1
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
LATO SENSU EM FISIOTERAPIA TRAUMATO-ORTOPEDICA
Tratamento Fisioterápico na Síndrome do Impacto: Revisão bibliográfica
Tratamento Fisioterápico na Síndrome do Impacto:
Revisão bibliográfica
Physiotherapy Treatment in Impingement Syndrome: Literature review
Autor: Elane Chaves Custódio Olivier
Orientador: Geórgia Danila do Oliveira
ELANE CHAVES CUSTÓDIO OLIVIER
Brasília – DF 2010
2
Elane Chaves Custódio Olivier
TRATAMENTO FISIOTERÁPICO NA SÍNDROME DO IMPACTO:
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Artigo apresentado ao curso de Pós-Graduação em
Fisioterapia Traumato-Ortopédica da Universidade
Católica de Brasília, como requisito parcial à
obtenção do titulo de Especialista em Fisioterapia.
Orientadora: MSC Geórgia Danila Oliveira
Brasília 2010
3
Resumo
Objetivos: descrever os tratamentos fisioterápicos utilizado para a Síndrome do Impacto,
por meio de uma revisão bibliográfica publicada nos últimos 10 anos. É necessária uma avaliação
minuciosa de forma que a origem do impacto seja esclarecida o mais breve possível e o tratamento
proposto conforme evolução da patologia, pois a conduta utilizada deverá respeitar a fase da
doença.
Métodos: A amostra foi composta por estudos de revisão. Foram utilizados dois testes de
relevância para a seleção dos artigos a serem incluídos na amostra. Os artigos foram selecionados
nas bases de dados MEDLINE, LILACS, PUBMED e COCHRANE apos consulta dos unitermos ao
DECS (Descritores em Ciências da Saúde). As palavras chave utilizadas foram: ombro, síndrome e
fisioterapia.
Resultados: Após busca inicial as bases de dados que resultou em 214 resumos, estes
passaram pelo Teste de Relevância I, sendo identificados 15 resumos selecionados e 199 resumos
não selecionados em função da inadequação ao tema, ao ano e idioma de publicação. Os resumos
selecionados tiveram seus artigos lidos, e foi aplicado o Teste de Relevância II excluindo 4 artigos
em função da não descrição da metodologia, não delimitação do tipo de estudo e não descrição da
definição de Síndrome do Impacto e do método utilizado do tratamento fisioterápico.
Conclusão: A intervenção fisioterapêutica, na Sindrome do Impacto, é considerada a
primeira escolha de tratamento, por melhorar o equilíbrio muscular da região, aumentar a
funcionalidade do membro acometido e possibilitar retorno mais rápido às atividades de vida diária,
com diminuição das dores.
Palavras-chave: Ombro, Síndrome e Fisioterapia.
4
Introdução
Os componentes ósseos de o complexo articular do ombro inclui três ossos: a escápula a
clavícula e o úmero. (1,3) e completado anteriormente pelo manúbrio do esterno (2). É fato que
existem várias classificações diferentes das articulações do complexo do ombro, mas esse artigo
terá como base a descrição de Ciullo (1996) que considera que o ombro não está constituído por
uma articulação, mas por seis articulações, sendo três verdadeiras e três funcionais. As verdadeiras
são formadas pelas articulações esternoclavicular, acromioclavicular e glenoumeral. As funcionais
são formadas pelas escapulodorsal, subacromial e sulco bicipital (intertubercular).(22)
A articulação acrômio-clavicular é o ponto de fixação das escápulas às clavículas, essa é
uma articulação sinovial plana, e está localizada na porção externa da clavícula, mais
especificamente do processo acromial da escápula até a extremidade distal da clavícula (2). Além
de ser estabilizada pelos ligamentos capsulares, é auxiliada pelos ligamentos acromioclavicular e
coracoclavicular.(8)
A articulação esternoclavicular, funciona em todos os movimentos do cíngulo do Membro
Superior, funciona como triaxial porque a clavícula se articula com o manúbrio do esterno e
também com a primeira costela. A clavícula mantém a articulação glenoumeral em distância correta
do esterno. Um disco articular aumenta o grau de ajuste e atua como amortecedor de choques para
as forças transmitidas da região do ombro. O ligamento costoclavicular também protege do
deslocamento excessivo. (8,9,3)
A articulação escapuloumeral ou glenoumeral é a mais importante no ponto de vista
biomecânico, é considerada a articulação que apresenta maior amplitude de movimento, por isso
observa notável diminuição de sua estabilidade. Outros fatores importantes para que haja uma
menor estabilidade é o fato de a articulação apresentar uma frouxidão capsular considerável e o fato
de a superfície da fossa glenóide ser extremamente rasa para acomodar a grande e redonda cabeça
umeral. Na periferia da cavidade glenóide, existe uma estrutura fibrocartilaginosa denominada lábio
ou lábrum Glenoidal que reveste o perímetro da cavidade glenóide e serve para aprofundar a
articulação.(22)
A artiulação Glenoumeral é classificada como uma articulação esferóide, capaz de realizar
movimentos em três planos: flexão-extensão/hiperextensão; abdução-adução; rotação internarotação externa; abdução-adução na horizontal além da circundução. A capsula articular é reforçada
pelos ligamentos glenoumeral que se dividem em superior, médio e inferior e os ligamentos
coracoumeral (5, 7).
Esses ligamentos e os tendões do manguito rotador formam um conjunto estabilizador
estático/dinâmico fundamental na dinâmica do ombro. O manguito rotador é composto pelos
tendões dos músculos subescapular, supraespinhal, infraespinhal e redondo menor, de forma que a
fusão destes desenha um capuz que cobre a cabeça do úmero superiormente (11). A função
principal do manguito rotador, além de participarem efetivamente na rotação interna (subescapular),
abdução e rotação externa (supraespinhal) e abdução na horizontal e rotação externa (infraespinhal
e redondo menor), é a de manter o úmero centralizado na cavidade glenoide durante algum
movimento de elevação anterior (10,11).
5
A cartilagem articular é lisa e recebe pouco suprimento sanguíneo, ficando sua nutrição
pelo líquido sinovial, secundário as pressões aplicadas nessa articulação, e pela pressão negativa
intra-articular(4). Acima da articulação glenoumeral existem duas bursas, localizadas de forma a
evitar constantes atritos entre as partes ósseas e os tecidos moles adjacentes (4,7), denominadas
subescapular e subacromial. Especificamente, essas bursas localizam-se numa zona de deslizamento
entre um espaço virtual formado pelo arco acromioclavicular que, por sua vez, é formado pela
relação do osso acrômio com o processo coracoide da clavícula. Essa relação se dá pelo ligamento
coracoacromial de maneira que um teto protetor não permita impacto sobre as estruturas
osteoligamentares (7).
Outros músculos importantes na estabilização desta articulação são o bíceps braquial, na sua
porção longa, e o deltoide. Anteriormente ao manguito rotador, passa o tendão do bíceps braquial
que transpõe a cabeça do úmero inserindo-se proximalmente no tubérculo supraglenoideo da
escápula (11) e distalmente na tuberosidade radial do osso rádio (11). Apesar de não fazer parte do
manguito rotador, a porção longa do bíceps desempenha ação parecida, de forma a favorecer uma
depressão e compressão da cabeça do úmero contra a cavidade glenoide, durante a contração
muscular, especialmente no movimento de rotação externa do ombro (4). O deltoide origina-se no
terço externo da clavícula, parte superior do acrômio e espinha da escápula e insere-se distalmente
na tuberosidade deltoide do úmero (7), sendo essencial para os movimentos de flexão anterior e
abdução do ombro. No entanto, uma ação de elevação da cabeça do úmero é realizada durante sua
contração.
Existe uma notável relação entre os movimentos do ombro e da cintura escapular. Observase que os primeiros 30 graus de movimentação da articulação do ombro ocorrem de maneira pura.
Mas, após essa movimentação inicial verifica-se que, para cada 2 graus de abdução ou flexão de
ombro, a escápula realiza uma rotação lateral de grau 1. Essa relação de 2:1 é conhecida como ritmo
escapuloumeral.(22)
Síndrome do Impacto
Sindrome do Impacto, impingement ou do pinçamento é o termo geral
designativo de variadas alterações no ombro que se manifestam por dor e limitação funcional,
sobretudo quando o manguito rotador (especialmente o supra-espinhal), a cabeça longa do bíceps e
a bursa subacromial, são comprimidas ou impactadas pelas as estruturas ósseas entre a grande
tuberosidade e a porção ântero-inferior do acrõmio.(23)
A patogênese da Síndrome do impacto pode ser atrito (degeneração),
hipovascularização e impacto subacromial, são os fatores mais freqüentes citados. De acordo com
Moreira e Carvalho (11), foi Neer, em 1972, quem apresentou as primeiras descrições sobre a
fisiopatologia e estágios do quadro clínico da Sindrome do Impacto do Ombro, apesar das primeiras
cirurgias reparadoras do manguito rotador terem sido realizadas no início do século XX por
Codman.
A hipovascularização da área crítica de Codman é citada por muitos autores
como o ponto inicial da degeneração e da ruptura do manguito rotador, essa área de inserção do
supra-espinhal com suprimento sanguíneo inadequado. Essa tendinopatia pode-se agrupar em
primárias: aumento de volume das estruturas no espaço subacromial ou secundárias: estreitamento
6
do espaço subacromial, calcificação do ligamento coracoacromial, fratura deslocada da grande
tuberosidade.(23)
Conforme Moreira e Carvalho (11),é de natureza microtraumática e degenerativa, as
inúmeras passagens do manguito rotador sob o arco coracoacromial resultam na irritação contínua
do tendão do supraespinhal, estrutura com maior acometimento, com aumento da espessura da
bursa subacromial por fibrose, desta forma, o espaço, já comprometido, se torna cada vez mais
reduzido. A degeneração ocorre pelos constantes atritos causados pela compressão das partes moles
contra o arco coracoacromial e a permanência do mecanismo de impacto pode causar lacerações
parciais ou totais no manguito rotador.
Outro mecanismo que pode predispor a síndrome é a formação anatômica, pois
pessoas com acrômio plano e pouca inclinação, presença de esporões na articulação
acromioclavicular ou que possuam cabeça umeral posicionada mais superiormente apresentam
maiores chances de desenvolver a patologia (7). A fraqueza dos músculos do manguito rotador
também pode levar a uma superiorização do úmero, ocasionando o impacto, além disso, uma
hipovascularização tendinosa pode ocorrer, enfraquecendo o tendão do supraespinhal ao nível de
sua inserção. Também pode ser causada por depósitos de cálcio no tendão como parte de uma
resposta de cicatrização.(1)
Pode acometer ambos os lados com prevalência superior em indivíduos com idade
entre 40 a 50 anos (1). Outro aspecto relevante para a incidência da patologia é sua relação com
algumas atividades de trabalho, sendo comuns em trabalhadores que exercem funções com o
membro superior em elevação por longos períodos. O tipo de atividade esportiva também deve ser
considerada, sendo comuns sintomas aparecerem em atletas que praticam voleibol, natação, peteca,
arremessos de peso e dardos, tênis, dentre outros (11). “Podem levar a microtraumas de uso
excessivo se a musculatura estiver muito tensa ou descondicionada.”
A dor que os indivíduos sentem é proporcional ao grau de inflamação dos tecidos
periarticulares. Contudo, durante a noite, a manifestação dolorosa geralmente aumenta e isso se
deve ao estiramento das partes moles (16). De forma a favorecer a identificação evolutiva da
patologia, Neer, em 1995, descreveu a fase clínica em três: a fase I é caracterizada por dor aguda,
hemorragia e edema, causados pelo uso exagerado do membro superior no trabalho ou esporte,
ocorrendo tipicamente em indivíduos jovens até 25 anos, cessando com o repouso; na fase II fica
evidenciado um processo inflamatório acarretando fibrose com espessamento da bursa subacromial
e tendinite do manguito rotador, sendo comum em pacientes entre 25 e 40 anos; enfim, na fase III
ocorrem lacerações parciais ou totais do manguito rotador ou bíceps braquial associado a alterações
ósseas, sendo prevalente em pacientes a partir da 4ª década de vida.(4,23)
Os principais métodos diagnósticos utilizados para identificação das lesões do
manguito rotador são ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância nuclear
magnética, e o mais utilizado é o raio -X na incidência ântero-posterior (AP) ou perfil, em vários
ângulos, pode auxiliar na identificação de alterações estruturais. A incidência AP com a manobra de
rotação interna verifica-se achatamento, esclerose e cistos subacromiais na tuberosidade maior do
úmero, na AP com 30º caudal observa-se a presença ou não de osteófito ântero-inferior no acrômio
7
e o RX da escápula, em perfil, possibilita ver a forma do acrômio e pode confirmar a presença do
osteófito acromial (16).
Esse trabalho tem como objetivo descrever os tratamentos fisioterápicos utilizado para a
Síndrome do Impacto, por meio de uma revisão bibliográfica publicada nos últimos 10 anos. É
necessária uma avaliação minuciosa de forma que a origem do impacto seja esclarecida o mais
breve possível e o tratamento proposto conforme evolução da patologia, pois a conduta utilizada
deverá respeitar a fase da doença.
Metodologia
Amostra
A amostra foi composta por estudos de revisão dos tipos sistemática e metanalise; relatos de
caso; ensaios clínicos; ensaios clínicos controlados; ensaios clínicos controlados e aleatórios;
estudos multicêntricos; estudos comparativos e estudos de avaliação. Foram utilizados dois testes de
relevância para a seleção dos artigos a serem incluídos na amostra. O Teste de Relevância I,
aplicado aos resumos, continha os critérios de inclusão: abordagem do tema ombro com relação a
síndrome; publicação entre 2000 e 2010; publicação nos idiomas português, espanhol e inglês; O
Teste de Relevância II, aplicado aos artigos lidos na integra, continha os critérios de exclusão: não
disponibilidade em território nacional; não estar relacionado com síndrome do impacto; definição
da síndrome do Impacto inadequada; não especificação dos objetivos, e do método utilizado do
tratamento fisioterápico, não descrição da amostra.
Busca na literatura
Os artigos foram selecionados nas bases de dados MEDLINE, LILACS, PUBMED e
COCHRANE apos consulta dos unitermos ao DECS (Descritores em Ciências da Saúde). As
palavras chave utilizadas foram: ombro, síndrome e fisioterapia. Foi feita a busca em todas as bases
de dados utilizando-se as palavras chaves e a combinação do artigo ser publicado nos últimos 10
anos.
Localização e seleção dos estudos
Após busca inicial as bases de dados que resultou em 214 resumos, estes passaram pelo
Teste de Relevância I que determinou os selecionados e os não selecionados de acordo com os
critérios de inclusão já citados.
O Teste de Relevância I foi aplicado aos 214 resumos, sendo identificados 15 resumos
selecionados e 199 resumos não selecionados em função da inadequação ao tema, ao ano e idioma
de publicação.
Os resumos selecionados tiveram seus artigos lidos, e foi aplicado o Teste de Relevância II.
Este teste foi utilizado para selecionar os artigos incluídos e os excluídos segundo os critérios de
exclusão. O Teste de Relevância II aplicado aos 15 resumos selecionados incluiu 11 artigos e
excluiu 4 artigos em função da não descrição da metodologia, não delimitação do tipo de estudo e
não descrição da definição de Síndrome do Impacto e do método utilizado do tratamento
fisioterápico.
8
Resultado e Discussão
A síndrome do impacto é muito comum em indivíduos adultos. É responsável por prejuízos
funcionais. A intervenção fisioterapêutica, nessa situação, é considerada a primeira escolha de
tratamento, por melhorar o equilíbrio muscular da região, aumentar a funcionalidade do membro
acometido e possibilitar retorno mais rápido às atividades de vida diária, com diminuição das dores.
O tratamento conservador é fundamentado em medidas analgésicas e antiinflamatórias
associados a um programa de reabilitação contínua e individualizada, e o tratamento cirúgico,
recomendado nos casos em que o quadro clínico se mantém inalterado, mesmo após tratamento
conservador de três a seis meses. A descompressão do espaço subacromial se faz possível pela
remodelação da borda ântero-inferior do acrômio ou excesso de curvatura acrômioclavicular e
ressecção de osteófitos acrômio claviculares ou ligamento coracoacromial (11).
Os objetivos gerais no tratamento fisioterapêutico são alívio do quadro álgico, ganho de
amplitude de movimento (ADM) e melhora da força muscular (FM) de maneira que permita maior
funcionalidade no membro acometido. O tratamento fisioterapêutico na fase inicial da Síndrome
tem como objetivo a redução ou abolição da dor e diminuição do processo inflamatório instalado,
sendo importante evitar exercícios exagerados que possam agravar ainda mais o quadro agudo,
substituir as atividades que utilizem o membro superior acima de 90º, suspensão das atividades
repetitivas, eventual repouso em tipóia, uso de gelo (fase aguda) e calor (após fase aguda).(23)
Nesta fase, o uso da TENS (estimulação nervosa elétrica transcutânea) é indicada no
controle e modelação da dor e a crioterapia, por causa do efeito de resfriamento, pode favorecer a
redução da inflamação (20). Além dos exercícios pendulares (Codman), após alívio da dor e
redução do processo inflamatório agudo, os exercícios para ganho de ADM e melhora da
flexibilidade dos músculos rotadores laterais e mediais do ombro, treino da flexão-extensão e
abdução deve ser inserido no programa de reabilitação.
Conforme Hall e Brody (21), o tratamento isolado da fonte da dor proporciona apenas
alívio temporário, logo, a cinesioterapia ou exercícios terapêuticos devem fazer parte do plano de
tratamento fisioterapêutico, a fraqueza persistente da musculatura do ombro manterá alterado o
ritmo escapuloumeral, favorecendo assim a impactação subacromial contínua. A biomecânica
demonstra que o reforço muscular possibilita que a cabeça do úmero se afaste dinamicamente do
acrômio, aliviando o fenômeno de compressão. (23)
Quanto ao treinamento com exercício excêntrico, recentemente tem sido renovado o
interesse em seu uso no tratamento de Síndrome do Impacto. O exercício excêntrico envolve o
alongamento ativo da unidade de tendão muscular. Seus efeitos sobre o tecido lesado têm sido
reportados como reduções estatisticamente significativas no espessamento do tendão e na redução
do sinal intratendíneo, após três meses de treinamento excêntrico, sugerindo melhora cicatricial com
depósito de colágeno. (23)
Os exercícios excentricos auxiliam na reorganização do tecido, facilitando o processo
de reparo, influenciando a estrutura e comportamento mecânico de tecidos, e afeta a dinâmica dos
fluidos. Segundo Barbosa a manipulação articular, apresentando movimento minúsculo de alta
velocidade no meio do arco, que promove a quebra de aderências, ativa os órgãos tendinosos de
Golgi, podendo alterar drasticamente as condições dos tecidos que envolvem a articulação. Logo
9
teriam como objetivo direcionar o processo de remodelamento tecidual, reduzindo a proliferação de
tecido fibrótico, diminuindo a formação de pontes cruzadas de colágeno e de adesões do tendão aos
tecidos que o cercam. Influenciaria também a dinâmica dos fluidos, que ajudaria a reduzir o
acúmulo de subprodutos da inflamação, e, assim, modulando o processo de dor.(24)
Segundo MORELLI & VULCANO (1993),(25) a maioria das patologias do ombro devem
ser tratadas conservadoramente. Os autores indicam que o trabalho consiste em ganho de amplitude
e força muscular. Mostram importância na estabilidade e depressão da cabeça umeral realizada pelo
manguito rotador, e a importância da rotação externa na elevação do membro superior. Porém,
relatam que a cinesioterapia apresenta pouca valia para o tratamento do impacto subacromial, pois
apontam que os exercícios podem promover conflitos da área inflamada contra os pontos de
estenose.
Já no trabalho de HALBACH & TANK (1993)(26), descrevem a importância do
fortalecimento dos músculos estabilizadores da escápula, principalmente os rotadores externos
(trapézio e serrátil anterior), pois, se estes estiverem fracos, a rotação escapular, ou seja, o ritmo
escapuloumeral poderá estar alterado, precipitando o impacto subacromial.
BARBOSA et all (24), Verificou a influência de a mobilização articular, na recuperação
inicial de pacientes com Síndrome do Impacto, comparando-se dois protocolos de tratamento,
compostos de aplicação de ultra-som terapêutico na área do tendão afetado, e de treinamento
excêntrico para a musculatura do mesmo, acompanhados ou não de manobras de mobilização
articular.O grupo A recebeu intervenção com a aplicação de ultra-som terapêutico, treinamento
excêntrico da musculatura e mobilização articular nos movimentos acessórios do ombro. Já no
grupo B, utilizou-se apenas ultra-som terapêutico e treinamento excêntrico. Como resultado teve um
ganho funcional maior no grupo A, ou seja, quando as técnicas de mobilização articular fizeram
parte do tratamento.
LIMA et all (28) Analisou a funcionalidade e a intensidade da dor de indivíduos portadores
da Síndrome do Impacto, submetidos a programa de intervenção fisioterapêutica. Após as oito
primeiras sessões de intervenção fisioterapêutica (crioterapia, mobilização, alongamento,
fortalecimento e propriocepção), observou-se melhora estatisticamente significante (p<0,05) de
27% no escore de dor. Na avaliação final, após a segunda fase de intervenção (mobilização,
alongamentos e fortalecimento) observou-se melhora de 47%. Analisando-se os componentes da
Escala de funcionalidade da UCLA, observou-se melhora estatisticamente significante de 162% no
escore de dor, de 50% na função do ombro, de 35% na flexão anterior ativa, de 500% na satisfação.
A força muscular melhorou 12%, mas essa diferença não alcançou significância estatística, após a
intervenção, houve melhora estatisticamente significante de 92% da funcionalidade dos indivíduos.
ÇITAKER et al. (31) compararam dois grupos de portadores de síndrome do impacto: um
tratado com mobilização e outro com facilitação neuromuscular proprioceptiva. Após 20 sessões,
verificaram que os dois tipos de intervenção apresentaram resultados satisfatórios, porém o grupo
que realizou exercícios de mobilização referiu acentuada diminuição da dor em relação ao outro
grupo. avaliaram a funcionalidade de indivíduos com síndrome do impacto, utilizando a UCLA, e
encontraram melhoras significantes após 20 sessões de intervenção. Essa melhora ocorreu somente
nos indivíduos com síndrome do impacto, com tendinite e fibrose (estágio II).
10
WALTHER et al. (32) compararam indivíduos que realizaram tratamento fisioterapêutico
convencional, exercícios de fortalecimento muscular, somente com instruções sobre exercícios, e
indivíduos que utilizaram brace funcional. Também verificaram que ambos exibiram diminuição
significante da dor quando avaliados pela Escala Visual Analógica. Os dados do presente estudo
indicaram que, após 16 sessões de tratamento, houve melhora da dor e da funcionalidade, avaliados
pela UCLA. Esses achados confirmam que até mesmo indivíduos portadores de disfunções crônicas
(estágio II da síndrome do impacto) podem ser beneficiados com o tratamento fisioterapêutico
LÁZARO et all (29) Elaborou um protocolo de atendimento fisioterapêutico, em 10 terapias,
para pacientes com alterações cinésio-funcionais do manguito rotador, avaliou os resultados obtidos
com o tratamento baseado em diatermia com ondas curtas (OC) e/ou microondas (MO), ultra-som
(US) e cinesioterapia. Dividiu-se o protocolo em 4 fases, com objetivos e condutas diferentes: Fase
I: reduzir o processo inflamatório, alívio da dor e tumefação. Nesta fase os recursos utilizados
foram US, OC ou MO; exercícios pendulares de Codman, com halteres de 1 kg, e alongamento
ativo de supra-espinhoso; Fase II: retardar a atrofia muscular e manter ou aumentar flexibilidade.
Nesta fase foram acrescentados os exercícios de ADM, com bastão, e fortalecimento isométrico;
Fase III: restabelecer a amplitude de movimento indolor e reforço muscular, eram acrescentados os
exercícios de fortalecimento isotônico, com elástico; Fase IV: aprimorar desempenho muscular,
recuperação funcional e propriocepção. Todos os pacientes queixavam-se de dor no ombro, de
caráter evolutivo e que piorava aos esforços. Dor noturna estava presente em 60%. Todos os
pacientes apresentaram déficit de força em alguns dos movimentos ou relataram dor durante o teste.
Os resultados foram avaliados segundo o método desenvolvido pela University of California
at Los Angeles(UCLA). A escala da UCLA leva em consideração principalmente a dor, função,
flexão ativa e força de flexão anterior. É um método de somatório de pontos que considera,
resultado excelente o valor entre 34-35; bom entre 28-33; regular entre 21-27; e ruim entre 00-20. A
escala foi utilizada na 1ª e 10ª sessão, com objetivo de comparar os resultados e verificar a evolução
do paciente. De acordo com a escala funcional da UCLA, foi considerado como resultado
satisfatório a pontuação maior ou igual a 27 e, insatisfatório, quando menor. Os casos satisfatórios
ocorreram em 50% dos pacientes e, insatisfatórios também em 50%, 70% dos pacientes
apresentaram melhora da dor. A capacidade funcional após o tratamento melhorou em 60% dos
casos e permaneceu inalterada em 40%. 10% não se sentiu satisfeito com o tratamento.
OSVANDRÉ et all (30) Avaliou os resultados do tratamento conservador em 26 pacientes
com rupturas parcial e total do manguito rotador. O protocolo consistiu de um programa com 6
meses de duração que incluiu terapia miofascial específica, exercícios ativos assistidos e de
fortalecimento dos músculos do manguito rotador e da musculatura axioescapular. Destes, 08
(30,76%) possuíam ruptura completa do MR e 18 (69,23%) com ruptura parcial. todos haviam
tentado alguma forma de fisioterapia anteriormente, sem sucesso. A ecografia ou a RNM
confirmaram o quadro de ruptura do MR. Seis meses após a alta, dezoito pacientes (69,22%)
apresentavam resultado satisfatório, enquanto que os demais 08 casos (30,78%) foram considerados
insatisfatórios e tiveram indicação cirúrgica. Isso pode ser devido ao fator ocupação, pois dos oito
casos de resultados mau e regular, seis (75%) mantinham o mesmo nível atividade profissional.
No trabalho de OSVANDRÉ (30) confirmou que pacientes com ruptura completa do MR
podem apresentar elevação ativa normal do braço, principalmente após um programa de reabilitação
11
com fortalecimento dos músculos pivôs e propulsores da cintura escapular. Ferreira e cols.(34)
obtiveram 54% de bons resultados em sua casuística e concluíram que a presença de lesão do
manguito rotador acarreta pequena limitação funcional, sendo que nem todas são cirúrgicas e que a
fisioterapia deve anteceder à conduta operatória.
No trabalho de LÁZARO (29) o resultado foi semelhante com o de OSVANDRÉ (30), pois
nos dois a insatisfação do tratamento se deveu ao fator ocupação, no trabalho de LÁZARO (29) foi
realizado mais 10 sessões, e como resultado teve uma pontuação de 35, na escala de UCLA, que é
considerada excelente. Esse é um método adequado, pois enfatiza as queixas mais freqüentes do
paciente, que são dor e limitação funcional, além de permitir satisfatória e simples avaliação
objetiva da função do ombro, e avaliação subjetiva com dados provenientes do paciente. Todos
artigos utilizaram a escala analógica visual de dor, que já é bem reconhecida e utilizada como
parâmetro para avaliar a dor.
O resultado positivo da Cinesioterapia na Síndrome do Impacto também se deve ao efeito
fisiológico, há entrada de informações neurológicas, por meio de mecanorreceptores, ativando as
comportas medulares, a estimulação do retorno venoso e linfático, possibilitando a quebra de
aderência, além de alterar drasticamente as condições dos tecidos que envolvem a articulação.(21)
Considerações Finais
Na literatura, os resultados do tratamento conservador têm variado enormemente. Esta
revisão bibliográfica teve como objetivo mostrar as diferenças entre os métodos de tratamentos
fisioterápicos, sendo que todos tiveram um bom resultado no tratamento das Síndrome do Impacto,
em todas as pesquisas tiveram diminuição da dor e melhora dos ganhos funcionais. Não houve
diferenciação dos pacientes, quanto ao estágio de evolução da doença, devido à falta de
discriminação no diagnóstico clínico.
Physiotherapy Treatment in Impingement Syndrome: Literature review
Abstract
Objectives: To describe the physiotherapy treatments used for Impingement Syndrome,
through a literature review published in the last 10 years. You need a thorough assessment so that
the source of impact is clarified as soon as possible and the proposed treatment of the disease
evolution, because the pipe must comply with the phase of the disease.
Methods: The sample consisted of review studies. We used two tests of relevance to the
selection of items to be sampled. The articles were selected from the MEDLINE, LILACS, and
COCHRANE PUBMED after consultation with key words to DECS (Descriptors in Health
Sciences). The key words used were: shoulder syndrome and physiotherapy.
Results: After initial search of the databases that resulted in 214 abstracts, they passed by
Relevance Test I, 15 were identified and 199 abstracts selected abstracts not selected due to the
inadequacy to the theme, year or language of publication. The abstracts were selected your articles
12
read, and was applied Relevance Test II excluding four items from the lack methodology, not
division and the type of study does not describe the definition of Impingement Syndrome and the
method of physical therapy treatments.
Conclusion: The physical therapy intervention, in the impingement syndrome, is considered
the first choice of treatment for improving muscle balance in the region, increase the functionality
of the affected limb and allow faster return to daily activities, with reduction of pain.
Key Words: Shoulder, Syndrome and Physiotherapy.
13
Referências bibliográficas
1.
Netter , F. H. Netter Ortopedia, Rio de janeiro, Elsevier,2006.
2.
Moore, K, L. Anatomia orientada para a clínica, Rio de janeiro, Guanabara
Koogan,2007
3.
Kapandji,A.I. Fisiologia Articular, volume I, Rio de Janeiro, Guanabara Koogan,2000. 4.
Souza, M. Z. Reabilitação do complexo do ombro, São Paulo, Manole, 2001
5.
Ciullo,J,V. Shoulder injuries in sports, Champaign,1996
6.
Ghorayeb N, Barros T. O exercício: preparação fisiológica, avaliação médica,
aspectos especiais e preventivos.Rio de Janeiro: Atheneu; 1999.
7.
Hall SJ. Biomecânica da extremidade superior. In: Hall SJ. Biomecânica básica. 4a
ed. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan; 2005. p. 179-219.
8.
Rasch,P.J, Cinesiologia e anatomia aplicada, 7ºed.Rio de Janeiro, editora Guanabara,
1991.
9.
Rasch,P.J,Burke,R.K. Cinesiologia e anatomia aplicada,, 5ºed.Rio de Janeiro, editora
Guanabara, 1983.
10.
Halbach JW, Tank RT. Fisioterapia na ortopedia e na medicina do esporte. São
Paulo: Manole; 1993. p. 479-516.
11.
Moreira C, Carvalho MAP. Noções práticas de reumatologia. Belo Horizonte: Health;
1998.
12.
Andrews JR, Harrelson GL, Wilk, KE. Reabilitação física das lesões desportivas. 2a
ed. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan; 2000.
13.
Magee DJ. Avaliação musculoesquelética. 4a ed. São Paulo: Manole; 2005
14.
Callais-German,B Anatomia para movimento.Manole,São Paulo,1999
15.
Canavan PK. Reabilitação em medicina esportiva: um guia abrangente. São Paulo:
Manole; 2001.
16.
Hebert S, Xavier R. Ortopedia e traumatologia: princípios e prática. 2a ed. Porto
Alegre: Artmed; 1998. p. 124-54.
17.
Checchia SL, Budzyn ZAJJ. Lesão do manguito rotador: eficácia da ultrasonografia.
Rev Bras Ortop.1991;26(7):219-33.
18.
Hoppenfeld S. Propedêutica ortopédica: coluna e extremidades. Rio de Janeiro:
Atheneu; 1996. p. 1-34.
19.
Kendall FP, McCreary EK, Provance PG. Músculos: provas e funções. 4a ed. São
Paulo: Manole; 1995.
14
20.
Donegar CR, Donley PB. Modalidades terapêuticas em medicina esportiva. 4a ed.
São Paulo: Manole; 2002. p. 19-37.
21.
Hall CM, Brody LT. Exercícios terapêuticos: na busca da função. 2a ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan; 2007
22.
Moreira, Demóstene e Russo, André Faria, Cinesiologia Clínica e funcional, São Paulo,
Atheneu,2005 p. 33-46.
23.
Hebert, Sizínio e Xavier, Renato. Ortopedia e traumatologia (princípios e prática),
São Paulo, editora Artmed, 2003, p. 201-227
24.
Barbosa, RI: Goes, R: Mazzer, N; Fonseca, MCR. A influência da mobilização
articular nas tendinopatias dos músculos bíceps braquial e supra-espinhal, revista Brasileira de
Fisioterapia, v.12, n.4, p. 298-303, jul/ago-2003
25.
MORELLI, R. S. S.; VULCANO, D. R. Princípios e procedimentos utilizados na
reabilitação das doenças do ombro. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 28, n. 9, p. 653-656,
1993.
26.
HALBACH, J. W.; TANK, R. T. O ombro. In: GOULD, J. A. Fisioterapia na ortopedia
e na medicina do esporte. 2. ed. São Paulo: Manole, 1993. p. 479-481.
27.
HOPPENFELD, S. Propedêutica ortopédica: coluna e extremidades. São Paulo:
Atheneu, 1999. p. 1-33.
28.
Lima, Geisa; Barboza, Monteiro; Alfieri Marcon Análise da funcionalidade e da dor de
indivíduos
portadores
da
Síndrome
do
Impacto,
submetidos
à
intervenção
fisioterapêutica, Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 61-69, jan./mar., 2007
29.
LÁZARO, F.T.O.; BERTOLINI, G.R.F.; NAKAYAMA, G.K. Tratamento fisioterapêutico
em pacientes acometidos por lesões e alterações cinésio - Funcionais do manguito
rotador. Arq. Ciênc. Saúde Unipar, Umuarama, 8(1), jan./abr. p.73-77, 2004.
30.
OSVANDRÉ LECH; CÉZAR NETO; ANTÔNIO SEVERO,
Tratamento conservador das
lesões parciais e completas do manguito Rotador,
ACTA ORTOP BRAS 8(3) -
JUL/SET, 2000, 144-156
31.
Çitaker S, Takiran H, Akdur H, Önel Ü, Ekici G. Comparison of the mobilization and
proprioceptive neuromuscular facilitation methods in the treatment of shoulder
impingement syndrome. The Pain Clinic. 2005; 17(2):197-202.
32.
Walther M, Werner A, Stahlschidt T, Woelfel R, Gohlke F. The subacromial impingement
syndrome of the shoulder treated by convencional physioterapy, self-training, and a
15
shoulder brace: Results of a prospective, randomized study. J Shoulder Elbow Surg.
2004; 13:417-23.
33.
Ferreira AAF, Greve JMD, Zoppi AF, Bolliger RN, Costa RC, Ferreira AAN: Tratamento
conservador da síndrome do impacto do ombro. Rev. Bras. Ortop, 23:06, 167-169,1988.
Download

Elane Chaves Custodio Olivier - Universidade Católica de Brasília