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NUMR>0-75
:~o
A
IDÉIA
Literatura das
Sêcas
ROBER'l'O ATTILA 120 AMARAL \ 1 IEIRA
<1• Ano ('lál!!li<'oJ
Não (• lielto dizer-se seja de apoucados méritos u
qut• o Ceará legou ao palrlmõnlo lllerârlo
na!.'lonnl. J\lt1m de t•rlar uma literatura nova, original e
sPrtaneja, qut• sàbtamente o não menos sábio Tristão dt•
Athuydt' qualifkou de lltl'ratura das secas, legou à Pátria,
o Ceará, um punhado de grandes est'rltores que, dada u
extensão ele sube1· t• belPza de pstllo. breve tornaram-se
nomes nat•ltmnls como Tomaz Pompeu de Souza Brasil.
Alencar, Franklin Távora. Galeno, Caplstrano de Abreu,
Clovis Bevfláquu c muitos outros, ontem; e Raquel de Queiroz, Mnrllnz ele Aguiar, Gustavo Barroso, Austregesllo dt'
A1haydP, Magalhlles Júnior e outros Igualmente dignos dl'
rlta<:ão, no dia de hoje, de quase Pstãglo literário, vitima
de alguma lnfluenela sociológica. ainda não identltlcada
pelos estudiosos responsávNs.
. Literatura ~ um sentimento da alma, popular .,. excesSivamente humano, e só o conduz quem estiver lrmanadn
aos grito~ elo povo.
Assim, a fft<'ratura gera dos sentimentos dessl' mesmo
rontt'lbul~·iio
jl<)V().
Se êl~ l' sofrl'dm·, o que acontece com o nosso. sua literatura nuo pode ser romântica por excelenela exceto
coisa qUl' niio ti rara, se os seus representantes ~stl~erem
divorciados do homem, contrariando suas missões di.' portaVOZl'S dos sentimentos populares. Não será, portanto, Jlterato, o nrtlsta ele «tõt'l'e de mn1·fim•.
A arte, em ~uu umpla stgnHkaciio, tem como Cfnalldade a Interpretação do mundo, da sorledadl', do ambiente,
variundo, pots. de acOrdo rom a ldt>ologia do nrtlsta e dafi
tdeologius de t•lasses, mudando. é claro, essa mesma arte,
ele aeórdo <'Om o mundo ambiente, sofrendo a at:ão do ambiente soclt1lúglc'o C'Om suas Influências, variando de cc>nfOJ·mldadt> com o~ elemento!! espirituais das classes.
cO Cearens<• t! lfte1·ato por lndole:o, já íol dito.
!ndolc lnqu<•brantável que produziu o indianismo romã.ntko de Alent'ar, lndole forte e persistente que, suplantando o estado tfnanretro. criou uma literatura leve, estilista e acima de tudo própria, uma literatura que iala,
altamente. do Sl'U sofrimento. literatura esta que é o retrato fiel de uma gente predestinada ao sofrimento, a
lltl'ruturu das slicas, sem toques embelezadores, porquanto
t! natural, esta literatura nova qul' é a sertaneja, cantando
a epopéla triste de uma gente céptica e fatalista.
Diz o lnc·lllo Dolor Barreira l'm sua cH!stórla da Llleratura Cearens<•:o CI\Ionografla n• 18, pãg. 47): c l1: Inegável
a Influência que, sõbrt! a lltt>ratura, t>xerce o Calor econõmlco. A regra devt• ser esta: povo rico, despreocupado das
Incertezas do amanhã, lltt>ratura opulenta e próspt>ra; povo
pobre, Incessantemente atribulado pelas preocupat:ões do
pão nosso de rada dia, literatura esmlrrada e achacadlç:u.
Com sua lfteraturn, em vls!vel contraste com seu movimento eronOmfeo, o Ceará põs em dúvida a tese do brilhante aead~mlco. São Paulo também toge à regra, mas.
eom l!le, dá-se o problema mverso: , a contr.lbul<:il.o paulista pai'U a llteratUI'tl braslletra não tem correspondido,
pela quantidade ou pela qualidade, à Importância da rtt;ll.o
exercida por S. Paulo sõbre o conjunto da vida nacional ~ .
(João Pinto da Silva - rr. Literária do R G. do Sul).
11: '' próprio Dolor Barrt>lra que em seu livro, mais arlfante, a<'l'I'St'entn: .,o tacto - observe-se de passagrm pede umn expllcac;;l!.o esp<'clal, oul' ao~ no~sos sociólogos
<·abe 'lar•. Qut• êles los sociólogos) respondam.
Como Sl' justifica o Ceará, estado pobre, povo d<'snutrldo " pohrt•, st>r JIOSsuldor rie uma literatura tão beta •·
vasta?
Como justiticar a desproporcão ex1stente entre nossos
mot·lmentos comercial e Industrial e o movimento literário?
Com just!Cicávei razão, José Verlsslmo reconhecia que,
cdepols do Rio de Janeiro. é Fortaleza a cidade onde menos apagada é a vida literária».
Apro:o.:lmadumcnte em 1895. Aderbal de Carvalho, apó~
nos visitai, dlsst': ~ no Ceará a lil.eratura chega u s~r verdadeira mania: - o eearen:;e é Jlterato por tn!lol(! e por
nasclmt>nto».
Qut>remo!i ere1· que a lndole Corte do cearens~ haJa
vencido os obstáC'ulos Impostos ll~los ratores l'Con,'mkos.
Literato será o filho da classe média. o jovem que
custeia seus próprios estudos. sem ter dl' lado o paizinho
mlllonárlo. paro torná-lo cum novo mlllonárlo», ou um
moleque de gravata, dos muitos que hoje são asslduos frc>quento.dores dêRse Imoral «SOciety», com filiais nas sessões
domlnguclras do Diogo e na t>Squlna da Broadway. qul'
chnmam, t•om orgulho e vaidade, cesqulna elo pl'Cado».
Jl: u elnsse média que faz, e fará sempre, a lltCI'at ura
t•eal·ense. Ela, que sorrc, E'la. que sente os anseios do seu
povo, é qut> poderá traduzi-los. Só ela podt>l'á ralar dn
vida do povo, ela qul' é extensa parcela dêsse mesmo
povo.
«De tõd as li s provlnclas brasileiras se distingue
u terra de Ira<·ema. Nem o deserto adusto nem a
OoreRta exuberante. nem o sol lmplacãvel.' Nem a
miséria nem u fartura. Nad~t disso, Isoladamente,
mus tudo a um tempo. 1:: a terra dos grande~ o•x-
tn•mos, noss~ maior paradoxo gcográCico.
Terra
mártir. pot· vt>zes, de ondl' a vida perlódlcamente se
ausenta, perseguida pelos elementos, c cujo solo eomIJorldo, grelado, calcinado, jaz ao desamparo com
lmprestávt>l earcassa, um momento basta para convertê-la em terra da p1·omlssão, quando a ft>cundam
as chuvas abundantes do Inverno. A selva vegetal,
que mergulhara pelo solo a dentro. procurando nêsse âmago refúgio contra o togo l' a lrradlaçí.lo lnexoráveis <la atmosfera, ressurgp com vitalidade
Imensurável, rompt>ndo o chão alegremente romo ávida de reviver e desafiar os elementos vencidos pela.
tenacidade. E a vida animal renaSCI.', com a mesma
!'xuberàncla reralcada, voltando fielmente o homem
u sua gleba de dor e fartura. Em pa1·te alguma o
vemos tão Identificado com ela. Magro, mofino, curvado, fatalista, transfigura-se como n terra, de um
momento para o outro, l'C.'velando-se sem tt·anslcão,
ardente, flexlvel, soberbo. Não podiam deixar de
possuir expressão litt>rãrla essa terra c essa ge11te·
prpdesllnadas».
( Ag-rlplno Hrif't•o)
Finalmente, o Ceará (> - no dlzl'r d<• J11àn Brlgldu co l'll'rno tt>rrt>lro da malcllcão•.
Sim, quando não é a séca. a ceterna Illada de miséria
l' fome , prostltulcão e t•rime, que resulta dos seus anos terríveis •. é o Rio Jaguar1be, em suas enchentes. lt>vando t~on­
slgo rotados, !.'asas e vilas. cldadC"s esperant:as, !ellcldadi!s....
I' tudo que s~ Impor à sua frente, até mE'smo n esplrlto de
luta do cearense ...
Dessa revelat:ão de dor. su1·gtu a litl'ratur.• da\! silcas.
substftumdo as belezas de> All'n!.'ar, que s6 sabia esc~~vl'r
l'Oisas belas. multo natural em sua época, mas lnjusttrlc:\vel hoje, brotava essa llteratura nova, que era a da dor.
devendo, como têz a de Euclides da Cunha, c truduzlr o
honor da realidade».
rlstlra da poesia nordestina, vimos .O Cea,rá», c lncen<llo do
Com Lõda a vlbrac,:ão e expontãneldade que ~ caraf'teMato•, cNas Estradas:., «Cancao dos Retirantes .. I' ainda
os poemetos, segundo classiflcat:ão de Dolor Barreira: «AS
Sêcas no cearA•. ,le Marllnho Rodrigues, rAgonla suvrema:t, dl' Alvaro Martins, .. A Esmola•. de Temlstócles Machado, e a «A Sêca e a Fóme», de Llberato Nogueira.
Poesias sublimes, falando de uma epopêla triste.
A nossa llter~ttura das sécas nasce, podemos dizer,
com Rodolfo Teófilo em «História da Sêca do Ceará:. e ~A
1-'ome», quando, na11 letras, a «epopéla das secas eomeça
a assumir felcão caracterlstica». Mala adiante, o quase
desconheeldo Oliveira Paiva apre8t>nta os sonetos «Sons ela
VIola• l' os romances cA Artlhadlnhu e cD. Guldlnha do
Po<:o».
Esta Forma nova de literatura sertaneja alcanca seu
climax com Domingos Ollmplo em cLuzla Homem», cD. Guldlnha do Poc:o», acima referido, E' cO Quinze•. ele Rat•hel
de Queiroz.
Como o é a cana de Acucar, decantado com beleza e
realismo pelo !ormlclã\·el autor de cMenino de Engenho•.
essa literntura das sêcas é um novo ciclo literário, como
o será a Epopéla da Borracha e a Batalha do Petróleo.
Estão êstes, como aqueles, à mercê da lmpledosidade
dos nossos homens públicos.
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ESTABELECIMENTOS
EDUARD·O BEZERRA
S~
A.
Farmacia e Drogaria Pasteur
MATRIZ:
Endereço Telegráfico: PASTEUR -
Cx. Postal, 191
RUA MAJOR FACUNDO, 538
FONES: 1-11-31, 1-42-83 e 1-58-87
FILIAIS:
1-'AR:'IIACIA FRANCESA - l''ont>: 1-48-91 - ltutt Gullhernur
Rocha, 601
t'AitMACii\ GLOBO - Fonl': l-H-6(l - nua t'lorluno Peixoto, 601
f'ARllt4CJA FALADROGA- 't'ont>: 1-49-62- ltuo. Florlnno
Pl'lxoto, 631>
Jo'AIUUCJA (}UJXADA - na c•ldllde di.' Qulxadá.
1-'Alti\IA<'IA PA~1'EUR - na cldadl' de ('rnto.
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Manipulacão criterio83
Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de
dizê-lo.
YOLTAIRt:
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