3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X
A ODONTOLOGIA NA BUSCA DE UMA EQUIPE
MULTIDISCIPLINAR PARA MELHOR ATENDIMENTO ÀS PESSOAS
COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS
José Simões Estima Alves Neto - [email protected]
Carina Cantarelli Morelli – [email protected]
Willian Saranholi – [email protected]
A.A.E.E. “Associação de Atendimento Educacional
Especializado”
Fundada em 20/12/1991
C.N.P.J. 66.998. 931/0001- 39 – CEBAS D.O.U. 22.02.06
Rua Mondo Archimedes Luppi, 620
Jd Aclimação CEP – 14806-121
Araraquara – SP
INTRODUÇÃO
A saúde bucal do paciente com necessidades educacionais especiais é bastante
comprometida. Na maioria dos casos apresentam dificuldade de escovação levando a um alto
índice de patologias bucais, exemplo disso é a doença cárie.
Esses pacientes apresentam desvios de normalidade, sejam de ordem física, mental, sensorial,
comportamental, sendo muitas vezes estigmatizados. Diante dessas condições é fundamental a
integração de uma equipe multidisciplinar, visando uma melhora no quadro da saúde geral
desses pacientes, do seu bem estar físico e mental.
Na odontologia especial, é exigido do Cirurgião – Dentista maiores conhecimentos fora de
sua área profissional, não para aumentar seu campo de atuação , mas para adquirir
conhecimentos indispensáveis para relacionar e solucionar os problemas que envolvem a boca
e sua influência nos demais órgãos do organismo. A necessidade do saber sobre condições
fisiopatológicas é, severamente rígida. O profissional da Odontologia possui papel
fundamental na integração do paciente especial a sociedade, permite o controle de patologias
bucais que possam interferir no humor do paciente, no seu bem estar físico, impedindo que
outros profissionais como os educadores progridam com seu trabalho, ainda reduzindo índices
de fracasso de atuações ou intervenções de outros especialistas, diante de condições
desconhecidas. A atuação isolada, é pura perda de tempo, um prejuízo considerável, inclusive
financeiro para manter uma educação especial incompleta.
A Odontologia deve estar presente nessa equipe de reabilitação, empregando seus métodos
especiais para educação, seus conhecimentos em colaboração as áreas afins e ajudando não só
os pacientes no desenvolvimento de seu potencial, como também os familiares e outros
profissionais orientando-os na prevenção das malformações congênitas e ambientais, bem
como informar os locais de atendimento para um diagnóstico precoce das deficiências ou
mesmo incapacidade.
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Há muito que fazer no sentido da promoção da saúde dos pacientes especiais, especialmente
em relação à saúde bucal. Estudos vêm sendo desenvolvidos, abordagem temática com a
sociedade, criação de curso de capacitação em atendimento odontológico (atualização
profissional), disciplinas introduzidas nas Universidades no curso de graduação em
Odontologia, ainda são insuficientes.
O relato de experiência apresentado nesse estudo, expõe a grande dificuldade do tratamento
odontológico, não só para as pessoas com necessidades especiais, como também os familiares
e aos próprios profissionais. Os Pacientes Especiais possuem necessidades odontológicas
mais intensificadas devido sua patologia orgânica que apresenta algumas características que
interferem num tratamento convencional, seja em nível primário, secundário ou terciário.
Esses pacientes geralmente apresentam doenças bucais que comprometem seriamente os
dentes, levando muitas vezes a sua perda. São pessoas que não possuem habilidade para
promoverem uma higienização oral satisfatória e muitas vezes não permitem que outras
pessoas as façam ou façam de maneira adequada por apresentarem quadros de agressividade.
Com isso leva o profissional em alguns casos tratar esses pacientes com o uso de sedativos
(ambiente hospitalar; anestesia geral), os quais sabemos que torna ineficaz no controle do
processo saúde/doença, por ser puramente cirúrgico/restaurador ou por contenção, método de
segregação.
No entanto, a Odontologia surge no trabalho pedagógico na busca pela orientação, inserção
social desse grupo e pela proposta de melhor atendê-los. Considerada Especialidade em 2002,
pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO), sua condição incapacitante, sofre
discriminação da sociedade pelos profissionais da área da saúde e até mesmo por familiares.
Apesar de a especialidade ser reconhecida apenas recentemente pelo CRO (Conselho
Regional de Odontologia), a procura pelo serviço é grande, mas infelizmente, muitos
profissionais da área se recusam atender pacientes nessas condições. Para atuar nessa área é
necessário ter um amplo conhecimento nas áreas de suas especialidades como também em
psicologia e fisioterapia. No entanto, o trabalho dentro de uma instituição é garantido o
suporte para o profissional atuar não só contando com a ajuda de toda a equipe profissional
que nela atua (psicóloga, pedagoga, assistente social, terapia ocupacional, fisioterapia e
fonoaudiologia) como também passar orientações a ela e aos familiares.
METODOLOGIA
O enfoque desta pesquisa esta relacionado a preocupação dos profissionais da odontologia
com esses pacientes, porém, na prática, pouca atenção lhes tem sido dedicada. Na maioria dos
casos, o profissional encontra-se despreparado e inseguro diante da situação.
O público-alvo foi formado pela Instituição AAEE, por pessoas com necessidades especiais,
que nela estudam, associadas ou não à deficiência física, pais, professores e toda a equipe
clínica desta instituição. Sabemos que os cuidados são os mesmos para todos os pacientes
sejam ou não portadores de necessidades especiais. Além de todos estes cuidados, estes
necessitam outras atenções, em acordo com suas deficiências e potencialidade. Aqueles que
têm dificuldade motora precisam de ajuda de outras pessoas para realizarem higiene bucal.
Outros, que têm dificuldades de entendimento, precisam de instruções repetitivas de higiene,
até que possam assimilar estas tarefas.
Neste sentido, o trabalho se inicia em sala de aula com conteúdos relacionados à higiene
pessoal e em relevância aos cuidados com a higiene bucal. Em seguida o aluno passa para
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avaliação e primeiros procedimentos necessários ao tratamento odontológico juntamente com
a equipe organizada desta instituição para encaminhamento posterior. Muitos deles
apresentam resistências ao se deparar com o dentista e com o consultório embora este se
localize na escola.
No entanto os atendimentos não se restringem apenas em tratar a patologia bucal, mas se
preocupa também em como o paciente enfrentará a situação odontológica, o que para muitos
desencadeia sintomas de medo e ansiedade. Essa visão humanista da odontologia considera o
paciente com deficiência com a atenção que ele requer. Um dos primeiros passos é
desmistificar as antigas concepções no trato com a clientela especial e oferecer a eles,
prioritariamente, o que toda pessoa merece, um tratamento acima de tudo humano. Na hora
em que se senta na cadeira odontológica, todo mundo gostaria de ser especial, estabelecer
uma relação mais humana e ter seus medos mais compreendidos.
Para isso é fundamental o profissional está familiarizado com as patologias de cada paciente e
os comprometimentos associados a fim de reconhecer as limitações de cada um e avaliar
corretamente a abordagem e o tratamento indicado.
Notamos que um dos aspectos mais inquietantes do tratamento odontológico das crianças
especiais é a relação que se estabelece entre o dentista, a família e a criança especial. Quando
o cirurgião-dentista recebe em seu consultório o paciente com NEE, a porta que se abre
recebe também toda uma família especial. Existe uma série de importantes fatores que
extrapolam os limites do consultório projetando-se no âmago da família do paciente,
portadora de uma carga tensional que, muitas vezes, provoca mudanças fundamentais na
estrutura, nos padrões e no funcionamento do lar. No entanto, a pedagogia e a psicologia
servem de intermédio para minimizar essa angústia e dificuldade dos pais em liderar com
essas situações.
Nestes pacientes deve ser observado em primeiro lugar o ser humano, o indivíduo e depois
seus impedimentos. Devem ser considerados como pacientes com problemas bucais e dentais
que possuem um sofrimento ou uma enfermidade complementar.
Esta filosofia de trabalho impede uma atitude negativa e de falsa piedade por parte do
profissional que se propõe a trabalhar com e para as pessoas com NEE.
A primeira abordagem odontológica deve ser composta de uma aproximação com os
pacientes e familiares assim como o conhecimento das condições médicas preexistentes.
Salienta-se que muitos destes pacientes apresentam complicações orgânicas. Para melhor
atendimento exige uma integração das áreas odontológica com outras áreas afins, como vimos
no trabalho nesta instituição, na qual se envolvem toda a equipe multidisciplinar, dentre ela a
psicologia, a pedagogia e a assistência social. O dentista especialista realiza o exame
bucodentário, e juntamente com a psicóloga e a pedagoga avalia o comportamento do
paciente, dos familiares, e o relacionamento entre ambos.
Nota-se o pequeno número de dentistas que atendem esses pacientes. Além disso, o
tratamento odontológico é dificultado pelo pouco conhecimento que o profissional possui ao
se deparar com uma pessoa com NEE, pelas características bucais e pela forma de relação
com esses pacientes.
Contudo, juntamente com uma equipe multidisciplinar entre profissionais de psicologia,
pedagogia e odontologia, podemos realizar um trabalho de muita qualidade para estas
pessoas, não só por questão de saúde, mas também pela inserção social.
Por meio do trabalho realizado na instituição, encaminhamos pacientes para as clinicas
odontológicas para os procedimentos clínicos necessários.
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Os locais para o atendimento da população de pacientes especiais devem estar junto às
instituições que oferecem tratamentos globais para as deficiências abordadas. Nelas, o
Cirurgião Dentista integra uma equipe de trabalho multi e interdisciplinar.
Esse trabalho entre a Odontologia para Pacientes Especiais e a equipe multidisciplinar surgiu
em conseqüência devido a Cirurgiões Dentistas interessados em aprimorar seus trabalhos e
diminuir suas dificuldades perante o manejo com as pessoas com necessidades especiais.
Dessa forma, esse trabalho se justifica pela tentativa de se conhecer melhor as pessoas com
necessidades especiais e os serviços assistenciais que servem como referência para o
encaminhamento do paciente especial para o tratamento odontológico necessário e contribuir
para um melhor entendimento do cirurgião-dentista, quanto à necessidade de atendê-lo como
um paciente que precisa de um pouco mais de compreensão, carinho e dedicação para a
resolução de seus problemas odontológicos e promoção de sua saúde.
RESULTADOS
A Odontologia tem muito a oferecer à causa das pessoas com necessidades especiais, e isto só
poderá ser realizado por meio da preparação adequada dos profissionais neste setor. A
qualidade dos atendimentos e cuidados odontológicos contribui não somente para a saúde
básica, mas também para um melhor desenvolvimento tanto da própria imagem como da
autoestima dessa população. Sob esse prisma, ao considerar-se a vasta área de atuação desta
especialidade, há de se questionar: - Qual o cirurgião-dentista que nunca se deparou com um
paciente nessa condição e que não tenha se sentido impotente para atendê-lo? Desta forma,
notamos a fundamental importância a relação entre o trabalho da odontologia com a equipe
multidisciplinar desta instituição para adequada preparação, habilitação e atualização do
profissional que pretende oferecer mais do que apenas “cuidar de dentes”, nessa área já
salientada como complexa e que traz em sua essência uma gratificação sem precedentes na
carreira profissional.
Nota-se a relevância de uma equipe multidisciplinar em realização do atendimento
odontológico para à promoção da saúde bucal da pessoa com NEE. A Odontologia a
Pacientes Especiais funciona a partir de um trabalho integrado nos quais vários profissionais
de especialidades diferentes trabalham juntos. A integração é importante para a formação
generalista do profissional. Nesse sentido, o profissional é convidado a fazer um plano de
tratamento para seus pacientes na tentativa de reproduzir a realidade do consultório por meio
do trabalho realizado na instituição juntamente com toda a equipe, na qual fortalece não só o
atendimento aos pacientes como também enriquece o trabalho do dentista.
Após o trabalho realizado em equipe na instituição vemos familiares acompanhando os
pacientes com NEE às clinicas as quais foram submetidas à tratamento, sem que precisam ser
sedadas (anestesia geral) ou pelo uso da contenção.
“ A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualdades os desiguais, na medida
em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que
se acha a verdadeira lei da igualdade.O mais são desvarios da inveja, do orgulho, ou loucura.
Tratar com desigualdades a iguais, ou desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e
não igualdade real.”( BARBOSA, apud FIGUEIREDO, 1997 p 226). Nesse contexto de
inclusão, existe maior arma que o sorriso? Por meio do simples ato de sorrir o ser humano
pode abrir portas, fazer amigos e expressar os sentimentos mais banais até os mais íntimos,
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independente da raça, do gênero ou necessidade especial. Se é assim, por qual motivo as
pessoas com necessidades especiais estiveram por tanto tempo excluídas do atendimento
odontológico?
Por meio do trabalho realizado pelos profissionais desta instituição e pelos profissionais da
odontologia, foi possível perceber que não é necessário ser um especialista para desempenhar
uma atenção odontológica em crianças especiais, desde que o profissional conheça o público
trabalhado, suas deficiências e limitações. Para tanto, faz-se necessário uma divulgação das
experiências vividas em trabalhos como este, de que as dificuldades no tratamento podem ser
superadas por meio do conhecimento, confiança, paciência e dedicação dos profissionais que
atuam.
CONCLUSÃO
O trabalho aqui apresentado possui ampla gama de atividades que envolvem a escola e o
trabalho odontológico. Essa participação é detectável não só na prestação de serviços, como
também no desenvolvimento de hábitos saudáveis tanto no trabalho de pais e cuidadores
quanto aos próprios pacientes.
No entanto este trabalho teve como proposta não só averiguar se as pessoas com necessidades
educacionais especiais têm acesso adequado aos serviços de atenção à saúde bucal prestados
por instituições assistenciais públicas ou privadas, como também familiarizar a pessoa com
necessidades especiais aos tratamentos odontológicos, que por sua vez são dotados de medos
e anseios, além de encaminhá-los à tratamentos específicos em clinicas adequadas para cada
caso e suas especialidades.
Para tanto, é interessante que os pacientes e seus responsáveis recebam reforço sobre técnicas
de escovação sejam estimulados a comparecerem ao consultório em períodos mais curtos para
que a sua eficácia seja supervisionada pelo profissional cujo foi indicado pela instituição para
continuidade de tratamento.
O trabalho em equipe vem se desenvolvendo no âmbito dos serviços de saúde e, dessa forma,
os profissionais da saúde devem estar conscientes de que as especialidades devem se interrelacionar para o tratamento integral do paciente. Conforme referido, alguns problemas ainda
existem, sendo muitos deles complexos e de difícil resolução. Porém, um maior
desenvolvimento da Odontologia se faz necessário pela maior amplitude de procedimentos
que possibilita, mostrando-se imprescindível para uma melhor condição de saúde da
população e reforçando a importância da multidisciplinaridade.
O profissional deve partir do princípio que a interação é o ponto primordial, pois é por meio
dela que se é possível conhecer o paciente em sua individualidade. Deve se entender que as
síndromes manifestam-se de diferentes formas em cada criança especial. Desse modo, pode-se
fazer um condicionamento executando tratamento odontológico baseado nos conceitos da
Odontopediatria, utilizando metodologias apropriadas a este grupo e tanto receber como
orientar profissionais afins.
Diante dos estudos e experiências vivenciadas pelos acadêmicos, pôde-se notar que os
pacientes especiais podem participar do atendimento normal nas clínicas.
Dessa forma, fica cumprido com excelência o papel do dentista na instituição escolar com a
possibilidade dele participar e também com o papel social de promover a saúde e a inclusão
social do paciente com NEE.
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A Odontologia para Pacientes Especiais deve se relacionar com diversas especialidades, como
a fisioterapia, fonoaudiologia, assistência social, psicologia, pedagogia e outras áreas afins,
porque somente com o trabalho de uma equipe multidisciplinar integrada será possível a
reabilitação integral do paciente especial.
Uma forma efetiva e eficiente no desenvolvimento de atividades educativas em escolas de
educação especial ocorre pelo estabelecimento de parcerias entre profissionais de saúde e
professores, pois introduz aspectos relacionados à saúde bucal e reforça conteúdos também
apresentados em sala anteriormente, no que se refere as atividades da vida diária. Diante do
exposto, concluiu-se que a população estudada ( pais, alunos e professores) apresentou
conhecimento razoável em relação aos cuidados com a saúde bucal. Os dados indicam a
necessidade de se aplicar e implementar programas educativos voltados para estes
profissionais, principalmente dentro do currículo acadêmico, afim de torná-los mais
capacitados para abordar este tema em sala de aula com seus futuros alunos e orientar as
famílias.
REFERÊNCIAS
- BRASIL. Conselho Federal de Odontologia. Consolidação das Normas para
Procedimentos nos Conselhos de Odontologia. Resolução CFO-63/2005.
Atualizado em 04/11/2008.
- EVANGELISTA, L.M.C. As novas abordagens do diagnóstico psicológico da
deficiência mental. São Paulo: vetor, 2002.
- FIGUEIREDO, G.J.P. ET AL. Direitos da pessoa portadora de deficiência. São
Paulo: Max Limonad, 1997.
- MARCHIONI, S.A.E. Formação de Vínculos no atendimento odontológico. In:
SEGER, L. e COLS. Psicologia & Odontologia: uma abordagem integradora.4 ed
São Paulo, Santos, 2002.
- MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual programa de assistência odontologia integrada
ao paciente especial: 2 Brasilia, DF, 1992
- QUELUZ, DP, PALUMBRO A. Integração do odontológico no serviço de saúde em
uma equipe multidisciplinar. Jornal de Assessoria e Prestação de Serviços ao
Odontologista. 2000;3 (19):40-6.
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