MINICURSO
REDAÇÃO E TÉCNICAS DE
APRESENTAÇÃO DE
TRABALHOS CIENTÍFICOS
Profª. Marta Helena Facco Piovesan
TEXTO 1
APRENDER A ESCREVER É APRENDER A PENSAR
Aprender a escrever é, em grande parte, se não principalmente, aprender a pensar, aprender a encontrar idéias e
a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se pode transmitir o que a mente não criou
ou não aprovisionou. Quando os professores nos limitamos a dar aos alunos temas para redação sem lhes sugerimos
roteiros ou rumos para fontes de idéias, sem, por assim dizer, lhes “fertilizarmos” a mente, o resultado é quase sempre
desanimador: um aglomerado de frases desconexas, mal redigidas, mal estruturadas, um acúmulo de palavras que se
atropelam sem sentido e sem propósito; frases em que procuram fundir idéias que não tinham ou que foram mal
pensadas ou mal digeridas. Não podiam dar o que não tinham, mesmo que dispusessem de palavras-palavras, quer
dizer, palavras de dicionário, e de noções razoáveis sobre a estrutura da frase. É que palavras não criam idéias; estas, se
existem, é que, forçosamente, acabam corporificando-se naquelas, desde que se aprenda como associá-las e concatenálas fundindo-as em moldes frasais adequados. Quando o estudante tem algo a dizer, porque pensou, e pensou com
clareza, sua expressão é geralmente satisfatória.
Todos reconhecemos ser ilusão supor – como já dissemos – que se está apto a escrever quando se conhecem as
regras gramaticais e suas exceções. Há evidentemente um mínimo de gramática indispensável (grafia, pontuação, um
pouco de morfologia e um pouco de sintaxe), mínimo suficiente para permitir que o estudante adquira certos hábitos de
estruturação de frases modestas mas claras, coerentes, objetivas. A experiência nos ensina que as falhas mais graves das
redações dos nossos colegiais resultam menos das incorreções gramaticais do que de falta de idéias ou da sua má
concatenação. Escreve realmente mal o estudante que não tem o que dizer porque não aprendeu a pôr em ordem seu
pensamento, e porque não tem o que dizer, não lhe bastam as regrinhas gramaticais, nem mesmo o melhor vocabulário
de que posa dispor. Portanto, é preciso fornecer-lhe os meios de disciplinar o raciocínio, de estimular-lhe o espírito de
observação dos fatos e ensiná-lo a criar ou aprovisionar idéias: ensinar, enfim, a pensar.
( Othon M. Garcia, livro: Comunicação em Prosa Moderna Editora: Fundação Getúlio Vargas, 2005)
TEXTO 2
OBJETIVOS DO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA
Ao dar aula de uma língua para falantes nativos dessa língua é sempre preciso perguntar: “Para que se dá aulas
de uma língua para seus falantes?” ou, transferindo para o nosso caso específico, “Para que se dá aulas de Português a
falantes nativos de Português?”
Fundamentalmente pode-se dar a essa pergunta quatro respostas. Vamos apresentá-las, começando por aquela
que julgamos fundamental por ser mais pertinente e produtiva para o ensino de Português.
Na primeira resposta propomos que o ensino de Língua Materna se justifica prioritariamente pelo objetivo de
desenvolver a competência comunicativa dos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), isto é, a capacidade
do usuário de empregar adequadamente a língua nas diversas situações de comunicação. Portanto, este desenvolvimento
deve ser entendido como a progressiva capacidade de realizar a adequação do ato verbal às situações de comunicação
(cf. Fonseca e Fonseca, 1977: 82). A competência comunicativa implica duas outras competências: a gramatical ou
lingüística e a textual.
A competência gramatical ou lingüística é a capacidade que tem todo usuário de língua (falante,
escritor/ouvinte, leitor) de gerar seqüências lingüísticas gramaticais, isto é consideradas por esses mesmos usuários
como seqüências próprias e típicas da língua em questão. Aqui não entram julgamentos de valor, mas verifica-se tãosomente se a seqüência (orações, frases) é admissível, aceitável como uma construção da língua. Essa competência está
ligada ao que Chomsky chamou de “criatividade lingüística”, que é a capacidade de, com base nas regras da língua,
gerar um número infinito de frases gramaticais.
A competência textual é a capacidade de, em situações de interação comunicativa, produzir e compreender
textos considerados bem formados, valendo-se de capacidades textuais básicas que, segundo Charolles (1979), seriam
essencialmente as seguintes:
a) capacidade formativa, que possibilita aos usuários da língua produzir e compreender um número de textos
que seria potencialmente ilimitado e, além disso, avaliar a boa ou má formação de um texto dado, o que equivaleria
mais ou menos a ser capaz de dizer se uma seqüência lingüística dada é ou não um texto, dentro da língua em uso;
b) capacidade transformativa, que possibilita aos usuários da língua modificar, de diferentes maneiras
(reformular, parafrasear, resumir, etc.) e com diferentes fins, um texto e também julgar se o produto dessas
modificações é adequado ao texto sobre o qual a modificação foi feita. Por exemplo, verificar e saber se um resumo
realmente é resumo de um texto dado;
c) capacidade qualificativa, que possibilita aos usuários da língua dizer a que tipo de texto pertence um dado
texto, naturalmente segundo uma determinada tipologia. Por exemplo, dizer se é um romance, uma anedota, uma
reportagem, uma receita, um carta, uma narração, uma descrição, um discurso político, um sermão religioso, um artigo
científico, um texto literário, etc. Evidentemente a capacidade qualificativa tem a ver com a capacidade formativa, à
medida que deve possibilitar ao usuário ser capaz de produzir um texto de determinado tipo.
(TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática. Editora:
Cortez, 9ª edição revista, novembro 2003.)
TEXTO 3
COMO ESCREVER UM TEXTO CIENTÍFICO
Marta Helena Facco Piovesan
Educadores de todos os níveis são unânimes em afirmar que o conhecimento da Língua Portuguesa é
instrumento necessário para a aquisição de outros conhecimentos. Para estudantes das mais diversas áreas, o estudo da
língua materna é imprescindível.
Resolvi escrever estas dicas porque tenho repetido as mesmas recomendações para a grande maioria dos
alunos, que estou orientando. A dissertação é um trabalho escrito e é esse trabalho escrito que será avaliado. A
apresentação e a arguição são formas da banca certificar-se que o aluno possui domínio sobre o trabalho, mas a
avaliação é sobre o que foi escrito. Nenhuma apresentação pode recuperar um trabalho ruim. Assim, a atenção deve
estar totalmente dirigida para o texto.
Escrever bem requer um pouco de técnica e muita prática. Deve-se escrever sempre e de forma crítica, para
obter o nível de qualidade e fluência necessária. Escreva e leia o que escreveu com uma visão crítica, seja o seu pior
crítico. Uma dos benefícios de se desenvolver uma pesquisa científica é de se apurar uma visão crítica. Leia bastante
também, ampliar o seu vocabulário pode ajudar a escolher a palavra correta, e a construção mais adequada. Leia bons
livros, técnicos ou não. Leia os artigos da pesquisa com essa mesma visão crítica.
Texto literário e texto científico: distinções fundamentais
Não esqueçamos que o texto científico utiliza uma linguagem denotativa, isto é, que propõe uma direção única
de significados, conduzindo o leitor a um só feixe de interpretação. O que importa aí não é a linguagem e suas
revelações subsidiárias, mas o objeto ao qual ela se refere de modo direto, transparente, objetivo. Já o texto literário
utiliza uma linguagem conotativa, isto é, que sugere um leque de possibilidades interpretativas, onde a textura das frases
resvala em sentidos outros, em restos de saberes antigos e novos escondidos por entre as frestas da frase. As múltiplas
interpretações abertas pelo texto literário convidam à participação ativa do leitor: sua experiência de vida, sua
sensibilidade e sua bagagem afetiva e intelectual .
Recomendações gerais
A seguir estão algumas recomendações para produzir um texto técnico de qualidade. Como qualquer trabalho
criativo as regras podem ser quebradas, se houver um benefício maior associado. No geral evite surpresas, a academia é
muito conservadora e irá preferir soluções ortodoxas.
Escreva simples. Use frases simples e diretas, é um texto científico não literatura. Evite termos imprecisos,
coloquiais ou termos estrangeiros que poderiam ser traduzidos como: martelando, embute, remetendo ao passado,
customização, performance, varrendo para longe, stakeholderes, etc.
Evite termos imprecisos. Termos como : aproximadamente, completamente, muito mais, mais forte, maior,
melhor, menor, mais rápido, etc... A pergunta que um leitor mais crítico faria é “Quanto é mais forte? quanto mais
rápido? quão melhor?”. Num trabalho de engenharia deve ser possível medir e avaliar quantitativamente as variáveis.
Uma avaliação qualitativa deve ser sempre precedida por considerações e ressalvas. Termos como sistema, software,
programa, metodologia, processo devem possuir um significado próprio no trabalho e não podem ser usados
genericamente.
Seja afirmativo. O texto pode mostrar quão seguro o autor está sobre a sua proposta, pelos termos que ele usa.
Termos inseguros como “provavelmente”, “deve levar a”, “deve ser superior” devem ser substituídos por “leva a”, “é
superior”.
Use o tempo presente. Escreva como se o texto estivesse pronto e concluído, assim todas as informações estarão
presentes no trabalho. O futuro indica algo que ainda vai acontecer, que pode ser o caso da qualificação quando ainda
há um trabalho ainda por fazer, mas não é o caso da defesa. O tempo passado pode dar idéia de algo que não acontece
mais. Pode-se usar o passado se se estiver estudando um caso já ocorrido.
Use uma forma impessoal. Escrever na 1ª pessoa do singular parece presunção, a 3ª pessoa do plural leva a uma
intimidade com o leitor que não cabe no texto científico. Busca-se verdades impessoais. Analise as 3 frases abaixo e
conclua por si só qual é a mais adequada para um relato científico:
“Eu fiz uma pesquisa sobre todas as possíveis alternativas.”
“Fizemos uma pesquisa sobre todas as possíveis alternativas.”
“Vamos fazer uma pesquisa sobre todas as possíveis alternativas”
“Todas as possíveis alternativas foram pesquisadas.”
Não abuse dos advérbios. Assim, portanto, chega-se finalmente à conclusão. Inicialmente, é preciso
identificar em primeiro lugar as prioridades. Os advérbios, assim como os adjetivos, ajudam a dar um colorido à frase,
mas eles podem deixar o texto pesado e tirar a fluidez da leitura. Use-os com prudência. Se uma palavra não acrescenta
significado ao texto ela deve ser retirada.
Retire palavras que não acrescentam significado ao texto. Faça uma crítica séria de cada palavra que usar.
Palavras que não acrescentam ao texto devem ser retiradas. Frases vazias devem ser eliminadas. Vícios de linguagem
devem ser abolidos. Frases como “Tipo assim”, “A nível de”, “Veja só”, nem pensar.
Não use apenas exemplos ou analogias como meio de definição. Este é um vício comum e demonstra ao
leitor atento que o autor não teve a capacidade de definir ou descrever o que pretende e, por isso, usa de exemplos e
analogias. A analogia ou exemplo serve bem à descrição oral, mas não pode ser o único meio de definição do texto.
Evite o estilo Pergunta, Resposta. Alguns gostam de escrever um texto iniciando com uma pergunta. Como
definir os requisitos?Os requisitos devem ser definidos como....
Observe que na maioria do casos a pergunta pode ser retirada do texto sem prejuízo ao entendimento do texto. Se for o
caso, retire a pergunta. Vá direto ao assunto.
Seja capaz de comprovar todas as suas afirmações. Mesmo em frases simples pode haver uma afirmação
perigosa. Evite afirmações pessoais, ou de caráter crítico sem uma comprovação com base em uma referência sólida.
Use a língua culta e seja rigoroso na ortografia e gramática. Não se pode aceitar erros de ortografia e
gramática em um texto científico. O uso de corretor ortográfico não garante um texto com qualidade. Considere
contratar um revisor profissional ou pedir ajuda a um amigo na fase final do trabalho. Seu orientador pode não ser uma
especialista neste assunto.
Como organizar o texto
A melhor forma de organizar o texto é dividir em uma estrutura lógica e linear. Nem sempre esta organização
perfeita, linear é possível, mas ela é a mais familiar ao leitor e a sua harmonia e balanceamento facilitam o
entendimento e a construção do trabalho e fortalecem a conclusão.
Ela se inicia com o título que deve traduzir o objetivo do trabalho com concisão, precisão e clareza. Evite
siglas herméticas, frases dúbias e exageradamente gerais. O título pode e deve ser revisto a qualquer momento para
traduzir com precisão o trabalho.
O objetivo do título deve ser detalhado em um objetivo geral da pesquisa. Nele deve haver algo de novo, de
motivador que justifique o trabalho da pesquisa e da leitura.
Este objetivo maior, para ser atingido, deve ser dividido em temas e objetivos mais específicos. O desenvolvimento de
tais temas específicos evolui e constrói de uma base para o detalhamento da proposta, que é a contribuição que o
trabalho faz à sua área de pesquisa. Esta proposta depois de detalhada deve ser então comprovada, por exemplo com a
elaboração de um experimento prático, ou por um protótipo que permita extrair uma conclusão para o trabalho.
Atividades Recomendadas
Segue algumas atividades que podem ajudar a elaborar um trabalho científico. Sem dúvida o pesquisador deve
se concentrar na pesquisa, leitura de trabalhos técnicos e redação. Mas algumas atividades paralelas podem facilitar o
trabalho:
Leitura de Jornais. A linguagem jornalística se aproxima mais da linguagem científica do que a literatura. Ela deve ser
precisa, concisa e em geral evita fazer afirmações sem a devida comprovação. Apesar das fontes das informações serem
diferentes, a estrutura do texto e o vocabulário do bom texto jornalístico pode ajudar muito a ampliar nosso vocabulário.
Leia com espírito crítico.
Tradução de artigos técnicos ligados à pesquisa. Ler completamente e traduzir de modo fiel um bom artigo
técnico pode ser uma atividade bastante enriquecedora para o pesquisador. Ao se deparar com um referência citada no
texto, tentar recuperar esta referência e buscar nela a confirmação do texto. Esta atividade constitui um importante
trabalho de pesquisa, que deve ser praticado com freqüência.
Leitura de textos sobre pesquisa científica. Como a maioria dos alunos não tem uma formação prévia em
pesquisa, recomendo a leitura de textos de pesquisa científica. As bibliotecas e livrarias têm uma quantidade grande
deles abordando vários aspectos e área de atuação. Mas não imagine que vai encontrar uma fórmula mágica, o trabalho
de pesquisa dá trabalho.
Leitura e consulta a um manual de estilo jornalístico. Apesar dos manuais de estilo serem voltados à
comunidade jornalística eles podem servir de base para uma abordagem mais crítica do texto escrito.
Desligar o corretor automático do Word. Cometa os seus próprios erros e seja responsável por eles.
Ter um bom dicionário de Português e de Inglês no computador. Eventualmente outras obras de referência
como uma enciclopédia, uma gramática, um Thesaurus ou um Dicionário técnico podem ser úteis também. Tenha o
hábito de consultar os dicionários para ter certeza do significado e do uso das palavras. Fuja dos tradutores automáticos.
A tecnologia de tradução automática de textos está longe de ser útil para textos técnicos e apoiar com qualidade uma
pesquisa.
Divirta-se. O aprendizado é uma atividade prazerosa, encontre o prazer de aprender e irá descobrir que o
trabalho de pesquisa e produção científica é uma das mais recompensadoras atividades intelectuais.
A seguir, serão apresentadas algumas regras práticas. Evidentemente, elas são de mero caráter típico-indicativo
e admitem exceções, mas podem auxiliar na hora de escrever ou revisar um texto acadêmico.
1. Antes de iniciar, organize um roteiro com as idéias e a ordem em que elas serão apresentadas. Estabeleça um
plano lógico para o texto. Só escreve com clareza quem tem as idéias claras na mente.
2. Trabalhe com um dicionário e uma gramática ao seu lado e não hesite em consultá-los sempre que surgirem
dúvidas.
3. Escreva sempre na ordem direta: sujeito + verbo + complemento.
4. Escreva sempre frases curtas e simples. Abuse dos pontos.
5. Prefira colocar ponto e iniciar nova frase a usar vírgulas. Uma frase repleta de vírgulas está pedindo pontos.
Na dúvida, use o ponto. Se a informação não merece nova frase não é importante e pode ser eliminada.
6. Evite orações intercaladas, parênteses e travessões. Algumas revistas internacionais aceitam o uso de
parênteses para reduzir o período.
7. Corte todas as palavras inúteis ou que acrescentam pouco ao conteúdo.
8. Evite as partículas de subordinação, tais como que, embora, onde, quando. Estas palavras alongam as frases de
forma confusa e cansativa. Use uma por frase, no máximo.
9. Use apenas os adjetivos e advérbios extremamente necessários.
10. Só use palavras precisas e específicas. Dentre elas, prefira as mais simples, usuais e curtas.
11. Evite repetições. Procure não usar verbos, substantivos aumentativos, diminutivos e superlativos mais de
uma vez num mesmo parágrafo.
12. Evite ecos (e.g. "avaliação da produção") e cacófatos (e.g. "...uma por cada tratamento" ... uma porcada...)
13. Prefira frases afirmativas.
14. Frases escritas em voz passiva são muito utilizadas em relatórios e trabalhos científicos, mas devem ser
evitadas.
15. Evite: regionalismos, jargões, modismos, lugar comum, abreviaturas sem a devida explicação, palavras e
frases longas.
16. Um parágrafo é uma unidade de pensamento. Sua primeira frase deve ser curta, enfática e,
preferencialmente, conter a informação principal. As demais devem corroborar o conteúdo apresentado na
primeira. A última frase deve seguir de ligação com o parágrafo seguinte. Pode conter a idéia principal se esta
for uma conclusão das informações apresentadas nos períodos anteriores.
17. Os parágrafos devem interligar-se de forma lógica.
18. Um parágrafo só ficará bom após cinco leituras e correções:
a) na primeira, cheque se está tudo em forma direta e modifique se necessário;
b) na segunda, procure repetições, ecos, cacófatos, orações intercaladas e partículas de subordinação; elimine-os;
c) na terceira, corte todas as palavras desnecessárias; elimine todos os adjetivos e advérbios que puder;
d) na quarta, procure erros de grafia, digitação e erros gramaticais, tais como de regência e concordância;
e) na quinta, cheque se as informações estão corretas e se realmente está escrito o que você pretendia escrever.
Veja se você não está adivinhando, pelo contexto, o sentido de uma frase mal redigida.
Após a correção de cada parágrafo, em separado, leia todo o texto três vezes e faça as correções
necessárias.
Na primeira leitura, observe se o texto está organizado segundo um plano lógico de apresentação do
conteúdo. Veja se a divisão em itens e subitens está bem estruturada; se os títulos de cada tópico são concisos e
refletem o conteúdo das informações que os seguem. Se for necessário, faça nova divisão do texto ou troque
parágrafos entre os itens. Analise se a mensagem principal que você desejava transmitir está de forma clara a ser
entendida pelo leitor.
Na segunda, observe se os parágrafos se interligam entre si. Veja se não há repetições da mesma
informação em pontos diferentes do texto, em períodos escritos de forma diversa, mas com significado
semelhante. Elimine todos os parágrafos que contenham informações irrelevantes ou fora do assunto do texto.
Na terceira leitura, cheque todas as informações, sobretudo valores numéricos, datas, equações, símbolos,
citações de tabelas e figuras, e as referências bibliográficas.
Lembre-se que textos longos e complexos, com frases retóricas e palavras incomuns não demonstram
erudição. Ao contrário, indicam que o autor precisa melhorar seu modo de escrever.
TEXTO 4
Leitura do texto científico
A leitura de um texto científico exige muito mais atenção do que a leitura de um texto de outro gênero. O texto
científico utiliza conceitos, teorias, uma linguagem mais complexa e uma ordem de raciocínio com a qual o estudante
que começa a cursar uma universidade ainda não está acostumado. Para aproveitar melhor suas leituras, você deve
seguir algumas diretrizes importantes, esquematizadas aqui.
Em primeiro lugar, você deve ter claro em sua cabeça os objetivos de sua leitura. A leitura do texto deve ser
capaz de:
permitir uma compreensão global do significado do texto
permitir uma interpretação crítica do texto
auxiliar no desenvolvimento do raciocínio lógico
fornecer instrumentos para o trabalho intelectual
Para tanto, sugerem-se três seguintes etapas de leitura :
Análise Textual
Análise Temática
Análise Interpretativa
Análise Textual
É o que você vai fazer assim que puser as mãos no texto. E aqui é preciso um cuidado especial. Hoje é muito
comum os professores “abrirem pastas” na fotocopiadora, onde vão colocando textos que os alunos chamam de
“apostilas”. Se você não quiser ser apenas um “aluno”, mas sim um “estudante”, você deve parar imediatamente de
chamar os textos de “apostila”.
O que você diria se alguém sempre chamasse o artilheiro do seu time de futebol de “reserva”? Isto te
incomodaria, não é? Afinal, aquele jogador é um “atacante”, e não um reserva. São nomes diferentes para tipos de
jogadores diferentes. Assim também acontece com os textos. Há textos de diferentes tipos: artigos, livros, capítulos de
livro, resenhas, monografias, dissertações, etc.
Se você quiser entender o que vai ler, primeiro deve conhecer bem o texto e chamá-lo pelo seu nome. É assim
que a gente ganha familiaridade com alguém , não é? Pois é assim que você vai começar a se familiarizar com o seu
texto. É preciso saber se ele é um artigo de uma revista, um capítulo de um livro, ou o que mais.
Mas como fazer isso, se o texto for apenas uma fotocópia na pasta do professor? Este é realmente um
problema. Por isso, na medida do possível, dispense a pasta do professor e vá atrás do texto na biblioteca. Lá, com uma
boa pesquisa bibliográfica você logo chega ao livro onde está o capítulo a ser lido, ou a revista onde está o artigo. Ter
acesso ao livro todo é ótimo para você saber mais sobre o texto que vai ler. Quem é o autor? Leia na orelha do livro.
Onde está este capítulo (no começo, no meio ou no fim do livro)? O que veio antes dele? O que vem depois. Esta é uma
“leitura” de reconhecimento que você vai fazer e que vai te ajudar muito a entender melhor o que vai ler no texto.
Mas se você não puder ir à biblioteca ou não encontrar o livro e tiver que ficar com a cópia na pasta do
professor? Então cobre do seu professor que ele escreva na fotocópia a referência bibliográfica completa do texto em
questão. Nela você descobre se o texto é artigo ou livro, qual o nome do livro ou revista de onde ele saiu, em que ano
foi publicado e quem é o autor. Com isso, seu trabalho de leitura fica muito mais fácil. Uma vez com o texto na mão,
veja qual o seu tamanho e quantos tópicos ele tem. Isso é importante para você dimensionar o tempo que vai levar lendo
o texto. Não adianta começar a ler um texto de 50 páginas se você só terá dez minutos.
Agora sim você está pronto para começar sua leitura. Esta leitura deve ser feita com concentração, em lugar
tranqüilo. Durante a leitura, você deve:
marcar o texto: faça anotações nas margens. Invente símbolos para marcar o que você julga ser importante, que
parágrafos deverão ser relidos depois, o que você não entendeu, onde você acha que estão as idéias principais. Isso
pode ser feito sublinhando linhas ou parágrafos, fazendo marcas nas margens ou anotando suas observações nos
cantos do papel. Se você estiver lendo um livro da biblioteca, NUNCA faça as marcas no livro, mas sim em uma
folha em branco, anotando o número da página e o parágrafo a que a nota se refere.
levantar vocabulário: anote as palavras que você não entendeu e busque seu significado no dicionário
Ao terminar esta leitura você deve buscar informações complementares sobre os fatos citados no texto, sobre as
doutrinas e linhas de pensamento apresentados e mesmo sobre o próprio autor. Por fim, faça um esquema do texto.
Assim, podemos esquematizar esta primeira etapa da leitura assim: A análise textual é a leitura que busca:
dar uma visão de conjunto do texto
nos permitir buscar esclarecimentos sobre o autor, fatos, doutrinas e autores citados no texto, bem como
vocabulário
fazer um esquema do texto
Análise Temática
É o momento em que vamos nos perguntar se realmente compreendemos a mensagem do autor no texto. Aqui
devemos recuperar:
o tema do texto
o problema que o autor se coloca
a idéia central e as secundárias do texto
Normalmente isto é feito junto com o esquema do texto. Nele, você irá indicar cada um dos itens acima,
reconstruindo o raciocínio do autor do texto; recuperando seu processo lógico.
Análise Interpretativa
É onde você fará a interpretação da mensagem do autor. Para isso é importante:
situar o texto no contexto da vida e obra do autor, bem como no contexto de outros textos sobre aquele assunto
explicitar os pressupostos dos quais o autor parte, suas teorias, as correntes de pensamento às quais ele se filia, seus
paradigmas, etc.
criticar o texto com relação à sua coerência, validade, originalidade, profundidade e alcance.
Você já deve ter percebido que para fazer uma análise interpretativa do texto você vai precisar já ter acumulado
algumas leituras anteriores sobre o tema em questão, não é? Pois é isso mesmo. Se este é o primeiro texto que você vai
ler sobre um tema, se contente em ficar só com as duas primeiras etapas de leitura. Com o tempo você começará a
desbravar a terceira e as próximas duas:
- Problematização
- Síntese Pessoal
Problematização
Esta é uma etapa que você só pode fazer se já tiver um bom acúmulo de leituras sobre o tema. Conhecendo
bem o assunto, tendo lido já o que outros autores dizem sobre aquilo, conhecendo as críticas que se fazem àquele autor
e àquelas idéias, você pode começar a problematizar o texto. Na prática, isso significa levantar e discutir problemas com
relação à mensagem do autor.
Síntese Pessoal
Por fim, você poderá fazer a sua própria síntese à respeito do texto.
Vale lembrar novamente que, no início do seu curso na Universidade, o ideal é que você faça bem as duas
primeiras etapas de leitura. Com o tempo, você começa a fazer a terceira e, após alguns semestres, você já estará
fazendo as cinco etapas.
TEXTO 5
MARGENS DO TEXTO CIENTÍFICO
Profa. Dra. Juliene da Silva Barros
O texto científico é um espaço complexo de constituição do conhecimento científico. A linguagem toma a
forma dos diferentes tipos de conhecimento que, por meio dela, se constituem e isso se expressa em gêneros textuais
específicos que servem a objetivos e propósitos diferentes dentro e fora da academia. O objetivo do texto científico é
produzir e divulgar verdades científicas. Por conta desse objetivo, esse texto não se direciona apenas à academia e sim à
humanidade, razão pela qual deve ter características que o façam universal e acessível a todos, como objetividade,
clareza, impessoalidade, linguagem técnica, recursos formais adequados(notas de rodapé, citações, referências. Tratase de um objeto complexo e plural que se materializa por meio de gêneros diferentes, tais como. 1). Gêneros didáticos:
Resumos, Resenhas, Relatórios, Projetos e outros. 2). Gêneros de divulgação: Artigos, Resenhas, Ensaios. 1). Gêneros
de conclusão e/ou aquisição de grau: Monografia, Ensaio,
Dissertação, Tese, Memorial.
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Redação e Técnicas de Apresentação de Trabalhos Científicos