PSICOLOGIA E JUVENTUDE: INTERVENÇÃO NO ENSINO MÉDIO
Débora Jerônima Arantes*
Jordana de Castro Balduino **
Resumo: O presente trabalho baseia-se nas atividades desenvolvidas no Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID – do curso de Psicologia, campus Goiânia, da Universidade
Federal de Goiás, Faculdade de Educação – UFG/FE. Através do vínculo do PIBID de Psicologia,
regional Goiânia, com uma instituição escolar da rede pública estadual, foi desenvolvido – por seis
bolsistas do PIBID psicologia sob a orientação de um professor supervisor, na escola, e um coordenador
da UFG – um projeto de intervenção com os estudantes do Ensino Médio da instituição. O projeto
desenvolvido foi “O que faz sua cabeça? Psicologia, Juventude e Grafite” e se fundamentou nos dados
levantados através de observações da dinâmica da escola. O projeto objetiva contribuir para uma
formação mais humana dos jovens do Ensino Médio através da reflexão e discussão a respeito da
constituição do indivíduo e da sua relação com a sociedade. O mesmo se realiza em formato de oficinas
quinzenais aos sábados e os temas da Psicologia trabalhados se relacionam a realidade e cotidiano da
juventude na contemporaneidade como: identidade, sexualidade, violência, criminalidade, intervenção
urbana e outros. O projeto também objetiva que os estudantes sejam ativos no processo
educativo/formativo. Desta forma busca fomentar a participação dos estudantes e proporcionar também
uma metodologia dinâmica para a discussão das temáticas. O projeto encontra-se em desenvolvimento e o
seu encerramento, no final de 2014, prevê a realização de uma oficina prática de Grafite, na qual os
estudantes registrarão nos muros da escola sua expressividade e a reflexão fruto das discussões suscitadas
ao longo do projeto.
Palavras-chave: psicologia; juventude; ensino médio.
*
Graduanda em Psicologia na Universidade Federal de Goiás e bolsista do PIBID – Faculdade
de Educação (UFG/FE) – e-mail: [email protected]
**
Psicóloga, Doutora, Professora do curso de Psicologia da FE/UFG e coordenadora do PIBID-
Psicologia (Regional Goiânia) – e-mail: [email protected]
Introdução
O presente trabalho baseia-se nas atividades desenvolvidas no Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) do curso de Psicologia, regional
Goiânia, da Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Educação (UFG/FE). O
programa PIBID é fomentado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes) e tem por objetivo proporcionar o desenvolvimento e
aprofundamento das competências e habilidades dos graduandos em licenciatura,
através da integração entre Educação Superior e Educação Básica. Essa integração
ocorre com foco na rede pública de Educação Básica proporcionando ao licenciando um
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contato teórico e prático com a realidade da escola pública. Esta vinculação também
possibilita uma articulação entre os licenciandos e os professores da rede pública
proporcionando experiências inovadoras para ambos com intuito de buscar soluções
para os problemas que possam ser encontradas no processo ensino-aprendizagem
(EDITAL PIBID/UFG n. 102/2013).
Com base nos parâmetros e objetivos do PIBID e no Projeto Institucional da
UFG, o subprojeto do curso de Psicologia para o PIBID, edital 2013, objetiva através da
aproximação do estudante com o campo, repensar criticamente as contribuições que a
Psicologia poderia proporcionar para Educação Básica, principalmente no Ensino
Médio da instituição púbica de educação. Em suma o subprojeto busca repensar através
do contato teórico-prático as possibilidades e limites da inserção do professor de
Psicologia no campo da Educação Básica.
A reflexão crítica que o subprojeto propõe é atual e de profunda relevância para
o campo da formação do professor de Psicologia. Isso se justifica devido às mudanças
advindas pela obrigatoriedade da oferta de licenciatura nos Cursos de Graduação em
Psicologia, estabelecida pela nova diretriz curricular através da Resolução nº 5 de 15 de
março de 2011 (BRASIL, 2011).
Tal obrigatoriedade tem ampliado a discussão e reflexão a respeito da
licenciatura em Psicologia. A partir dessas discussões surge, o projeto de Lei proposto
pela deputada federal Luiza Erundina do PSB/SP (PL 105/2007), em defesa da inserção
da disciplina de Psicologia no Ensino Médio. Tal proposta é defendida por todas as
entidades representativas da psicologia e pelas áreas da psicologia escolar e educacional
(EDITAL 80/2013/PIBID/UFG, 2013).
Através do Edital n.102/2013 para o PIBID foi estabelecido o vínculo do PIBID
Psicologia, regional Goiânia, com duas instituições públicas da rede estadual de
educação, tais escolas ofertam a formação no Ensino Médio. O presente trabalho se
desenvolve em uma das instituições púbicas vinculadas e é composto de seis bolsistas
do PIBID Psicologia sob a orientação de um professor na escola, supervisor, e um
coordenador da UFG.
O inicio das atividades do PIBID Psicologia, regional Goiânia, ocorreu no
primeiro semestre de 2014, com a ida a campo para levantamento de dados e o
desenvolvimento de uma proposta de intervenção. Tal proposta culminou no
desenvolvimento de um projeto, o qual no atual momento encontra-se em fase de
execução, com encerramento previsto para dezembro de 2014.
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O relato do respectivo projeto de intervenção é o objetivo do presente texto.
Deste modo será relatado o processo de levantamento de dados e principalmente o
desenvolvimento da proposta de intervenção com os estudantes do Ensino Médio.
Como o projeto encontra-se em andamento os resultados, que serão apontados, são
parciais, necessitando-se ao termino do projeto de uma análise mais conclusiva.
O projeto: O que faz sua cabeça? Psicologia, Juventude e Grafite
Durante todo o primeiro semestre foi realizado um levantamento sobre a
realidade da escola através de observações da estrutura física da instituição, de
diferentes aulas e de momentos informais, como o recreio. Foram realizadas também
entrevistas semiestruturadas com o professor supervisor de campo, objetivando
conhecer mais da história e características da Instituição observada e da realidade do
Ensino Médio público em Goiás. Todos esses dados eram registrados nos diários de
campo de cada bolsista.
Os dados levantados na instituição foram: o relato dos estudantes expondo que
sentiam “sem voz” frente à Instituição, tanto no âmbito da relação professor-aluno
quanto com a coordenação escolar; questões e discussões referentes à escolha
profissional e formação superior, principalmente em instituições federais, não eram
frequentes no ambiente escolar. Outro dado relevante refere-se à estrutura física da
escola, verificamos que a escola não era muito valorizada por grande parte dos
estudantes. Percebemos que os mesmos não se reconheciam como agentes na
construção e manutenção do espaço escolar, diante disso alguns acabavam atuando na
desvalorização e destruição do patrimônio público.
Tais dados possibilitaram compreender um pouco da dinâmica escolar, dando
bases para o desenvolvimento da proposta de intervenção da Psicologia na instituição,
com os estudantes do Ensino Médio. O contexto e dinâmica observados ressaltam a
possibilidade de contribuição dos conhecimentos da ciência psicológica na formação
dos estudantes. Assim sendo o projeto pensado se fundamenta em alguns pressupostos
teóricos, como a compreensão da constituição histórica e multideterminada do sujeito.
Portanto partimos de uma concepção histórico-cultural. É através do processo
de socialização, apropriação da cultura e interação social, que ocorre a humanização. No
processo de socialização cada indivíduo singular se apropria do que foi historicamente
constituído, ou seja, se apropria da cultura através da relação e interação com os outros
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homens e com o meio social esse processo é o que possibilita a humanização. Esse
processo interacional se dá através dos instrumentos, transformação da natureza pelo
trabalho, e pela linguagem (REGO, 1995; OLIVEIRA, 1997; VIGOTSKY, 1991).
O projeto de intervenção desenvolvido foi “O que faz sua cabeça? Psicologia,
Juventude e Grafite”. O respectivo objetiva, ao longo de sua execução, contribuir para
uma formação mais humana e crítica dos jovens do Ensino Médio, através da reflexão e
discussão a respeito da constituição do indivíduo e da sua relação com a sociedade.
Nesta perspectiva as autoras Soligo e Azzi (2008), discorrem que:
Cursar o ensino médio, direito que assiste a todos os jovens brasileiros, representa mais
do que garantir chances no mercado de trabalho imediato ou de aprovação no vestibular.
Segundo a própria LDB, a educação deve promover a reflexão, o pensamento crítico e
criativo, a construção de autonomia de pensamento e cidadania. [...] Ora, para construirse como sujeito pleno, é preciso compreender a vida, nas suas possibilidades e dilemas.
O acesso a um conhecimento que permita a compreensão do humano subjetivo é,
portanto, um direito do aluno (SOLIGO; AZZI, 2008 p. 67).
Corroborando com as concepções das autoras citadas, o projeto tem buscado
capturar a atenção dos estudantes para a questão “O que faz sua cabeça?”. Através desta
questão objetivamos promover a discussão e compreensão, por parte dos estudantes, dos
fenômenos socioculturais que perpassam sua constituição enquanto indivíduo.
Entendemos que esse processo contribui na promoção da construção do pensamento
crítico e autônomo.
Compreendendo as bases teóricas que fundamentaram o projeto estabeleceremos
agora a compreensão do público alvo. Como o projeto trabalha com um público que se
encontra em uma fase de desenvolvimento específica – são os jovens do Ensino Médio
1º a 3º anos com faixa etária variando de 14 a 21 anos – optou-se por empregar o
conceito de juventude. O conceito adolescência é comumente utilizado em Psicologia,
no entanto os conceitos adolescência e juventude possuem diferenças. “O conceito de
adolescência se difere da ideia de juventude, pois este último é mais amplo e possui um
maior atravessamento de temas sociais, culturais, políticos, econômicos, territoriais,
dentre outros” (MOREIRA; ROSARIO; SANTOS, 2011 p. 458).
Completando a definição dos conceitos compreende-se a “adolescência como
período inicial da juventude, esta vista como uma categoria mais abrangente”
(PÁTARO, 2011 p. 16-17). A autora também discorre sobre a forma como
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compreendemos e lidamos com os jovens, sendo esta forma muito influenciada pelas
concepções históricas e sociais construídas sobre a categoria. Assim sendo juventude é
uma categoria histórica e social e deste modo mutável, do mesmo modo que suas bases
constituintes.
Diante das transformações sociais e culturais, na sociedade contemporânea, os
critérios e referenciais do conceito de juventude igualmente vêm se modificando. A
sociedade contemporânea traz novas delimitações e novos desafios no âmbito do
trabalho, da política, da violência, da escola. Nesse cenário a temática da juventude vem
ganhando relevância, pois tais delimitações e desafios são esferas que afetam
especialmente os jovens, que vivenciam mais intensa e diretamente esses processos
(PERALVA; SPOSITO, 1997 apud PÁTARO, 2011).
Com a compreensão das mudanças sociais na contemporaneidade e suas
implicações na juventude, para a efetivação dos objetivos propostos compreendemos
que alguns temas de discussão e reflexão eram essenciais na intervenção. A escolha dos
temas se justificou devido à relação dos mesmos com a realidade cotidiana dos jovens e
o impacto psicossocial que exercem sobre estes na contemporaneidade. Os temas
propostos foram: identidade, sexualidade, violência e criminalidade, trabalho e
intervenção urbana.
De acordo com os fundamentos teóricos apresentados para efetivação do projeto,
foi adotado como método, técnica, oficinas dialogadas e o grafite. Essas técnicas,
principalmente o grafite, foram escolhidas por se caracterizarem como uma
manifestação de linguagem, típica dos jovens. Essa escolha metodológica demarca
também o atendimento a uma demanda levantada, sobre a necessidade dos estudantes de
terem voz ativa. Deste modo o projeto também objetiva que os estudantes sejam
participantes e ativos no processo educativo/formativo.
Desde o inicio o projeto busca a participação dos alunos na concordância com
os temas propostos e na sugestão de temas que gostariam que fossem trabalhados.
Fomenta-se a participação dos estudantes através de uma metodologia dinâmica para as
exposição e discussão de cada temáticas. Deste modo buscamos estabelecer uma relação
professor-aluno pautada no respeito mútuo, com a abertura e valorização da participação
do estudante.
A relação interpessoal e metodologia que propomos se difere da que muitas
vezes se observa em sala de aula. Não se pauta em uma concepção bancária de
educação, como apresenta Paulo Freire (1983), na qual o aluno é um depositário do
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conhecimento oferecido pelo professor, sendo marcada pela falta de diálogo e pela
contradição entre educador-educando. Pelo contrário buscamos uma educação dialógica
com vista à autonomia dos estudantes.
Freire (1983) citado por Zatti (2007), denuncia que a narração e a dissertação
são características da educação bancária, pois demarca um sujeito, o narrador, e os
objetos pacientes, os ouvintes, no caso da educação os educandos. Essa forma de
educação mantém a contradição entre educador e educando e apresenta retalhos da
realidade de forma estática, sem levar em conta a realidade do educando. Deste modo o
educador é o depositante, do conhecimento, e o educando o depositário.
O problema é que quanto mais são tratados como depósitos, menos serão capazes de
consciência crítica e de libertarem-se da situação de opressão. Essa educação autoritária
inibe a capacidade de perguntar, poda a curiosidade (cf. FREIRE e FAUNDEZ, 1986, p.
46), gera um homem passivo, ingênuo, que não é capaz de um pensar autêntico. Assim,
há a aceitação passiva das estruturas que tornam os homens seres para outro,
heterônomos. Ela, em vez de transformar o homem em ser autônomo... (ZATTI, 2007
cap. 3.6).
Apoiando o exposto acima as autoras Soligo e Azzi (2008) ressaltam que a
produção de conhecimento na área da Psicologia dá aprendizagem já mostrou a
importância do sujeito no seu processo de aprendizagem e a necessidade de construção
de métodos ativos de ensino. E ressaltam também que “ensinar Psicologia implica
superar a estratégia expositiva, na busca de estratégias dialógicas e ativas de construção
compartilhada de conceitos e sentidos” (SOLIGO; AZZI, 2008 p. 76).
É a partir destas proposições e posições teórico-metodológicas que o projeto de
intervenção foi desenvolvido e vem se efetivando em conjunto com os estudantes do
Ensino Médio da escola estadual da região metropolitana de Goiânia. Nessa perspectiva,
para o encerramento da intervenção se prevê a realização de uma oficina prática de
Grafite, na qual os estudantes registrarão nos muros da escola sua expressividade e a
reflexão fruto das discussões suscitadas ao longo do projeto. O grafite será a linguagem
e o meio o qual os estudantes irão atuar na escola, deixando sua “marca” no espaço
físico.
A partir do exposto evidencia-se que objetivamos uma inserção no campo da
educação, enquanto professores de Psicologia, através de uma reflexão crítica dos
fundamentos e objetivos de nossa ação e buscando contribuir para o desenvolvimento
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de uma consciência críticas e criativa nos educandos, consciência sobre si e sobre o
mundo.
Metodologia do projeto e reflexões
Com exposto o formato pensado para a efetivação do projeto foi a realização de
encontros em formato de oficinas temáticas, tais oficinas ocorrem quinzenalmente aos
sábados pela manhã, com duração de duas horas. Em cada oficina uma temática
(identidade, sexualidade, violência e criminalidade, trabalho) é discutida. Foi montado
um cronograma de trabalho no qual foram previstos nove encontros, sendo destinadas
datas para as discussões temáticas e a realização de oficinas teórico-práticas de grafite,
com um profissional da área.
A escolha por essa técnica de execução (oficinas), não se justifica apenas por
questões teórico-metodológicas. Como colocado na introdução do respectivo texto
existe um Projeto de Lei proposto pela deputada federal Luiza Erundina do PSB/SP (PL
105/2007), em defesa da inserção da disciplina de Psicologia no Ensino Médio. Mas o
fato é que a Psicologia ainda não integra o currículo regular do Ensino Médio, deste
modo não existe uma disciplina formal, dentro do horário curricular dos estudantes que
possibilite a execução do projeto. Diante disso foi necessário que as oficinas ocorressem
aos sábados, se configurando como uma atividade extracurricular.
Pelo caráter extracurricular do projeto, os bolsistas do PIBID, não frequentam o
espaço escolar cotidianamente, não sendo possível um contato mais direto com os
estudantes, salvo nas oficinas. Para a divulgação do projeto aos estudantes do Ensino
Médio, faz-se necessário, em cada semana que antecede as oficinas, a realização de
convite oral em cada sala de aula da instituição. Também são colados cartazes com as
informações da oficina, para que se reforce no cotidiano dos estudantes o convite à
participação.
O fato da Psicologia não estar inserida no currículo regular da Educação Básica
é de grande influencia no trabalho, se configurando por parâmetros positivos e/ou
negativos. Dentre os positivos temos o interesse que o estudante demonstra em refletir e
discutir sobre as temáticas propostas, frequentando as oficinas mesmo em horário
extracurricular. Outro fator positivo é a liberdade que os bolsistas encontram na
realização das oficinas desde a proposta, construção dos conteúdos e a efetivação.
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Utilizam-se metodologias dinâmicas e abertas, muitas vezes ocorrendo em espaços
diversos do da sala de aula, como por exemplo, na quadra ou pátio.
Mesmos apontados como fatores positivos o fato é que as questões pontuadas
acima também se apresentam por um viés negativo como, por exemplo, o fato da oficina
ocorrer em horário extracurricular impede, por questões socioeconômicas, muitos
estudantes de participarem, pois alguns trabalham, inclusive aos sábados de manhã.
O outro fator, a questão da liberdade na construção da oficina, pode ser visto por
um viés negativo. Como a Psicologia não integra o currículo regular do Ensino Médio
não há uma sistematização dos conteúdos a serem ministrados e referências
bibliográficas que orientem a intervenção na Educação Básica. Deste modo tudo tem
que ser construído, havendo em alguns momentos dificuldade no levantamento
bibliográfico, principalmente de um material que tenha transposição de conteúdo para
uma linguagem mais acessível.
Diante disso a inserção no campo da educação, através da intervenção, demarca
os benefícios que a Psicologia goza por não integrar o currículo, ao mesmo tempo em
que também demarca as dificuldades por essa não inserção. As autoras Soligo e Azzi
(2008) adotadas como referência neste projeto apontam algumas razões de “Por que
psicologia no Ensino Médio” defendendo a inserção da Psicologia como disciplina
obrigatória no currículo. No entanto a discussão sobre a inserção ou não da Psicologia
no currículo do Ensino Médio é complexas.
A realização da intervenção no campo da educação, através do projeto, demarca
as possibilidades de contribuição da Psicologia para a formação mais humana dos
estudantes. Ressaltando-se desta forma a importância dessa área do conhecimento para a
educação. No entanto a via de entrada e acesso no campo educacional não se baseou em
uma inserção por meio de uma disciplina formal. Assim podemos refletir e fomenta
ainda mais a complexa discussão sobre a necessidade da inserção da Psicologia no
currículo regular do Ensino Médio como uma disciplina de caráter obrigatório.
Resultados
Como descrito anteriormente os resultados do projeto percebidos até então são
parciais, visto que o encerramento está previsto para o final de 2014. Com as primeiras
divulgações o projeto se iniciou com uma ampla procura por parte dos estudantes, cerca
de quarenta estudantes. A quantidade de participantes do inicio do projeto superou as
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expectativas, pois o mesmo se configura como uma atividade extracurricular e não
obrigatória.
No primeiro encontro realizou-se a apresentação dos professores e dos
estudantes, assim como do projeto e suas propostas. Realizou-se também um
levantamento das temáticas que mais interessavam os jovens presentes. O resultado em
ordem decrescente de votos foi: sexualidade, identidade, trabalho, drogas, criminalidade
e violência. Esse resultado foi consensual as temáticas já pensadas para a oficina.
Desde o inicio das oficinas os estudantes participaram ativamente das
discussões, mantendo-se esse dado em todos os encontros até então. No entanto o houve
um decréscimo do número de estudantes participando, havendo nos últimos três
encontros uma média de 20 estudantes. A frequência dos estudantes é rotativa, no
entanto há estudantes que frequentam a oficina desde o início.
Podemos indicar o fato da oficina ocorre em horário extracurricular como um
desafio, contribuindo para as desistências apontadas. Podemos indicar também,
enquanto possibilidade, um estranhamento com a metodologia, visto que rompe com o
habitual modelo tradicional de aula.
O desdobramento das discussões das temáticas, com metodologias mais
dinâmicas e a participação efetiva dos estudantes, culminou no uso integral do tempo
destinado para a duração das oficinas, o que se avalia de forma positiva. Houve
necessidade de alteração no cronograma para concluir a discussão de algumas temáticas
que ficaram inconclusas em apenas um encontro. Foi o caso da oficina de sexualidade,
que se desdobrou para um novo encontro com o tema gênero. No entanto como o
calendário previsto possui datas fechadas, não sendo possível acrescentar encontros
houve tema suprimido, com o tema drogas.
Como colocado o cronograma estava definido e com datas fechadas, no entanto
houve contratempos forçando a remarcação de datas e perdas de alguns encontros,
devido fatores internos e externos a instituição. Por exemplo, a impossibilidade de
utilizar a escola em determinadas datas devido a recessos e feriados que não estavam
previstos anteriormente. Esse fator demarca um ponto importante que tem representado
dificuldade para a realização do projeto, a relação com a Instituição. Mesmo com
tentativas de contato e dialogo a relação se manteve distante, não havendo muita
comunicação e troca de informações. Tal realidade dá indícios de como é a relação da
gestão com os estudantes.
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Avaliamos que o projeto apresenta possibilidade de contribuições por sua
metodologia diversificada e sua fundamentação em teorias da Psicologia, que levam em
consideração o indivíduo e sua constituição histórica e social. As temáticas propostas
para a reflexão e discussão com os jovens em si não são inovadoras. No entanto como já
apontado na apresentação do projeto, o objetivo é pensa-las de uma forma diferente do
que os estudantes costumam ver na escola e no cotidiano. Certamente estudam
sexualidade, violência, criminalidade e trabalho na escola, em diversas disciplinas,
entretanto com enfoques e objetivos diferentes dos propostos no presente projeto.
As autoras Soligo e Azzi (2008), apontam alguns conteúdos psicológicos como
temas transversais, que perpassam várias disciplinas. No entanto a psicologia é mais do
que temas transversais é uma área do conhecimento, que tem contribuições para a
formação do estudante, como já pontuado. Assim as temáticas trabalhadas se
fundamentam em teorias psicologias, na qual se adota uma visão psicossocial buscando
associar as constituintes sociais e individuais, subjetivas.
Deste modo buscamos proporcionar ferramentas para que os jovens
compreendam sua relação com constituintes sociais e culturais com fins a reflexão e
compreensão de naturalização, ideologias e preconceitos que cercam sua existência
(SOLIGO; AZZI, 2008). Esta é a contribuição que a Psicologia pode oferecer a
educação e avaliamos que deve ser um compromisso do profissional que se insere neste
campo.
Como anteriormente citado o encerramento do projeto prevê a realização de uma
oficina prática de Grafite, esta culminância da reflexão suscitada nas oficinas ainda não
ocorreu. Podemos prever que a realização desta suscitará novos dados possibilitando
uma analise mais profunda e rica dos resultados do projeto.
Considerações finais
Retomando o objetivo do subprojeto de Psicologia PIBID, regional Goiânia, de
refletir criticamente a respeito das possíveis contribuições da inserção da Psicologia no
Ensino Médio. Podemos refletir, com o desenvolvimento do projeto de intervenção
descrito, que a Psicologia tem sim contribuições possíveis para a formação dos
estudantes do Ensino Médio. As participações, questionamentos e posicionamentos
observados nos alunos durante as oficinas até o presente momento indicam
contribuições do projeto para a construção de uma consciência um pouco mais crítica de
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si e do mundo. Tendo consciência de que há diversos fatores históricos e sociais
constituintes do individuo.
Quando ouvimos de um estudante que defende a redução da maior idade penal
que a discussão suscitada na oficina o fez ouvir outros pontos de visa e pensar, já
avaliamos como um resultado positivo, mesmo que as posições e compreensões não
tenham se alterado na oficina, a “semente” à reflexão foi plantada e esperamos que
germinem a consciência de que as coisas que estão postas no mundo não são naturais e
nem sempre foram assim e se fundamentam em ideologias. Deste modo objetivamos
plantar a semente de uma formação mais humana e de uma consciência mais autônoma.
Com relação à problemática da inserção do licenciado em psicologia no Ensino
Médio enquanto disciplina formal, integrando o currículo regular, não indicamos
respostas e posicionamentos. O que podemos indicar é que existem outras formas de se
inserir na Educação Básica e que podem se mostrar tão formativa ou até mais do que
uma disciplina formal e obrigatória. Cabe refletir e discutir sobre essas outras inserções
e buscar por sua efetivação na realidade da escola brasileira, visto que a psicologia tem
sim, dentro de certos limites, contribuições para uma formação mais humana e cidadã
dos estudantes.
Bibliografia
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para os cursos de graduação em Psicologia, estabelecendo normas para o projeto
pedagógico complementar para a Formação de Professores de Psicologia. Resolução de
nº 5 de 15 de março de 2011. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de março de 2011 –
Seção 1 – p. 19.
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