que as janelas de oportunidades para o
desenvolvimento se abrem e torna possível que os países alcancem o nível dos mais
desenvolvidos.
Para que isto ocorra com sucesso há a necessidade de uma bem sucedida
estratégia de desenvolvimento tecnológico, que depende das vantagens dinâmicas e
externalidades, como as infraestruturas física, social e tecnológica desenvolvidas em
cada Sistema Nacional de Inovações (SNI), como será debatido na seção seguinte. Essas
vantagens podem ter sido resultado do conhecimento acumulado da fase anterior ou por
meio de intensos processos de aprendizagem e melhoramento do meio social e
econômico. Como resultado destes processos de aprendizagem e melhoramentos, a
estratégia de desenvolvimento capaz de acumular capacidade tecnológica, cria uma base
para as novas tecnologias e dinâmicas, o que gera aumentos sistemáticos da
produtividade, da renda total e da renda per capita (PEREZ, 2001).
Estratégias que deram certo entre países desenvolvidos sempre utilizaram algum
nível de imitação, mas como ressalta Carlota Perez (1996) uma exclusiva estratégia de
cópia não é a mais adequada para se alcançar o nível dos países desenvolvidos. As
experiências nos países latino-americanos de crescimento via substituição de
importação comprovam isto. A estratégia de transferência de tecnologia fundada em
empresas transnacionais apresentou falhas em alcançar os países desenvolvidos. Muito
embora detivesse méritos na criação de um planejamento que originou um conjunto de
condutas, práticas e conceitos, adotados pelos principais agentes envolvidos, que se
cristalizaram nestes países em formas de instituições (PEREZ, 1996).
Nas seções seguintes veremos quais os elementos e suas relações que criam a
infraestrutura e capacidade tecnológica para o desenvolvimento do cenário favorável
para aproveitar as janelas de oportunidade. Estes elementos e relações dentro do
território nacional se constituem no Sistema Nacional de Inovação (SNI).
22
2.2. Sistemas Nacionais de Inovação
Com o objetivo de entender as principais relações dos elementos , que melhor
promovem, difundem e criam conhecimentos e inovações, o conceito de SNI´s é
explorado Analisa-se a relação destes agentes em um ambiente favorável ao
florescimento de inovações com impactos maiores para o desenvolvimento econômico.
2.2.1. O Conceito de Sistemas Nacionais de Inovação
A primeira definição explícita de Sistema Nacional de Inovação (SNI)¹ remonta
aos trabalhos de Freeman (1987) que analisou o processo de crescimento japonês no
período 1945-1980. O autor destacou que o crescimento não poderia ser explicado sem
se considerar a ênfase dada pela sociedade japonesa aos diversos fatores qualitativos e
sistêmicos que afetavam o processo de inovação. Compreendeu os sistemas como
“redes de instituições no interior dos setores público e privado cujas atividades e
interações iniciam, fortalecem e difundem novas tecnologias” (FREEMAN, 1987).
Posteriormente, outros autores, em especial Lundvall (1992) e Nelson (1994)
aprofundaram a discussão sobre o conceito de SNI, sistematizando a compreensão da
dinâmica da inovação, ao enfatizar diversos aspectos que afetam o desempenho dos
sistemas dos diferentes países. Dessa discussão podem-se retirar duas variações do
conceito de SNI, ambas explicitando, todavia, que os processos inovativos nas empresas
são resultantes de esforços coletivos.
Nelson e Rosenberg (1993) apresentam uma concepção mais restrita dos SNI’s
com foco nas relações sistêmicas entre os esforços de P&D nas empresas, as
organizações de Ciência e Tecnologia (C&T) que incluem universidades, e a política
explicitamente dirigida à C&T. Contudo, alertam que as interações institucionais,
determinantes ao desempenho inovativo, não presumem, em algum sentido, que o
sistema seja conscientemente projetado, ou que as instituições envolvidas estejam
envolvidas, de alguma maneira, em trabalhos coerentes.
Para esses autores, o conceito teria a propriedade de facilitar o estudo empírico,
se os sistemas nacionais de inovação fossem tratados como estruturas que incluem os
fatores capazes de influenciar as capacidades tecnológicas nacionais e o avanço
tecnológico por consequência. Nesse sentido ressaltam que empresas, laboratórios de
23
pesquisa, universidades, bem como centros de pesquisa governamentais são elementos
importantes dessas estruturas.
A concepção ampliada de Freeman (1987) e Lundvall (1992) incorpora o amplo
conjunto de instituições que afetam direta e indiretamente as estratégias e o desempenho
de inovação das firmas. Diferentes instituições e organizações específicas de cada país,
como, por exemplo, o setor financeiro e o sistema educacional, são também importantes
elementos analíticos do SNI. Mas seriam o aprendizado1 interativo e o processo de
inovação os fatores centrais necessários para a compreensão da atual dinâmica
econômica, sendo o conhecimento o recurso fundamental para o desenvolvimento de
capacitações humanas adequadas aos requisitos da economia moderna. O sucesso
econômico de indivíduos, empresas ou economias estaria diretamente relacionado às
suas capacidades de construir competências novas e não apenas de ter acesso a
informações. Para Lundvall (1992) um sistema de inovações seria constituído por
“elementos e relacionamentos que interagem na produção, difusão e uso do novo, e
economicamente útil, conhecimento e [...] um sistema nacional abrange elementos e
relacionamentos, localizados ou enraizados dentro das fronteiras de um Estado Nação”
(LUNDVALL, 1992, p.2).
Para clarificar ainda mais vale a pena entender o que Lundvall (2007) chama de
“os três ingredientes básicos do SNI” : nacional, sistema e inovação. Segundo Lundvall
(1992) os elementos que compõe este sistema estão enraizados dentro das fronteiras do
estado nacional, por isso o sistema de inovação é um sistema “Nacional” de inovação. O
autor argumenta a importância na realização de estudos no âmbito nacional, dada à
relevância histórica do papel da nação, para entender as transformações regionais e
também globais. O desenvolvimento de regiões e as transformações globais podem ser
fruto de políticas ou estratégias desenvolvidas a nível nacional. O confronto das
medidas econômicas tomadas pelos diferentes países é de onde partiu a ideia original
desta abordagem (LUNDVALL, 2007).
O SNI também pode ser definido como um sistema social e dinâmico: primeiro
social porque sua atividade central é o aprendizado e o aprendizado envolve a interação
entre os seres humanos (LUNDVALL, 1992); segundo porque as inter-relações e
interações dos elementos do sistema dão uma dinâmica peculiar a todos os SNI; em
1
O aprendizado é definido como o “resultado da interação entre agentes envolvidos em um contexto
sócio-cultural e institucional” (LUNDVALL, 1992, p.1).
24
terceiro, os processos de inovação acontecem entre fenômenos micro e macro, nos
quais as macroestruturas condicionam a dinâmica em nível micro, assim como os
processos a nível micro dão forma às macroestruturas. Ao pensar desta maneira os
Sistemas Nacionais de Inovação, podem ser vistos como um complexo que coevoluí e
se auto-organiza (LUNDVALL, 2007).
A inovação dentro desta abordagem segue a linha de Schumpeter (1961), que vê
a inovação como novas combinações de materiais e forças, porém o que difere novas
combinações de invenções é a introdução destas a um mercado pelo empresário.
Lundvall (2007) acrescenta ainda ao conceito de inovação os processos de difusão e uso
do novo, já que segundo ele novos produtos e processos ganham mais atratividade a
partir de uma ampla utilização. O processo de inovação, nesta perspectiva pode ser
considerado um fenômeno e é diferenciado pelo seu impacto no desempenho
econômico, que é medido pelas transformações que a inovação pode proporcionar nas
pessoas, na organização técnica e produtiva e na sociedade (LUNDVALL, 2007).
De maneira geral a abordagem dos Sistemas Nacionais de Inovação tem como
principal propósito contribuir para o entendimento teórico dos processos de aprendizado
interativo e inovação. Apesar disso, ele acaba por atender outros propósitos, por tratar
de forma ampliada os fenômenos responsáveis pelo desenvolvimento econômico, tendo
como centro da análise a inovação e o aprendizado interativo (LUNDVALL,1992).
Assim, ele pode ser também uma ferramenta para políticas de estado, como veremos
mais adiante.
A utilidade desta abordagem dos SNI’s pode ser defendida com base em três
argumentos. O primeiro trata da utilidade para o governo em entender o contexto
específico do sistema nacional na ordem de realizar intervenções para promover
inovações. Uma política referente de uma análise errônea do contexto nacional pode
levar a uma atenuação das fraquezas do SNI. O exemplo clássico é considerar os
investimentos em P&D como fonte única para o desenvolvimento tecnológico, quando
existem elementos de difusão, de interação e qualitativos que afetam a promoção e o
desenvolvimento de inovações.
O segundo argumento é entender quão diferente e diverso eles trabalham, tendo
em vista que alguns sistemas investem pesado em ciência e tecnologia enquanto outros
se apropriam destas pesquisas (LUNDVALL, 1992). Existem sistemas que possuem um
alto grau de absorção e de dinamismo tecnológico. Por causa disso adquirem e
25
reproduzem o aprendizado se aproveitando dos trabalhos desenvolvidos em outros
países.
Para o terceiro e último, Lundvall (1992) defende que apreender com as
experiências dos outros países pode facilitar a formulação de estratégias que visam
aproveitar oportunidades de desenvolvimento. Dentro de um mundo que é caracterizado
por
uma
mudança
radical
(Revoluções
Tecnológicas)
em
uma
fundação
Tecnoeconômica (Paradigma Tecnoeconômico), o sucesso de um SNI em explorar uma
oportunidade técnica pode ser diverso. Uma estratégia que opta pela simples cópia de
produtos estrangeiros pode não levar aos resultados desejados como se aprendeu no
passado.
Lundvall (2001), ainda indica alguns elementos que agem na direção de
estimular a atividade inovativa dentro dos sistemas de inovação: além dos laboratórios
de P&D, o aprendizado que se desenvolve nas firmas a partir de rotinas internas, o
learnig by doing, o learning by interacting, o learnig by using. Nesse processo de
acúmulo de experiências, as instituições, entendidas como rotinas, procedimentos e
normas particulares, agiriam no sentido de diminuir a incerteza intrínseca do processo
inovativo de cada sistema nacional de inovação. Nesta perspectiva, atualmente os
trabalhos de Lundvall e do grupo de Aalborg têm se preocupado com os processos de
construção de competência (relacionados à educação e ao treinamento), com os
relacionamentos inter e intra-industriais e com a dinâmica do mercado de trabalho como
elementos importantes dos SNI (LUNDVALL, 2007).
A preocupação teve como base um estudo do Sistema Nacional de Inovação
dinamarquês conhecido como projeto DISKO. O trabalho inicia a partir da criação de
um método de estudo que analise os elementos e as relações do SNI em diferentes
níveis micro e macro. O resultado mostrou que as interações entre, as inovações
técnicas em hardware e software, aliado a mudança organizacional e as redes por onde
correm as informações são fundamentais, não somente para o processo inovativo,
também para o grau em que as inovações se repercutem em desempenho econômico.
Outra conclusão é que as formas organizacionais, os recursos humanos e o
posicionamento nas redes de informação que promovem a inovação são muito
semelhantes aos que promovem adaptações e aprendizados organizacionais. Ao
comparar estes resultados a de outros países é possível perceber diferenças na
microestrutura dos sistemas de inovação, que estão ligadas ao mercado de trabalho, ao
sistema educacional e a possíveis regimes de bem estar-social (LUNDVALL, 2007).
26
Os trabalhos de Freeman, Lundvall e Nelson e demais autores que seguiram a
linhagem do Sistema Nacional de Inovação realizaram uma construção teórica que
analisa a inovação como um fenômeno em que o conhecimento e o aprendizado são,
respectivamente, o insumo e a ferramenta para que o processo inovação ocorra. A
abordagem permite um estudo mais detalhado dos elementos e as relações responsáveis
pela promoção, difusão do conhecimento útil, além de oferecer base para elaboração de
políticas e estratégias de desenvolvimento. Estas políticas para serem bem sucedidas são
necessárias para a construção de competência e de um quadro instrucional que promova
o ambiente necessário para que as inovações floresçam como veremos na próxima
seção.
2.2.2. Notas sobre as instituições nos SNIs
As instituições possuem um papel fundamental para o desenvolvimento das
trajetórias tecnológicas, primeiro por influenciar em todo o conhecimento e aprendizado
e também por oferecem a estabilidade necessária para a evolução e para transformação.
O objetivo dessa seção é apresentar o papel das instituições que influenciam as
trajetórias tecnológicas e demonstrar, brevemente, como os processos de aprendizado
são de alguma forma, influenciados por aspectos institucionais.
As instituições são entendidas como organismos que apresentam a característica
de possuir estabilidade, o que transmite a segurança necessária no transcorrer de uma
trajetória tecnológica. São elas que consolidam as rotinas e processos necessários para o
melhor aproveitamento das inovações ao longo de sua evolução.
Além disso, as instituições possuem um importante papel no “esquecimento” de
alguns processos cristalizados em períodos anteriores, os quais se dão pelo
desligamento de instituições ou parte delas; este fenômeno é fundamental para
impulsionar novas trajetórias tecnológicas e acabar com a inércia, consequência do
choque de uma RT que esta por acabar e outra que esta por começar (LUNDVALL,
1992).
O aprendizado é um processo que envolve a interação entre as pessoas. Estas
pessoas possuem hábitos, os quais nada mais são do que comportamentos regulares que
ajudam a lidar com a complexidade do dia a dia. Quando estes hábitos se tornam
comuns entre um grupo de pessoas eles dão origem a diferentes tipos de regularidades
do comportamento, como normas, tradições, regras e leis. De maneira objetiva as
27
instituições são estes conjuntos hábitos, rotinas, regras, normas e leis, que regulam as
relações entre as pessoas e suas formas de interação (LUNDVALL, 1992).
O conjunto de regularidades comportamentais - as instituições - facilita as
práticas sociais, contribuindo, inclusive, para que o aprendizado não seja sempre um
“eterno recomeço”. Os costumes, tradições, leis e normas são mecanismos que fixam
nas pessoas os comportamentos mais adequados para a interação uma com as outras.
Desta maneira as instituições são vistas como o regulador das interações humanas. O
fato de parte de o aprendizado depender destas interações, já comprova, em grande
parte, a influência que as instituições possuem no processo de aprendizado em uma
economia moderna.
Esta função de regulação revela o papel principal das instituições de ser ‘guia’
as relações entre pessoas (LUNDVALL, 1992). Porém além desta função, as
instituições possuem outras, não tão diretas, mas que dão a elas o caráter de estabilidade
para reprodução da sociedade. O caráter estável que as instituições possuem está ligado
ao fato de apresentarem as seguintes subfunções: elas reduzem as incertezas, coordenam
o uso do conhecimento, mediam conflitos e promovem incentivos ao sistema de
inovações (LUNDVALL, 1992).
Essa estabilidade é totalmente necessária para as mudanças tecnológicas,
primeiramente porque uma quantia de estabilidade é necessária para inovação já
estabelecida, para que possa se aproveitar os ganhos originados a partir de inovações
incrementais dentro das trajetórias tecnológicas. Neste sentido, uma política
institucional de sempre incentivar inovações radicais pode não ser a medida mais
adequada, pois ela estaria deixando de aproveitar ao máximo os ganhos provindos das
trajetórias das inovações. Em segundo lugar a estabilidade é necessária porque as
inovações radicais dependem do comportamento institucionalizado. Empresas e demais
instituições dependem da criação de rotinas que facilitem o aprendizado dos
funcionários quanto a novas rotinas que buscam se estabelecer ao implementar
processos e até produtos novos, o que também aumenta a capacidade de lidar com a
maioria das decisões tecnológicas (LUNDVALL, 1992).
As mudanças tecnológicas ocasionadas por transformações, frutos do começo de
uma nova revolução, criam forças que também transformam o quadro institucional.
Trocando, mudando ou, por vezes, dando fim a instituições que nos períodos passados
ocupavam papéis fundamentais. A forma como as instituições lidam com estas
28
transformações é simples: esquecendo o que é desnecessário e concentrando forças e
sinergias no novo (LUNDVALL, 1992).
Por vezes as instituições podem ser as responsáveis por atrasos nos processos de
aprendizado, mas são elas que criam as pré-condições para que estas se desenvolvam de
maneira plena dentro das trajetórias. Sem as instituições o processo de renovação
tecnológico seria muito mais complicado (LUNDVALL, 1992).
Na economia, o papel de esquecer no crescimento do conhecimento está
intimamente conectado ao papel de desativar velhas atividades econômicas
(LUNDALL, 1992). Para as firmas, é mais rentável concentrar suas forças em uma nova
tecnologia do que dividi-la junto a uma que provavelmente venha a perder força. Isto
acontece pelo desligamento de atividades, mesmo que estas foram, em algum momento,
atividades-chaves para o crescimento e que adquiriram muito prestígio durante este
período. Muitas vezes, isto pode gerar conflitos que impedem o desenvolvimento de
novas rotinas e processos. Em algumas firmas, por se adotar rotinas muito rígidas de
trabalho, há dificuldade em internalizar novas rotinas necessárias para se adequar às
mudanças, o que muitas vezes resulta em uma grande demissão de funcionários, ou uma
reestruturação de todo um departamento, ou até a falência. Por isso, uma maior
flexibilidade dentro das firmas é recomendável para os processos de aprendizado.
Enfim, por ser a ‘guia’ na relação entre as pessoas, às instituições acabam por
influenciar nas interações humanas. Como o processo de aprendizado envolve
interações sociais, o quadro institucional acaba influenciando todos os processos de
aprendizado, fornecendo a estabilidade necessária para a evolução das trajetórias
tecnológicas e permitindo um aproveitamento dos ganhos desta trajetória, por meio da
garantia do desenvolvimento de inovações incrementais. Assim como a transformação
deste quadro permite criar as pré-condições para o surgimento de novas trajetórias
tecnológicas. O papel institucional é propiciar um ambiente que promova o
aproveitamento máximo das trajetórias tecnológicas, para isto é necessário tanto a
cristalização de um quadro institucional favorável como a flexibilização deste quando
novas tecnologias estiverem no inicio do seu desenvolvimento.
29
2.3. O Sistema Nacional de Inovações Brasileiro: Aspectos
teóricos e empíricos recentes
O objetivo desta seção é apresentar os fatores que condicionam o até então chamado
Sistema Nacional de Inovação Brasileiro (SNIB). Para contemplar este objetivo se
considera em primeiro lugar, a caracterização dos tipos SNI em que o Brasil é agrupado,
pois os SNI´s dos países periféricos possuem aspectos em que se diferenciam dos países
centrais. Em segundo, os elementos responsáveis por restringir o desenvolvimento de
inovações de maior impacto. Neste sentido, faz-se uma análise dos pontos que afetam
negativamente o SNIB e que dão origem a um quadro de limitação e de gargalos ao
desenvolvimento de inovações.
Como já foi explicando anteriormente os estudos que resultaram na origem da
abordagem dos SNI´s começou a partir de analises de políticas públicas dentro OCDE
(LUNDVALL, 2007). O conceito do SNI é muito útil para as discussões sobre as
dinâmicas tecnológicas nos diferentes países, porém ao analisar países que não são
membros da OCDE é possível formular criticas a abordagem (ALBUQUERQUE,
1999). Os trabalhos de Albuquerque (1996 & 1999), visam complementar a perspectiva
teórica criando uma tipologia que agrupa países com SNI´s maduros, SNI`s na frente do
processo de “catching up” e SNI´s atrás do processo de “catching up”, ou também os
chamados SNI´s não-maduros.
Os trabalhos de Nelson (1993) sobre a diversidade dos SNI´s, a discussão de
Freeman (1995) sobre as diferentes características de alguns SNI´s (Japão, URSS,
latino-americanos e países do leste asiático) e o trabalho de Patel & Pavitt (1994)
sugerindo que os SNI´s devem ser medidos e comparados serviram de referência para o
trabalho de Albuquerque (1999) que consiste em uma tentativa em criar uma tipologia
para os SNI´s, em especial aos países que não são membros da OCDE.
Albuquerque (1999) realiza uma divisão dos SNI´s não maduros em subtipos, por
apresentarem algumas características que os diferenciam em alguns aspectos. Estas
características estão, em suma, apresentadas na figura quatro.
30
Quadro 1: Tipos de SNI´s segundo Albuquerque
Tipo
Países
características
Bélgica, Dinamarca, Alemanha, França,
Irlanda, Itália, Holanda, Inglaterra, Aústria,
Suíça, Canadá, Estado Unidos, Japão,
Austrália e Nova Zelândia e Israel.
Presença de um SNI que capacita os
países membros deste grupo a
permancerem ou estarem muito próximos
a fronteira tecnológica
Coréia do Sul, Taiwan e Singapura
SNI´s com grande dinamismo tecnológico
e uma capacitação criativa, capaz de
absorver tecnologia e repercutir na forma
de inovações incrementais
Subtipo
SNI´s Maduros
SNI´s a frente do "catching
up"
SNI´s atrás do "catching
up" (SNI's não- maduros)
-
-
Estrutura de Ciência e
Tecnolôgia Antiga e
Ineficiente (ECTAI)
Existência de uma infraestrutura básica
México, Argentina, Brasil, Chile, Venezuela,
em ciência e tecnológica; baixo
África do Sul, Indía, Grécia, Espanha e
investimento das firmas em inovação;
Portugal (Coréia do Sul, Taiwan e Singapura presença de um sistema educacional com
em 1981)
problemas e sérios gargalos; existência de
um "gap" entre publicações e patentes.
Países ex-socialistas; probelmas no
sistema educacional; baixo nível de P&D
Países do Centro e Leste Rússia, Bulgária, República Tcheca, Slovakia,
e Ciência e engenharia; P&D em firmas
Europeu (PCEE)
Hungria, Polônia e Romenia
apresenta um nível baixo comparado com
os países do mesmo grupo;
"Asian cubs"
Indonésia, Malásia, Filipinas e Tailândia
Outros países
Turquia, China e Paquistão
Estrutura ciêntifíca com alguma atividade
similar aos paises do ECTAI; Fontes
educacionais são importantes; alto nível
de difusão tecnológica; dos países com
SNI´s nã maduros são os que estão mais
próximos do "catching up".
Estes países possuem um SNI rudimentar
e alguns autores preferem afirmar a
inexistência de um SNI.
Fonte: Elaboração própria, Albuquerque (1996 & 1999).
Como pode ser observado na quadro1 o Brasil esta junto aos países com SNI´s não
maduros, dentro do subtipo de países com uma estrutura de ciência e tecnologia antiga e
ineficiente. Os motivos para esta caracterização estão centrados nas limitantes e
gargalos que condicionam os processos inovativos no Brasil, não permitindo que o
catching up, resultante da absorção tecnológica, capacite o SNI brasileiro para
desenvolver Inovações com maior impacto (AREND; FONSECA, 2012).
Outra classificação tipológica é de Viotti (2005), que separa os SNI´s dos países
centro dos da periferia. Para Viotti (2005) a inovação é um fenômeno raro nestes
últimos países, por isso classifica os sistemas destes países como Sistemas Nacionais de
Aprendizado, que são divididos em dois tipos: o Sistema Nacional de Aprendizado
Ativo, no qual a absorção conquistada através do aprendizado tecnológico resulta em
significativos aperfeiçoamentos, que também são consideradas como inovações
incrementais; e o segundo tipo, definido como um Sistema Nacional de Aprendizado
Passivo, em que as mudanças resultadas dos processos de absorção, aprendizado
31
tecnológico, são em sua maioria pequenas adaptações às condições locais (VIOTTI,
2005).
A classificação de Albuquerque (1996 & 1999) é semelhante à de Viotti (2005)
e neste trabalho serve como referência para seleção dos países para formulação de
indicadores e para a melhor compreensão das características dos Sistemas de Inovação
de cada país
.
Apesar disso, utilizaremos a definição de Viotti (2005) referente aos
Sistemas de Aprendizado ativo e passivo, pois os sistemas nacionais de inovação em
países em desenvolvimento de fato são incompletos em seu quadro institucional, como
argumenta Albuquerque (1996), porém as características passivas nos processos de
inovação nos países em desenvolvimento são mais bem expostas e claras na
categorização de Viotti (2005), e que não deixa de caracterizá-los como um sistema com
deficiências em seu quadro institucional.
As razões que fazem com que os processos inovativos no Brasil possuam esta
característica passiva estão divididas em três domínios. Segundo Vilaschi (2005) estes
domínios são: econômico, institucional e tecnológico. Os aspectos provindos deles
limitam a ação dos elementos do SNIB. Esta investigação tem como foco os fatores
mais recentes, os quais as consequências podem ser observadas nos períodos atuais.
No domínio econômico, as políticas macroeconômicas de controle de preço,
características dos anos 90, foram positivas para a economia, porém apresentaram um
efeito negativo no desenvolvimento industrial (COUTINHO, 2003). A alta taxa de juros
permitiu a apreciação do real frente às outras moedas, o que incentivou as importações e
desestimulou as exportações. Isto, em muitos casos, acabou destruindo a produção
interna e levando à contração de uma porção significativa da indústria local
(VILASCHI, 2005).
A vulnerabilidade financeira das empresas de capital brasileiro também foi o
preço pago pelo alto custo do capital. A competitividade era cada vez menor frente à
parcela de produtos que eram importados e frente às empresas multinacionais que
adentravam o mercado brasileiro. Estas grandes corporações traziam suas subsidiárias
para dentro do país, que em sua maioria não tinham o interesse de levar consigo os
departamentos de P&D (LEMOS et al., 2003), fazendo com que o desenvolvimento
fosse limitado a inovações de pouco valor agregado. Atividades que englobam mais
valor, mais complexidade, como design e grandes projetos, ficam alocados na matriz no
exterior (LEMOS et al., 2003).
32
No domínio institucional o país parece ter sido caracterizado por um pensamento
voltado para curto-prazo. Nos governos, isto é resultado de uma cultura de políticas que
privilegiam aquilo que tem mais apelo popular (JAGUARIBE, 1987). Vários projetos
voltados para avanços em Ciência e Tecnologia acabaram sendo engavetados por falta
de apoio político e falta de financiamento. Nas empresas os cenários em que os
empresários e funcionários se acostumaram a trabalhar sempre privilegiaram práticas e
ações que venham a trazer o lucro máximo em menos tempo (LEMOS et al., 2003), os
quais não vislumbravam atividades mais arriscadas como as típicas de inovação. Tanto
o cenário inflacionário da década de 1980 até meados da década 1990, seguidos das
restrições macroeconômicas do pós-real parecem ter contribuído para isso.
A falta de visão institucional encontra argumentação ao referir as transformações
do atual Paradigma Tecnoeconômico (PTE) das Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC), como destaca Vilaschi (2005). Medidas institucionais intencionais
para o desenvolvimento tecnológico das TIC´s não recebiam o apoio necessário para sua
continuidade. A abordagem dos SNI’s, então, nunca saia dos debates acadêmicos e das
prateleiras (VILASCHI, 2005).
Dentro do domínio tecnológico houve alguns projetos no começo da década de
1990 direcionados a introduzir no país as TIC’s, mas que devido à falta de estabilidade
e flexibilidade institucional-financeira não obtiveram continuidade e êxito. Outros
programas só tiveram algum sucesso na década seguinte, o resultado foram atrasos no
ingresso brasileiro na trajetória das TIC´s. Basicamente os elementos do SNIB dentro
do domínio tecnológico se limitam à disponibilidade de serviços de educação,
tecnologia e treinamento (VILASCHI, 2005).
Tratando-se destes elementos houve a ampliação do número de vagas
disponíveis, mas a principal crítica é a rigidez nos currículos dos cursos universitários
(VILASCHI, 2005). As mudanças e transformações tornam-se demandas dos
aglomerados industriais por competências que detenham a capacitação necessária para
lidar com o novo. O quadro institucional acadêmico deve garantir o atendimento dessas
demandas. Outro problema é destacado por Perez (1996; 2010), ao apontar que nos
países latino-americanos ocorreu um distanciamento da academia com o setor
produtivo. Muitos projetos acadêmicos se concentram em temas que não tem tanta
relação com o contexto em que a economia nacional estava e, possivelmente, ainda está
inserida.
33
Em suma, as políticas econômicas brasileiras criaram um cenário de estabilidade
de preço, mas de contração industrial no domínio econômico. Isto pode ser uma das
razões de muitas empresas incorporarem uma cultura curto-prazista nas tomadas de
decisões sem muita visão de longo-prazo. A mesma cultura parece estar instituída no
estado onde os projetos de desenvolvimento tecnológico não recebem o apoio que é
necessário. Este quadro institucional não dispõe de prover a estabilidade necessária para
que as transformações tecnológicas ocorram de maneira exitosa, limitando o domínio
tecnológico aos elementos básicos de um Sistema Nacional de Inovação. Estes fatores
que condicionam o desenvolvimento do SNIB leva-o a ser caracterizado como um
Sistema Nacional de Inovação não maduro, com uma estrutura de ciência e tecnologia
antiga e ineficiente. No capítulo a seguir veremos se nos anos em que foi realizado a
Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC), houve alguma mudança significativa
neste quadro.
34
3.
UMA ANALISE RECENTE DE INDICADORES DE
INOVAÇÃO BRASILEIROS EM PERSPECTIVA
COMPARADA A PAÍSES EUROPEUS.
Este capítulo tem como objetivo analisar os fatores que permitem inferir nos
processos de inovação no Brasil, através dos dados de inovação da pesquisa do IBGE de
inovação tecnológica (PINTEC) em comparação com os dados disponíveis da Europa
(Eurostat).
Até agora, o quadro institucional, econômico e tecnológico que se tem no Brasil
não cria as condições necessárias para o desenvolvimento de inovações com maior
impacto. Viotti (2005) defende que em países em desenvolvimento a inovação é um
fenômeno raro, devido ao fato destes países serem dominados por um processo de
aprendizado tecnológico e não um processo de inovação, o que os caracterizam como
um sistema nacional de aprendizado ou sistema nacional de mudança técnica (VIOTTI,
2005).
Viotti et. al. (2005) argumenta que o Brasil estaria incluso nesta última tipologia.
Seu argumento é baseado nos dados de inovação tecnológica do IBGE referentes ao
período de 1998 a 2000. O motivo principal é que segundo os dados, as inovações no
Brasil estavam concentradas em aquisição de máquinas e equipamentos e possuem um
baixo grau de novidade, resultando em um quadro predominante de inovações em
processo e em produto de baixo em impacto. Veremos brevemente como este quadro
evoluiu das pesquisas anteriores até a pesquisa mais recente de 2008 e compararemos o
resultado desta evolução com os dados de inovação dos países europeus.
3.1. Análise de indicadores da atividade de inovação no Brasil.
Os dados de inovação da PINTEC passaram por uma evolução, tanto
quantitativamente, quanto qualitativamente desde a primeira pesquisa (1998 a 2000). A
melhora nos resultados dos dados de inovação veio acompanhada de um período de
crescimento econômico, que segundo a própria PINTEC (2010) pode ter sido o
responsável pela evolução dos indicadores. O resultado positivo dos processos
35
inovativos no Brasil, nesta seção, é comparado com os dos Sistemas Nacionais
Inovação e Sistemas Nacionais de aprendizado mais maduros e mais evoluídos. A ideia
é avaliar se a evolução nos dados de inovação indica uma mudança nos processos
inovativos brasileiros, que o caracterizam como um sistema de aprendizado
relativamente pobre (VIOTTI, 2005).
A partir disso a investigação dos dados começa pela análise de alguns
indicadores que mostram a evolução no Brasil, como é apresentado no gráfico 1 que
trata da taxa de inovação brasileira desde a primeira pesquisa até a última. Este
indicador mede o percentual de empresas que implementaram algum tipo de inovação
dentre as empresas pesquisadas. Observe que a maior diferença entre as taxas de
inovação de uma pesquisa em relação a anterior é a de 2004-2005 para 2006-2008. Um
crescimento de 4,20% de uma pesquisa para a outra. Em relação à primeira pesquisa da
PINTEC (1998-2000) para última o crescimento é de 7,1%.
Gráfico 1: Evolução da Taxa de Inovação Brasileira ( PINTEC I, II, II e IV).
Fonte: IBGE (2004; 2005; 2006; 2010), elaboração própria.
O gráfico 2 mostra o percentual de empresas que inovaram apenas em produtos,
em processo e em produto e processo ao mesmo tempo, ou seja, a taxa de inovação para
essas empresas. Ao analisar os dados percebe-se que no período de 1998 a 2000 havia
predominância de inovações em processo, o que muda para outras pesquisas. As
inovações de processo englobam aquisição de máquinas, equipamentos e software, que
no caso brasileiro apresentam uma proporção bastante significativa Este tipo de
inovação não engloba nas empresas tanto diferencial como uma inovação de produto ou
outro de tipo de inovação de processo mais complexa. Passar de uma dominância de
36
inovações apenas de processo, para inovações de produto e processo é um sinal de uma
evolução qualitativa positiva. As análises do gráfico 6, apoiam esse argumento.
Gráfico 2: Percentual das empresas que implementaram inovações só de produto, só
de processo e de produto e processo ( PINTEC I, II, II e IV).
Fonte: IBGE (2004; 2005; 2006; 2010), elaboração própria.
O gráfico 3 apresenta as taxas de inovação total, e agrupada segundo setores de
alta tecnologia, média-alta tecnologia e de toda a manufatura (indústria da
transformação) para o Brasil e a Europa. Esta divisão foi feita com base no próprio
Eurostat (2010) e também no OCDE Scoreboard (1994), que define os setores de alta,
média-alta, média-baixa e baixa tecnologia. Nos dados referentes à taxa de inovação, foi
utilizada apenas a classificação de Alta e média-alta tecnologia por indisponibilidade de
dados do Eurostat referentes à média-baixa e baixa tecnologia.
O gráfico mostra que a taxa de inovação de toda indústria no Brasil é maior que
países como Espanha, França e Holanda, o que evidencia a evolução do número de
empresas inovadoras no país. O bom resultado comparado a estes países pode encontrar
razão também pelo mal resultado deles (Espanha, França e Holanda), os quais em outras
pesquisas possuíam taxas maiores de inovação (VIOTTI, 2005). Apesar disso, nos
setores de alta e média-alta tecnologia o Brasil esta atrás de todos os países
selecionados. Em relação às empresas manufatureiras o Brasil tem seu número mais alto
apenas que a Espanha. Este é um resultado muito ruim, especialmente porque os setores
de alta e média-alta tecnologia são setores chaves para o aproveitamento de janelas de
oportunidade e pode indicar uma falta de dinâmica comparando estes setores a setores
de outros países.
Os setores industriais de alta tecnologia são aqueles setores “protagonistas” do
atual paradigma tecnológico, por serem novos na indústria é necessário um alto esforço
37
em pesquisa e desenvolvimento para inovar. São eles os responsáveis pelas mais
recentes trajetórias tecnológicas e são setores chaves para se criar uma base para os
próximos paradigmas. Um novo paradigma precisa da capacidade tecnológica fruto do
paradigma anterior, assim como os microprocessadores do atual paradigma não
existiriam sem a energia elétrica (PEREZ, 2001). Países com setores de alta tecnologia
mais desenvolvidos terão melhores condições de ingressar sua indústria em novas
trajetórias tecnológicas. Por isso estes setores são estratégicos para economia nacional e
devem ser motivo para elaboração de políticas públicas de desenvolvimento tecnológico
(OLIVEIRA, 2006).
Gráfico 3: Percentual de empresas que inovaram em todos os setores da economia,
em setores da indústria de alta tecnologia e média-alta tecnologia e da toda a
manufatura do Brasil e da Europa entre 2006 a 2008 - Países selecionados
Fonte: Eurostat (2010) e IBGE (2010), elaboração própria.
O gráfico quatro mostra o percentual de empresas inovadoras que
implementaram inovações somente em produto, somente em processo e em produto e
processo. Como já vimos as empresas inovadoras brasileiras passaram de uma
percentagem maior em inovações só de processo para inovações em processo e produto.
Este tipo de inovação é o que predomina na maioria dos países selecionados, o que
indica um resultado positivo, porém as empresas com inovações de processo ocupam
um espaço bastante representativo no Brasil. O número de empresas com inovações só
de processo só é menor que as empresas inovadoras espanholas. Isto também é
corroborado pelo alto dispêndio neste tipo de atividade inovativa – aquisição de
máquinas e equipamentos – que representa a maior parcela do total de dispêndio em
inovação no Brasil (tabela 3 e gráfico 8).
38
O percentual de empresas que inovaram apenas em produto só não é o mais
baixo, porque a Espanha apresenta uma percentagem menor que a brasileira. Estes
dados indicam um sistema de mudança técnica ou de aprendizagem com características
passivas, pois as inovações em produto em sua grande maioria são novas apenas para
firma, além de grande parte das inovações de processo estar centrada na aquisição de
máquinas e equipamentos.
Gráfico 4: Percentual de empresas inovadoras com inovações só de produto, só de
processo e de produto e processo para o Brasil e para Europa entre os anos de 2006 a
2008 – Países Selecionados.
Fonte: Eurostat (2010) e IBGE (2010), elaboração própria.
Entre as empresas que inovaram em produto apenas 19% implementaram
inovações de produto novo para o mercado, os outros 81% inovaram somente para
firma (gráfico 5). A percentagem de empresas que inovaram em produto para o mercado
no período de 2006-2008 é muito baixa entre os países selecionados e também abaixo
de resultados de pesquisas anteriores (VIOTTI et al, 2005). Este dado comparado aos
países Europeus dá suporte ao argumento de que as inovações produzidas no Brasil
possuem baixo grau de novidade e pouca diferenciação de mercado, que são
características de um sistema passivo de aprendizagem.
39
Gráfico 5: Percentagem de empresas que inovaram em produto para o mercado e
para a firma como percentual de empresas que inovaram em produto entre os anos de
2006 a 2008 – Países selecionados.
Fonte: Eurostat (2010) e IBGE (2010), elaboração própria.
É curioso observar que neste caso, países com altas taxas de inovação, como a
Alemanha, possuam empresas que inovaram em produto para o mercado menor que
países que possuem taxas de inovação menores, como Itália e Holanda, por exemplo.
Provavelmente isto se deve ao fato de que na pesquisa do Eurostat se considera
“inovação para o mercado” aquela empresa que é pioneira para o negócio em que atua.
Empresas de países como Alemanha trabalham em um nível mais global, enquanto as
empresas de países como Holanda e Itália em um nível mais doméstico, isto é o que
provavelmente gera as diferenças (VIOTI et al, 2005).
No Brasil a “inovação de mercado” considera apenas o mercado nacional. A
pesquisa trabalha desta maneira para evitar que firmas que trabalhem em mercados
abaixo do nível nacional sejam consideradas neste número. Assim uma empresa que
trabalha em mercados regionais ou locais e inova para estes mercados não é incluída
neste indicador (VIOTI et al, 2005)..
Na tabela 1 é possível analisar a percentagem de empresas industriais que
inovaram por tamanho. No Brasil a taxa de inovação esta concentrada nas empresas de
250 empregados ou mais, enquanto as empresas com 50 a 249 empregados estão com a
taxa de inovação mais baixa entre países selecionados. Entre as pequenas empresas o
número é maior que muitos países europeus, o que pode ser reflexo de um período de
desenvolvimento que o país viveu durante o período da pesquisa.
40
Tabela 1: Percentagem de empresas industriais que inovaram, total e por número de
empregados no Brasil e na Europa de 2006 a 2008 – Países Selecionados.
Países
Bélgica
Dinamarca
Alemanha
França
Itália
Holanda
Espanha
Suécia
Noruega
Brasil
Taxa de inovação
(%)
de 10 a 49
empregados (%)
de 50 a 249
empregados (%)
250 empregados ou
mais (%)
48
43
64
35
40
35
32
45
40
38
44
61
51
71
49
52
58
49
58
55
41
77
71
87
73
70
74
75
78
66
60
38
60
28
30
37
31
40
35
37
Fonte: Eurostat (2010) e IBGE (2010), elaboração própria.
Mesmo assim a diferença entre pequenas e médias empresas com a taxa de
inovação das grandes empresas reflete uma das características da indústria brasileira a
alta concentração. Tendo em vista ainda que as pequenas empresas representam 80%
das empresas pesquisadas, as médias empresas como 17% e as grandes apenas 4% e são
estas últimas que possuem o percentual mais elevado de inovação.
Os indicadores de resultado indicam uma evolução num conjunto de principais
dados de inovação no Brasil. A taxa de inovação cresceu significativamente e melhorou
a posição brasileira frente aos países europeus, além do país passar de uma
predominância de empresas inovativas em inovações de processo, para o predomínio de
empresas com inovações de produto e processo, que é o frequente em países
desenvolvidos. Apesar da evolução nestes indicadores os setores de alta e média alta
tecnologia parecem não possuir a mesma dinâmica inovativa que nos países
desenvolvidos. Além disso, as empresas brasileiras ainda apresentam uma grande
dificuldade em trazer maior diferenciação para os seus produtos e ainda há uma
significativa parcela das empresas que inovam em atividades de baixa complexidade.
Na próxima seção isto ficará mais claro quando analisarmos as proporções de
dispêndios em atividades inovativas e a percentagem do dispêndio pelo total do
faturamento.
41
3.2 Esforço em inovação
Esta seção tem como objetivo analisar os principais dados relacionados ao
esforço das empresas dos países em inovar. Busca-se entender e avaliar a evolução do
esforço em inovar no Brasil, quanto ao volume e a proporção dos dispêndios em
determinadas atividades inovativas, como também alguns outros indicadores relevantes
para se compreender fatores que interferem nos processos de inovação. Assim, é
possível identificar onde esta concentrada os maiores esforços em inovação e as
deficiências que resultam nos indicadores de vistos na seção anterior.
Os gráficos 6 e 7 mostram os gastos em P&D interno no Brasil e os gastos em
atividades inovativas sobre faturamento das empresas, respectivamente, que seguem
comportamentos distintos. Enquanto os gastos em P&D apresentam uma leve evolução,
desde a primeira pesquisa, os gastos totais em atividades inovativas parecem apresentar
uma queda.
Gráfico 6: Gastos em P&D interno no Brasil sobre o faturamento das empresas
(PINTEC I, II, II e IV).
Fonte: IBGE (2004; 2005; 2006; 2010), elaboração própria.
Os gastos que envolvem atividades inovativas, que são atividades como,
capacitação, aquisição de software novo e também P&D (OSLO, 2008), apresentam um
comportamento diferente sobre o total do faturamento. Ao contrário dos gastos em P&D
que apresentam uma tendência de alta, os gastos em atividades inovativas apresentam
não uma tendência clara, mas nas pesquisas posteriores a primeira PINTEC a
porcentagem é mais baixa. Isto pode indicar que os ganhos frutos do crescimento
econômico não estão se revertendo em investimentos para atividades inovativas ,
42
porém é possível concluir que a atividade de P&D parece estar ganhando mais
importância dentro da indústria brasileira.
Gráfico 7: Gastos em atividades Inovativas no Brasil sobre o faturamento das
empresas ( PINTEC I, II, II e IV).
Fonte: IBGE (2004; 2005; 2006; 2010), elaboração própria.
Na Tabela 2 é possível analisar os dispêndios em atividades inovativas em
proporção ao faturamento das empresas industriais brasileiras comparando-as com as
europeias. No Brasil o maior gasto das empresas inovativas é a aquisição de máquinas e
equipamentos, o que confirma o que havíamos constatado nos dados do gráfico 6.
Enquanto que na maioria dos países classificados por Viotti como sistemas nacionais de
inovação (Alemanha, França e Itália) e sistemas nacionais de aprendizado ativo (Suécia,
Noruega e Holanda), os dispêndios maiores são em pesquisa e desenvolvimento.
Dentro dos países selecionados apenas Portugal e República Tcheca possuem um
gasto percentual em P&D interno as suas firmas, sobre o faturamento, menor que o
brasileiro. No caso de gastos em P&D externo não há país com percentagem menor que
o Brasil. O motivo pode estar relacionado a fato destas empresas não ofertarem a
demanda tecnológica, que as empresas brasileiras procuram o que é provável por o
Brasil não oferecer um quadro favorável para que as relações de cooperação floresçam.
O baixo desempenho neste indicador também pode encontrar razão na falta de
capacitação tecnológica dentro das firmas brasileiras e na baixa escala que elas
trabalham já que as pequenas empresas são a parte mais significativa da pesquisa.
43
Tabela 2: Dispêndio de empresas industriais inovativas e sua proporção em relação
ao faturamento no Brasil e na Europa – Países Selecionados
Países
Bélgica
República Tcheca
Alemanha
Estonia
Irlanda
Espanha
França
Itália
Holanda
Austria
Portugal
Finlândia
Suécia
Noruega
Croacia
Brasil
Dispêndio em
P&D interno
(%)
2.01
0.69
2.28
0.49
1.34
0.96
2.84
1.07
2.21
2.43
0.74
3.45
5.40
0.92
0.82
0.80
Dispêndio na Dispêndio na
aquisição de
aquisição de
Dispêndio em
Total P&D maquinaria,
outro
P&D externo
equipamentos conhecimento
e software
externo
(%)
0.88
0.44
0.51
0.16
0.60
0.30
0.62
0.27
0.77
0.44
0.22
0.67
1.89
0.37
0.15
0.12
(%)
2.89
1.13
2.79
0.66
1.94
1.27
3.46
1.33
2.99
2.87
0.96
4.11
7.29
1.29
0.96
0.93
(%)
1.22
1.94
1.42
3.44
3.07
0.55
0.71
1.08
0.99
0.93
1.84
0.97
1.37
0.16
1.72
1.40
(%)
0.04
0.04
0.11
0.12
0.40
0.16
0.18
0.09
0.04
0.07
0.04
0.07
0.13
0.05
0.11
0.09
Fonte: Eurostat (2010) e IBGE (2010), elaboração própria.
O gráfico 8 reforça o que já foi dito a respeito à predominância de inovações
referentes à aquisição de máquinas, equipamentos e softwares. O gráfico trata da
proporção do dispêndio em atividades inovativas, a diferença na distribuição dos
dispêndios no Brasil em relação a outros países confirma a representatividade deste tipo
de inovação.
44
Gráfico 8: distribuição percentual dos dispêndios em atividades inovativas das
indústrias com atividade inovadora no Brasil e na Europa – Países Selecionados.
Fonte: Eurostat (2010) e IBGE (2010), elaboração própria.
A tabela 3 mostra a percentagem dos gastos em P&D interno em relação ao total
do faturamento das empresas de acordo com a intensidade tecnológica dos setores e
também da manufatura. Como a definição se um setor é de alta, média-alta, média-baixa
e baixa tecnologia é de acordo com sua intensidade em P&D, é lógico que a
percentagem sobre o faturamento em P&D interno é maior para as empresas de alta
tecnologia e menor para o resto.
O que a tabela mostra é que mesmo naqueles setores em que se supõe uma alta
intensidade em P&D as empresas brasileiras destinam muito pouco dos seus ganhos. O
gasto percentual em P&D sobre o total do faturamento das empresas de alta tecnologia
na Espanha é quase três vezes maior, mesmo tendo uma taxa de inovação de toda
indústria menor que a brasileira. Isto também justifica o baixo desempenho das
empresas que inovaram nestes setores no Brasil.
45
Tabela 3: Percentual de dispêndio em P&D interno sobre o faturamento das firmas
por intensidade tecnológica dos setores e o total da manufatura no Brasil e na Europa
– Países selecionados.
Países
Alemanha
Bélgica
Espanha
França
Itália
Hungria
Polonia
Romenia
Slovenia
Brasil
Alta
tecnologia
Média-alta
tecnologia
Média-baixa
tecnologia
Baixa
tecnologia
Manufatura
(%)
(%)
(%)
(%)
(%)
7.70
9.56
3.80
5.70
3.35
1.20
0.65
0.47
8.82
1.32
3.13
1.33
0.92
2.46
1.36
0.38
0.23
0.48
1.08
1.15
0.53
0.30
0.29
0.64
0.25
0.11
0.06
0.06
0.45
0.43
0.31
0.26
0.30
0.30
0.23
0.08
0.06
0.03
0.20
0.41
2.18
1.16
0.64
1.58
0.74
0.42
0.13
0.17
1.27
0.64
Fonte: Eurostat (2010) IBGE (2010), elaboração própria.
Em países como Alemanha, Bélgica, França, Itália e até na Espanha a diferença
entre o gasto em P&D nos setores de alta tecnologia e média-alta são bem grandes, mas
no Brasil esta a diferença é bem pequena. É possível que mesmo nestes setores no
Brasil, os dispêndios sejam maiores em outros tipos de atividade, o que indica possíveis
limitações de competitividade nestes setores também. Outro ponto que pode ser
destacado é que o baixo esforço destes setores neste indicador no Brasil revela uma
tendência do país se manter atrasado em relação aos países desenvolvidos e longe da
fronteira tecnológica.
A Tabela 4 reforça o baixo esforço das empresas em Pesquisa e
Desenvolvimento. O número de pessoas envolvidas em atividades de P&D no Brasil é o
mais baixo entre os países selecionados. Nesta tabela os dados foram coletados no ano
de 2008 com exceção da Alemanha em que os dados disponíveis são de 2007. A França
chega ter um número nove vezes maior que brasileiro.
46
Tabela 4: Pessoal ocupado em atividades internas de P&D nas firmas durante o
período de 2006 a 2008 para o Brasil e para a Europa – Países selecionados.
Total
Países
Pessoal ocupado
em P&D
Bélgica
República Tcheca
Alemanha (2007)
Espanha
França
Hungria
Holanda
Polônia
Slovenia
Finlândia
Brasil
41,207
32,745
364,669
137,303
243,530
14,043
64,343
17,596
7,394
41,762
45,342
Empresas
inovadoras
Pessoal ocupado
em P&D por
empresa
7,029
9,256
81,341
26,951
25,872
3,261
9,663
10,129
1,578
3,908
41,262
5.86
3.54
4.48
5.09
9.41
4.31
6.66
1.74
4.69
10.69
1.10
Fonte: Eurostat (2010) e IBGE (2010), elaboração própria.
Enfim, a análise dos dados referente ao dispêndio em atividades inovativas e em
pessoal ocupado em P&D deixa claro que o resultado das empresas inovadoras
brasileiras é fruto de um esforço concentrado em atividades como aquisição de
máquinas, equipamentos e software. Outro problema é que apesar dos gastos em P&D
serem o segundo maior dispêndio das empresas que inovaram, o esforço parece ser
muito pequeno, apesar da evolução nos dispêndios em relação às pesquisas anteriores
do IBGE. Em países com Sistemas Nacionais de Inovação e Sistemas Nacionais de
Aprendizado ativo os dispêndios maiores são justamente nesta atividade, o que indica a
permanência de características de um sistema passivo de aprendizagem.
3.3 Principais Responsáveis pela Inovação e o papel do
Financiamento Público
Nesta seção analisaremos alguns dados que as pesquisas dispõem, considerados
importantes para entender os processos inovativos em cada país. São eles: os principais
responsáveis pela inovação dentro das empresas inovadoras, as fontes de informação
mais importantes e as empresas que receberam algum tipo de financiamento público.
47
O primeiro indicador permite avaliar se as empresas são muito dependentes de
instituições ou de outras empresas para inovar. No Brasil entre as empresas que
inovaram em produto, o principal responsável é a própria empresa ou outras empresas
do grupo (86% dos casos), enquanto que na maioria dos países europeus cerca de 70%
das inovações tem a empresa como principal fonte. Ao passo que o desenvolvimento em
cooperação com outra empresa ou instituto, assim como, o desenvolvimento da
inovação por outra empresa, revelaram-se menos intensos no Brasil, comparativamente.
isso pode estar relacionado a demanda relativamente menos intensa por conhecimentos
tecnológicos das inovações de menor impacto, típicas do Brasil.
Tabela 5: Principal responsável no desenvolvimento de produto e processo nas
empresas que implementaram inovações no Brasil e na Europa - Países selecionados.
Produto
Países
Bélgica
Bulgaria
República Tcheca
Alemanaha
Espanha
França
Itália
Holanda
Aústria
Polônia
Portugal
Romania
Finlândia
Suécia
Noruega
Croacia
Brasil
empresa ou
grupo
3,496
1,677
3,979
35,528
9,964
14,311
25,979
4,619
3,546
4,788
5,003
2,944
1,700
3,944
1,476
989
21,849
71%
73%
69%
67%
83%
83%
72%
67%
72%
69%
72%
78%
67%
71%
73%
61%
86%
Processo
desenvolvido
cooperação com
por outra
outra empresa
empresa ou
ou instituto
institutos
1,068
281
1,276
11,415
1,043
2,487
8,095
1,732
999
1,032
1,409
552
724
1,240
368
409
1,937
22%
12%
22%
22%
9%
14%
22%
25%
20%
15%
20%
15%
28%
22%
18%
25%
8%
393
355
510
5,736
1,062
463
1,964
510
362
1,126
550
285
125
380
181
219
1,579
8%
15%
9%
11%
9%
3%
5%
7%
7%
16%
8%
8%
5%
7%
9%
14%
6%
empresa ou
grupo
2,969
1,564
3,609
24,460
13,663
13,135
23,689
2,259
2,536
4,427
5,379
3,900
1,531
2,581
949
952
4,779
61%
68%
50%
53%
68%
69%
59%
38%
50%
56%
62%
77%
53%
53%
59%
45%
14%
cooperação com
outra empresa
ou instituto
1,510
303
2,323
14,218
1,716
4,007
12,681
2,092
1,661
1,532
2,435
770
1,076
1,782
408
723
1,280
31%
13%
32%
31%
8%
21%
32%
35%
33%
19%
28%
15%
37%
37%
25%
34%
4%
desenvolvido
por outra
empresa ou
institutos
415
449
1,317
7,570
4,849
1,765
3,656
1,602
832
1,911
819
366
266
504
247
451
28,196
8%
19%
18%
16%
24%
9%
9%
27%
17%
24%
9%
7%
9%
10%
15%
21%
82%
Fonte: Eurostat (2010) e IBGE (2010), elaboração própria.
Os principais responsáveis por inovar em processo no Brasil são outras empresas
ou institutos. Na Europa a maioria das empresas que inovaram em processo tem como
principal responsável a própria empresa ou outra empresa do grupo, com diferenças
menores ou maiores em relação à segunda posição. Em segundo lugar, no Brasil o
principal responsável indicado pelas empresas inovadoras em processo foi a própria
empresa ou outra empresa do grupo. Neste caso, na Europa, esta colocação ficou com
inovações em cooperação com outra empresa ou instituto, para a maioria dos países.
O motivo para o principal responsável pelas inovações de processo ser outra
empresa ou instituto é o fato de as inovações em processo no Brasil serem na grande
48
maioria voltadas à aquisição de máquinas e equipamentos. O que indica que as
empresas brasileiras possuem dependência de outras empresas e institutos para a
realização de inovações.
O pequeno número de empresas cujo principal responsável pela inovação em
processo é cooperação com empresas ou institutos indica uma baixa sinergia entre as
empresas e o quadro institucional. O que leva a concluir que existe uma baixa interação
entre os elementos do Sistema Nacional de Inovação brasileiro (VIOTTI, 2005).
O segundo dado, que pode ser observado no Gráfico 9, mostra o percentual total
de empresas que receberam algum tipo de financiamento público para inovação sobre as
empresas que inovaram. O objetivo é avaliar o apoio que as empresas obtêm dos
governos para atividades inovativas, em termos de financiamento. A falta de
financiamento pode ser uma barreira grande para o desenvolvimento de atividades
inovativas. O financiamento público é fundamental na promoção, difusão e uso
conhecimento útil, especialmente para inovações mais complexas que exigem formas de
financiamento em maior escala.
Gráfico 9: Percentual e número de empresas que receberam qualquer tipo de
financiamento público no Brasil e na Europa – Países selecionados.
Fonte: Eurostat (2010) IBGE (2010), elaboração própria.
Entre as empresas industriais dos países selecionados somente Portugal com
12% das empresas que receberam qualquer tipo de financiamento público ficou abaixo
do Brasil. Nos outros países o percentual é maior que 16% que é número no Brasil.
Ainda que a diferença entre empresas que receberam financiamento no Brasil para os
países europeus seja bastante elevada, esta diferença já foi maior em outras pesquisas,
como na primeira pesquisa da PINTEC (VIOTTI, 2005). A diminuição desta diferença
49
deve encontrar razão em dois motivos; o primeiro é que o financiamento público para
inovação aumentou no Brasil do período da primeira pesquisa para 2008, prova disso
foram os programas pró-inovação e juro zero lançados pela Finep e dos cartões do
BNDES que possibilitam a compra de máquinas e equipamentos a juros mais baixos
que praticados pelo mercado (MACANEIRO; CHEROBIM, 2009). Em segundo lugar
boa parte do financiamento para inovação na Europa vinha de fundos da União
Européia (VIOTTI, 2005), os quais, com a crise, que teve início em 2008, devem ter-se
reduzido
Em suma, as empresas brasileiras têm como principal responsável pelas
inovações a própria empresa ou outra empresa do grupo em inovações de produto. Em
processo o principal responsável pela inovação para a maioria das empresas no Brasil,
são outras empresas ou institutos, diferentemente da maioria das empresas dos países da
Europa que atribuíram como principal responsável a própria empresa ou outra empresa
do grupo. Como principal fonte de informação as empresas no Brasil atribuíram, assim
como as europeias, a própria empresa ou outra empresa do grupo. Em termos de
financiamento público a inovação o resultado brasileiro melhorou mas continua muito
abaixo dos países europeus mais avançados.
3.4 Síntese
Ao longo das pesquisas de inovação tecnológica do IBGE os principais
indicadores de resultado inovativo e esforço para inovar apresentam uma evolução. No
período de 2006 a 2008 no Brasil 38% das empresas implementaram algum tipo de
inovação. Este percentual aumentou significativamente em relação às pesquisa
anteriores e nos deixa a frente de países como Espanha (32%), França (35%) e Holanda
(35%).
No setor de alta tecnologia, 56% das empresas brasileiras implementaram algum
tipo de inovação, em comparação com países da Europa. Este é o pior resultado dentro
dos países selecionados. Países como Alemanha (91%), Noruega (90%) e Bélgica
(86%) apresentam uma taxa de inovação muito superior a brasileira e são os que
possuem as maiores taxas neste setor. Entre as empresas dos setores de média-alta
tecnologia o desempenho se repete. O percentual de 47% das empresas que inovaram é
pior se comparado com os países da Europa, para estes os que mais inovaram foram
50
Alemanha (87%), Bélgica (64%), Irlanda (63%), Suécia (63%) e Noruega (63%). O
desempenho das empresas brasileiras dentro de todo o setor manufatureiro repete o
resultado de todas as empresas industriais (38%) e é o desempenho mais baixo
comparado aos países europeus.
No quadro das empresas brasileiras que implementaram inovações, 17%
implementaram só inovações de produto, 39% só de processo e 44% de produto e
processo. Em relação a primeira pesquisa da PINTEC o resultado evoluiu de uma
predominância de inovações de processo para empresas que inovaram em produto e
processo. Apesar disto as inovações de processo ainda são bem representativas no
quadro de empresas que inovaram.
Apenas 19% das empresas que inovaram em produto implementaram uma
inovação de produto nova para o mercado no Brasil, ao comparar este desempenho aos
países europeus constata-se um resultado muito abaixo. O país europeu com percentual
mais baixo é a Alemanha, pois suas empresas trabalham em um nível mais globalizado
do que doméstico, ainda assim seu resultado é mais que o dobro que o brasileiro.
No Brasil a taxa de inovação esta concentrada nas empresas com mais de 250
empregados e estas representam apenas 4% das empresas da pesquisa de inovação
tecnológica do IBGE.
Nas empresas que implementaram inovação a atividade inovativa com maior
dispêndio é a aquisição de máquinas, equipamentos e software. Isto reforça a
representatividade das inovações de processo nas empresas que inovaram brasileiras. O
baixo esforço em atividades de pesquisa e desenvolvimento é preocupante,
especialmente nos setores de alta e média-alta tecnologia, já que este tipo de atividade é
responsável na maioria dos casos para o desenvolvimento de inovações com maior
diferenciação e impacto.
O principal responsável para o desenvolvimento de inovações para as empresas
que inovaram em produto no Brasil é a própria empresa ou outra empresa do grupo
assim como para os países europeus. Em processo o principal responsável foi outra
empresa ou instituto, enquanto que na Europa na maioria dos países o escolhido foi a
própria empresa ou outra empresa do grupo.
Apenas 16% das empresas brasileiras receberam algum tipo de financiamento
público, embora este resultado tenha aumentado ele é superior apenas que o de Portugal
(12%) entre os países selecionados.
51
O resultado da Pesquisa de Inovação Tecnológica do IBGE para o período de
2006 a 2008 apresenta uma evolução nos dados de inovação tanto quantitativa quanto
qualitativa. Apesar disto, ainda não foi o suficiente para alterar as características
passivas em nosso Sistema Nacional de Aprendizado, que possui predominantemente
inovações de processo de pouca relevância e inovação com baixo grau de novidade e
que revelam a baixa diferenciação dos produtos brasileiros frente as empresas dos
outros países.
52
4 CONCLUSÃO
Os principais gargalos e limitações do Sistema Nacional de Inovação brasileiro
ou Sistema de Aprendizado passivo são identificados nos domínios econômico,
institucional e tecnológico. Estes domínios são compostos por elementos que em suas
relações dão origem a um quadro de fatores que condicionam o desenvolvimento de
inovações de maior impacto. Os resultados da pesquisa de inovação tecnológica do
IBGE, de 2000 a 2008, mostram que apesar de uma evolução nos dados de inovação
este quadro se mantém.
Os elementos institucionais do SNI brasileiro são insuficientes na promoção da
estabilidade necessária para o desenvolvimento e a evolução das trajetórias
tecnológicas. Embora o financiamento público as atividades inovativas tenha
aumentado, o quadro institucional, ao invés de promover ações de longo prazo, parece
dar mais apoio àquilo que é mais imediatista. Isto acaba por condicionar decisões de
investimentos e de projetos tantos no meio privado quanto público, o resultado não é
favorável ao aprendizado criativo.
Os elementos dentro dos outros domínios dão suporte a este cenário negativo, no
caso das políticas econômicas, nos últimos anos, foi conquistada a estabilidade
monetária, porém o custo foi pago foi à contração da indústria. Dentro do domínio
tecnológico a infraestrutura é básica, projetos tecnológicos que pretendiam ir além
foram engavetados, pois tinham o apelo político necessário, como foi o caso dos
projetos voltados para Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).
O resultado deste quadro desenvolvido no Brasil dificulta o desenvolvimento de
inovações com maior impacto e diferenciação, que poderiam gerar uma competitividade
da indústria nacional maior. O resultado são processos inovativos que em sua maioria
são resultados de inovações em processo voltadas para aquisição de máquinas,
equipamentos e software e inovações de produto em que a grande maioria possui um
baixo grau de novidade, ou seja, são inovações novas somente para firma.
Outro resultado deste quadro também se reflete nos setores de alta e média-alta
tecnologia, nos quais o percentual das empresas que inovaram é baixo se comparado aos
países com Sistemas Nacionais de Inovação mais maduros. O esforço para inovar em
P&D também é baixo em setores em que este tipo de atividade deveria ser bem superior
aos outros, e que no caso europeu o são. Estes setores dependem ainda mais de um
53
quadro econômico, institucional e social mais favorável por serem setores novos e que
necessitam de investimentos com maior escala. No caso de países como o Brasil é
importante o apoio do governo a projetos que promovam e desenvolvam inovações, pois
estes setores são setores chaves do atual paradigma da Tecnologia Informação
Comunicação (VILASCHI, 2005).
Todos estes aspectos resultam em uma avaliação sobre inovação no Brasil com
características passivas e por isso a classificação de Viotti (2005) como um Sistema
Nacional de Aprendizado passivo se encaixa melhor para o caso brasileiro. O sistema
brasileiro é caracterizado pela dominância de inovações de baixo grau de novidade e
pouca diferenciação de mercado. Isto é preocupante especialmente quando se observa os
setores do atual paradigma tecnoeconômico, os setores de alta tecnologia, que seguem a
mesma caracterização que a indústria em geral. Prova disto é o baixo dispêndio em
P&D que estes setores possuem.
Tendo em vista que as janelas de oportunidade para o desenvolvimento se abrem
ao final de um paradigma e ao início de outro, para que se possa aproveitar a abertura
desta janela é necessário que o país desenvolva uma capacitação tecnológica do
paradigma que esta em suas fases finais, aproveitando-se das forças que conduzem as
tecnologias aos países periféricos (PEREZ, 2001). É importante que ao longo de um
processo de catching up o país desenvolva capacitação criativa que repercuta em
inovações com impactos cada vez maiores. Caso o contrário o país pode cair em uma
armadilha de catching up dependente, que é quando um país depende sempre de
transferência tecnológica fruto das fases finais de uma revolução para alcançar a
fronteira (AREND; FONSECA, 2012). Para que isso não ocorra é necessário um
esforço do quadro institucional que condicione positivamente o desenvolvimento dos
setores de alta tecnologia, para aproveitar rapidamente a oportunidade de absorção
tecnológica e os pequenos ganhos frutos das fases finais de uma trajetória tecnológica,
repercutindo os ganhos para toda a indústria.
Desta maneira, cria-se uma base para o florescimento de um novo paradigma e
assim se dá início a um processo que começa com inovações localizadas até que evolua
e dê origem a inovações com impactos econômicos cada vez maiores. Uma estratégia de
desenvolvimento deve trabalhar para o desenvolvimento gradual das inovações
aproveitando as janelas de oportunidade que se abrem entre uma revolução e outra para
dar início a trajetórias de longos períodos de crescimento (PEREZ, 2001).
54
Um exemplo de estratégia é argumentado por Perez (2010) que propõe uma
estratégia para desenvolvimento dos países latinos americanos, baseado nas
oportunidades originadas das fases finais do paradigma das TIC´s e da identificação de
áreas de potencial tecnológico que a América Latina possua, vantagens comparativas
em relação aos outros países, em especial à Ásia. Segundo Perez (2010) a dotação de
recursos naturais é uma vantagem que os países da América Latina têm sobre os outros,
e que o seu desenvolvimento pode gerar capacidades para indústrias de biotecnologia e
ciência dos materiais que indicam serem, possivelmente, alguns dos futuros
protagonistas da próxima revolução tecnológica.
O presente trabalho procurou fazer uma análise a nível nacional da atividade
inovativa no Brasil, através da abordagem neoschumpeteriana. É possível que as
questões estudadas aqui possam repercutir em novos estudos, tanto do autor, como dos
leitores. Deixo aqui algumas sugestões de possíveis trabalhos futuros: Fatores
institucionais que a afetam as transformações tecnológicas no Brasil; Estudo dos setores
de Alta e média-alta tecnologia em países periféricos; Os condicionantes do
aprendizado criativo no Brasil; e por último, sugiro uma exploração de uma estratégia
de desenvolvimento tecnológico, como fez Perez para América Latina, porém um
estudo centrado apenas para o Brasil.
Enfim, no Brasil, o desenvolvimento de inovações possui limitantes e gargalos
que condicionam as ações dos atores e que tornam a inovação uma acontecimento raro.
O resultado da avaliação deste quadro é a contínua predominância de características nos
processos de inovação no Brasil, que o permitem classifica-lo como um Sistema
Nacional de aprendizado passivo. Para superar os fatores que impedem o
desenvolvimento é necessária uma estratégia de desenvolvimento tecnológico que
capacite criativamente o sistema brasileiro e que desenvolva um ambiente favorável
para o florescimento de inovações de maior impacto, aproveitando as oportunidades
frutos das fases finais de uma revolução tecnológica e começo de outra.
55
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uma avaliação da atividade de inovação no brasil em perspectiva