|64
4
A Relação en
ntre Traballho, Tempoo Livre e Laazer: em bu
usca de um
ma nova perrspectiva
The Relationsh
hip between Work, Freee Time and Leisure
L
Tim
me: seeking for
f a new perspective
p
Acy Holanda
H
Mota¹¹. Mestra em Psicologia.
P
E-mail: [email protected]
m
SUMO
RES
O traabalho é um
u fenômenno muito valorizado
v
e que o lazzer não é tanto
t
quanddo deveria,,
partinndo do preessuposto que
q o trabaalho é a fonnte de vidaa das pessooas e que o lazer, aoo
contrrário, seria um momento de perdda de proddutividade, ou
o um mom
mento paraa recompor..
Conttudo, esse cenário
c
está mudando e o lazer quue era algo não
n valorizaado esta gannhando seuu
destaaque. Devid
do a isso, essse ensaio teem o objetivvo de estuddar o trabalhho, tempo liivre e lazer..
A metodologia aplicada fooi uma pesqquisa biblioggráfica no intuito
i
de verificar
v
a constituição
c
o
mpo livre e do lazer e com issoo a relação entre eles ao longo da
d história,,
do trrabalho, tem
visanndo ajudarr a uma melhor coontribuição ao enfren
ntamento das
d
pessoas sobre o
aprissionamento ao trabalhoo. Os resulltados possiibilitaram apontar
a
quee o lazer e o trabalhoo
podeem interagirr de forma que
q o homeem resgate o sentido daa vida e quee é impresccindível quee
se tenha uma ed
ducação volltada não só
ó para o traabalho, mass também para o lazer,, pois dessaa
ma gerar-se-iia uma consscientizaçãoo da importâância do lazzer para a viida de cada um.
form
Palaavras -Chavve: Trabalhoo. Lazer. Óccio.
STRACT
ABS
Workk is a highlyy valued phhenomenon while leisure is not so much valueed assumingg that workk
is thee source of life and leisure would be a momeent of loss of
o productiv
vity or time to recover..
How
wever, this scenario is changing
c
an
nd pleasure is gaining its
i prominennce. Indeedd, this paperr
aims to study work,
w
free tim
me and leisuure. The meethodology used was an
a exploratoory study inn
t structure of work, free time annd leisure and
a their relationships throughoutt
orderr to verify the
histoory. We con
ntribute unnderstandingg people inn work andd work prissoning. Thee outcomess
identtified that leeisure time and work can interacct so that it is essentiall to have ann educationn
focuss not only for work but
b also forr leisure. Inn short, wee may geneerate awarenness of thee
impoortance of leeisure in thee life of eachh of us.
Keyw
words: Worrk. Leisure. Idleness.
1
Autoora corresponddente. Artigo recebido em
m 03 de feverreiro de 2015
5. Aprovado em 05 de m
maio de 2015..
Avaliado pelo sisteema double bliind review.
RBNDRR · ISSN 2358-51533 · ano 2 · nº1 · p. 664-71 · jun. · 2015
A Reelação entre Trabaalho, Tempo Livrre e Lazer: em bu
usca de uma novaa perspectiva |65
5 INTR
RODUÇÃO
O
Na atuallidade a neccessidade dee trabalhar é reforçada pela compeetitividade imposta
i
porr
esse cenário cappitalista, e com
c
isso o trrabalho tornna-se a prinncipal alternnativa da sobbrevivênciaa
do como a única
ú
tábua de salvação
o. Com issoo, a relaçãoo
humaana, ou sejaa, o trabalhoo é encarad
entree homem e trabalho paassa a ser enntendida com
mo algo conflituoso, que
q às vezess dá prazer,,
mais que também
m pode geraar sofrimen
nto.
C
(2008) colocca que o trrabalho “orra se apressenta comoo
Ressaltando esssa ideia, Carvalho
s
em virtude
v
dass
propiiciador de saúde e quualidade dee vida; ora como agraavante da saúde,
form
mas de organ
nização imposta ao ser humano” (pp.14).
Isso aconntece, deviddo ao fato, de
d somentee sermos eduucados paraa o trabalhoo, não tendoo
temppo para o lazzer, pois esse para muiitos é visto como um momento
m
nãão produtivvo, ou comoo
um m
momento paara recarregar as forçass e a vitalidaade para volltar ao trabaalho.
Contudoo, com as mudanças
m
noo mundo do trabalho e a conscienttização de alguns,
a
paraa
o fatto de que o trabalho não
n é a úniica forma de
d viver, suurge o lazeer, fenômenno que vem
m
ganhhando destaqque na sociiedade contemporânea.. Ressalte-sse que esse lazer não está
e voltadoo
para a recompossição das ennergias, mass para o cresscimento e a liberdade de cada um
m.
Como arrgumenta Marcellino
M
(1983),
(
o conceito de lazer está ligado
l
à reaalização dee
atividdades desinnteressadas, sem fins luucrativos, reelaxante, socializante e de caráter liberatório,,
no seentido de esstar liberadoo de obrigaçções e definido de form
ma mais autôônoma.
Assim, em funçãoo do que foi expostto, busca-se com essse artigo, verificar a
consttituição do trabalho, teempo livre e do lazer e a relaçãoo entre eless ao longo da história,,
visanndo enconttrar algo que
q
possa ajudar as pessoas e enfrentarem
m melhor a situaçãoo
vivennciada hoje, situação esssa de aprissionamento ao trabalhoo.
ue embora alguns
a
estuddos tenham
m
O interesse pelo referido temaa reside no fato de qu
analiisado a relaçção entre traabalho e tem
mpo livre e lazer, aindaa há lacunass na literatuura sobre tall
assunnto.
NSTITUIÇÃ
ÃO DO TRA
ABALHO E DO TEM
MPO LIVRE
E
CON
Pensar em
e trabalhoo é pensar em
e todas ass possibiliddades de sig
gnificados aatribuídas a
ele, bbem como a todas as possibilidad
p
des de relaçãão entre estte e o homeem, pois o trabalho
t
fazz
partee da históriaa do homem
m desde os teempos maiss antigos, ou
u seja, é atrravés do tem
mpo que elee
é connceituado e explicado tanto
t
quantoo determinaa a vida e a organização
o
o humana.
n
doo
Segundoo Borges e Yamamotoo (2004), o trabalho naasce de neccessidades naturais
homeem, porém ocorre na interação doos homens e/ou
e
entre os
o homens e a naturezaa. Portanto,,
“o trrabalho e a forma de pensar
p
sobrre ele, seguuirá a condiição sócio histórica
h
em
m que cadaa
pessooa vive” (Borges e Yakkamoto, 200
04, p.27).
p
o trrabalho “é um
u processso de que participa
p
o homem
h
ea
Para Maarx (1985, p.149),
naturreza, processso em que o ser humaano com suaa própria açção, impulsiiona, regulaa e controlaa
seu iintercâmbioo material com
c
a natuureza”. Do mesmo moodo, para Carmo
C
(20001, p.15), o
trabaalho é “todaa atividade realizada pelo
p
homem
m civilizado
o que transforma a naatureza pelaa
inteliigência. E realizando essa ativid
dade, o hom
mem se tran
nsforma, see autoproduuz e, ao see
relaccionar com outros hom
mens, estabeelece a basse para as relações
r
sociais”. Já para
p
Arendtt
(20077, p.15), o trabalho
t
é:
A attividade correespondente aoo artificialismoo da existênccia humana, existência estaa
não necessariamente contida noo eterno ciclo vital da espécie, e cuja moortalidade nãoo
é coompensada poor este últimoo. O trabalho produz um mundo
m
artificial de coisas,,
nitiddamente difereente de qualquuer ambiente natural.
n
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66| ACCY HOLANDA MOTA
Do pontto de vista etimológicco, a palavvra trabalhoo vem do latim tripallium, termoo
utilizzado para designar
d
insstrumento de
d tortura, ou
o mais preecisamente, “instrumennto feito dee
três ppaus” (Steiin, 1994, p.10). Nos primeiros
p
teempos do cristianismo
c
o, o trabalhho era vistoo
comoo tarefa pennosa e hum
milhante, como puniçãoo para o peecado. Steinn (1994) rellata que naa
Bíbliia o trabalhho significa castigo pellas desobeddiências a Deus.
D
Segunndo Stein (11994, p.51),,
“A B
Bíblia o ap
presenta coomo um caastigo, um meio de ex
xpiação do pecado orriginal. Porr
haverem perdido
o a inocênccia original do paraíso,, Adão é coondenado a ganhar seu pão com o
o, assim com
mo Eva é co
ondenada àss dores do parto”.
p
suor de seu rosto
A ideia do
d trabalhoo configurou
u-se, por muuito tempo,, como farddo, sacrifícioo e castigo..
Grécia Antigga, o trabalhho foi desen
nvolvido de acordo com
m a ideia dee que a diferrença sociall
Na G
entree os homenss era naturaal e não hav
via qualquerr contradiçãão na sua divisão. Nessa época, o
trabaalho era dessprezado peelos cidadão
os livres, quuem trabalhhava, segunndo Lassancce e Sparta,,
(2003), eram os escravos e servos, pois os cidadãoos livres tin
nham o direiito ao ócio e a política,,
r
aoo exercício da
d cidadaniaa e do bom governar.
dediccando-se à reflexão,
Seguindoo essa meesma conceepção, Arendt (2009)) consideraa que o trrabalho eraa
comppreendido com desprrezo, visto que essa atividade estava voltada para atender ass
necessidades daa vida, sendoo, portanto, exercidas somente
s
pellos escravoss.
Na Idadee Média, o conceito de
d trabalho não sofre alterações
a
s
significativa
as. A Igrejaa
Católica defend
dia o desapego às riqu
uezas terrennas e condeenava o traabalho comoo forma dee
(
coloocam que essa
e
forma de pensar o trabalhoo
enriqquecimento.. Lassance e Sparta (2003)
perm
maneceu até o século XV,
X quandoo a Reformaa Religiosa coloca o trrabalho com
mo sendo a
salvaação, uma virtude
v
dos homens. Stein (1994) afirma quee em função do trabalhho ser umaa
qualiidade perannte a Deus, era obrigaçção do hom
mem trabalhaar, pois havvia recebidoo a vocaçãoo
para o trabalho.
R
nto, a concep
pção de trabbalho se con
nstitui como
o fonte de identidade e
Com o Renascimen
autorrrealização, tendo um significadoo intrínsecoo. Stein (19994, p.59) coloca
c
que “as razõess
para trabalhar estão no próprio trrabalho e não fora dele ou em qualqueer de suass
m
conseequências”.. A partir deessa época, outra visãoo passa a vigorar conceebendo ao trabalho um
signiificado nãoo mais serrvil, mas que propiccia, ao hoomem, o seu
s
desenvvolvimento,,
transsformando-sse em conndição impprescindível para a sua
s
liberdade. Contuddo, com a
Revoolução Indu
ustrial, a rellação do traabalho com
m o homem ganha um novo significado, quee
não esses apresentados annteriormentte. Arendt (2009) asssegura que,, na Era Moderna,
M
o
odos os vallores, transfformando toodas as ativvidades em
m
trabaalho é retrattado como fonte de to
necessidade.
A
e Bastos (2004) com o surgimen
nto do cappitalismo o
Segundoo Zanelli, Andrade
signiificado do trabalho
t
muuda efetivam
mente. Na sociedade capitalista,
c
o trabalho passa a serr
aceitto como fato
or de enriquuecimento pessoal,
p
legiitimado com
mo tábua de salvação. No
N texto “O
O
Trabalho e os Dias”,
D
o pooeta grego Hesíodo
H
defende o traabalho como
o forma de alcançar a
a
do capitalismoo trouxe novvos valoress
feliciidade e a prrosperidadee. Por conseeguinte, o advento
que ppassaram a determinaar a sincronnização dos tempos dee vida e do trabalho. O trabalho,,
agoraa, é reconhhecido comoo uma ativiidade centrral que ocuppa quase tootalmente o espaço dee
vida do homem
m, pois absorve a maiorr parte do sseu tempo. Antunes (1995) e Sennnett (1999))
m que nas sociedades
s
corrooboram essaa ideia quaando relatam
industrializzadas o cenntro da vidaa
das ppessoas passsou a ser o trabalho.
t
Na socieedade conteemporânea, as pessoass continuam
m dedicando
o muitas hooras do seuu
dia ààs atividades profissionnais. O trabbalho é vistoo como a busca das reealizações, tornando-se
t
e
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R · ISSN 2358-5153
3 · ano 2 · nº1 · p. 64-71
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· jun. · 2015
A Reelação entre Trabaalho, Tempo Livrre e Lazer: em bu
usca de uma novaa perspectiva |67
7 uma atividade que
q define o homem. Paadilha (20000) argumenta que apesar de tantass mudanças,,
o trabbalho continnua sendo o meio de co
ontorno em que a vida humana seg
gue.
Essas traansformaçõões no mund
do do trabaalho, desde os primeirros tempos, demonstraa
que eexiste dois significados
s
s antagônicoos para o traabalho. Carvvalho (2008
8, p.24) relaata que “um
m
signiificado em que o trabaalho é atrelaado a uma noção de esforço,
e
saccrifício e soofrimento, e
outroo em que o trabalho é atribuído ao
a empregoo das compeetências do homem doominando a
naturreza, sendo
o responsável pela con
ndição hum
mana”. Vale apena resssaltar, que o trabalho,,
segunndo Carvalhho (2008, p.14)
p
“ora se
s apresentaa como propiciador dee saúde e quualidade dee
vida;; ora como agravante da saúde, em virtude das formaas de organização imposta ao serr
humaano”.
t
porr mais que sejam
s
distinntas sempree
Percebe--se que as iddeias relacionadas ao trabalho
estivveram presen
ntes na estrrutura sociaal e sempre foram fontes de sobreevivência. Contudo,
C
noo
conteexto atual, a relação entre indiivíduo e trrabalho passsa a ser entendida como algoo
confl
flituoso, na medida em
m que passoou a ser enccarada como
o a única tábua de sallvação, nãoo
danddo espaço aoo homem dee se relacion
nar consigo mesmo.
CON
NSTITUIÇÃ
ÃO DO TEM
MPO LIVR
RE
A socieddade contem
mporânea é marcada peelo dinamissmo do dia--a-dia e pela constantee
mudaança de cenários,
c
accarretando, diariamennte, ao hom
mem, novo
os desafios e novass
priorridades. Essse homem contemporânneo encontrra-se cada vez
v mais preessionado pelo relógio,,
tendoo o seu mu
undo regidoo por horárrios e contrrole da rotiina, como: hora para o trabalho,,
refeiçções e dorm
mir.
Por consseguinte, o trabalho coontinua enraaizado nessaa sociedadee que o conssidera partee
vital do ser, com
mo se dele dependessee a dignidaade e a estim
ma do mesm
mo. Quantoo maior é a
t
maaior é o tem
mpo dedicaddo a ele e mais
m importaante é a relaação tempoo
valorrização do trabalho
versuus trabalho,, configuraando, com isso,
i
que o tempo é o tempo do
o trabalho, ou seja, o
trabaalho dita o teempo na vidda da socied
dade exatam
mente porqu
ue trabalhar é viver.
Essa relação de tem
mpo na socciedade conntemporâneea é um veerdadeiro caaos, pois o
temppo foi suprim
mido pelos afazeres e horários, inntensificanddo as queixas de que ""não se tem
m
temppo para nadaa" e "não exxiste mais tempo
t
livre"". Essa divisão do temppo para a soociedade see
dá coomo um refflexo da impportância que
q esta connfere ao trabbalho, sendo
o em funçãoo do tempoo
de trabalho que as demais atividades
a
h
humanas
se regulam. Contudo,
C
peercebe-se quue é precisoo
v
e de siggnificado, pois
p o traballho não é o único sentiido da vida,,
mudaar essa conccepção de vida
mas apenas um
m deles. É preciso dessprender-se dessa dom
minação e passar
p
a reeivindicar o
d
à preguiça, ao tempo
t
livree, ou seja, a
direitto proclamaado por Pauul Lafargue (1999), o direito
uma vida com seentido para o trabalho, mas tambéém fora destte.
Sabe-se que o trabaalho edifica o homem em todas as suas estrutuuras, no entaanto, faz-see
necessário que esse
e homem
m valorize e se permita o tempo dee não trabalho, de não obrigações,,
um tempo livre para si, perrmitindo – se usufruir de tal liberdade, pois é no tempo livre, maiss
d trabalhoo ou das obbrigações fa
familiares ou
o sociais, que se abree a melhorr
que no tempo de
oporttunidade paara a livre deescoberta do indivíduoo.
Para Muunné (1980), o tempo liivre, corresponde às açções que accontecem seem que hajaa
nenhhuma necesssidade exterrna, isto é, são ações proveniente
p
s do íntimo
o de cada hoomem, sem
m
cobraança de forra. Marcellino (1996) relata
r
que o tempo liv
vre é o temp
po liberado,, não só doo
trabaalho, mas de
d todas ass obrigações, sejam ellas do âmb
bito religiosso, social ou
o familiar..
Seguundo Rosso (1996, p.4114) o tempo
o livre é defiinido como::
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68| ACCY HOLANDA MOTA
Aquuela parte da vida das pesssoas durante a qual se dá a construção da liberdadee
indivvidual e coletiiva. Tempo livvre é o tempo
o que constrói a liberdade, é o tempo quee
emaancipa o inddivíduo, que cria possibiilidades paraa a coletividdade crescer,,
deseenvolver-se huumanamente.
Para Aquino e Marrtins (2007, p.482), o tempo
t
livree é o momeento em quee “o sujeitoo
atua com a perccepção de fazer
f
uso desse
d
tempoo com total liberdade e de maneiira criativa,,
s tempo”.. Portanto, o tempo livrre, deve serr
dependendo da sua consciêência de valor sobre o seu
m total liberdade, dessvinculado de qualqueer obrigatooriedade, vooltado paraa
aprovveitado com
experiências e atividades
a
p
prazerosas,
m
desejadas e com mottivação quee vem de ddentro, sem
ncia de fatorres externoss.
qualqquer influên
LAZ
ZER
Perpassaando pela hiistória do laazer, observva-se que a definição do
d mesmo see confunde,,
em aalgumas époocas, com a noção de ócio,
ó
pois seegundo Chaauí (1999), na era clásssica, o ócioo
era concebido
c
co
omo uma foorma de vid
da, voltada para
p a conteemplação e reflexão, portanto, eraa
dito como
c
um teempo de nãoo trabalho, já
j que quem
m desempennhava tal fuunção eram oos escravoss
ou seervos. Contuudo, no período Romanno a conceppção de ócioo muda, poiis este estavva ligado aoo
temppo oposto aoo trabalho, ao
a tempo dee descanso do
d corpo.
Por consseguinte, na Idade Média a conccepção de ócio é utillizada comoo forma dee
distinnção de claasses, pois o que esttá em destaaque é o consumo,
c
a ostentaçãoo do poderr
econnômico. Já na Idade Moderna,
M
d
devido
á exxaltação ao trabalho, o ócio é considerado
c
o
sinônnimo de víccio e de temppo perdido.
Na modeernidade, coom a consoolidação do capitalismoo, a jornadaa de trabalhho passou a
ser exaustiva, causando, com isso,, intensas lutas paraa a reduçãão de tal jornada, e
nte, o aumeento do temppo livre dos trabalhadoores que atéé então, lim
mitava-se aoo
conseequentemen
descaanso para a recuperaçãão das forçass físicas, nãão havendo lugar para o ócio.
m por conq
quistar o tall tempo livrre, contudo esse tempoo continuouu
Essas luttas acabaram
sendoo controladdo, agora pela
p
igreja, pela escolla e pela família,
fa
mass apesar diisso o ócioo
sobreevivia subveertendo a orrdem estabeelecida. Para contraporr o hábito do
o ócio, que para
p algunss
era cconfundido com a ocioosidade, nassce o lazer,, instrumentto de controle da burgguesia, cujaa
maniifestação se dá no entreetenimento e na diversãão.
O lazer tomou grannde proporçção após a Revoluçãoo Industrial,, quando a jornada dee
trabaalho começo
ou a diminuuir, o emboora, os seuss fundamen
ntos históriccos, sejam anteriores
a
à
socieedade indusstrial, pois sempre exiistiu o trabbalho e o não
n trabalhoo. Dumazeddier (1980))
relataa que a impportância doo lazer foi notória
n
desdde o nascim
mento da socciedade induustrial, poiss
com a redução do
d trabalho industrial, surge mais tempo livrre, com issoo, uma fracaa promoçãoo
do laazer.
Segundoo Mascarenhhas (2003, p.10) “o lazer é um fenômeno tipicamentee moderno,,
resulltante das teensões entree capital e trrabalho, quee se materiaaliza como um tempo e espaço dee
vivênncias lúdicaas...”. Percebe-se com o que foi reelatado que com o deseenvolvimento históricoo
um determinado
d
o fenômenoo modifica--se com ass circunstân
ncias, porém
m é necesssário deixarr
claroo que o ócio
o e o lazer sãão fenômennos distintoss.
Na literaatura enconntram-se váárias definiições a respeito do conceito de lazer, nãoo
podeendo com isso, alcannçar um ún
nico sentiddo que reprresente o seu signifiicado. Paraa
Marccellino (1995) o concceito de laazer revelaa algumas dificuldadees, devido à falta dee
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3 · ano 2 · nº1 · p. 64-71
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A Reelação entre Trabaalho, Tempo Livrre e Lazer: em bu
usca de uma novaa perspectiva |69
9 unannimidade soobre o seu significadoo, quer ao nível do seenso comum, quer aoo nível doss
estuddiosos ou téécnicos quee trabalham
m nesta áreaa. No seu livro
l
“Lazeer e Culturaa Popular”,,
Dum
mazedier (19976) afirma que é maiss fácil definir o lazer peelo que ele não é do quue pelo quee
ele é.
Segundoo Kelly apud Freire (2001), esssa dificuldaade de deffinir o que seja lazerr
aconntece devidoo ao lazer revelar-se
r
c
como
um feenômeno pssicossocial complexo, na medida,,
em que
q se traduzz por uma variedade
v
dee atividadess, significaddos e objetivvos, tomanddo-se difícill
a possibilidade de uma únnica definição. Dumazzedier (1980
0) e Marcelllino (2001) apoiam a
ma ideia quuando defendem que o lazer é um fenômeno complexo,
c
de
d grande abrangência
a
a
mesm
socioocultural, e também rellacionado coom aspectos psicológiccos e da saúúde, portanto, estudadoo
por ddiversas áreas do conheecimento.
Para Maarcellino (1983) o connceito de lazer está liigado à reaalização dee atividadess
desinnteressadas,, sem fins luucrativos, reelaxante, soocializante e de caráter liberatório,, no sentidoo
de esstar liberadoo de obrigaçções e definnido de form
ma mais auutônoma. Allém disso, eesse mesmoo
autorr revela quee há uma diistinção entrre dois ponntos a respeiito do conceito de lazeer, onde um
m
dos ppontos conssidera o lazeer como um
m estilo de vida,
v
e o outtro ponto quue privilegiia o aspectoo
temppo, ou seja, o tempo livvre que não
o é ocupadoo pelo traballho e pelas obrigações familiares,,
sociaais e religiossas.
Segundoo Dumazedier (1976, p..34) o lazer é:
Um conjunto de ocupações
o
às quais o indivvíduo pode en
ntregar-se de livre
l
vontade,,
seja para repousaar, seja para divertir-se, recrear-se
r
e entreter-se
e
ouu, ainda paraa
deseenvolver sua informação ou
o formação desinteressadda, sua particcipação sociall
voluuntária ou suaa livre capaciddade criadoraa após livrar-sse ou desembbaraçar-se dass
obriggações profisssionais, familiiares e sociaiss.
Esse con
nceito repoousa em trêês aspectos básicos, que
q são: a dimensão temporal,
t
a
liberddade de esccolha e a esfera
e
funciional das prráticas estu
udadas. Em relação a esse
e
últimoo
aspeccto, a teoriaa de Dumazzedier (1976
6) entende o lazer a paartir das suaas funções básicas,
b
quee
seriaam a do descanso,
d
de divertimeento, recreação ou enntretenimennto, bem como
c
a doo
desennvolvimento da personnalidade.
(
acreedita que o lazer
l
é com
mpreendido como
c
toda atividade
a
reesultante dee
Padilha (2003)
livre escolha, quue tenha um
m caráter deesinteressado, que seja marcada peela busca dee satisfaçãoo
d ter uma marca
m
pessoaal de quem a pratica.
e praazer, além de
Além daa sua definiição, Padilhha (2003) coloca que existem
e
doiis tipos de abordagenss
sobree o lazer que
q são a abordagem
a
m
funcionalistta e a aborrdagem Maarxista. Na abordagem
funciionalista o lazer é vistto como alggo de bom em oposiçãão ao trabaalho, que é visto comoo
algo ruim. Já naa abordagem
m Marxistaa, o lazer e o trabalho são atividaades compleementares e
mutuuamente detterminadas.
e Lazer (World
A Asso
ociação Muundial de Recreação
R
(
Leisure and Recreationn
Assoociation – WLRA),
W
naa Carta Inteernacional de
d Educaçãão para o Lazer,
L
consiidera que o
lazerr promove a saúde e o bem-estar
b
g
geral,
ou seja, é um recuurso para melhorar
m
a quualidade dee
vida,, englobanddo um estaddo de bem-estar físico, mental e social. Saliienta que o lazer devee
incluuir liberdadde de escoolha, criativ
vidade, satiisfação, divversão e aumento
a
dee prazer e
feliciidade.
vimento pesssoal e sociial, além dee
Verifica--se com isso que o lazzer permite o desenvolv
um m
maior envollvimento doo indivíduo pelo mundoo que o roddeia, pois é através do lazer que o
indivvíduo tambéém pode connhecer suass capacidadees e limites. Segundo Csikszentm
C
mihalyi apudd
Freirre (2001), a experiênciia de lazer tem reperccussões ao nível do auutoconceito e da auto- RBNDR
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70| ACCY HOLANDA MOTA
estim
ma, no senttido em quue permite ao indivíduuo desenvoolver um coonceito possitivo de sii
assocciado ao gosto de ser coomo é.
(
arguumenta aind
da, que se o lazer fosse promovidoo
Csikszenntmihalyi appud Freire (2001)
para o desenvo
olvimento e crescimeento humanno, as pesssoas usavaam-no paraa encontrarr
q procuraariam o desafio e ten
ntariam relaacioná-lo coom as suass
experiências ótiimas, em que
m papel chavve no desenvvolvimento individual,,
capaccidades. Esttas experiênncias ótimass jogam um
já quue são ativiidades que levam a um
m aumento das compeetências pesssoais necesssárias paraa
lidar com as situ
uações.
Apesar de
d todos os benefícios apresentaddos a respeitto do lazer, esse aindaa não é paraa
todoss, pois as peessoas aindaa não valoriizam o seu tempo livree e o que fazzem desse tempo.
t
Paraa
muitoos, o trabalho e outras obrigaçõess dominam a sua vida não
n deixanddo tempo ppara o lazer,,
ou aiinda, essas pessoas nãoo se permiteem esse tem
mpo, pois elas acabam inseridas na
n rotina doo
cotiddiano e desaaprendem a viver outra vida.
Ainda see valoriza muito
m
o trabaalho, quantoo mais temp
po livre, maaiores são ass cobrançass
para preenchê-loo. O lazer para
p
muitos ainda é aceeito para reccarregar as energias paara mais um
m
pe, tudo istoo dentro de uma visão funcionalissta do lazer,,
dia dde trabalho, como válvuula de escap
sendoo o mesmo um contrapponto ao traabalho. Conntudo, esta relação enttre o trabalhho e o lazerr
deve ser repenssada e merrece reflexãão, pois am
mbos têm seu valor, não
n precisaando um see
m aprenderr a viver os dois momeentos, e prinncipalmentee
subjuugar ao outrro. As pessooas precisam
se peermitir viverr o lazer sem
m culpa.
NSIDERAÇ
ÇÕES FINA
AIS
CON
d estudar o trabalho, tempo livree e lazer, noo intuito dee
Esse trabbalho teve o objetivo de
invesstigar a relaação entre elles ao longoo da históriaa, visando encontrar
e
algo que posssa ajudar ass
pessooas e enfren
ntarem melhhor a situaçção vivenciaada hoje, sittuação essaa de aprisionnamento aoo
trabaalho.
omos treinados para o
Mediante o que fooi exposto, observa-see, que desdde cedo, so
trabaalho, e som
mente para este, e coom isso é negando a possibiliddade de enncontrarmoss
satisffação na essfera do lazzer. Portanddo quando mais
m tarde experimenta
e
amos o lazeer, ele vem
m
acom
mpanhado de
d um sentim
mento de cuulpa ou de que está faaltando algoo. Isso tudo se deve aoo
fato dda valorizaçção do trabaalho provoccar atitudes negativas em
e relação ao
a lazer, atriibuindo-lhee
conootações de im
mprodutividdade e ociossidade.
Por isso,, é necessárrio que o hoomem supere a ideia de
d que a vid
da deve giraar em tornoo
do trrabalho, poiis o que se visa é umaa vida com sentido e não
n uma vid
da consentidda. Sabe-see
que é necessário
o o equilíbrrio entre o trrabalho e o lazer, pois ambos fazeem parte doo cotidiano,,
além
m é claro dee terem grannde importâância e inflluência na vida de cadda um. Com
mo acreditaa
Lafarrgue (1999)), o homem
m deve reivinndicar o dirreito à preguuiça, ao tem
mpo livre, ao
a exercícioo
de attividades ed
dificantes, ou
o seja, a um
ma vida com
m sentido para
p
o trabaalho, mas taambém foraa
destee.
Diante disso,
d
é necessário quue lazer e trabalho po
ossam interragir de foorma que o
homeem possa reesgatar o seentido da vida,
v
que dee maneira alguma
a
podde se confunndir com o
trabaalho. Portannto, é imprrescindível que se tennha uma educação
e
vooltada não só para o
trabaalho, mas também parra o lazer, pois dessaa forma gerrar-se-ia um
ma conscienntização daa
impoortância do lazer
l
para a vida de cad
da um.
RBNDR
R · ISSN 2358-5153
3 · ano 2 · nº1 · p. 64-71
6
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A Reelação entre Trabaalho, Tempo Livrre e Lazer: em bu
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A Relação entre Trabalho, Tempo Livre e Lazer