CATEGORIA ESTUDANTE DE GRADUAÇÃO TEMA 1 MENÇÃO HONROSA IANDRA DE SOUZA MALDANER DISCRIMINAÇÃO POR GÊNERO NO MERCADO DE TRABALHO PARANAENSE Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 527 25/4/2007, 12:07 RESUMO Este trabalho tem como intuito examinar os salários dos trabalhadores no estado do Paraná, especificamente no ano de 2001, e verificar se existem diferenças salariais por gênero provindas de discriminação. Os dados foram coletados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2001 e em alguns dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do mesmo ano. Foi aplicada a decomposição de Ronald Oaxaca para verificar a existência de discriminação por gênero nos setores formal e informal do mercado de trabalho, por meio de uma regressão de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), na qual a variável dependente é o logaritmo do salário e as variáveis explicativas são: educação, experiência, experiência ao quadrado e interação das variáveis educação e experiência. Pode-se verificar que os salários femininos são inferiores nos dois setores e que existe discriminação contra as mulheres no mercado de trabalho paranaense. No entanto, no setor formal, a discriminação é aparente, pois a experiência é levada em conta na remuneração do trabalhador, e a mulher a possui em menor quantidade que o homem. Quanto ao setor informal, pode-se dizer que existe discriminação salarial própria, uma vez que a mulher apresenta as características produtivas exigidas no mercado de trabalho, mas não é remunerada de acordo. 1 INTRODUÇÃO Uma das características importante do mercado de trabalho brasileiro é a ocorrência de diferenças salariais. Essa questão é um tanto delicada, pois o salário-mínimo, criado a fim de corrigir a imperfeição do mercado de trabalho capitalista e garantir ao trabalhador e família condições básicas de subsistência, não atingiu seu objetivo, uma vez que, após a fixação de seu primeiro valor em 1940, seu poder aquisitivo tendeu a cair muito até hoje (DIEESE, 2002). Uma outra característica que vem sendo enfrentada no mercado de trabalho brasileiro é o diferencial salarial entre homens e mulheres. Segundo Silva (1987), o estudo das diferenças salariais é justificado pelas várias relações sociais e econômicas existentes, tornando-o o elo final da hierarquização nas sociedades modernas, sendo que esta determina os níveis de bem-estar atingíveis pelas pessoas. No Brasil são analisados quatro grupos de características para estudar as diferenças salariais, quais sejam: individuais, empresariais, setoriais e regionais. A partir do pressuposto de que as diferenças salariais existem e são elevadas, pretende-se averiguar quais são as variáveis relevantes na explicação dessa diferenciação. Segundo Fontes e Arbex (2000), esse tipo de análise é importante para o Brasil em razão, principalmente, da estrutura e das características recentes da 529 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 529 25/4/2007, 12:07 economia e do mercado de trabalho, quais sejam: grande concentração pessoal de renda; vasta heterogeneidade da qualidade da força de trabalho; elevada parcela da força de trabalho ocupada em atividades informais; acentuadas desigualdades regionais; liberalização comercial, desregulamentação dos mercados e privatização de empresas estatais; longo e persistente processo inflacionário até recentemente e implantação de seguidos planos de estabilização e ajuste estrutural. Ao longo da segunda metade do século passado foram detectadas disparidades salariais. Várias políticas salariais foram adotadas para tentar dividir melhor a renda nacional. Essas políticas foram pouco eficientes, pois as disparidades na distribuição da renda persistiram (DIEESE, 2002). Conforme Chahad (1986), diferenças educacionais que existem entre os trabalhadores constituem o principal fator que determina as disparidades salariais, mas a idade, gênero, setor de atividade, região de residência também dão sua contribuição para a remuneração do indivíduo. A discriminação por gênero no mercado de trabalho ocorre quando homens e mulheres, com as mesmas preferências e atributos produtivos, recebem remunerações diferenciadas na força de trabalho, em termos de salários e ou de acesso ao trabalho. Uma parcela da diferença de remuneração entre gêneros pode ser atribuída a diferenças de preferência e de qualificação entre os trabalhadores. No entanto, há uma parcela residual, que não se refere nem a preferências e nem à qualificação e que pode ser considerada indicador de discriminação (BAPTISTA, 1999). Ações discriminatórias no mercado de trabalho são freqüentes. Existem dois tipos de discriminação, a de cunho salarial, quando os trabalhadores são igualmente produtivos e ocupam os mesmos postos de trabalho, mas recebem diferentes salários; e a de caráter alocativo, quando os trabalhadores igualmente produtivos têm chances diferentes de ocupar postos de trabalho de alta produtividade (JACINTO et al., 2002). Segundo Arrow (1972, apud LOUREIRO, 2000), mercado é o local em que ofertantes e demandantes negociam determinado produto, envolvendo apenas relações interpessoais (nesse local não há discriminação), desde que este não sofra influência de fatores não-mercado (networks ou interação social), no comportamento econômico. O comportamento econômico depende da natureza das crenças e atitudes determinadas culturalmente e condicionadas pelas instituições sociais. Mercados competitivos, por ter forte interação social, geram forte discriminação. 530 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 530 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 A questão da permanência no trabalho é, às vezes, citada como um elemento que ajudaria a explicar o diferencial de salários entre homens e mulheres. Alguns estudos, relacionados às questões salariais, demonstram que, em média, os salários dos homens são superiores aos das mulheres, mesmo após o controle por diversas características observáveis. Uma possível interpretação é que se trata de uma discriminação no mercado de trabalho. Entretanto, podem existir outros tipos de possibilidades de entender essa observação, entre elas, a necessidade de engajamento no trabalho. Como em situações em que as mulheres dividem seu tempo de atividade entre o mercado de trabalho e o trabalho doméstico. Postos de trabalho que proporcionem essa possibilidade de flexibilidade no emprego, certamente remuneram menos (FERNANDES, 2002). Em muitos aspectos da vida, a discriminação é difícil ou impossível de se medir, mas, em outros, a mensuração é possível, é o caso do mercado de trabalho, no qual há possibilidade de se mensurar os efeitos da discriminação. Neste trabalho pretende-se estudar, quantitativamente, os resultados sobre os indivíduos das práticas discriminatórias no Paraná, ou seja, investigar as diferenças salariais no estado para o ano de 2001, empregando a decomposição de Ronald Oaxaca, que mede a discriminação por gênero. 1.1 O problema e sua importância A inserção da mulher no mundo do trabalho vem sendo acompanhada, ao longo dos anos, por elevado grau de discriminação, não só no que tange à qualidade das ocupações que têm sido criadas tanto no setor formal como no informal do mercado de trabalho, mas principalmente no que se refere à desigualdade salarial entre homens e mulheres (MAIA; LIRA, 2002). Na teoria da discriminação no mercado de trabalho, observa-se um ou mais grupos em situação desfavorável a outro grupo considerado ideal ou padrão, levando em conta suas características não produtivas, como a cor da pele, a opção sexual, a religião, o sexo, a origem social, ou quase qualquer outra marca que se impõe aos indivíduos. Considerando que há poucas informações sobre o mercado de trabalho em geral no Paraná e mais especificamente sobre o mercado de trabalho feminino, ou seja, a questão de gênero é pouquíssimo considerada nesse estado, que vem acompanhando a evolução de desenvolvimento nacional ao longo dos anos, com crescimento industrial, tecnológico e agrícola, e por possuir uma economia forte. Essa informação da situação do trabalho feminino é importante para as políticas públicas ativas de qualificação e emprego no Paraná, por exemplo, as autoridades públicas podem estar gastando recursos para qualificar o segmento que sofre discriminação, e a política do estado deveria ter outro 531 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 531 25/4/2007, 12:07 modelo. Seguindo Soares (2000), onde existem diferenças, existem indivíduos cujas vidas são prejudicadas por pertencerem a um ou outro grupo que foge a determinadas normas impostas. Uma das esferas da sociedade na qual é possível mensurar os efeitos da discriminação é no mercado de trabalho. E por que medir a discriminação pela renda? Porque, ainda que existam dificuldades de mensuração, não há ambigüidade sobre a desejabilidade da renda. Participar ou não do mercado de trabalho, a escolha do setor de atividade ou o número de horas trabalhadas são resultados complexos que podem refletir escolhas e não discriminação, mas dinheiro é importante para todos, ceteris paribus (MAIA; LIRA, 2002). Deseja-se verificar aqui se existe diferença salarial no mercado de trabalho paranaense entre homens e mulheres. Caso ela exista, seria em decorrência da discriminação? Ou seja, Existe discriminação salarial por gênero no estado do Paraná? 1.2 Objetivo O objetivo geral deste trabalho é investigar as diferenças salariais por gênero no estado do Paraná no ano de 2001, abordando questões a respeito dos níveis dessas diferentes remunerações e verificando se existe discriminação. 1.3 Estrutura do trabalho Além da introdução e do objetivo, o trabalho está subdividido em cinco partes. Na segunda seção, são definidas as variáveis e a metodologia empregada no trabalho. Na terceira seção, é apresentada a revisão de literatura referente ao mercado de trabalho e à participação feminina nos postos de trabalho. A quarta seção traz os resultados encontrados e, por fim, a quinta seção apresenta as conclusões do trabalho. 2 METODOLOGIA A pesquisa a ser desenvolvida neste estudo tem conteúdo descritivo, em que o objetivo primordial é a descrição das características de determinada população ou fenômeno, dedicando-se a uma pesquisa da literatura existente sobre o mercado de trabalho, tais como: de Katy Maia (2002), Ronald Oaxaca (1973), José Pastore (2000); entre outros. Para tanto, adota-se a sistemática normalmente empregada nos trabalhos de revisão de literatura, orientados por análise, leituras, e a sua organização a partir do eixo básico da diferenciação salarial, pois se trata de uma literatura muito rica. 532 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 532 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 2.1 Procedimentos metodológicos A partir dos microdados de 2001 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), disponibilizada pela base de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são verificadas as diferenças salariais, bem como investigado o grau de discriminação por gênero no mercado de trabalho paranaense. São também utilizados, a título de comparação, os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), disponibilizada pelo Ministério do trabalho e Emprego (MTE). Aplica-se ainda o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), para processar os dados da Pnad. Neste trabalho, considera-se que o setor formal do mercado de trabalho é constituído por trabalhadores com carteira assinada, militares, funcionários públicos e trabalhadoras domésticas com carteira assinada. O setor informal do mercado de trabalho é formado por empregados sem carteira assinada, trabalhadores por conta-própria e trabalhadoras domésticas sem carteira assinada. 2.2 Medindo a discriminação Por meio do programa SPSS, é calculado o chi-square ou qui-quadrado (X2) para verificar se a maior proporção salarial é de fato a masculina. Para proceder ao teste, basta obter duas amostras aleatórias independentes, uma de cada população (masculina e feminina), e aplicar o teste, conforme Hoffmann (1991). A pesquisa também aplica o método econométrico. Para a análise da diferença dos salários entre homens e mulheres, utiliza-se o modelo desenvolvido por Oaxaca (1973), que foi criado para estudar a questão da discriminação sexual e racial, utilizando funções de salário da Teoria do Capital Humano. Usando a análise de regressão decompõe-se o diferencial de salários médio por gênero em um diferencial em razão dos atributos pessoais ou variáveis de controle da regressão de salários, e outro diferencial em decorrência do tratamento diferenciado do mercado para homens e mulheres. Aqui se pretende mensurar o grau da discriminação por gênero nos mercados de trabalho formal e informal, bem como a análise dos resultados. A discriminação será examinada pela seguinte ótica: existe um grupo padrão – os homens –, que estabelece a norma no mercado de trabalho, e outro grupo – as mulheres –, que sofre uma possível discriminação (SOARES, 2000). Essa metodologia mede todas as características teoricamente relevantes à determinação de ganhos como a escolaridade, por exemplo. Estima-se estatisticamente como cada uma dessas características contribui para os ganhos das mulheres, associando cada característica aos rendimentos dessas trabalhadoras. Após, calculase quanto as mulheres ganhariam se suas características produtivas fossem as 533 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 533 25/4/2007, 12:07 mesmas que as dos homens. Na ausência de discriminação, as mulheres e os homens com as mesmas características produtivas deveriam ter salários iguais (CHAVES, 2000). O modelo tem como variável dependente o salário e como variáveis independentes ou explicativas a educação, a experiência (idade–educação), experiência ao quadrado, interação entre as variáveis educação e experiência (educação*experiência). Visto que todas essas variáveis podem trazer reflexos em relação ao salário do indivíduo, e conforme a teoria do capital quanto maior o estoque de habilidades e conhecimento do indivíduo, maior é o incremento salarial do trabalho por ele desenvolvido. O modelo baseia-se em estimativas da função de salário para os grupos a serem considerados, no caso deste estudo, homens e mulheres que trabalharam no mercado paranaense em 2001. De acordo com Mincer (1974), que formulou a função salário do capital humano, na qual relaciona o logaritmo natural do salário com o investimento em capital humano (anos de estudo e experiência), o capital humano determina o rendimento do trabalho individual conforme a produtividade do indivíduo. 2.3 Decomposição de Oaxaca Segundo Ronald Oaxaca, as equações abaixo seguem o modelo de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) e são utilizadas para medir a discriminação sofrida pelos indivíduos expostos à situação de exclusão; neste caso, exclusão por gênero. A decomposição de Oaxaca tem as seguintes equações: ln wm = α + β mi X mi + µ mi (1) ln w f = α + β fi X fi + µ fi (2) Onde, wm = salário masculino e wf = salário feminino, e onde α é o intercepto da regressão; X é o vetor das variáveis de capital humano, lnw é o logaritmo do salário; β é o vetor dos coeficientes; e é o erro ou termo aleatório. Os subescritos m e f representam, respectivamente, as variáveis do gênero masculino e feminino; e o subescrito i indica o número de indivíduos participantes da amostra, de forma que i = 1, ... , n. As estimativas da função salário 1 e 2, pelo método dos Mínimos 534 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 534 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 Quadrados Ordinários (MQO), podem ser escritas como: ln wm = αˆ m + βˆ m X m (3) ln w f = αˆ f + βˆ f X f (4) Onde X indica o valor médio e o acento circunflexo sobre e representam os valores estimados, de forma que a diferença de rendimentos pode ser determinada como as diferenças entre as equações 3 e 4. ∆ w = ln wm − ln w f = (αˆ m − αˆ f ) + βˆ m X m − βˆ f X f (5) Para aplicar a decomposição de Oaxaca (1973), deve-se incluir na equação 5 a subtração e a soma de uma média artificial, que é dada pelo produto dos coeficientes da regressão das mulheres, o grupo considerado em desvantagem, e a média da dotação dos atributos dos homens, o grupo considerado em vantagem, ou seja, : ln wm − ln w f = (αˆ m − αˆ f ) + βˆ m X m − βˆ f X f + βˆ f X m − βˆ f X m (6) Pelo rearranjo da equação (6), obtém-se: ln wm − ln w f = (αˆ m − αˆ f ) + βˆ m X m − βˆ f X m + βˆ f X m − βˆ f X f ( ) ( ln wm − ln w f = (αˆ m − αˆ f ) + X m βˆ m − βˆ f + βˆ f X m − X f ( ) ( O primeiro termo, αˆ m − αˆ f + X m βˆ m − βˆ f (7) ) ) é o termo de discri- minação, pois indica se há diferenças ou não nos rendimentos em decorrência ( da discriminação salarial contra as mulheres. O segundo termo βˆ f X m − X f ) mostra a diferença nos rendimentos em razão das diferenças na dotação de atributos produtivos, o capital humano (MAIA; LIRA, 2002). 535 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 535 25/4/2007, 12:07 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Economia brasileira nas décadas de 1970 a 1990 Tendo como base a situação da economia brasileira e considerando ainda a análise da economia paranaense neste trabalho, será mais fácil tirar as conclusões a respeito do mercado de trabalho no Paraná e comparar, em termos de desempenho produtivo e econômico, se é um estado que remunera sua massa trabalhadora de acordo com a realidade consistente nas condições do mercado nacional. Segundo Fontes e Arbex (2000), a partir de 1973, com a elevação dos preços do petróleo, o Brasil tinha duas opções: reduzir a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e, com isso, manter o equilíbrio de suas contas externas ou, como segunda opção, manter as taxas de crescimento dos anos anteriores via endividamento externo. O governo escolheu a segunda opção, muito mais por razões políticas do que econômicas. As conseqüências pela opção do crescimento via endividamento externo começam a aparecer em 1979. A taxa de inflação se torna crescente, e o pagamento de juros e amortizações da dívida externa atingiam cerca de 70% do valor das exportações. A crise da dívida externa, no início dos anos 1980, interrompeu o fluxo de capital estrangeiro para o Brasil, e a reação do país à imposição do pagamento dos enormes encargos da dívida implicou a paralisação dos investimentos e a dedicação da capacidade de produção nacional para gerar os dólares necessários, por meio de superávit no comércio exterior, importando o mínimo e exportando tudo que fosse possível vender aos outros países. Isso onerou o bem-estar socioeconômico dos brasileiros. O país tinha desenvolvido sua economia, desde 1968, na base do endividamento externo, sem construir um sistema de financiamento em torno da moeda nacional, e não se mostrou à altura quando lhe foi exigido enfrentar o colapso externo, provocado por mudanças nas condições de operação do mercado financeiro internacional no final da década de 1970 (BALTAR, 2000). Durante a segunda metade da década de 1980, a política econômica brasileira concentrou-se no combate à inflação. Os planos de estabilização de inspiração ortodoxa, adotados entre 1981 e 1984, promoveram o ajustamento externo da economia, mas não conseguiram evitar a escalada de inflação (MODIANO, 1992). Na década de 1980, o aumento da pobreza e das desigualdades de distribuição de renda entre pessoas economicamente ativas foi atribuído ao baixo crescimento do PIB brasileiro, em razão, sobretudo, da taxa de inflação (FONTES; ARBEX, 2000). 536 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 536 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 Barros et al. (1996, apud FONTES et al., 2000) encontraram relação positiva entre inflação e pobreza na década de 1980. No entanto, em 1988 e 1989, quando a inflação atingiu patamares relativamente elevados, tornou-se um fenômeno permanente; ela passava a afetar menos a pobreza do que o desemprego. As condições do mercado financeiro internacional se modificaram, novamente, no início da década de 1990. A política de comércio internacional do país sofreu profundas alterações, com a liberalização comercial acompanhada por incentivos à entrada de capitais estrangeiros, desregulamentação do mercado e privatização das empresas, além de medidas de estabilização. A nova orientação política do país provocou transformações no mercado de trabalho, principalmente em termos de emprego e salário (RAPOSO; MACHADO, 2002). Voltou a ser atrativo para as instituições financeiras internacionais aplicar capital em países subdesenvolvidos, como o Brasil. O governo brasileiro, de modo análogo ao de muitos outros países subdesenvolvidos, modificou a legislação que fixa o tratamento dispensado ao capital estrangeiro. A nova legislação facilitou a entrada e saída de capital financeiro do país, a remessa de lucros e dividendos e o acesso de estrangeiros aos mercados domésticos de ações e títulos de dívida. A entrada de capital estrangeiro no Brasil foi tão grande que, além de cobrir um enorme e crescente déficit de conta corrente do balanço de pagamentos e de aumentar substancialmente o nível das reservas internacionais do país, provocou a valorização da moeda nacional, ao baixar o preço do dólar, apesar da inflação. A enxurrada de dólares, atraída pelo baixo valor da riqueza, num país que tinha investido muito no passado, mas sofreu para pagar o serviço da dívida externa, na década anterior, viabilizou uma redução abrupta da inflação. A moeda artificialmente valorizada durou de meados de 1994 até início de 1999 e exigiu taxas de juros brutais que arrasaram o patrimônio dos que dependeram da renovação do crédito doméstico. As altas taxas de juros provocaram um violento aumento da dívida pública, com repercussões no sentido de paralisar todo o aparelho do Estado, nos níveis federal, estadual e municipal, além de acelerar a venda, a baixo preço, do patrimônio público (BALTAR, 2000). De acordo com Cacciamali (1999), no Brasil, a década de 1990 iniciou-se em um ambiente de abertura comercial e de recessão econômica. A partir de 1993, o nível de atividade econômica recuperou-se e, no ano seguinte, a administração Itamar Franco implementou um programa de estabilização econômica. Sob a administração do então presidente Fernando Henrique Cardoso, em anos subseqüentes, com elevadas taxas de juros, de desvalorização cambial e de lenta recuperação dos investimentos, o crescimento da atividade econômica foi positivo, no entanto, 537 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 537 25/4/2007, 12:07 não conseguiu elevar o número de empregos, na intenção de adequá-lo ao crescimento da População Economicamente Ativa (PEA). Em 1994, as altas taxas de inflação foram contidas e mantidas em um patamar baixo, por meio do Plano Real, com o que os mais pobres passaram a exercer sua capacidade aquisitiva, o setor de bens de consumo duráveis expandiu-se de maneira significativa, atendendo a demandas reprimidas da população, que foram sustentadas por políticas de crédito ao consumidor com juros elevados, mas prazos longos. Dessa forma, iniciou-se aí um processo de ajustamento dos preços e uma certa recuperação dos investimentos conduzidos pelo setor privado. Os preços foram estabilizados com essa abertura econômica (CACCIAMALI, 1999). Segundo Fontes et al. (2000), a maior abertura econômica nos anos 1990 estimulou a redução de tarifas, rompendo o modelo de desenvolvimento que visava à proteção da indústria nacional. A presença de concorrentes estrangeiros e a necessidade de competir internacionalmente fizeram o setor produtivo nacional investir maciçamente em tecnologia para aumentar a produtividade. A conseqüência dessas transformações foi a alta da taxa de desemprego, principalmente no setor industrial. A desvalorização do real em 1999 encerrou uma etapa da enorme modificação que ocorreu na economia brasileira desde o início da década (BALTAR, 2000). A seguir é apresentada uma visão das diferentes fases de desenvolvimento da economia paranaense no contexto das transformações que ocorreram na dinâmica espacial da economia brasileira. 3.1.1 Economia paranaense na década de 1990 A abertura econômica na década de 1990 trouxe profundas transformações nas economias. O estado do Paraná, com características de predominância de atividades primárias e industriais tradicionais experimentou uma transição para setores com padrões tecnológicos e organizacionais modernos. Em fins da década de 1980, apresentou modificações significativas na sua base produtiva e obteve um desempenho industrial superior ao do Brasil (MAIA, 2002). Em 1990, a queda do PIB agropecuário foi de 9,7%, enquanto o da indústria retraiu 4,8%. O declínio foi praticamente geral, com quedas em segmentos vinculados à agropecuária e nos ramos fornecedores da construção civil. A exceção ficou com os setores de mecânica, material de transporte, papel e papelão (CASTRO, 1999). O processo de retração da economia, tanto do Brasil quanto do Paraná, a partir de 1991, intensificou-se em decorrência da tentativa de controlar a 538 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 538 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 inflação, que combinava arrocho salarial, juros reais elevados e contenção fiscal. Apesar da crise recessiva nos dois primeiros anos da década, o PIB do Paraná cresceu a uma taxa anual de 4,1% entre 1990 e 1993, enquanto o Brasil registrou um crescimento de 1,4% (LOURENÇO, 1994). A partir de 1992, a tendência de queda da participação no PIB nacional se reverteu, em função de aumentos da produção agropecuária e do aumento industrial dos segmentos modernos da indústria. Na agropecuária, os principais produtos da década de 1980 entraram em crise, mas a soja voltou a crescer, por preços favoráveis, e a cana-de-açúcar se expande (ROLIM, 1995). Em 1994, o PIB do estado cresceu 6,6% contra 5,7% do Brasil, fruto do bom desempenho industrial estadual que aumentou 9,2%. Entre 1993 e 1994, a expansão do PIB estadual foi liderada pelo crescimento da renda do setor primário e seus efeitos multiplicadores para frente e para trás no setor de fabricação e venda de insumos, máquinas e implementos, no comércio interno e externo, no mercado de imóveis e bens duráveis e nos transportes rodoviário e ferroviário. Ainda a integração comercial entre Brasil e países do Mercosul contribuiu para esse desempenho favorável. O Paraná deixa de se caracterizar como exportador somente se produtos básicos. A proximidade do estado com países do Mercosul tem garantido vantagens comparativas e o incremento das exportações paranaenses do complexo agroindustrial para esse bloco econômico, comparado aos demais mercados mundiais (RODRIGUES et al., 2002). De acordo com dados relativos à agricultura estadual nos anos 1990, a produção de soja no Paraná cresceu de 4,7 milhões de toneladas na safra de 1992/93 para 9,4 milhões de toneladas na safra 2000/01, sendo assim, as exportações brasileiras de soja em grão cresceram significativamente (MARTINS et al., 2002). A partir de 1994, aumentaram as decisões de investimentos no estado, levando a instalações de novas empresas, ampliações e modernizações. O Paraná exporta produtos manufaturados (de maior valor agregado), o que faz elevar o nível de vendas externas em 130% de 1992 a 1999. A maior taxa de crescimentos refere-se ao grupo de gorduras, óleos e ceras animais e vegetais, com taxa de 122,50%. O grupo madeira, cortiça e seus derivados, cresceu 107,23%, e o grupo de produtos do reino vegetal cresceu 68%. Por outro lado, os produtos alimentícios, bebidas e fumo obtiveram taxa negativa de 33,98% (MAIA, 2002). A abertura comercial ampliou o grau de exposição dos produtos nacionais à concorrência internacional, provocando ajustes relacionados à produtividade, como melhoria dos padrões de eficiência, controle de qualidade, treinamento de mãode-obra, racionalização das linhas de produção, modernização tecnológica e novas técnicas de administração e gestão. Esses ajustes recaíram sobre indústrias 539 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 539 25/4/2007, 12:07 metalúrgicas, mecânicas, materiais elétricos e de comunicações, equipamentos de transporte, química, produtos alimentares, bebidas e vestuário no estado (RODRIGUES et al., 2002). Rodrigues et al. (2002) observaram que o setor agropecuário, bem como os setores componentes da indústria de transformação, fabricação de minerais não metálicos e indústrias diversas, reduziram suas participações nos anos 1990 a 1995, juntamente com a indústria alimentar, como a indústria do café e beneficiamento de produtos vegetais, que caiu, talvez pela diversificação da indústria paranaense; e os setores metalúrgicos e mecânicos, materiais elétricos, materiais de transporte e celulose, papel e gráfica apresentaram maior dinamismo. A diversificação registrada na estrutura setorial do estado recebeu a influência de reformas estruturais, como privatização e modernização da economia, do Plano Real, decretado em julho de 1994, e do processo da abertura da economia, instaurado a partir de 1990, para atender às exigências de integração via Mercosul e fazer frente à globalização em curso. Esses fatores exigiram postura racional na condução de atividades das empresas, o que certamente condicionou o comportamento dos agentes produtivos no sentido dos ajustes necessários. Entre 1983 e 1990, verificou-se no estado intensa diminuição da força de trabalho ocupada na agricultura, de 46% para 33%. Em compensação, aumentou a força de trabalho ocupada na indústria e no setor serviços. As ocupações de baixa produtividade e informais também apresentaram crescimento no período (SEREIA et al., 2002). 3.2 Comportamento do mercado de trabalho na década de 1990 Segundo Amadeo (1999), para saber o desempenho do mercado de trabalho, é necessário examinar as dinâmicas de oferta e de demanda de trabalho. Sendo a oferta o número de pessoas que entram e saem do mercado de trabalho e a demanda o número de vagas abertas e fechadas. A partir desses dois componentes determinamse a taxa de desemprego, os salários e a produtividade do trabalho. O número de pessoas que a cada ano entram e saem do mercado de trabalho depende de dois grupos de fatores: a tendência demográfica do país e o desempenho da própria economia. Desde 1994 está ocorrendo uma queda substancial da oferta de trabalho entre os membros mais jovens das famílias, pessoas entre 15 e 24 anos de idade. A taxa de participação nessa faixa etária caiu de 54% para 51% da população entre 1994 a 1998. E entre 25 e 39 anos, auge da capacidade de trabalho, há um aumento na participação no mercado de trabalho, tendo em vista a exigência das empresas por trabalhadores experientes e mais qualificados, justamente o que oferecem os jovens maduros. Isso indica um aumento do nível de 540 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 540 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 qualificação da mão-de-obra, uma vez que os jovens estudam muito antes de enfrentar o mercado de trabalho. No entanto, a baixa geração de novas vagas está associada ao rápido crescimento da produtividade do trabalho, que requer trabalhadores mais qualificados (AMADEO, 1999). Desde o esgotamento da etapa de substituição de importações em fins dos anos 1970, a estrutura industrial brasileira passou por transformações provocadas pelo processo inflacionário dos anos 1980-1990, abertura comercial no início da década de 1990 e ciclos recessivos, configurando um processo de ajustamento econômico, com difusão de programas de contenção de despesas, racionalização de métodos produtivos e perfis gerenciais, além da melhoria da qualidade dos produtos. Essa reestruturação industrial provocou entre 1989 e 1994 uma redução de 24,6% no número médio de empregados por estabelecimento industrial. Passando o mercado de trabalho nacional por uma turbulência, em que os novos postos de trabalho que foram gerados eram provindos do setor informal, compostos por empregados sem carteira assinada, trabalhadores por conta própria e microempresários. A mão-de-obra feminina foi absorvida por meio da geração de novas ocupações com baixa qualidade do posto de trabalho, precarização das relações de trabalho e queda nos rendimentos dos trabalhadores; na segunda metade dos anos 1990, essa dinâmica foi alterada pelo fantasma do desemprego. As transformações do mercado de trabalho da última década foram mais sentidas pelos trabalhadores masculinos, sobretudo os menos qualificados, que cederam lugar para o sexo feminino (MELO, 2000). Algumas tendências mais importantes merecem destaque, como a migração do emprego do setor secundário (indústria) para o setor terciário (comércio, serviços, administração pública). Tão significativa quanto à migração do emprego do setor industrial para o setor de serviços foi a conversão dos empregos formais em informais. Até o início da década, o vínculo formal de trabalho foi a modalidade predominante de inserção, caracterizando a situação de mais da metade dos ocupados. A partir de então, o assalariamento formal sofreu um encolhimento contínuo, em termos relativos e absolutos. As demais modalidades, o vínculo empregatício informal, o trabalho por conta própria e a condição de empregador, experimentaram crescimento, ainda que esta última de forma residual. De modo geral, as ocupações formais tendem a ser significativamente mais bem remuneradas que as informais. Embora sejam fortes as variações ao longo do tempo, nos primeiros oito anos da década de 1990, os rendimentos dos assalariados com carteira foram, no mínimo, 30% maiores que os dos assalariados sem carteira e 15% mais elevados que os dos trabalhadores por contaprópria. Uma outra transformação ocorrida no mercado de trabalho, brasileiro na última década foi o ganho que se registra em termos de escolaridade dos ocupados na força de trabalho. O mercado de trabalho nos 541 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 541 25/4/2007, 12:07 anos 1990 não foi capaz de gerar postos de trabalho suficientes para absorver o crescimento de sua força de trabalho. Evidência disso foi o preocupante incremento nas taxas de desempregados, apesar da desaceleração no ritmo de crescimento do contingente dos que ingressam no mercado (COMIM; GUIMARÃES, 2002). Na década de 1990, houve três movimentos principais no comportamento das taxas de desemprego aberto, um período de ascensão nos primeiros anos, marcados por forte recessão econômica, quando a taxa de desemprego chega a 6%, em 1992; um segundo período de recuperação da economia e do emprego, que vai de 1993 a 1995, no qual a mesma se reduz quase um ponto percentual; e um terceiro momento de ascensão persistente e inusitada do desemprego aberto, que chega a se aproximar dos 8%, na média, em 1998 (COMIM; GUIMARÃES, 2002). 3.3 Diferenças salariais Os estudos das diferenças de salários são interessantes para o Brasil, tendo em vista a estrutura e as características recentes da economia e do mercado de trabalho: grande concentração pessoal de renda; vasta heterogeneidade da qualidade da força de trabalho; elevada parcela da força de trabalho ocupada em atividades informais; acentuadas desigualdades regionais; liberalização comercial, desregulamentação dos mercados e privatização de empresas estatais; longo e persistente processo inflacionário até recentemente; e implantação de seguidos planos de estabilização e ajuste estrutural (FONTES; ARBEX, 2000). Conforme Chahad (1986), os estudos de determinação e diferencial de salários podem vir a ser úteis às políticas públicas, por meio da indicação da importância da educação, experiência, sexo, região, filiação industrial para a determinação de salários, e estimando o tamanho da dispersão salarial entre trabalhadores com similar característica. Também, conforme observam Comim e Guimarães (2002), pode motivar um número crescente de iniciativas de políticas públicas voltadas para melhorar as condições de inserção dos trabalhadores no mercado de trabalho, criar alternativas de geração de renda, ou simplesmente mitigar dificuldades dos indivíduos expostos à situação de exclusão. A importância do estudo das diferenças salariais justifica-se por suas múltiplas relações sociais e econômicas, a ponto de torná-la o elo final das estruturas hierárquicas nas sociedades modernas. Essa hierarquização determina os níveis de bem-estar atingíveis pelas pessoas (SILVA, 1987). Em longo prazo a mudança na estrutura e no nível de emprego decorrem das mudanças tecnológicas, inovações operacionais e modificações na composição do produto. Já no curto prazo, fenômenos agudos como recessão 542 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 542 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 ou rápido crescimento econômico também tendem a alterar o perfil do emprego (CHAHAD, 1986). Para Amadeo (1999), o trabalho, antes era visto como homogêneo e estático; o capital, como fonte do progresso tecnológico. Atualmente, o dinamismo econômico está cada vez mais no conhecimento, nas habilidades e na experiência dos trabalhadores e não no capital físico ou nas empresas. A qualidade dos trabalhadores e a eficiência de sua relação com as empresas determinarão, em última análise, a rapidez do progresso econômico das nações. 3.3.1 Diferenças individuais Uma tentativa de explicação das diferenças salariais entre postos de trabalho e entre trabalhadores com semelhante conjunto de tarefas é pelas diferentes características individuais dos envolvidos, ou seja, aspectos relacionados à oferta de trabalho (SILVA, 1987). Possivelmente, as características produtivas acumuladas pelo indivíduo afetem o salário, ou seja, o capital humano, considerado pelos economistas como o nível intelectual dos indivíduos, obtido pela escolaridade e tempo de experiência acumulada, e isso tudo possivelmente afete a renda (COELHO; CORSEUIL, 2002). Uma maneira concisa e simples de se estimar diretamente as diferenças salariais associadas com a educação é por intermédio de equações de salários, baseadas no paradigma do capital humano. Existe uma relação positiva entre produtividade e escolaridade, de tal sorte que, ao tomar a decisão de investir mais tempo na aquisição de educação, o indivíduo estaria aumentando sua produtividade e elevando seu salário no mercado (FONTES; ARBEX, 2002). Mincer (1970, apud SILVA, 1987) afirma que a diferença salarial entre os indivíduos absolutamente sem qualificação e os possuidores de diferentes níveis de qualificação se explicaria pelo investimento em capital humano realizado por esses últimos. Kassouf (1994) mostra que, entre 1977 e 1996, os retornos à educação universitária e de ensino fundamental subiram, enquanto houve declínio das taxas de retorno à educação intermediária e do segundo ciclo de ensino fundamental. O autor também destaca que os retornos à educação variam com os ciclos econômicos, e que o comportamento desses retornos ao longo do ciclo de vida é tal que as diferenças de remuneração associada à idade maior crescem a uma taxa maior para os mais educados em relação aos menos educados, graças à interação entre educação e experiência. 543 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 543 25/4/2007, 12:07 Kassouf (1994) usa a idade como proxy em sua estimativa de equação de salários para dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN) de 1989. Ela estimou que para homens os salários crescessem até os 50 anos e para mulheres até os 45 anos de idade, e passam a decrescer em idades mais elevadas. Não só a experiência no mercado de trabalho afeta os salários, mas também a experiência na empresa. 3.3.2 Características empresariais Acredita-se que os salários sejam mais elásticos à experiência no emprego atual que à experiência no mercado de trabalho. Essa crença foi corroborada por Branco (1979), mostrando que um ano a mais na empresa tende a elevar os salários em 5%, sendo que um ano a mais no mercado de trabalho elevaria o salário entre 2% e 3%. No entanto, as características da empresa também influem no salário, como o tamanho da empresa, pois o tamanho define sua estrutura administrativa e de produção, determinando o grau de divisão do trabalho e a estrutura hierárquica de funções e salários; a produtividade do trabalho na empresa, sendo esperado que empresas com maior produtividade da mão-de-obra apresentem participações menores das folhas salariais nos seus custos de produção e em suas receitas; o desempenho empresarial, acreditando-se que empresas com melhor desempenho paguem salários melhores para semelhantes ocupações (BRANCO, 1979). Há ainda a medida do grau de existência de mercado interno de trabalho na empresa, ou seja, os gerentes e superiores assumem a empresa como proprietários e isso influencia no salário (FREITAS, 1992). 3.3.3 Características setoriais Características setoriais estão ligadas ao poder que teriam as empresas ou os trabalhadores do setor de se manifestarem nas discussões de reajuste salarial. No caso das empresas, é o poder de mercado que determina o repasse aos preços dos reajustes salariais concedidos. Para trabalhadores, é o poder dos sindicatos em obter melhorias salariais (SILVA, 1987). O poder sindical é uma segunda característica setorial importante para determinar salários. Arbache e Carneiro (1999) estimam a relação entre salário e o grau de sindicalização do trabalhador. Eles usam uma equação de salários com controles para experiência, experiência na firma, gênero, posição na família, estado civil, raça, grau de urbanização, região geográfica, ocupação, uso de hora extra e pagamento de benefícios não salariais. Os resultados mostram que os trabalhadores sindicalizados ganhavam em 1992 e 1995, cerca de 11% e 7% a mais que os não sindicalizados, respectivamente. 544 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 544 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 3.3.4 Características regionais No caso do Brasil, como há uma marcante diferença regional, a explicação para a existência de diversos salários mínimos, cada um válido para uma região delimitada, ao mesmo tempo em que reconhece as desigualdades regionais, incorpora tanto as diferenças de custo de vida quanto as de nível de desemprego (SILVA, 1987). Azzoni e Servo (2001, apud COELHO; CORSEUIL, 2002) analisam a questão de diferenças de salários por região metropolitana no Brasil. Evidencia-se que a região metropolitana exerce algum efeito sobre os salários, mesmo depois de controlar por diferenças de custo de vida. As estimativas foram realizadas em 1992, 1995 e 1997. Nesses três anos Brasília e São Paulo aparecem como as regiões que oferecem os maiores salários, enquanto que Recife e Fortaleza oferecem os menores. 3.3.5 Características pessoais não produtivas As características pessoais não produtivas referem-se aos atributos não responsáveis pela produtividade do indivíduo, ou seja, são as características observáveis das pessoas, como cor da pele, aparência, sexo e outros. Essas características podem pesar muito na hora de contratação, dependendo do empregador e do perfil de pessoa que ele procura para trabalhar em sua organização ou empresa. Diferenciais de salários referem-se à discriminação pela existência de diferenciais significativos e persistentes de renda entre grupos de raça, cor, sexo, e outros. Esses diferenciais não desaparecem mesmo quando controlados por uma série de características observáveis, como educação, idade, região de residência, ocupação, e outros. Uma possibilidade é que tais diferenciais reflitam características produtivas não observáveis e preferências distribuídas diferentemente entre os grupos. Entretanto, alguns autores têm argumentado que essas diferenças de renda constituem-se em uma evidência de que existe discriminação no mercado de trabalho. Existe discriminação quando no mercado de trabalho as pessoas são diferenciadas com base em atributos não produtivos, ou quando há situações em que pessoas igualmente produtivas são avaliadas diferentemente, com base no grupo ao qual pertencem (FERNANDES, 2002). No contexto brasileiro, caracterizado por uma economia em crise, pelos elevados níveis de pobreza e de concentração de renda, esse tipo de ineficiência tem efeitos negativos sobre o bem-estar da sociedade. A discriminação por sexo reduz o impacto da participação da mulher na redução da pobreza, seja nos domicílios onde ela representa um complemento da fonte principal de 545 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 545 25/4/2007, 12:07 renda ou nos domicílios em que ela constitui a fonte principal de rendimentos, situação que vem se tornando muito comum nos últimos anos, fruto do crescimento do número de descasamentos e do baixo índice de recasamento das mulheres (BAPTISTA, 1999). Segundo Barros e Mendonça (1996), a desigualdade de renda pode ser separada em fatores relacionados com desigualdade de condições e desigualdade de resultados. Desigualdade de condições diz respeito à desigualdade gerada por diferenças nos atributos produtivos com que a pessoa chega ao mercado, e são produzidos ao longo de sua vida, principalmente antes da entrada no mercado de trabalho. A desigualdade de resultado diz respeito ao tratamento que a pessoa recebe no mercado, tendo em vista seus atributos produtivos. Como o segundo diz respeito a um tratamento desigual, quando se esperaria que fosse eqüitativo a priori, ele é “social e eticamente inaceitável”. As teorias do capital humano e da sinalização sugerem que indicadores importantes da produtividade dos indivíduos são a escolaridade e a experiência (que pode ser aproximada pela idade). Entretanto, as teorias da segmentação do mercado de trabalho e do credencialismo, além da teoria dos diferenciais compensatórios, chamam a atenção para a importância do tipo de ocupação que o indivíduo tem para os diferenciais de salário. A segmentação e o credencialismo sugerem um diferencial por tipo de ocupações por este ser o locus que permite a separação das pessoas entre os empregos de alta e baixa produtividade (bons e maus empregos, de mercado primário e secundário), ou aqueles restritos às pessoas das classes dominantes e das classes periféricas (técnicas e de serviços manuais). A teoria dos diferenciais compensatórios indica que os salários em diferentes ocupações tendem a ser diferenciados também pelos atributos de cada um, em termos de aprazabilidade ou periculosidade (ARAÚJO; RIBEIRO, 2001). A teoria de discriminação de Becker, de 1957, tem uma estrutura neoclássica, determinada pelas preferências em discriminar, que podem ser de três tipos: discriminação do empregador, discriminação do empregado e discriminação do consumidor. O modelo permite que em um mercado competitivo cada agente tenha preferências diferentes e possa agir de acordo com essas preferências. Os agentes racionais geram preferências por discriminação (LOUREIRO, 2000). O modelo de discriminação de Arrow, de 1972, explica o diferencial de salários como uma reação racional à incerteza no mercado de trabalho. A discriminação surge quando características, tais como raça ou sexo, são utilizadas como critério de seleção. Os empregadores utilizarão essas características em suas decisões de contratação, de modo que os indivíduos são julgados de acordo 546 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 546 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 com a média das características às quais eles pertencem, bem como suas próprias características (LOUREIRO, 2000). Oaxaca (1973) encontrou evidências de que uma parte substancial da proporção do diferencial de salário entre homens e mulheres é em decorrência da presença de discriminação no mercado de trabalho. 3.4 Gênero e mercado de trabalho 3.4.1 Algumas considerações históricas sobre o gênero A partir da década de 1970, formam-se os primeiros movimentos de mulheres, principalmente em São Paulo, provindas da periferia, por meio das comunidades da Igreja Católica, reivindicando ao Estado o atendimento das necessidades básicas, como creches, melhores salários; reclamam do custo de vida e unem-se contra a carestia. A necessidade das creches era apontada como um dos principais problemas, pois as mulheres precisavam trabalhar fora, para ajudar nas despesas domésticas. Na década de 1980, grupos feministas espalham-se pelos principais centros urbanos do país. Por intermédio desses movimentos sociais que se constituem no interior da sociedade civil, a mulher aparece enquanto sujeito. Durante os anos 1970-1980, os movimentos de mulheres apontaram a participação das mesmas em vários setores da vida pública, lutando pelos seus direitos e necessidades por meio de manifestações, denunciando as desigualdades sociais imputadas às relações de gênero. A partir dos anos 1990, houve uma dispersão dos movimentos feministas e uma flagrante institucionalização. Algumas dessas mudanças podem ser identificadas no rápido crescimento das Organizações Não Governamentais (ONGs) feministas (SILVA, 1996). A crise econômica e o desemprego podem ser apontados como fatores de desmobilização. O país parece enfrentar um processo de descrença que impede grandes mobilizações populares. Mas, embora, a presença feminina seja ativa no mercado de trabalho, as relações sociais ainda são marcadas por relações de gênero. Trabalhadores e trabalhadoras são insertos no mercado de trabalho marcado por desigualdades atribuídas ao sexo. A diferença salarial entre homens e mulheres que exercem a mesma função é cada vez maior no país. Em pesquisa realizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em 1996, constatou-se que as mulheres estão recebendo em média dois terços do salário dos homens, em todos os setores da economia (SILVA, 1996). Camargo e Serrano (1983) utilizaram dados da Rais de 1976 para avaliar a discriminação por gênero na indústria, relacionada com a escolaridade, tamanho do estabelecimento, intensidade de capital no 547 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 547 25/4/2007, 12:07 setor e proporção de trabalhadores em cargos administrativos, e concluíram que existe discriminação salarial por homens e mulheres. Após intenso e árduo processo de luta, no decorrer da história, em uma sociedade tradicionalmente dominada pelos homens, as mulheres foram conquistando algumas condições de igualdade, como a conquista do direito ao voto em 1934, quando as mulheres puderam comparecer às urnas como eleitoras e como candidatas. Mesmo depois dos inegáveis avanços da Constituição de 1988, as mulheres ainda se defrontam com o preconceito, seu maior adversário, arraigado principalmente nos costumes. O assalariamento, que foi um dos principais motivos de luta das mulheres, continua sendo uma luta atual, luta essa em que é medido força com os homens, não por meio da brutalidade ou violência, mas sim pelo desempenho e dedicação no trabalho, pois as mulheres também estão em busca de uma realização profissional, que foi conquistada por poucas pioneiras que abriram os caminhos e os olhos, mostrando que as mulheres devem deixar a submissão de lado e buscar seus ideais normalmente, em um ciclo normal da vida, como na vida dos homens. 3.4.2 A participação da mulher no mercado de trabalho no Brasil Uma das mais importantes transformações sociais ocorridas no Brasil, desde os anos 1970, foi o aumento da participação feminina no mercado de trabalho (ARROIO; RÉGNIER, 2002). Em 1990, mais de dois terços (74%) da população ativa feminina estava concentrada no setor terciário, principalmente em algumas atividades como serviços comunitários, serviços de educação, serviços de saúde e serviços domésticos; isso pode demonstrar as principais características da força de trabalho feminina que, embora crescente, é proporcionalmente pequena e profissionalmente marginal, ou seja, é pequena em relação à participação dos homens e marginal por se tratar de atividades de média e baixa qualificação profissional (A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL, 2004). O Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud) elaborou dois índices para mensurar o avanço feminino na sociedade e no espaço de trabalho: o índice de desenvolvimento relacionado ao gênero (GDI), que considera a situação da mulher de acordo com os seguintes fatores: expectativa de vida ao nascer, alfabetização, matrículas nos diversos níveis escolares e Produto Interno Bruto (PIB) per capita; e o índice de poder (empowerment – EM) de gênero, que examina a participação feminina em termos de: cargos conquista- 548 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 548 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 dos no Congresso, número de administradoras e gerentes, no total das empresas, trabalhadoras profissionais e técnicas e PIB per capita. Em 1998, no primeiro índice, o Brasil ocupa a 66a posição, bem atrás da Argentina (35a), Uruguai (37a) e México (50a), e até de países islâmicos como a Malásia (57a) e a Líbia (65a). No índice EM, o Brasil não se posiciona melhor, ou seja, as mulheres representam mais de 40% da força de trabalho no país, porém em condições de trabalho mais precárias: contratos temporários, menor status social e demandando concentração no setor informal, conseqüentemente auferindo menor renda. Mesmo estudando por um período de tempo mais longo, o diferencial de remuneração persiste elevado, em São Paulo, por exemplo, as mulheres recebem por hora 76% do rendimento obtido pelos homens, e o desemprego feminino fica sempre acima do masculino. E quanto maior a escolaridade, maior a diferença salarial entre homens e mulheres na mesma ocupação. Esse padrão se repete em muitos países. Mas, para as mulheres brancas, essa diferença em relação aos homens está caindo. Projeções indicam que daqui a 30 anos não haverá mais discriminação salarial contra elas (ARROIO; RÉGNIER, 2002). Para o caso do Paraná, a proporção de homens no mercado de trabalho em 2001 foi superior à de mulheres, contudo essa diferença está se reduzindo, em 1992 a participação dos homens era de 68,13% e, em 2001, caiu para 63,55%, significando um aumento de quase 6% de mulheres nos postos de trabalho, no entanto, o rendimento das mulheres era 30,83% inferior ao dos homens em 1992 e passou em 2001 para 31,59%, apresentando um leve aumento dessa diferença dentro de um período de nove anos no estado do Paraná (MONARIN; CUNHA; MATOS, 2004). 3.4.3 Políticas públicas de gênero nacionais Pela Lei no 7.353, de 29 de agosto de 1985, foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), com a finalidade de “promover em âmbito nacional, políticas que visem a eliminar a discriminação da mulher, assegurando-lhe condições de liberdade e de igualdade de direitos, bem como sua plena participação nas atividades políticas, econômicas e culturais do país”. Desde a sua fundação, a CNDM estruturou-se de forma a desempenhar um papel relevante na Constituição de 1988, momento crucial de afirmação dos direitos de cidadania no Brasil (MONTAÑO; PITANGUY, 2003). O princípio da igualdade é consagrado nas Constituições brasileiras desde a época do Império, como princípio da igualdade perante a lei, ou seja, a lei trata a todos igualmente, sem levar em conta distinções. A prescrição contida no caput do art. 5o da Constituição de 1988 afirma: “todos são iguais perante 549 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 549 25/4/2007, 12:07 a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade(...)”. Esse princípio da igualdade é reafirmado dentro da Constituição por meio de muitas normas, como diz no mesmo art. 5o, I, em que: declara que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações. Depois, no art. 7o, XXX e XXXI, vêm regras de igualdade material, regras que proíbem distinções fundadas em certos fatores, ao vedarem diferença de salários, de exercício de funções e de critérios de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil e qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência (SILVA, 1995). A Constituição de 1988 dedicou, ainda, um longo capítulo à proteção dos direitos sociais, dentre eles os direitos trabalhistas, orientado por um modelo formal das relações empregatícias, não incorporando outras modalidades de organização do mercado de trabalho, ficando excluídos da proteção aqueles que exercem atividades no que se convencionou chamar de setor informal, que cresce cada dia mais em tamanho e quantidade (LAVINAS; BARSTED, 1996). Em 1997, foi implantado o Programa Brasil, Gênero e Raça, pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), de acordo com as diretrizes e os princípios da Convenção no 111 da Organização Internacional do Trabalho (MTE, 2004). A Convenção no 111, em seu art. 1o, limita as formas de discriminação aos casos em que haja exclusão ou preferência fundada na raça, cor, sexo, religião, opinião política, ascendência nacional ou origem social. O combate à discriminação é realizado por meio de Núcleos de Promoção da Igualdade de Oportunidade e de Combate à Discrimanção no Emprego e na Profissão que funcionam junto às Delegacias e Subdelegacias Regionais do Trabalho, tendo como fundamento jurídico a Convenção no 111 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que exige aos países que a ratificam elaborar política nacional que promova a igualdade de oportunidades e de tratamento em matéria de emprego e profissão, com o objetivo de eliminar toda a discriminação nessa matéria. Esses núcleos são apoiados por parcerias governamentais e não governamentais (Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), Secretarias Estaduais e Municipais do Trabalho, Ministérios e outros). Essas entidades ajudam na compreensão e no diálogo com os segmentos discriminados, uma vez que todos os indivíduos, respeitadas as diferenças, integram a sociedade sem distinção de qualquer natureza. A sensibilização e a conscientização sobre as práticas discriminatórias, outra atividade importante para os núcleos, são concretizadas por meio da realização de palestras, seminários, oficinas e grupos de trabalho em empresas, sindicatos de trabalhadores e entidades empresariais, universidades, organizações 550 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 550 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 governamentais e não governamentais, enfocando a aplicação das políticas das Convenções nos 100 e 111 da OIT (MTE, 2004). Atualmente, estão instalados 67 Núcleos de Promoção da Igualdade de Oportunidade e de Combate à Discriminação no Emprego e na Profissão nas Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs), em todas as regiões do país. Sendo, no estado do Paraná, uma delegacia vigente em Curitiba e cinco subdelegacias situadas em Maringá, Ponta Grossa, Londrina, Foz do Iguaçu e Cascavel. Algumas políticas que influenciam a decisão feminina sobre a intensidade de participação na força de trabalho, e que, portanto, afetam a segregação, referem-se à disponibilidade de condições de cuidados às crianças, seja através de creches no local de trabalho ou de obtenção desses serviços a custos baratos e de boa qualidade fora da empresa. A licença-maternidade e a flexibilidade na jornada de trabalho também são políticas influentes, embora as mudanças no grau de segregação tenham se mostrado não-significativas com essas medidas, desde que a tendência das mulheres seja de se dirigirem principalmente aos postos de trabalho predominantemente femininos, o que aumentaria a segregação (KON, 2001). As mulheres trabalham mais do que os homens. O uso do tempo da mulher é muito diferente que o do homem. O tempo remunerado é maior entre os homens e o não remunerado é maior entre as mulheres. Dois terços do trabalho de casa são realizados pelas mulheres. A mulher gasta, em média, mais de 30 horas de trabalho por semana com os afazeres domésticos. O trabalho que mais consome tempo é a limpeza da casa e a preparação da comida. Mesmo quando as mulheres trabalham fora, elas fazem a maior parte do serviço de casa. Em raros casos, há ajuda dos homens. Mas o tempo que eles alocam nas atividades profissionais e do lar tende a ser o mesmo ao longo de toda a sua vida. No caso da mulher isso é muito diferente, o tempo de trabalho da mulher flutua de maneira expressiva. Em certos ciclos da vida, o trabalho se torna extremamente intenso, isso ocorre quando se combinam os trabalhos fora de casa com os afazeres domésticos e o cuidado com as crianças pequenas, ou seja, além das mulheres estarem insertas no mercado de trabalho, elas continuam com todas as responsabilidades do lar e dos filhos (PASTORE, 2000). As barreiras visíveis e invisíveis que mantêm as mulheres fora dos cargos mais qualificados e mais bem remunerados são inúmeras: a feminização de determinadas profissões e sua subseqüente desvalorização; as resistências sociais; a maternidade e a desigualdade na divisão das tarefas domésticas; a falta de massa crítica de mulheres nas organizações; e outras. Só por meio da aquisição de poder pode-se transformar esse fato, ou seja, essa briga envolve poder, e com certeza será travada nas esferas políticas, dentro de casa e nas empresas (ARROIO; RÉGNIER, 2002). 551 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 551 25/4/2007, 12:07 A seguir seguem os dados empíricos referentes à situação salarial e de colocação dos trabalhadores por gênero no mercado de trabalho do Brasil, a título de comparação, e do Paraná. 4 RESULTADOS Levando-se em conta que homens e mulheres na mesma ocupação podem ter características produtivas distintas, é demonstrada aqui uma nova decomposição dos diferenciais de salário por gênero intra-ocupacional em duas parcelas, uma relacionada a diferenças em atributos produtivos, “discriminação aparente”, e outra a diferenças de salário entre homens e mulheres com mesmos atributos produtivos e na mesma ocupação, “discriminação salarial própria”. Na tabela 1, é apresentada a descrição das variáveis utilizadas nas equações de participação nos mercados de trabalho formal e informal, por gênero, suas respectivas médias e desvios-padrão (DP). As variáveis relevantes neste estudo referem-se àquelas relacionadas ao capital humano, tais como: educação (anos de estudo), experiência, experiência ao quadrado e a interação das variáveis educação e experiência. Também são apresentadas outras variáveis, por influenciarem na decisão dos indivíduos participarem ou não do mercado de trabalho, tais como: filhos menores de 14 anos de idade, por refletir os custos monetários de cuidar dos filhos e, principalmente no caso das mulheres, o fato de estar presente ou não no mercado de trabalho; a condição na família (cônjuge ou chefe), acreditando que o chefe de família está mais presente no mercado de trabalho; e renda não salarial, visto que tais rendimentos podem influenciar negativamente na decisão de participar ou não do mercado de trabalho. Alguns dados relevantes podem ser destacados na tabela 1, tais como, no setor formal, a maior média da variável é dos homens (0,66) e, no setor informal, a maior média é das mulheres (0,41), provando que a força de trabalho feminino está mais presente em ocupações mais flexíveis, precárias e sem amparo social. No entanto, a média de educação é maior para as mulheres (9,80) do que para os homens (8,20). Os homens demonstram ter mais experiência do que as mulheres, mas em relação à variável interação entre educação e experiência as médias de ambos os sexos são muito parecidas, afirmando que a mulher concorre em igualdade com o homem no mercado de trabalho, pelo conhecimento provindo com a educação. As mulheres podem participar menos do mercado de trabalho quando têm que cuidar dos filhos menores de 14 anos. Nesse aspecto, a média feminina é de 0,24 e a masculina de 0,31. 552 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 552 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 Mesmo recebendo aposentadoria, aluguel ou poupança, o homem permanece presente no mercado de trabalho, mostrando também que ele apenas se afasta deste quando tem a possibilidade de viver de pensão. A tabela 1 também mostra os setores em que a presença feminina é mais expressiva, sendo eles, o comércio de mercadorias, prestação de serviços e o ramo social. TABELA 1 Descrição das variáveis utilizadas nas equações de participação de homens e de mulheres no mercado de trabalho do Paraná – 2001 Variáveis Formal Informal Educação Experiência Experiência 2 Eduexp Filho <14 anos Condição na família Cônjuge Chefe Descrição das variáveis =1 se o indivíduo trabalha no setor formal =1 se o indivíduo trabalha no setor informal no de anos de estudo do indivíduo no de anos de experiência do indivíduo no de anos de exper. do indivíduo ao quadrado interação das variáveis educação e experiência =1 se os filhos são menores de 14 anos se o indivíduo é cônjuge se o indivíduo é chefe Renda não salarial* se o indivíduo recebe aposentadoria Pensão Aluguel Poupança Ramo de atividade Agrícola se o indivíduo recebe pensão se o indivíduo recebe aluguel se o indivíduo recebe poupança ] Ind. construção Outras ativ. ind. Com. de mercad. Prest. de serv. Serviços auxiliares Transp. e comunic. Social Adm. pública se o indivíduo trabalha no setor agrícola se o indivíduo trabalha no setor da ind. transformação se o indivíduo trabalha no setor da ind. construção se o indivíduo trab. no setor de outras ativ. industriais se o indivíduo trabalha no setor de comércio se o indivíduo trabalha no setor de prest. de serviços se o indivíduo trabalha no setor de serv. auxiliares se o indivíduo trab. no setor de transp. e comunicação se o indivíduo trabalha no setor social se o indivíduo trabalha no setor da adm. pública Mulher D. P. Média D.P. 0,66 0,34 8,20 22,85 755,66 151,89 0,31 0,47 0,47 4,40 15,28 885,22 118,60 0,46 0,59 0,41 9,80 20,05 603,23 151,78 0,24 0,49 0,49 4,48 14,19 731,79 117,49 0,42 0,03 0,73 0,16 0,45 1.002, 54 1.144, 54 78,48 627,43 667,11 0,52 0,25 0,50 0,43 308,90 455,08 539 534,74 293,1 340,3 91,66 246,66 327,1 209,47 480,42 Aposentadoria Ind. transformação Homem Média 665,49 202 399,7 193,9 0,17 0,38 0,04 0,19 0,17 0,38 0,1 0,3 0,11 0,32 0,004 0,06 0,01 0,11 0,01 0,09 0,15 0,35 0,18 0,38 0,13 0,34 0,35 0,48 0,06 0,24 0,04 0,2 0,07 0,26 0,01 0,12 0,05 0,22 0,2 0,4 0,05 0,22 0,05 0,22 Fonte: Pnad/IBGE - 2001. Elaboração da autora. 553 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 553 25/4/2007, 12:14 TABELA 2 Salário mínimo por idade, nível de escolaridade e gênero no Paraná entre os anos de 1985 – 2001 1985 1990 1995 2001 Masc. Femin. Masc. Femin. Masc. Femin. Masc. Femin. 1,25 1,20 1,26 1,60 1,15 1,18 1,23 1,36 1,61 1,65 1,71 4,38 1,60 1,64 1,73 2,09 1,59 1,61 1,68 1,88 1,52 1,64 1,74 2,10 1,39 1,39 1,35 1,96 1,38 1,42 1,46 1,91 1,68 1,91 2,54 4,05 1,38 1,52 1,88 2,62 2,41 2,75 3,85 6,18 2,08 2,09 2,75 4,12 2,44 2,72 3,53 5,42 2,09 2,18 2,74 4,32 2,04 2,20 2,42 4,65 1,84 1,85 2,01 3,73 2,06 2,66 4,15 6,64 1,43 1,75 2,44 3,92 2,97 3,64 5,67 9,61 2,37 2,40 3,58 6,00 3,00 3,58 5,60 9,30 2,29 2,45 3,70 6,05 2,52 2,72 3,51 7,76 2,07 2,01 2,51 5,14 2,32 3,42 6,02 10,16 1,35 1,86 2,86 5,03 3,47 4,52 8,10 15,58 2,18 2,58 4,32 8,66 3,35 4,41 8,10 14,11 2,25 2,60 4,75 8,02 2,78 3,20 5,36 11,34 1,97 2,04 2,88 6,44 2,34 3,95 7,46 12,75 1,38 2,05 3,06 5,32 3,60 5,21 10,50 20,55 2,08 2,84 4,73 9,20 3,65 5,42 11,80 17,88 2,12 2,88 6,60 9,55 2,94 3,68 7,25 15,55 1,89 2,14 3,40 7,90 2,21 3,74 6,88 12,81 1,53 2,49 3,44 5,67 3,23 4,77 9,39 19,69 2,04 3,49 4,88 8,05 3,27 4,66 9,03 16,60 2,3 2,91 5,23 9,31 2,78 3,63 6,53 15,18 1,99 2,35 3,77 7,68 2,33 4,63 6,14 10,81 1,82 3,02 4,30 5,67 3,07 4,40 9,15 15,70 2,44 4,90 6,33 7,14 3,05 4,61 8,74 14,55 3,24 3,57 8,08 10,30 2,81 3,49 6,00 13,70 2,63 2,89 4,32 9,30 15-17 anos de idade 0-4 anos de estudo 5-8 anos de estudo 9-11 anos de estudo Acima de 12 anos de estudo 18-24 anos de idade 0-4 anos de estudo 5-8 anos de estudo 9-11 anos de estudo Acima de 12 anos de estudo 25-29 anos de idade 0-4 anos de estudo 5-8 anos de estudo 9-11 anos de estudo Acima de 12 anos de estudo 30-39 anos de idade 0-4 anos de estudo 5-8 anos de estudo 9-11 anos de estudo Acima de 12 anos de estudo 40-49 anos de idade 0-4 anos de estudo 5-8 anos de estudo 9-11 anos de estudo Acima de 12 anos de estudo 50-64 anos de idade 0-4 anos de estudo 5-8 anos de estudo 9-11 anos de estudo Acima de 12 anos de estudo Acima de 65 anos de idade 0-4 anos de estudo 5-8 anos de estudo 9-11 anos de estudo Acima de 12 anos de estudo Fonte: Rais/MTE – vários anos. Elaboração da autora. Pela tabela 2, na qual se consideram apenas os trabalhadores do setor formal, pois são dados coletados da Rais, pode-se observar que, em média, as mulheres, mesmo as mais escolarizadas, possuem uma diferença salarial entre gêneros, persistente ao longo do período de análise, de 1985 a 2001, com uma média de até 50% de inferioridade em seu salário em alguns casos. Com exceção apenas para as mais jovens, que têm a idade a seu favor, auxiliando no 554 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 554 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 padrão de beleza estética, valorizado em nossa sociedade. Pode-se destacar um crescimento na média dos salários com o aumento nos anos de instrução. Fato esse semelhante para homens e mulheres. No entanto, os mais velhos, em média, tendem a ter um salário mais baixo que os mais novos, mesmo os mais instruídos. As mulheres que já ganhavam pouco em relação aos homens no decorrer de toda a idade ativa, na velhice tendem a ganhar menos ainda e sofrem mais com doença, estresse, adquiridos durante o decorrer de sua existência de luta desgastante em um trabalho muitas vezes marginal, duro, mal remunerado, cumprindo uma dupla e, muitas vezes, até tripla jornada. É necessário acima de tudo superar os procedimentos pelos quais os homens atribuem historicamente situações de inferioridade pretensamente naturais às mulheres, esse sim constitui, ainda, um dos mais difíceis desafios da democracia brasileira. Homens e mulheres possuem diferenças sim, mas essas são de ordem biológica, porque na mulher se reconhecem amplamente condições físicas, intelectuais e psicológicas de competir igualmente com o homem no mercado de trabalho, e receber reconhecimento justo por seu desempenho. As análises dos diferenciais de rendimento médio das tabelas 3, 4 e 5 foram feitas com base na taxa de salário por hora trabalhada, por gênero. Os resultados apresentados na tabela 3 mostram que os rendimentos, em média, do mercado de trabalho formal são mais elevados se comparados ao mercado de trabalho informal, tanto dos homens como das mulheres. No entanto, as mulheres possuem rendimentos médios menores do que os dos homens. Há uma diferença de rendimento por gênero, sendo que a maior diferença está no mercado de trabalho formal, visto que as mulheres recebem cerca de 75% dos rendimentos dos homens, já no mercado de trabalho informal essa diferença vai para 82%, isso se deve ao fato de a mulher ser mais absorvida pelas ocupações com baixa qualidade do posto de trabalho e muitas vezes com uma maior flexibilidade de tempo para que ela possa conciliar seus afazeres domésticos com o trabalho. TABELA 3 Rendimento médio em reais por hora trabalhada das pessoas ocupadas, segundo gênero e setor do mercado de trabalho, no Paraná em 2001 Setor Masculino Formal 48,68 Informal 28,08 Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. Feminino Taxa 36,73 22,97 0,75 0,82 Na tabela 4 pode-se verificar que na menor faixa etária o rendimento médio feminino chega a ser superior ao destinado ao masculino, apresentando também uma elevada remuneração na faixa de 19 a 28 anos de idade, com 555 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 555 25/4/2007, 12:07 85% do rendimento masculino, uma possível explicação seria de que os atributos físicos das mulheres jovens podem ter influência sobre os seus rendimentos, em função do padrão de beleza explorado na sociedade brasileira, ou seja, o padrão estético dando certos privilégios à juventude. TABELA 4 Rendimento médio por hora trabalhada das pessoas ocupadas, segundo gênero e faixa etária, no Paraná em 2001 Faixa etária 10-18 anos 19-28 anos 29-38 anos 39-48 anos 49-65 anos Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. Masculino Feminino Taxa 15,52 35,30 58,06 58,22 64,81 16,07 30,16 43,15 45,45 39,46 1,04 0,85 0,74 0,78 0,60 Há uma evolução dos rendimentos médios em ambos os gêneros por faixa etária, ou seja, com o passar dos anos, os trabalhadores obtiveram uma remuneração mais elevada, com exceção dos idosos. As mulheres entre 49 e 65 anos de idade apresentam uma queda de remuneração de 13,18% em relação às mulheres da faixa de 39 a 48 anos. As mulheres mais velhas recebem 60% do rendimento dos homens mais velhos. Cabe ressaltar que nos dados da Pnad não é relatado trabalhadores com idade superior a 65 anos, mas a Rais capta essa tendência no mercado formal. Ao analisar os rendimentos médios por hora trabalhada dos homens e das mulheres por grau de escolaridade, apresentados na tabela 5, verifica-se que os resultados não chegam a causar surpresa, pois, como se poderia esperar, os rendimentos médios, tanto dos homens como das mulheres elevaram-se com o aumento do nível de escolaridade, conforme dita a teoria do capital humano. Os maiores incrementos nos rendimentos entre os níveis de escolaridade ocorreram entre 9 e 11 anos de estudo e acima de 12 anos de estudo, no entanto, as taxas femininas permaneceram inferiores às masculinas em ambos os casos. TABELA 5 Rendimento médio por hora trabalhada das pessoas ocupadas, segundo gênero e anos de estudo, no Paraná em 2001 Anos de estudo 1-4 anos 5-8 anos 9-11 anos Acima de 12 anos Masculino Feminino Taxa 29,84 37,36 54,42 139,12 20,74 23,87 35,92 83,47 0,69 0,64 0,66 0,60 Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. 556 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 556 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 Quanto maior o nível de escolaridade, maiores os diferenciais entre homens e mulheres. Os resultados mostram que mulheres mais educadas recebem 60% do rendimento dos homens, enquanto que as menos instruídas recebem 69%. Pode-se perceber, então, que as mulheres mais instruídas são pouco valorizadas no mercado de trabalho paranaense, embora recebam rendimentos mais elevados ao adquirir maior nível de escolaridade. As tabelas que seguem são referentes aos dados do Brasil e do Paraná, que foram coletados pelo banco de dados da Pnad, dentro de um universo de 194.757 mulheres e 184.080 homens no Brasil, e de 9.762 mulheres e 9.688 homens no Estado do Paraná, a título de comparação. Pela tabela 6, verifica-se que a maior concentração das amostras se encontra nos estratos de menores salários, tanto para as mulheres como para os homens. No entanto, a proporção das mulheres (69,11%) é superior à dos homens (54,44%) na primeira faixa salarial até dois salários-mínimos. Em todas as outras faixas salariais, a presença masculina é de fato a mais significativa, destacando a faixa de mais de 20 salários-mínimos, em que os homens se concentram em mais de 2%. Para a distribuição de qui-quadrado (X2) com grau de liberdade 4, o valor crítico, ao nível de significância de 5 %, é X25% = 9,488. Portanto, o X2 é significativo, isso é, ao nível de significância de 5%, rejeita-se H0 em favor de Ha, podendo-se inferir que a proporção do salário masculino é maior do que a do salário feminino no Brasil. TABELA 6 Rendimento em salário-mínimo por gênero no Brasil no ano de 2001 Salário-mínimo (SM) Masculino % Feminino % Total 48.577 26.400 8.527 3.922 54,44 29,59 9,56 4,40 39.386 11.851 3.763 1.498 69,11 20,80 6,60 2,63 87.963 38.251 12.290 5.420 Mais de 20 SM 1792 2,01 488 0,86 Total X2= 3221,441 89.218 X25%= 9,488 100 GL= 4 56.986 Rejeita-se H0 100 2.280 146.204 Até 2 SM 2,1- 5 SM 5,1-10 SM 10,1-20 SM Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. No estado do Paraná, por meio da tabela 7, pode-se verificar uma grande semelhança com os dados nacionais, as mulheres continuam representando a maioria da população no menor estrato de salário-mínimo, com 67,20%. Na faixa entre 2,1 e 5 salários-mínimos, elas estão representadas com 22,57%, sua segunda maior representação no estado do Paraná, sendo que no Brasil elas representam 20,80%. Na maior faixa salarial 557 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 557 25/4/2007, 12:07 as mulheres não atingem nem 1% de sua amostra, com participação maior no Brasil dentro dessa mesma faixa. TABELA 7 Rendimento em salário-mínimo por gênero no Paraná no ano de 2001 Salário-mínimo (SM) Masculino Até 2 SM 2,1- 5 SM 5,1-10 SM 10,1-20 SM Mais de 20 SM % Feminino % 2.257 1.799 584 248 113 45,13 35,97 11,68 4,96 2,26 2.051 689 219 72 21 67,20 22,57 7,18 2,36 0,69 Total 5.001 X25%= 9,488 X2= 381,592 Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. 100 GL= 4 3.052 Rejeita-se H0 100 Total 4.308 2.488 803 320 134 8.053 Pelo teste de qui-quadrado, o X2 mostrou ser significativo, dessa forma, rejeita-se H0 em prol da Ha, evidenciando a proporção salarial do homem ser maior do que a da mulher. As mulheres se concentram nos menores salários, visto que elas estão pouco representadas nos estratos de salários altos. Utiliza-se a escolaridade como característica produtiva individual, pois ela é reconhecida como grande determinante dos diferenciais salariais no país (BARROS; MENDONÇA, 1996). De acordo com a teoria do capital humano, anos de estudo e experiência determinam diretamente o rendimento do trabalho individual. Pode-se verificar na tabela 8 que as proporções de homens e a de mulheres que se encontram nos níveis de menor instrução são maiores, ou seja, 78,61% dos homens e 75,19% das mulheres possuem até 8 anos de estudo. No entanto, a proporção feminina nos maiores níveis de instrução é maior do que a masculina, ou seja, a partir de 9 anos de estudos, concentramse 24,81 % das mulheres e 21,39% dos homens. TABELA 8 Nível de escolaridade por gênero no Brasil no ano de 2001 Masculino 0-4 anos 5-8 anos 9-11 anos Acima de 12 anos Total X2=658,550 % Feminino % 100.692 43.113 28.706 10.428 55,04 23,57 15,69 5,70 100.405 45.052 34.878 13.132 51,90 23,29 18,03 6,78 182.939 X25%=7,815 100 GL=3 193.467 Rejeita-se H0 100 Total 201.097 88.165 63.584 23.560 376.406 Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. No Brasil, em 2001, os dados da Pnad mostram que as mulheres são mais instruídas do que os homens, característica importante para colocação e 558 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 558 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 remuneração no trabalho. Pelo teste de qui-quadrado, o X 2 mostrou ser significativo, portanto, a concentração masculina é maior nos menores níveis de escolaridade. É possível observar que tanto os homens como as mulheres que possuem mais de 12 anos de estudo estão mais presentes no Paraná do que no Brasil, conforme visualização de comparação das tabelas 8 e 9. Pode-se também visualizar que os homens se concentram em maior quantidade no primeiro e no segundo nível de escolaridade, ou seja, de 0 a 4 anos e de 5 a 8 anos de estudo, com 75,41% contra 73,45% de mulheres. Entretanto, 26,55% das mulheres estão presentes nos maiores níveis escolares contra 24,59% dos homens, acompanhando as mesmas características do país. Pelo teste X2, as conclusões são as mesmas da tabela 8. TABELA 9 Nível de escolaridade por gênero no Paraná no ano de 2001 Masculino % Total 5.054 2.187 1.604 757 52,63 22,78 16,71 7,88 5.059 2.042 1.715 852 52,33 21,12 17,74 8,81 9.602 X25%= 7,815 100 GL=3 9.668 Rejeita-se H0 100 10.113 4.229 3.319 1.609 19.270 0 - 4 anos 5 - 8 anos 9 - 11 anos Acima de 12 anos Total X2= 14,070 % Feminino Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. Pela tabela 10, 64,3% das mulheres e 41,4% dos homens trabalham até 40 horas por semana. Os homens em sua grande maioria trabalham acima de 40 horas semanais. A partir de 80 horas de trabalho apenas 1,4% dos homens e 0,5% das mulheres representam essa faixa horária. TABELA 10 Número de horas trabalhadas por semana por gênero no Brasil no ano de 2001 % Feminino % Total Até 12 horas De 12 horas e 1 min até 20 horas De 20 horas e 1 min até 30 horas De 30 horas e 1 min até 40 horas Masculino 2.889 5.034 7.364 25.774 2,9 5,1 7,4 26,0 6.587 8.652 10.577 18.122 9,6 12,7 15,5 26,5 9.476 13.686 17.941 43.896 De 40 horas e 1 min até 50 horas De 50 horas e 1 min até 60 horas De 60 horas e 1 min até 70 horas > 80 horas 37.998 12.561 6.000 1.356 38,4 12,7 6,1 1,4 17.098 4.815 2.142 412 25,0 7,0 3,2 0,5 98.976 X25%= 16,92 100 GL= 9 68.405 Rejeita-se H0 100 55.096 17.376 8.142 1.768 167.381 Total X2= 12.868,980 Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. 559 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 559 25/4/2007, 12:07 Na tabela 11, a análise é similar à da tabela anterior, ou seja, o estado do Paraná não apresenta características particulares em relação à média brasileira quanto às horas trabalhadas, a diferença está na carga horária. Na média, a carga horária do Brasil parece maior; no entanto, as mulheres em sua maioria, 35,5%, trabalham até 30 horas por semana, contra 27,2% que trabalham até 40 horas, e os homens em sua maioria trabalham mais de 30 horas por semana. Acima de 50 horas trabalhadas por semana estão 23,4% dos homens e 10,6% das mulheres. Pela aplicação do teste de qui-quadrado para as tabelas 10 e 11, com nível de significância de 5% e grau de liberdade 9, em ambas, o X2 mostrou ser significativo, dessa forma, rejeita-se H0 em prol da Ha, evidenciando a maior proporção masculina nos períodos de mais horas trabalhadas, nos dois casos. De acordo com Pastore (2000), as mulheres trabalham mais do que os homens, apenas o uso do tempo da mulher é muito diferente em relação ao do homem. O tempo remunerado é maior entre os homens e o não-remunerado é maior entre as mulheres. Ou seja, dois terços do trabalho de casa são realizados pelas mulheres. A mulher gasta, em média, mais de 30 horas de trabalho por semana com os afazeres domésticos. O trabalho que mais consume tempo é a limpeza da casa e a preparação da comida. Mesmo trabalhando fora de casa, todas as responsabilidades do lar e das crianças tendem a ficar por conta da mulher. TABELA 11 Número de horas trabalhadas por semana por gênero no Paraná no ano de 2001 Masculino % Feminino % Total Até 12 horas De 12 horas e 1 min até 20 horas De 20 horas e 1 min até 30 horas De 30 horas e 1 min até 40 horas 192 201 363 1.411 3,4 3,7 6,6 25,4 367 451 556 1.055 9,5 11,7 14,3 27,2 559 652 919 2.466 De 40 horas e 1 min até 50 horas De 50 horas e 1 min até 60 horas De 60 horas e 1 min até 70 horas De 70 horas e 1 min até 80 horas De 80 horas e 1 min até 90 horas De 90 horas e 1min até 98 horas 2.077 835 241 142 57 25 37,5 16 4,0 2,0 1,0 0,4 1.033 272 77 41 14 10 26,7 7,0 2,0 1,0 0,4 0,2 5.544 X25%= 16,92 100 GL= 9 3.876 Rejeita-se H0 100 3.110 1.107 318 183 71 35 9.420 Total X2= 781,299 Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. No Brasil, conforme tabela 12, os homens se encontram em maior quantidade no setor formal, com 58%, e as mulheres, 49%, se encontram no setor informal do mercado de trabalho. 560 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 560 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 TABELA 12 Setor do mercado de trabalho por gênero no Brasil no ano de 2001 Masculino % Feminino % Total 31.591 22.898 58 42 19.723 18.773 51 49 54.489 Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. 100 38.496 100 51.314 41.671 92.985 Formal Informal Total Na tabela 13, percebe-se que mesmo no Paraná a mão-de-obra feminina é mais absorvida pelo setor informal do mercado de trabalho. O setor formal da economia paranaense é representado por 66% da mão-de-obra masculina, mais elevado que no Brasil. TABELA 13 Setor do mercado de trabalho por gênero no Paraná no ano de 2001 Masculino % Feminino % Total Formal Informal 1.962 1.002 66 34 1.283 907 59 41 Total 2.964 100 2.190 100 3.245 1.909 5.154 Fonte: Pnad/IBGE –2001. Elaboração da autora. TABELA 14 Rendimento mensal por gênero no Brasil no ano de 2001 (Em R$) Masculino Até 130,00 130,01 a 260,00 260,01 a 520,00 520,01 a 780,00 780,01 a 1.050,00 1.050,01 a 2.200,00 2.200,01 a 3.130,00 3.130,01 a 4.000,00 Acima de 4.000,01 Total X2= 3825,524 % Feminino % Total 11.060 23.309 27.757 8.851 6.887 7.430 1.813 778 1.323 12,40 26,13 31,11 9,93 7,72 8,33 2,03 0,87 1,48 11.100 19.630 15.064 3.717 3.009 3.155 712 253 345 19,48 34,45 26,44 6,52 5,28 5,54 1,25 0,44 0,60 89.208 X25%= 15,51 100 GL= 8 56.985 Rejeita-se H0 100 22.160 42.939 42.821 12.568 9.896 10.585 2.525 1.031 1.668 146.193 Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. As tabelas 14 e 15 representam o salário que as pessoas recebiam no mês de referência, ou seja, em setembro de 2001. No Brasil e no Paraná, respectivamente, pelo que se observa na tabela 14, as mulheres brasileiras representam maior percentual apenas nos primeiros níveis de rendimento, evidenciando que 53,93% das mulheres recebem até R$ 260,00; dos homens, apenas 561 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 561 25/4/2007, 12:07 38,53%. Acima desse valor, até R$ 520,00, as mulheres participam com 26,44% de sua força de trabalho, contra 31,11% da mão-de-obra masculina. Entre R$ 520,01 até R$ 780,00, os homens concentram 9,93% de sua força de trabalho e as mulheres apenas 6,52%. Na faixa dos salários mais elevados a participação feminina é muito pequena. Acima de R$ 2.200,00 até R$ 4.000,00 as mulheres são representadas com 1,69% e os homens com 2,90%; e nos rendimentos superiores a R$ 4.000,00 as mulheres aparecem com apenas 0,60% e os homens com 1,48%. O rendimento mensal feminino paranaense representado na tabela 15 mostra que 79,36% das mulheres possuem rendimento mensal de até no máximo R$ 520,00. Nessa mesma faixa salarial encontram-se 63,87% dos homens. De R$ 520,01 até R$ 780,00 as mulheres representam 6,75% e os homens 12%. E acima de R$ 2.200,00, apenas 1,80% é participação feminina e 4,83% é masculina. Pela aplicação do teste de qui-quadrado para as tabelas 14 e 15, o X2 mostrou ser significativo, dessa forma, rejeita-se H0 e aceita-se H a, evidenciando que a proporção salarial masculina é mais alta nas duas tabelas. TABELA 15 Rendimento mensal por gênero no Paraná no ano de 2001 Masculino Até 130,00 130,01 a 260,00 260,01 a 520,00 520,01 a 780,00 780,01 a 1.050,00 1.050,01 a 2.200,00 2.200,01 a 3.130,00 3.130,01 a 4.000,00 Acima de 4.000,01 Total X2= 400,196 % Feminino % Total 408 987 1.799 600 491 474 109 50 83 8,16 19,74 35,97 12,00 9,82 9,48 2,17 1,00 1,66 451 1.038 933 206 196 173 30 9 16 14,78 34,01 30,57 6,75 6,42 5,67 0,98 0,29 0,53 5.001 X25%= 15,51 100 GL= 8 3.052 Rejeita-se H0 100 859 2.025 2.732 806 687 647 139 59 99 8.053 Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. Pela tabela 16, pode-se observar que a concentração feminina é de 65,4% em todos os setores de serviços e no social 17%. E os homens se destacam em sua maioria no setor agrícola com 21,8%, na indústria de transformação com 13,8% e na indústria de construção com 11,6%. Nas tabelas 16 e 17, houve uma relativa redução amostral em relação ao total, em decorrência das declarações ignoradas que não foram consideradas em ambas. 562 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 562 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 TABELA 16 Ramo de atividade por gênero no Brasil no ano de 2001 3 Agrícola Indústria de transformação Indústria de construção Outras atividades industriais Comércio de mercadorias Prestação de serviços Serviços auxiliares da atividade econômica Transporte e comunicação Social Administração pública Outras atividades mal definidas ou não declaradas Total X2= 30013,924 Masculino % Feminino % Total 23368 14759 12433 1679 15712 14516 4909 21,8 13,8 11,6 1,6 14,7 13,6 4,6 11196 6768 367 345 11832 26064 2857 14,3 8,6 0,5 0,4 15,1 33,3 3,6 34564 21527 12800 2024 27544 40580 7766 6893 4715 5880 2127 6,4 4,4 5,5 2,0 762 13334 3435 1303 1,0 17,0 4,5 1,7 7655 18049 9315 3430 106991 X25%= 18,31 100 GL= 10 78263 Rejeita-se H0 100 185254 Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração dos autores. Na tabela 17, verifica-se que as mulheres aparecem relativamente bem colocadas nos seguintes setores: agrícola, 14,35%; indústria de transformação, 8,6%; comércio de mercadorias, 15,1%; prestação de serviços, 33,3%; serviços auxiliares da atividade econômica, 3,6%; social, 17%; e administração pública, 4,5%. Pela aplicação do teste de qui-quadrado (X2 ) para as tabelas 16 e 17, o X2 mostrou ser significativo, dessa forma aceita-se Ha, podendo-se então concluir que a proporção de presença masculina é maior que a feminina, na maioria dos ramos de atividade. TABELA 17 Ramo de atividade por gênero no Paraná no ano de 2001 Agrícola Indústria de transformação Indústria de construção Outras atividades industriais Comércio de mercadorias Prestação de serviços Serviços auxiliares da atividade econômica Transporte e comunicação Social Administração pública Outras atividades mal definidas ou não declaradas Total X2= 1504,469 Masculino % Feminino % Total 1346 951 695 66 826 753 343 376 269 270 96 22,5 15,9 11,6 1,1 13,7 12,6 5,7 6,3 4,5 4,5 1,6 846 378 23 25 682 1345 164 48 673 173 65 19,1 8,5 0,5 0,6 15,4 30,4 3,7 1,1 15,2 4,0 1,5 2192 1329 718 91 1508 2098 507 424 942 443 161 10413 5991 X25%= 18,31 100 GL= 10 4422 Rejeita-se H0 100 Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. 563 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 563 25/4/2007, 12:07 TABELA 18 Descrição das variáveis utilizadas nas equações de salário, para homens e mulheres dos setores formal e informal do mercado de trabalho, no Paraná – 2001 Homem Formal Variáveis Lnw* Educação Experiência Experiência2 EducExper Média 2,69 8,96 18,67 519,38 137,00 Mulher Informal DP 0,30 4,20 13,07 659,40 105,29 Média 2,38 7,31 18,33 574,93 102,71 Formal DP 0,38 4,07 15,47 803,50 108,67 Média 2,54 10,12 17,32 472,71 142,03 Informal DP Média 0,27 4,17 13,15 616,76 108,62 2,24 7,82 18,90 592,12 106,72 DP 0,32 4,31 15,34 777,67 99,97 Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. A tabela 18 descreve as variáveis utilizadas nas equações de salários dos homens e das mulheres nos setores formal e informal, bem como suas médias e desvio-padrão. As variáveis explicativas consideradas relevantes na determinação do salário, nesse caso, foram educação, experiência, experiência ao quadrado e interação das variáveis educação e experiência. A variável dependente é o logaritmo do salário mensal de cada indivíduo participante do mercado de trabalho, sendo que, em relação a este, a maior média foi de 2,69 no setor formal para os homens contra 2,54 no mesmo setor para as mulheres. A mais elevada média de educação (anos de estudo) também é demonstrada no setor formal com 10,12 para as mulheres. As mulheres envolvidas no mercado de trabalho informal demonstram ter experiência elevada. E a variável (educação*experiência) apresentou a maior participação no setor formal para as mulheres, com 142,03. Os resultados das estimativas das funções de salário, presentes na tabela 19, mostram que os coeficientes positivos e significativos da variável educação indicam que, com o aumento dos anos de estudo, homens e mulheres que trabalham no mercado formal e informal recebem uma remuneração maior por seu trabalho. Os testes-t das variáveis educação e experiência são mais elevados no setor formal do que no informal, indicando que a escolaridade e a experiência podem ser mais valorizadas no mercado formal, pelo menos para as mulheres, uma vez que os homens apresentam teste t inferior no setor formal para experiência. Os coeficientes da variável experiência ao quadrado apresentam sinais negativos, em que, de acordo com a teoria do capital humano, a função de rendimento é apresentada em uma curva na qual em algum momento da vida do indivíduo ele atinge um valor máximo de produtividade e recebimento de salário e, a partir de então, inicia-se um processo de depreciação do capital humano, refletindo na queda de produtividade do trabalhador e, conseqüentemente, no * Lnw é o logaritimo do salário, serve para padronizar os dados ou minimizar a distância entre os valores. 564 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 564 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 declínio do nível salarial. O termo de interação entre educação e experiência apresenta em seus coeficientes em ambos os mercados sinais negativos e positivos, indicando que o efeito da educação (experiência) diminui quando os anos de experiência (educação) aumentam. TABELA 19 Estimativas das funções de salários dos mercados de trabalho formal e informal segundo gênero, no Paraná, em 2001 Homem Variáveis Constante Educação Experiência Experiência2 Educ. exper. Mulher Formal Informal Formal Informal 1,944 (48,204) 0,0475 (15,387) 0,0263 (11,184) -0,00034 (-10,636) 0,0000106 (0,084) 0,365 280,028 1.950 1,628 (31,990) 0,0557 (11,986) 0,0379 (12,707) -0,000584 (-13,804) -0,000132 (-0,717) 0,339 126,346 989 1,753 (33,918) 0,0576 (15,160) 0,0260 (8,807) -0,000283 (-6,914) -0,000761 (-4,901) 0,297 134,332 1.279 1,617 (29,098) 0,0503 (10,665) 0,0244 (7,830) -0,000338 (-7,837) -0,000303 (-1,588) 0,252 75,234 897 R2 Ponderado Teste F ponderado No de observações Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. Obs: As estatísticas t estão entre parênteses abaixo dos coeficientes. TABELA 20 Decomposição do diferencial dos salários das pessoas ocupadas segundo gênero e setor, no Paraná, em 2001 Grupo em vantagem Diferença com o grupo em vantagem lnwm - lnwf Mulher do setor formal (1) Mulher do setor informal (2) 0,142 100% 0,143 100% Termo de discriminação (αˆ m ( − αˆ f ) + X m βˆ m − βˆ f ) Dotação de atributos produtivos ( β̂ f X m − X f 0,1825 128,52% 0,1755 122,73% ) -0,04863 28,52% -0,03153 22,73% Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. Nota: Grupo em vantagem de (1): homem do setor formal, de (2): homem do setor informal. Os resultados da decomposição do diferencial de salários, conforme o procedimento de Oaxaca, são apresentados na tabela 20. Esses resultados indicam que existe discriminação contra as mulheres, tanto no mercado de trabalho formal como no informal. Contudo, pode-se inferir que a maior discriminação ocorreu no mercado informal, pelo fato de a mulher possuir todos os 565 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 565 25/4/2007, 12:07 atributos produtivos exigidos e mesmo assim apresentar os menores salários. Considerando a diferença do logaritmo do salário calculado conforme as médias apresentadas na tabela 18, e os valores obtidos dos parâmetros e as estimativas demonstradas na tabela 19, foram obtidos os valores de 0,142 em favor dos homens que trabalham no mercado de trabalho formal e de 0,143 em favor dos homens que trabalham no mercado informal. A parcela do diferencial de salário atribuída exclusivamente à discriminação foi de 0,1825 no mercado formal, porque os maiores salários estão no setor formal, e, assim, a diferença se torna maior; e de 0,1755 no mercado informal, com discriminação aparente no segmento formal e discriminação salarial própria no informal. Em termos relativos, o segmento formal superou o informal, ou seja, 28,52% da diferença salarial entre homens e mulheres no setor formal é atribuída à discriminação, no setor informal este valor é menor, 22,73%. As parcelas referentes aos atributos produtivos, por apresentarem valores negativos, sugerem que a diferença salarial entre homens e mulheres decorre mais fortemente pela discriminação, no entanto, outros atributos também influenciam em menor grau a remuneração feminina. No caso do setor informal, como foi possível observar na tabela 18, a mulher apresenta todos os atributos produtivos exigidos, e mesmo assim não é reconhecida em termos de remuneração. Para se estimar o diferencial nos rendimentos do grupo em vantagem em relação ao grupo em desvantagem, deve-se calcular o rendimento hipotético do grupo em desvantagem utilizando as suas próprias características produtivas, representadas pelas médias, e a estrutura do grupo em vantagem, ou seja, os coeficientes estimados para o grupo em situação de vantagem (MAIA; LIRA, 2002). ^ ^ ln y f = α m + β m X (8) f Onde ln y f é o rendimento médio hipotético das (grupo em desvantagem), X f mulheres é a média das características produtivas das ^ mulheres, β m são os coeficientes de regressão dos homens (grupo em vantagem) ^ e α m é o intercepto da regressão estimada para os homens. A diferença entre o rendimento do grupo em vantagem e o rendimento 566 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 566 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 hipotético do grupo em desvantagem, ln wm − ln w f , se for positiva, refere-se à diferença nos atributos produtivos ou à parte explicada; se for negativa, corresponde à discriminação ou à parte não explicada. TABELA 21 Média dos logaritmos dos salários mensais observados de homens e mulheres e dos salários estimados das mulheres, no Paraná, em 2001 Mercado de trabalho Formal Informal Média observada do rendimento dos homens ln 2,69 2,38 r$ 489,78 239,88 Média observada do rendimento das mulheres ln 2,54 2,24 r$ 346,74 173,78 Média estimada do rendimento para as mulheres ln 2,72 2,42 r$ 524,81 263,03 Fonte: Pnad/IBGE – 2001. Elaboração da autora. A tabela 21 mostra a média dos rendimentos mensais dos homens e das mulheres nos mercados de trabalho formal e informal, bem como a média hipotética das mulheres em ambos os mercados. Pode-se verificar que os dados dessa tabela em relação às médias da tabela 18 (média salarial do mercado formal e informal) são mais baixos do que realmente aconteceu em 2001 no mercado de trabalho do Paraná. Isso ocorre pelo fato de que essa média foi extraída da utilização da equação estimada dos salários, e pelo fato de a equação ter um resíduo muito alto, ou seja, o Coeficiente de Determinação (R2) foi muito baixo, gerando a diferença média observada (tabela 18) em relação à média estimada (tabela 21). Analisando o mercado de trabalho formal, é possível verificar que a média observada dos salários das mulheres é R$ 346,74, sendo 29,20% inferior à média observada dos salários dos homens, R$ 489,78. Entretanto, a média estimada dos salários das mulheres, utilizando os coeficientes da equação do salário dos homens, ou seja, a média hipotética, é de R$ 524,81. Esta é 33,93% superior à média observada dos salários das mulheres e 6,67% superior à média observada dos salários dos homens. Indicando que existe discriminação no mercado de trabalho formal no Paraná, no entanto ela não é a única característica a influenciar no salário feminino, talvez a experiência possa ter relevância. No mercado de trabalho informal, a média observada dos salários das mulheres (R$ 173,78) é 27,55% menor que a média observada dos salários dos homens, R$ 239,88; a média estimada dos salários das mulheres, utilizando os coeficientes da equação do salário dos homens, é de R$ 263,03, sendo 33,93% superior à média observada dos salários das mulheres e 8,80% superior à média observada dos homens, mostrando que no mercado de trabalho informal do Paraná também existe discriminação. 567 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 567 25/4/2007, 12:07 As mulheres paranaenses sofreram, em 2001, discriminação em suas atividades profissionais, desenvolvidas tanto no mercado de trabalho formal como no informal, sendo que no segmento informal o grau de discriminação foi maior. No entanto, existe outro tipo de característica que influenciou na remuneração feminina nesse período, além da discriminação, que pode ser, por exemplo, a experiência, visto que as mulheres a possuem menos que os homens no setor formal, demonstrado na tabela 1. A observação das desvantagens da população ocupada feminina em nível salarial e de colocação no mercado de trabalho brasileiro, mais especificamente no mercado de trabalho paranaense, conduz à preocupação com a necessidade de diminuição da informalidade. Pode-se perceber que as políticas públicas de defesa da mulher tornam o setor formal menos discriminatório. A mulher precisa sair da informalidade para usufruir dos benefícios que – com a elevação da experiência no decorrer dos anos, aumentando assim sua produção – garantem-lhe uma situação mais igualitária no trabalho em relação ao gênero oposto. 5 CONCLUSÃO A motivação principal deste trabalho foi examinar os salários dos trabalhadores envolvidos no mercado de trabalho paranaense para o ano de 2001, verificando se existe discriminação salarial por gênero no estado. Os dados foram obtidos por meio das bases de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2001 e em parte da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) para o mesmo ano, em que foram aplicados os cálculos de qui-quadrado (X2) para verificar a maior proporção dos valores e a decomposição de Oaxaca, que mede a discriminação por meio do método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), no qual a variável dependente é o logaritmo do salário para ambos os sexos e as variáveis explicativas, conforme a teoria do capital humano, são educação, experiência, experiência ao quadrado e interação das variáveis educação (anos de estudo) e experiência, responsáveis diretamente pela maior ou menor remuneração dos trabalhadores, conforme sua maior ou menor presença. A diferença salarial entre homens e mulheres no setor formal é maior do que no setor informal, em razão de algumas variáveis como, por exemplo, a grande dispersão salarial no setor formal, ou seja, há muitos indivíduos que ganham pouco e há também indivíduos que têm altos salários, sendo que a participação feminina nesse último caso é menor. No setor informal, a dispersão salarial é menor e, além disso, a participação femini- 568 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 568 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 na é maior em relação ao homem, dessa forma, contribuindo para que a diferença salarial seja menor. A freqüência feminina é maior que a masculina nas faixas salariais menores nos setores formais e informais, mesmo a mulher mostrando ser mais instruída e possuir elevado grau de escolaridade em relação ao homem. A jornada de trabalho feminina se mostrou inferior à masculina, desconsiderando o fato de a mulher ter que desempenhar dupla função no trabalho profissional e nas atividades do lar. Outra constatação, é que a mulher apresentou salários mais elevados nas faixas etárias até 18 anos, isso pode ser atribuído à valorização da beleza e da juventude feminina no Brasil, ou seja, há um padrão estético valorizado pela sociedade contemporânea ocidental. Foi possível verificar que os salários são maiores no setor formal, e nesse setor a diferença salarial é maior até porque a mulher possui menos experiência para concorrer com o homem; desse modo ela acaba não participando dos altos salários que o setor formal oferece. As mulheres de certa forma estão protegidas pelas políticas sociais, e a discriminação formal é existente, mas em dimensão inferior ao informal. Em relação ao setor informal observa-se que os salários são muito baixos, mas a mulher possui todas as características produtivas em maior quantidade do que os homens; no entanto, foi verificado que os atributos produtivos não são valorizados em termos de repasse de salários. Os setores do mercado de trabalho que mais absorveram o trabalho feminino foram os relacionados com o comércio, prestação de serviços e ramo social. A parcela do diferencial salarial atribuída exclusivamente à discriminação no mercado formal é de 28,52% e no setor informal de 22,73%; todavia, pode-se considerar a maior discriminação ser a do mercado de trabalho informal uma vez que nesse setor a mulher apresenta todos os atributos produtivos em maior quantidade que os homens, e mesmo assim não recebe salários maiores, o que seria incoerente segundo a Teoria do Capital Humano, que postula que quanto maior os atributos produtivos dos indivíduos envolvidos no mercado de trabalho maior sua remuneração. Para assumir a hipótese de não-discriminação no setor formal, somente se a variável experiência for extraordinariamente valorizada em detrimento da educação, visto que a mulher é mais instruída que o homem. Dessa forma, considera-se que no setor formal existe discriminação aparente, pois a parcela de discriminação salarial é atribuída à falta de experiência de trabalho feminina. No setor informal, existe discriminação salarial própria, ou seja, a diferença salarial existente entre os gêneros é exclusivamente provinda de uma exclusão da mulher nesse setor de trabalho paranaense. 569 Monografias premiadas Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 569 25/4/2007, 12:07 As políticas públicas dão pouca atenção a essa problemática, não são ainda eficazes, mas protegem a mulher, amparando-a legalmente no setor formal de trabalho. As mulheres devem procurar participar de trabalhos formais, para minorar esse efeito de disparidade salarial, até que nossa sociedade se torne menos preconceituosa e valorize o trabalho produtivo e não apenas a pessoa que o desempenhe. Enfim, existe discriminação salarial por gênero no mercado de trabalho paranaense. 570 Menção Honrosa (Iandra de Souza Maldaner).pmd 570 Prêmio Ipea 40 Anos – IPEA-CAIXA 2005 25/4/2007, 12:07 REFERÊNCIAS o 1 DE MAIO: dia do trabalho. A questão do salário mínimo. Boletim Dieese. 2002. Disponível em: http:// www.dieese.org.br. Acesso em junho de 2002. A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL. Disponível em http:// www.frigoletto.com.br/GeoPop/mulher.htm. Acesso em agosto de 2004. AMADEO, E. Brasil: abertura e ajuste do mercado de trabalho no Brasil. Políticas para conciliar os desafios de emprego e competitividade. São Paulo: MTE/OIT. Editora 34, 1999. ARAÚJO, V. F.; RIBEIRO, E. P. 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