BASSO, F.; LERINA, D.; VIGANOR, E.; THOMPSON, D.; TAVARES, O.; Revisões de experiências pedagógicas em educação olímpica. Coleção Pesquisa
em Educação Física, Várzea Paulista, v. 14, n. 1, p. 139-148, 2015. ISSN: 1981-4313.
Recebido em: 22/12/2014
Parecer emitido em: 03/02/2015 Artigo original
REVISÕES DE EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS EM EDUCAÇÃO
OLÍMPICA
Fabiano Basso
Diego Lerina
Eduardo Viganor
Donaldson Thompson
Otávio Tavares
Universidade Federal do Espírito Santo - PPGEF /UFES
RESUMO
O objetivo desse artigo é apresentar uma revisão crítica do desenvolvimento de uma iniciativa
inovadora em educação em valores por meio do esporte tendo como referência os valores olímpicos no
Brasil. O projeto iniciou-se em 2010 com o desenvolvimento de material didático que vem sendo o objeto
de validações de conteúdo e avaliações de seus efeitos pedagógicos, as quais estão documentadas em
dissertações de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (PPGEF) da Universidade
Federal do Espírito Santo/Brasil. Na presente comunicação são apresentados a descrição, a justificativa,
o método e os resultados encontrados em cada uma das quatro etapas desenvolvidas. No âmbito da
validação de conteúdo são descritos três estudos, sendo dois em escolas e um em projetos esportivos de
caráter social. Já nos termos de avaliação dos efeitos pedagógicos do projeto, é apresentado outro estudo
elaborado no ambiente do Ensino Fundamental. Apesar do material didático ser um instrumento em constante
desenvolvimento, o foco de futuros estudos ligados a esse projeto estarão relacionadas com a avaliação e a
implementação de projetos em Educação Olímpica no Brasil. A principal contribuição desse estudo ao país
está ligada ao fomento de inovação de tecnologias de educação no campo da Educação Física.
Palavras-chave: Educação Olímpica. Pedagogia esportiva. Valores do esporte.
REVISING PEDAGOGICAL EXPERIENCES WITH OLYMPIC
EDUCATION
ABSTRACT
This paper aims to present developments related to experiences with Olympic Education (OE) in
Brazil. The project has commenced in 2010 with the development of a set of educational materials on sports
values with reference to the Olympic values. The pedagogical review was submitted to content validation
and pedagogical assessment. Those experiences were documented on four master’s dissertations supported
by the Physical Education Postgraduate Program (PPGEF) of the Federal University of Espírito Santo/Brazil.
Furthermore, we are presenting details about the structure, reasoning, method, and results of all quoted
papers. In the realm of content validation, namely, two papers aimed to validate content at the school
environment and another one at social projects. On the other hand, we assessed primary school children
pro-social behaviour, when exposed to consecutively activities during Elementary School environment. We
are moving towards assessment and implementation of OE program in Brazil. We do hope to contribute to
the field of Physical Education on stimulating the creation of new educational technologies in our country.
Keywords: Olympic Education. Sport pedagogy. Sport Values.
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INTRODUÇÃO
Uma das crenças mais estáveis e difundidas nas sociedades modernas refere-se ao potencial
educativo do esporte. De fato, na perspectiva da sociedade ocidental, o esporte como meio pedagógico
é tão antigo quanto à própria educação (JAEGER, 2003). Atribui-se ao esporte a condição de meio para a
realização de uma série de objetivos que muitas vezes vai além da prática esportiva propriamente dita. Isto
se deve ao ‘caráter dual do esporte’ (STEENBERGEN e TAMBOER, 1998). Ou seja, a existência de significados
intrínsecos à prática esportiva (esporte como um objetivo em si mesmo) e também a existência de significados
extrínsecos à prática esportiva (esporte como um meio para a realização de outros objetivos). Na prática,
estas duas dimensões do esporte estão frequentemente interrelacionadas. Segundo Danish e Nellen (1997, p.
103), “as habilidades para a vida (aquelas habilidades que nos permitem ser bem sucedidos nos ambientes
onde vivemos) e as habilidades esportivas tem diversas similaridades. (…) Algumas dessas habilidades
são as capacidades de executar atividades sob pressão, resolver problemas, lidar com prazos e desafios,
estabelecer objetivos, comunicar-se, lidar com o sucesso e o fracasso, trabalhar em equipe e dento de um
sistema, receber avaliações e beneficiar-se delas. O esporte pode ser um valioso veículo para o ensino de
habilidades para a vida.” Em contas finais, “é o argumento da construção do caráter, do desenvolvimento
moral, do desenvolvimento da cidadania e desenvolvimento social, que justifica a existência das atividades
físicas em instituições educacionais” (STEVENSON, 1975, p. 287).
De acordo com Steenbergen, De Knoop e Elling (2001) o esporte ensina, geralmente de maneira
mais implícita do que explícita, os valores que fundamentam suas regras e normas e que possuem relações
com o clima social ou a cultura do time ou do clube. Contudo, a prática esportiva não existe isolada de um
contexto sociocultural mais amplo. Muito pelo contrário, ela está ligada a estruturas sociais e valores sociais
combinando de maneira complexa valores, normas e atitudes da própria modalidade esportiva, do clube ou
associação esportiva, do nível de prática esportiva (educação, participação ou rendimento) e da sociedade
na qual está inserido (PUIG e HEINEMAN; 1991; SANMARTÍN, 1995).
No contexto do mundo ocidental, uma das primeiras elaborações de um conjunto de valores
definidos do esporte e de uma “pedagogia esportiva” foi feita pelo fundador do Movimento Olímpico,
o Barão Pierre de Coubertin, com base nos legados histórico-culturais gregos e pretensões de alcance e
validade universais (DaCOSTA, 2009).
O presente texto apresenta revisões de experiências pedagógicas no âmbito do ensino em valores por
meio do esporte. Através do projeto intitulado “Educação Olímpica”, desenvolvido pelo Centro de Estudos
Olímpicos da Universidade do Espírito Santo — ARETÊ — em colaboração com o Comitê Brasileiro Pierre de
Coubertin (CBPC), foi iniciado o desenvolvimento de um material didático para o ensino em valores como
uma tecnologia educacional inovadora no Brasil. Baseado em experiências internacionais, este material
didático toma como referência os valores do Movimento Olímpico, daí a denominação neste texto como
‘Manual em Educação Olímpica’ (MEO).
O desenvolvimento deste processo teve como base a compreensão de que o esporte é uma ferramenta de educação em valores não é sustentada por uma pedagogia organizada e sistematizada e na ausência de
iniciativas de educação olímpica em um país que irá sediar os Jogos Olímpicos, tal como constatado por Todt
(2009). Na verdade, o material em desenvolvimento partiu da proposição que o ensino em valores por meio
do esporte pode ser mais rico, mais objetivo e mais efetivo se acompanhado de material didático de suporte
para o professor. Nossa tradição tem sido a de utilizar a prática esportiva em si como ferramenta ‘natural’
de educação. De fato, a experiência histórica demonstra fartamente que as práticas corporais de um modo
geral, e as práticas esportivas em particular, funcionam como metalinguagens axiológicas (DaCOSTA, 2009).
Ou seja, possuem uma carga simbólica relacionada a valores que tem sido utilizada de maneira intencional
ou intuitiva como ferramenta de educação moral e parte integral da formação humana.
O processo de construção do MEO foi iniciado em 2010. Ele pode ser compreendido também como
uma contribuição concreta à possibilidade de um legado educacional dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Desde
2010, o referido material didático vem sendo objeto de desenvolvimento, estudos de avaliação e validação,
as quais estão documentadas em dissertações de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação
Física (PPGEF) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Com ponto de partida, entre 2010 e 2012 empreendemos a primeira pesquisa de mestrado que
versava sobre o tema. Neste estudo, Fabiano Basso submeteu o MEO a um processo de validação qualitativa
de conteúdo. Esse autor defendeu a tese de que o esporte é um fenômeno polissêmico e os seus valores
necessitam de compreensões particularizadas. Portanto, para Basso (2012), apesar das pretensões de
universalidade do esporte, o MEO é um instrumento no qual a acurácia necessita ser verificada e validada em
contextos definidos. A partir dessa mesma compreensão, outros dois estudos foram desenvolvidos adotando
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como contextos de validação o ensino médio escolar e projetos esportivos de caráter social.
A justificativa dos três estudos de validação de conteúdo já comentados se resguardava na tese
de Tavares (2008) sobre o impacto do Movimento Olímpico (MO) na formatação do modelo e nos valores
que atribuímos às práticas esportivas no século XX, mesmo considerando diferentes possibilidades de
apropriações e usos locais. É nesse sentido que consideramos os valores do Movimento Olímpico como
referências fundamentais para a pedagogia esportiva.
Compreendemos que a Educação Olímpica (EO) se distingue por ser um “conjunto de propostas
educacionais por meio do esporte tendo como referência o Movimento Olímpico, seus valores declarados,
seus símbolos, sua história, seus heróis e suas tradições” (TAVARES, 2008, p. 185). A partir dessa definição
foi possível delinear uma identidade para EO quando a caracterizamos como desinteressada pelo ensino
desta ou daquela modalidade esportiva. Em termos técnicos, a EO define-se como um processo educacional
que visa sistematizar os valores do/no esporte em conjunto com os valores do Olimpismo (DaCOSTA et al.,
2007). Todavia, são escassos os estudos de sistematização da educação em valores por meio do esporte.
Uma sistematização se faz claramente necessária porque ela organiza as formas experimentadas, dando
coerência a experiências pedagógicas que de outro modo não seriam compreensíveis em um conjunto.
Além disto, podem fornecer referências didático-metodológicas ao professor interessado e, posteriormente,
possibilitar a troca de experiências e informações com ganhos para todos os sujeitos envolvidos, sejam
professores, alunos ou gestores.
Na literatura internacional a mais desenvolvida referência para a sistematização das abordagens
pedagógicas relacionada à EO foi feita pelo pedagogo alemão Roland Naul (2010). Segundo este autor, são
quatro as abordagens que orientam a efetivação prática do ensino da EO como proposta educacional.
• Abordagem orientada ao conhecimento: Esta abordagem caracteriza-se pelo ensino e pela
transmissão de informações sobre o Movimento Olímpico, os Jogos Olímpicos antigos e
modernos, seus valores, símbolos, tradições, acontecimentos e heróis do esporte Olímpico.
• Abordagem orientada à experiência: Esta abordagem refere-se aos encontros, eventos e festivais
esportivos, em ambientes escolares ou não, que por meio da reprodução ou mimetização das
cerimônias olímpicas e das competições esportivas permite a experiência de uma competição
de tipo olímpica, com toda sua carga simbólica e a compreensão dos valores olímpicos.
• Abordagem orientada ao esforço: Trata-se da aprendizagem individual e social que ocorre por
meio da prática esportiva competitiva. Todavia, a abordagem orientada ao esforço deve combinar
o estímulo à autossuperação com a vivência da ética esportiva de modo a proporcionar prazer
no esforço competitivo.
• Abordagem orientada ao mundo da vida: trata dos conhecimentos e aprendizados do mundo
esportivo que transbordam para o mundo social. Esta abordagem caracteriza-se pelo objetivo de
fazer as experiências esportivas, os comportamentos e os princípios Olímpicos serem empregados
nas ações diárias e nas diversas dimensões da vida cotidiana.
Essas definições devem ser entendidas como ‘tipos ideais’, ou seja, como modelos teóricos que
servem de referência de organização da realidade. Deste modo, as abordagens acima mencionadas não
necessitam ser contemplados de maneira isolada. Na verdade, segundo o autor, na prática, estas abordagens
ocorrem de maneira muitas vezes combinadas. A experiência prática muitas vezes resulta em interações –
em diferentes graus e níveis – dessas abordagens.
Em termos de seu método interno, o MEO se enquadra na abordagem pedagógica em direção ao
mundo da vida (NAUL, 2010; BINDER, 2012). Particularmente essa teorização é problematizada no MEO
por meio de dilemas morais a partir da experiência obtida na participação esportiva como uma referência
para o comportamento ‘fora da quadra’.
Após o término dos estudos mencionados, o MEO pôde ser reorganizado e reclassificado em quatro
grandes temas de discussão. O primeiro deles se chama ‘Ética esportiva’. Nele são tematizados as noções
de fair play e respeito. O segundo se intitula ‘Vida ativa e saúde’, é enfocado o estímulo à prática esportiva
como uma forma de construir uma vida saudável e prazerosa. O valor ‘Excelência’ compõe o terceiro
tema discutido no MEO. Nele, esse valor é enfocado antes de tudo como o ‘fazer o seu melhor’, ou seja, a
excelência como compromisso pessoal e os aspectos construtivos da competição. Por fim, são abordadas
questões relacionadas às responsabilidades da pessoa na vida em sociedade.
Neste ponto, já havíamos acumulado razoável experiência e isso fez com o que pudéssemos nos
preocupar com novas questões. Seguindo em frente colocamos em cheque o próprio método interno contido
no MEO, quando tencionamos os limites e as possibilidades do papel educacional das práticas esportivas
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na vida dos indivíduos. Doravante, em um quarto estudo ainda em desenvolvimento elaborado o foco de
interesse deslocou-se da validação de conteúdo para a avaliação de seus efeitos pedagógicos.
Em seguida iremos apresentar as experiências acima mencionadas em vias de documentar em
detalhes o desenvolvimento teórico-metodológico do Manual de Educação Olímpica como um material
didático. Para a apresentação destes estudos, padronizamos a seguinte estrutura: [1] descrição; [2] justificativa;
[3] objetivos; [4] método; [5] resultados.
ESTUDO 1 - VALORES EM JOGO: POSSIBILIDADES PARA EDUCAÇÃO OLÍMPICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA
ESCOLAR
• Descrição: Projeto de inovação que visa o desenvolvimento de material didático para
operacionalizar práticas de educação em valores por meio do esporte no ambiente escolar
tendo como referência a “Educação Olímpica”.
• Justificativa: Até 2016 o Brasil sediará uma série de megaeventos esportivos, sendo o maior deles
os Jogos Olímpicos. Segundo a literatura internacional, os megaeventos esportivos podem gerar
legados tangíveis e intangíveis tanto para as cidades diretamente envolvidas quanto para os países
que os sediam (POYNTER, 2006). Entre os legados tangíveis podem ser citados o desenvolvimento
econômico e a melhora da infra-estrutura urbana, por exemplo. Já entre os legados intangíveis
situam-se a modificação de percepção do país e da cidade-sede perante outras nações e o
fomento de atividades educacionais e culturais relacionadas ao esporte (PREUSS, 2008). Se
entre as funções da educação está à formação do indivíduo e da cidadania é impossível evitar
importantes relações com valores. Permanece como desafio no Brasil a sistematização de um
currículo escolar de educação em valores por meio do esporte.
• Objetivo: Validar o conteúdo do MEO em ambiente escolar não-seriado.
• Método: Estudo de validação de instrumento (Manual de Educação Olímpica) de tipo qualitativo
exploratório (RICHARDSON, 1999; POUPART et al., 2008). A avaliação do instrumento foi
realizada a partir de quatro critérios: [1] conteúdo, [2] organização e métodos, [3] informação
e [4] comunicação. Participaram de forma voluntária quatro (4) professores de escolas públicas
no estado do Espírito Santo.
• Resultados: Com referência em Bernard Charlot (2000) foi investigada as relações com o saber
(consigo, com os outros e com o mundo) a partir da apropriação do MEO pelos sujeitos de
pesquisa. Dentre algumas questões estão: as representações de valores, os sentidos atribuídos
e as produções de conhecimento. Especificamente, através dos consensos obtidos em torno da
figura do aprender ‘objetivação-denominação’ esse estudo de validação de conteúdo do MEO
sugeriu: [1] pertinência do conteúdo do MEO aos desafios do ensino esportivo na escola; [2]
aperfeiçoamento qualitativo da dimensão ‘organização’ do MEO [3] identificação de limitações
relacionadas à quantidade de informação disponível ao professor; [4] melhoramentos na definição
de faixas etárias para as quais se destinam as atividades; [5] inserção de mais ilustrações e
adequação iconográfica. Embora esse estudo não levasse em consideração a seriação escolar,
outra conclusão importante é a sugestão de não pertinência do MEO às séries iniciais do Ensino
Fundamental.
ESTUDO 2 - EDUCAÇÃO OLÍMPICA: VALORES NO JOGO DA INCLUSÃO SOCIAL
• Descrição: Validação de conteúdo qualitativa de material didático para ensino em valores (Manual
de Educação Olímpica) em projetos de inclusão social por meio do esporte.
• Justificativa: É no mínimo ingenuidade evitar o fato de que as práticas esportivas têm importantes
relações e implicações com valores. De qualquer maneira, parece frutífero pensar com seriedade
os limites e as possibilidades inerentes às propriedades educacionais do esporte, pois através dele
é possível realizar projetos, incutir novos valores e comportamentos nas pessoas. Por exemplo, é
a partir da instrumentalização de valores por meio do esporte que os governos e as instituições
tentam atingir realizações como, a inclusão social. Projetos com esse objetivo frequentemente
fazem parte de agendas políticas e de instituições. Sem dúvida, há uma tentativa em legitimar
o esporte como um ‘bom’ meio para a socialização e a integração de jovens. No entanto, a
literatura especializada sugere uma baixa evidência empírica que suporte esse tipo de alegação
(STEENBERGEN, DE KNOP e ELLING, 2001). A discussão do ensino em valores nesse âmbito
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parece fazer parte de um ‘currículo oculto’. Em contraste a essa situação, o MEO foi pensado como
um guia de referência conciso para professores de Educação Física preocupados em sistematizar
o ensino em valores por meio do esporte no âmbito de projetos esportivos de caráter social.
Assim, um programa baseado em Educação Olímpica poderá parte de um completo exame de
sua missão e seus princípios norteadores possibilitando que certos valores que atribuímos às
práticas esportivas possam ser sistematizados em diferentes contextos socioculturais.
• Objetivo: Investigar a validade da organização e método do MEO; (b) investigar a validade de
sua informação; (c) investigar a validade de sua comunicação; (d) investigar a exequibilidade de
suas aditividades propostas; (e) e, por fim, investigar sua validade de conteúdo.
• Método: A validade de conteúdo é definida como “a qualidade de um instrumento que fornece
as informações para o qual foi construído” (LAVILLE e DIONNE, 1999, p. 337), ou “a capacidade
de produzir dados adequados e precisos para se chegar a conclusões corretas” (RICHARDSON,
1999, p. 87). Este processo específico de validação qualitativa do MEO, contudo, pode ser mais
bem entendido a partir de suas aproximações com alguns outros conceitos de validação e de
noções ‘validade lógica’ ou ‘validade de conteúdo’ (THOMAS e NELSON, 2002). Por analogia,
a abordagem metodológica proposta está diretamente relacionada à noção de pertinência
(LAPERRIÈRE, 2008). Segundo Laperrière (2008, p. 422), “um indicador é válido quando
representa adequadamente um conceito”. Porém, o procedimento de apreciação da validade
na pesquisa qualitativa só pode ser “indireto e aproximativo”. Neste contexto, adotamos uma
estratégia de triangulação de dados (MOLINA NETO e TRIVIÑOS, 2004), visando estabelecer
concordância entre diferentes fontes de dados e diferentes interpretações. Outro conceito bastante
apreciado nesse estudo caracteriza e qualifica a validação qualitativa do MEO como uma busca
pela ‘validade ecológica’. Ou seja, estamos falando de aproximações com o mundo real. Daí,
pensamos em triangular dados por meio da apreciação do MEO por professores de Educação
Física em exercício nos projetos esportivos de caráter social a partir do acompanhamento de
seus lidares em contextos concretos e não manipulados pelo pesquisador. As etapas do processo
de validação qualitativa de conteúdo do MEO consistiram em cinco (5) ações: [1] apresentação
da intenção de pesquisa; [2] ciclo de qualificação em EO; [3] recrutamento da população e
entrevistas iniciais; [4] aplicação do MEO e coleta de dados; [5] e uma entrevista final.
• Resultados: Três (3) professores vinculados a um projeto esportivo social localizado no estado
do Espírito Santo avaliaram e contribuíram com 37 sugestões relacionadas a adequações de
conteúdo do MEO. Deste total, a categoria de análise ‘informação’ (45.9%) foi avaliada com
maior recorrência; seguida por ‘Organização e Método’ (40.6%); e, por último, ‘Comunicação’
(13.5%). O processo de análise dos dados sugeriu escore de ‘exequibilidade’ de 93.23% das
atividades presentes no MEO em relação a sua pertinência ao ensino em valores por meio do
esporte em projetos de caráter social. Esse último dado corresponde a 90.81% do total de 51
atividades presentes no MEO. De acordo com os sujeitos de pesquisa, o MEO é uma ferramenta
útil, pois: (Prof1) é baseado em dilemas morais; (Prof2) auxilia no processo de sistematização do
ensino em valores; (Prof3) possui atividades capazes de proporcionar reflexão moral em jovens.
Além disso, os professores avaliadores apresentaram um consenso em relação da exequibilidade
daquelas atividades presente no MEO com predominância do elemento físico. Em contraste,
pode ser inferido que no contexto da educação escolar, exceto no ambiente das aulas de
Educação Física, a exequibilidade das atividades estão predominante relacionadas a elementos
predominantemente cognitivos ao invés.
ESTUDO 3 -EDUCAÇÃO OLÍMPICA NO ENSINO MÉDIO: VALIDAÇÃO QUALITATIVA DE UM
MATERIAL DIDÁTICO DE EDUCAÇÃO EM VALORES POR MEIO DO ESPORTE
• Descrição: Outra frente de pesquisa se abriu a partir da necessidade de validação do Manual
de Educação Olímpica levando em consideração a especificidade do Ensino Médio, como um
dos diferentes segmentos de ensino que compõem a Educação Básica, que esta pesquisa se
desenvolveu o presente trabalho. Sendo uma pesquisa de tipo exploratória se buscou realizar a
validação qualitativa de um instrumento de apoio pedagógico voltado para o desenvolvimento
de propostas de educação em valores através do esporte e pautado na Educação Olímpica –
o já anteriormente mencionado Manual de Educação Olímpica –, tendo como referência a
possibilidade de utilização deste material tanto por professores de Educação Física escolar atuantes
no Ensino Médio quanto pelos alunos matriculados neste nível específico de escolarização.
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• Justificativa: A mudança de valores sociais e sua pluralidade indicam um novo cenário
educacional cuja compreensão aponta para a necessidade de uma educação em valores. A
Educação Física enquanto componente curricular obrigatório da educação básica não se isenta
dessa responsabilidade de elaborar propostas que abarquem a discussão e problematização de
valores no contexto de suas aulas. Porém, a sistematização de tais propostas parece ser pouco
desenvolvida na escola, de modo geral, e nessa disciplina, em particular. Em contrapartida, o
conteúdo esportivo submetido a um tratamento pedagógico específico tem sido apontado como
um veículo de formação moral. Em conjunto, também o livro didático bem estruturado pode
ser um auxiliador da prática docente.
• Objetivo: O objetivo do trabalho residiu em investigar a validade do material didático enquanto
tal. Este processo de validação qualitativa desenvolveu-se a partir de três etapas: [a] investigação
das possibilidades de aplicação prática do Manual de Educação Olímpica na Educação Física
escolar do Ensino Médio; [b] análise dessa possibilidade de aplicação do material didático
considerando usos, alterações, acréscimos, funcionamentos e recusas de suas atividades; e
[c] adequação final do material didático para sua utilização no Ensino Médio após as análises
estabelecidas. Para isso, contou-se com a colaboração voluntária de quatro professores de
Educação Física escolar atuantes no Ensino Médio.
• Método: Este trabalho se define como uma pesquisa de ‘validação qualitativa de instrumento’.
No caso, o instrumento a que nos referimos é o material didático sobre educação olímpica.
Em seu nível teórico mais básico, a validade é definida como “a qualidade de um instrumento
que fornece as informações para o qual foi construído” (LAVILLE e DIONNE, 1999, p. 337), ou
“a capacidade de produzir dados adequados e precisos para se chegar a conclusões corretas”
(RICHARDSON, 1999, p. 87). Tais definições dão o fundamento necessário para a definição
pretendida no trabalho ora em análise. Isto se deve ao fato que não é objetivo desta pesquisa
avaliar os efeitos da aplicação das atividades propostas sobre os valores e atitudes dos educandos.
• Resultados: Os resultados indicam que o material é claro, conciso e coerente, mas precisa
avançar na indicação de mais atividades práticas que permitam a discussão de valores. Concluise que a iniciativa é válida, porém ainda é necessário desenvolver indicadores de aplicação que
sinalizem para a ocorrência ou não de mudanças comportamentais e atitudinais por parte dos
alunos submetidos às atividades do instrumento.
ESTUDO 4 - A DIMENSÃO ATITUDINAL NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: A MUDANÇA DE
ATITUDES DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL (I) EM CONTATO COM A
EDUCAÇÃO OLÍMPICA
• Descrição: O presente trabalho investiga a efetividade, a ocorrência e os efeitos pedagógicos
das atividades presentes no Manual de Educação Olímpica no comportamento pró-social de
escolares do ensino fundamental.
• Justificativa: A evidência da ocorrência ou não de mudanças de comportamentos e atitudes
indivíduos submetidos ao MEO ainda é uma lacuna nos desenvolvimentos deste projeto. Além
disso, a partir dessa investigação poderá ser possível oferecer diferentes categorias de análise
e acumulação de uma base empírica relacionada aos efeitos pedagógicos do esporte na vida
de jovens.
• Objetivo: Analisar os efeitos pedagógicos das atividades contidas no Manual de Educação
Olímpica no comportamento pró-social de escolares do 5º ano do Ensino Fundamental. A
determinação de indicadores e análise dos dados será mensurada estatisticamente com base
em aplicação de questionário.
• Método: Estudo de delineamento quali-quantitativo de tipo longitudinal "quase-experimental"
(KERLINGER, 1986). Foram selecionadas duas turmas compostas aproximadamente por 30 alunos
cada, do 5º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública, localizada no estado do Espírito
Santo. Dentre os dois grupos não-randomizados, apenas um recebeu durante 12 semanas (grupo
experimental) um conjunto de atividades específicas com ênfase no ensino em valores (MEO) nas
aulas de Educação Física, enquanto o outro grupo (grupo controle), realizou atividades de outra
natureza. Para a avaliação dos efeitos das atividades contidas no MEO foi aplicado o questionário
"Prosocial Behaviour Questionnaire" (PBQ) (WEIR e DUVEEN, 1981). O PBQ é um questionário
de tipo Likert, previamente validado, composto por três (3) opções distribuídas entre vinte (20)
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afirmativas. Esse questionário foi submetido a um processo de tradução de língua inglesa para
o idioma português do Brasil. Logo, após questionário foi respondido pelo sujeito de pesquisa
em pré-teste e pós-teste. Seguindo em frente, propomos calcular as diferenças entre as médias
de pré/pós-teste de: intragrupos (teste de Wilcoxon); intergrupos (teste U de Mann-Whittney); e
a confiabilidade da aplicação do instrumento (Alpha de Crombach). No presente momento, este
estudo encontra-se em desenvolvimento com resultados previstos para o ano de 2015.
SÍNTESE DE EXPERIÊNCIAS EM EDUCAÇÃO OLÍMPICA
Os estudos acima mencionados procuraram cobrir diferentes tempos e espaços dos campos de
intervenção típicos da Educação Física como elemento formativo-pedagógico. Em primeiro lugar, a escola.
Como sabemos, a escola não é uma instituição social monolítica. Sua realização concreta pode apresentar
diferentes facetas, seja em termos de localização geográfica (urbana ou rural), de meio social (tipologia
socioeconômica de local onde está inserida), níveis de ensino (fundamental, médio ou superior) ou
propriedade pública ou privada. Em segundo lugar, os projetos sociais que se utilizam do esporte como atrativo
e/ou ferramenta de socialização e educação. Muitos deles são iniciativas privadas, ligadas a organizações não
governamentais, igrejas ou mesmo iniciativas individuais de pessoas engajadas e idealistas. Outros projetos
esportivos de caráter social são pertencentes aos próprios entes governamentais em seus diferentes níveis.
A maioria destas iniciativas, senão todas, possuem seus próprios conjuntos de valores definidos
de maneira explícita ou tácita. O que lhes falta, em sua maioria, segundo nossas investigações iniciais, são
ferramentas objetivas para o desenvolvimento pedagógico daquilo que se propõem a ensinar. É claro que a
organização do ambiente e as atitudes dos profissionais são absolutamente fundamentais para o ensino em
valores. Porém, isto não é tudo. Especialmente porque não existindo sistematização, diminuem as chances
de controle do processo e de efetivação dos objetivos educacionais propostos. Isto significa que uma
mesma experiência prática pode gerar aprendizados diferentes e termos de graus e direção em diferentes
educandos. Uma evidência empírica disto reside no fato da prática esportiva gerar frequentemente conflitos
que necessitam ser mediados.
No desenvolvimento de nosso projeto de pesquisa e intervenção, procuramos cobrir o máximo
possível estas diferentes possibilidades. Assim, o primeiro estudo, por seu caráter pioneiro, reuniu professores
de Educação Física escolar de diferentes níveis de ensino e meio social. Já o terceiro e o quarto estudos
adotaram maior especificidade em termos de níveis ensino (ensino médio e primeiro ciclo do ensino
fundamental). Já o segundo estudo, por sua vez, procurou inserir-se no âmbito dos projetos sociais. Neste
último caso, apesar do compartilhamento com a instituição escola de objetivações educacionais, seu caráter
não obrigatório de participação e mais restrito em termos de conteúdos de ensino, fazem deles instituições
educacionais muito diferentes da instituição escola.
Em síntese, os três estudos concluídos demonstraram que: [1] O material didático necessita de
ampliação da apresentação de sua fundamentação teórica; [2] Existe necessidade de presença do conteúdo
‘educação em valores’ na formação inicial e continuada dos professores; [3] Existe necessidade de presença
do conteúdo ‘educação olímpica’ na formação inicial e continuada dos professores; [4] É necessário o
desenvolvimento contínuo de atividades de leitura e debate e práticas; [5] é necessário o desenvolvimento
contínuo de estratégias científicas de avaliação de projetos e atividades de maneira a melhorar a efetividade
destas iniciativas.
O conjunto das experiências desenvolvidas apresenta em síntese um resultado que pode ser
considerado como adequado e promissor. Os professores de Educação Física que se dispuseram a fazer uso
do material, em suas diferentes versões, foram unânimes em afirmar sua importância, pertinência e utilidade.
Isto significa a existência de um grau de aceitabilidade de materiais didáticos vocacionados para atender a
demanda de ensino em valores de modo mais sistematizado e pedagogizado.
No Brasil, o tipo mais frequente de vinculação de programas em Educação Olímpica são as
iniciativas autônomas. Por definição elas não possuem nenhum tipo de articulação com políticas públicas.
Geralmente, essas iniciativas tendem a atingir um público mais restrito, uma vez que tradicionalmente partem
da boa vontade de educadores. Outra futura possibilidade de vinculação é estabelecer parcerias com a
“Família Olímpica”, apesar da imprecisão do termo, são as iniciativas caracterizadas nessa dimensão que
possuem o reconhecimento do Comitê Olímpico Internacional para utilizar a Ideia Olímpica. Os materiais
didáticos de Educação Olímpica mais difundidos internacionalmente foram: o Keep the Spirit Alive: you
and the Olympic Games (1995), desenvolvido pela IOC Comission for the International Olympic Academy
and Olympic Education; o Learn and Play Olympic Sport (1992), desenvolvido pela The Amateur Athletic
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Foundation of Los Angeles; e o Be a Champion in Life! (2000), um projeto da hoje extinto da Foundation of
Olympic and Sport Education.
Assim, um dos grandes desafios para Educação Olímpica no Brasil e, em especial, ao MEO é
estabelecer programas educacionais de vinculações duradouras. Nossa experiência obtida em projetos sociais
e escolas que sugere que uma estratégia de implantação de caráter top-down é bastante adequada. Nesse
sentido, trabalhamos em conjunto com os gestores das instituições e propomos um processo de certificação
institucional por meio da chancela Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin, sendo esse fundado em 2006 e
tem como objetivos: difundir e divulgar os princípios do Olimpismo; fornecer suporte a pesquisadores e
interessados nas ideias educacionais de Pierre de Coubertin; estimular a participação de escolas e projetos
sociais esportivos em encontros internacionais Pierre de Coubertin, entre outros. Hoje presidido pelo Dr.
Nelson Schneider Todt e com a sede na Faculdade de Educação Física e Desportos da PUCRS. Assim, esse
plano de ação de implantação tem como objetivo a inclusão dos temas pertinentes à Educação Olímpica
nos currículos das instituições e a formação dos profissionais envolvidos.
Desde 2012, três instituições já foram certificadas pelo Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin no Brasil.
A primeira é um programa educacional esportivo com linha pedagógica baseada na Educação Olímpica,
a Fundação Tênis, com diversos núcleos localizados no estado do Rio Grande do Sul e um núcleo em São
Paulo, no município de São Paulo. A segunda é uma escola de ensino fundamental e médio localizada no
estado do Rio Grande do Sul, no município de Erechim. Já a terceira certificação foi concedida ao Núcleo
de desenvolvimento Humano e Econômico de Serra (Estação Conhecimento), situada no município de Serra,
região metropolitana de Vitória, Espírito Santo. No momento, a Estação Conhecimento/Serra atende cerca
de 800 jovens diariamente e a Educação Olímpica é desenvolvida de maneira articulada a três modalidades
esportivas: Futebol, Atletismo e Natação.
A expectativa para os próximos anos são, de um aumento nas discussões sobre o tema da Educação
Olímpica no Brasil devido à realização dos Jogos Olímpicos ‘Rio 2016’. Essas possibilidades foram reforçadas
no recente documento “Olympic Agenda 2020”, que foi o produto de mais de 40.000 sugestões para
discussão ao longo do período de 2013-2014, gerando cerca de 1.200 ideias. Tendo um condensamento
em 40 recomendações para um roteiro estratégico do futuro do Movimento Olímpico (INTERNATIONAL
OLYMPIC COMMITTEE, 2014). Especificamente três recomendações abordam sobre a Educação Olímpica:
a Recomendação 4, que fala do legado pós-Jogos e sustentabilidade econômica, social e ambiental; a
Recomendação 22, que estimula a expansão da Educação baseada em valores olímpicos (dita Educação
Olímpica), frisando que o COI deve identificar a apoiar iniciativas que podem ajudar a difundir os valores
olímpicos; e a Recomendação 26, que incentiva a mistura de esporte e cultura, envolvendo premiações,
museu olímpico itinerante e ações com artistas locais.
Apesar dessas recomendações e possíveis discussões, entendemos que a Educação Olímpica
independe da realização dos próprios Jogos, pois eles parecem não mais representar aspirações pedagógicas,
como aponta Schantz (2012). O autor desenvolveu um estudo no qual foram verificadas algumas tendências
ideológicas presentes em diversas inciativas internacionais de Educação Olímpica. Destes achados foram
selecionadas duas correntes — (i) idealistas e de (ii) marketing — por sintetizarem em seu espírito aspectos
absolutamente contraditórios a missão educacional promulgada pelo próprio Movimento Olímpico.
As tendências de tipo idealista também são chamadas por Schantz (2012) de antropologias filosóficas.
Basicamente, elas são correntes que se baseiam diretamente nos ideais educacionais de Coubertin, propondo
uma adaptação ao nosso tempo.
Já as abordagens de marketing são frutos de sofisticadas estratégias, métodos científicos e
campanhas educacionais baseadas em estudos de mercado. Para o autor, a natureza dessas tendências está
frequentemente relacionada à candidatura das cidades sedes dos Jogos. Para o autor, esse tipo de proposta de
Educação Olímpica sofre influência direta do departamento de marketing do Comitê Olímpico Internacional
e/ou de seus patrocinadores.
Assim, fica evidente que apresentam-se duas forças que atuam sob o Movimento Olímpico. De um
lado o capital simbólico agregado pelo Movimento Olímpico ainda possui significado social para as pessoas,
de outro, o problema do comercialismo e do gigantismo é potente e latente.
Nesse sentido, a vivência proporcionada por elementos antagônicos emulados durante os Jogos
podem causar um tipo de experiência contraditória o que reforça a importância da educação em valores e
da educação olímpica experimentada na base.
Por fim, um desafio de caráter acadêmico, é o de evidenciar no que o esporte educa e o quanto.
Tanto no Brasil quanto no exterior existe razoável carência de evidências empíricas de que o esporte educa.
Boa parte das justificativas da presença do esporte em cenários educacionais se deve à crença de que ele
educa. Ainda que isto seja verdade, não se sabe exatamente o que ele educa verdadeiramente e o quanto
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esta experiência é transferida para a vida em sociedade. Provavelmente, jamais teremos um conhecimento
muito exato sobre isto, mas podemos levantar pistas para entender melhor estes processos. Assim, pesquisar
sobre os efeitos educacionais do MEO é uma maneira de contribuir com este debate. A magnitude deste
conjunto de desafios só pode ser definida como um desafio olímpico!
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