A UNIVERSIDADE COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL
RESUMO
Este texto tem como objetivo refletir sobre algumas propostas e ações que podem
ser assumidas por universidades que queiram trilhar o caminho do desenvolvimento
regional num contexto globalizado.
PALAVRAS-CHAVE
Universidade – desenvolvimento regional - estratégias
AUTOR: LUIZ AUGUSTO COSTA A CAMPIS
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A UNIVERSIDADE COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL
A construção de uma universidade comprometida com o desenvolvimento regional
no contexto globalizado atual é, sem dúvida, tarefa que muitos temos que enfrentar
diariamente. Este texto tem como objetivo refletir sobre algumas posturas e ações que
consideramos devam ser assumidas por aquelas universidades que queiram caminhar
nessa direção.
Pretendo limitar a minha reflexão ao caso da universidade brasileira, tendo como
foco central uma universidade comunitária e regional, a Universidade de Santa Cruz do
Sul – UNISC. É importante lembrar que o momento histórico que vive a universidade
brasileira é de intensos debates, já que se encontra em pauta a Reforma da Educação
Superior do Brasil. Essa proposta apresentada através de um anteprojeto pelo Ministério
da Educação, propicia um bom momento para debate sobre o compromisso que as
universidades têm com a realidade regional.
Nos anais da Conferência Mundial sobre o Ensino Superior (Paris, 1998)
encontramos referenciais claros sobre o papel das universidades no desenvolvimento
regional. Em primeiro lugar é lembrada a necessidade de um diálogo aberto com os
diversos segmentos e setores envolvidos no processo de desenvolvimento regional, como
por exemplo, autoridades locais e regionais, empregadores e organizações patronais,
meios de comunicação regionais.
Estamos, portanto, frente ao ponto de partida para uma integração entre a
universidade e seu entorno em escala regional, que é a compreensão dos respectivos
papéis dos diversos atores que compõem este cenário. A mobilização de uma região,
produzindo aquilo que podemos chamar de movimento endógeno na busca do
desenvolvimento regional, deve contar com a universidade desempenhando seu papel de
vanguarda do conhecimento e auxiliando na construção do projeto de desenvolvimento
desta sua região. Nunca é demais lembrarmos que o processo de desenvolvimento não
pode ser reduzido ao desenvolvimento econômico e que os aspectos culturais, sociais,
políticos, artísticos, ambientais, também fazem parte desse plano estratégico de
desenvolvimento regional.
Além do plano estratégico, a universidade, com seus saberes, também pode
contribuir para a produção de projetos setoriais importantes para a região, auxiliando não
só na confecção dos referidos projetos, como também na busca da sua colocação em
órgãos de financiamento, sejam eles públicos ou privados; regionais, nacionais ou
internacionais. Isso pode desencadear o ingresso de recursos externos à região que
servirão para impulsionar e irrigar o desenvolvimento regional.
Para irmos além do papel de organização do planejamento regional, que a
universidade pode e deve exercer na sua comunidade, gostaria de mencionar ações que
são intrínsecas à universidade e que, naturalmente, alavancam o desenvolvimento da
região.
A universidade ao socializar cultura e conhecimento através do ensino, o faz
porque produz saberes através da pesquisa e o dissemina através da extensão para a
totalidade da sociedade. Assim, ao exercer as suas funções básicas a universidade
impulsiona o seu desenvolvimento ao responder não apenas a interesses imediatos do
processo produtivo em geral, mas ao conjunto de agrupamentos sociais que formam a
sua cultura e vivem no seu território. Portanto, ao cumprir - quem sabe a mais conhecida
de suas funções - a formação de indivíduos, cidadãos livres e capazes, a universidade
estará contribuindo para a formação de quadros de profissionais que irão prestar
trabalhos qualificados em todos os âmbitos do território regional.
No tocante à transferência de tecnologia, as universidades podem produzir um
desenvolvimento importante para o seu entorno. As incubadoras tecnológicas têm sido
uma importante ferramenta de transferência de tecnologia e de geração de emprego e
renda - boa parte das novas empresas são criadas por ex-alunos das universidades. As
pequenas empresas dispõem de bem menos condições de acessar ciência e tecnologia e
é aí que as universidades encontram uma importante tarefa a desempenhar. As
consultorias e as assessorias às empresas regionais também têm sido uma importante
forma de contribuir com os arranjos econômicos regionais.
Outro papel importante que as universidades comunitárias têm cumprido no Brasil
é o de oferecer o ensino técnico que tanto o nosso país necessita e o estado não tem
conseguido fornecer. Nesse caso, as universidades estão cumprindo uma lacuna no
chamado ensino médio profissionalizante.
O oferecimento de serviços, como análises que contribuem para certificar a
qualidade de produtos regionais, bem como análises que comprovem agressão ao meio
ambiente, tem sido freqüentemente realizado pelas universidades que são, em muitos
casos, os únicos centros que dispõem de infra-estrutura e de pessoal capacitado para
realizar essas atividades.
Outro grupo de atividades, que dinamizam o desenvolvimento das regiões, são
aquelas que chamaremos de artístico-culturais. Principalmente nas cidades de médio e
pequeno porte, as universidades podem ser o diferencial para proporcionar à população o
acesso a importantes manifestações artísticas, como música, teatro, artes plásticas. Além
disso, as universidades dispõem de setores e materiais importantes, como bibliotecas,
museus, auditórios, teatros e coleções de obras que são fundamentais para a riqueza
cultural das suas regiões.
As atividades físicas e esportivas formam mais um conjunto de atividades em que
as universidades têm focalizado sua atenção. E isso ocorre tanto pelo uso de seus
espaços e equipamentos, como pela qualificação das pessoas que trabalham, orientam e
treinam as mais diferentes modalidades atlético-esportivas.
Seguindo a linha de serviços prestados que contribuem para a melhoria da
qualidade de vida da população regional, destacamos os serviços e as práticas da área
da saúde que, no caso brasileiro, não só suprem uma lacuna importante, como, em
muitos casos, são os únicos serviços a que boa parte da população tem acesso. Como
exemplo citamos as clínicas médicas, odontológicas, fisioterápicas, nutricionais e
psicológicas, entre outras.
A partir de agora citarei, de forma rápida, algumas ações que se devem à
presença de uma universidade numa determinada região:
-
atração e fixação de uma massa intelectual importante para o desenvolvimento
local e regional que não estaria aí se não houvesse a universidade;
-
programas oriundos de políticas governamentais nacionais, estaduais e
municipais;
-
criação de programas de bolsas e financiamentos de estudantes universitários;
-
atrações de empresas que procuram regiões que dispõem de mão-de-obra
qualificada em diferentes áreas;
-
formação profissional de nível superior que leva em conta as necessidades e
peculiaridades do contexto regional;
-
em termos populacionais, a região deixa de perder importante segmento
intelectual que deixaria a região se não houvesse o ensino superior, atraindo
ainda pessoas de outras regiões;
-
recursos econômicos que são injetados diretamente na economia, via o
montante dos salários de professores e funcionários;
-
serviços prestados pelos estágios curriculares em muitos órgãos, como, por
exemplo, atendimento jurídico gratuito às populações carentes.
Certamente muitas outras contribuições ao desenvolvimento das comunidades
regionais, as universidades estão dando ou poderiam dar. Não nos cabe, no limite desta
apresentação, esgotar as formas, as maneiras como isto pode acontecer, mas sim
apontarmos algumas delas. Nesta época de falta de solidariedade, de crescente
separação entre indivíduos e também entre grupos sociais, é fundamental resgatarmos
um projeto universitário que sirva à ampla maioria da população. Que leve em conta não
só a quantidade de serviços colocados à disposição da comunidade, mas, especialmente,
a qualidade de todas as atividades desenvolvidas, tanto no ensino, como na pesquisa e
na extensão. Para isso, é fundamental que tenhamos uma avaliação permanente feita
também pela comunidade regional dessas ações que têm sido à ela direcionadas.
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