O HOMEM LANÇADO NO MUNDO
SER-AÍ (DASEIN)
Ser-no-mundo é a estrutura fundamental
Não se trata do homem em sua relação
com as coisas ou outras pessoas em sua
volta, mas uma estrutura de realização
na qual ele está sempre superando os
limites entre o dentro e o fora, que não
pode ser decomposta em elementos
Isolados. Segundo Boss, o primordial ser-no-mundo não é uma
abstração, mas uma ocorrência concreta; acontece e se realiza,
apenas, nas múltiplas formas peculiares do comportamento
humano e nas diferentes maneiras dele relacionar-se às coisas
e às pessoas
HOMEM E MUNDO SÃO INDISSOCIÁVEIS
As coisas não podem ser sem o homem e
o homem não pode ser sem as coisas que
encontra. Ser e mundo, sujeito e objeto,
não são dois absolutos essencialmente
independentes, mas comparáveis a dois
polos, necessariamente ligados em relação
recíproca de cognoscibilidade. Precisamos
do mundo para saber quem somos e onde
estamos. Mundo é o conjunto de relações
significativas dentro do qual a pessoa existe
e, embora seja experimentado como uma
totalidade, apresenta-se sob três aspectos
simultâneos, mas diferentes: o mundo
circundante, o mundo humano e o mundo
próprio, conforme propõe Binswanger.
A ESSÊNCIA
Essência é a natureza íntima das coisas. Aquilo
que faz que uma coisa seja o que é, ou lhe dá a
aparência dominante.Existencialmente falando, a
essência do homem jamais é estática ou repetição
de fenômenos, assegurando o homem a
peculiaridade, dentre todos os demais seres, de
poder transformar-se e, se necessário, recomeçar
e reconstruir a cada instante, uma vida quedada
diante do sofrimento e das agruras da existência.
A existência precede a essência. O homem
primeiro existe, se descobre, surge o mundo, e que
só depois se define. Essência é algo que se
constrói. Se o homem não é definível, é porque
primeiramente não é nada. Enquanto existe,
inventa a si mesmo no ato. O ato define o homem
que constrói a essência no agir.
O MUNDO CIRCUNDANTE
Consiste no relacionamento da pessoa
com o ambiente. Envolve tudo o que
se encontra concretamente presente nas
situações vividas pela pessoa em seu
contato com o mundo. Abrange plantas,
animais, as leis da natureza e seus ciclos.
Caracteriza-se pelo determinismo e por
isso a adaptação é o modo mais
apropriado para lidar com ele. Fazem
parte dele as condições externas e o meu
próprio corpo, que proporciona os
primeiros contatos com elas. Abrange os
condicionamentos aos quais estamos
sujeitos sendo, de certa forma, por eles
determinados, mas não esgotados em nossas possibilidades de ser, uma
vez que podemos transcendê-lo por meio da consciência.
O MUNDO HUMANO
O mundo humano refere-se ao
âmbito do encontro e convivência
com os semelhantes. Existir é
originalmente ser-com-o-outro.
O encontro ocorre na relação de
reciprocidade onde acontece a
influência mútua. Submetendo-se
à influência do outro ou às regras
e normas do grupo social para
não assumir responsabilidade
por suas próprias decisões, equivale a colocar-se como um elemento do
mundo circundante do outro e não propicia a atualização de suas
potencialidades. Mesmo estar só é ser-com. Somente num ser-com e
para um ser-com é que o outro pode faltar. Estar só é um modo
deficiente de ser-com. (Heidegger)
O MUNDO PRÓPRIO
Consiste na relação que o indivíduo
estabelece consigo mesmo (com o seu
ser-si-mesmo), na consciência de si
e no autoconhecimento. Caracteriza-se
pela significação que as experiências
têm para a pessoa. Meus atributos e
qualidades não se limitam ao já feito;
embora o passado forneça elementos
importantes para o autoconhecimento,
não fixa o modo de ser. No mundo
próprio, a pessoa percebe-se ao mesmo
tempo como sujeito e objeto.
Consciência de si e o autoconhecimento implicam a auto transcendência,
esta é a capacidade do homem transcender a situação imediata, de
ultrapassar o momento concretamente presente, o aqui e agora, o espaço
e o tempo objetivos.
A TEMPORALIDADE
Temporalizar consiste em experienciar
o tempo, sendo esta vivência que mais
próxima se encontra de nosso próprio
existir. Existir e transcender possuem
o mesmo significado que é o de lançarse para fora, ultrapassar a situação
imediata, que também quer dizer
temporalizar. Em nosso existir cotidiano
imediato, vivenciamos o tempo como
uma totalidade, que consiste num
presente perene e que envolve tanto o
já acontecido como o que esperamos
acontecer. Os momentos vivenciados com prazer e tédio podem ser
marcados objetivamente no relógio, mas nosso temporalizar dimensiona
de forma diferenciada, para além das dimensões racionais. Existir é
prosseguir em direção ao futuro, portanto, correr o risco de projetar-se
na fluidez e no imprevisível.
ESPACIALIZAR
Consiste no modo como vivenciamos o
espaço em nossa existência. Não se limita
a objetivações geográficas. Não se limita a
estar aqui, pois inclui o ter estado lá e o
poder vir a estar acolá, reunidos numa
compreensão global. Isto significa que o
nosso espacializar é passível de tal
expansividade que ultrapassa os limites de
nosso próprio corpo e do ambiente que nos
circunda; essa expansividade pode ser mais
ampla ou mais restritiva, de acordo com a
compreensão e o modo como nos sentimos
em nosso existir no mundo.
Aquilo que visualizamos existencialmente, como distante ou próximo,
pode não ser o que está, objetivamente, a maior ou menor distância de
nós.
SOLIDÃO
Se consideramos que a indissociabilidade
entre o homem e o mundo, e que o mundo
é uma representação particular que
fazemos de nós mesmos, então a solidão
é condição natural do homem. Todo ser
é só. Entretanto, a qualidade de nossos
encontros com o outro diminui a solidão,
nos dá o alento de ser-com. A solidão não
tem que ser algo negativo. A consciência
de ser torna a solidão imanente, mas não
nos tira a liberdade do encontro autêntico.
Mas a consciência de ser atemoriza, uma
vez que nos tornamos responsáveis por
nós mesmos. Daí a razão pela qual o
homem a evita. Pode esconder atrás das
das convenções, dos grupos, de ídolos ou de relações que lhe façam
esquecer que é só. O preço que se paga para fugir à solidão e à responsabilidade existencial é a inautenticidade, e, mais adiante, é a angústia.
TÉDIO EXISTENCIAL
Enquanto o tempo passa, e o homem
convencional não vê a emancipação
de suas possibilidades existenciais.
Quando nos falta um sentido, quando
nos percebemos como coadjuvantes
da nossa própria história, quando nos
percebemos como objeto e não como
sujeitos, nossa existência parece ser
também vazia.Uma vida burocrática.
Não importa as realizações no plano
do ter. Não importa status ou quaisquer truques para fugir à efemeridade
da existência. Mas, o tédio pode nos impelir a um reenquadre de mundo.
Isso nos dá a possibilidade de resignificar a vida a partir da angústia de
sermos sós, livre e responsáveis para buscarmos horizontes como
sujeitos que somos. É no tédio que experienciamos o vazio existencial,
acorrentados à vida como gado em um curral aguardando o abate.
ANGÚSTIA EXISTENCIAL
Angústia é o resultado do desespero de ser.
Não se trata da angústia transitória diante
de uma perda ordinária, mas da perda de
si mesmo. Se somos o momento presente,
perdemo-nos e nascemos a cada instante.
Cada conquista nos aproxima de nosso
irremediável fim. Entre o que sou e o fim
da minha existência, quem sou? De acordo
com Angerami, existem 3 tipos de angústia:
angústia de ser, angústia diante do aquiagora e angústia da liberdade. A primeira
quando cogitamos que o nada foi e é tão
possível quanto ser; a segunda, de estar
limitado a um tempo e espaço; a terceira decorrente na obrigação pelas
escolhas e da responsabilidade inerentes a tais escolhas.Mas as escolhas
são escolhas de finitude, o que nos leva novamente à angústia do aquiagora. Ela também impede nossa paralisia existencial, sendo, portanto,
fundamental à nossa existência. É o motor de nossa permanente invenção.
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