| SEGURANÇA DO PACIENTE |
PEQUENOS CUIDADOS COM
grandes resultados
HOSPITAIS ACREDITADOS FAZEM DA
IDENTIFICAÇÃO CORRETA DO PACIENTE O
PRIMEIRO PASSO PARA A ASSISTÊNCIA SEGURA
E
Por Daniela Dias
stá na porta de entrada das instituições de
saúde uma das mais importantes práticas que
ajudam a evitar erros assistencias: a correta
identificação do paciente. Essa atenção é tão
importante na prevenção de eventos adversos
que é a primeira meta de segurança dos seis
protocolos previstos no Programa Nacional de Segurança
do Paciente (PNSP), regulamentado pelo Ministério da
Saúde no ano passado pela Portaria MS/MG 529 de 1º
abril de 2013.
Ainda que faltem estatísticas brasileiras, por estimativa a partir de estudos e pesquisas internacionais, sabe-se
que não são raros os eventos adversos em transfusão de
sangue, administração de medicamentos, procedimentos
cirúrgicos e troca de bebês que têm como causa raiz a
ausência ou duplicidade de informações no processo
de identificação do paciente.
Identificar corretamente depende muito mais de
um processo bem definido e implantado por colaboradores capacitados e envolvidos com a segurança da
assistência do que do uso de sofisticada tecnologia.
Algumas poucas ações de baixo custo podem fazer
toda a diferença no resultado assistencial. A seguir,
recomendações de boas práticas e as experiências de
alguns hospitais acreditados.
54 | Melh
res Práticas
1
3
ONDE TUDO COMEÇA
ONDE COLOCAR A PULSEIRA
De modo geral, a identificação ocorre
no momento em que o paciente chega
à instituição. A documentação original
é apresentada para que os dados
sejam cadastrados no sistema. É muito
importante estar seguro da veracidade
e grafia dessas informações, uma vez
que figurarão na etiqueta do prontuário
que é a referência a partir desse
momento. Nessa etapa também é
gerada a pulseira (ou crachá, menos
comum). Os dados do paciente devem
ser conferidos antes de ser colocada
no paciente.
Há casos em que a pulseira precisa ser
substituída durante a internação, porque
deixou de ser legível ou está causando
algum dano à pele, por exemplo. No
hospital Albert Einstein, em São Paulo,
quando isso ocorre, é obrigatória a
presença de dois profissionais na
hora da troca, para garantir a dupla
checagem e registro no prontuário.
Não há uma recomendação expressa
sobre onde colocar pulseira de
identificação. No Albert Einstein, é
o paciente quem decide se prefere
o braço esquerdo ou o direito. No
Instituto Nacional de Traumatologia e
Ortopedia Jamil Haddad (INTO), no Rio
de Janeiro, o protocolo pede que “a
sequência de membros para colocação
das pulseiras seja iniciada pelo
membro superior direito, seguindo no
sentido horário para membro superior
esquerdo, membro inferior esquerdo
e membro inferior direito, de acordo
com cada caso e que seja registrado
em prontuário o motivo da colocação
da pulseira, caso não seja o membro
superior direito.
De modo geral, quando não é possível
o uso de braços ou pernas, como
no caso de prematuros com baixo
peso e pacientes com risco de lesão
cutânea, permite-se que a etiqueta de
identificação seja colada na cabeceira
do leito ou incubadora. A atenção,
nesses casos, precisa ser redobrada.
2
INFORMAÇÕES
Obrigatoriamente, a pulseira deve
conter dupla identificação. A primeira
identificação é o nome completo (nunca
códigos de conhecimento exclusivo do
hospital) e livre de abreviações.
A segunda identificacão pode ser
escolhida por cada instituição, de
acordo com sua preferência. Algumas
optam por usar o CPF, o número do
prontuário ou a data de nascimento.
Recomendação: Nunca utilizar idade,
sexo, diagnóstico, número do leito ou
do quarto para identificar o paciente. O
identificador deve ser o mais específico
possível e sempre estar relacionado ao
indivíduo.
IDENTIFICAR
CORRETAMENTE
DEPENDE MUITO MAIS
DE UM PROCESSO BEM
DEFINIDO E IMPLANTADO
POR COLABORADORES
CAPACITADOS DO QUE
DO USO DE SOFISTICADA
TECNOLOGIA
4
CHECAGEM DURANTE
A ASSISTÊNCIA
• Antes da realização do exame e/ou
coleta de amostras.
• Antes de procedimentos e tratamentos
em geral (invasivos e não invasivos).
• Antes da administração de me­
dicamentos, por qualquer via.
• Antes da instalação de sangue, he­
mocomponentes.
• Na retirada de laudos e exames.
Melh res Práticas |
55
| SEGURANÇA DO PACIENTE |
5
ATENÇÃO REDOBRADA
PARA HOMÔNIMOS
A INTRODUÇÃO DE
TECNOLOGIAS REQUER
PLANEJAMENTO
INSTITUCIONAL E
TREINAMENTO DOS
PROFISSIONAIS PARA QUE
SEJAM UTILIZADAS COMO
SE PRETENDE
E COM SEGURANÇA
No Santa Paula, a estratégia é evitar
que sejam colocadas pessoas
homônimas em uma mesma ala. Isso
já é estabelecido checando o sistema
no momento da internação. A maior
dificuldade nesse sentido acontece
na UTI, onde não é possível isolar o
paciente em alas distintas. Ainda assim,
busca-se distanciamento entre os leitos
para evitar confusões. “Nesse caso, o
risco é ainda maior porque nem sempre
o paciente está consciente, orientamos
a equipe a redobrar o cuidado seja na
administração da dieta, na prescrição
ou aplicação de medicamentos”, explica
José Paulo Cividanes.
6
PAPEL DO PACIENTE
E FAMILIARES
As informações que irão para o
prontuário e para a pulseira de
identificação devem ser revistas a cada
ação que envolva o paciente, mesmo
nas mais corriqueiras do cuidado
assistencial.
Apesar de todas as barreiras, sempre
pode haver falhas. Por isso, Isabela
Simões, do Centro Colaborador para
a Qualidade do Cuidado e Segurança
do Paciente (Proqualis), recomenda
que, por mais seguros que pareçam os
sistemas, “o paciente e seus familiares
devem fazer parte desse processo,
confirmando que o profissional não
esqueceu de conferir sua identificação,
e, caso isso ocorra, lembrando-o e
perguntando”.
56 | Melh
res Práticas
7
EQUIPE BEM TREINADA
Em sua página web, o Albert Einstein
mantém um curso de e-learning
gratuito para qualquer profissional,
mesmo àqueles que não trabalham
na instituição. A aula explica, passo
a passo, como proceder desde a
conferência de dados, até a impressão
da pulseira e procedimentos posteriores
de checagem.
http://learning.einstein.br/p2lxojmcd9a/
8
PULSEIRA NÃO É TUDO
Segundo alerta o Manual para
Profissionais da Saúde, da Rede
Brasileira de Enfermagem e Segurança
do Paciente/Polo RS, “sistemas
automatizados, como código de barras,
identificação por radiofrequência e
biometria, reduzem consideravelmente a
ocorrência de erros”. Para os autores da
publicação, “a introdução de tecnologias
requer planejamento institucional e
treinamento dos profissionais para que
sejam utilizadas como se pretende e
com segurança. No caso de pulseiras
com código de barras, por exemplo,
devem-se considerar as restrições para
uso em recém-nascidos, por terem
as extremidades muito pequenas e
sensíveis; em crianças, pelo risco
de sufocação; e em pacientes em
precaução de contato”.
No Albert Einstein, o recém-nascido
recebe duas identificações, uma no
membro superior e outra no inferior.
No caso de substituição da pulseira,
a recomendação é que seja feita na
presença dos pais. A mãe do bebê
também recebe duas pulseiras, uma
com seus dados e uma com os dados
de seu filho.
CASO PRÁTICO
O Hospital Santa Paula, em São Paulo, possui uma média anual de 12 mil internações e 7500 cirurgias. A pulseira que
utilizam é feita de material resistente e pode ser lavada com sabão e água, sem risco de ser danificada. Permanece
com o paciente todo o tempo, não importa por quais procedimentos ele venha a passar. O treinamento periódico da
equipe é muito importante para evitar os erros, ainda mais se considerado que nem sempre o paciente está em plena
condição física ou psíquica para responder às perguntas que lhe são direcionadas. “Nunca qualquer membro da equipe
multidisciplinar, seja da fisioterapia, da nutrição, de enfermagem deve só perguntar o nome e a data de nascimento
para o próprio paciente. Deve checá-lo no prontuário. Até mesmo quando o paciente está bem, por reflexo, ao escutar
seu nome, corre o risco confirmar os dados sem prestar atenção à data de nascimento, o que seria um problema em
caso de pessoas homônimas”, conta José Paulo Cividanes, diretor de qualidade do Hospital Santa Paula.
TESTE
Sua instituição se preocupa com a identificação adequada do paciente?
Sim Não
Pergunte-se constantemente
Além dos internados, os pacientes ambulatoriais e externos também são devidamente
identificados nas áreas de cadastro?
Há uma orientação definida para os casos em que o documento de identificação
apresentado não for legível ou não tiver foto?
Os dados da pulseira são conferidos antes de ela ser colocada no paciente?
A identificação do paciente é conferida a cada nova intervenção?
Pacientes e familiares são encorajados a participar do processo de identificação
e recebem explicação sobre a importância desse cuidado?
É prática verificar rotineiramente a integridade da pele do membro onde se encontra a pulseira
de identificação e das informações contidas na pulseira?
É prática confrontar a identificação do paciente na pulseira, na prescrição médica e no
rótulo do medicamento/hemocomponente, antes da administração?
São utilizados, pelo menos, dois identificadores que individualizam o paciente?
Toma-se cuidado para não internar pacientes homônimos em uma mesma ala?
Há uma norma institucional definindo a quem cabe a responsabilidade de colocar
a pulseira de identificação no paciente?
Todos os profissionais se sentem com o compromisso de corrigir imediatamente
erros ou omissões de identificação?
A instituição treina de forma sistemática seus novos colaboradores sobre o
processo seguro de identificação de um paciente?
Há uma orientação definida para casos em que pacientes que se encontrem sem condições de comunicação
verbal adequada, como pacientes pediátricos, sedados, comatosos e/ou desorientados?
É solicitado ao paciente que se identifique antes de receber um medicamento ou ser submetido a intervenções?
Acompanhe as edições da Melhores Práticas
Edição 14
Programa Nacional de Segurança do
Paciente (PNSP) – Eixos e Protocolos
Edição 15 (atual)
Protocolo 1:
Identificação do Paciente
Edição 16
Protocolo 2:
Prevenção de úlcera por pressão
Melh res Práticas |
57
Download

PEQUENOS CUIDADOS COM - Revistas Melhores Práticas