E-book multiplataforma: um recurso educativo para a
acessibilidade de crianças surdas.
Márcio Cleyton Vasconcelos Barbosa 1 (UFPE)
Tamires Maria de Lima Silva 2 (UFPE)
Anna Rita Sartore³ (UFPE)
Resumo:
O presente artigo versa sobre o desenvolvimento de um e-book
multiplataforma, voltado para crianças surdas, em função da escassez de
materiais educativos, em português, para sistemas como Windows,
Macintosh e Linux. O e-book é composto por 12 histórias, adaptadas do
livro Brincando com origami: portas da imaginação da autora Constância
Maria Soares, ano 2012. Os personagens foram feitos através da técnica de
dobradura origami, e as histórias foram elaboradas a partir da técnica de
animação Stopmotion. Além da disposição de uma intérprete de LIBRAS,
nas histórias animadas.
Palavras-chave: e-book, infoinclusão, design de animação.
Abstract:
This paper discusses the development of a multi-platform e-book, facing
deaf children, because of the shortage of educational materials in
Portuguese, for systems such as Windows, Macintosh and Linux. The e-book
consists of 12 stories adapted from the book Playing with origami: doors of
imagination of the author Constância Maria Soares, 2012 year. The
characters were made using the technique of folding origami, and the
stories were prepared from Stopmotion animation technique. Besides the
provision of an interpreter of the LIBRAS, in the animated stories.
Key-words: e-book, infoinclusion, animation design.
Introdução
Os produtos, sistemas e serviços produzidos na atualidade necessitam cada
vez mais atender as demandas da maioria dos indivíduos, sem que haja a exclusão
1
Márcio BARBOSA, graduando em Design
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
[email protected]
2
Tamires SILVA, graduanda em Design
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
[email protected]
³Anna SARTORE, Profa. Dra. em Educação
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
[email protected]
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-1-
das necessidades específicas dos variados grupos sociais hodiernos. Atividades
desenvolvidas pela sociedade contemporânea demandam recursos para facilitar e
aperfeiçoar o desempenho dos meios de produção do conhecimento, aprendizagem
e propagação de boas práticas, sobremaneira, no campo da educação. Nesse
sentido, o desafio lançado aos educadores de hoje consiste em tornar a tecnologia
uma aliada para a mediação do saber, e nesse ínterim se configura a soma de
esforços de profissionais engajados na inserção tecnológica, a partir de uma
gradativa mudança de hábitos ou agregação de novas maneiras de se apropriar do
conhecimento. Esse processo apresenta-se ainda mais delicado em se tratando de
tecnologia assistiva, representada conforme Machado e Sobral (2009), por àquela
que trata do arsenal de ferramentas e sistemas em prol de melhorias nas
habilidades funcionais de indivíduos com necessidades especiais, visando tornarlhes aptos a execução de atividades no âmbito de uma vida independente e
inclusiva.
Dessa maneira, o grupo PET Infoinclusão: demanda da cultura, direito de
todos busca desenvolver de modo abrangente a inserção das Tecnologias Digitais da
Informação e Comunicação – TDIC’s no cotidiano escolar, no intuito de favorecer o
aprendizado. O referido grupo faz parte do Programa de Educação Tutorial, do
Governo Federal, através do Ministério da Educação (MEC). O PET Infoinclusão, da
cidade de Caruaru, empenha-se, portanto, na elaboração de mecanismos e
ferramentas passíveis de serem aplicadas no âmbito educacional, por docentes da
rede básica e do ensino superior, em prol da apropriação igualitária das tecnologias
como aliadas dos novos modelos de ensino. Assim, surgiu a proposta de
desenvolvimento de um e-book multiplataforma, devido a observação participante
em escolas do município de Caruaru e conseguinte verificação da escassez de
materiais
educativos
de
língua
portuguesa,
capazes
de
dar
suporte
ao
desenvolvimento da aprendizagem de crianças surdas.
Formado atualmente por 10 bolsistas, o PET Infoinclusão possui características
multidisciplinares, pois contempla em sua composição graduandos das áreas de
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-2-
Design e Pedagogia. Deste modo, o grupo consegue aliar estratégias lúdicas e
atrativas, no intuito de inserir novas ações em prol das modificações propensas ao
modelo de educação, a partir dos suportes assistidos pelos recursos tecnológicos.
Os procedimentos para concepção do e-book foram elaborados pelo grupo PET
Infoinclusão, durante o cumprimento de atividades semanais que ocorrem na
Universidade entre pesquisas e aplicações práticas, através da geração de produtos
e ações formativas para os docente e discentes da academia e da rede básica de
ensino municipal.
Um dos diferenciais do projeto consiste no uso da técnica de dobradura
origami para confeccionar os personagens e os cenários, que formaram as histórias
que compõem o e-book. De acordo com Blun e Costa (2010), o termo origami
significa dobrar papel e a técnica corresponde à atribuição de formas inspiradas em
diversos elementos, como natureza, animais ou flores a partir de um simples
quadrado de papel perfeito. A história base para produção do e-book advém do
livro “Brincando com origamis: portas da imaginação”, da autora Constância M.
Soares, que foi sedido para a utilização pelo grupo PET Infoinclusão, pela autora.
Para montagem e criação das histórias, utilizou-se, ainda, a técnica de animação
Stopmotion, caracterizada conforme Lucena Júnior (2002), como a captação de
imagens fotográficas sequenciadas e agrupadas a partir da variação sutil de
movimentos encadeados.
Foram desenvolvidas ao todo doze histórias infantis, todas com inserção de
interpretação na Lígua Brasileira de Sinais - LIBRAS e de caráter lúdico, porém com
ensinamentos básicos como o respeito, a amizade e a exploração de novos saberes,
princípios que se encontram presentes nas histórias do livros utilizado como base e
supracitado acima. Para o grupo PET Infoinclusão o desenvolvimento do e-book
consistiu, ainda, num desafio vencido e ao mesmo tempo lançado para se pensar
com mais propriedade sobre a inserção inclusiva das TDIC’s no universo
educacional, inclusive para pessoas com deficiência.
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-3-
Os novos paradigmas da educação contemporânea
As mudanças propensas ao campo da educação se mostraram desde sempre
expressivas. Logo, educadores necessitaram contextualizar suas práticas de ensino
aos acontecimentos que paulatinamente revolucionam a humanidade. De acordo
com Moran et al. (2013), perante os novos modelos de aprendizagem, muitas aulas
tradicionais mostram-se ultrapassadas, fator claramente visível tanto a professores
quanto a alunos. A sociedade hoje está interconectada, contudo, o autor corrobora
o desafio atual que a educação representa, e trás ainda a existência de uma
dicotomia entre ensino e educação, estando hoje as sociedades muito mais
embricadas no ensino, ou seja, na apreensão de conteúdos isolados como ciências,
português e as demais matérias, ao invés de preparar os alunos para a vida através
de uma educação capaz de reforçar as atribuições culturais propensas ao indivíduo
na vida em sociedade, quanto a contrução de uma identidade própria e inclusiva,
independentemente de suas limitações.
Perante as tantas possibilidades de mediação da aprendizagem atual,
compete também ao aluno ser agente ativo no seu processo de construção do
conehcimento. Para tanto, se faz pujante o desenvolvimento de maturidades e
competências, capazes de dar suporte a motivação na aprendizagem, fator
posssível, a partir das mediações atribuídas em sala de aula entre os indivíduos e os
recursos disponíveis atualmente, contudo disponibilizados sem uma formação
continuada para os usuários, bem como sem a ofertas de ferramentas que auxiliem
estes e seus pares a utilizarem com efetivamente tais recursos, para fins
educacionais. Nesse processo, não existe papel principal capaz de revolucionar a
educação; as mudanças devem ser constantes e assumidas por todos os
responsáveis pela aprendizagem, dentro e fora da sala de aula, passando por
professores, pais de alunos e a eles próprios (MORAN; et al. 2013).
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-4-
Também é importante na aprendizagem integrar todas as tecnologias, sejam
elas audiovisiais, lúdicas ou virtuais, como aliadas a novos processos capazes da dar
suporte a esta motivação. Os autores mencionados enfatizam que a transição do
livro, para as mídias comunicativas virtuais é ainda instantânea, não havendo
portanto, uma exploração palpável de todas as suas possibilidades, e deste modo,
aconselham os docentes a melhor explorarem as condições de uso dessas
ferramentas perante os processos metodológicos na medida de suas possibilidades.
De acordo com Lévy (1993), há três diferentes formas para se representar os
meios
de
propagação
do
conhecimento:
oral,
escrito
e
digital.
Na
contemporaneidade estas formas interligam-se e se bem utilizadas são capazes de
estabelecer um satisfatório trajeto para mediação da aprendizagem, além da
consolidação da aprendizagem de modo mais abrangente e inclusivo às diferenças e
ao tempo de cada indivíduo, a partir do suporte e dos recursos que cada um deles
dispõe.
Isto posto, as TDIC’s na educação, representadas por veículos midiáticos
como a televisão e o computador, são as principais responsáveis pelas mudanças
gradativas que
ocorrem
entre
educandos e
educadores no processo de
aprendizagem. A imagem e o som trazem informações mais precisas do que está
sendo abordado e propiciam melhor aprofundamento dos conteúdos. Porém, ainda
não se pode negar o distanciamento entre os mediadores da educação e as TDIC’s,
que quase sempre são utilizadas de modo isolado e não como uma constante
As tecnologias comunicativas são utilizadas na educação, porém, não
provocam ainda alterações radicais na estrutura dos cursos, na articulação
entre conteúdos e não mudam as maneiras como os professores trabalham
didaticamente com seus alunos. Encaradas como recursos didáticos, elas
estão muito longe de serem usadas em todas as suas possibilidades para
uma melhor educação. (KENSKI, 2007. p.45).
Nesse ínterim, atividades similares ao uso de e-books em sala de aula de modo
inclusivo, possibilitam a consolidação dos recursos disponibilizados, por exemplo,
pelo computador, provocando maior atenção e concentração para se aprender
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-5-
conteúdos de forma mais atrativa e profunda. “A aplicação inteligente do
computador na educação é aquela que sugere mudanças na abordagem pedagógica,
encaminhando os sujeitos para atividades mais criativas, críticas e de construção
conjunta” (ENRICONE, 2004).
De modo geral, a transmissão da informação torna-se mais fácil através da
tecnologia, porém, o papel do educador permanece primordial durante a escolha e
a aplicação dos softwares, aplicativos, vídeos, e demais recursos que proporcionem
a interatividade capaz de estimular o aluno a solucionar problemas e executar
atividades que demandem raciocínio e trabalho em conjunto, visando sempre as
TDIC’s como um recurso adicional e aliado para o universo didático da
aprendizagem.
A animação como um recurso motivador de aprendizagem
O ambiente escolar é essencialmente configurado com o intuito de que ocorra
a aprendizagem entre os indivíduos. Contudo, muitas vezes, os métodos e práticas
usados neste espaço são díspares desta afirmação e acarretam numa série de
fatores que acabam por desestimular os alunos a irem em busca e terem um maior
interesse pelos conteúdos educativos trabalhos em sala de aula.
Comumente, a pática do ensino é realizada de maneira autoritária, de forma
que o professor se coloca como o único detentor do conhecimento e não como um
incetivador da construção do conhecimento –como um mediador-. Freire (2005, p.
22) defende que “ [...] ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua produção ou a sua construção”, o que levar-se a crer que
o ambiente escolar ideal para o ensino e a aprendizagem é aquele em que o
conhecimento é construído de forma participativa entre todos os sujetos
educativos que compõe a sala de aula. Nesse sentido, portanto, o professor tem o
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-6-
importante papel de se posicionar como um mediador do conhecimento no processo
de aprendizagem dos alunos.
Atualmente, as tecnologias se apresentam com uma importante alida para os
professores, devido a presença cada vez maior dos mais variados aparatos
tecnológicos nas escolas, entretanto, elas ainda não são direcionadas pelos
docentes às práticas pedagógicas reais, ocasionando, em grande parte, em usos
meramente técnicos destas. Logo, é preciso atribuir efetivos significados
educacionais às estas, através da oferta, aos professores, de possibilidades de
como levar os alunos a fazerem o uso dessas tecnologias como um instrumento que
lhes auxilie na construção do saber e não que estas sejam apenas mero
passatempo.
Diante desta questão, a inserção do recurso da animação em sala de aula se
apresenta como uma possibilidade de mudança, frente à realidade presente nas
salas de aula, ao passo que pode funcionar como uma mediadora que interliga os
equipamentos tecnológicos à aprendizagem dos alunos, mas sobretudo, propicia aos
sujeitos envolvidos a possibilidade de motivar-se na busca pela assimilação dos
conteúdos abordados em sala de aula, fazendo deles indivíduos atuantes na
construção do seu próprio conhecimento.
Portanto, a utilização de técnicas de animação em sala de aula ou em
conteúdos e produtos que vão se fazer presente neste ambiente, foge daquilo que
cotidianamente é trabalhado em sala de aula e, consequentemente, instiga os
alunos e os motiva a buscarem novos conhecimentos por estarem vivenciando e
trabalhando com ferramentas e recursos contemporâneos que, também, se fazem
presente fora do ambiente escolar, nos demais espaços sociais. Então, é possível
constatar que a utilização de novidades, como técnicas de animação, modifica os
métodos de aprendizagem e traz à sala de aula uma forma inovadora de ensino e
aprendizagem, possibilitando a motivação efetiva dos alunos pelos conteúdos
escolares trabalhados em sala.
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-7-
Tecnologia Assistiva
Os acelerados avanços tecnológicos disponíveis na atualidade, exigem da
sociedade soluções cada vez mais inclusivas e abrangentes, independente das
limitações que qualquer indivíduo venha a apresentar. “Uma sociedade mais
permeável à diversidade, questiona seus mecanismos de segregação e vislumbra
novos caminhos de inclusão social da pessoa com deficiência” (MACHADO e
SOBRAL, 2009). A este caminho inclusivo dá-se o nome de tecnologia assistiva.
Muito embora o termo tecnologia assistiva ainda seja encarado como
emergente pela sociedade e buscar dia após dia consolidar-se nas salas de aula, o
conceito provém de muito tempo atrás, a partir de recursos simples e de baixo
custo que de alguma forma fossem capazes de atribuir maior independência a
pessoas com deficiência (MANZINI (2005) apud MACHADO e SOBRAL, 2009).
No campo da educação, esses recursos não limitam-se apenas a elementos
virtuais ou de interação, mas também a elementos físicos como um suporte para
leitura, ou escrita (digitação) de deficientes visuais ou físicos. Em se tratando de
elementos não diretamente palpáveis, a proposta do e-book multiplataforma
abordado neste trabalho representa, através da utilização da LIBRAS, um recurso
propenso à tecnologia assistiva.
Através das considerações de Ferrada e Santarosa (2007), pontua-se a
tecnologia assistiva como uma ponte cada vez mais abrangente nos processos de
aprendizagem, a partir dos recursos que visam a inclusão de alunos que possuem
limitações em salas de aula comuns, tornando-se possível a apropriação das
tecnologias educacionais para a formação de sujeitos participantes do processo de
construção do conhecimento e não apenas receptores de informações. Desse modo,
o apoio desencadeado pela tecnologia assistiva é fundamental para o acesso desses
usuários ao mundo digital, uma vez que facilita o acesso e a compreensão de
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-8-
informações, além de disseminar o sentimento de igualdade na vida em sociedade.
(SARTORETTO e BERSCH, 2013).
LIBRAS: Maior acessibilidade para crianças surdas em sala de aula
A palavra alfabetização, por vezes remete apenas a decodificação de códigos
escritos, porém, o conceito classifica-se como maior amplitude através da
interação entre a língua e o meio. A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), tem
apresentado, a partir de suas especificações técnicas, aperfeiçoamentos que
possibilitam a apropriação da comunicação também por crianças surdas, isso em
um universo escolar até recentemente voltado para crianças com perfeitas
condições físicas e mentais. O que vem ocorrendo gradativamente é uma superação
empenhada em padronizar a proficiência desta lingua entre os protagonistas do
processo de aprendizagem. Perante esta evolução, dá-se a alfabetização, através
de técnicas de leitura e formação de estórias infantis, nas quais educandos e
educadores interagem e constroem juntos as ferramentas favoráveis a construção
do saber. (QUADROS, 2004).
No âmbito da educação formal, os recursos para assistência a educação de
crianças surdas ainda são limitados, sobretudo aplicativos e ferramentas
desenvolvidas no idioma português. O verdadeiro sentido da palavra inclusão ainda
gera significados desconexos e múltiplas interpretações pelos vários segmentos do
universo educacional. Nesse contexto Mantoan (2007), trás a inovação como algo
simples, e por vezes óbvio perante a solução ou eufemização de um determinado
problema, passível de ser compreendido e aceito pela maioria. As condições
propiciadas pela inovação possibilitam a inclusão e exigem das escolas brasileiras
novas posturas capazes de modernizar e aperfeiçoar as práticas dos professores.
Configuram-se nesse sentido, atitudes simples atreladas a suportes como a
comunicação em LIBRAS, que pode funcionar ainda, como formadora de sujeitos, e
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
-9-
não apenas sujeitos surdos, mas também, cidadãos que respeitam as diferenças e
se apropriam delas para aprender algo novo a cada dia. Desde que haja a devida
preparação do ambiente em que receberá crianças surdas para serem educadas
através da LIBRAS, como suportes e materiais didáticos e técnicos e a devida
capacitação dos profissionais que
irão atuar nesse universo (BASSANI e
SBARDELOTTO, 2010). Através da linguagem de sinais, as crianças apliam suas
relações com o mundo.
Metodologia
O e-book multiplataforma desenvolvido pelos bolsistas do PET Infoinclusão é
formado por 12 histórias de cunho lúdico infantil, presentes no livro Brincando com
origami: portas da imaginação, da autora Constância Maria Soares, ano 2012, como
já mencionado anteriormente.
Para a sua elaboração, inicialmente foi realizado um compartilhamento das
histórias entre todos os membros do PET Infoinclusão para incubação dos
personagens e pesquisas referente a adaptações possíveis para a elaboração do ebook. Em seguida, foram efetuadas leituras coletivas e apreciação dos tutoriais que
são disponibilizados no livro base pela autora. Partindo dessas observações as
primeiras histórias começaram a ser desenvolvidas, e em paralelo a elas, fez-se
ainda um estudo referente a montagem de cenários de acordo com cada narrativa
disposta no livro, estes cenários compuzeram posteriormente o ambiente adequado
para a aplicação da técnica de animação selecioanda para elaborar o e-book.
Após a realização das pesquisas necessárias ficou delineado que o e-book
multiplataforma seria cosntruido através da técnica de origami somanda a uma
técnica de animação que gerasse ao final as histórias que iriam compor o mesmo.
Para se produzir uma animação é possível fazer uso de diversificadas
técnicas. Estas, por sua vez, possuem diferentes níveis de complexidade e originam
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 10 -
resultados estéticos bem distintos. Não campo da animação, na atualidade, é
possível identificar uma ampla gama de técnicas de animação, contudo, as técnicas
de animação tradicional, stopmotion e animação 3D são as que mais se destacam.
A técnica de animação selecionada para o desenvolvimento do E-book Portas
da Imaginação foi o Stopmotion devido a sua simplicidade e praticidade em
comparação com técnicas como a animação 3D que necessita de um conhecimento
técnico mais aprofundado e demanda um maior tempo de execução. Além disso, a
técnica Stopmotion foi eleita por agregar aos vídeos animados um efeito visual bem
característico e diferenciado.
A técnica de animação Stopmotion consiste, basicamente, na captura da
variação de movimento do que se está fotografando, quer sejam objetos ou
pessoas. São geradas as fotografias dos movimentos destes, de forma sequencial, a
fim de gerar um vídeo contínuo no final, isto é, uma animação. Como supracitado
acima, a técnica atribui um efeito visual de características bem típicas que podem
ser visualizadas ao decorrer da animação, através das pequenas quebras de
movimento, atribuindo a essa técnica um diferencial bastante interessante.
Há um variedade de tipos de animação que podem ser desenvolvidas com esta
técnica, porém, para o desenvolvimento do e-book foi selecionada a técnica de
dobradura de origami, como já mencioando. Optou-se
por esta escolha porque
esta já se faz presente no livro base, inclusive com os passos-a-passos para o
desenvolvimento dos personagens e demais elementos das histórias que compõe o
livro, bem como porque a mesma propicia um resultado final bastante atrativo para
o público ao qual se destina – crianças surdas do ensino fundamental-.
Depois de definir como o e-book seria desenvolvido, partiu-se de fato para a
elaboração do mesmo. Embora o processo de animação não seja algo fechado e
definido, boa parte dos profissionais e teóricos deste campo do saber concordam
que ela possui 3 macrofases: (1) pré-produação, (2) produção e (3) pós-produção.
Na etapa de (1) pré-produção foram elaborados os roteiros das histórias
animadas que iriam compor o e-book, os stoyboards com o definição dos elementos
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 11 -
de direção de arte, os personagens e cenários, a trilha sonora e, por fim a gravação
da intérprete de libras para todas as histórias.
Com todo esse material pronto, partiu-se para a etapa de (2) produção das
animações, de fato, com a captura fotográfica de todas as cenas de cada história.
Por último, realizou-se a etapa de (3) pós-produção, que neste caso consistiu
no sequenciamento das fotos referente a cada história, tratamento das imagens e
geração de um vídeo unitário com estas, ou seja, a geração da animação, bem
como da junção deste vídeo com a trilha sonora elaborada para compor o vídeo
animado. Por fim, foi iserido ainda o vídeo da intérprete de libras na região inferior
direta das história, através do dimensionamento um pouco menor do mesmo.
Na etapa de pós-produção foram utilizados diversos softwares para a
composição dos vídeos animados, a saber: o Movie Maker, o Adobe Photoshop, o
Adobe Premiere, o Adobe After Effects e o Ibooks Author. Este útimo, foi o
software utilizado para gerar o e-book multiplataforma, isto é, foi o programa que
possibilitou o e-book ser executado nos mais diversos dispositivos e sistemas
oparcionais diponíveis no mercado – o Windows, o Macintoch e o Linux -.
Figuras 1 e 2: Etapas de criação do e-book
Fotos: Márcio Cleyton
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 12 -
Resultados
Foram confecionadas ao todo 12 histórias, todas elas oriundas do livro base
supracitado e confecionadas com as peças de origami feitas
pelo grupo PET
Infoinclusão. Durante seis meses de pesquisa e aplicação, de janeiro a junho de
2013, elaborou-se os elementos figurativos e as personagens das histórias
escolhidas, além da formação destas a partir dos softwares descritos na
metodologia e da inserção da interpete em LIBRAS, presente em todas as
narrativas.
Figura 3: A portinha, personagem principal das historias que compõem o e-book
Fotos: Márcio Cleyton
Abaixo estão listados os nomes das 12 histórias que compõem o e-book
multiplataforma:
 A portinha;
 A portinha, o jacaré e a onça;
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 13 -
 A portinha, a casinha bonitinha e as frutas;
 A portinha e a família sorvete;
 A portinha, os cachorros e a patinha;
 A portinha, as pipas, o guarda-chuva e os cataventos;
 A portinha e os peixinhos;
 A portinha, a girafa e o elefante;
 A portinha, os pássaros, a camisa e a baiana;
 A portinha, as flores e a cigarra;
 A portinha, os vasinhos e a japonesa;
 A portinha, a árvore de natal e o papai noel.
Considerações finais
O desenvolvimento do e-book multiplataforma foi de grande valia para o
enriquecimento do grupo PET Infoinclusão, quanto as questões que envolvem a
disseminação igualitária da aprendizagem dentro e fora da escola e a inserção das
novas tecnologias de modo inclusivo. Tornou-se possível a percepção de que as
dificuldades existem, mas não são limitações e sim estímulos para se buscar cada
vez mais e melhores recursos de superação e verdadeira inclusão dos diferentes.
Cada um com suas particularidades possui capacidade suficiente para contribuir e
ampliar o leque de conhecimentos aos quais somos expostos todos os dias, seja no
âmbito escolar ou no convívio em sociedade de modo geral.
O e-book multiplataforma gerado, consiste, antes de mais nada, em um
produto capaz de contribuir significativamente para a acessibilidade de crianças
surdas à educação comum, aumentando a familiaridade deste público com os
recursos tecnológicos, fator este, tão aspirados pelos parâmetros na nova
educação. Estas condições ampliam também, a necessidade latente de se observar
cada vez mais as lacunas existentes em uma sala de aula, obrigatoriamente vista
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 14 -
nos dias de hoje como ambiente de inclusão e equalização das diferenças em todos
os sentidos.
Como pretensões futuras, o grupo PET objetiva aplicar o e-book
multiplataforma em escolas da rede pública de ensino do município de Caruaru,
afim de constatar a sua capacidade estimulativa para a alfabetização de crianças
surdas. Além disso, pretende-se verificar se através da aplicação do e-book em sala
de aula surgem novas produções a partir das necessidades observadas, inclusive,
contando com a participação dos próprios alunos, conforme orientado por Quadros
(2004) como um possível caminho para a formação de educandos quando de fato
eles são inseridos na construção igualitária da aprendizagem.
Referências
ANDRADE, Daniel. Animação computadorizada: e imagem em movimento
expandida nos meios de comunicação digitais. 2007. 127 p. Dissertação (Mestrado
em Comunicação e Semiótica) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São
Paulo.
BASSANI, Cristiane; SBARDELOTTO, Dilaine Aparecida. A importância do ensino de
LIBRAS na educação fundamental. Faculdade do Ensino Superior de São Miguel. 27
de Novembro de 2010. Disponível em:
<http://www.faesi.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=224:a
-importancia-do-ensino-de-libras-na-educacao-fundamental&catid=75:portal-dosaber&Itemid=222>. Acesso em 10 junh. 2013.
BLUN, Arina; COSTA Filipe Campelo Xavier da. Inserção da técnica de origami no
processo de projetação de embalagens. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E
DESENVOLVIMENTO EM DESIGN, 9., 2010, São Paulo. Anais do 9º Congresso
Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. São Paulo: Universidade
Anhembi Morumbi, 2010.
ENRICONE, Délcia (Org.). Ser Professor. 4 ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. 141p.
FERRADA, Romy Britt Hernández; SANTAROSA, Lucila Maria Costi. Tecnologia
assistiva como apoio à inclusão digital de pessoas com deficiência física. UFRGS
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 15 -
2007. disponível em: <http://www.ufrgs.br/niee/eventos/CIIEE/2007/pdf/CP%20314.pdf>. Acesso em: 1 julh. 2013.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Terra e Paz, 2005.
GOMBRICH, E.H. Art and illusion: a study in the psychology of pictorial
representation. New York: Princeton University Press, 1959.
______. Image and word in 20th century art”. Word and image, n. 1, vol. 3, 1985,
p. 213-241.
KENSKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. 2. ed.
Campinas: Papirus, p.45. 2007. 141 p.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. 1. ed. São Paulo: Editora 34, 1993.
203 p.
MACHADO, G. J. C.; SOBRAL, M. N. (Orgs.). Conexões: educação, comunicação,
inclusão e interculturalidade. 1 ed. Porto Alegre: Redes Editora, 2009. 252 p.
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Todas as crianças são bem vindas as escolas. Pró
Inclusão: todos juntos numa só escola. Universidade Estadual de
Campinas/Unicamp. Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Reabilitação
de Pessoas com Deficiência - LEPED/ FE/Unicamp. 2007. Disponível em:
<http://www.pro-inclusao.org.br/textos.html#todas>. Acesso em 25 junh. 2013.
MORAN, José M.; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda A. Novas tecnologias e
mediação pedagógica. 21. ed. Campinas: Papirus, 2013.
QUADROS, Ronice M. Educação de surdos: efeitos de modalidade e práticas
pedagógicas. Temas em Educação Especial IV. Santa Catarina: EDOFSCar. 2004.
Disponível em:
<http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=47> Acesso
em 13 junh. 2013.
SARTORETTO, Maria Lúcia; BERSCH, Rita. O que é tecnologia assistiva. Assistiva Tecnologia e educação, 2013. Disponívell em:
<http://www.assistiva.com.br/tassistiva.html#topo>. Acesso em: 15 julh. 2013.
Universidade Federal de Pernambuco
NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras
CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
- 16 -
Download

e-book multiplataforma: um recurso educativo para a - Nehte