FRENTE IV
Professora: Laís Ribeira
LISTA DE EXERCICIOS II – RELAÇÕES DE SIGNIFICADO,
AMBIGUIDADE E IMPLÍCITOS
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
1. (FUVEST-2013) Leia o texto:
(Fonte: Revista Veja, de 26.09.2012. Adaptado).
Ditadura / Democracia
A diferença entre uma democracia e um país totalitário é que
numa democracia todo mundo reclama, ninguém vive
satisfeito. Mas se você perguntar a qualquer cidadão de uma
ditadura o que acha do seu país, ele responde sem hesitação:
―Não posso me queixar‖.
(Millôr Fernandes, Millôr definitivo: a bíblia do caos)
a) Para produzir o efeito de humor que o caracteriza,
esse texto emprega o recurso da ambiguidade?
Justifique sua resposta.
b) Reescreva a segunda parte do texto (de ―Mas‖ até
―queixar‖), pondo no plural a palavra ―cidadão‖ e
fazendo as modificações necessárias.
TEXTO PARA A QUESTÃO 2:
Buscando a excelência - Lya Luft
Estamos carentes de excelência. A mediocridade
reina,
assustadora,
implacável
e
persistentemente.
Autoridades, altos cargos, líderes, em boa parte
desinformados, desinteressados, incultos, lamentáveis.
Alunos que saem do ensino médio semianalfabetos e assim
entram nas universidades, que aos poucos – refiro-me às
públicas – vão se tornando reduto de pobreza intelectual.
As infelizes cotas, contras as quais tenho escrito e às
quais me oponho desde sempre, servem magnificamente
para alcançarmos este objetivo: a mediocrização também do
ensino superior. Alunos que não conseguem raciocinar
porque não lhes foi ensinado, numa educação de
brincadeirinha. E, porque não sabem ler nem escrever direito
e com naturalidade, não conseguem expor em letra ou fala
seu pensamento truncado e pobre. [...] E as cotas roubam a
dignidade daqueles que deveriam ter acesso ao ensino
superior por mérito [...] Meu conceito serve para cotas raciais
também: não é pela raça ou cor, sobretudo autodeclarada,
que um jovem deve conseguir diploma superior, mas por seu
esforço e capacidade. [...]
Em suma, parece que trabalhamos para facilitar as
coisas aos jovens, em lugar de educá-los com e para o
trabalho, zelo, esforço, busca de mérito, uso da própria
capacidade e talento, já entre as crianças. O ensino nas
últimas décadas aprimorou-se em fazer os pequenos
aprender brincando. Isso pode ser bom para os bem
pequenos, mas já na escola elementar, em seus primeiros
anos, é bom alertar, com afeto e alegria, para o fato de que a
vida não é só brincadeira, que lazer e divertimento são
necessários até à saúde, mas que a escola é também
preparação para uma vida profissional futura, na qual haverá
disciplina e limites – que aliás deveriam existir em casa, ainda
que amorosos.
Muitos dirão que não estou sendo simpática. Não
escrevo para ser agradável, mas para partilhar com meus
leitores preocupações sobre este país com suas maravilhas e
suas mazelas, num momento fundamental em que, em meio a
greves, justas ou desatinadas, [...] se delineia com grande
inteligência e precisão a possibilidade de serem punidos
aqueles que não apenas prejudicaram monetariamente o
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país, mas corroeram sua moral, e a dignidade de milhões de
brasileiros. Está sendo um momento de excelência que nos
devolve ânimo e esperança.
2. (IFSP-2013) Sabe-se que o adjetivo é uma palavra
que modifica o substantivo e que sua posição mais
comum no português é a de suceder esse substantivo.
Assinale o efeito de sentido que a autora consegue com
o emprego do adjetivo antecedendo o substantivo em
―as infelizes cotas‖ (2º parágrafo).
a) produz uma sonoridade mais adequada ao trecho.
b) provoca o estranhamento do leitor, pois algumas
cotas são felizes.
c) antecipa que nem todas as cotas são infelizes, como
se poderia esperar.
d) oferece pistas ao leitor de seu posicionamento crítico
sobre o assunto das cotas.
e) exemplifica a situação da educação do país,
empregando inadequadamente o termo.
TEXTO PARA A QUESTÃO 3:
PREFÁCIO
São os primeiros cantos de um pobre poeta.
Desculpai-os. As primeiras vozes do sabiá não têm a doçura
dos seus cânticos de amor.
É uma lira, mas sem cordas; uma primavera, mas
sem flores; uma coroa de folhas, mas sem viço.
Cantos espontâneos do coração, vibrações doridas
da lira interna que agitava um sonho, notas que o vento levou,
– como isso dou a lume essas harmonias.
São as páginas despedaçadas de um livro não lido...
E agora que despi a minha musa saudosa dos véus do
mistério do meu amor e da minha solidão, agora que ela vai
seminua e tímida por entre vós, derramar em vossas almas os
últimos perfumes de seu coração, ó meus amigos, recebei-a
no peito, e amai-a como o consolo que foi de uma alma
esperançosa, que depunha fé na poesia e no amor – esses
dois raios luminosos do coração de Deus.
(AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra
completa. Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 2000. p. 120)
3. (UFG-2013) Se ao invés de usar períodos compostos
como em ―É uma lira, mas sem cordas; uma primavera,
mas sem flores; uma coroa de folhas, mas sem viço.‖, o
autor tivesse escolhido períodos simples: ―É uma lira
sem cordas. É uma primavera sem flores. É uma coroa
de folhas sem viço.‖, a imagem construída a respeito de
sua obra não seria a mesma, porque:
a) o pressuposto produzido pelo uso do termo sem
indica a impossibilidade de os poemas retratarem a
completude das coisas do mundo.
b) a oposição entre os objetos naturais e os produzidos
pelo homem autoriza a interpretação de que a
natureza seja a musa inspiradora dos poemas.
c) o subentendido produzido pelo uso do mas leva o
leitor ao entendimento de que a obra é comparada a
produções rudimentares.
FRENTE IV – Interpretação de Textos
1
d) a contradição marcada pelo uso do mas permite a
compreensão de que a essência das coisas se
mantém mesmo quando lhes falta o atributo principal.
e) a antítese instaurada na comparação entre realidade
e ficção produz a ideia de que a poesia deva realçar
a aparência das coisas.
4. (INSPER-2012)
Considerando-se os elementos verbais e visuais da
charge, conclui-se que o humor decorre do(a)
a) crítica despropositada feita a um livro considerado
um clássico da literatura universal.
b) duplo sentido que a palavra ―barata‖ adquire no
contexto do último quadrinho da tirinha.
c) ambiguidade do substantivo ―impressão‖, presente
no segundo quadrinho.
d) explícita referência intertextual que ocorre no
primeiro quadrinho da tira.
e) traço caricatural das personagens que as aproxima
do conteúdo do livro mencionado.
5. (ENEM-2012)
TEXTO PARA A QUESTÃO 6:
A última romântica
Cigarros, isqueiros, copos com drinques coloridos,
garrafas vazias - de vodca, do licor de coco Malibu... Às
flores, velas, retratos e mensagens de praxe os fãs
acrescentaram em frente à casa de Amy Winehouse esses
objetos que dão prazer, podem viciar e fazem mal à saúde.
Para além da homenagem, era uma forma de participar do
universo de excessos da cantora.
É curioso o apelo de Amy num mundo conservador,
cada vez mais antitabagista e alerta para os riscos das drogas
- um mundo onde vamos sendo ensinados a comprar
produtos sem gordura trans e onde até as garotas de
esquerda consomem horas dentro da academia.
Numa época em que as pessoas são estimuladas a
abdicar de certos prazeres na expectativa de durar bastante,
simplesmente para durar, Winehouse fez o roteiro oposto intenso, autodestrutivo, suicida.
Sob o aspecto clínico, era uma viciada grave,
necessitando desesperadamente da ajuda que insistia em
recusar. Uma de suas canções mais famosas trata
exatamente disso.
Amy foi presa fácil do jornalismo de celebridades,
voltado à escandalização da intimidade dos famosos (quanto
pior, melhor). Foi também, num tempo improvável, a herdeira
de Janis Joplin, morta aos 27 em 1970, e de Billie Holiday,
morta aos 44, em 1959, ambas por overdose.
Como suas antecessoras, Amy leva ao extremo o
éthos romântico - do artista que vive em conflito permanente e
se rebela contra o curso prosaico e besta do mundo. Na sua
figura atormentada e em constante desajuste, o autoflagelo
quase sempre se confunde com o ódio às coisas que
funcionam. Numa cultura inteiramente colonizada pelo
dinheiro e que convida à idolatria, fazer sucesso parecia uma
espécie de vexame e de vileza, o supremo fiasco existencial,
contra o qual era preciso se resguardar.
Nisso Amy evoca os gênios do romantismo tardio Lautréamont, Rimbaud e outros poetas do inferno humano,
que tinham plena consciência da vergonha de dar certo.
(SILVA, Fernando de Barros e. Folha de São
Paulo, 26/07/2011)
O efeito de sentido da charge é provocado pela
combinação de informações visuais e recursos
linguísticos. No contexto da ilustração, a frase proferida
recorre à
a) polissemia, ou seja, aos múltiplos sentidos da
expressão ―rede social‖ para transmitir a ideia que
pretende veicular.
b) ironia para conferir um novo significado ao termo
―outra coisa‖.
c) homonímia para opor, a partir do advérbio de lugar, o
espaço da população pobre e o espaço da população
rica.
d) personificação para opor o mundo real pobre ao
mundo virtual rico.
e) antonímia para comparar a rede mundial de
computadores com a rede caseira de descanso da
família.
2
6. (INSPER-2012) Considere esta definição:
―Pressupostos são conteúdos implícitos que decorrem
de uma palavra ou expressão presente no ato de fala
produzido. O pressuposto é indiscutível tanto para o
falante quanto para o ouvinte, pois decorre,
necessariamente, de um marcador linguístico,
diferentemente de outros implícitos (os subentendidos),
que dependem do contexto, da situação de
comunicação.‖
(Adaptado de FIORIN, J. L. O dito pelo não dito. In: Língua
Portuguesa, ano I, n. 6, 2006. p. 36-37.)
A passagem do texto "A última romântica" em que a
palavra sublinhada instaura um pressuposto é
a) ―... esses objetos que dão prazer, podem viciar e
fazem mal à saúde.‖
b) ―... era uma forma de participar do universo de
excessos da cantora.‖
c) ―... onde até as garotas de esquerda consomem
horas dentro da academia.‖
d) ―Sob o aspecto clínico, era uma viciada grave...‖
e) ―Como suas antecessoras, Amy leva ao extremo o
éthos romântico...‖
TEXTO PARA A QUESTÃO 7:
Não passa de asneira a recorrente ideia de que a corrupção é
monopólio do governo, e a sociedade, sua vítima. A
FRENTE IV – Interpretação de Textos
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corrupção é, em larga medida, resultado de uma sociedade
que não fiscaliza e, pior, em que alguns setores de elite são
coniventes com as mais diferentes modalidades de mazelas,
que vão de sonegar impostos até subornar o guarda. Estamos
inventando até mesmo a fraude com doutorado.
A Folha divulgou detalhes do mercado da venda de
dissertações de mestrado e de doutorado, por valores altos.
Podem-se encontrar os vendedores abertamente na internet,
todos eles, claro, titulados. Mas a verdade é que, junto com
seus clientes, eles participam de uma fraude.
b) os termos ―água‖, ―ar‖ e ―combustíveis‖ mantêm uma
relação de sinonímia com a expressão ―recursos
naturais‖.
c) os termos ―estudos‖ e ―desafios‖ mantêm uma
relação de oposição com o conteúdo probabilístico
da matéria.
d) o emprego dos verbos nascer e ser, no tempo futuro,
estabelece uma relação de contradição com a
afirmativa ―Somos 7 bilhões‖.
(Gilberto Dimenstein. Folha Online, 08/11/2005.
Adaptado)
7. (UFPE-2012) Incoerências, em um texto, podem ser
causadas por diversos fatores, como transgressões de
natureza sintática, relações semânticas impróprias
entre orações, escolhas lexicais inadequadas, dentre
vários outros. A tentativa de compreensão do texto de
Dimenstein levou certo leitor a formular a seguinte
conclusão:
“Segundo Dimenstein, a prática da corrupção
implica a não fiscalização da sociedade e a
conivência de alguns setores de elite.”
9. (UFMG-2011) Uma frase é considerada ambígua
quando possibilita mais de uma leitura e interpretação.
Identifique, em cada um dos textos que se seguem, o
elemento causador de ambiguidade e explicite duas
leituras propiciadas em cada caso.
Texto 1
a) Essa conclusão é coerente? Justifique seu ponto de
vista.
b) Como você formularia sua própria conclusão?
TEXTO PARA A QUESTÃO 8:
Elemento causador da ambiguidade:
Leitura 1:
Leitura 2:
Texto 2
É muito comum o contribuinte incluir na sua declaração
dependentes que já têm renda. Essa inclusão pode não
ser vantajosa. Para um dependente que estuda, não é
vantagem o contribuinte incluí-lo se sua renda for
superior a R$ 4.439, 34.
(Folha de S. Paulo, São Paulo, 20 abril 2010, Caderno
Dinheiro, p. B4. Adaptado)
Elemento causador da ambiguidade:
Leitura 1:
Leitura 2:
TEXTO PARA A QUESTÃO 10:
8. (UFRN-2012) A figura é uma capa da revista Planeta.
Em sua chamada principal, cujo tema é o crescimento
populacional,
a) o emprego dos tempos verbais presente e futuro
estabelece uma relação de projeção entre a
realidade atual e os desafios a serem enfrentados.
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Já na segurança da calçada, e passando por um
trecho em obras que atravanca nossos passos, lanço à
queima-roupa:
— Você conhece alguma cidade mais feia do que
São Paulo?
— Agora você me pegou, retruca, rindo. Hã, deixa eu
ver... Lembro-me de La Paz, a capital da Bolívia, que me
pareceu bem feia. Dizem que Bogotá é muito feiosa também,
mas não a conheço. Bem, São Paulo, no geral, é feia, mas as
pessoas têm uma disposição para o trabalho aqui, uma
vibração empreendedora, que dá uma feição muito particular
à cidade. Acordar cedo em São Paulo e ver as pessoas
saindo para trabalhar é algo que me toca. Acho emocionante
ver a garra dessa gente.
(R. Moraes e R. Linsker. Estrangeiros em casa: uma
caminhada pela selva urbana de São Paulo. National
Geographic Brasil. Adaptado)
10. (FUVEST-2011) Os interlocutores do diálogo
contido no texto compartilham o pressuposto de que
FRENTE IV – Interpretação de Textos
3
a) cidades são geralmente feias, mas interessantes.
b) o empreendedorismo faz de São Paulo uma bonita
cidade.
c) La Paz é tão feia quanto São Paulo.
d) São Paulo é uma cidade feia.
e) São Paulo e Bogotá são as cidades mais feias do
mundo.
TEXTO PARA A QUESTÃO 11:
O gosto da surpresa - Betty Milan
Nada é melhor do que se surpreender, olhar o
mundo com olhos de criança. Por isso as pessoas gostam de
viajar. Nem o trânsito, nem a fila no aeroporto, nem o eventual
desconforto do hotel são empecilhos neste caso. Só viajar
importa, ir de um para outro lugar e se entregar à cena que se
descortina. Como, aliás, no teatro.
O turista compra a viagem baseado nas garantias
que a agência de turismo oferece, mas se transporta em
busca de surpresa. Porque é dela que nós precisamos mais.
Isso explica a célebre frase ―navegar é preciso, viver não‖,
erroneamente atribuída a Fernando Pessoa, já que data da
Idade Média.
Agora, não é necessário se deslocar no espaço para
se surpreender e se renovar. Olhar atentamente uma flor,
acompanhar o seu desenvolvimento, do botão à pétala caída,
pode ser tão enriquecedor quanto visitar um monumento
histórico.
Tudo depende do olhar. A gente tanto pode olhar
sem ver nada quanto se maravilhar, uma capacidade natural
na criança e que o adulto precisa conquistar, suspendendo a
agitação da vida cotidiana e não se deixando absorver por
preocupações egocêntricas. Como diz um provérbio chinês, a
lua só se reflete perfeitamente numa água tranquila.
O que nós vemos e ouvimos depende de nós. A
meditação nos afasta do clamor do cotidiano e nos permite,
por exemplo, ouvir a nossa respiração. Quem escuta com o
espírito e não com o ouvido, percebe os sons mais sutis.
Ouve o silêncio, que é o mais profundo de todos os sons,
como bem sabem os músicos. Numa de suas músicas,
Caetano Veloso diz que ―só o João (Gilberto) é melhor do que
o silêncio‖. Porque o silêncio permite entrar em contato com
um outro eu, que só existe quando nos voltamos para nós
mesmos.
Há milênios, os asiáticos, que valorizam a
longevidade, se exercitam na meditação, enquanto nós,
ocidentais, evitamos o desligamento que ela implica. Por
imaginarmos que sem estar ligado não é possível existir,
ignoramos que o afastamento do circuito habitual propicia
uma experiência única de nós mesmos, uma experiência
sempre nova.
Desde a Idade Média, muitos séculos se passaram.
Mas o lema dos navegadores continua atual. Surpreender-se
é preciso. A surpresa é a verdadeira fonte da juventude,
promessa de renovação e de vida.
(Veja, Editora Abril, edição 2184 – ano 43 – nº 39,
29/09/2010, p. 116)
11. (IFAL-2011) No trecho: ―...suspendendo a agitação
da vida cotidiana e não se deixando absorver por
preocupações egocêntricas‖, as palavras grifadas
mantêm, com os vocábulos ―absolver‖ e ―personalistas‖,
uma relação de:
a) homonímia e sinonímia, respectivamente.
b) sinonímia e homonínia, respectivamente.
c) antonímia e paronímia, respectivamente.
d) antonímia e sinonímia, respectivamente.
e) paronímia e sinonímia, respectivamente.
4
TEXTO PARA A QUESTÃO 12:
AI, QUE CALO-Ô-Ô-Ô-Ô-Ô-OR.
A importância da comunhão global parece um caso
de ideologia de cabeça para baixo. A ideologia faz o que é de
fato particular parecer universal ("todos são iguais perante a
lei", mas alguns são mais iguais que os outros).
A crise do clima é, sim, uma tragédia (punição
desmesurada de um erro do qual ignorava a dimensão,
castigo ruinoso da inadvertida arrogância humana de sua falta
de limites, como dizia o filósofo grego). Sim, há gente honrada
e séria preocupada com o clima. Por que a farsa, então?
Qual grupo, classe ou país, com poder e influência,
preocupa-se de fato? Considere-se um tema que até
interessa ao poder global: comércio. Negocia-se há anos um
modo de acabar com a proteção que governos ricos dão a 2%
de sua população, a que vive de vacas gordas, de agricultura,
barrando produtos de bilhões de crioulos agrícolas do mundo
pobre. Nem isso se resolve, questão mais simples que o caos
climático.
O que virá? Uma ONU do clima, a ser avacalhada
pelos EUA?
(FREIRE, Vinicius Torres. Folha de S. Paulo. São Paulo, 4
fev. 2007, p. B6. Dinheiro. Adaptado)
12. (UEG-2008) No último parágrafo do texto, está
subentendido que os EUA:
a) vetariam a criação de uma ONU do clima.
b) só lucrariam com a criação de uma ONU do clima.
c) já desrespeitaram a ONU quanto ao tema "comércio".
d) só respeitam a ONU quanto ao tema comércio.
TEXTO PARA A QUESTÂO 13:
O HOMEM DAS PALAVRAS
De Aurélio Buarque de Holanda, que nos deixou esta
semana, guardo algumas lembranças. Todas alegres.
Uma vez, por exemplo, estávamos num congresso
de escritores em Brasília. Assentados no auditório ouvíamos
as doutas palavras que eram ditas no palco onde alguém
2
proclamava as virtudes de um texto literário. A rigor, o texto
em questão era a Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, que
até dez anos atrás todos os brasileiros sabiam de cor, não
exatamente por causa da ditadura mais recente, mas porque
era texto que aparecia em todas as antologias escolares.
Quem tem mais de trinta anos e estudou português e
não a famigerada comunicação e expressão se lembra dos
primeiros versos:
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Pois bem. Lá ia o expositor à mesa ressaltando que
a grande força deste poema estava no fato de que era um
texto sem qualquer adjetivo. Disse isto, conferindo tal
observação ao grande Ayres da Matta Machado.
Mal se pronunciou esta frase, ouviu-se do fundo do
auditório um vozeirão contestando e reclamando:
- Perdão, mas esta ideia é minha.
A plateia voltou-se estupefata.
Era Mestre Aurélio, que levantando-se da poltrona e
encaminhando-se desassombradamente para o palco
continuou falando:
- Sim, esta ideia é minha. Tive poucas, não sei se
terei outras e tenho que defendê-las.
Isto posto assumiu seu imprevisto lugar à cabeceira
das ideias e fez um brilhante aparte que virou uma
conferência.
Outra estorinha sobre Aurélio já é clássica. Tendo
FRENTE IV – Interpretação de Textos
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que ir à Academia, uniformizado com espada e chapéu, ficou
ali na Glória aguardando táxi, até que um parou. O motorista
fascinado com a sua indumentária, olhando pelo retrovisor, de
repente indagou:
- Ainda que mal pergunte: sois algum reis?
A construção da frase era estranha, mas o motorista
estava jogando até com a possibilidade de "folia-de-reis"
tendo em vista a semelhança entre a fantasia dos acadêmicos
e a do folclore.
Aurélio explicou que não, falou da Academia. O
chofer não entendeu muito bem. Mas quando Aurélio lhe
pediu para se apressar, porque estava atrasado, o outro
atalhou confiante:
1
- Pode deixar, doutor, que do jeito que o senhor está
vestido, nada começa antes do senhor chegar.
(SANT'ANNA, Affonso Romano de. Porta de colégio e outras
crônicas. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1997. p. 53-56. Coleção Para
Gostar de Ler. 16 Vol.)
13. (UFRRJ-2007) A sinonímia e o emprego de
pronomes são alguns dos recursos possíveis para
estabelecer a coesão textual evitando, inclusive, a
repetição de palavras em um texto. Atualmente, um
termo bastante empregado para codificar o conceito
"profissional que dirige táxi" é "taxista". Aponte os três
vocábulos usados pelo autor do texto "O homem das
palavras" para se referir a essa acepção.
GABARITO
1)
a) Mas se você perguntar a quaisquer cidadãos de
uma ditadura o que acham do seu país, eles respondem sem
hesitação: ―Não podemos nos queixar‖.
b) A frase ―Não posso me queixar‖ permite duas
interpretações: o cidadão não reclama da situação porque
está contente com o sistema ou, então, porque ele está
sujeito a um regime totalitarista em que a censura o impede
de manifestar a sua insatisfação.
2) D
3) D
4) B
5) A
6) C
7)
a) Segundo Dimenstein, a corrupção é resultado de
uma sociedade que não exerce vigilância suficiente e é
muitas vezes conivente com atitudes que revertem para
benefício próprio, em prejuízo do Estado ou do bem público.
b) A conclusão do leitor é incoerente com a posição
defendida por Gilberto Dimenstein. Na oração destacada
afirma-se que é a corrupção que provoca a falta de
fiscalização e a conivência de alguns setores da elite com
esse tipo de infração, ou seja, o leitor inverteu os fatores de
causa e consequência mencionados pelo jornalista.
8) A
OBS: São incorretas as opções [B], [C] e [D], pois:
[B] os termos ―água‖, ―ar‖ e ―combustíveis‖ não são sinônimos, pois
cada um apresenta significação própria; [C] os termos ―estudos‖ e
―desafios‖ confirmam o conteúdo da matéria, que se serve da
pesquisa para prever o que possivelmente ocorrerá no futuro; [D] o
presente do indicativo do termo ―somos‖ foi usado para indicar fato
futuro bastante próximo e confirmar a certeza de que ele ocorrerá.
9) Texto 1: Elemento causador da ambiguidade:
polissemia da palavra ―depressão‖.
Leitura 1: abaixamento de nível
Leitura 2: melancolia profunda.
Texto 2: Elemento causador da ambiguidade: pronome
possessivo ―sua‖.
Leitura 1: o contribuinte que possui renda superior a R$
4.439,34 não tem vantagem em declarar um
dependente que estuda.
Leitura 2: não é vantajoso para o contribuinte declarar
um dependente que estuda se este possui uma renda
superior de R$ 4.439,34.
OBS: No texto I, a placa de trânsito adverte o motorista sobre o
rebaixamento de terreno que vai encontrar dali a 3 m. No entanto, a
postura desalentada e triste do segundo personagem permite inferir
que a palavra também pode ser associada ao seu estado de espírito.
No texto II, o pronome possessivo ―sua‖ instaura a ambiguidade, pois
o leitor não sabe se o autor se refere à renda do dependente ou à do
contribuinte.
10) D
11) E
12) C
13) Os três vocábulos usados pelo autor para se referir a
"taxista" são: "motorista", "chofer" e "outro".
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