Estudo dos Módulos de Resiliência de Dois Solos Tropicais no Estado
Natural e Quando Estabilizados com Cimento
Tiago Pinto da Trindade1†, Carlos Alexandre Braz de Carvalho 2,
Dario Cardoso de Lima 3, Claudio Henrique de Carvalho Silva 4, Paulo Sérgio de
Almeida Barbosa5
Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Civil
Campus UFV, CEP: 36571-000, Viçosa, Minas Gerais, Brasil
RESUMO
A determinação do módulo de resiliência, em laboratório, requer o emprego de um
sofisticado sistema de aplicação de cargas e de aquisição de dados, além de demandar um
considerável tempo para a realização do ensaio, sendo desejável o desenvolvimento de métodos
mais simples para a sua estimativa. Assim, buscou-se com a realização deste trabalho, identificar
as propriedades geotécnicas de dois solos comuns na região de Viçosa-MG, Brasil, para a
obtenção de correlações empíricas entre o módulo de resiliência desses materiais com outros
parâmetros geotécnicos de fácil determinação em laboratório.
ABSTRACT
The laboratory determination of the resilient modulus requires employment of
relatively sophisticated systems of application of loads and data acquisition, besides
demanding considerable testing time. Therefore, it is desirable to look for standard test
methods that can be used to estimate this engineering parameter. This project was directed to
the determination of the geotechnical engineering properties of two soils from the Region of
Viçosa, Minas Gerais State, Brazil, in order to provide basic data for the deve lopment of
empirical correlations between them and the soils resilient modulus.
1
Aluno do Curso de Mestrado em Geotecnia
Autor para quem a correspondência deverá ser enviada ([email protected])
2
D.Sc. EESC-USP, Professor Adjunto
3
Ph.D. Louisiana State University (USA), Professor Titular
4
Ph.D. University of Colorado (USA), Professor Adjunto
5
M.Sc. COPPE-RJ, Professor Assistente
†
Número 17, 2003
Engenharia Civil • UM
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1. INTRODUÇÃO
A degradação estrutural dos revestimentos asfálticos está associada ao somatório da
deformação plástica ou às deflexões elásticas repetidas. A deflexão recuperável em um
pavimento de camadas múltiplas está intimamente relacionada com as propriedades elásticas de
suas camadas e de seu subleito. No "AASHTO Standard Method for Determining the Resilient
Modulus of Soils and Aggregate Material” (1997) considera-se que o desempenho de um
pavimento está associado à magnitude das deflexões superficiais, que são devidas,
principalmente, às deformações do subleito. Assim, no método anteriormente citado, exige-se
que se conheça o módulo de resiliência do subleito ao se projetar um pavimento flexível.
Cabe aqui destacar que os ensaios laboratoriais para a determinação do módulo de
resiliência ainda são considerados especiais, exigindo equipamentos relativamente complexos
e caros, o que torna a sua utilização restrita fora de instituições de ensino ou de pesquisa. Tal
situação motivou vários pesquisadores a desenvolver trabalhos com a finalidade de se obter
correlações que permitissem estimar o módulo de resiliência a partir de parâmetros resultantes
de ensaios mais simples, tais como: CBR (Cardoso e Witczak, 1991; Medina e Preussler,
1980); coesão e ângulo de atrito interno (Zamam et al., 1994); peso específico e teor em água
(Hicks e Monismith, 1971; Mohammad et al., 1995); grau de compactação e condições de
ensaio (Bernucci, 1995) e parâmetros obtidos a partir de ensaios de compressão simples
(Drumm et al., 1990; Lee et al., 1997; Parreira et al., 1998).
Destaca-se, porém, que estas correlações tiveram por campo de ação a realidade dos
solos de regiões temperadas, sendo questionável o seu campo de aplicação em um país como
o Brasil, por exemplo, que apresenta processos específicos de formação de solos. Justifica-se,
então, a tentativa de se desenvolver correlações entre o módulo de resiliência e outros
parâmetros geotécnicos de fácil obtenção em laboratório, para solos tropicais típicos da região
de Viçosa-MG, Brasil, no estado natural e quando estabilizados com cimento.
2. MÓDULO DE RESILIÊNCIA
2.1. Definição
Para se estudar as características de deformabilidade dos materiais que compõem a
estrutura dos pavimentos rodoviários em condições cíclicas, utiliza-se o módulo de resiliência.
A determinação do módulo de resiliência, nas condições do ensaio tríaxial de cargas repetidas,
pode ser feita por meio das Equações 1 e 2. Observa-se, nesta fórmula, que o seu valor varia
inversamente com a deformação resiliente ou recuperável. Portanto, quanto mais deformável
for o material, menor será o valor do seu módulo de resiliência.
σ
MR = d
(1)
εr
onde:
MR = módulo de resiliência;
σd = tensão desvio aplicada repetidamente;
ε r = deformação axial recuperável correspondente a um determinado número de
aplicações de carga σd.
20
Engenharia Civil • UM
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εr =
∆h
h0
(2)
onde:
∆h = deslocamento axial recuperável ou resiliente;
h0 = altura inicial do corpo-de-prova.
2.2. Equipamento e Condições para Realização dos Ensaios Triaxiais de Cargas Repetidas
O equipamento para realização do ensaio triaxial de cargas repetidas desenvolvido no
Laboratório de Engenharia Civil da Universidade Federal de Viçosa, é constituído das
seguintes unidades: célula triaxial, sistema de controle e registro das deformações, sistema
pneumático de carregamento, e um sistema de aquisição e tratamento dos dados (Figuras 1 e
2). A força vertical axial é aplicada alternada e rapidamente no topo da amostra por um pistão
movido a ar comprimido. Este ar ao passar por um regulador de pressão atua directamente
sobre duas válvulas solenóides ligadas a um cilindro de pressão. Ao abrir as válvulas,
transmite-se uma pressão de ar ao corpo-de-prova envolto em uma membrana de borracha. Ao
fechar as válvulas, a pressão de ar deixa de actuar. O tempo de abertura da válvula e a
frequência desta operação são controlados por um par de roldanas que possuem uma rotação
devidamente ajustada às condições de ensaio, como ilustrado na Figura 2b. As deformações
resilientes são medidas por um par de transdutores de deslocamentos conhecidos por LVDT’s
(linear variable differential transducers) acoplados ao corpo-de-prova. Dessa forma, procurase simular o efeito da passagem de uma roda de um veículo no pavimento. Para maiores
informações sobre o equipamento, recomenda-se recorrer ao trabalho de Silva (1998).
No Brasil, o módulo de resiliência tem sido rotineiramente determinado para as seguintes
condições (DNER, 1994): repetição do carregamento de aproximadamente 200 vezes; frequência
de 20 a 60 solicitações por minuto; duração do carregamento de 0,10 a 0,15 segundo; intervalo
entre cargas de 0,86 a 2,86 segundo.
ü Ensaios de solos arenosos ou cascalhetos
• Fase de condicionamento dos corpos-de-prova – antes de se fazer as medições de
deformação, são aplicados os seguintes níveis de carregamento: tensão confinante
σ3 = 70 kPa e razões de tensões principais σ1 /σ3 = 2 e 4; σ3 = 105 kPa e razão de
tensões principais σ1 /σ3 = 4. Para cada uma dessas combinações, a tensão desvio é
aplicada 200 vezes, a uma frequência 20 aplicações por minuto, com duração de
0,10 segundos.
• Medição das deformações – a fim de se obter o módulo de resiliência, aplicam-se
as seguintes tensões confinantes: σ3 = 21 – 35 – 52,5 – 70 – 105 e 140 kPa; para
cada uma delas são aplicadas tensões desvios nas seguintes razões: σ1 /σ3 = 2, 3 e 4.
ü Ensaios de solos argilosos e siltosos
Tanto o condicionamento como o registro das deformações, são feitos à tensão
confinante de 21 kPa. No condicionamento a tensão desvio é de 70 kPa e para medição das
deformações, aplicam-se as tensões desvios: σd = 21 – 35 – 52,5 – 70 – 105 – 140 e 210 kPa.
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21
Cada tensão desvio é aplicada 200 vezes, a 20 ciclos por minuto, com duração de 0,10
segundos.
CILINDRO DE PRESSÃO
AR COMPRIMIDO
CÉLULA TRIAXIAL
LVDT's
Figura 1 - Esquema de um equipamento convencionalmente utilizado para realização de
ensaios triaxiais de cargas repetidas.
2a
2b
2d
2c
Figura 2 - Detalhes do equipamento para realização de ensaios triaxiais de cargas repetidas
desenvolvido no Laboratório de Engenharia Civil da UFV por Silva (1998).
22
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3. MATERIAIS E MÉTODOS
As duas amostras de solo utilizadas neste estudo representam solos residuais
característicos da região de Viçosa-MG, Brasil. Um deles possui avançada evolução
pedológica e é classificado como latossolo vermelho-amarelo, proveniente do intemperismo
de gnaisse, de ocorrência nas encostas mais suavizadas. Nele predomina a composição
mineralógica presente nos argilominerais 1:1 e sesquióxidos de ferro e alumínio. O outro de
característica arenoso, e de origem saprolítica, essencialmente quartzoso, horizonte C
profundo, de textura arenosa e coloração acinzentada. Nas Tabelas 1, 2 e 3 estão apresentados
respectivamente, a descrição das amostras de solo e a profundidade de amostragem em
campo, os parâmetros físicos e as classificações dos solos de acordo com os sistemas: HRB
(Highway Research Board), USC (Unified Soil Classification) e metodologia MCT (Miniatura,
Compactado e Tropical) preconizada por Nogami e Villibor (1995).
Tabela 1 - Descrição das amostras.
Solos
Argiloso
Arenoso
Formação
Pedológica
Latossolo vermelho-amarelo
Saprolítico
Horizonte
B
C
Profundidade de
Coleta (m)
6,00
11,20
Tabela 2 - Distribuição granulométrica (AASHTO) e limites de Atterberg.
Solos
Argiloso
Arenoso
Argila
(%<0,005 mm)
54
7
Silte
(0,074<% ≤0,005mm)
24
18
Areia
(2<%≤0,074mm)
22
75
LL
(%)
68
30
LP
(%)
35
19
IP
(%)
33
11
Tabela 3 - Sistemas de classificação de solos: HRB, USC, e MCT (Nogami e Villibor, 1995).
Solos
Argiloso
Arenoso
HRB
A-7-5 (20)
A-2-4 (0)
Sistema de classificação de solo s
USC
MH
SM-SC
MCT
LG’
NA’
O cimento usado como estabilizante químico foi do tipo CPII-E-32, no teor de 11%
em relação ao peso de solo seco para o solo argiloso e no teor de 5% em relação ao peso de
solo seco para o solo arenoso. Esses valores foram determinados previamente por meio da
dosagem solo-cimento dos solos, realizada segundo a Norma Geral e/ou Simplificada adotada
pelo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (Ferraz, 1994). As etapas de
moldagem, armazenamento até o início dos ensaios e a realização dos ensaios de compressão
simples e triaxial de cargas repetidas compreenderam as seguintes etapas:
• Determinação dos pesos específicos aparentes secos máximos e dos teores em água
óptimos dos solos e das misturas de solo-cimento, na energia de compactação
intermediária do ensaio AASHTO;
• Moldagem de corpos-de-prova na energia anteriormente citada para a realização
dos ensaios de compressão simples e triaxiais de cargas repetidas, segundo o
método descrito por Trindade et al. (2001), nos seguintes teores em água: Wot -2%,
Wot e Wot +2%. Sendo que, os limites fixados na moldagem dos corpos-de-prova
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foram os que seguem: dimensões: 10 ± 0,05 x 5 cm; teor em água: teor em água
desejado Wi ± 0,3%; grau de compactação: 100 ± 0,3%;
• Envolvimento do corpo-de-prova numa embalagem plástica para evitar perda de
umidade e, em seguida, colocação do mesmo na câmara úmida, até início dos
ensaios;
• Realização dos ensaios de compressão simples até a ruptura dos corpos de prova
dos solos e das misturas solo-cimento, com velocidade de carregamento de
1mm/min. Os corpos-de-prova dos solos no estado natural foram levados a ruptura
logo após a moldagem dos mesmos e, para as misturas de solo-cimento, foi
obedecido um tempo de cura de 7 dias. Para cada ensaio, romperam-se três corposde-prova e foram obtidos os valores médios da tensão de ruptura (Su) e do módulo
tangente inicial (E0 );
• Realização dos ensaios triaxiais de cargas repetidas obedecendo a: (i) assentamento
do corpo-de-prova na base da câmara com a pedra porosa e colocação do cabeçote e
da membrana envolvente na amostra; (ii) colocação do par de alças presas
lateralmente ao corpo-de-prova para fixação dos transdutores de deslocamentos,
como se visualiza na Figura 2c; (iii) medição e anotação das distâncias verticais
entre as alças e posicionamento correto do conjunto pistão, placa de topo e corpode-prova a fim de se obter melhores resultados; (iv) realização dos ensaios triaxiais
de cargas repetidas, segundo o DNER (1994).
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1. Compactação
Na Tabela 4 apresentam-se os resultados de teor em água óptimo (Wot ) e peso
específico aparente seco máximo (γdmáx) dos dois solos no estado natural e quando
estabilizados com cimento, para a energia de compactação intermediária do ensaio AASHTO.
Os resultados dos ensaios de compactação mostraram que a inclusão de cimento não
causou variações significativas nos valores do peso específico aparente seco máximo e dos
teores em água óptimos das misturas de solo-cimento, em comparação com os valores
determinados para os dois solos. Verificou-se uma ligeira tendência de aumentos dos teores
em água óptimos e uma pequena queda nos valores do peso específico aparente seco máximo
das misturas de solo-cimento.
Tabela 4 - Resultados dos ensaios de compactação.
Parâmetros
Solo argiloso
γdmáx (kN/m3 )
Wot (%)
14,61
29,30
Amostras
Solo argiloso
Solo arenoso
Estabilizado com
11% de Cimento
14,58
19,02
30,51
11,04
Solo arenoso
Estabilizado com
5% de Cimento
18,86
13,05
4.2. Compressão Simples
A avaliação do módulo tangente inicial envolve deformações muito pequenas, da
ordem de 10-6 , e os equipamentos convencionais de medida usados em laboratório, na sua
maioria, não dispõem dessa precisão. Para contornar este problema, optou-se pelo método
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proposto Duncan e Chang (1970), que considera uma hipérbole a curva tensão x deformação,
descrita segundo a Equação 3.
εa
= a +b ⋅εa
(3)
σa
onde:
σa = tensão axial;
ε a = deformação axial.
Os parâmetros a e b da Equação 3 são obtidos a partir dos coeficientes da reta que
melhor se ajusta aos resultados experimentais. Assim, por meio da Equação 4, pode-se
estimar o módulo tangente inicial.
1
E0 =
(4)
a
A Figura 3 contém os resultados dos ensaios de compressão simples, a partir dos quais
pode-se verificar que os solos estabilizados com cimento apresentaram elevados incrementos
nos valores de tensão de ruptura e módulo tangente inicial. No entanto, devido à textura das
amostras, notou-se que o solo argiloso exigiu um maior consumo de cimento do que o solo
arenoso.
LEGENDA
4000
600
3200
450
E0 (MPa)
Su (kPa)
SOLO ARGI LOSO
SOLO ARGILOSO ESTABILIZADO COM 11% DE CI MENTO
SOLO ARENOSO
SOLO ARENOSO ESTABILIZADO COM 5% DE CI MENTO
2400
1600
300
150
800
0
26
28
30
32
0
26
34
TEOR DE UMIDADE (%)
30
32
34
TEOR DE UMIDADE (%)
3000
400
E0 (MPa)
2400
Su (kPa)
28
1800
1200
300
200
100
600
0
0
8
10
12
14
TEOR DE UMIDADE (%)
16
8
10
12
14
16
TEOR DE UMIDADE (%)
Figura 3 - Resultados dos ensaios de compressão simples.
O teor em água mostrou-se um fator de grande importância para a definição da
resposta mecânica dos solos e das misturas solo-cimento. Para a amostra do solo argiloso no
estado natural e quando estabilizada com cimento, foram determinados máximos de tensão de
ruptura e módulo tangente inicial para os corpos-de-prova moldados no teor em água óptimo.
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Por outro lado, para a amostra do solo arenoso no estado natural e quando estabilizada com
cimento, esses máximos se associaram ao ramo seco da curva de compactação.
4.3. Módulo de Resiliência
O valor do módulo de resiliência é muito variável, sendo que um grande número de
fatores pode influenciá- lo, tais como: condição de carregamento, estado de tensão, natureza
do solo, estado físico, etc. (Seed et al., 1962; Thompson e Robnett, 1979; Parreira et al.,
1998). Com relação ao estado de tensão, foram propostos modelos que permitem representar a
variação do módulo de resiliência em função do estado de tensão. Esses modelos, na sua
maioria, foram desenvolvidos levando-se em consideração a natureza do solo. Por exemplo,
existem modelos propostos especialmente para solos arenosos ou argilosos, onde o aspecto
que tem maior influência é a tensão confinante ou a tensão desvio, respectivamente.
Tomando-se os resultados dos ensaios triaxias de cargas repetidas realizados segundo
a metodologia descrita no item 2.2., procurou-se avaliar o desempenho dos modelos sugeridos
e dispostos na norma DNER-ME 131/94 para obtenção do módulo de resiliência em função do
estado de tensão. Optou-se então pelos modelos descritos pelas Equações 5 e 6,
respectivamente para os solos argilosos e arenosos no estado natural e quando estabilizados
com cimento:
M R = K1 ⋅σ d
K2
(5)
M R = K1 ⋅ σ 3
K2
(6)
onde:
MR = módulo de resiliência (MPa);
σd = tensão de desvio (kPa);
σ3 = tensão de confinamento (kPa);
K1 (kPa) e K2 são parâmetros que variam segundo cada material.
8000
MODELO UTILIZADO MR = K1 σd K2 (DNER 131/94)
6000
4000
LEGENDA
SOLO ARGILOSO - Wot -2%
SOLO ARGILOSO - Wot
SOLO ARGILOSO - Wot +2%
SOLO ARGILOSO ESTABILIZADO COM 11% DE CIMENTO- Wot -2%
SOLO ARGILOSO ESTABILIZADO COM 11% DE CIMENTO- Wot
SOLO ARGILOSO ESTABILIZADO COM 11% DE CIMENTO- Wot +2%
MR (MPa)
2000
1000
800
600
400
EQUAÇÕES
MR = 47,557,11 σd -1,0597 ; R 2 = 0,9757
M R = 278.269,19 σ d-1,5128 ; R 2 = 0,9966
M R = 728,33 σd -0,4552 ; R 2 = 0,8481
M R = 20.836,10 σ d-0,3065 ; R 2 = 0,9952
MR = 38.364,62 σd -0,4505 ; R 2 = 0,9641
MR = 35.757,53 σd -0,5146 ; R 2 = 0,9743
200
100
80
60
40
60
80 100
200
400
TENSÃO DESVIO (kPa)
Figura 4 - Módulo de resiliência x tensão desvio para os solos com e sem estabilização com
cimento.
26
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4000
MODELO UTILIZADO M R = K1 σ 3K 2 (DNER 131/94)
2000
LEGENDA
SOLO ARENOSO - Wot -2%
SOLO ARENOSO - Wot
SOLO ARENOSO - Wot +2%
SOLO ARENOSO ESTABILIZADO COM 5% DE CIMENTO - Wot -2%
SOLO ARENOSO ESTABILIZADO COM 5% DE CIMENTO - Wot
SOLO ARENOSO ESTABILIZADO COM 5% DE CIMENTO - Wot +2%
MR (MPa)
1000
800
600
400
EQUAÇÕES
200
MR = 17,80 σ 3 0,4415 ; R 2 = 0,8888
MR = 10,99 σ3 0,5078 ; R 2 = 0,8925
MR = 3,99 σ3 0,7086 ; R2 = 0,9739
MR = 488,66 σ 3 0,3691 ; R 2 = 0,8634
100
80
60
MR = 408,92
MR = 100,55
40
40
60
80
100
σ 30,3823 ; R2 = 0,9623
σ30,6572 ; R2 = 0,9136
200
TENSÃO CONFINANTE (kPa)
Figura 5 - Módulo de resiliência x tensão confinante para os solos com e sem estabilização
com cimento.
Os valores dos parâmetros K1 e K2 obtidos a partir dos resultados dos ensaios triaxiais
de cargas repetidas, para cada um dos materiais em diferentes condições de umidade e os
respectivos coeficientes de determinação (R2 ), são apresentados nas Figuras 4 e 5. A maioria
das regressões apresentou coeficientes de determinação elevados, mostrando que os resultados
fornecidos pelo equipamento triaxial de cargas repetidas da Universidade Federal de Viçosa
são altamente cofiáveis e reproduzem com qualidade as propriedades resilientes dos materiais.
4.4. Correlações Obtidas entre o Módulo de Resiliência e o Módulo Tangente Inicial
Parreira et al. (1998) realizaram ensaios triaxias de cargas repetidas em seis solos
arenosos e um argiloso, provenientes de pavimentos em serviço, com o objetivo de se
estabelecer correlações entre os valores do módulo de resiliência e módulo tangente inicial
destes materiais. O modelo apresentado pela Equação 7 foi o que melhor estimou os valores
dos módulos de resiliência dos sete solos estudados, sendo o coeficiente de determinação (R2 )
encontrado igual a 0,67. Procedendo-se a uma nova análise em que apenas os solos arenosos
foram considerados, obteve-se a Equação 8 com um coeficiente de determinação (R2 ) igual a
0,82.
MR =
40,04 ⋅ (E 0 )
⋅ (θ )
0,3436
(σ d )
0,3158
0,4393
(7)
M R = 19 ,82 ⋅ (E0 )0,4559 + 1,15 ⋅ (θ )
0,8630
(8)
onde:
MR = módulo de resiliência (MPa);
E0 = módulo tangente inicial (MPa);
θ = primeiro invariante das tensões (kPa). θ = σ1 +σ2 +σ3 ;
σd = tensão desvio (kPa). σd = σ1 - σ3 .
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Engenharia Civil • UM
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Após determinar os valores dos módulos tangentes iniciais para o solo argiloso e para
o solo arenoso, no estado natural e quando estabilizados com cimento, buscou-se estabelecer
correlações entre estes valores e os módulos de resiliência correspondentes, considerando-se
também as variações dos níveis de tensão. Por meio de uma análise estatística, foram
analisadas correlações envolvendo valores dos módulos de resiliência com o módulo tangente
inicial, tensão desvio, primeiro invariante das tensões e combinações de algumas destas
variáveis.
Procedendo-se a uma análise envolvendo o solo argiloso com e sem estabilização com
cimento formando um único grupo, determinou-se um modelo para estimativa do módulo de
resiliência. A Equação 9 foi a que melhor estimou o módulo de resiliência em função do
módulo tangente inicial e do primeiro invariante das tensões, obtendo-se um coeficiente de
determinação (R2 ) igual a 0,96. Para o solo arenoso com e sem estabilização com cimento, a
Equação 10 foi a que melhor representou a relação entre o módulo de resiliência, o módulo
tangente inicial, a tensão desvio e o primeiro invariante das tensões, com coeficiente de
determinação (R2 ) igual a 0,93. Vale ressaltar que o modelo para determinação do módulo de
resiliência de solos arenosos ilustrado na Equação 10 é muito semelhante ao modelo descrito
pela Equação 7, onde a análise foi realizado utilizando-se seis solos arenosos e apenas um
solo argiloso.
1112,67 ⋅ ( E0 )
1,0109
MR =
(9)
(θ )0,9779
0,9110
1,0754
0,17 ⋅ (θ )
⋅ ( E0 )
MR =
(σ d )0,4044
(10)
A Figura 6 mostra os valores dos módulos de resiliência previstos pelas Equações 9 e
10 e os valores destes mesmos módulos por meio dos ensaios triaxiais de cargas repetidas
realizados.
4000
8000
SOLO ARENOSO
SOLO ARGILOSO
3000
MR - ENSAIOS (MPa)
MR - ENSAIOS (MPa)
6000
4000
2000
1000
2000
0
0
0
2000
4000
6000
8000
MR - CALCULADOS PELA EQUAÇÃO 9 (MPa)
0
1000
2000
3000
4000
MR - CALCULADOS PELA EQUAÇÃO 10 (MPa)
Figura 6 - Módulo de resiliência: valores determinados em laboratório x valores estimados
pelas Equações 9 e 10.
28
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Indubitavelmente, o número de solos e misturas ensaiados no presente trabalho é
pequeno para que se estabeleçam conclusões definitivas, motivo pelo qual se recomenda,
utilizando-se a mesma metodologia deste trabalho, pesquisar um maior número de solos e
outros agentes químicos de estabilização. Contudo, numa fase preliminar, e com base nos
resultados obtidos neste trabalho, são apresentadas as seguintes considerações:
• Para os materiais estudados, foi possível estabelecer correlações envolvendo o
módulo de resiliência com o módulo tangente inicial e os níveis de tensão utilizados
na realização dos ensaios triaxiais de cargas repetidas, com coeficientes de
determinação significativos;
• Mesmo para tensões de pequena magnitude, como é o caso dos níveis de tensão
sugeridos no método de ensaio da norma DNER 131/94, o módulo de resiliência de
ambos os solos estabilizados, mostrou-se variável para os diferentes níveis de
tensão aplicados durante os ensaios triaxiais de cargas repetidas, ao contrário do
preconizado na literatura especializada.
AGRADECIMENTOS
Os autores desejam expressar os seus agradecimentos à Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG, pelo apoio financeiro através do projeto
TEC 2431/97, à Universidade Federal de Viçosa - UFV, onde foi realizado o presente
trabalho, e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, pela
concessão de bolsa de iniciação científica ao primeiro autor.
REFERÊNCIAS
AASHTO, Standard Method for Determining the Resilient Modulus of Soils and
Aggregate Material, AASHTO Designation TP46-94, Revised in 1996-1997, Edition 1B, June,
Washington, D.C., 33p (1997).
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