Documento para o Orientador
Um olhar Sobre a Lagoa
Caracterização Biológica
A Lagoa dos Salgados, um património regional do Algarve, apresenta um grande interesse
científico ao nível geológico e biológico, não só pela sua capacidade de albergar uma grande e
variada quantidade de espécies de aves, mas também pela sua riqueza em flora.
Considera-se portanto que o seu estudo apresenta uma mais-valia para a educação visto que
os jovens de hoje serão o futuro de amanhã. Determinante será também ter presente a noção
de Ecossistema. Ecossistema designa o conjunto formado por todos os factores bióticos e
abióticos que simultaneamente actuam sobre determinada região. Por outras palavras são
todos os intervenientes biológicos e geológicos que actuam num ambiente tornando-o
funcional e equilibrado.
O espaço circundante à Lagoa dos Salgados, constitui um importante factor como suporte de
vida animal. Os espaços agrícolas, o sistema dunar da Praia Grande, o pinhal e o sapal de
Alcantarilha, desempenham importantes funções ecológicas, que no seu conjunto contribuem
para o equilíbrio e biodiversidade local.
Lagoa dos Salgados apresenta-se como um ecossistema aquático e costeiro, de pouca
profundidade, com características essencialmente salobras, instalado numa pequena
depressão de terreno que se localiza no troço terminal de uma bacia hidrográfica de reduzidas
dimensões. Encontra-se actualmente separada do Oceano Atlântico pela presença de uma
barreira arenosa, no entanto é alimentada por duas linhas de água doce (Ribeiras de Espiche e
de Vale Rabelho). O sistema lacustre é alimentado quase unicamente pela água que provém
do escoamento superficial transportado pelas ribeiras afluentes, que em regime natural é
reduzido e temporário, em períodos de precipitação principalmente durante o Inverno.
As descargas contínuas de água residuais na Ribeira de Espiche, tornaram a entrada de água
para a lagoa permanente, aumentando o caudal anual afluente à lagoa em 40%. O cordão
dunar que promove o isolamento da lagoa em relação ao mar, funciona como uma barreira
natural de contenção do caudal fluvial, com ligação esporádica ao mar, associada a períodos
de precipitação intensos, e a capacidade de armazenamento de água na depressão lacustre é
ultrapassada.
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As fontes de poluição e intervenção antropogénica têm vindo
multiplicar-se e a intensificar a pressão sobre a Lagoa dos Salgados. Verificou-se a redução do
volume de armazenamento da lagoa, devido às edificações e estruturas actualmente
instaladas na região envolvente, inicialmente um campo de aviação, e posteriormente, um
campo de golfe, e a entrada em funcionamento das ETAR de Pêra e da Guia, que efectuam
descargas na Ribeira de Espiche. Estes factores têm contribuído para a artificialização deste
ecossistema aquático.
Elevados teores de nutrientes (como nitratos e fosfatos) dissolvidos na coluna de água e as
temperaturas amenas ou elevadas promovem o desenvolvimento de fitoplâncton. Estes
organismos, muito abundantes na lagoa, as microalgas formam florescências ou blooms
fitoplanctónicos (grandes massas de algas), típicas de ecossistemas aquáticos de elevada
produtividade ao longo do ano. No entanto a sua proliferação nas águas da lagoa é prejudicial
a todo o ecossistema, pois promove fenómenos de eutrofização da água.
A comunidade zooplanctónica que estabelece a ligação entre produtores primários e os níveis
mais elevados das cadeias alimentares é composta por organismos aquáticos de pequenas
dimensões. A evolução do zooplâncton é acompanhada pela evolução de um tipo específico de
algas nomeadamente as midroalgas, apenas com um ligeiro tempo de diferença. As alterações
na comunidade fitoplanctónica resultam em alterações estruturais nas cadeias alimentares.
Sabe-se ainda que a Lagoa contém Rotíferos e Cladóceros em reduzido número que são
indicadores de sistemas muito produtivos.
O estado da água da Lagoa dos Salgados não é o mais próspero, isto é, o teor de matéria
orgânica que se encontra na água é elevado o que leva a crer que possam existir fenómenos
de eutrofização. Acrescenta-se ainda que principalmente no Verão, espécies de cianobactérias
já existentes são produtoras de neurotoxinas e hepatoxinas em quantidade suficiente para que
a água da lagoa não seja aconselhável a banhos ou outros usos recreativos.
A zona húmida existente na Lagoa dos Salgados e zona baixa circundante é responsável pela
colonização de densa e variada vegetação típica de água doce e salobra. Estes predominam em
zonas alagadas e charcos temporários.
Além disso este ambiente proporciona um importante habitat para uma grande diversidade de
animais, especialmente para as aves. Fornece ainda uma abundante vegetação aproveitada
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pelos animais para seus abrigos e alimento que garante sobrevivência
de vários níveis tróficos. Ao longo do ano, um número elevado de espécies de aves pode ser
aqui avistado, cerca de 39 espécies diferentes de avifauna entre o total inventariado. Em meio
vegetal sublinham-se a presença de juncais de Juncos maritimus, o junco-das-esteiras e o junco
agudo em conjunto com outras juncáceas e ciperáceas também típicas de águas doces e
salobras bem como o triângulo e o junco-vulgar que contribuem para o alimento e abrigo
assim como na capacidade depuradora desta zona húmida.
Na Lagoa dos Salgados podem ser encontradas numerosas espécies de aves, destacam-se:
- O Caimão (porphyrio porphyrio), espécie em perigo de extinção, e com estatuto de protecção
prioritário e em fase de recuperação populacional. Podemos distingui-lo de outras aves através
da plumagem azul, pelo bico e patas vermelhos.
- O Perna-longa (himantopus himantopus), espécie ameaçada em Portugal, pode ser
distinguido através, pernas extremamente compridas de cor vermelha, bico preto, fino e
direito e olhos vermelhos.
- Corvo-marinho-de-faces-brancas (phalacrocorax carbo) é uma grande ave nadadora, comum
no litoral português, pode ser reconhecida através do pescoço longo e o bico ligeiramente
encurvado na ponta. Os olhos são verdes e a pele em seu redor é amarela. O papo verde é
uma das características distintivas da espécie.
Caracterização Geológica
Na zona da Praia dos Salgados é possível observar maioritariamente rochas carbonatadas que
desaparecem sobre as areias actuais apenas com alguns afloramentos dispersos. Estes
afloramentos de biocalcarenitos do Miocénico Inferior possuem uma idade aproximada ente
12 a 13 milhões de anos e são constituídas por calcário algal e possuem grande abundância de
rodólitos e pectinídeos.
É possível encontrar ainda fósseis de briozoários, gastrópodes e outros bivalves
indeterminados. Os sedimentos observáveis indicam a sua formação em ambiente marinho
costeiro, em que a temperatura da água seria superior à actual, e o mar estaria a sofrer uma
transgressão (subida do nível médio do mar e recuo da linha de costa, relativamente à posição
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actual). No Miocénico Superior o nível médio das águas do mar desceu
e a unidade carbonatada foi sujeita a uma intensa calcificação sobre a qual se depositaram
sedimentos areno-argilosos com 5 a 11 Milhões de anos.
Na zona anterior à Praia dos Salgados, na zona que se encontra entre esta e a Lagoa é possível
encontrar um robusto sistema arenoso dunar, que fossiliza uma duna antiga, que se formou há
cerca de 3500 a 4000 anos durante o período Holocénico. As areias de grão grosseiro e fino
agregadas por cimento carbonatado definem eolinitos, que afloram em zonas dispersas no
interior do sistema dunar actual e constituem vestígios dessa duna fóssil cimentada.
Percurso
O percurso proposto, divide-se em cinco estações (0,1,2,3,4) em circuito fechado, com a
duração total de duas a três horas a percorrer em passo de passeio. Em cada estação estará
prevista uma breve explicação do local em questão em que o guia descreverá as características
que se evidenciam nessa zona. Existem actividades a serem realizadas para a consolidação dos
conhecimentos adquiridos (consultar: Um Olhar Sobre a Lagoa – Ficha de Actividades).
O percurso segue sobre o passadiço, alguns trilhos em terra batida e ainda pela praia que no
seu conjunto não apresentam dificuldades para os pedestres. Deve seguir sempre pelos
trilhos sugeridos e marcados no terreno, de modo a evitar o pisoteio de zonas dunares
contribuindo para a sua preservação. Deve-se ter em atenção o vestuário a levar de acordo
com a época do ano, bem como calçado apropriado e mantimentos. O material a levar deve
também incluir binóculos, uma máquina fotográfica ou mesmo uma lupa.
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Para o guia da visita seguem-se algumas sugestões sobre o que focar
em cada ponto do roteiro:
Ponto 0 – Trata-se de um ponto de encontro do percurso, quer antes de entrar na área da
Lagoa, quer no regresso ao transporte. Encontra-se entre o estacionamento e a ponte de
entrada para a lagoa. Deve ser feita uma breve introdução ao roteiro e ao objectivo da visita,
tendo em conta o nível de ensino dos visitantes.
Coordenadas Geográficas:
N 37º05,395’
W 008º19,711’
Ponto 1 – Primeira paragem a realizar após atravessar a ponte. Neste local é sugerido que se
faça referência à importância das plantas halófitas para a preservação do cordão dunar, bem
como a utilidade deste para o habitat único da Lagoa. Podem ser ainda mencionadas em
específico algumas espécies de seres vivos que o guia considere relevantes.
Coordenadas Geográficas:
N 37º05,427’
W 008º19,765’
Ponto 2 – O ponto 2 localiza-se no observatório onde é possível ter uma vista geral sobre o
panorama da lagoa. É importante realçar a importância de preservar os elementos deste
espaço, quer biológicos, quer geológicos, e informar os estudantes sobre os problemas de
poluição associados à Lagoa dos Salgados, como os fertilizantes artificiais utilizados nos
campos de golfe nas proximidades, que podem ser escoados para a água da mesma, e nos
campos agrícolas.
Coordenadas Geográficas:
N 37º05,595’
W 008º19,941’
Ponto 3 – Este pode ser encontrado ao chegar à praia. É uma boa oportunidade para apontar
as estruturas geológicas características da região algarvia, as rochas mais comuns, aspectos
relacionados com os sedimentos da praia e a sua granulometria, bem como focar aspectos da
deriva litoral. Seria ainda pertinente fazer referência aos líquenes e ao seu papel como
indicadores da qualidade do ar. Se possível deve-se fazer a actividade de construção de um
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crivo, ou solicitar aos alunos que construam um previamente ao dia da
visita, para que possam investigar sobre a granulometria dos sedimentos da praia e das dunas,
e estudar a escala de Wentworth.
Coordenadas Geográficas (este ponto encontra-se entre
as seguintes coordenadas):
N 37º05,608’ - N 37º05,582’
W 008º20,267’ - W 008º20,272’
Ponto 4 – Este ponto pode ser um pouco difícil de localizar, no entanto recorrendo às
coordenadas geográficas pode ser mais fácil encontrá-lo. É possível observar uma rocha com
vestígios fósseis de organismos marinhos, nomeadamente de bivalves (conchas fracturadas e
revolvidas), onde se pode focar a importância dos fósseis para descrever paleoambientes.
Coordenadas Geográficas:
N 37º05,536’
W 008º20,184’
Nota: O percurso pode ser adaptado se o guia julgar conveniente. De notar que as sugestões acima
devem ser adaptadas tendo em conta o nível de ensino e os conhecimentos dos estudantes.
A informação apresentada foi recolhida e compilada por
alunos da Turma A, do 12º ano (2010/2011) da Escola
Secundária de Albufeira, supervisionados pela Professora
Mª Paula Abreu.
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Um olhar Sobre a Lagoa - Guia para o orientador