XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL
OCUPAÇÃO DE CAVIDADES PRE-EXISTENTES POR
POLINIZADORES EM UM FRAGMENTO DE MATA
ATLÂNTICA, SALVADOR-BAHIA
Maise Silva1,2, Denise Nóbrega1,2, Victor O. Pinto1, Waldson Capinam1. 1Faculdade de Tecnologia e Ciências
(FTC), Salvador-Bahia. [email protected]
1Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), 2Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Bioenergia
da FTC, Salvador-Bahia. [email protected]
Introdução
A tribo Centridini é constituída por 167 espécies descritas em dois gêneros, Centris e Epicharis e a maioria nidifica
no solo. No entanto algumas utilizam cavidades preexistentes, como orifícios na madeira e oco de bambu. As
fêmeas de abelhas da tribo Centridini são conhecidas pela interação com plantas produtoras de óleos,
principalmente da família Malpighiaceae cujo óleo floral é utilizado na construção dos ninhos e para alimentar a
larva (FRANKIE et al., 1998; CAMILO et al., 1995). Até o momento foram publicados poucos trabalhos sobre a
microbiota associada aos ninhos de abelhas (BUCIO VILLALOBOS et al., 2010; GANZÁLEZ, 2005) e não
existem estudos sobre a riqueza de fungos em ninhos de abelhas solitárias. Este trabalho teve como objetivo
verificar quais tipos fungos estão associados a ninhos naturais de abelhas da tribo Centridini numa área Mata
Atlântica na Bahia.
Material e Métodos
Os ninhos foram coletados em área de Mata Atlântica na Reserva Ecológica Michelin (13° 50’S 39° 15’W) e na
Fazenda Misericórdia (13°00’52.1’’S 38°51’11’’W), na porção Sul da Bahia. Foram utilizados ninhos de abelhas
Epicharis (Hoplepicharis) fasciata Lepeletier & Serville, 1828, construídos em solo argiloso, e ninhos de Epicharis
(Epicharis) nigrita Friese, 1900, solo arenoso. A análise dos tipos de fungos foi realizada com amostras de 1g do
conteúdo do interior dos ninhos naturais (restos de pólen, raspas das paredes internas) e a técnica de cultivo
utilizada foi diluição seriada (concentração de 101 a 103) em meio de Potato Dextrose Agar. Após preparação, as
placas foram incubadas em temperatura ambiente a 30ºC por sete dias segundo protocolo seguido por (SILVA et
al,. 2007).
Resultados
Nas categorias de ninhos analisadas, solo argiloso e solo arenoso, foram observados o total de 2.530 unidades
formadoras de colônia (UFC). Foram contabilizadas mais de vinte morfoespécies de fungos: Aspergillus niger, A.
nidulans, A. flavus; Penicillium fungi, P. sp1, P. sp2, P.chysosgenium, P. expansum, P. notatum, P. plate;
Alternaria plate, A. alternata, A. jupiter; Mucor plate, M. circinnelloides, Mucor sp; Fusarium; Curvularia luneta,
Curvularia sp; Chrysosporium; Bipolaris; Pythium Insidiosum; Cladosporium; Rhizopus e Aureobasilium sp. Os
gêneros mais representativos foram Penicillium, Aspergillus e Alternaria e morfotipos de fungos que apresentaram
maior quantidade de UFC foram Aspergillus, Mucor e Curvularia. A maioria das morfoespécies de fungos (21 spp;
85%) foram observadas nas categorias de ninhos argiloso e arenoso. O gênero Penicillum esteve presente tanto nas
amostras de ninho argiloso quanto em ninho arenoso. Este é o primeiro registro dos fungos tipo Bipolaris sp,
Chrysosporium sp e Curvularia sp em ninhos de abelhas solitárias.
Discussão
Ninhos de abelhas solitárias da tribo Centridini parecem apresentar elevada riqueza de fungos; o que pode
influenciar na taxa de sobrevivência das larvas em desenvolvimento. Estudos sobre a biologia de nidificação deste
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grupo de abelhas indicam baixa taxa de mortalidade ataque de fungos no interior das células de cria. É possível que
o óleo floral de Malpighiaceae adicionado as paredes das células e misturado ao alimento larval desempenhe papel
inibidor, ou controlador, do desenvolvimento dos fungos. Os fungos isolados nos ninhos devem ser provenientes do
solo, durante a construção, e das flores visitadas pela fêmea fundadoras durante o aprovisionamento das células
com pólen, óleo e néctar. As espécies de fungos associados a ninhos de abelhas solitárias deve variar do local de
construção do ninho e das flores visitadas durante a estação de nidificação. Por outro lado, o controle do
desenvolvimento dos fungos pode estar relacionado ao óleo floral que as abelhas Centridini utilizam para
impermeabilizar as paredes dos ninhos e/ou adicionam ao alimento larval. Os dados deste estudo indicam que a
fauna de fungos associados a ninhos de abelhas solitárias deve ser maior do que a observada por Gonzalez et al.
(2005) e Villalobos et al (2010) em ninhos de abelhas eussociais.
Considerações finais
Esse é o primeiro trabalho sobre fungos associados a ninhos abelhas Centris e Epicharis na Bahia. Os dados
obtidos indicam que a riqueza de fungos é alta e deve ser parecida com a fauna de fungos associadas as flores e
substrato de construção do ninho. As morfoespécies de fungos observadas não parecem interferir na qualidade do
alimento ou no desenvolvimento da larva. É possível que o óleo floral de Malpighiaceae atue como substância
inibidora da atividade dos fungos no ambiente fechado das células de cria.
Agradecimentos
Ao conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de iniciação científica
concedida a D.N. Aos técnicos do Lab. de Microbiologia da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) pelo
auxílio na rotina de laboratório.
Referências
BUCIO VILLALOBOS, C. M.; O. A. MARTÍNEZ-JAIME.; J. J. TORRES-MORALES 2010. Hongos asociados al
polen recolectado por las abejas. Nova Scientia v.2(4): 93-103.
CAMILLO, E.; C. A. GARÓFALO, J. C. SERRANO.; G. MUCILLO 1995. Diversidade e abundância sazonal de
abelhas e vespas solitárias em ninhos armadilhas (Hymenoptera, Apocrita, Aculeata). Revista Brasileira
Entomolologia. v. 39, p. 459-470.
FRANKIE, G.W.; S. B.VINSON.; L. E. NEWSTROM.; J. F. BARTHELL 1998. Nest site and habitat preferences
of Centris bees in Costa Rican dry forest. Biotropica. v. 20, p. 301-310.
GONZÁLEZ, G.; HINOJO, M. J.; MATEO, R.; MEDINA, A.; JIMÉNEZ, M. 2005. Occurrence of mycotoxin
producing fungi in bee pollen. Int. Journ. Food Microbiology. v.15, p. 1-9.
SILVA, N.; JUNQUEIRA, V. C. A .; SILVEIRA, N. F. A 2001. Manual de Métodos de Análise Microbiológica de
Alimentos, 2º edição. São Paulo: Livraria Varela, p.21-29.
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