Notícias AGRO.GES 25 ANOS AO SERVIÇO DO FUTURO Março 2015 Nº 04 EDITORIAL O Armando deixou-nos de uma forma tão inesperada, que nos custa a acreditar que tenha mesmo acontecido. Não vamos voltar a ouvi-lo dizer, à chegada de manhã à AGRO.GES, “Bom dia Filipinha!”. Não vou voltar a ver a cabeça dele na porta entreaberta da minha sala de trabalho para me dar os bons dias. Não vamos voltar a ouvi-lo, durante o dia, a dar-nos novidades da Tareca, dos filhos e, sobretudo, das netas, nem a contar-nos coisas sobre o seu amendoal e olival, os colegas, o trabalho e a política. Também vamos deixar de receber os “mails” que ele, quase todos os dias, nos enviava. Não vamos poder ler os artigos sobre agricultura portuguesa que ele periodicamente escrevia. Não vamos, principalmente, poder contar nem com o seu enorme conhecimento da realidade agrícola nacional, nem com a sua total disponibilidade para nos acompanhar nas reuniões e nas visitas de campo aos nossos clientes. Nem para orientar os nossos trabalhos e ler os nossos relatórios técnicos, com a lucidez e sentido prático que o caracterizavam. Eu perdi um amigo e um colega com quem contava para tudo o que fosse necessário, há mais de 40 anos, e a AGRO.GES não vai mais ser a mesma sem poder contar com a capacidade técnica, a inteligência, a amizade e o humor do Armando. Não vai ser fácil à AGRO.GES continuar com o nosso trabalho sem podermos contar mais com a presença dele. Mas temos a obrigação de o fazer melhor ainda do que o que temos feito até hoje. Por ele, por todos nós seus amigos e colegas de trabalho, por todos os nossos clientes que continuam a confiar em nós e, principalmente, pela agricultura portuguesa que ele tanto amou e nos ensinou a amar. Até sempre, Armando. Francisco Avillez 1 O Armando, nas palavras que pedimos emprestadas … Foram inúmeras as mensagens de pesar e de solidariedade que chegaram à AGRO.GES a propósito da partida do Armando. Foram igualmente muitas as pessoas que deram publico testemunho sobre este nosso Amigo que, de forma tão inesperada, nos deixou. Pedimos emprestadas as palavras de alguns deles, nesta memória que queremos partilhar do nosso amigo Armando. Esperamos que nos perdoem o abuso. Até sempre Armando. “… Armando Sevinate Pinto era, para além do especialista indiscutível na agricultura do nosso país (e espero que alguém publique o importante conjunto de artigos que nos últimos tempos editou no "Público"), um excelente amigo, uma pessoa de sorriso são, quase adolescente, que se sentia que estava de bem com a vida e que tinha do país uma leitura positiva e de esperança …” (ler mais) Francisco Seixas da Costa “… Sim, é um dia triste. Perdemos uma das vozes mais lúcidas e simultaneamente mais apaixonadas da agricultura nacional. Armando Sevinate Pinto encarnava os valores que melhor representam o setor e lutou pela dignificação da agricultura numa altura em que esta estava longe de estar na moda. Vamos sentir falta da sua voz grave, do seu sentido de humor, …” (ler mais) Vida Rural “… Em vez das triviais generalidades simpáticas do costume, o cavalheiro, que não me conhecia de lado nenhum e a quem eu fora apresentado à entrada, sacou de um exemplar de "Terra Firme" ouriçado de Post-Its e durante uma hora analisou e dissertou em pormenor, com uma acuidade fulminante e uma desvelada gentileza. Disseram-me depois que Sevinate Pinto era sempre assim…” (ler mais) José Navarro de Andrade “… Não é fácil definir aquilo a que se chama «um senhor», ainda que saibamos de imediato sempre que um deles nos aparece pela frente. O Armando Sevinate Pinto era um senhor pois não precisava de fazer nada para sê-lo…” (ler mais) António Araújo “… O Armando Sevinate Pinto foi das pessoas melhores e mais decentes que conheci em toda a minha vida. Nada consigo acrescentar às palavras do António Araújo. Só o meu obrigado…” (ler mais) Manuel Fazenda Lourenço “… Perdemos um Amigo, um grande Homem, uma âncora e um porto de abrigo …” (ler mais) Manuela Nina Jorge “… Era um homem íntegro e sério, que nunca abdicou de pensar pela sua própria cabeça…” (ler mais) Fernando Gomes da Silva “… A homenagem que lhe faço agora consiste em juntar aqui todas as vezes que, ao longo destes últimos anos, o blog Agronomia lhes fez referência…” (ler mais) Pedro Aguiar Pinto “… era "um português ilustre e um cidadão exemplar", que "pôs sempre o seu profundo conhecimento sobre agricultura ao serviço do país…" (ler mais) José Matos Correia “… Aliava essas qualidades profissionais e pessoais a uma discrição que é própria daqueles que não almejam protagonismos nem buscam palcos mediáticos…” (ler mais) Aníbal Cavaco Silva "… Armando Sevinate Pinto era um ser humano excecional e um notável e persistente criador de políticas agrícolas. No Governo e nas instituições, na universidade e nas empresas, deu o melhor de si mesmo e deixou um legado de conhecimento, saber pensar e saber fazer agricultura em Portugal verdadeiramente único e que deve ser continuado… Era um amigo pessoal, com um testemunho de presença e lealdade nos momentos mais difíceis” (ler mais) Paulo Portas “… Contundente nas suas opiniões, com um conhecimento vasto sobre todas as dimensões da agricultura, corajoso e livre, Sevinate Pinto …” (ler mais) Manuel Carvalho “… Pessoalmente, guardo com gratidão e reconhecimento a boa memória da generosidade amiga de quem me deu a minha primeira lição de agricultura e políticas agrícolas e esteve sempre presente para ajudar e apoiar ao longo destes anos. Guardo também a memória de um homem atento e dedicado à sua família. Um exemplo para todos nós …” (ler mais) Assunção Cristas “… Armando Sevinate Pinto dedicou a sua vida à ruralidade moderna e próspera …” (ler mais) Pedro Passos Coelho 2 O Armando, num artigo que tão bem o define … O Armando mantinha uma colaboração com o jornal Público, para o qual escreveu um conjunto de artigos sobre agricultura. Escolhemos para figurar nesta sua memória, um que foi publicado em Agosto de 2014. Não por ser o mais importante. Mas por ser aquele que para nós, que com ele trabalhávamos diariamente, melhor exprime o seu pensar sobre a agricultura e o ser-se agricultor: não é fácil e convém que se saiba! Será fácil ser-se agricultor? Depois de décadas em que a sua imagem foi tudo menos positiva, a agricultura está agora na moda. Ainda bem! Esperemos que seja para durar. Os agricultores passaram de socialmente desprestigiados, a gente respeitada pelo seu esforço e pelo seu sucesso. Ser jovem agricultor passou a não ser menos do que ser jovem doutor, ou jovem engenheiro, de outras profissões. Sob o aplauso público e o chamamento político generalizado, a agricultura sobe ao pódio, o Presidente da República dedicou-lhe um 10 de Junho e a comunicação social cobre-a de elogios. Perante a incredibilidade, dos que disso fazem profissão, afinal a agricultura sobreviveu. Afinal exportamos milhares de milhões de euros, somos muito menos dependentes do que alguns pensavam, os nossos vinhos e azeites brilham no mundo inteiro, a nossa cortiça é prestigiada pelos artistas e pela alta tecnologia e a nossa fruta, concentrado de tomate, saladas e cavalos, levam longe o nome do nosso país. Os agricultores mais velhos gostam, mas desconfiam. Os mais novos tentam a sorte por caminhos que, em muitos casos, estariam longe dos seus sonhos, mas que, também em muitos casos, os realizam profissional e humanamente, com experiências fascinantes, que só o mundo rural, a natureza e o prazer de produzir utilidade, podem proporcionar Conjugaram-se várias circunstâncias favoráveis à agricultura para que isso tenha acontecido. À escala mundial, a insegurança alimentar gerada pelas crises recentes, valorizou a sobrevivência e o mundo emocionou-se com a fome, que os anos de desvario financeiro tinham feito esquecer. No nosso caso, o consumismo, desordenado e irracional, resultado do enriquecimento súbito, que agora se revela fatal, gerou importações desregradas e muitas vezes desnecessárias, em que tudo parecia ilimitado. Ao ponto de muitas crianças julgarem que o leite, a carne, o pão, a fruta e os legumes, fossem produzidos nos supermercados. O rural e o campo foram sinónimos de atraso, de pobreza e de passado, de que todos pareciam querer fugir, alimentados por estereótipos urbanos de felicidade aparente e efémera. A nossa consciência coletiva acordou. Ainda que lentamente, foi compreendendo o evidente. A agricultura, de amaldiçoada, passou a fundamental para o desenvolvimento do país e para o equilíbrio do território. Em pouco tempo, passou a socialmente atrativa. Passou a assunto, ganhou estatuto e criouse a moda. Hoje tudo é diferente. No meio da crise que nos consome, os agricultores chegam a parecer os heróis do nosso tempo. Mas será fácil ser-se agricultor, como parece acreditar uma grande parte da sociedade urbana? A resposta é clara e óbvia, sobretudo, se dada por aqueles e aquelas que já o são. Não, não é nada fácil ser-se agricultor e, muito menos, ser-se jovem agricultor. Não é fácil e convém que se saiba. Começa por ser uma profissão rodeada de incertezas, cuja redução está geralmente fora do poder de quem as enfrenta. São os preços dos produtos agrícolas e os custos dos fatores de produção que evoluem erraticamente, muitas vezes inexplicavelmente, e, quase sempre, em desacordo com os nossos interesses. É o tempo caprichoso que nos dá chuva quando queremos sol, e sol quando pedimos chuva; que nos dá frio e geada, que mata e queima a flor da nossa fruta e das nossas searas, ou calor que escalda as nossas uvas; são as doenças, as pragas e os incêndios que nos queimam a esperança quando menos esperamos; é a política que muda como o vento que nos destrói as estufas. Ser agricultor é, muitas vezes, resistir. Resistir às adversidades, mais frequentes e maiores do que na maioria das outras profissões. É saber controlar as emoções, quando as culturas se perdem ou morrem os animais, depois de meses, e até anos, de trabalho e de dedicação. É saber como passar noites sem vontade de dormir, como aguentar a burocracia desesperante. Saber como, muitas vezes sem dinheiro, pagar impostos, seguros, salários, segurança social e contas de todo o tipo. Ser agricultor hoje, é também ser profissional; ter vontade de aprender; saber biologia, zoologia, química, mecânica, economia e gestão; é saber outras línguas, informática, ler, estudar, informar-se, associar-se, viajar, ser curioso, relacionar-se, saber vender e saber comprar. Ser agricultor é também vocação e sorte. É escolher uma profissão que dá sentido à vida, que dá prazer, liberdade e independência. (continua) 3 (continuação) Nem sempre independência financeira, mas, quase sempre independência de carácter. Um carácter moldado com a ajuda da natureza, com a brisa fresca das manhãs com cheiro a terra, com os pôr-do-sol que suavizam a vida dura dos campos e dão gratuitamente o alento suficiente para enfrentar o difícil dia a dia dos agricultores. Ser-se agricultor está longe de ser fácil e mais longe ainda da facilidade que os não agricultores julgam associada a esta profissão. Os candidatos a agricultores, aqueles que respondem ao chamamento da sociedade, ou à sua intuição pessoal, devem estar conscientes da dedicação e esforço que lhe vão ser exigidos, mas também da existência da formidável energia positiva associada a uma das mais nobres, livres, úteis, gratificantes e independentes atividades humanas inseridas no processo produtivo e que tem o mérito de ser uma das poucas de que depende inteiramente a sobrevivência da nossa espécie. Armando Sevinate Pinto Engenheiro Agrónomo (ISA) A missa de sétimo dia, por alma do Armando, terá lugar na próxima 2ª feira, dia 6 de abril, pelas 19h 15 min, na Igreja Paroquial de Cascais. Que a sua alma descanse em Paz. AGRO.GES, Sociedade de Estudos e Projetos, Lda. Av. da República, 412 2750-475 Cascais Tel. 21 484 74 40, Fax. 21 484 74 41 Site: www.agroges.pt Email: [email protected] SIGA-NOS NO FACEBOOK [...] 25 ANOS AO SERVIÇO DO FUTURO 4