ISSN 1676-3408
UNIVERSO ACADÊMICO
Faculdade Capixaba de Nova Venécia – UNIVEN
Instituto de Ensino Superior de Nova Venécia – INESV
n.2 v.3 Julho/Dezembro-2002
Semestral
Diretor Geral
Tadeu Antônio de Oliveira Penina
Coordenadora Acadêmica
Eliene Maria Gava Ferrão
Coordenador Financeiro
José Jorge Guimarães Coelho
Coordenadores de Curso
Administração de Empresas
Luiz Claudio Pereira
Ciências Contábeis
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Pedagogia
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Letras
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Bibliotecária
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Presidente da Comissão Editorial
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Comissão Editorial
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Késsya Penitente
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Rosemary Rigueti Vitali
Endereço para correspondência
Comissão Editorial – Universo Acadêmico
Rua Jacobina, 165 – Bairro São Francisco
29830-000 – Nova Venécia – ES
e-mail: [email protected]
Capa/Design/Editoração
Ednilson José Roncatto
Revisão
Viviane Dias
Universo Acadêmico / Faculdade Capixaba de Nova Venécia / Instituto de Ensino Superior
de Nova Venécia – Nova Venécia: Real, (jul./dez. 2002).
Semestral
ISSN 1676-3408
1. Produção científica – Faculdade Capixaba de Nova Venécia. II. Instituto de Ensino
Superior de Nova Venécia. III. Título
UNIVERSO ACADÊMICO
ARTIGOS
SUMÁRIO
Análise conceitual do comportamento
motivacional do consumidor .................................................. 7
Andressa Salvador
Luiz Claudio Pereira
A relação do poder no interior da
organização e com o ambiente externo.............................. 29
Eliene Maria Gava Ferrão
Controles de gestão operacional ......................................... 47
Levy Écio Montebeller
Formas básicas de organização empresarial .................... 88
Anderson Marques
Rosany Scarpati Riguetti
Wgheferson Vieira Gastaldi
O risco da aversão ao risco na prática
da contabilidade .................................................................... 100
Dimitri Pinheiro Sant‘Anna
Luciene Laurett Rangel
Márcio Luiz de Castro
Passivo ambiental.................................................................. 119
Flávia Zóboli Dalmácio
A barbárie contemporânea: um artigo sobre Theodor
Adorno....................................................................................... 142
Alessandra Azevedo Jantorno
POEMA
Resenha poética do livro “Mar Morto” de
Jorge Amado .......................................................................... 153
Elias Pereira do Nascimento
ISSN 1676-3408
ANÁLISE CONCEITUAL DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
Andressa Salvador*
Luiz Claudio Pereira* *
RESUMO
Como ponto fundamental a apresentar ao leitor, têm-se uma composição
histórica do mercado consumidor, fazendo algumas reflexões sobre as
mudanças ocorridas no período em questão. Trata também do
comportamento do consumidor, de uma forma conceitual, bem como as
modificações que este comportamento sofreu no período em que as
exigências do mercado consumidor foram se alterando.
PALAVRAS-CHAVE: Mercado; Consumidor.
ABSTRACT
The main point is to show the reader histical composition of the consumer
market, some refletions about changings occured in the customer behavior.
Dealing with the customer behavior in a contextual way; as behavior suffered
in a period inside of the exigence of the consumer market which has been
changing.
KEY-WORDS: Market; Consumer.
1 INTRODUÇÃO
O cenário atual apresenta um mercado com mudanças
contínuas, de todos os âmbitos e em estágio evolutivo acelerado.
*
Aluna do Curso de Administração de Empresas da Faculdade Capixaba de Nova Venécia – UNIVEN.
**
Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.
Coordenador do Curso de Administração de Empresas e professor da Faculdade Capixaba de Nova
Venécia – UNIVEN.
7
Sendo assim, estar em processo constante de atualização tornase vital para a permanência competitiva.
É importante salientar que toda decisão tomada por um
gestor precisa ser estruturada em um planejamento amplo e
eficaz. Para tal, é imprescindível que nesse, tenha de forma
nítida e objetiva a aceitabilidade, viabilidade e vulnerabilidade
do projeto.
O Marketing desenvolve um papel fundamental para a
composição de informações necessárias na elaboração e
execução, já que se concentra em estudar profundamente o
mercado consumidor. Tucker (1997) afirma que as companhias
que administram o futuro, esforçam-se para compreender seus
clientes melhor que a concorrência”.
A competição acirrada e a exigência do consumidor cada
vez maior, evidenciam a importância de diferenciar-se no
mercado. Diante dessa realidade, este trabalho objetiva mostrar
formas de diferenciação através da compreensão do
comportamento do consumidor, afim de desenvolver estratégias
capazes de persuadir e convencer o cliente dos benefícios e
vantagens ofertadas pela organização. Segundo Engel,
Blackweel e Miniard (1995), entender e adaptar-se à motivação
e comportamento do consumidor não é uma opção – é a
necessidade absoluta para a sobrevivência competitiva”.
Este artigo visa mostrar aos leitores a importância da
compreensão do comportamento do consumidor e os aspectos
que devem ser levados em consideração para sua análise, para
que as empresas possam conhecer melhor seus clientes e
assim reunir forças para seduzi-lo.
8
2 MERCADO CONSUMIDOR
Para compreender o comportamento do consumidor é
preciso entender o cenário no qual se insere, chamado mercado
consumidor.
2.1 CONCEITO DE MERCADO CONSUMIDOR
Um mercado consiste de todos os consumidores
potenciais que compartilham de uma
necessidade ou desejo específico, dispostos e
habilitados para fazer uma troca que satisfaça
essa necessidade ou desejo.
Mercado de consumo é constituído de todos os
indivíduos e domicílios que compram ou
adquirem produtos e serviços para consumo
pessoal.
Philip Kotler (1998)
3 MARKETING
Tendo em vista que a base para toda fundamentação
teórica desse artigo é voltada a princípios de Marketing, tornase imprescindível conhecer a origem, evolução e conceito da
área em estudo.
3.1 CONCEITO DE ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING
É o processo de planejamento e execução da
concepção, preço, promoção e distribuição de
idéias, bens e serviços para criar trocas que
satisfaçam metas individuais e organizacionais.
9
Philip Kotler (1998)
3.2 EVOLUÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING
Figura 1 – Evolução da administração
Fonte – Cobra (1992)
A administração passou por vários estágios, até chegar o
que vemos hoje. Na era da produção as pessoas produziam
inicialmente pela própria subsistência (1600), posteriormente
produziam também por encomenda (1700), porém a ênfase
principal era na produção e não na administração das vendas.
Ainda na era da produção, encontra-se a era especulativa (1800
– 1849), na qual os fabricantes começaram a produzir sem ter
um comprador, imaginando sua venda posterior. Por fim, surgiu
a fase da produção seriada (1850 – 1899), cujo principal objetivo
era reduzir custos com a ampliação da demanda de bens.
No período (1900 – 1949) aconteceu a era do produto, na
qual, pela ampla produção mercadorias obtidas com a
Revolução Industrial, o objetivo principal deixa de ser a
produção em si, dando ênfase agora aos métodos e processos
10
de fabricação. Começou aqui um marketing, porém, com visão
míope, fixando-se apenas no produto não se atentando às
necessidades do mercado.
Na era da orientação pela venda (1950), houve a
necessidade de vender massivamente, já que havia uma
produção excessiva, advinda da Revolução Industrial, sem
considerar novamente as necessidades do consumidor. O papel
de marketing mostra-se portanto, apenas como um suporte de
vendas.
Por fim, a partir de 1970, temos na administração a era
do marketing, que é orientada para o consumidor. Isso ocorre
a partir do momento que o mercado já não absorve totalmente
a oferta e o foco nas vendas não é capaz de colocar os produtos
no mercado. Aqui, faz-se necessário uma interação de todos
os setores da organização para que esses estejam preparados
a satisfazer o consumidor. Vale ressaltar ainda, que essa
interação também precisa acontecer no ambiente externo
(governo, fornecedores, concorrência, consumidores e
distribuidores) para que o objetivo em questão fique claro e
seja seguido e estudado por todos os envolvidos.
4 VAREJO
Segundo Parente (2000), varejo consiste em todas as
atividades que englobam o processo de venda de produtos e
serviços para atender a uma necessidade pessoal do
consumidor final.
Kotler (1998) afirma: “É qualquer empresa cujo volume
11
de vendas decorre, principalmente, do fornecimento por
unidades ou pequenos lotes, ao consumidor final para uso
pessoal”.
4.1 PAPEL DO VAREJO E NÍVEIS DO CANAL
O varejista é o intermediário entre o consumidor final e a
produção que lhe será ofertada. Para Parente (2000), funciona
ainda como um identificador ativo das necessidades do
consumidor e na definição do que deverá ser produzido para
atender às expectativas do mercado.
Parente (2000) aponta quatro níveis de canais, com níveis
intermediários diferentes, como mostra a figura a seguir:
Figura 2 – Esquema típico de estrutura de canal para bens de consumo
Fonte - Parente (2000)
No nível dois, o fluxo passa diretamente do fabricante para
o consumidor, não existindo portanto intermediários, o que já
12
não acontece no nível três que aponta o varejista como
intermediário. Esse canal é ampliado no nível quatro com a
presença do atacadista (entre o fabricante e varejista), e no nível
cinco com agentes entre o fabricante e o atacadista.
4.2
IMPORTÂNCIA
DO
COMPORTAMENTO
DO
CONSUMIDOR NO VAREJO
Para que haja estratégias e táticas de marketing bem
sucedidas no varejo, é importante a identificação das
necessidades de cada segmento, e para tal, é preciso entender
como funciona e o que influencia no processo decisório de
compra do consumidor.
Segundo Parente (2000), Comportamento do consumidor
deve ser um tema prioritário ente varejistas, pois conseguir
conquistar e satisfazer o consumidor é o propósito máximo de
qualquer varejista”. Portanto, a base para toda e qualquer
resposta adequada da empresa para seus clientes concentrase na compreensão do seu comportamento.
É preciso ainda, atentar-se para a visualização dessa
importância como um composto integrado, no qual, os níveis de
canais estejam voltados ao mesmo propósito e responsáveis
pela excelência dos negócios. Miranda (1997) afirma o seguinte:
“Foi necessário mais de um século para a indústria perceber
que as lojas são as vendedoras, não as compradoras de seus
produtos. Muitas indústrias ainda não se deram conta disso.
Muitas lojas também não”.
13
5 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
5.1 CONCEITO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
... Definimos comportamento do consumidor, como
as atividades diretamente envolvidas em obter,
consumir, e dispor de produtos e serviços,
incluindo os processos decisórios que antecedem
e sucedem estas ações.
Engel, Blackwell e Miniard (1995)
A área do comportamento do consumidor estuda
como indivíduos, grupos e organizações
selecionam, compram, usam e dispõem de bens,
serviços, idéias ou experiências para satisfazer
as suas necessidades e desejos.
Philip Kotler (1998)
O comportamento do consumidor compreende
todas as decisões e atividades do consumidor
ligadas a escolha, compra, uso e descarte dos
bens e serviços.
Nickels e Wood (1999)
Resumindo esses conceitos, pode-se dizer que o
comportamento do consumidor está diretamente ligado aos
valores que cada indivíduo enfatiza no processo de compra e
como esses serão trabalhados e estimulados para que haja uma
reação positiva a eles.
14
5.2 A ORIGEM E EVOLUÇÃO DO ESTUDO SOBRE
COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
Para compreender a real necessidade de uma empresa
trabalhar o comportamento do consumidor, far-se-á necessário
mostrar a sua origem e evolução ao longo das décadas.
A pesquisa do consumidor, segundo Engel, Blackwell e
Miniard (1995), recebeu reconhecimento como uma área
sistemática de investigação nos final dos anos 1950 e início dos
1960. Ela tem suas raízes iniciais na teoria econômica e
posteriormente em Marketing, através da influência de escritores
como Newman, Katona, Ferber, Howard e Engel. As forças
dominantes que moldam a pesquisa dos consumidores estão
ligadas aos fatores que mudam uma economia, quando orientada
por produção para uma economia orientada para o mercado, na
qual é caracterizada por ampla competição e alta tecnologia.
Para compreender a evolução que a importância do
comportamento teve ao longo dos anos, é importante estudar a
situação das ciências do comportamento e os fatores ambientais
que afetavam o desafio de marketing no período pré e póssegunda guerra mundial.
No início da década de 20, a produção era o maior desafio,
pois a demanda por produtos ultrapassava a oferta, a
comunicação estava crescendo, principalmente pela introdução
do rádio e o mais importante, já sentiam a necessidade de
mostrar os benefícios do produto, para que esse fosse
consumido; os canais de distribuição ainda eram
proporcionalmente pequenos e locais. Houve nessa época um
15
importante crescimento econômico para a evolução da história,
porém com muitas limitações e conseqüências.
As ciências do comportamento, diante do exposto, eram
limitadas e pouco exploradas até a segunda guerra mundial,
embora a pesquisa de marketing apresentou evolução e ganho
de espaço.
Na fase pós-segunda guerra mundial, havia uma oferta
muito maior que a demanda, enfatizando dessa forma a
compreensão e utilização do conceito de marketing. A mídia foi
utilizada intensificamente, porém, essa era feita em massa. Os
fabricantes conseguiam introduzir seus produtos por meio da
propaganda ao consumidor final, fazendo o distribuidor adquirir
o produto. Pode-se dizer que o mundo ocidental viveu um período
de riqueza e poder de compras incontestáveis.
Nessa fase, as ciências do comportamento começaram a
ser intensificadas, sendo levados em consideração fatores como
os desafios do comportamento humano e potencial humano.
Houve também, estudos sobre percepção e processamento de
informações, pesquisa de atitude, comportamento de solução
de problemas, aprendizagem, difusão de inovações, influencia
de grupo e influencia pessoal.
Na década de 90, a sociedade entra no período chamado
contemporâneo, em que as mudanças são constantes e
dinâmicas. É importante situar-se nesse período e verificar o
que mudou desde a segunda guerra mundial.
Houve um retardamento no crescimento econômico, em
função das crises políticas e econômicas. Em contrapartida há
um aumento da concorrência (excedendo a oferta sobre a
16
demanda) e de inovações tecnológicas, além de uma crescente
exigência do consumidor e mudança no estilo de vida. Houve
assim, mudanças na motivação e no comportamento do
consumidor frente a alta gama de diversificação marcas de
produtos a um preço similar.
Percebe-se também a segmentação cada vez mais
intensificada e em mercados menores, o que difere radicalmente
da década de 60 que se utilizava marketing de massa1 .
Por fim, pode-se dizer ainda que as empresas apresentam
escudos a todos esses pontos dificultosos existentes hoje,
agregando acentuadamente valor para o consumidor. Para isso
utiliza várias ferramentas que são: estar mais próximo do cliente,
observando, pesquisando e tendo o seu feedback para direcionar
as estratégias; utilizar um marketing individualizado2 totalmente
oposto ao marketing de massa utilizado anteriormente, através
da segmentação de mercado3 , além de um conhecimento
individual dos seus clientes utilizando um banco de dados; e ainda,
foco renovado em Brand Equity4 .
5.3
CARACTERÍSTICAS
QUE
COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
INFLUEM
NO
O ambiente proporciona ao indivíduo influências em âmbitos
macro. Essas influências estar ligadas ao meio ambiente físico;
a tecnologia que pode aguçar ou retardar a compra, dependendo
Marketing de Massa: Produtos ou serviços idênticos são oferecidos a todos (KOTLER, 1998)
Marketing Individualizado: Uma estratégia de marketing que reconhece, confirma, aprecia e serve aos
interesses e necessidades de grupos ou consumidores selecionados, cujas identidades individiais são ou se
tornam conhecidas do profissional de marketing(ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 1995)
3
Segmentação de Mercado: O processo de projetar ou caracterizar um produto ou serviço que exercerá uma
atração especialmente forte para uma subparte identificável do mercado total.(ENGEL, BLACKWELL e
MINIARD, 1995)
4
Bramd Equity: É um conjunto de ativos e passivos vinculados a uma marca, seu nome ou símbolo,
que se somam ou subtraem do valor proporcionado por um produto ou serviço para uma empresa e para
os consumidores dela (AAKER, 1998).
1
2
17
sempre da resposta do indivíduo em relação ao estímulo criado.
Existem ainda, as influências econômicas, ou seja, as condições
que as empresas oferecem aos clientes face à situação
econômica que o mercado encontra-se; as influências políticas
e legais, que podem estimular ou inibir consumo de produtos.
As compras do consumidor, porém, são influenciadas por
fatores micro que estão inseridos no contexto macro, de forma
mais profunda e diversificada. Os fatores que devem ser
considerados estão demonstrados conforme figura a seguir:
Figura 3 – Fatores que influenciam o comportamento do consumidor
Fonte - Kotler (1995)
5.3.1 Fatores culturais
Nos fatores culturais, a cultura representa a determinante
mais importante no processo de compra de um indivíduo. Cada
pessoa dentro do seu grupo cresce com determinados valores
e crenças que devem ser entendidos para que a oferta seja
conveniente para ele. Esses grupos podem ser formados pela
nacionalidade, religiosidade, agrupamento racial e regionais.
Deve-se analisar também as classes sociais, as quais, podem
18
ser divididas por fatores como: ocupação, renda, educação,
riqueza, entre outros.
5.3.2 Fatores sociais
Os fatores sociais demonstraram uma ampla influência na
decisão de compra. A família possui características individuais
e conjuntas que são muitas vezes influenciadas pelos seus
membros. Ela vem sendo pesquisada intensificamente pelos
profissionais de marketing, no intuito de compreender e manipular
a atitude de cada um dentro do contexto-família. Há influência
também dos grupos de referência, os quais geralmente não
fazem parte, porém aspiram a ser formadores de opinião ou
sempre estarem em evidência. É importante mencionar ainda,
a influência existente na percepção que o status ou papel de
cada indivíduo proporciona, em determinadas situações.
5.3.3 Fatores pessoais
Nos fatores pessoais é estudada a reação diferente que
cada consumidor tem diante de estímulos iguais. E essas
variações estão atreladas aos estágios do ciclo de vida no qual
se encontram (criança, adolescente, adulto, idoso), a ocupação
que desempenham, a influência da perspectiva econômica, o
estilo de vida, ou ainda, podem diferenciar-se pela personalidade
que possuem.
A personalidade pode ser descrita por características como
autoconfiança, dominação, autonomia, deferência, sociabilidade,
19
atitude defensiva e adaptabilidade. Para Cobra (1992), o estudo
da personalidade apresenta-se como único caminho para que
se organize o entendimento da complexidade do comportamento
humano.
Faz-se necessário na estratégia de marketing, agrupar
pessoas com diferenças individuais semelhantes, formando um
segmento de mercado explorável e atrativo.
5.3.4 Fatores psicológicos
Enumeram-se quatro fatores psicológicos que também precisam
ser analisados nas decisões de estratégias de influências de
compra.
A motivação é aguçada conforme necessidades
encontradas numa determinada ocasião. Alguns psicólogos
desenvolveram teorias sobre a motivação. Dentre elas, as mais
conhecidas são de Sigmund Freud, Abraham Maslow e Frederick
Herzberg.
Para Kotler (1998), o comportamento do consumidor é
totalmente influenciado por forças psicológicas inconscientes, e
por isso precisa ser estudado em estágio mais profundo,
rompendo a barreira do ego. A personalidade resulta da interação
das forças que atuam no indivíduo, como mostra a figura a seguir:
20
Figura 4 – Interação do impulso instintivo, do Ego e do Superego
Fonte - Cobra (1992)
Id: Força motriz do subconsciente – satisfação do impulso
Superego: Força motriz do subconsciente – consciência que
procura anular o id do indivíduo
Ego: Força do consciente lógico, que dirige o libido, as
satisfações socialmente aceitáveis para conciliar o Id do
indivíduo.
Na teoria de Maslow (1975), a motivação é influenciada
por necessidades em ordem hierárquica e contínua, conforme
descrito a seguir:
Figura 5 – Hierarquia de necessidades de Maslow
Fonte – Kotler (1999)
21
Na base da pirâmide encontram-se as necessidades
fisiológicas (água, comida, abrigo). Para Maslow (1975), são
produtos de primeira necessidade, e por isso, precisam
preferencialmente ser atendidos. Depois, os indivíduos procuram
atender às necessidades de segurança que incluem defesa e
sentimento de proteção. Em terceiro lugar enfatizam as
necessidades sociais, valorizando sentimentos de posse e amor.
Quando essas foram atendidas, iniciam-se as necessidades de
estima do indivíduo (auto-estima, reconhecimento e status) e
por isso, sofre influências por produtos que satisfaçam esses
sentimentos. Por fim, o indivíduo procura satisfazer necessidades
de auto-realização, as quais prioriza o desenvolvimento pessoal
e as conquistas.
Vale ressaltar que, um indivíduo pode encontrar-se em
vários estágios ao mesmo tempo, e que todo esse processo é
contínuo e circunstancial. Os profissionais de marketing precisam
reconhecer se as necessidades do público em estudo serão
totalmente atendidas com o produto ofertado e o que pode ser
feito para que seja aguçada a motivação para o processo
decisório de compra.
A teoria de Herzberg reconhece dois fatores que afetam o
comportamento do indivíduo, relativos à motivação. São eles:
insatisfatórios – a sua ausência causa insatisfação, mas a sua
presença não proporciona satisfação; e os satisfatórios ( a sua
presença causa satisfação). Portanto, atentar-se a esses fatores
torna-se fundamental para anular a insatisfação e proporcionar
um “plus” para que o consumidor perceba os benefícios que
determinado produto pode proporcioná-lo.
22
A percepção, outro fator psicológico, é definido como “... o
processo pelo qual uma pessoa seleciona, organiza e interpreta
as informações para criar um quadro significativo do mundo”.
(KOTLER, 1999)
Nota-se nesse conceito, que cada indivíduo tende a
interpretar a mesma realidade de forma diferente. Sendo assim,
é de fundamental importância a sua observação na elaboração
do composto de marketing.
Evidencia-se ainda, a aprendizagem, nos fatores
psicológicos que influenciam na decisão de compra do
consumidor, referentes às mudanças no comportamento,
decorrentes da experiência. O processo de aprendizado é
composto de:
impulso e sugestões
respostas
reforço (positivo ou
negativo decorrente de resposta).
Por fim, têm-se as crenças e atitudes como fatores
psicológicos. Esses decorrem da ação e aprendizagem. Os
indivíduos valorizam e percebem o produto a partir de avaliações
favoráveis obtidas. Segundo Kotler (1999), as pessoas têm
atitudes em relação à religião, política, roupas, música e
alimentação, entre outros, e tendem a reagir de forma consistente
a objetos similares. Sendo assim, em determinadas estratégias
de marketing, torna-se interessante ajustar o produto às atitudes
existentes, em vez de tentar mudá-las.
5.4 PROCESSO DE DECISÃO DO CONSUMIDOR
Para compreender o comportamento do consumidor, é
23
importante identificar as etapas que precedem e sucedem a
compra.
Figura 6 - Etapas de processo de compra do consumidor
Fonte - Kotler (1999)
A alternativa inicia-se a partir do reconhecimento de uma
necessidade. Essa pode ser impulsionada pelos vários estímulos
já mencionados. Portanto, é papel do profissional de marketing
identificar estímulos mais freqüentes para uma categoria de
produtos.
O segundo passo concentra-se em reunir possíveis
soluções do problema identificado. Essas informações podem
ser internas advindas de informações armazenadas que foram
geradas pelas observações e experiências, ou fatores externos
advindos do ambiente em que se encontram, podendo ser
pessoais (família, amigos, vizinhos), fontes comerciais
(propaganda, vendedores, embalagens, displays). Sendo assim,
é fundamental que as empresas reconheçam as fontes como
meio de persuasão e utilize-as na estratégia.
Posteriormente, o consumidor passa pelo estágio de
avaliação das alternativas. Nesse estágio, o consumidor utilizará
critérios que considera relevantes, os quais estão diretamente
ligado ao grupo que pertence, as crenças, as percepções, entre
outros. Portanto, é preciso identificar os motivos que influenciam
o público alvo a comprar para que as estratégias concentremse aí.
24
O quarto passo baseia-se na decisão de compra, ou seja, o
consumidor avaliou as alternativas num conjunto e restringiu a
apenas uma através da conveniência encontrada.
Por fim, têm-se as relações pós-compra, que precisam ser
analisadas, pois a partir do momento que ocorre a compra,
evidencia-se um início de possíveis relações entre cliente/
empresa, e para isso é importante que consumidor esteja
satisfeito com a compra efetuada. Utilizam-se várias estratégias
pós-compra para que ocorra não apenas satisfação, e sim que
essa seja excedida, encantando o consumidor. Deve-se entender
que a reação obtida com a compra influenciará o seu
comportamento em compras subseqüentes.
Tabela 1 – Grau de satisfação e a relação entre real e expectativa
Fonte - Parente (2000)
O mais importante é identificar o comportamento do consumidor
em cada estágio e as influências que estão operando. Com isso, podese trabalhá-las com o intuito de assegurar a satisfação em todos os
níveis do processo de compra.
25
6 CONCLUSÃO
Em toda análise conceitual exposta é percebida que a
compreensão do comportamento do consumidor torna-se
fundamental na elaboração de projetos que tenham ampla
aceitabilidade, quando baseados em empresas orientadas para
o mercado, cujo objetivo concentra-se na capacidade superior
para compreender, atrair e reter clientes valiosos.
O mundo contemporâneo apresenta um mercado dinâmico
e mutável em estágio acelerado. Traz consigo um consumidor
cada vez mais exigente e com características diferentes por
diversos fatores, o que direciona seu comportamento.
É importante frisar também que esse estudo precisa ser
contínuo a fim de identificar tendências e projetar cenários
futuros, uma vez que a execução de um projeto tem de ser
dinâmico.
Portanto torna-se imprescindível um estudo amplo e
profundo dos fatores que influenciam o comportamento do
consumidor perante o processo de compra, suas causas e
conseqüências, no intuito de compreender, controlar e/ou
modificar o comportamento desses para eficácia nas estratégias
de marketing das empresas.
O estudo do comportamento do consumidor faz-se presente
e constante no papel do marketing, já que o objetivo desse
concentra-se em estudar profundamente formas de satisfazer
às necessidades do consumidor.
Fica evidente a mutação que ocorre no comportamento do
consumidor ao longo dos anos influenciados por vários fatores,
26
o que obriga as empresas a estudá-lo constantemente e criar
formas de satisfazê-lo e encantá-lo sempre, através de poder
de persuasão e convencimento.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AAKER, A. David. Marcas – brand equity: gerenciando o valor
da marca. 2. ed. São Paulo: Negócio, 1998.
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria
de Lourdes Trassi. Psicologia: uma introdução ao estudo da
psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999.
BOONE, Louis E. Marketing contemporâneo. 8. ed. Rio de
Janeiro: LTC, 1995.
COBRA, Marcos. Administração de marketing. 2. ed. São
Paulo: Atlas, 1992.
ENGEL, James F.; BLACKWELL, Roger D.; MINIARD, Paulo.
W. Comportamento do consumidor. 8. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 1995.
FIORELLI, José Osmir. Psicologia para administradores:
integrando teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
KOTLER, Philip. Administração de marketing: análise,
planejamento, implementação e controle. 5. ed. São Paulo: Atlas,
1998.
KOTLER, Philip. Princípios de marketing. 7. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 1998.
MIRANDA, Roberto Lira. Marketing do varejo: alianças
estratégicas com a indústria.Rio de Janeiro: Qualitymark , 1997.
27
NICKELS, William G.; WOOD, Marian Burk. Marketing
relacionamentos, qualidade, valor. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
PARENTE, Juracy. Varejo no Brasil: gestão e estratégia. São
Paulo: Atlas, 2000.
TUCKER, Robert B. Administrando o futuro: as 10 forças de
mudança para vencer a concorrência. 2. ed. Rio de Janeiro:
Record, 1997.
28
A RELAÇÃO DO PODER NO INTERIOR DA ORGANIZAÇÃO E COM O
AMBIENTE EXTERNO
Eliene Maria Gava Ferrão*
RESUMO
Propõe-se a analisar as diversas definições de poder e seus impactos
dentro das organizações, considerando-se que o poder, geralmente
investido no cargo e não na pessoa, constitui-se numa força invisível e
intangível dentro da organização. Não pode ser visto, nem tocado, mas
seus efeitos podem ser sentidos.
PALAVRAS-CHAVE: Poder; Organização.
ABSTRACT
The propose is to analyse various definitions of power and its impacts
inside of the organizations, having the power generally installed in the job
itself and not is the person constitue na invisible and untouchable power
inside of the organization, that can not be seen or touch but the effects can
be felt.
KEY-WORDS: Power; Organization.
1 ORGANIZAÇÃO
Antes de se estudar o poder em uma organização, é
necessário conhecer a evolução das teorias das organizações,
*
Economista. Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.
Coordenadora Acadêmica e Professora da Faculdade Capixaba de Nova Venécia – UNIVEN.
29
nas ciências humanas e sociais e no desenvolvimento
tecnológico de seus pilares básicos e fundamentais. A
retrospectiva sobre a evolução das principais teorias da
organização trilha o caminho da fundamentação teórica, da
estruturação e da sistematização da ciência da administração.
Desde a revolução industrial, quando ocorre efetivamente
a implantação do sistema econômico capitalista, a organização
vem crescendo em importância como objeto de estudos, partindo
de uma abordagem restrita ao campo da fábrica, num enfoque
nitidamente mecanicista, até atingir o estágio atual, no qual
predomina a visão de conjunto e de totalidade.
A busca por modelos e instrumentos que visam melhor ao
desempenho das organizações tem sido uma preocupação
constante de estudiosos e autores da ciência da administração
desde os seus primeiros passos com os clássicos Taylor e Fayol.
Tem-se que a sociedade hoje é constituída por ser uma
sociedade de organizações, de maneira que, no mundo atual, o
homem depende em grande escala das organizações formais,
onde passa grande parte de sua vida.
Para Machado (2001), a sociedade moderna é
caracterizada pelas organizações que assumem caráter político,
econômico, cultural, religioso, etc. As organizações têm
importante papel na formação da personalidade do indivíduo,
ao mesmo tempo em que delas depende o desenvolvimento de
um país. Assim, o primeiro objetivo da administração da
organização é o aumento da eficiência e da produtividade, sem
o qual não existe o desenvolvimento.
Hampton (1992) define a organização como uma
30
combinação intencional de pessoas e tecnologia para atingir um
determinado objetivo, portanto, uma empresa é uma
organização, inserida num meio ambiente.
Maximiano (1995) expõe que a organização é uma
combinação de esforços individuais cuja finalidade é realizar
propósitos coletivos. Além de pessoas, a organização utiliza
outros recursos como máquinas e equipamentos, dinheiro,
tempo, espaço e conhecimentos.
Para Snell (1990) a organização é um sistema administrado,
projetado e operado para atingir determinado conjunto de
objetivos. Esse sistema processa recursos financeiros, humanos,
físicos e de informações e transforma-os em saídas. Essas
saídas são os bens e serviços demandados pelo ambiente
externo. Atingir tais demandas permite à organização alcançar
seus objetivos.
Para Chiavenato (1999), a organização é uma unidade
social (agrupamento humano) intencionalmente construída e
reconstruída, a fim de atingir objetivos específicos. Isso significa
que a organização é propositada, planejadamente construída,
elaborada para atingir determinados objetivos, também são
reconstruídas e redefinidas à medida que os objetivos são
atingidos ou à proporção que se descubram meios melhores
para atingi-los com menor custo e menor esforço. Uma
organização nunca constitui em uma unidade pronta e acabada,
mas um organismo social vivo e sujeito a mudanças.
Para Etzioni (1974), as organizações variam segundo o
tipo de função que realizam no sistema social geral, podendo
ser classificadas como: organizações orientadas para a
31
produção; organizações orientadas para os fins políticos,
organizações integrativas e organizações conservadoras. O
autor afirma que a organização como unidade social é a
disposição dos meios pelos quais diferentes pessoas,
empenhadas em uma complexidade de tarefas se relacionam
entre si no estabelecimento e realização consciente e sistemático
de objetivos em que concordam mutuamente.
2 PODER
Assume-se então, que qualquer mudança em uma
organização é resultado e conseqüência de decisões e ações
individuais. Sendo assim, a pessoa que tem poderes para
realizar ações que irão alterar a organização torna-se crítica.
Inevitavelmente, deve-se considerar quem controla a
organização e como a distribuição do poder (influência) acontece.
2.1 DEFINIÇÃO E FUNÇÕES DO PODER
Nos primórdios da humanidade, o poder expressava-se
através de uma forma bastante rudimentar: a força física. Quando
o ser humano tornou-se um ser pensante, uma nova forma de
poder surgiu, aquela exercida através de recursos mentais. A
maior habilidade mental resulta em diversas formas de poder:
maior inteligência conduz ao prestígio, maior habilidade leva à
competência, melhor capacidade de e conduzir a objetivos
comuns confere confiança (CORREIA, 1977).
As primeiras teorias organizacionais não consideravam o
32
estudo do poder como sendo importante, pois acreditavam que
as organizações possuíam apenas um ator que tomava as
decisões e, além disso, suas decisões eram sempre voltadas
para a maximização do lucro – a meta principal de qualquer
organização. Papandreau (apud MINTZBERG, 1987) foi o
primeiro a ver a organização como um sistema sobre o qual
múltiplas metas eram impostas a partir de fora, através de
pessoas que tivessem interesses em suas operações.
Entretanto, ainda permanecia a idéia de um único ator – o
coordenador máximo – quem conciliava todas essas metas em
busca de sua maximização.
Etzioni (1974) foi um dos primeiros sociólogos modernos a
estudar as implicações do poder dentro das organizações, sendo
que ele define poder como a habilidade de um ator para induzir
outro a seguir sua orientação. O poder, nessa definição, constitui
o elemento básico de qualquer organização complexa, onde
existem pessoas que possuem mais poder e outras que possuem
menor. Par a o autor , as organizações caracterizam-se por:
a) divisões de trabalho, poder e responsabilidade
de comunicação, que não são causais ou estabelecidas
pela tradição, mas planejadas intencionalmente a fim de
intensificar a realização dos objetivos específicos;
b) a presença de mais centros de poder que
controlam os esforços combinados da organização e as
dirigem por objetivos; esses centros de poder precisam,
também, reexaminar continuadamente a realização da
organização e, quando necessário, reordenar sua
estrutura, a fim de aumentar sua eficiência e;
33
c)
substituição do pessoal, isto é, as pessoas
pouco satisfatórias podem ser demitidas e designadas
outras pessoas para suas tarefas. A organização também
pode recombinar seu pessoal, através de transferência e
promoções.
Mintzberg (1987) sugere que para entender o
comportamento de qualquer organização, deve-se primeiro
procurar entender os elementos básicos do jogo chamado poder
organizacional – especificamente quem são seus jogadores
(influenciadores internos e externos), quais são os meios ou
sistemas de influência que eles usam para ganhar poder, e quais
são as metas que resultam de seus esforços. Então, colocamse esses elementos juntos para descrever as várias
configurações do poder organizacional e por último verfica-se
como usar tais configurações para melhorar o que as
organizações fazem. Dessa forma, analisa-se como as
necessidades e o poder dos atores individuais são traduzidos
em decisões e ações organizacionais.
Pfeffer (1981) também afirma que para se ter uma razoável
previsão do que a organização realizará, assim como para se
melhorar a capacidade de intervenção nela, visando realizar
determinados objetivos, é útil que se entendam os seguintes
pontos: o jogo do poder, definindo e avaliando o poder dos vários
atores políticos e suas forças relativas; as condições sob as
quais o poder e a atividade política são empregados na tomada
de decisão; as origens ou os determinantes do poder dos atores
organizacionais; como o poder é usado na escolha organizacional;
34
a linguagem política; a institucionalização do poder (importante
para prever as circunstâncias nas quais a mudança provavelmente
ocorrerá e para entender a adaptação organizacional e por fim,
as implicações do poder em alguns tópicos considerados
cruciais).
Existem diversas definições de poder. Mintzberg (1987) o
define como sendo a capacidade de afetar os resultados
organizacionais, ou seja, refere-se à capacidade potencial de
influir nas ações dos indivíduos ou grupos no sentido de origem
determinadas maneiras.
Shermerhorn (1999) defende que poder é definido como a
capacidade de conseguir que alguém faça algo que você quer
que seja feito, ou a capacidade de fazer as coisas acontecerem
do modo que você quer. A essência do poder é o controle sobre
o comportamento dos outras.
2.2 FONTES DO PODER
Krausz (1991) considera que há duas fontes gerais de
poder: o pessoal e o contextual. O pessoal é individual,
intransferível, resultado de experiências pessoais anteriores, e
que independe do papel desempenhado. Pode ser manifestado
das seguintes formas:
- conhecimento, relacionado à competência técnica ou
-
profissional;
conexão, referindo-se à capacidade de motivar, estimular
-
e envolver pessoas sob o seu âmbito de influência em
atividades, causas e objetivos comuns, e;
competência interpessoal, constituída pelo conjunto de
35
atributos pessoais desenvolvidos através de vivências,
treinamento, crescimento e desenvolvimento de
potencialidades humanas, fluindo naturalmente, sem
intencionalidade e que permite que se crie uma rede de
relacionamentos informais baseados no respeito e
consideração mútua, independente da posição ocupada.
Já o contextual, tem suas bases na organização da qual
o indivíduo pertence, estando ligado à localização/função
dentro de uma determinada estrutura. Pode-se manifestar
através de três formas:
-
coerção ou pressão;
posição – que se origina do papel desempenhado pelo
-
indivíduo numa determinada estrutura;
recompensa – que está ligado aos mecanismos de
-
compensação de que o indivíduo dispõe.
Morgan (1996), analisando a dinâmica do poder dentro da
organização, identifica catorze fontes de poder, dentre as quais
destacam-se as seguintes:
a) autoridade formal: que é o poder legítimo , respeitado e
conhecido por aqueles com quem interagem;
b) controle dos recursos escassos: refere-se aos
recursos necessários ao funcionamento da organização,
tais como: dinheiro, materiais , tecnologia,pessoal, e tem
poder quem controla esses recursos;
c) uso da estrutura organizacional, regras e
regulamentos: criados, evocados e usados de maneira
tanto proativa dentro do quadro de relações de poder;
d) controle do processo decisório: permite a indivíduos
36
ou grupos agirem de modo claro no processo de tomada
de decisão, tem o poder de exercer uma grande influência
nos negócios da organização a qual pertence;
e) controle de conhecimento e da informação: quando
controlado esses recursos-chaves, uma pessoa pode
sistematicamente influenciar a definição das situações
organizacionais e criar padrões de dependência;
f) habilidade de lidar com incertezas: de alguns
indivíduos ou grupos, ou ainda, subunidades que podem
influenciar o funcionamento do dia-a-dia de uma empresa;
g) controle da tecnologia: que serve como instrumentos
de poder, aumentando as habilidades humanas para
manipular, controlar e impor-se sobre o ambiente.
Mintzberg (1987) diz que é fundamental observar que o
comportamento resulta de um sistema de poder interno da
organização bem como do poder exercido externamente. Para
ele, embora existam várias outras forças que afetem as
organizações, o poder é muito importante e não pode ser
ignorado pelos interessados a entender como as organizações
trabalham, o que fazem e por que fazem.
No presente estudo, serão utilizadas as bases de poder
citadas por Mintzberg, visto que é desse autor o modelo adotado.
2.2.1 O Modelo de Mintzberg
Mintzberg (1987) descreve a relação existente entre o
sistema de poder interno da organização e as interferências do
37
ambiente externo, definindo quem são os principais jogadores
do jogo do poder organizacional, aqueles que interagem ou
barganham para obtenção de poder junto à organização, criando
os influenciadores externos, ou coalizão externa e os
influenciadores externos ou coalizão externa.
Para ele, os influenciadores internos são:
- Gerente geral da organização;
- Operadores que geram os produtos e serviços da
organização;
- Gerentes de linha a quem os operadores estão
subordinados;
- Membros da estrutura técnica;
- Membros do apoio.
Considerando-se a organização como uma coalizão de
grupos de interesses, em que cada um possui suas próprias
preferências e objetivos, o autor procura explicar a
operacionalização do sistema de poder interno nestes grupos a
partir de quatro subsistemas:
a) subsistema de autoridade – o poder origina-se do cargo,
função,posição formal/legítima ocupado na hierarquia
administrativa.
b) subsistema de ideologia – faz com que os participantes
tornem-se leais à organização, baseado em crenças,
mitos , tradições que os membros compartilham-se entre
si, tornando-os unidos.
c) subsistema de perícia/conhecimento técnico – distribui
o poder pela organização, o qual passa para aqueles
38
indivíduos com habilidades e conhecimentos especiais
e cruciais para a organização, fazendo surgir a “voz”
onde a pessoa esteja.
d) subsistema de política – os influenciadores internos
buscam interromper os outros subsistemas de modo a
realizar os fins que eles pessoalmente acreditam serem
importantes.
Os quatro subsistemas podem ser usados pelos vários
participantes da coalizão interna e dependendo da maneira como
eles se compõem, aquela coalizão poder ser determinada.
Para Mintzberg (1995) os influenciadores externos são:
-
Proprietários;
Associados, fornecedores, clientes, parceiros e
concorrentes de negócios;
Associação de empregados;
Públicos diversos da organização, representando
-
interesses de um público maior. Dividem-se em três:
Grupos gerais, como famílias e líderes de opinião;
Grupos de interesses especiais;
-
Governo.
-
Para o autor, há vários meios através dos quais os
influenciadores externos buscam modificar o comportamento da
organização. São eles:
a) Normas sociais – sistemas de normas gerais e éticas
nos quais a organização funciona.
b) Limitação formais – são as normas sociais que tornam39
se legais. Normalmente, quanto às normas sociais não
produzem na organização o comportamento desejado
por alguns influenciadores externos, estes tentam impor
limitações formais a ela.
c) Campanhas de pressão – quando nem as normas
sociais nem as limitações formais resolvem a questão,
os influenciadores externos realizam campanhas de
pressão para impelir diretamente a organização.
d) Controle direto – inclui uma ampla gama de meios de
influência diretos e pessoais para agir em determinadas
organizações, tais como acesso direto com inclusão de
um participante no processo decisório interno.
e) Participação na mesa de diretores – é um meio de
influência pessoal, focalizado e formal, influindo nas
decisões gerais do grupo.
Após verificar os influenciadores internos e externos,
Mintzberg (1995) sugere que se entenda quais são os meios de
os sistemas de influência que eles usam para ganharem poder
e quais são as metas que resultam de seus esforços. Colocamse então, esses elementos juntos para descrever as várias
configurações do poder organizacional.
Relacionado as configurações de estrutura e de poder,
Mintzberg (1995) descreveu as organizacionais em sete
configurações, com as seguintes particularidades:
-
40
A organização empreendedora – simples, com
freqüência pequena e jovem, estrutura orgânica,
informal e flexível, coordenada basicamente pelo seu
proprietário, tendo um comportamento pouco
formalizado, e ausência da padronização e de analista
de staff. Organizações maiores também podem adotar
o modelo empreendedor desde que possam contar com
um líder forte capaz de assumir para si a
-
responsabilidade de reverter o quadro desfavorável.
A organização mecanizada ou maquinal – opera
como uma máquina altamente lucrativa e lubrificada,
sendo os cargos especializados e o trabalho
padronizado. Esta organização geralmente é
encontrada em indústrias estáveis e maduras, com
-
-
-
-
produção em massa.
A organização profissional – é dominada pelo
profissionalismo, com considerável parcela de poder nas
mãos de profissionais altamente treinados, estrutura
descentralizada.
A organização diversificada – conjunto de unidades
relativamente independentes, unidas por uma frouxa
estrutura administrativa.
A organização adhocrática ou inovadora – estrutura
eminentemente orgânica, adotada por organizações que
precisam inovar de maneira complexa.
A organização missionária – dominada por uma
cultura forte (chamada por Mintzberg de ideologia),
encorajando seus membros a cooperar, mantendo os
membros da organização unidos graças às crenças e
os valores compartilhados.
Mintzberg (1995) afirma que tais configurações embora
41
abranjam boa parte do conhecimento sobre organizações são
simplificadas e caricaturas da realidade. Para ele, nenhuma
organização, por mais perto que se aproxime, nunca será uma
representação pura de uma delas, sendo que geralmente, uma
organização representa uma combinação delas ou um processo
de transição entre elas.
2.3 PODER E AUTORIDADE
Há uma tendência muito forte de confundir-se PODER
com AUTORIDADE. Chiavenato (1999) defende a idéia de que
a autoridade proporciona poder; logo, ter autoridade é ter poder.
A recíproca, contudo, nem sempre é verdadeira, pois ter poder
nem sempre significa ter autoridade. A autoridade e o poder
dela decorrente depende da legitimidade, que é a capacidade
de justificar seu exercício.
Cada tipo de sociedade corresponde um tipo de autoridade
que ele define como a probabilidade de que um comando ou
ordem específica seja obedecido. A autoridade representa o
poder institucionalizado e oficializado. Já “poder”, significa a
probabilidade de impor a própria vontade dentro de uma relação
social, mesmo contra qualquer forma de resistência ou qualquer
que seja o fundamento dessa possibilidade.
Daft (2002) esclarece que o conceito de autoridade formal
relaciona-se ao poder, mas é mais estreito no escopo, porque a
autoridade também é uma forma para a obtenção de resultados
desejados, mas somente como prescrito pela hierarquia formal
e relacionamentos de subordinação. Três propriedades
42
identificam a autoridade:
a) a autoridade investida em posições organizacionais,
quando as pessoas possuem autoridade conforme
os cargos que ocupam, não pelas suas características
ou recursos pessoais;
b)a autoridade é aceita pelos subordinados, porque
acreditam que os ocupantes dos cargos possuem o
direito legítimo de exerce-la e;
c) a autoridade flui para baixo na hierarquia vertical,
mostrando que a autoridade existe ao longo da cadeia
formal de comando, e os cargos do alto da hierarquia
revestem-se de mais autoridade formal que os cargos
inferiores.
3 CONCLUSÃO
Torna-se claro, que dentro de um processo de análise e
desenvolvimento de uma organização, deve-se considerar o
poder existente. O desprezo a essa questão tem sido a causa
de insucesso, em muitos casos, das organizações, uma vez que
tomam decisões que contrariam estas relações.
O poder, concorda-se em geral, é caracterizado por uma
relação entre atores sociais, onde um dado ator,seja um
indivíduo, uma sub-unidade, ou organização, tem mais poder
com respeito a determinado ator social e menos em relação a
outro. Uma pessoa não é “poderosa” ou “ sem poder” em geral,
mas somente em relação a um determinado ator social e numa
determinada situação.
43
Diversos estudos reconhecem como importante base de
poder sobre o indivíduo ou sobre a organização, a dependência
dos recursos necessários para a obtenção dos resultados
desejados por esse indivíduo ou organização. Os recursos
podem ser físicos (matérias-primas, por exemplo), monetários,
políticos, informações, habilidades técnicas ou conhecimentos.
Para servirem como base de poder, os recursos devem ser
essenciais ao funcionamento da organização, concentrados em
poucas mãos e insubstituíveis por outros.
O uso do poder nas organizações é o meio através do qual
conflitos de interesses são, afinal, resolvidos. O poder influencia
quem consegue o quê, quando e como (MORGAN, 1996).
Embora existam muitas outras forças que afetam o que as
organizações fazem, o poder é muito importante e não pode ser
ignorado pelos interessados em entender como as organizações
trabalham e por que fazem o que fazem. Afinal, sempre que
ocorre uma mudança organizacional, é fundamental observar
que o comportamento organizacional resulta de um sistema de
poder interno da organização, bem como do poder exercido
externamente.
4 BIBLIOGRAFIA
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da
administração. 5. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
CORREA, J.S. O exercício do poder na administração. Rio
de Janeiro: Documentário, 1977.
44
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Pioneira, 2002.
ETZIONI, Amitai. Análise comparativa de organizações
complexas. São Paulo: Zahar, 1974.
FLEURY, M. T. L.; FEISCHER, Rosa Maria. Cultura e poder
nas organizações. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1996.
HAMPTON, David R. Administração contemporânea. 3. ed.
São Paulo: Makron Books, 1992.
KRAUSZ, R. R. O poder nas organizações. São Paulo: Nobel,
1988.
MACHADO, Nelson Santos. A dinâmica da estrutura, da
estratégia e do poder nas organizações universitárias na
perspectiva das configurações: o caso da Universidade
Estadual do Oeste de Santa Catarina. Florianópolis, 2002.
Projeto de Tese (Doutorado em Engenharia de Produção –
Programa de Pós graduação em Engenharia de Produção,
Universidade Federal de Santa Catarina, 2001).
MAXIMINIANO, Antônio César Amaru. Introdução à
administração. 4. ed. São Paulo Atlas: 1995.
MINTZBERG, Henry. Crafting Strategy. Harvard Business
Review, July/Aug. 1987.
MINTZBERG, Henry. Criando organizações eficazes:
estruturas em cinco configurações. São Paulo: Atlas, 1995.
MORGAN, G. Imagem das organizações. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 1996.
45
PFEFFER, Jefrey. Power in Organizations. Massachusetts:
Ballinger Publishing Company, 1981.
SCHERMERHORN, John R. et al. Fundamentos do
comportamento organizacional. Porto Alegre: Bookman,
1999.
SNELL, Scott A. Administração: construindo vantagem
competitiva. São Paulo: Atlas, 1990.
46
CONTROLES DE GESTÃO OPERACIONAL
Levy Ecio Montebeller*
RESUMO
O conjunto de controles operacionais apresentados neste trabalho propõese a dar suporte para a gestão e contribuir para o processo de tomada de
decisão das empresas. O artigo oferece um direcionamento de conceitos
e informações, através do qual, auxiliará os gestores na execução de suas
funções de planejamento e controle organizacional que garantirão a
qualidade de produtos e serviços prestados, e conseqüentemente,
influenciarão de forma direta a rentabilidade e a produtividade da empresa.
A de adoção de controles bem definidos para as organizações e suas
respectivas unidades de responsabilidades, possibilitará a adaptação e
sobrevivência num mercado acirrado, diante das mudanças e desafios
atuais impostos pela economia brasileira e a mundial, definidos pelas novas
ordens de competição e globalização.
PALAVRAS-CHAVE: Controles de gestão; Tomada de decisão;
Produtividade.
ABSTRACT
The group of operational controls presented in this work it intends to give
support for the administration and to contribute for the process of electric
outlet of decision of the companies. The article offers a direcionamento of
concepts and information, through which, it will aid the managers in the
execution of your planning functions and control organization that will
guarantee the quality of products and rendered services, and consequently,
they will influence in a direct way the profitability and the productivity of the
company. The one of adoption of very defined controls for the organizations
and your espective units of responsibilities, will make possible the adaptation
and survival in an intransigent market, before the changes and current
challenges imposed by the Brazilian economy and the world, defined for
the new competition orders and globalization.
KEY-WORDS: Administration controls; Electric outlet of decision;
Productivity
*
Contador. Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.
47
1 INTRODUÇÃO
Acerca do assunto, Gomes e Salas (1997), argumentam
que, tem-se verificado que sua contextualização teve avanços
significativos a partir da década de 50. Mas seu grande
desenvolvimento ocorreu nas décadas vindouras mais
precisamente, na década de 70, quando a ele foram incorporados
insumos dos conceitos das áreas econômicas e filosóficas,
devido à necessidade premente do corpo gestor das
organizações se apropriarem de instrumentos que os levassem
a uma tomada de decisão, mensuração de resultados e análise
como parte integrante dos processos operacionais.
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DE CONTROLES DE GESTÃO
Boisvert (1999), o controle de gestão visa à eficiência e a
eficácia da economia, constitui um sistema à parte, com
ferramentas seguras e necessárias, que poderá ser de diferentes
formas, segundo a concepção que prevalece dentro da empresa.
Conforme Campiglia e Campiglia (1993), os controles de
gestão devem ser entendidos como o conjunto de informações
e de ações cujo objetivo é manter o curso das operações dentro
de um rumo desejado. Neste contexto, um dos grandes
problemas encontrados em diversos tipos de organização é
relativo ao uso de medidas inadequadas no processo de
avaliação de desempenho, quer individual, quer de grupos ou
de toda a entidade.
Toda medida utilizada pelos gestores deverá contemplar
48
análise de passado, presente e futuro, inclusive projetando
valores para longo prazo, ou seja, todos os índices econômicofinanceiros analisados, deverão ser feitos levando em
consideração sua origem, seu processamento e seu resultado
final, para a continuidade da organização.
Qualquer processo produtivo envolve os processos de
“inputs” – “throughputs” – “outputs”, ou seja, entradas,
processamento e saídas. Por conseguinte, a empresa é um
sistema contínuo de transformação física de matéria-prima
(insumos) em produtos (bens ou serviços) e o não entendimento
destes aspectos num sistema de controle implicará em utilização
de práticas administrativas erradas ou distorcidas, afetando
consideravelmente o resultado desejável. Conforme mostra-se
na Figura 1.
Figura 1 – Processo produtivo
Fonte - Slack (1997, p.27).
Nota-se, neste contexto, que o meio ambiente força a
reestruturação da organização com mudanças tecnológicas,
49
sociais, políticas, econômicas, ecológicas e jurídicas para
enfrentar as incertezas ou dúvidas surgidas, implicando no uso
adequado dos sistemas de informações para facilitar e dar
suporte ao controle, através de construção de indicadores
quantitativos e qualitativos.
A grande dificuldade em se controlar as atividades
operacionais de uma organização, é a falta de um modelo que
apóie tais circunstâncias, devido à complexidade das mesmas
e de seus processos produtivos e administrativos. A definição
dos objetivos e o conhecimento do processo de transformação
e de tomada de decisão tornam-se confusos, pois as decisões
não são mais rotineiras e nem mesmo, os processos racionais e
lógicos. Desta forma, torna-se necessário a adoção e
consecução de um novo conceito de gestão, proposto por
Queiroz (2002) na representação esquemática da Figura 2:
Figura 2 – Modelo renovado de gestão.
Fonte - Queiroz (2002, p.58).
50
O modelo de gestão deve representar os princípios e
políticas da organização com objetivo de orientar a administração
nos processos de planejamento, tomada de decisão e controle.
Esta orientação é definida com clareza nas suas crenças e
valores que nortearão seus negócios, refletindo atributos de seus
proprietários e/ou acionistas, aliados à declaração de sua missão
da mesma, determinando o que ela se propõe a fazer, quando,
onde, a quem, em função de sua filosofia, para representar seus
propósitos básicos refletidos nos resultados esperados.
Permeando esses fatores, deve-se considerar a
organização com uma visão sistêmica, global e holística, que
possibilite visualizar e interagir nas relações de causa e efeito,
o início, o meio e o fim, para nortear a definição de um cenário
provável, de longo prazo, ao qual os objetivos institucionais e
as devidas estratégicas são delineadas.
O controle de gestão torna-se necessário à medida que
consigamos adequar os impactos do meio ambiente à
organização, devido aos cenários de incertezas, instabilidades
econômicas, concorrência e globalização. Neste sentido,
Merchant (1997) argumenta que, as empresas sejam bem
sucedidas devem manter um bom sistema de controle, o que
significa dizer que o gestor está bem informado e que pode estar
confiante de que surpresas maiores e indesejáveis não irão
acontecer.
Gomes e Salas (1997) definem controle como uma
ferramenta fundamental para assegurar que as atividades de
uma empresa se realizem de forma desejada pelos membros
da organização e contribuam para a manutenção e melhoria da
51
posição competitiva e a consecução das estratégias, planos,
programas e operações, consentâneos com as necessidades
identificadas pelos clientes.
Cada organização, dependendo de seus gestores, das
características organizacionais e do contexto social, poderá
utilizar meios de controles diversificados. Nos dias atuais, Gomes
e Salas (1997) afirmam que o tipo de controle mais utilizado tem
sido o controle por resultados, fundamentado em resultados
financeiros, como orçamentos e cálculos de desvios.
Todo processo de controle requer a obtenção de
informações que auxiliem a elaboração de um plano
(metodologia) e a mensuração do resultado esperado. As
informações sobre as operações internas e sobre o meio
ambiente externo são primordiais para a consecução da
elaboração de alternativas estratégicas.
Numa organização, os mecanismos de controle devem
assumir uma postura democrática, flexível, com aperfeiçoamento
contínuo capaz de adaptar-se às mudanças. Para Gomes e Salas
(1997), devido à complexidade das organizações em atender a
esses requisitos, o controle assume duas perspectivas:
a) Perspectiva limitada – controle baseado em aspectos
financeiros;
b) Perspectiva ampla – controle baseado em aspectos
ligados à estratégia, estrutura organizacional,
comportamento individual e contexto social.
Na perspectiva limitada, o controle de gestão
organizacional assume uma postura quantitativa centrada no
formalismo rígido dos controles, pois baseia-se em aspectos
52
financeiros. E, na perspectiva mais ampla, ele é mais qualitativo
por se basear nos aspectos estratégicos e sociais da organização
como um todo. É uma visão holística que percebe o ser humano
como parte integrante do sistema e que através dele se dará o
aperfeiçoamento contínuo. Na Figura 3 abaixo, é apresentado
um resumo das duas perspectivas.
Figura 3 – Perspectivas de controle.
Fonte - Adaptado de Gomes e Salas (1997,p.25).
53
Observa-se que na perspectiva limitada, o controle é
formal e burocrático, exercido de acordo com a estrutura
organizacional na obtenção de resultados por meio de índices
normalmente, gerados pela contabilidade, que funcionam como
parâmetros de análise e avaliação. Na perspectiva mais ampla,
o controle é baseado em aspectos formais e informais e seus
resultados são influenciados pela cultura organizacional, contexto
social e comportamento individual, dando mais ênfase à
motivação voltada às melhorias contínuas, garantindo a
motivação e o aprendizado.
Com o objetivo de facilitar o entendimento do papel
desempenhado pelo controle de gestão, considerando o contexto
social e o organizacional, faz-se necessária à discussão das
características de controles de gestão.
3 CARACTERÍSTICAS DOS CONTROLES DE GESTÃO
Tachizawa e Rezende (2000) afirmam que, o controle de
gestão tem um embasamento de processo sistêmico, em que a
compreensão do todo é mais importante do que o mero
conhecimento das partes. Os gestores utilizam os controles de
gestão para garantir e assegurar os objetivos traçados. Estes
controles apresentam-se sob três aspectos:
a) o caráter estratégico que deve orientar o modelo do
sistema de controle;
b) a importância do contexto humano, organizacional e social
em que a organização se insere; e
c) o próprio sistema de controle como ferramenta principal
54
dentro do processo de controle.
Os controles de gestão sofrem influência do caráter
estratégico do modelo de sistema controle, do contexto social e
do próprio sistema de controle. À proporção que um contexto
social é menos dinâmico e pouco competitivo, tende-se a uma
maior centralização das decisões e utilização de controles
financeiros. À medida que o contexto social torna-se mais
dinâmico e competitivo, tende-se a utilização de controles por
resultados orientando de forma eficaz uma maior
descentralização.
Para atender esses aspectos os controles de gestão,
segundo Beuren (2001) são divididos em: Controle estratégico
e Controle gerencial / operacional.
Os controles estratégicos têm papel de facilitador das
adaptações e metas estratégicas da organização ao seu contexto
social. Para Gomes e Salas (1997), o controle estratégico referese ao desenho de instrumentos e exercícios de ações que estão
orientados à manutenção e a melhora contínua da posição
competitiva da organização.
Deste modo, pode-se diferenciar as características do
controle estratégico tradicional das de um controle estratégico
num ambiente globalizado, conforme a Figura 4.
55
Figura 4 – Controle estratégico tradicional e controle estratégico atual.
Fonte: Adaptado de Queiroz (2001, p.20).
Os controles gerenciais / operacionais dizem respeito ao
uso eficiente dos recursos alocados e orçados com a realização
dos objetivos e metas organizacionais e têm o objetivo de
assegurar que toda a organização caminha no sentido de
alcançar os resultados esperados pela administração. Eles
referem-se ao desenho de instrumentos e exercício de ações
(formais e não formais, expressas e inconscientes) que estejam
direcionadas a influenciar no comportamento das pessoas que
fazem parte da organização para que atuem de acordo com os
objetivos da administração.
Esses tipos de controles são mais flexíveis e informais,
tendendo a uma descentralização e utilização de sistemas de
controle à medida que o contexto social se torna mais dinâmico
e apto às mudanças. A partir dos mecanismos e políticas
utilizadas pelas organizações, Gomes e Salas (1997) classificam
o controle organizacional em: controle familiar, controle
burocrático, controle por resultados e controle ad-hoc.
56
a) Características do controle familiar: empresa de
pequena dimensão com característica familiar; controle informal;
gestão centralizada; controles financeiros sem mecanismos
definidos; liderança de gerentes burocráticos; desestímulo à
criatividade e inovação; estratégias traçadas pelo líder; e cultura
organizacional paternalista.
Esse controle ocorre quando a gestão é muito
centralizada, limitando-se a controles informais e inflexíveis, com
ênfase nas relações pessoais e no desenvolvimento de uma
cultura organizacional que estabeleça lealdade e confiança,
limitando o estímulo à criatividade e à inovação.
b) Características do controle burocrático: empresa de
grande porte sem visões de competição; organização
nacionalista; diretrizes e procedimentos muito rígidos; estrutura
organizacional ampla e complexa; pequeno grau de autonomia
departamental; controles de gestão estritamente financeiros;
criação e manutenção de uma cultura avessa à mudança; gestão
centralizada e burocrática; diminuição da motivação e valorização
da exploração de sistemas; estratégicas de curtíssimo prazo; e
cultura organizacional paternalista.
É característico de organizações de grande porte que se
fecham ao mercado exterior. Ocorre em empresas de elevado
grau de centralização e suas políticas e procedimentos
operacionais são altamente formalizados, contendo em sua
estrutura organizacional um grande número de cargos de chefias
desenvolvendo a fidelidade e a estabilidade, contudo, estas
chefias exercem ínfimos poderes de decisão. Seus controles
são baseados estritamente em informações contábeis. Como,
57
são situações avessas a mudanças, torna-se difícil a implantação
de um sistema integrado de gestão, quer por barreiras culturais
ou por medo de perda de emprego, conseqüentemente, as
chances de sucesso na implantação destes sistemas integrados
são mínimas.
Segundo Beuren (2001), tal controle é utilizado em
atividades rotineiras que permitem elevada formalização e
naquelas que prevalece a especificação dos procedimentos a
realizar.
c) Características do controle por resultados: empresa
de grande porte com poder de penetração e competição;
controles de gestão feitos por sistemas de controles sofisticados;
gestão descentralizada; avaliação de resultados; alto grau de
autonomia, responsabilidade e discrecionalidade dos
departamentos; cultura organizacional voltada à redução de
custos e diferenciação; ênfase no curto prazo e no mercado;
planos de incentivos por resultados performados; organização
dividida em centros de responsabilidade; e coordenação através
de preços de transferência e orçamento.
Esses controles existem em contextos sociais de grande
competição onde é promovida a descentralização pelos centros
de responsabilidade, aumentando o grau de poder de tomada
de decisão, ou mesmo descentralizando-as. Nesses casos,
utiliza-se em larga escala, o controle financeiro integrado a
critérios de gestão estratégica, diretrizes e políticas empresariais,
metas e planos, criando processos que comprometam o indivíduo
desde o planejamento da empresa.
58
Segundo Beuren (2001), este controle deve ser utilizado
quando existe a delegação de uma série de funções,
descentraliza-se uma parte importante das decisões, especificase uma série de objetivos e padrões relativos ao resultado e
avalia-se o comportamento de um responsável em função do
resultado obtido.
d) Características do controle ad-hoc: empresa de
dimensão regular; promovem o autocontrole; ambientes
dinâmicos e de muita complexidade; empresas voltadas para o
conhecimento intelectual; estruturas descentralizadas e
empreendedoras; altamente inovadoras com elevado grau de
profissionalização; e cultura baseada no individualismo.
Também se desenvolvem em contextos sociais bastante
descentralizados, limitando a utilização de controles financeiros.
Esta limitação se dá, por serem empresas sem rotinas de
atividades preestabelecidas em planos, surgindo então,
situações não previstas ou não programadas, dificultando assim,
o controle. São empresas estritamente individualizadas.
Segundo Beuren (2001), esse controle deve ser utilizado
quando se torna difícil a formalização de tarefas como prever,
medir e avaliar o resultado da atuação.
As características do controle organizacional são
influenciadas pelo contexto social (mercado, clientes,
fornecedores, concorrentes) e pelo grau de descentralização
da empresa.
As características apresentadas de cada tipo de controle
têm por finalidade detectar e facilitar o entendimento do
59
desempenho dos sistemas de controles. Por fim, o conhecimento
dos diversos tipos de controles e suas influências no ambiente
interno e externo às organizações, permite auxiliar a execução
e operacionalização de sistemas de controles, e ajuda a
organização a alcançar os resultados planejados, avaliando,
continuadamente, através de indicadores, o aperfeiçoamento
da posição de competitividade e desenvolvimento organizacional.
4 INDICADORES DE CONTROLES DE GESTÃO
Todo controle requer uma avaliação, a partir da qual possa
ser feito um diagnóstico da organização, ou seja, deve-se levar
em consideração que qualquer processo de avaliação focaliza
o processo com determinadas prioridades, para evitar que ele
seja um indutor de práticas indesejáveis. Utiliza-se os indicadores
para medir o desempenho dos setores, processos e atividades,
com a finalidade de melhoria contínua
Segundo Tachizawa e Resende (2000), o desempenho
de uma organização pode ser melhorado tendo em vista os
resultados alcançados; e/ou a qualidade dos insumos (infraestrutura); e/ou os processos. Nesse contexto, os indicadores
da organização deverão ser comparados com indicadores de
outras organizações do mesmo setor no tocante ao desempenho
da mesma e verificação do que poderá ser modificado ou
adaptado no processo.
Para isso, deverão ser definidos alguns indicadores
(numéricos ou não) de gestão que contemplem a relação entre
o produto e ou serviço gerados pelo processo e o agregado de
60
insumos aplicados nele. A mensuração de indicadores de gestão
precisa estar em consonância com a estratégia da organização,
abrangendo seus principais processos e resultados para que
análise mostre a realidade da organização. A análise necessitará
de informações para melhorias de desempenhos, oriundas de
relacionamentos estreitos com clientes, fornecedores, mercado,
e concorrência.
Tachizawa e Resende (2000) afirmam que a premissa
básica verificada é, de que aquilo que não pode ser medido não
pode ser avaliado e, conseqüentemente, não há como decidir
sobre ações a tomar.
Toda análise deverá ser feita mediante à coleta de
informações seguras que apóiem a avaliação e a tomada de
decisão nos diversos níveis da organização, para o alinhamento
de todas as atividades operacionais com as metas estipuladas
pela mesma.
Segundo os mesmos autores, os indicadores de gestão
levam em consideração níveis de abrangência como: indicadores
de negócio, indicadores de desempenho global, indicadores de
qualidade (ou de resultados) e indicadores de produtividade (ou
de desempenho).
a) Os Indicadores de negócio destinam-se a avaliar a
organização no nível de prestação de serviços ou produtos aos
seus clientes, considerando as estratégias adotadas pela
organização, principalmente, em seu processo de
relacionamento com o meio ambiente externo.
b) Os indicadores de desempenho global destinam-se a
avaliar a organização num sentido mais amplo, como um todo,
61
ou podem também fazer a avaliação dos clientes institucionais.
c) Os indicadores de qualidade (ou de resultados)
destinam-se avaliar a qualidade de cada processo ou atividade
dentro da organização. São indicadores numéricos que medem
a qualidade, custos e entrega de serviços ou produtos, tendo
em vista a satisfação dos clientes. Como, são indicadores
numéricos que medem a eficácia dos processos, os gestores
deverão tomar algumas precauções quanto a possíveis desvios
que influenciaram os resultados, tais como facilidade de uso do
produto, confiabilidade no produto, etc.
d) Os indicadores de produtividade (ou de desempenho)
significam os índices numéricos estabelecidos sobre as principais
causas que afetam determinado indicador de qualidade. Os
indicadores de produtividade estão relacionados com as causas
dos processos, portanto, são passíveis de reajuste ou
manutenção, para garantir os resultados dos indicadores de
qualidade. O indicador de produtividade de um processo atual
pode ser um indicador de qualidade de um processo anterior.
Portanto, os indicadores de produtividade medem a
eficiência do processo, refletindo a utilização mais acertada da
relação produtos (serviços) e insumos, pois a dimensão da
produtividade inclui quantidade, índice e cumprimento de prazos.
Esses indicadores são ferramentas essenciais para o processo
decisório, porque apóiam as decisões com fatos, dados e
informações quantitativas e qualitativas com vistas aos controles
operacionais.
62
5 CONTROLES OPERACIONAIS
Campiglia e Campiglia (1993) informam que, definir e
planejar formam o binômio indispensável e precedente a qualquer
atitude ou ação administrativa, considerando os “meios”
disponíveis para os objetivos colimados. Assim, o presente item
procura sintetizar esses “meios” essenciais que os controles
operacionais exercem na empresa com o objetivo de determinar
desvios em face de padrões estabelecidos, transmitindo-os aos
gestores, para que promovam as correções necessárias.
5.1 CONTROLE DE ESTOQUE
Os estoques representam um investimento muito
relevante para as empresas e exercem efeitos sobre outras
funções da administração. São investimentos no sentido de exigir
o comprometimento de recursos que a empresa poderia aplicar
em outras alternativas rentáveis.
Para Gitman (1997), os estoques, ou bens em mãos, são
ativos circulantes necessários que possibilitem o funcionamento
dos processos operacionais com um mínimo de distúrbio
possível.
Eles são representados por matérias-primas,
componentes, insumos, produtos em processo e produtos
acabados que se constituem em bens destinados à produção e
à venda. Representam ainda, os ativos circulantes de menor
liquidez no aspecto contábil.
Diferentes áreas organizacionais da empresa estão
63
vinculadas a gestão e controle de estoques. Isto evidencia que
é necessário que a empresa desenvolva uma política de
administração de estoques bem definida e clara para atender a
áreas como:
a) Vendas - grandes estoques são necessários para
atender à demanda de mercado com eficácia;
b) Compras - grandes volumes transacionados minimizam
os custos por unidade e as despesas agregadas; e
c) Finanças - estoques reduzidos minimizam as saídas
do fluxo de caixa e reduzem os custos de armazenagem,
obsolescência e risco.
Os objetivos das políticas de estoque, segundo Welsch
(1996), devem: planejar o nível ótimo dos investimentos em
estoques; e controlar e manter os níveis de estoques a níveis
desejados.
Um fato que deve ser considerado é que o controle de
estoques deve suavizar as discrepâncias ou diferenças entre
os volumes de vendas e de compras. Pois, níveis elevados de
estoques geram alto investimento financeiro, alto risco, alto custo
de armazenagem e estocagem, por outro lado, o diminuto nível
de estoque pode não atender à demanda de um mercado em
tempo hábil e, conseqüentemente, perder vendas.
Para Horngren (2000), o principal objetivo do
planejamento e controle de estoques é descobrir
e manter o nível ótimo de investimentos em
estoque. O controle de estoque busca o equilíbrio
entre os aspectos operacionais e financeiros e
isso também pode significar a constante solução
de conflitos de interesses entre a área financeira
e as demais áreas envolvidas no processo.
64
As organizações devem controlar os estoques com as
políticas de:
a) determinação de padrões de estoques com faixas
limitantes ou com giros máximos e mínimos; e
b) aplicação de técnicas e práticas administrativas que
garantam as conformidades com os padrões escolhidos.
Com o propósito de garantir o atendimento aos clientes e
manutenção de seu negócio, as empresas, adquirem
normalmente, quantidades maiores de produtos do que
realmente necessitam aumentando assim seu custo de
investimento, custo de armazenagem, etc. Para este fato,
considera as influências do meio ambiente externo no negócio,
tais como aumento no custo do produto e cotações do mercado.
Os principais custos que interessam e devem ser levados
em conta no controle de estoque são os custos dos pedidos (ou
de reposição); os custos de posse e os custos totais.
Segundo Horngren (2000), o que compõe cada custo
mencionado acima é:
a) Custos de pedidos, são os custos fixos administrativos
associados ao processo de aquisição de produtos, relacionando:
preparo dos pedidos de compra; recebimento do pedido de
compra; processamento de todos os documentos relacionados
no processo; custos de aquisição ou de transporte de pedidos
freqüentes; e custos extras que não se incluem no processo
operacional.
b) Custos de posse (ou de reposição ou de manter
estoques), são os custos necessários para manter certo nível
de produtos por um período, relacionando: taxa de retorno
65
desejada sobre o investimento; risco de obsolescência e risco;
custos de espaços de armazenagem; impostos sobre a
propriedade ou sobre o imóvel; e seguros.
c) Custos totais, é a soma dos custos de pedidos com os
custos de reposição.
Na gestão de planejamento e controle de estoques, o
executivo deverá conhecer a sistemática de determinação dos
custos associados ao estoque e como os níveis de custo
repercutem nas funções administrativas da empresa. Na Figura
6 é apresentado um comparativo da situação dos custos e sua
repercussão.
Figura 6 – Repercussões dos custos de reposição e de posse na empresa.
Fonte - Gonçalves e Schwember (1979, p.3)
A manutenção de estoques implica em assumir custos e riscos que,
geralmente, são proporcionais ao volume e ao valor dos produtos estocados.
Que segundo Braga (1989), estes custos e riscos são: o custo de capital; o
custo das instalações; os custos dos serviços; e os riscos de armazenagem.
66
Os pontos cruciais no controle de estoque na tentativa de redução
de custos são o cálculo do tamanho ótimo de um pedido normal de compra
de produto, o tempo de reposição e a classificação dos produtos. Nesse
contexto, a gestão do controle de estoque utiliza três técnicas de controle: o
lote econômico de compra; o ponto de pedido e o sistema de curva ABC.
a) Lote Econômico de Compra
Gonçalves e Schwember (1979), chamam o tamanho ótimo de um
pedido normal de compra de produto de lote econômico – LEC (lote
econômico de compra). É o tamanho do lote que minimizará os custos totais
dos produtos em questão.
Segundo Campiglia e Campiglia (1993), cada operação de compra
tem seu custo administrativo integrado ao processo de aquisição de um lote
econômico.
O LEC é um indicativo do valor de reposição, sendo considerado
uma faixa econômica, dentro da qual os custos totais serão minimizados,
procurando estabelecer a quantidade ótima de compra.
Os custos totais dos estoques, segundo Lemes Junior, Rigo e Cherobim
(2002) são decompostos em: custos de comprar (custo de processamento
de pedidos) e custos de manter (custo de estocagem). Estes custos
atuam de forma inversamente proporcional, quando se faz um grande
pedido, a empresa reduz o custo de pedido, mas aumenta o custo de
estocagem; e, quando os pedidos são menores, aumenta-se o custo do
pedido e diminui o custo de estocagem.Verifica-se esta afirmação,
inclusive o ponto de equilíbrio, na Figura 7.
67
Figura 7 – Determinação do lote econômico de compra.
Fonte - Braga, (1989, p.109)
Quanto maior for o volume de estoques maior será a
flexibilidade da empresa, ou seja, o custo de estocagem é
diretamente proporcional à quantidade e ao valor dos itens
estocados. Por outro lado, considera-se o custo de
processamento de pedidos, todas as despesas relacionadas ou
apropriadas à compra, ou seja, o custo de processamento de
pedidos é inversamente proporcional às quantidades compradas.
O lote econômico determina a quantidade ideal de compra
em que o custo total seja mínimo, considerando o ponto de
equilíbrio entre o custo do pedido e o custo de estocagem.
b) Ponto de Pedido
Para Braga (1989), a compra de produtos deverá
acontecer quando as quantidades estocadas atingirem níveis
suficientes apenas para cobrir os estoques de segurança e os
68
consumos previstos para períodos correspondentes aos prazos
de entrega dos fornecedores. O tempo de reposição é o tempo
decorrido entre o momento em que se faz o pedido e a sua
efetiva entrega.
Gonçalves e Schwember (1979) propõem que, na
realidade acontecem situações nas quais a demanda fluirá a
uma taxa maior que a média esperada e, neste caso, se não
houver um estoque adicional dimensionado para suporta-la,
invariavelmente ocorrerá falta de estoque.
A empresa ficará sem estoque quando ocorrer aumentos
repentinos do consumo, atrasos nos processamentos dos
pedidos ou atrasos nos prazos de entrega. Conseqüentemente,
a empresa deverá disponibilizar um estoque adicional ou
regulador, que atenda esta necessidade, chamado de estoque
de segurança.
Os estoques de segurança são projetados para absorver
as variações na demanda durante o tempo de ressuprimento,
dado que é apenas durante este período que os estoques
podem acabar e causar problemas ao fluxo produtivo. Na
realidade os estoques de segurança agem como amortecedores
para os erros associados ao lead time interno e externo dos
itens de produto. A Figura 8 apresenta os fatores que
evidenciam a necessidade de um estoque de segurança.
69
Figura 8 – Estoque de segurança.
Fonte - Gonçalves (1979, p.55)
Notadamente, os produtos estocados representam
valor monetário, sendo assim, indispensável à administração
assegurar a boa guarda e a conservação, evitando
desperdícios, como deterioração, validade de prazos de
vencimentos, etc. Esta preocupação não deverá ser centrada
apenas na guarda e conservação para garantir as qualidades
físicas do produto, deverá também se preocupar com a
disposição física dos produtos na armazenagem, com a
identificação perfeita de cada produto e com a racionalização
dos espaços de armazenagem através de classificação dos
produtos.
c) Sistema da Curva ABC
Assaf Netto e Silva (1997) afirmam que, o controle
pelo sistema da curva ABC é uma metodologia que segrega
70
os estoques por sua importância e permite que a administração
da empresa dê mais atenção aos itens mais representativos.
Os estoques das empresas são constituídos por uma
gama muito grande de itens, cada qual representando um tipo
de produto específico. Estes produtos têm comportamentos
diferentes na análise de custo/receita/volume do mesmo,
podendo ser classificado nas categorias:
a) Categoria A – pequeno número de itens responsável por
alta participação no valor total do estoque e do
faturamento;
b) Categoria B – são os itens situados entre as categorias
A e C, ou seja, tem uma participação menor na receita
do que os produtos A; e
c) Categoria C – grande número de itens com reduzida
expressão no valor total do estoque e do faturamento.
Nota-se que produtos em estoque são classificados em três
categorias por ordem decrescente de importância quanto aos
investimentos feitos, e que cada empresa estabelece sua
própria relação de investimentos e quantidades para a
separação das categorias de produtos. Pode-se representar
estas três categorias graficamente, de acordo com o
apresentado na Figura 9 a seguir.
71
Figura 9 – Curva ABC dos estoques.
Fonte - Braga (1989, p.105)
Apesar de haver várias regras de separação dos produtos,
de acordo com o gráfico apresentado na Figura 8, Braga (1989)
sugere que, os produtos da categoria A devem representar os
primeiros 10% do tamanho do estoque, 70% da receita e 60%
dos investimentos; os produtos da categoria B devem representar
os seguintes 20% do tamanho do estoque, 20% da recita e 35%
dos investimentos e os produtos da categoria C devem
representar os outros 70% do tamanho do estoque, 10% da
receita e 5% dos investimentos.
Segundo Welsch (1996), independentemente da
abordagem usada para estabelecer padrões de controles de
estoque, é essencial: estabelecer políticas de estoques bem
72
definidas; manter essas políticas atualizadas; atribuir o
planejamento e o controle de estoques a indivíduos específicos;
desenvolver procedimentos e diretrizes para registrar o
movimento dos estoques; e criar um sistema de comunicação e
informação para administração e controle do estoque.
As funções básicas da gestão do controle de estoque, de
acordo com Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2002), são: calcular
o estoque mínimo; calcular o lote econômico; calcular o estoque
máximo; manter atualizada a ficha de estoque; emitir solicitações
de compras quando da necessidade de reposição; receber os
produtos do fornecedor; conferir, identificar e acondicionar os
produtos; entrar com dados no sistema de controle da empresa;
conservar os produtos em condições adequadas; guardar a
documentação de movimentação dos produtos; organizar o
depósito e manter sua organização.
Para Gonçalves e Schwember (1979), na gestão do
controle de estoques convencionais, são adotados dois tipos
de modelos de controle de estoques:
a) Os modelos que indiretamente se encarregam de
determinar o momento da emissão das ordens de
reposição: controle por ponto de pedido e o controle de
reposições periódicas.
b) Os modelos que buscam diretamente emitir as ordens
de reposição: controle pelo MRP (Material Requirements
Planning).
O controle por ponto de pedido consiste em estabelecer
uma quantidade de itens em estoque, que quando atingida dá
partida ao processo de reposição do item em uma quantidade
73
preestabelecida. O controle por reposições periódicas trabalha
no eixo dos tempos, estabelecendo relações nas quais serão
analisadas a demanda e as demais condições dos estoques,
para decidir pela reposição dos mesmos.
O controle pelo MRP é um modelo incorporado a um
sistema de informações gerenciais, que busca via informatização
do fluxo de informações, integrar os diversos setores da empresa,
ao sistema produtivo.
Ching (2001), afirma que a necessidade de controle de
estoques é verificada, pois os estoques exercem influência na
rentabilidade da empresa e o conseqüente aumento da
rotatividade do estoque libera ativo e economiza o custo de
manutenção do inventário.
5.2 CONTROLE DA MÃO-DE-OBRA
A mão-de-obra é a remuneração do trabalho humano sob
o enfoque financeiro, representando todas as despesas
relacionadas aos indivíduos empregados pela empresa. Pela
prática vivenciada em empresas, os custos de mão-de-obra
sobressaem sobre os outros custos somatizados, sendo de suma
importância o controle destes custos.
Segundo Welsch (1996) o controle de custos da mão-deobra, envolve áreas importantes e complexas tais como:
necessidade de recursos humanos; recrutamento; treinamento;
avaliação e especificação de tarefas; avaliação de desempenho;
negociações com entidades; e administração salarial.
O planejamento e controle dos custos da mão-de-obra
74
resultam em grandes benefícios para todos os envolvidos no
processo produtivo, a curto e longo prazo, pois, é através do
controle da mão-de-obra que a empresa garantirá o seu
funcionamento e a realização dos objetivos organizacionais.
Para Campiglia e Campiglia (1993) a mão-de-obra é objeto
de diferentes observações para diferentes finalidades: a medida
de tempo; o estudo de tempos e movimentos; o controle de
custos; a preparação da folha de pagamento; a administração
do pessoal; as relações de mão-de-obra com os problemas de
engenharia, do planejamento e do controle produtivo; e as
relações humanas, a psicotécnica, a segurança e a higiene do
trabalho.
Pode-se empregar o termo mão-de-obra de acordo com
a sua diversificação ou pela análise dos custos a que se
incorpora, nessa questão a mão-de-obra pode ser: mão-de-obra
direta e mão-de-obra indireta.
a) Mão-de-obra direta, os custos da mão-de-obra direta
(MOD) compreendem os salários pagos aos indivíduos
envolvidos diretamente no processo produtivo.
b) Mão-de-obra indireta, os custos da mão-de-obra
indireta (MOI) correspondem a todos os outros custos de
indivíduos não envolvidos diretamente com o processo produtivo.
A gestão do controle da MOD na empresa, de acordo
com Campiglia e Campiglia (1993), deve elaborar um orçamento
de mão-de-obra para o controle de seus gastos, pelas razões
principais de fornecer: dados de planejamento para a quantidade
necessária de MOD; o número de empregados necessários para
a continuidade dos processos; o custo unitário de cada produto;
75
as necessidades de fluxo de caixa; e um controle sustentável
das atividades da empresa.
Segundo Wesch (1996) o planejamento cuidadoso das
exigências de MOD pode trazer benefícios à empresa de várias
maneiras:
a) a função de administração de pessoal poderá ser
executada de maneira mais eficaz;
b) a função administração financeira poderá ser planejada
e executada de maneira mais eficaz;
c) o custo unitário de produto poderá ser recalculado para
auxiliar tomadas de decisões; e
d) o controle da própria MOD será também mais eficaz
quando executado por uma supervisão competente.
A gestão da mão-de-obra, por suas peculiaridades,
envolve as atividades de departamento pessoal; de controle de
ponto; de escrituração e folha de pagamento; de cálculo de
salário e da contabilização da folha de pagamento.
5.3 CONTROLE DO DISPONÍVEL
As disponibilidades correspondem ao dinheiro mantido
em caixa, os saldos bancários de livre movimentação e as
aplicações financeiras de liquidação imediata. Sob o ponto de
vista financeiro, a gestão do fluxo de dinheiro dentro da empresa
tem uma significância acentuada, pois delimita os investimentos
e aloca recursos para outras atividades empresariais.
Segundo Silva (2002), a gestão do disponível tem por
objetivo determinar o nível adequado de investimentos no
76
disponível, levando-se em consideração o nível de risco e a
rentabilidade.
Conforme Braga (1989), se as disponibilidades forem
mantidas em nível muito baixo, haverá o comprometimento da
capacidade de solvência da empresa, por outro lado, o excesso
de disponibilidades prejudica a rentabilidade.
É de suma importância para a empresa saber
antecipadamente qual será o montante de recursos que sobrará
ou faltará no cumprimento de seus compromissos. Deste modo,
Assaf Neto e Silva (1997) afirma que, os motivos para se manter
disponibilidades mínimas de caixa são:
a) atender aos pagamentos programados para o curso
normal de suas atividades, ou seja, a empresa necessita
de recursos em caixa para honrar seus compromissos.
(motivo transação);
b) formar uma reserva de segurança para enfrentar eventos
imprevistos, ou seja, a empresa necessita de recursos
em caixa para cobrir pagamentos futuros e de
risco.(motivo precaução); e
c) aproveitar oportunidades lucrativas na compra de bens,
aplicações financeiras, etc., ou seja, a empresa necessita
de recursos em caixa para perspectivas de oportunidades
futuras de negócios.(motivo especulação).
Investimentos em caixa representam perda de
rentabilidades, nesse contexto o gestor deverá exercer controle
sobre tais fluxos, sem aumentar o risco. O controle desses fluxos
se dará pela preparação do orçamento das disponibilidades,
envolvendo a projeção de entradas e saídas do caixa e das
77
necessidades de financiamento, além do controle de recursos
financeiros.
Welsch (1996) aduz que, dois aspectos devem ser
observados e considerados na elaboração de um orçamento de
disponibilidades: a defasagem entre as transações; e os fluxos
de caixa a eles relacionados pelas necessidades e pelos
excessos de fundos.
O gestor deverá administrar os fundos de caixa para a
eficácia da administração empresarial, controlando através de
políticas internas e atividades de crédito e cobrança, pagamentos
e recebimentos, definindo assim o exato momento de ocorrência
de entradas e saídas. Os elementos de numa política de crédito
numa empresa, devem nortear: o padrão de crédito estabelecido;
o prazo de recuperação; o desconto concedido; e a cobrança
formalizada.
Uma política de crédito, de acordo com Assaf Neto (1997),
fixa parâmetros da empresa em termos de vendas a prazo, no
tocante a: investimentos de capital; investimentos em estoque;
despesas com cobrança; e despesas com valores duvidosos.
O sucesso de uma elaboração de planejamento e controle
do disponível está pautado no equilíbrio entre os fundos
disponíveis e as atividades que os exigem, permeando assim a
elaboração de um orçamento de disponibilidades de forma
realista.
O orçamento das disponibilidades é uma projeção de
saldos de disponibilidades por período de longo prazo, que no
regime de caixa deve compreender as ocorrências das entradas
(receitas projetadas) e das saídas (despesas projetadas).
78
Dessa forma, a relação entre as entradas e as saídas de
caixa, permitirá ao gestor conhecer a saúde financeira da
empresa, conseqüentemente, auxiliará sua avaliação para a
tomada de decisão na busca de financiamentos que cobrirão
déficit projetado ou para alocação de recursos em outras
transações mais vantajosas.
Nesse contexto, afirma Welsch (1996) que as principais
finalidades do orçamento de disponibilidades são:
a) indicar a posição financeira provável em resultado das
operações planejadas;
b) indicar o excesso ou a insuficiência de disponibilidades;
c) indicar a necessidade de empréstimos para investimentos
temporários;
d) permitir a coordenação dos recursos financeiros;
e) estabelecer bases sólidas para a política de crédito; e
f) estabelecer bases sólidas para o controle financeiro da
empresa.
O desenvolvimento do orçamento das disponibilidades
requer conhecimento das atividades essenciais inerentes à
empresa e devem envolver as projeções das entradas, saídas,
necessidades de financiamento e controle dos recursos
financeiros, considerando os motivos de transação, de precaução
e de especulação.
Segundo Perez Junior, Pestana e Franco (1995), existem
dois métodos de preparação do orçamento de caixa: o método
de recebimentos e desembolsos e o método do fluxo líquido.
O Método de recebimentos e desembolsos é o conhecido
79
e praticado fluxo de caixa tradicional. O método é simplista e
considera uma projeção do disponível em função de projeções
de vendas, de despesas diversas e investimentos em
imobilizado. E muito útil para orçamentos de curto prazo, pois,
vai até o plano anual de resultados.
As entradas de caixa ocorrem genericamente com as
vendas à vista, recebimentos de contas a receber, juros de
empréstimos e investimentos em vendas de ativos fixos. Os
desembolsos de caixa ocorrem na aquisição de matéria-prima;
remuneração de mão-de-obra; gastos correntes; investimentos
em imobilizado e pagamentos de dívidas e dividendos.
O Método do fluxo líquido, esse método é mais complexo,
pois considera que o ponto de partida para análise seja o lucro
líquido projetado, onde o próprio lucro líquido é convertido de
um regime de exercício para um regime de caixa, ele é muito útil
para orçamentos de longo prazo, utilizando-se de técnicas
financeiras para sua análise, como VPL (valor presente líquido),
TIR (taxa interna de retorno), Payback (período de payback), IL
(Índice de lucratividade) entre outras. É normalmente confundido
com a análise de capital de giro.
Um sistema eficaz de controle de caixa ou de
disponibilidades capta possíveis divergências do orçamento de
caixa e agiliza uma tomada de decisão que minimize o efeito
potencial proveniente das divergências.
5.4 CONTROLE DE RESULTADOS
É comum ouvir no meio empresarial e acadêmico, falar a
80
respeito da expressão “controle de resultados”, por ser uma
medida de avaliação da organização como um todo e também
das partes integradas. Os resultados obtidos que pontuarão o
grau de eficácia da administração da empresa exigida pelas
pressões concorrenciais e manutenção do negócio.
Para Merchant (1997), os controles de resultados são
comumente utilizados em vários níveis da organização, como
meio de controle do comportamento dos empregados.
Welsch (1996, p. 21) afirma que, o controle de
resultados é um enfoque sistemático e formal à
execução das disponibilidades de planejamento,
direção e controle da empresa.
O conceito de controle de resultados implica noção de
realidade, flexibilidade e atenção perante as principais funções
administrativas. É largamente utilizado na divisão da empresa
em centros de responsabilidade quando da implantação da
filosofia de descentralização, na busca de acurar um controle
eficaz de toda a organização.
O controle de resultados deve ser encarado como a forma
de administrar a empresa, pois o ato administrar (management)
é o principal indicador de êxito de longo prazo. Esse ato deve
envolver a preparação e utilização de: objetivos globais de curtos
e longos prazos; planos de resultados de curtos e longos prazos;
e de sistemas de avaliações periódicas de desempenho.
O planejamento e controle de resultados inter-relacionam
todos os aspectos organizacionais e operacionais, no conceito
de empresa vista como um sistema e conseqüentemente, um
sistema de informação, integrando, interagindo, harmonizando
81
e sincronizando as várias funções e sub-funções do sistema
empresarial.
O controle de resultados tenderá a ser mais eficaz à
medida que receba informações claras e sucintas que aportem
à tomada de decisões e avaliação de desempenho. Assim, o
sistema contábil é a maior fonte de dados históricos em que
apóia o controle de resultados. Os dados históricos representam
o conteúdo para elaboração de um planejamento e controle de
resultados.
Desta maneira, o planejamento, o controle de resultados
e o sistema contábil, devem harmonizar-se entre si, para que
impactos financeiros acontecidos sejam entendidos e
solucionados pelas ferramentas contábeis e, serão adaptados
às características da empresa e à estrutura organizacional.
Segundo Welsch (1996), o planejamento e o controle de
resultados possuem uma relação especial com o sistema contábil
no sentido de:
a) a contabilidade fornecer os dados históricos quantitativos
para análise e avaliação; e
b) o plano de resultados ser estruturado no formato contábil.
O planejamento e o controle de resultados só se justificam
se facilitarem o desempenho do processo administrativo
organizacional, o qual deverão produzir benefícios direcionados
à execução das tarefas e das responsabilidades de administrar.
Merchant (1997) salienta que, um sistema de controle de
resultados influencia ações dos empregados de uma organização
por estarem conscientes quanto a suas conseqüências.
No sentido de maximizar a eficácia administrativa e
82
operacional, as empresas numa visão contemporânea devem
desagregar subunidades organizacionais, atribuindo-lhes
autoridade e responsabilidades, criando assim centros de
responsabilidades. Segundo Welsch (1996), é através desses
centros de responsabilidades que os planos são executados,
os objetivos são atingidos e o controle é obtido.
A desagregação da empresa em subunidades autônomas
e responsáveis cria um espírito de equipe ou time, fortalecendo
a organização como um todo no que se refere ao empowerment
e motiva os indivíduos a atingirem os resultados esperados.
Os recursos humanos da organização se sentirão
motivados, se for desenvolvida liderança dinâmica capaz de
demonstrar confiança, segurança, interesse e compreensão no
sentido de orientar para objetivos e para a comunicação. Para
que através do empowerment, os empregados sintam motivados
na realização de suas atividades operacionais de forma a
alcançarem melhores resultados, os gestores devem traçar
algumas diretrizes a serem perseguidas para a apuração da
análise e controles destes resultados, tais como: definição da
dimensão de desempenho; mensuração do desempenho;
estabelecimento de metas de desempenho; e determinação de
recompensas e sanções.
Desta forma, a função básica de um controle de resultados
é garantir que os objetivos traçados se realizem no processo de
decisão-ação-informação-controle, tornando-o eficaz.
O sucesso do controle de resultados se dá: pelo
conhecimento dos resultados esperados; pelas possibilidades
de influenciar os resultados desejados; e pela capacidade de
83
mensurar os resultados controláveis, exigindo medidas de
desempenho e ações corretivas para assegurar o atingimento
dos objetivos, não podendo ocorrer depois do fato ou do desvio,
para ser eficaz, o controle de resultados deve ser exercido antes
do momento da ação, isto significa exercer controle prévio.
Para Welsch (1996), um programa amplo de planejamento
e controle de resultados permite exercer o controle através de
comparação do desempenho real em oposição aos planos e
objetivos pré-estabelecidos e a preparação de resumos
analíticos, chamados de relatórios de desempenho.
Os relatórios de desempenho aferem uma comparação
de valores reais ao planejamento ou aos padrões, destacando
os desvios ou variações e os itens de comportamento anormal.
Os fundamentos básicos do planejamento e controle de
resultados representam orientações, atividades e abordagens
administrativas, capazes de envolver as diversas funções
empresariais a uma adaptação organizacional, orientando a
empresa para a execução dos objetivos e metas programadas,
estabelecendo uma comunicação integral de expectativas
realistas, criando oportunidades aos seus colaboradores pela
ação flexível do empowerment e gestão participativa.
6 CONCLUSÕES
Os controles de gestão nos primeiros anos de vida de
uma empresa ocorrem numa óptica limitada, com vistas ao
controle de execução, ou controle de operação. Com o passar
dos tempos, quando a empresa caminha para a maturidade, os
84
controles passam a ser observados com uma óptica mais ampla,
caracterizando um auto-controle ou controle por resultados,
considerando sempre o contexto organizacional e social, assim,
como o meio ambiente em que a mesma está inserida.
Os controles servem de parâmetros para o futuro,
auxiliando os gestores no controle de resultados antes que eles
ocorram, através de indicadores que estarão à disposição
originados e mantidos por um sistema de informação gerencial,
que disponibilizará informações atuais e seguras através da
emissão de relatórios, que possibilitem os gestores, suporte para
o processo de tomada de decisão.
Em suma, as empresas de forma geral, estão trabalhando
pró-ativamente, quando seus executivos utilizarem, ferramentas
de controles adequadas, numa interação perfeita com as
informações produzidas no âmbito organizacional, permitindo
assim, a obtenção dos resultados planejados e direcionando a
empresa com vistas ao futuro, garantindo a qualidade e
competitividade.
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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recurso estratégico no processo de gestão empresarial. São
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85
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agregando valor para a empresa. Paulo Porto Alegre: Bookman,
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BOISVERT, Hugues. Contabilidade por atividades:
contabilidade de gestão: práticas avançadas. São Paulo: Atlas,
1999.
BRAGA, Roberto. Fundamentos e técnicas de administração
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CHEROBIM, Ana Paula Mussi Szabo. Administração
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TACHIZAWA, Takeshy; REZENDE, Wilson. Estratégia
empresarial: tendências e desafios. São Paulo: Makron Books,
2000.
WELSCH, Glenn Albert. Orçamento empresarial. 4. ed. São
Paulo: Atlas, 1996.
87
FORMAS BÁSICAS DE ORGANIZAÇÃO EMPRESARIAL
Anderson Marques*
Rosany Scarpati Riguetti* *
Wgheferson Vieira Gastaldi* **
RESUMO
O contador muitas vezes assume o papel de administrador, quando assume
a responsabilidade na decisão, quanto à forma de organização empresarial,
deixando evidente o desinteresse ou o desconhecimento do empresário
sobre as vantagens e desvantagens das formas básicas de organização
empresarial, assim, pesquisa realizada no município de Pinheiros, localizado
no norte do estado do Espírito Santo, mostra que em sua maioria, as
empresas são registradas de acordo com a orientação do contador, tendo
em vista, o menor dispêndio financeiro e a menor burocratização.
PALAVRAS-CHAVE: Empresa, registro, sociedades, sociedade limitada,
sociedade anônima.
ABSTRACT
The accountant many times assumes administrator’s paper, when he takes
the responsibility in the decision, with relationship to the form of managerial
organization, leaving evident the indifference or the entrepreneur’s ignorance
on the advantages and disadvantages in the basic ways of managerial
organization, like this, research accomplished in the municipal district of
Pinheiros, located in the north of Espírito Santo state, it shows that in your
majority, the companies are registered in agreement with the accountant’s
orientation, tends in view, the smallest financial expenditure and the smallest
bureaucratization.
KEY-WORDS:
Company,
society, corporation.
registration,
societies,
limited
Aluno do Curso de Administração de Empresas da Faculdade Capixaba de Nova Venécia – UNIVEN.
Mestre em Educação, Administração e Comunicação pela Universidade São Marcos e professora da Faculdade
Capixaba de Nova Venécia – UNIVEN.
***
Aluno do Curso de Administração de Empresas da Faculdade Capixaba de Nova Venécia – UNIVEN
*
**
88
1 INTRODUÇÃO
A abertura de uma empresa não requer apenas técnica e
capital, há também a necessidade de se conhecer como
organizá-la de maneira a usufruir de todos os benefícios que
sua forma constitucional lhe permita.
Ao ingressar na implantação de um empreendimento, as
questões administrativas, relacionadas à legislação no que tange
à definição do tipo de empresa a qual se enquadrará, são vistas
pelo empreendedor como complicadas e que deve ser realizada
com a orientação ou até mesmo por profissionais terceirizados,
neste caso, o contador.
Ainda existe a prática de serviços informais, os chamados
“fundos de quintal”, mas a tendência da maioria dessas empresas
que funcionam informalmente, é o registro, uma vez que as
vantagens, mesmo que pequenas, se mostram importantes na
hora do empresário buscar um financiamento para incrementar
sua atividade empresarial.
O empreendedor ao iniciar uma atividade comercial, testa
sua capacidade e a viabilidade no negócio de maneira informal,
haja vista, o menor custo com a burocratização.
Ao iniciar a implantação de um empreendimento, o
empresário ou sócios, podem escolher três formas básicas de
organização empresarial, apresentando cada uma delas algumas
vantagens e desvantagens abordadas por alguns especialistas
do assunto.
89
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Verificando a bibliografia existente encontramos inúmeras
definições para este termo empresa. De forma geral, os conceitos
são similares ou complementares, devendo-se ao fato de o termo
ser largamente empregado na sociedade moderna.
O Artigo 6º da Lei n.º 4.137, de 10/09/1962 define empresa
como “toda organização de natureza civil ou mercantil destinada
à exploração por pessoa física ou jurídica de qualquer atividade
com fins lucrativos”.
Pfiffner & Sherwood (apud CURY, 1974) na obra
Organização Administrativa, definem que se trata de “um tipo
de associação em que os indivíduos – em número tal que
contatos sociais se tornem difíceis de ocorrer – se dedicam a
tarefas complexas e estão entre si relacionados por um
consciente e sistemático estabelecimento e consecução de
objetivos, mutuamente aceitos”.
Ballestero-Alvares (1997), de forma mais sistemática
afirma que “pode ser definida pela sua estrutura, pela
combinação de pessoas, máquinas e normas de atuação. [...]
complexo entremeado de canais através dos quais os produtos,
serviços, recursos e fluxos de informações transitam de um ponto
a outro dentro da organização, também, entre a organização e
seu entorno”.
Pelo que se pode verificar da teoria e da prática, temos
que a empresa é o lugar por onde circula a riqueza das nações,
reunindo uma diversidade de recursos intelectuais, materiais e
financeiros para extrair, produzir, transformar ou distribuir bens
90
e serviços de acordo com objetivos fixados por sua liderança.
Ou seja, o conjunto, através da gestão sistematizada da
informação e de recursos humanos, financeiros e produtivos
busca a otimização desses mesmos recursos para a consecução
dos objetivos previamente planejados, obtenção de lucro,
benefícios sociais e satisfação pessoal de seus participantes,
constituindo, obviamente, uma instituição também de cunho
econômico.
Após o entendimento sobre o termo empresa surge a
necessidade de discutirmos a como organizá-la.
De acordo com Gitman (1997), as três formas básicas de
organização são: firma individual, sociedade de pessoas e
sociedade anônima.
2.1 FIRMA INDIVIDUAL
Segundo o conceito de Gitman (1997) a mais comum é
uma empresa de propriedade de uma única pessoa que a opera
visando a seu próprio lucro. O capital normalmente provém de
recursos pessoais ou de empréstimos, ficando o proprietário
responsável por todas as decisões do negócio. O proprietário
ou proprietária individual tem responsabilidade ilimitada, ou seja,
todos os seus bens, não apenas o valor do investimento original,
pode ser utilizado para satisfazer os credores.
De acordo com a legislação vigente, firma individual, é
constituída de uma só pessoa com responsabilidade ilimitada e
solidária pelas obrigações sociais. Ou seja, em caso de falência,
a empresa/pessoa pode ter seus bens particulares confiscados.
91
A firma individual é definida como a forma em que o
titular responde pelo próprio negócio. Não há sócios. O nome
da empresa é o nome do empresário, por extenso ou abreviado.
Nesta modalidade de constituição, a responsabilidade da
pessoa física é ilimitada, pois, responde com seus bens
pessoais pelos atos da pessoa Jurídica.
Segundo Código Civil, em seus artigos 6º, 7º e 8º, são
características de uma firma individual:
a) O capital da empresa individual poderá ser aumentado
ou reduzido através do arquivamento da alteração na
Junta Comercial;
b) Independentemente de liquidação, a empresa individual
poderá alterar sua forma jurídica para quaisquer das
formas jurídicas previstas no art. 3º da lei em vigor;
c) A empresa individual, uma vez cessado do exercício da
atividade empresarial e liquidadas as suas obrigações,
deverá arquivar sua baixa na Junta Comercial.
2.2 SOCIEDADE DE PESSOAS
Consiste de dois ou mais proprietários dirigindo
conjuntamente um empreendimento, com fins lucrativos,
geralmente são maiores que as firmas individuais. A maioria
das sociedades forma-se a partir de um contrato formal
conhecido como contrato social. Nas sociedades em geral,
todos os sócios têm responsabilidade ilimitada. (GITMAN,
1997).
92
A sociedade de pessoas é a forma de constituição de
empresas em que duas ou mais pessoas, juridicamente
capazes, reúnem-se contratualmente para a exploração de um
objetivo comum. Os principais tipos de sociedade são:
a) Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada; e
b) Sociedade por Ações (chamada também de Companhia ou
de Sociedade Anônima).
Os dois tipos de sociedade citados possuem
responsabilidade limitada, ou seja, os sócios respondem pela
empresa até o montante do capital social.
2.3 SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE
LIMITADA
No conceito de Almeida (1999), é aquela em que a
responsabilidade de todos os sócios se restringe ao valor do
capital social.
De acordo com Estrella (1969), a sociedade limitada ou
por quotas é aquela composta de duas ou mais pessoas, que
se propõem realizar atividade econômica produtora, debaixo
de firma ou denominação, na qual todos os sócios respondem
solidariamente pela integralização do capital social declarado
no contrato.
Segundo Martins (2002), sociedade por quotas de
responsabilidade limitada é aquela formada por duas ou mais
pessoas, assumindo todas, de forma subsidiária,
responsabilidade pelo total do capital social.
93
Para Borges (1971), sociedade de responsabilidade
limitada é aquela na qual todos os sócios assumem, quer
perante a sociedade, quer perante terceiros, uma
responsabilidade limitada.
Almeida (1999) afirma que sociedade por quotas de
responsabilidade limitada é aquela em que a responsabilidade
de todos os sócios se restringe ao valor do capital social.
Sociedade por quota de Responsabilidade Ltda. é
definida pelo decreto 3.808/1919. Nessas sociedades os sócios
respondem solidariamente pela parte do capital não
integralizada e é designada pela razão social contendo o nome
dos sócios acrescido de Cia Ltda. (ou apenas Ltda.). É de fácil
formação e isenta da publicação de balanços, demonstrativos
de resultados, atas e etc., ao contrário das S/A’s. na maioria
dos casos, as Ltda’s são médias, pequenas ou microempresas.
A sociedade por quotas de responsabilidade limitada é
uma sociedade “mista”, ou seja, provém de duas sociedades;
de pessoas e de capital, e por conseqüência, possui a
simplicidade da primeira e as vantagens da segunda, sendo
apresenta as seguintes características:
a) Simplicidade para a sua formação, em oposição,
portanto, à sociedade por ações;
b) Responsabilidade restrita ao total do capital social, o
que a extrema da sociedade solidária;
c) Dispensado pesado ônus da publicação de balanços e
atos outros, tal como acontece com as sociedades
anônimas;
94
d) Liberdade de opção entre uso da firma social ou
denominação o que vale dizer, uma alternativa que a
aproxima, a um só tempo, tanto da sociedade de pessoas
com da sociedade por ações;
Conforme art. 9º, do Decreto 3.708/19, em caso de
falência, todos os sócios respondem pela parte que faltar para
preencher o pagamento das quotas não inteiramente liberadas.
2.4 SOCIEDADE ANÔNIMA
É uma entidade empresarial intangível criada por lei.
Freqüentemente designada “pessoa jurídica”, uma sociedade
anônima tem poderes semelhantes aos de uma pessoa, no
sentido de que pode acionar e ser acionada juridicamente,
estabelecer contratos e ser parte deles, e adquirir propriedades
em seu próprio nome (GITMAN, 1997).
Sociedade anônima ou por Ações (S/A’s) é definida na
Lei 6.404/76. Tem o capital social dividido em ações e a
responsabilidade dos acionistas é limitada ao preço de emissão
das ações subscritas ou adquiridas. É obrigada pela legislação
a publicar seus demonstrativos contábeis.
Diz Mendonça (2000) que: “A sociedade anônima é
aquela em que todos os sócios, denominados acionistas ou
acionários, respondem pelas obrigações sociais até o valor em
que entraram ou prometeram entrar para a formação do capital
social”.
Furtado define a sociedade anônima como aquela que
95
tem seu capital dividido em ações, sob uma denominação, com
a responsabilidade dos acionistas, limitada ao preço de emissão
das ações subscritas ou adquiridas.
De acordo com o novo Código Civil, em seu artigo 982,
parágrafo único, são características de uma sociedade anônima:
a) é uma sociedade de capitais. Nela o que importa é a
aglutinação de capitais, e não a pessoa dos
acionistas, inexistindo o chamado “intuito personae”
característico das sociedades de pessoas;
b) divisão do capital em partes iguais, em regra, de igual
valor nominal – ações. É na ação que se materializa
a participação do acionista;
c) responsabilidade do acionista limitada apenas ao
preço das ações subscritas ou adquiridas. Isso
significa dizer que uma vez integralizada a ação o
acionista não terá mais nenhuma responsabilidade
adicional, nem mesmo em caso de falência, quando
somente será atingido o patrimônio da companhia;
d) livre cessibilidade das ações. As ações, em regra,
podem ser livremente cedidas, o que gera uma
constante mutação no quadro de acionistas,
entretanto, poderá o Estatuto trazer restrições à
cessão, desde que não impeça jamais a negociação
(art. 36 da Lei 6.404/76). Desta forma, as ações são
títulos circuláveis, tal como os títulos de crédito;
e) possibilidade de subscrição do capital social mediante
apelo ao público;
96
f) uso exclusivo de denominação social ou nome de
fantasia.
Assim, pela análise dos conceitos abordados, a
sociedade anônima pode ser conceituada como aquela em que
tem seu capital dividido em ações, sob uma denominação, com
a responsabilidade dos acionistas limitada ao preço de emissão
das ações subscritas ou adquiridas.
Analisando os conceitos abordados acima, pode-se observar
que cada forma de organização apresenta características
bem definidas e no quando a segur, verifica-se as principais
vantagens e desvantagens:
97
3 PESQUISA
Em recente pesquisa realizada junto aos empresários do município
de Pinheiros, no norte do Espírito Santo, verificou-se a existência de 339
empresas registradas, sendo que a grande maioria, aproximadamente 212,
é formalizada como firma individual, 125 como sociedade limitada e 02
como sociedades anônimas.
A pesquisa feita apresentou ainda que em sua grande maioria, os
empresários no momento de abrir um empreendimento são orientados pelo
contador, ou ainda, deixam sob sua total responsabilidade e decisão.
Deixando evidente a busca pela forma que apresenta menor custo e maior
facilidade de registro. Além de mostrarem também que a forma em que
suas empresas são registradas, atendem perfeitamente à necessidade das
mesmas, havendo possível mudança de registro apenas quanto ao
crescimento, ampliação e desenvolvimento do empreendimento.
4 CONCLUSÃO
A forma de registro de uma empresa está estritamente ligada ao
seu porte, assim verifica-se que, quanto maior o seu porte, mais a empresa
tende a ser registrada como sociedade limitada ou anônima, uma vez que
estas apresentam mais vantagens para médias e grandes empresas,
enquanto que as micro e pequenas empresas, em sua maioria são
registradas como firma individual, haja vista serem em muitos casos
empresas familiares.
Ainda se mostra grande o desinteresse e a falta de informação
dos empresários quanto às vantagens e desvantagens das formas de
registro de suas empresas, ficando a cargo do contador, a parte burocrática
98
das mesmas.
Em alguns casos, pela desinformação destes empresários, muitas
empresas perdem oportunidades de financiamentos, fornecimento de
matérias-primas e parcerias com outras empresas em detrimento da
restrição imposta pela forma com que suas empresas foram registradas.
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MENDONÇA, J. X. Carvalho de. Tratado de direito comercial
brasileiro. Campinas: Bookseller, 2000.
PFIFFNER, J. M., SHRWOOD, F. P. Organización Administrativa.
México, Herrero Hermanos, 1974.
99
O RISCO DA AVERSÃO AO RISCO NA PRÁTICA DA
CONTABILIDADE
Dimitri Pinheiro de SantAnna*
Luciene Laurett Rangel* *
Márcio Luiz de Castro* **
RESUMO
Evidencia a necessidade de se buscar mudanças na prática dos profissionais
contábeis e nos princípios e normas norteadoras da profissão contábil. O
mercado e o desenvolvimento das profissões que dividem com a contabilidade
as funções de administrar as empresas são, de certa forma, fatores que
deixam evidentes as necessidades de tais mudanças. Para discutir essas
questões, apresenta-se neste estudo casos práticos, onde se evidencia o
uso do Princípio da Prudência sobre prismas diversos. A aplicação do princípio
da prudência com moderação resultaria, em ambos os casos analisados,
benefícios econômicos, financeiros e motivacionais.
PALAVRAS-CHAVE: Contabilidade; Mudança.
ABSTRACT
The main goal is to show the necessity of a changing search in the practice
of the accounting professional, the principles and rules of the accounting job.
The market and the development of professions that share accounting and
companies are in a certain way, factores that leave clearly the necessity of
changing. To discuss these questions, is showed in this reaserch praticable
studies where evidence the use of Prudency Principle caution inside of
differentes prisms (differents point of views). The moderation in the applicability
of this principle will result, in both studied cases, economics, financial and
motivators benefits.
*
KEY-WORDS:
Accounting;
Changing.
Economista e Administrador.
Mestrando
em Contabilidade e Finanças pela Fundação Capixaba de Pesquisa
em Administração, Contabilidade e Economia – FUCAPE.
**
Contadora e Mestranda em Contabilidade e Finanças pela Fundação Capixaba de Pesquisa em Administração,
Contabilidade e Economia – FUCAPE.
***
Administrador e Mestrando em Contabilidade e Finanças pela Fundação Capixaba de Pesquisa em
Administração, Contabilidade e Economia – FUCAPE.
100
1 INTRODUÇÃO
Atualmente no mercado de capitais, o valor econômico é de extrema
importância no processo de avaliação de uma empresa, uma vez que é a
partir dele que começa todo o estudo para chegar-se a uma melhor relação
investimento/retorno para o investidor, porém, o valor econômico de uma
empresa, por sua vez, é influenciado por diversos fatores. Neste estudo
se enfatizará O enfoque na contabilidade, mais precisamente na abordagem
do Princípio da Prudência, que emprega conceitos subjetivos, trazendo à
tona reflexões sobre aplicações que um dia foram consideradas imutáveis.
Tome-se o Princípio da Prudência como colocado por Hendriksen
& Breda (1999, p. 175): “os contadores devem divulgar o menor dos vários
valores para ativos e receitas e o maior dos vários valores possíveis para
passivos e despesas, sendo as despesas reconhecidas mais cedo e
receitas reconhecidas mais tarde”. Logo, o valor contábil será sempre
inferior aos diversos valores alternativos. Uma receita, deixando de ser
evidenciada, pode resultar em prejuízos irreparáveis para os tomadores
de decisão. Em contrapartida, o valor de uma despesa de ocorrência
duvidosa pode resultar em lucro menor e, por conseqüência, em decisões
danosas para o usuário.
Este artigo tem o objetivo de evidenciar a necessidade de se buscar
mudanças na prática dos profissionais contábeis e nos princípios e
convenções que dificultam o desenvolvimento da profissão.
2 ESTRUTURA CONCEITUAL
De acordo com a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis,
101
Atuariais e Financeiras, Fipecafi (2000, p. 42), a contabilidade é, objetivamente,
um sistema de informações e de avaliação destinado a prover seus usuários
com demonstrações e análises de natureza econômica, financeira, física e
de produtividade com relação à entidade objeto de contabilização.
Os objetivos da contabilidade, pois, devem ser ligados, de alguma
forma explícita ou implícita, àquilo que o usuário considera como elementos
importantes para seu processo decisório. Não tem sentido ou razão de ser
a Contabilidade como uma disciplina neutra, que se contenta em perseguir
esterilmente sua verdade ou beleza. Relata a Fipecafi (2000, p. 43) que a
verdade da Contabilidade reside em ser instrumento útil para a tomada de
decisões pelo usuário, tendo como razão a entidade.
A contabilidade como fonte de informação econômica e de disciplina
neutra vem conflitando com o Princípio da Prudência, tal como vem sendo
aplicado. Trata-se de um princípio difícil de ser discutido mesmo em teoria,
porque trabalha com conceitos subjetivos que envolvem capacidade de
julgamento que só a experiência, o bom senso e a teoria desenvolvem.
Entende-se por subjetividade: emoções, experiências, valores,
atitudes e habilidades inerentes ao ser humano como conjunto de elementos
que o caracteriza e o diferencia. E sendo o homem um ser racional movido
por emoções, entende-se que, ao decidir, uma certa dose de subjetividade
esteja interagindo com os aspectos objetivos disponíveis.
Porém, fica a cargo dos contadores que tipo de informações devem ser
divulgadas com relação à característica subjetiva. A própria Fipecafi (2000,
p. 62) assume que o conceito do Princípio da Prudência pode trazer
interpretações variadas ao mencionar que esse entendimento não deve
ser confundido nem desvirtuado com os efeitos da manipulação de
resultados contábeis, mas encarado à luz da vocação de resguardo,
cuidado e neutralidade que a Contabilidade precisa ter, mormente
perante os excessos de entusiasmo e de valorizações por parte da
102
administração e dos proprietários da entidade. Não nos esqueçamos
de que, principalmente no caso das companhias abertas, sua
principal obrigação é perante o mercado e os investidores.
Mesmo que as empresas se disponham a abrir cada vez mais seu
capital, somente irão investir nessas companhias se elas se apresentarem
capazes de propiciar, em sentido de avaliação, retornos compensadores
sobre outras aplicações.
Por isso os modelos contábeis e de evidenciação exercem um papel
importante no fortalecimento do mercado de ações. Demonstrações
contábeis levantadas segundo os postulados da relevância e evidenciação,
com a máxima objetividade e consistência, bem como clareza, contribuem
positivamente para o fortalecimento e a expansão das empresas.
Segundo Hendriksen & Breda (1999, p. 106) o conservadorismo é,
na melhor das hipóteses, um método muito pobre para lidar com a existência
de incerteza na avaliação de ativos e passivos e na mensuração de lucro.
Pode levar a uma distorção completa dos dados contábeis. O principal
risco é o de que, como o conservadorismo é um método muito grosseiro,
seus efeitos são muito variados. Portanto, dados divulgados
conservadoramente não permitem interpretação precisa, mesmo pelos
leitores mais informados, porém, o conservadorismo conflita com o objetivo
de divulgar toda informação relevante e também com a consistência no
sentido de que é uma limitação relevante. Igualmente pode conduzir a
uma falta de comparabilidade porque não há padrões uniformes para sua
implantação.
Pode-se verificar que, na visão dos autores referenciados, o
Princípio da Prudência é conflitante com o objetivo da contabilidade, que,
segundo ludícibus (2000, p. 20), é prover os usuários de informação útil
para tomada de decisões econômicas.
103
A Coca-Cola Co. anunciou prejuízo líquido no primeiro
trimestre de US$ 125 milhões, ou US$ 0,05 por ação,
comparado com um lucro de US$ 863 milhões, ou US$
0,35 por ação, registrado no mesmo período do ano
passado.
As perdas foram resultados de mudanças que a maior
fabricante de bebidas realizou na forma de contabilizar
certas aquisições e despesas.
Excluindo estas alterações e outros custos, a companhia
disse que teria apresentado ganho de US$ 0,40 por ação,
superando as estimativas dos analista
Fonte: Investnews – Gazeta Mercantil, terça-feira, 16 de abril de 2002,
12h22min.
3 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA
Ao usar o Princípio da Prudência de forma individualizada, o
reconhecimento dos ativos pode resultar em valores subavaliados.
Isso possibilita, por exemplo, que um imóvel, veículo ou qualquer
outro bem, adquirido pelo valor residual numa operação de arrendamento
mercantil (leasing), seja contabilizado por valor bem inferior ao de mercado,
ou da expectativa de benefícios futuros específicos. Assim deixa-se de
espelhar a real situação econômico-financeira da empresa.
Transparece então que a contabilidade não vem acompanhando a
modernidade das estruturas de mercado. O mercado tem passado por
profundas mudanças, motivadas por diversos fatores, tais como:
104
-
O inter-relacionamento dos mercados de capitais
e dos sistemas de informações;
Profissionalização de vários segmentos dos
mercados, devido à necessidade de competir com os mercados
externos;
-
As transferências de várias atividades para
iniciativa privada, antes, de responsabilidade dos governos;
Forte influência do governo contra as mudanças,
tendo em vista que as normas hoje em vigor foram
desenvolvidas, objetivando atender suas necessidades fiscais
e ou tributárias.
Dessa contextualização segue a questão pesquisada: como o uso
do Princípio da Prudência vem afetando a evidenciação contábil?
Assim o estudo objetivou identificar como o Princípio da Prudência
vem sendo praticado pelos contadores, bem como seus efeitos na
evidenciação patrimonial objetivada pela contabilidade. Para tanto utilizouse de dois casos reais, onde se mostrou os resultados que poderiam ser
obtidos com a aplicação do Princípio da Prudência com certo grau de
flexibilidade.
A pesquisa baseou-se nas demonstrações contábeis de duas
instituições, onde foram analisados os resultados auferidos no exercício
de 2000 e 2001, sendo este último com uma flexibilização no uso do
Princípio da Prudência. Trata-se, portanto, de uma pesquisa exploratória
descritiva quanto aos fins e quanto aos meios em estudo de casos.
Caso 1: constituiu-se de uma análise das demonstrações contábeis
do exercício de 2000, fazendo-se uma reclassificação nas contas de
provisão e reconsideração no tratamento e reconhecimento das aquisições
105
de equipamento por meio de leasing financeiro – sua contabilização no
permanente em contrapartida do passivo. Com base nos novos valores de
2000 foi projetado o resultado para 2001 e buscou-se, por meio de
entrevista, a opinião de um representante de uma instituição financeira
sobre a captação de recursos com menores custos.
Caso 2: constituiu-se de uma entrevista à área jurídica da empresa
em estudo, levando em consideração o posicionamento do responsável
pelo setor, quanto aos aspectos de subjetividade e materialidade com que
vem se fazendo o provisionamento de contingência. A partir da entrevista
levou-se em consideração as demonstrações contábeis, evidenciando-se
uma nova situação patrimonial.
PRIMEIRO
CASO:
Hospital Santa Rita de Cássia – AFECC /
HSRC
Breve histórico da instituição
A Associação Feminina de Combate ao Câncer – AFECC é uma
associação sem fins lucrativos, fundada em 1952, com o objetivo principal
de prevenir e combater o câncer. Há 31 anos iniciou-se a construção do
Hospital Santa Rita, que hoje é uma das maiores estruturas hospitalares
do Espírito Santo.
O Hospital mantêm corpo funcional na ordem de 850
funcionários e 400 médicos. As principais atividades são
mantidas na área de Clínica Geral, porém é referência na Clínica
Oncológica. Conforme seu último balanço patrimonial, referente
ao exercício de 2001, o hospital mantém um faturamento total
na ordem de R$ 36 milhões. Teve um resultado operacional de
R$ 2,8 milhões e um resultado final de R$ 726 mil.
106
Desenvolvimento da pesquisa
A pesquisa foi elaborada com base na análise das
demonstrações contábeis da instituição: Balanço Patrimonial,
Demonstrações de Resultado dos Exercícios e Demonstrações
das Origens e Aplicações de Recursos dos Exercícios findos
em 31 de dezembro de 2000 e 2001.
107
Após a reclassificação nas contas, buscou-se uma instituição
financeira para avaliar os efeitos destas mudanças no relacionamento
financeiro entre a mesma e o Hospital. Esses efeitos podem ser ilustrados
pela transcrição abaixo de trechos da entrevista.
Entrevista:
1) Como você, representante de uma instituição financeira, vê as
demonstrações contábeis, bem como os resultados nelas
apresentados?
É, com certeza, onde nos apoiamos para efetuar análises da saúde
financeira das instituições. Os resultados fazem parte do conjunto
de itens que observamos para concessão de qualquer tipo de
crédito. Saliento que o resultado apresentado nas demonstrações
contábeis tem um valor muito grande para as instituições
financeiras. De certa forma é um dos indicadores que nos apoiamos
para identificar se a instituição solicitante é capaz de gerar recursos
para pagamentos, tais como empréstimos.
2) Quais são os itens de maior relevância observada para concessão
de créditos?
Como já foi dito, é um conjunto de itens. Vou citar três que julgo
como mais importantes: credibilidade dos administradores; as
contas do passivo, ou seja, os empréstimos já contraídos; e a
capacidade de pagamento, ou seja, os resultados.
3) Estarei lhe apresentando o conjunto das demonstrações contábeis
do Hospital Santa Rita de Cássia, referente ao exercício de 2001.
Apresentarei também uma segunda versão onde foram
implementadas algumas modificações em sua estrutura. As
108
modificações foram no aspecto de flexibilização do Princípio da
Prudência e abrangeram as seguintes contas:
- Compras efetuadas através de leasing deixaram de ser
contabilizadas como despesas de aluguel e passaram a
pertencer ao ativo;
- As contas de provisões foram refeitas, tendo como base
os resultados efetivos destas mesmas contas no decorrer
de 2001. Pergunto: Você julga que a instituição estaria
correndo algum risco adicional com a flexibilização do
Princípio da Prudência para confecção de suas
demonstrações contábeis?
Já tive oportunidade de verificar o balanço da
instituição. Quanto às demonstrações refeitas dentro
desta metodologia proposta, não vejo que a instituição
estaria sendo colocada em risco, mesmo porque o
maior impacto na mudança do resultado é a ativação
das compras através de Leasing. Com referência às
contas de provisão, digo que, da forma como foi refeita,
também não gera risco adicional à instituição. Um ponto
de grande importância é que o hospital, sendo uma
fundação filantrópica, não paga imposto de renda, neste
caso, quanto maior o resultado, melhor.
4 ) Como podemos observar, o resultado foi melhorado
em valor superior a 100%, se comparado com a situação
anterior. Pergunto: Estes novos resultados facilitariam a
capitação de recursos e com melhores taxas?
Como já tive oportunidade de afirmar, é avaliado um
109
conjunto de fatores e o resultado econômico é muito
importante. Com certeza, a taxa de risco em que o
hospital se encaixaria não seria alta e, neste caso,
poderia diminuir cerca de 10% os juros – de 12% para
10,8%, por exemplo.
SEGUNDO CASO: empresa Chocolates Garoto
Breve histórico da instituição
Em 16 de agosto de 1929, o imigrante alemão Henrique
Meyerfreund fundou a fábrica de balas H. Meyerfreund & Cia.,
num galpão localizado na Prainha, Vila Velha, Espírito Santo.
Em 1938, os negócios foram impulsionados pela entrada na
sociedade de Günther Zennig que, além de capitalizar a
empresa, permitindo novos investimentos na modernização da
estrutura produtiva e comercial, trouxe uma nova visão
empresarial à Garoto.
Durante as décadas de 70 e 80, a Garoto ampliou e
modernizou suas instalações industriais e seus processos
produtivos, adotou novas políticas comerciais e marcou
presença em todo o mercado nacional e no internacional. Essas
iniciativas deram sustentação a um crescimento ainda mais
acentuado da Garoto.
Desenvolvimento da pesquisa
A partir da entrevista realizada na Garoto com o assessor jurídico
responsável por quantificar provisões para contingências, serão explicitadas
algumas variáveis que podem influenciar o decisor quando faz uma provisão
para contingência, com enfoque no Princípio da Prudência.
110
A fim de explicar o procedimento a ser seguido para constituição da
provisão, faz-se interessante expor os relatos da entrevista, para um melhor
entendimento do processo como um todo.
A entrevista enfatiza a provisão para contingência, que hoje é um
dos registros que mais utiliza-se do conceito do conservadorismo, levando
em conta a materialidade dos valores envolvidos.
Entrevista
1) Em que momento surge o fato para a geração da
provisão?
No aspecto jurídico, quando há uma visualização da
probabilidade maior de perda, não sendo o fato de existir
o processo em si, mas sim na avaliação do risco do
mesmo. Ou seja, pode existir o processo, mas não
necessariamente a provisão.
2) Qual o critério e que documento é utilizado para se
constituir a provisão?
Alguns processos têm o pedido líquido, então já têm um
valor declarado e em alguns casos, existe um documento
formal.
3) E quanto ao método, você o considera conservador?
Sim, eu acho que a Chocolates Garoto trabalha com um
método conservador. Se não totalmente, digamos que
uma parte bem significativa vai para a provisão. No meu
ponto de vista considero que a Empresa pratica mais o
conservadorismo do que boa parte das outras.
111
4) Na sua opinião seria melhor se existisse um método
(uma fórmula matemática/estatística) que desobrigasse o
jurídico desta responsabilidade?
Não, o processo contábil é um reflexo da avaliação
jurídica, ou seja, antes da discussão matemática, você
tem uma outra discussão a ser avaliada. Às vezes, há
divergências entre advogados sobre uma mesma tese.
O fato de o jurídico ter que informar à contabilidade os
valores a provisionar, não é somente uma questão
jurídica, mas também uma questão administrativa da
Empresa. A empresa querendo ser mais arrojada precisa
ter consciência do fator risco que envolve todo o
processo.
5) Como investidor qual seria sua posição diante de um
balanço com provisões para contingências e outro sem
provisão?
Toda atividade empresarial gera riscos. Mesmo que você
observe balanços sem provisionamentos é sabido da
existência dos riscos. Quanto maior a atividade
empresarial maior será a tendência de ocorrerem mais
contingências.
6) O que você acha do Princípio da Prudência?
Acho que quem se basear única e exclusivamente no
Princípio da Prudência, não alcança resultados. Com o
aumento da competitividade, da complexidade das
relações fiscais, relações de trabalho, relações com meio
112
ambiente, se a Empresa não assumir riscos maiores,
ela não cresce. Quanto maior o risco maior o ganho ou
a perda.
Se a empresa aplicar o Princípio da Prudência pura e
simplesmente, é melhor ela pôr o dinheiro no banco e
sair do mercado, senão não irá conseguir sobreviver. A
atividade industrial torna-se cada vez mais arriscada.
Hoje, existem discussões que há dez anos não tínhamos.
Vale ressaltar que a Chocolates Garoto é uma sociedade por ações
de capital fechado e que todas as argumentações seguintes serão
consideradas hipoteticamente.
Então, para efeito de argumentação e de cálculos, está supondo-se
que a Chocolates Garoto S/A seja uma empresa de capital aberto, e que
trabalhe com 100% do conceito do Princípio da Prudência, já que, conforme
informações do seu assessor jurídico, grande parte do montante é
provisionado.
Partindo dessa hipótese, verifica-se que considerável parte do
prejuízo da companhia deve-se à contabilização da contingência de R$ 21
milhões. Sendo uma empresa de capital aberto, seus investidores poderiam
questionar a permanência ou não de seu investimento nesta companhia,
pois uma das maiores atratividades ao investidor, principalmente do
minoritário, está relacionada com os dividendos – que neste caso não
seriam distribuídos devido ao prejuízo de R$ 11 milhões no ano de 2001.
Outro fator de suma importância a ser considerado é a possível fuga
do capital intelectual e a desmotivação de seus funcionários devido ao
prejuízo registrado no ano, podendo contribuir ainda mais para a redução
do desempenho operacional da empresa.
113
Todas estas hipóteses mencionadas poderão acontecer, ou
acontecem, devido ao superconservadorismo permitido pelo Princípio da
Prudência. Entendendo-se por risco um perigo provável ou possibilidade
de erro, compreende-se porque as empresas, supostamente, não querem
correr riscos. E, não havendo uma outra “ferramenta” que sirva de base
para o cálculo da provisão sem riscos, continua-se usando o
conservadorismo, mesmo com todas essas críticas.
Como menciona Iudícibus (2000, p. 74), “o ideal seria trabalharmos
com conceitos estatísticos/matemáticos, que indicassem a probabilidade
do acontecimento dos valores”, porém, ele ressalta que “os contadores
ainda não estão muito afeitos ao uso de conceitos estatísticos e
matemáticos”.
Diante do exposto verifica-se a existência de reflexão por parte dos
pesquisadores da necessidade da criação de um método mais eficaz em
substituição ao Princípio da Prudência. Hoje, devido à sua subjetividade,
deixa nas mãos dos contadores o julgamento do que é certo ou errado,
podendo, por muitas vezes, estar criando reservas ocultas.
Vamos imaginar que uma fórmula foi criada, e com a aplicação desta,
no balanço da Chocolates Garoto, a empresa terá que reverter 50% de
sua provisão total demonstrada no seu passivo exigível do fechamento do
balanço de 31 de dezembro de 2001, que está no patamar de R$ 63 milhões.
A situação patrimonial apresentada seria completamente diferente da atual.
Conseqüentemente, a empresa reverteria o seu prejuízo de R$ 11
milhões e ainda teria um lucro de R$ 20 milhões, a ser considerado para
efeito de imposto de renda e contribuição social diferidos sobre o lucro
líquido. E como retratado no artigo de Ulisses de Ulhoa e Marina Yamamoto,
no Caderno de Estudos da Fipecafi (1999, p. 11)
... risco não é sinônimo de prejuízo em potencial.
114
Risco é mais propriamente definido como a
incerteza dos retornos ou a variação potencial
dos retornos. Essa incerteza pode tornar-se lucro
ou prejuízo, conforme a variação se efetive
favorável ou desfavoravelmente. O risco
expressa esta capacidade, este potencial de
alterar o retorno esperado.
Logo, se a empresa tiver como objetivo competir no
mercado atual, terá que adotar uma postura arrojada, e
conseqüentemente correr riscos, novamente contrariando o
Princípio da Prudência,
superconservadores.
com
seus
conceitos
4 CONCLUSÃO
O interrelacionamento dos mercados tem sido um dos
fatores preponderantes para o aumento da concorrência e a
diminuição das margens de lucro. Diante desse ambiente
contadores precisam fazer diferente, para que se chegue a
resultados diferentes.
A discussão do conceito do Princípio da Prudência é de
extrema importância para o desenvolvimento da contabilidade,
visto que afeta a capacidade desta de prover informações úteis
para tomada de decisões.
O objetivo deste trabalho foi identificar as variáveis
subjetivas que interferem no uso do Princípio da Prudência,
questionando a possibilidade de reformulação desse princípio
para melhor atender às entidades.
Verificou-se que, mesmo utilizando-se o Princípio da
115
Prudência ao extremo, isto não isentaria a empresa do risco:
provavelmente o que poderia ocorrer seria o registro antecipado
das obrigações futuras, não garantindo com isto, o fundo
financeiro de caixa para cobertura dessas possíveis perdas.
Não cabendo, portanto, o superconservadorismo por parte das
empresas.
Entende-se que as avaliações de risco são julgamentos
subjetivos, e que os contadores não são os mais indicados
para tais avaliações, entretanto, os contadores não devem
esquecer que os objetivos dos relatórios contábeis são de
fornecer informações úteis para que usuários possam fazer
suas próprias avaliações do risco.
Os casos apresentados mostraram que a flexibilização
do Princípio da Prudência poderá trazer para as empresas mais
vantagens do que propriamente riscos.
Pôde-se perceber que o uso do Princípio da Prudência
de modo extremamente conservador tem afetado a
evidenciação contábil e as próprias empresas de maneira
negativa, aumentando os custos de captação de recursos para
as organizações e até mesmo impedindo ou desestimulando a
entrada de novos recursos de investidores novos e dos atuais.
Os fatos, ponderações e argumentos desenvolvidos
evidenciam a necessidade de se buscar o engajamento de todos
os profissionais envolvidos para promoção de mudanças no
sentido de flexibilizar o Principio da Prudência. Tais mudanças,
conforme detalhado nos exemplos citados, podem se traduzir
em empreendimentos e benefícios sociais.
No tocante à profissão contábil, os contadores que já foram
116
os “administradores” e “economistas” de ontem, de certa forma,
perderam parte de sua identidade, renunciando ao
conhecimento mais amplo da atividade econômica, limitandose ao artificialismo fiscal e à prudência contábil. Tem se falado
que não é mais praticada a virtude da inovação. Sendo assim,
a profissão está sendo transformada em uma instituição, da
qual todos têm o sentimento de que só subsiste, porque é um
mal necessário ou legal.
5 REFERÊNCIAS
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subjetivos da tomada de decisão. Boletim IOB - Temática
Contábil. Boletim n°09, ano XXXVI, 4ª semana de fevereiro de
2002, p. 1-7.
CAVALCANTI, Paulo Roberto N. Afinal, o que é esse tal de
“valor econômico”? Boletim IOB - Temática Contábil. Boletim
n°10, ano XXXVI, 1ª semana de março de 2002, p. 1-7.
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FRANCO, Hilário. A evolução dos princípios de
contabilidade no Brasil. São Paulo: Atlas, 1988
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GAZETA MERCANTIL. Disponível em:
www.investnews.net>. Acesso em: 16 abr. 2002.
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117
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contabilidade. Tradução de Antonio Zoratto Sanvicente. 5.
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SPROUSE, Robert T.; MOONITZ, Maurice. A Tentative Set of
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ULHOA, Ulisses de; YAMAMOTO, Marina M. O patrimônio
líquido exigido pelo Conselho Monetário Nacional. Caderno
de estudos da FIPECAFI. Maio/Agosto: 1999, p. 1-23.
118
PASSIVO AMBIENTAL
Flávia Zóboli Dalmácio*
RESUMO
Passivo ambiental, termo relativamente recente, representa o conjunto de
obrigações que exigirá a entrega de ativos ou prestação de serviços futuros,
decorrente dos impactos, danos e alterações provocadas pelas atividades
operacionais das empresas ao meio ambiente. Como o objetivo principal da
contabilidade é demonstrar a real situação econômico-financeira das
empresas, fornecendo informações úteis a todos os interessados, tem-se
buscado meios para uma razoável identificação e mensuração dos fatos que
afetam o patrimônio dessas entidades, em especial, dos passivos ambientais.
O presente trabalho ressalta a importância da evidenciação desses passivos,
seja nas demonstrações contábeis, seja em outros tipos de relatórios.
PALAVRAS-CHAVE: Passivo ambiental; Empresas; Meio ambiente;
Impactos ambientais.
ABSTRACT
Environmental liability, term relatively recent, represents obligations’ set that
will require the delivery of assets or future render services, resulting from
impacts, damages and alterations caused by operations activities of
companies to environment. As the main objective of the accounting is giving
evidence the real economic and financial situation of companies, suppling
useful informations to all concerned people (stakeholders), it has been
searched means to a reasonable identification and measurement of facts
that affect the equity of that, in special, of environmental liabilities. This paper
sticks out the importance of these liabilities, as in financial statements, or as
in others kinds of reports.
KEY WORDS: Environmental liability; Companies; Environment;
Environmental impacts.
*
Contadora, mestranda em Ciências Contábeis pela FUCAPE – Instituto Capixaba de Pesquisas em
Contabilidade, Economia e Finanças, professora da Faculdade Capixaba de Nova Venécia – UNIVEN.
119
1 INTRODUÇÃO
Desmatamento, derramamento e vazamento de produtos químicos,
contaminação do solo e de lençóis freáticos, destruição de montanhas,
poluição do ar, emissão de radiação, despejo de lixo e resíduos tóxicos são
alguns exemplos de grandes agressões sofridas pelo meio ambiente1 e de
grandes desastres ecológicos causados pelo homem e por várias empresas.
Por esses e outros motivos, nas últimas décadas, a questão ambiental
vem sendo muito discutida e evidenciada. A proteção ao meio ambiente
tem se tornado primordial e parte integrante do processo de
desenvolvimento.
Muitas medidas estão sendo tomadas com o intuito de reduzir os
impactos ambientais causados pelas atividades operacionais das empresas.
Como exemplos dessas medidas, pode-se citar a imposição de leis e políticas
ambientais, a aplicação de penalidades extremamente rigorosas, a exigência
de ações corretivas e preventivas, a formação de uma forte opinião pública,
dentre outras.
Todas essas medidas repercutem, direta ou indiretamente, no
comportamento das empresas. Devido às grandes pressões sociais, à
legislação ambiental, às exigências do mercado externo e do consumidor,
muitas empresas são obrigadas a incorrer em diversos custos para se adequar
a regras e padrões de qualidade ambiental, gerando, em muitos casos, o
chamado passivo ambiental.
A expressão passivo ambiental tornou-se muito comum e, de uma
forma geral, representa o conjunto de dívidas que uma entidade possui por
estar em desconformidade com a legislação e com os procedimentos
1
De acordo com a Lei n. 6.938, de 31-08-81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus
fins e mecanismos de formulação e aplicação, citada por Rebollo (2001, p. 18), meio ambiente “é o conjunto
de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a
vida em todos (sic) as suas formas”.
120
ambientais propostos, além de outras obrigações e contingências relativas
ao meio ambiente.
É, portanto, responsabilidade da ciência contábil, tratar de todos os
assuntos que afetam o patrimônio das entidades, inclusive aqueles ligados
aos fenômenos ambientais.
A existência de passivos ambientais compromete a situação
financeira e econômica, pode inviabilizar a competitividade e colocar em
risco a continuidade de algumas empresas.
É necessário definir qual o potencial impacto
ambiental resultante de suas atividades,
considerando todo o ciclo de vida dos bens e
serviços produzidos e comercializados, bem
como qual controle deste impacto pode ser
exercido e quais as conseqüências
mercadológicas, econômicas, financeiras,
sociais e institucionais para o negócio
(TEIXEIRA, 2000, p. 1).
Diante da realidade existente, o presente trabalho destaca
o objetivo principal da contabilidade, a relação existente entre
empresas e meio ambiente e as obrigações que podem surgir
dessa relação. Como objetivo central, pretende-se caracterizar
o passivo ambiental, identificar sua origem, momento de
reconhecimento e forma de mensuração, assim como, analisar
a influência desse passivo na continuidade das empresas.
Esse é um assunto relativamente recente, de extrema
importância e que exige uma atenção especial da ciência
contábil, pois é evidente e crescente a necessidade de
informações úteis a respeito das possíveis obrigações
ambientais das empresas.
Muitos são os interessados que demandam esse tipo de
121
informação: empregados, fornecedores, competidores, governo,
mídia, público em geral, instituições financeiras, consumidores,
e, em especial, investidores e acionistas.
Espera-se com este trabalho, despertar o interesse da
classe contábil sobre o assunto e propor algumas soluções
para se mensurar e/ou evidenciar um passivo ambiental, pois
até o momento, ainda não foram desenvolvidos elementos
estatísticos capazes de valorar efetivamente um passivo
ambiental.
2 OBJETIVO DA CONTABILIDADE
Fornecer informações qualitativas e úteis, que atendam,
de forma eficaz, às necessidades de todos os seus usuários,
sempre foi a principal preocupação da ciência contábil.
O FASB (Financial Accounting Standards Board), citado
por Hendriksen & Breda (1999, p. 93), em seu pronunciamento,
sintetiza os objetivos da contabilidade da seguinte maneira:
A divulgação financeira deve fornecer
informações que sejam úteis para investidores
e credores atuais e em potencial, bem como para
outros usuários que visem a tomada racional de
decisões de investimento, crédito e outras
semelhantes. As informações devem ser
compreensíveis aos que possuem uma noção
razoável dos negócios e das atividades
econômicas e estejam dispostos a estudar as
informações com diligência razoável.
A divulgação financeira deve proporcionar
informação que ajude investidores, credores e
122
outros usuários, presentes e em potencial, a
avaliar os volumes, a distribuição no tempo e a
incerteza de possíveis fluxos de caixa em termos
de dividendos ou juros, e os resultados da
venda, do resgate e do vencimento de títulos
ou empréstimos. Como os fluxos de caixa de
investidores e credores estão relacionados aos
fluxos de caixa da empresa, a divulgação
financeira deve proporcionar informações que
ajudem investidores, credores e outros a avaliar
os volumes, a distribuição no tempo e a incerteza
das possíveis entradas líquidas futuras de caixa
da empresa.
A divulgação financeira deve fornecer
informações sobre os recursos econômicos de
uma empresa, os direitos sobre esses recursos
(obrigações da empresa em termos de
transferência de recursos a outras entidades e
a participação dos proprietários), bem como os
efeitos de transações, eventos e circunstâncias
que alterem seus recursos e os direitos sobre
tais recursos.
Atualmente, a contabilidade, busca atender, não apenas,
as necessidades econômico-financeiras, mas também, aquelas
de caráter social e ambiental.
As empresas, consideradas células sociais, estão
inseridas no meio ambiente, interagem e estabelecem relações
de troca com o mesmo. Dessas relações, muitas vezes, surgem
obrigações que derivam em passivos ambientais.
A contabilidade, portanto, deve considerar todos os
eventos e transações relevantes para o patrimônio das
empresas. É seu dever “identificar, mensurar e divulgar
informações para satisfazer o interesse dos usuários na relação
das empresas com o meio ambiente, contribuindo para a tomada
123
de decisão” (KRAEMER, 2000, p. 81).
3 DEFINIÇÃO DO TERMO PASSIVO
Segundo o FASB (Financial Accounting Standards Board),
citado por Hendriksen & Breda (1999, p. 410), passivos são:
sacrifícios futuros prováveis de benefícios
econômicos resultantes de obrigações
presentes de uma entidade no sentido de
transferir ativos ou serviços para outras
entidades no futuro em conseqüência de
transações e eventos passados.
Verifica-se que o termo passivo, contabilmente, significa
obrigação, exigibilidade. Os passivos representam reclamos
contra os ativos de uma entidade, ou seja, a partir de um fato
gerador passado pode surgir, no futuro, uma exigência de
entrega de ativos ou de prestação de serviços.
O fato gerador de um passivo pode derivar da aquisição
de bens ou serviços, da incorrência de despesas e de perdas
extraordinárias, entretanto, as obrigações que podem surgir
numa entidade não são apenas legais e provenientes de
penalidades impostas por lei. De acordo com o FASB (Financial
Accounting Standards Board), elas também podem ser justas
ou construtivas.
Hendriksen & Breda (1999, p. 287) definem que as
obrigações justas “resultam de limitações éticas ou morais e
não de restrições legais” e que “as obrigações construtivas
decorrem dos costumes”.
124
As obrigações justas e construtivas não são
necessariamente executáveis por meios legais, elas resultam
de penalidades sociais, morais ou do costume, mas nem por
isso deixam de se caracterizar como obrigações.
Independente do tipo de obrigação gerada, o que não se
deve é ignorar o fato ocorrido e deixar de evidenciá-lo, pois o
reconhecimento de um passivo afeta o patrimônio das
entidades, influenciando análises financeiras e econômicas.
O professor Iudícibus (2000, p. 146) complementa dizendo
que certas exigibilidades “[...] pelo vulto do cometimento que
podem acarretar para a entidade [...], não podem deixar de ser
contempladas”.
A mensuração e o reconhecimento de passivos permite
aos proprietários, acionistas e investidores conhecer
informações úteis para a predição de fluxos de caixa e tomada
de decisão.
Em muitas ocasiões, para se mensurar e reconhecer um
passivo, previsões e estimativas razoáveis devem ser feitas.
Segundo Iudícibus (2000, p. 148), “se não for possível ao
contador estimar razoavelmente o valor das custas e danos, a
melhor maneira de evidenciar o fato seria sempre por meio de
sua descrição em nota explicativa”, portanto, mesmo na
incerteza e diante das dificuldades em se precisar o valor dos
passivos, os fatos que os pressupõem, devem pelo menos,
estar evidenciados em notas explicativas complementares às
demonstrações contábeis.
125
4 PASSIVO AMBIENTAL
4.1 DEFINIÇÃO
Diante da definição do FASB (Financial Accounting Standards
Board) para o termo passivo, pode-se depreender que todas as
obrigações de uma empresa, decorrentes de um custo ambiental2
incorrido, porém ainda não desembolsado, podem ser
consideradas passivos ambientais.
Se eventos passados, envolvendo a empresa e o meio
ambiente, exigem entrega de ativos ou prestação futura de
serviços, então se têm reclamos contra os ativos dessa entidade,
sacrifícios futuros de benefícios econômicos, ou passivos
ambientais.
O passivo ambiental de acordo com a ONU (Organização
das Nações Unidas), citada por Ribeiro & Lisboa (2000, p. 11),
passa a existir quando:
a) houver uma obrigação de a entidade prevenir,
reduzir ou retificar um dano ambiental, sob a
premissa de que a entidade não possui condições
para evitar tal obrigação. Esta ausência de
condições é definida pelas seguintes situações:
i) existência de uma obrigação legal ou contratual;
ii) política ou intenções da administração, prática
do ramo de atividade, ou expectativas públicas;
ou
iii) divulgação, por parte da administração, interna
ou externamente, de sua decisão de prevenir,
reduzir ou retificar o dano ambiental de sua
responsabilidade.
1
Segundo Bergamini Junior (2000, p. 10), custo ambiental “compreende o gasto referente ao gerenciamento,
de uma maneira responsável, dos impactos da atividade empresarial no meio ambiente, assim como qualquer
custo incorrido para atender aos objetivos e exigências ambientais dos órgãos de regulação, devendo ser
reconhecido a partir do momento em que for identificado”.
126
b) o valor da exigibilidade pode ser razoavelmente
estimado.
4.2 ORIGEM DOS PASSIVOS AMBIENTAIS
Os passivos ambientais podem surgir de quaisquer
eventos ou transações que envolvam a empresa e o meio
ambiente. Eles podem ser decorrentes:
•
da recuperação de danos causados ao meio ambiente
•
pelas atividades operacionais da empresa;
do pagamento de multas por infrações cometidas;
•
da aquisição de ativos para conter os impactos
ambientais;
•
•
dos gastos para se implantar uma gestão ambiental;
de imposição requerida por legislação ou por termos
de um contrato específico;
do pagamento de indenizações a terceiros;
da contratação de seguros de responsabilidade civil
•
•
•
•
para riscos ambientais;
da obtenção de certificação nas normas de qualidade
ambiental;
da contratação de profissionais de outras áreas para
desenvolver projetos e pesquisas, como os ecólogos,
biólogos, engenheiros sanitários, engenheiros
ambientais, dentre outros;
•
da necessidade de implantação de controles internos
integrados ao sistema de gestão ambiental da
127
empresa;
•
•
de medidas preventivas para diminuir ou eliminar
eventos inesperados;
de questões mercadológicas, visando manter ou
estabelecer uma boa imagem da empresa e de seus
produtos, principalmente, junto aos consumidores; e
•
de inúmeras outras origens.
Deve ficar claro, no entanto, que um passivo só existe se
houver uma relação com eventos passados.
4.3 EXEMPLOS DA OCORRÊNCIA DE PASSIVOS
AMBIENTAIS
A origem do passivo ambiental, segundo Ribeiro & Lisboa
(2000, p. 17), está associada a diversas situações, “seja por
má conduta em relação à legislação ambiental ou à preservação
e proteção do meio ecológico, seja por falha no processo de
análise prévia para a compra de outra empresa ou ainda no
caso de fusão das empresas”.
São apresentados, a seguir, alguns exemplos reais de
ocorrência de passivos ambientais nas empresas, originados
de suas atividades operacionais, tornando-as responsáveis
pelos efeitos causados ao meio ambiente.
A Petrobrás, empresa voltada à exploração, produção e
abastecimento de derivados do petróleo, é uma das empresas
brasileiras que mais tem passivos ambientais. Nas cinco
décadas da história da estatal, nunca houve tanto desastre
128
ecológico, como recentemente. O maior deles jogou 1,3 milhões
de toneladas de óleo na Baía de Guanabara, outro foi o
afundamento da P-36 (ISTO É ONLINE, 13-12-01). Esses
incidentes obrigaram a empresa a gastar alguns milhões de
reais com a recuperação dos locais afetados, com o pagamento
de indenizações a terceiros e com o pagamento de multas aos
órgãos de fiscalização.
Alguns bancos da Suíça e Inglaterra fizeram a
despoluição de algumas propriedades que
haviam recebido de clientes inadimplentes
porque pretendiam vendê-las e não queriam ver
seu (sic) nome (sic) associado (sic) à venda de
propriedades contaminadas (TEIXEIRA, 2000,
p. 6).
Os postos de combustíveis têm uma dívida ambiental em
torno de R$ 3 bilhões. Segundo a Folha de São Paulo (ago.
1999), esse é o cálculo dos custos para reparar os estragos no
solo e na água subterrânea decorrentes de vazamentos de
combustíveis nos postos de serviços. Esses vazamentos
ocorrem devido a deficiências em instalação, manutenção, operação
e fiscalização de tanques e outros equipamentos.
A Bayer S/A, que produz e comercializa diversos produtos
químicos farmacêuticos, tem um passivo ambiental proveniente de
inúmeros autos de constatação. Isto por emitir metais pesados, como
Cromo hexavalente e Chumbo, na Baía de Guanabara.
A empresa Rhodia, situada no município de Cubatão (SP),
adquiriu, em 1976, a Clorogil. No entanto, além dos ativos, a empresa
adquiriu um grande passivo ambiental decorrente da contaminação
de todas as fontes de abastecimento de água local. Mais recentemente,
129
a Rhodia foi novamente autuada, porque foram encontrados resíduos
de uma substância cancerígena nas regiões vizinhas a sua propriedade
(GRATÃO & RIBEIRO, 2000, p. 3).
A empresa gaúcha, Ipiranga Petroquímica, tem a obrigação de
encaminhar suas lâmpadas fluorescentes para descontaminação dos
resíduos de mercúrio.
Em 1992, várias siderúrgicas (CSN, Cosipa, CST, Usiminas,
Açominas), devido às privatizações, se viram obrigadas a implantar
controles das fontes de poluição da capacidade de produção instalada,
e que exigiram investimentos em torno de US$ 320,7 milhões
(MARTINS & RIBEIRO, 1998a, p. 3).
A Dow Química, [...], montou um sistema de
gerenciamento ambiental, o Dow Environmental
Management Standard. A empresa definiu
investimentos de 26 milhões de dólares em projetos
de segurança e preservação do meio ambiente para
as plantas de Aratu e Camaçari (BA) (TEIXEIRA,
2000, p. 2).
As empresas fabricantes de baterias para telefones
celulares, pilhas e outros produtos, com teor radioativo, são
responsáveis pela destinação final de seus produtos quando
esgotada a sua potência.
A Companhia Siderúrgica Nacional, em 1995, se
comprometeu com a Prefeitura Municipal de Volta Redonda
(RJ) a construir escolas, hospitais, dentre outras benfeitorias,
devido à sua postura poluidora no passado (CARVALHO &
RIBEIRO, 2000, p. 11).
Todos esses são exemplos de passivos ambientais
130
originados pelas atividades operacionais da empresas,
tornando-as responsáveis pelos efeitos causados ao meio
ambiente.
4.4 RECONHECIMENTO DO PASSIVO AMBIENTAL
Diante dos exemplos acima apresentados, observa-se que
as empresas são responsáveis por todas as agressões e
alterações causadas ao meio ambiente decorrentes de suas
atividades operacionais. Os passivos ambientais, portanto,
devem ser reconhecidos e contabilizados no momento da
ocorrência de seus fatos geradores, de acordo com o regime
de competência dos exercícios.
Todas as possíveis origens de passivos ambientais,
inclusive as já citadas, devem ser reconhecidas no momento
em que se toma conhecimento do fato.
Segundo Hendriksen & Breda (1999, p. 413), “o
reconhecimento do passivo [...] depende do reconhecimento
simultâneo de um ativo ou de uma despesa”, dentro desse
contexto, a contrapartida de um passivo ambiental é uma
despesa, um custo ou um ativo ambiental.
Em muitos casos, não é tão fácil identificar a ocorrência
do fato gerador de um passivo ambiental, porém, conhecida
sua existência em potencial, já existe a possibilidade de
reconhecimento, mesmo que por meio de estimativas.
A ONU (Organização das Nações Unidas), citada por
Ribeiro & Lisboa (2000, p. 12),
131
não considera que a ausência de conhecimento
da data da exigibilidade da obrigação seja
impeditivo para o seu reconhecimento,
enfatizando que o cumprimento será em um
momento futuro, ainda que este não possa ser
precisamente determinado no momento do
registro contábil e da elaboração das
demonstrações contábeis.
Sob tal premissa, as empresas responsáveis por danos
ambientais devem constituir provisões para os gastos que
deverão ou poderão ser realizados no futuro, entretanto, existem
as provisões com valor conhecido e data certa para pagamento,
e aquelas com certa dose de incerteza, prováveis de ocorrer e
que antecipam possíveis reclamos de terceiros.
O reconhecimento de passivos, mais especificamente, de
passivos ambientais, permite aos interessados nas informações
das empresas identificar o verdadeiro estado patrimonial e a
verdadeira situação econômico-financeira das mesmas, além
de permitir a avaliação da atuação dos gestores e o
desempenho do período.
Entretanto para se reconhecer o passivo ambiental é
preciso medi-lo e essa, muitas vezes, não é uma simples tarefa.
4.5 TENTATIVA DE MENSURAÇÃO DOS PASSIVOS
AMBIENTAIS
O grande desafio de quem estuda o passivo ambiental é
medir, adequadamente, pelo valor presente, as saídas de caixa
futuras esperadas, decorrentes de eventos ou transações que
132
envolvam a empresa e o meio ambiente.
O passivo ambiental restringe-se aos valores
que podem ser identificados e mensurados pelos
conhecimentos técnicos já existentes que,
reconhecidamente, está longe de representar a
degradação do meio ambiente provocada pelo
ser humano (RIBEIRO & LISBOA, 2000, p. 14).
Quando a empresa recebe uma multa por degradação do
meio ambiente, existe um auto de infração que dá suporte ao
registro contábil; quando adquirem-se equipamentos
antipoluentes, existe um valor constante na nota fiscal de
compra; quando utiliza-se mão-de-obra especializada no
processo de recuperação ambiental, existe uma determinação
legal para estabelecer o valor dos salários.
Como determinar, porém, a extensão de uma
contaminação? Como estabelecer um valor para prever eventos
inesperados? Como calcular os custos ambientais ao se
implantar uma gestão ambiental?
A resposta para perguntas como essas, poderia ser:
utilizando-se estimativas de valores. Estimativas, segundo
Ribeiro & Lisboa (2000, p. 16), ”são previsões de gastos com
base em expectativas de eventos que irão ocorrer”. Para Soares
& Andrade (2000, p. 9), “o fato da informação ambiental estar
baseada em estimativas não a torna menos importante que as
demais informações e não deve ser motivo para a nãodivulgação (sic)”, entretanto, existem problemas ambientais que
têm gravidade tão grande que a exata mensuração dos seus
efeitos pode demorar muitos anos após a ocorrência do fato.
133
Aspectos físicos, financeiros e econômicos podem, no
futuro, influenciar e afetar os valores estimados, como por
exemplo, inflação, avanços tecnológicos, mudanças na
legislação, taxas de risco, dentre outros.
Atualmente, existem dois documentos, os EIAs e os
RIMAs, altamente técnicos, que ajudam na identificação de fatos
geradores dos passivos ambientais e na determinação de
quanto se deverá gastar na recuperação, preservação e
melhoria do meio ambiente.
Carvalho & Ribeiro (2000, p. 1), esclarecem que:
os EIAs – Estudos de Impacto Ambiental –
objetivam identificar a situação geral: tipos de
impactos ambientais provocados pelas
atividades de uma empresa, suas
conseqüências e os meios preventivos
existentes. Os RIMAs – Relatórios de Impacto
ao Meio Ambiente – são relatórios de
acompanhamento, que pretendem descrever o
tratamento aplicado e os resultados atingidos.
Portanto, as obrigações, ambientais ou não, só podem ser
provisionadas se prováveis e razoavelmente estimadas. Não se pode,
é claro, deixar de se evidenciar uma obrigação ambiental pelo fato de
existirem dificuldades em estimar seu valor.
Se as obrigações são conhecidas, porém não
mensuráveis, nem por estimativas razoáveis, deve-se
evidenciá-las em notas explicativas, no relatório da
administração, ou em algum outro relatório.
134
4.6 IMPACTOS DOS PASSIVOS AMBIENTAIS NAS
EMPRESAS
“Para toda ação existe uma reação”. O enunciado da
Terceira Lei de Newton espelha muito bem os impactos
provenientes da relação existente entre as empresas e o meio
ambiente, pois aquelas quando causam danos a este são
responsabilizadas por tais atos.
Informar a respeito da existência de passivos ambientais
é de grande valia, pois todas as informações ambientais
enriquecem as demonstrações contábeis e permitem aos
gestores analisar o patrimônio das empresas e os resultados
obtidos.
Por meio dessa evidenciação, as saídas de caixa, em
períodos futuros, também podem ser analisadas, ou seja,
verifica-se qual o impacto dos passivos ambientais no fluxo de
caixa das empresas.
Em casos de privatizações, aquisições, fusões e
incorporações, esse tipo de informação deixa bem especificado
que as responsabilidades pelos danos ao meio ambiente,
conhecidas ou eventualmente descobertas, serão atribuídas
aos novos proprietários.
Por outro lado, essa mesma informação pode trazer
algumas desvantagens para as empresas, como:
•
•
afastar possíveis investidores, preocupados com a
segurança de seus investimentos;
evidenciar risco financeiro futuro resultante de
incidentes ambientais;
135
•
acarretar em perda de crédito no mercado financeiro;
•
afastar fornecedores que são, juntamente com as
instituições financeiras, doadores de crédito em
potencial;
•
influenciar de forma negativa a avaliação das ações
no mercado;
•
•
diminuir os resultados, impactando no fluxo econômico;
comprometer a continuidade dos negócios, por causa
•
do comprometimento dos ativos no futuro;
sofrer restrições estabelecidas pelo segmento
•
econômico;
afastar clientes preocupados e conscientes da questão
•
•
•
ambiental;
comprometer a situação financeira e econômica;
influenciar nos indicadores de eficácia1 empresarial;
dentre outras.
5 CONCLUSÃO
Os passivos ambientais representam futuro sacrifício de
benefícios econômicos, contraídos, voluntária ou
involuntariamente, por diversas empresas.
Os fatos geradores desses passivos decorrem das
atividades operacionais dessas empresas, atividades essas,
que de alguma forma afetam o meio ambiente.
Apesar de alguns reflexos negativos que a evidenciação
de passivos ambientais pode trazer, é dever das empresas
reconhecer e registrar tais fatos, pois existem usuários
136
interessados nas reais situações patrimoniais e nas
informações ambientais para tomarem suas decisões. Algumas
vezes, no entanto, é difícil mensurar um passivo ambiental, porque
essa mensuração deve ser razoavelmente precisa.
Sugere-se, com este trabalho, o desenvolvimento de
técnicas que permitam o registro e evidenciação, com elevado
grau de precisão, das contingências ambientais relevantes.
Na impossibilidade de se mensurar o passivo ambiental e
de apresentá-lo no Balanço Patrimonial, as empresas deverão
informar as possíveis obrigações ambientais de alguma
maneira. O importante é não deixar de informar os usuários.
As empresas que integram e interagem com o meio
ambiente, além dos seus próprios interesses, têm que estar
comprometidas com a responsabilidade social.
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141
A BARBÁRIE CONTEMPORÂNEA:
UM ARTIGO SOBRE THEODOR ADORNO
Alessandra Azevedo Jantorno*
RESUMO
Adorno, nascido na Alemanha, foi filósofo e educador, escreveu sobre a
massificação da população alemã, tendo como base teórica o marxismo,
fundou a Escola de Frankfurt na Alemanha e, em 1947 escreveu a Dialética
do Esclarecimento, criou conceitos como razão instrumental e indústria
cultural, criticando sempre a dominação. Na sua obra a Educação contra a
Barbárie, defendeu a posição que as pessoas estariam atrasadas em
relação a sua própria civilização, e que as mesmas se comportavam
primariamente, dotadas de agressividade e ódio. Atualmente podemos
assistir acontecimentos que nos remotam a barbárie prevista por Adorno
em 1968, nos países como os Estados Unidos, na Alemanha e no Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Barbárie; Alienação; Educação.
SUMMARY
Theodor Adorno was born in Germany in 1903. He was a philosopher and
an educator. He wrote about German people mass culture, and started
Frankfurt school, having as its theorics basis Marxism. In 1947 he wrote
The Dialectic of Enlightnmet. Adorno, also created some concepts, such
as Instrumental Reason and Cultural Industry, always criticising domination.
In his work “ Education against Barbarism “ he states a point of view by
which people woulbe backward related to his own civilization, and somehow.
Would behave in primitive way, showing up hate and aggressiveness.
Nowadays, we can follon up events in contries like U. S. A, Germany and
Brazil, which deals with barbarism foretold by Adorno in 1968.
*
Psicóloga, Pós-graduada em Saúde Pública e Professora da Faculdade Capixaba de Nova Venécia –
UNIVEN.
142
KEY WORDS: Barbarism; Alienation; Education.
1 INTRODUÇÃO
Theodor Wiesengrund Adorno (1903-1969), pensador
nascido em Frankfurt, na Alemanha, filho de uma família de
ascendência judaica, Filósofo, Sociólogo e musicólogo1 foi um
dos fundadores do Institut fur Sozial Forschung, base da Escola
de Frankfurt, companheiro de Max Horkheiner. Discípulo do
compositor austríaco Aban Berg, dedicava-se às investigações
sociológicas sobre música. Agregou-se à Escola de Frankfurt
após a I Guerra Mundial, marxista por formação tentou
reinterpretar a psicanálise na perspectiva da teoria crítica. Saiu
da Alemanha em 1934, instalando-se na Inglaterra. Em 1938
foi para os Estados Unidos e regressou à Alemanha em 1949.
Em seu exílio no E.U.A , tendo escapado da barbárie nazista,
Adorno juntou-se a um grupo de importantes cientistas sociais
norte-americanos para uma ousada pesquisa sobre
personalidades autoritárias , pesquisa esta, infelizmente nunca
publicada em português. Tratava-se de testar empiricamente
a relação entre estruturas capitalistas do capitalismo tardio e
os comportamentos desviantes, hostis e destrutivos da norma
civilizada – ou seja, a relação entre Marx e Freud. Adorno e
colaboradores chegaram à aterradora conclusão de que todos
os elementos que haviam criado o nazismo e o holocausto
encontravam-se latentes na sociedade norte-americana.
Criador dos conceitos: razão instrumental e indústria cultural,
juntamente com Horkheiner acreditavam que a razão iluminista,
1
Adorno destacou-se também como musicólogo, tendo sido ligado a Alban Berg, um dos criadores da
música atonal, e escrevendo uma série de estudos sobre a música desde Wagner até a música popular e o
Jazz.
143
que visava a emancipação dos indivíduos e o progresso social
levou a uma maior dominação das pessoas em virtude do
desenvolvimento tecnológico-industrial.
Em 1947, Adorno e Horkheiner2 escreveram A dialética do
esclarecimento, onde fazem duras críticas ao iluminismo, que
estimulou o desenvolvimento de uma razão controladora e
instrumental que predomina na sociedade contemporânea.
Nesta obra denunciam também o desencantamento do mundo,
a deturpação das consciências individuais, a assimilação dos
indivíduos ao sistema social dominante. Adorno denunciou a
morte da razão crítica, asfixiada pelas relações de produção
capitalista. Aqui cabe colocar que o que é mais característico
nos filósofos da escola de Frankfurt é a desesperança em relação
à possibilidade de transformação dessa realidade social, ou seja,
uma apatia profunda diante das mudanças. De acordo com
Adorno isso se deveria a uma ausência de consciência
revolucionária no proletariado ( trabalhadores) , que teria sido
assimilado , absorvido pelo sistema capitalista, através da
alienação 3 das suas consciências promovidas pela indústria
cultural . Indústria cultural é um termo difundido por Adorno e
Horkheiner para designar a indústria da diversão vulgar,
veiculada pela TV, rádio, revistas, jornais, músicas propagandas
e outros. Adorno compreende que é através da indústria cultural
e da diversão se obteria a homogeneização dos
comportamentos, a massificação das pessoas. É importante
2
HORKHEINER, Max (1985-1973) Um dos fundadores e principais membros, juntamente com Adorno, da
escola de Frankfurt, Horkheiner nasceu na Alemanha, doutorando-se pela Universidade de Frankfurt, onde
dirigiu a partir de 1930 o famoso Instituto de Pesquisas Sociais, que viria a ser o núcleo da escola.
3
Alienação – Hegel empregou o termo para indicar o alhear-se a consciência de si mesma, pelo qual ela se
considera como coisa. Este alhear-se é uma fase do processo que vai da consciência à autoconsciência.
Esse conceito foi retomado por Marx nos seus textos juvenis, para descrever a situação do operário no regime
capitalista. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia [ tradução Alfredo Bosi ] 1ª ed.,Martins Fontes, São
Paulo,2000.
144
notar que a falta de perspectiva de transformação social levou
Adorno a se refugiar na teoria estética, pôr entender que o
campo da arte é o único reduto autêntico da razão
emancipadora e da crítica à opressão social.
2 A ESCOLHA POPULAR
Adorno em um dos seus textos: o feitichismo na música
e a agressão da audição, faz uma crítica e reflexão a decadência
do gosto musical, colocando que desde o tempo da noética
grega todos tendem a obedecer à função disciplinadora da
música .Ele coloca o gosto musical como um gosto coletivo, ou
seja, gostar de uma música de sucesso é quase exatamente o
mesmo que reconhecê-la. O comportamento torna-se uma ficção
para quem se vê cercado de mercadorias musicais
padronizadas. O individuo já não consegue diferenciar-se da
opinião pública, nem tampouco pode decidir com liberdade
quanto ao que lhe é apresentado, uma vez que tudo que lhe é
oferecido é tão semelhante.
O questionamento de Adorno com relação à música
popular tinha um ponto central: “Ao invés de entreter, parece que
a música contribui ainda mais para o emudecimento dos homens,
para a morte da linguagem como expressão, para a
incapacidade de comunicação 4 ”. E foi mais além, colocou a
música como entretenimento que preenche os vazios do silêncio
que se instalam entre as pessoas deformadas pelo medo, pelo
cansaço e pela docilidade. Se ninguém mais é capaz de falar
realmente, é obvio também que já ninguém é capaz de ouvir.
4
ADORNO,Theodor W. O Feitichismo na Música e a Regressão da Audição, 2 ª ed.Alemanha,1963,p.34.
145
Adorno fez uma crítica da massificação da música, considerando
as músicas sentimentais uma “degeneração”.
Influenciado pelo programa ético – musical de plantão, que
possuía característica de uma ação de purificação, de uma
campanha de estilo espartano, onde as objeções mais
marcantes são as da superficialidade e a do culto da
personalidade, e nas proibições entrelaçam-se à variedade do
prazer dos sentidos e da consciência diferenciada; Adorno nos
remete ao terceiro livro da república de Platão, no qual se
proíbem tanto os modos musicais queixosos como os moles,
que no dizer do sábio grego “se recomendam em banquetes e
orgias5 ”, instrumentos de cordas e flautas eram igualmente
proibidos. Dos diversos modos só se permitiam aqueles que
“de forma adequada imitavam a voz e a expressão do homem
6
”. Adorno adotou o conceito de fetichismo musical, influenciado
por Marx, onde ele descreveu o caráter fetichista da mercadoria
com veneração do que é autofabricado, o qual, por sua vez, na
qualidade de valor de troca se aliena tanto do produtor quanto
do consumidor, ou seja, do homem. Consideremos que com
base nesta linha de pensamento Adorno nos coloca que a
escolha da massa popular, não é uma escolha em si, mas uma
cultura da semi-informação.
3 EDUCAÇÃO E BARBÁRIE
É evidente notarmos que em todo seu trajeto de vida
Theodor Adorno foi influenciado pelo marxismo, tanto na música,
5
PLATÃO,( c.427-348 ou 347 a.C. ) Filósofo grego, discípulo de Sócrates - República –livro III pg.189
6
PLATÃO,(c.427-348 ou 347 a.C.)Filósofo grego,discípulo de Sócrartes – Repúlica – livro III pg.289
146
como na sociologia e na educação suas mensagens e teorias
são extremamente atuais. Adorno escreveu sobre os norteamericanos e sua personalidade autoritária, mas não viveu para
ver explodir esta personalidade recalcada através de longos
anos... a violência, o poderio militar ,o desprezo e a arrogância
se confirmando através das ruínas das torres norte-americanas,
o World Trade Center no dia 11 de setembro de 2001. A forma
com que Adorno lida com a mercadoria e a relação social
também é extremamente atual, mostra como hoje o capital usa
seus produtos para refletir uma relação global com o trabalho: a
relação alienante. Adorno foi de fato um pensador a frente do
seu tempo, mesclando seu trabalho, da Grécia, de Platão ao
império norte-americano, seus textos são tensos e rígidos
,cheios de citações minuciosas o que reflete também sua
personalidade metódica e mal humorada.
Em sua obra A Educação contra a barbárie 7 , Adorno coloca
que as pessoas se encontram atrasadas de um modo disforme
com relação a sua própria civilização e verifica também que há
uma certa agressividade primitiva, um ódio meio que primário.
Todos esses aspectos formam um grande impulso de destruição
que contribui para aumentar ainda mais o perigo que toda a
civilização venha a explodir. Adorno naquela época já
considerava urgente a intervenção para evitar tal
descompensação da civilização. E qual meio Adorno cita para
combater o mal da barbárie 8 ? A Educação. É preciso de fato
reorganizar todos os demais objetivos educacionais para esta
7
ADORNO, Theodor W. A Educação contra a Barbárie,Verlag ed. , Alemanha, 1968 ,pg.40.
8
Barbárie: Esse foi o nome que Vico deu ao estado primitivo, selvagem , do qual o gênero humano foi saindo
pouco a pouco para chegar à ordem do mundo propriamente humano , pelo temor à divindade . Deu o nome
de “retorno da B.” à idade média. (Scienza nuova, dignidade ,56; Carta a De Angelis, Opere, ed. Utet, p.159).
147
prioridade: “a tentativa de superar a barbárie é algo decisivo
para superar a sobrevivência da humanidade9 . ”Levaremos em
conta os incidentes atuais nas escolas da Alemanha ,onde há
uma prática massiva da violência entre professor /aluno e, aluno/
instituição escolar. Algumas práticas desta barbárie chocam o
mundo inteiro quando é distribuída através da mídia, mas cabe
a nós uma análise mais profunda desses fatos, dotados de
conteúdos primitivos de agressividade e ódio. Em 1968, Adorno
apontou para o caso da Alemanha, e conforme observou, a
questão da educação alemã gira em torno de que as pessoas
devam assumir compromissos, que tenham que adaptar ao
sistema dominante, ou que devam se orientar conforme valores
objetivamente válidos e dogmaticamente impostos. E mais, ele
verificou também que o problema da educação alemã no
contexto da desbabarização não foi colocado com a importância
e gravidade que ele pregava. É importante notar que o descaso
com a reorganização da educação pode ter desencadeado um
desvio de conduta na população de jovens estudantes da nossa
contemporânea Alemanha, mas não devemos deixar de lado a
importância das influencias dos valores sociais e dos fatores
psicológicos na estruturação da personalidade de um indivíduo.
E isso não se restringe a Alemanha, Adorno pregava que os
perigos da barbarização, mesmo que em roupagens diferentes
também se colocam em outros paises. Utilizarei como exemplo
o caso do Brasil.
9
ADORNO, Theodor W. A Educação contra a Barbárie, Verlag ed. ,Alemanha ,1968, pg.68.
148
4 A BARBÁRIE NO BRASIL: ASPECTOS SOCIAIS
O número crescente de homicídios entre jovens é um
indicador de que no Brasil inexistem iniciativas que busquem
envolver o Estado, a família, a escola e a comunidade como
instrumentos para o desenvolvimento de políticas públicas de
combate à violência que combinem programas educacionais,
sociais e de saúde. A Guarda Civil Metropolitana, responsável
pelo policiamento das escolas municipais de São Paulo, aponta
para o aumento dos crimes nas escolas1 0 .Casos ocorridos em
outras regiões do país ocupam diariamente os noticiários.O
que está ocorrendo nas escolas? A justificativa mais corrente
entre educadores e jovens em relação ao seu comportamento
marginal é a ausência de espaço onde eles possam expressar
seus pensamentos e suas vontades.A família não promove uma
convivência saudável, o governo não oferece atividades de lazer
e cultura e as escolas não se adaptam ao perfil desses jovens.
A problemática surge quando a ausência da função
educativa admite relevância na produção e manutenção da
exclusão social e da violência no ambiente escolar. A escola é
muito mais do que um simples lugar onde o aluno vai estudar. É
o espaço onde deságuam as raivas, frustrações e
ressentimentos das crianças e jovens, geradas, em boa parte
na família desestruturadas, na promiscuidade das ruas e de uma
sociedade que não respeita os direitos humanos e que convive
com o preconceito, que valoriza o lucro e o consumo em
detrimento dos valores humanos. A violência passa a ser o
10
FOLHA DE SÃO PAULO. São Paulo: 14 de fev.2002, p. 28.
149
padrão de reação à frustração de milhares de jovens. É
fundamental que a escola propicie a este aluno um apoio para
suas ansiedades existenciais, Theodor Adorno já contemplava
isso há trinta anos, quando verificou que o ponto crítico da
questão seria a Educação. É preciso repensar a questão da
educação no país, não devemos nos reduzir a modelos
ultrapassados, sem utilidade para os nossos educandos,
currículos extensos, inatingíveis, disciplinas isoladas, sem
finalidade crítica e questionáveis. A dimensão educacional
deverá atingir uma nova forma, uma nova dimensão, deve-se
criar uma relação com as diferenças, a tolerância e a
solidariedade humana, modificando nossa relação com o outro,
na escola, na rua, na família e respeitando a multicultura, dessa
forma estaremos adiando a aniquilação das relações sociais.
O trabalho da alteridade / diferença é um papel de extrema
importância para o indivíduo em ambiente escolar. Acreditando
que se uma criança nasce e não é incluída nas relações sociais,
ela não aprenderá ser humana, cabe ao adulto, pai, professor
ou responsável orientá-la na sua definição de papel e valores,
quando isso não ocorre na escola, na família ou na comunidade,
de fato estamos caminhando para uma barbárie.
5 CONCLUSÃO
“Esse panorama conflituoso, evidencia-se tanto nos
noticiários que veiculam guerras, agressões, perseguições e
discriminações, como no sobressalto cotidiano em que
buscamos viver e conviver com a violência, com o
150
fundamentalismo, com a xenofobia, com o ódio, com a exclusão
social1 1”. A violência atual que temos enfrentado é além de
tudo um alerta para nossa sociedade, para aonde vamos, como
vamos, e se de fato desejamos ir, são apenas indagações que
deveremos responder ao nosso verdadeiro eu.
Considerando que Adorno viveu na época do Holocausto,
em uma verdadeira barbárie, é fácil observar como o tema lhe
interessou, suas vivências se refletem nos textos, e seus escritos
soam como alerta de quem viu de perto a humanidade próxima
da barbárie original.
Atualmente, é preciso promover o mais urgente possível, uma
interação escola-comunidade e o aperfeiçoamento constante
dos educadores para lidar com essas questões. É necessário
um esforço conjunto dos organismos envolvidos na educação
dos jovens e, sobretudo, que os governos, através de suas
Secretarias de Educação e dos órgãos de segurança, adotem
uma postura efetiva para garantir a cidadania aos nossos
jovens. Consideremos por fim, as obras deste grandioso
educador, Theodor Adorno.
6 BIBLIOGRAFIA
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo:
Martins Fontes, 2000.
ADORNO, Theodor W. O fetichismo na música e a regressão
da audição. 2. ed. Alemanha, 1963.
11
Educação & Sociedade, ano XXIII, n º 79, Agosto/2002, p.17.
151
ADORNO, Theodor W. Introdução à controvérsia sobre o
positivismo na sociologia alemã. 3. ed. Alemanha, 1974.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: histórias e
grandes temas. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.
JAPIASSÚ, Hilton. Dicionário básico de filosofia. 3. ed. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar,1996.
152
RESENHA POÉTICA DO LIVRO “MAR MORTO” – JORGE AMADO
COMPOSTA EM OITAVAS, EM VERSOS ISOMÉTRICOS
DECASSILÁBICOS
Elias Pereira do Nascimento*
Mar morto de águas turvas e fúnebres
Que tantos pescadores naufragou
Deixando filhos e viúvas lúgubres
Desoladas no cais que se entregou.
Sem esperança e alma negra insalubre
Marcada pelo que a vida legou.
Que o mar turvo se apiede do filho
Que da mãe, é lágrima alçando brilho.
O romance fala dos pescadores
Da triste e dura vida no cais
Mas relata outrossim seus amores
Nos saveiros embalando os casais.
Fala das viúvas e suas dores
Também de histórias sensuais
Da amizade de Guma com Rufino
De Esmeralda, que traçou seu destino.
A história de Rosa Palmeirão
Que carregava navalha na saia
Punhal no peito e fadário de cão
Numa briga com “rabo-de-arraia”
Tombava e batia em qualquer peão.
Bonita e sensual, musa da praia
Mulher de muitos homens e amores
Corajosa, prezava seus valores.
Amado fala da mãe Iemanjá
Célebre como rainha do mar,
Janaína, princesa de aiocá
Também Inaê, para ela louvar.
Para as terras do sem fim levará
Os pescadores que ela provocar
Mas nas tormentas e no mar bravio
Pescar e viver é o desafio.
* Aluno do Curso de Letras da Faculdade Capixaba de Nova Venécia – UNIVEN/INESV.
153
A história de Lívia a Guma
Mestre Manuel e Maria Clara
E as noites de amor no mar de espuma
Emanando sensualidade rara
E a pobre Judith sem sorte alguma
Perdeu seu Jaques, antes que atracara,
Da triste canção do negro a cantar
Dizendo: “- É doce morrer no mar”.
Guma e seu veloz saveiro – o valente
Era fiel sectário às leis do cais
Em noites de tempestades torrentes
Prestava socorro, mesmo a rivais.
Homem de fibra e crença transparente
Legado remanescente dos pais
Tinha paixão por Lívia e pelo mar
Até quando Janaína o levar.
Contrabando era troco rendoso
Enriquecera o árabe F. Murad;
Também Toufick parecia bondoso,
Guma associou-se com lealdade
Para buscar com seu barco tinhoso
A seda para vender na cidade.
Então acertavam a transação
Para o transbordo de embarcação.
O escritor põe alma nos personagens
Dr. Rodrigo curava seus pacientes
Poeta, fazia suas homenagens.
Dulce alentava um milagre iminente
Com pescadores daquelas paragens,
Melhor destino para aquela gente
Sem sonhos, sem esperança, sem glória...
Só lembrança, só tristeza e memórias.
O ponto de encontro dos pescadores
O “Farol das Estrelas” – bar do cais
Bebem cachaça e afogam dessabores
Contando prosas e casos banais.
Lembram de grandes e velhos amores,
De paixões ou de desejos carnais.
154
No farol também tinham as prostitutas.
Que alegravam pescadores batutas.
Livia tinha temos pelo seu homem
Com tristes lágrimas sempre o esperava
Mas com um sorriso as lágrimas somem
Cada vez que do mar ele voltava.
Mas um dia as águas plúmbeas consomem
Com seus sonhos e o pescador que amava
Guma foi chamado por Janaína
Para Lívia ser uma heroína.
155
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Edição 03 Revista Universo Acadêmico Janeiro a Julho de 2003