Discurso do Deputado Mendes Bota no debate sobre o Projecto de Resolução nº
794/XII/2ª (PEV), que “Recomenda ao Governo que proceda às obras de
remodelação e electrificação da Linha do Algarve e do Projecto de Resolução nº
855/XII/3ª (BE), que “Recomenda ao Governo que promova as medidas
necessárias à requalificação da via férrea do Algarve”
Plenário da Assembleia da República, 25 de Outubro de 2013
Senhora Presidente,
Senhoras Deputadas,
Senhores Deputados,
Temos hoje aqui um caso curioso, em que a carruagem do Bloco de Esquerda se
atrelou à carruagem d’Os Verdes, tentando pôr o comboio na linha do Algarve em
marcha. E, de facto, se partilhamos das preocupações, e também partilhamos dos
mesmos objectivos, que é termos uma linha ferroviária do Algarve à medida das
necessidades da região, é também necessário dizer que seria de esperar um pouco mais
de cuidado na elaboração destes dois projectos de resolução.
Há informação que está desactualizada. Lamento dizer-vos, mas não fizeram
bem o vosso trabalho de casa. Neste momento, desde 2012, o número de passageiros já
não é de 2 milhões. É de 1,6 milhões de passageiros.
Por outro lado, os senhores falam aqui de que nada foi feito. Desconhecem a
realidade. Não vão lá abaixo. Vão ao troço entre Faro e Vila Real de Santo António:
está praticamente concluída a sinalização automática. Tal como foi concluída a
sinalização automática entre Tunes e Lagos – está concluída. A maior parte da linha foi
renovada. Não foi feito o carril duplo, é evidente, mas já lá iremos.
Os senhores não fizeram o vosso trabalho de casa. Vêm aqui falar de uma
situação que já não é exactamente igual àquela que relataram.
Falam de que nada mudou. Pois a verdade é esta: a duplicação da linha não é a
maior necessidade da linha do Algarve. O que precisamos, é daquilo que é chamado um
“desvio activo”, entre Faro e Olhão, e que está previsto para os Salgados. Isso é que é
necessário fazer.
Quanto ao resto, a grande necessidade é a electrificação. E nisso, partilhamos a
mesma preocupação. Só que os senhores querem pôr o comboio a andar na linha do
Algarve, mas não se preocuparam em saber qual é o tipo de combustível com que esse
comboio vai andar.
E eu pergunto-vos: e o combustível financeiro? Os senhores fizeram contas?
Sabem quanto é que é necessário? Não fizeram contas. Porque é muito fácil dizer que o
comboio vai andar, mas não sabem de onde vem o dinheiro para fazê-lo andar.
Os senhores querem tudo. Querem a duplicação da linha, querem a electrificação,
querem também a ligação à Andaluzia… Isso são peanuts, custa uma bagatela…
Portanto, faz-se tudo. Só não dizem é de onde vem o dinheiro para alimentar esse
comboio e essa máquina.
E depois, na vossa preocupação com uma ‘fotografia’ que está desactualizada –
e eu já provei que estava – não falam de coisas que são essenciais. E eu vou dizer-vos o
que é essencial.
No Algarve, é essencial ligar a via férrea ao aeroporto. É essencial fazer um
ramal desde o Marchil até ao aeroporto. É essencial criar um comboio suburbano entre
Olhão, Faro e o aeroporto, e criar novos apeadeiros no Fórum Algarve, no Montenegro,
nas Gambelas.
Disso os senhores não falam. Isso é que é o essencial! Porque isso iria pegar na
maior parte das pessoas que utilizam a via férrea e, com comboios suburbanos com uma
frequência pelo menos de 30 em 30 minutos, poderia servir muito bem as populações do
Algarve.
Os senhores não falam nisso. Não falam na preocupação financeira. É evidente
que quem não se preocupou que em 10 anos o défice de endividamento das empresas
públicas ligadas aos transportes públicos rodoviários e à infraestrutura ferroviária tenha
chegado a 16,7 mil milhões de euros de dívida à banca com o aval do Estado [não se
preocupam com isso].
Se nada fosse feito em termos de contenção, em 2015, estaríamos em 23 mil
milhões de euros. Mas isso são questões de somenos para os senhores da bancada do
Bloco de Esquerda ou d’Os Verdes ou até do Partido Comunista. Não lhes interessa
fazer contas. É por isso, graças a essa inconsciência, que Portugal entrou no buraco.
Nós queremos de facto uma linha do Algarve melhor. Mas nesse comboio nós
não alinhamos e a nossa carruagem não será atrelada a isso.
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25/10/2013 - ferrovia: linha regional do algarve