Capítulo 3: Restrições orçamentais intertemporais 3.1. Aspectos conceptuais - antecipação do futuro, informação e expectativas racionais 3.2. A restrição orçamental intertemporal das famílias 3.3. Teoria neoclássica do Investimento - a restrição orçamental intertemporal das empresas e do sector privado 3.4. A função investimento (Teoria neoclássica investimento; principio do acelerador; q-Tobin) 1 As empresas e a decisão de investimento – Até agora: as dotações consumíveis eram exógenas – A produção exige que parte dos recursos consumíveis sejam desviados para a aquisição de capital produtivo... – “Robinson Crusoe pode passar a plantar coqueiros...” – “... Isto é, pode investir”. 2 As empresas e a decisão de investimento – Investimento ou Formação Bruta de Capital (FBC) – A dimensão intertemporal da decisão de investir – Investimento e rendibilidade esperada do capital – Investimento e financiamento • Mercado de capitais (acções, obrigações, crédito bancário) • Retenção de fundos pelas empresas CONCEITOS BÁSICOS Investimento ou Formação Bruta de Capital (FBC): Despesa (fluxo) destinada ao aumento dos recursos produtivos de um país, isto é, ao aumento do Capital Físico. Esta despesa é feita em bens que não se destinam ao consumo presente, mas sim a facilitar a produção de bens ou serviços para consumo futuro. FBC= Investimento Fixo (FBCF) + DExistências Nas contas nacionais, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) representa 95% do Investimento. Os restantes 5% são variações de existências. 3 CONCEITOS BÁSICOS FBCF/PIB 40,0 35,0 30,0 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 0,0 CONCEITOS BÁSICOS Investimento líquido (de depreciações) ou Formação Líquida de Capital (FLC): aumento do stock de capital físico (DK). I=FBC ou I=FLC+Depreciações Capital Físico (K): Valor monetário (stock) dos recursos físicos que são utilizados para fins produtivos (construções, máquinas, equipamentos, existências). O stock de capital físico resulta do investimento, e está permanentemente sujeito a depreciação devida à utilização (desgaste físico) ou à obsolescência tecnológica. K t = K t −1 + I t − dK t −1 ⇔ K t = I t + (1 − d ) K t −1 ou I t = K t − K t −1 + dK t −1 It Investimen to Bruto = ∆K Investimen to Líquido + dK t −1 Depreciaçõ es 4 PRODUTO E INVESTIMENTO O Investimento representa cerca de 25% do PIB. 70 60 50 X-Q 40 I G C 30 20 10 0 -10 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 -20 INVESTIMENTO O Investimento é fortemente pro-cíclico: tende a aumentar nas fases de expansão económica, e a diminuir nas fases de depressão. 5 É a componente mais volátil da procura agregada. I G C DECOMPOSIÇÃO DO INVESTIMENTO Mais de metade da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) é relativa à construção. 100% Outros 80% Construção 60% 60,0 57,5 54,5 57,7 50,3 52,4 40% Material de transporte 20% Máquinas e aparelhos 0% 1954 1964 1974 1984 1994 2005 6 DECOMPOSIÇÃO DO INVESTIMENTO A componente mais volátil é os equipamentos, mais especificamente os equipamentos de transporte. Teoria neoclássica do investimento 7 CUSTO DE USO DO CAPITAL As empresas escolhem o nível de capital com o objectivo de maximizar os seus lucros. É conveniente normalizar as unidades de capital e de produto de forma a que os preços de ambos sejam unitários. O único custo de produção considerado é o custo do uso de capital. A empresa paga o capital e os juros do investimento, recebendo depois o valor residual do capital. O custo de uso do capital divide-se, portanto, em juros e depreciações (d=1 se o capital não tiver valor residual). LT ( K ) = Y ( K ) − (1 + r ) ⋅ K + (1 − d ) ⋅ K = Y ( K ) − ( r + d ) ⋅ K STOCK DE CAPITAL ÓPTIMO As empresas escolhem o nível de capital com o objectivo de maximizar os seus lucros. O lucro máximo (diferença entre receitas e custos) corresponde ao ponto em que o declive da função produção (PMgK) é igual ao declive da função custo (r+d). dLT ( K ) = 0 ⇔ Y ' ( K ) − ( r + d ) = 0 ⇔ PMg K = r + d dK Y PMgK r+d RMgK>CMgK K* K K* RMgK<CMgK K 8 STOCK DE CAPITAL ÓPTIMO O stock de Capital óptimo é tal que: PMg K ( K * ) = r + d Um nível inferior de Capital (K<K*) implicaria, dado que a produtividade marginal é decrescente, um rendimento marginal (PMgK) superior ao custo marginal (r+d) associado à utilização do factor capital. Assim, a empresa teria interesse em investir (aumentar o stock de Capital). Um nível superior (K>K*) implicaria que o custo marginal (r+d) já superaria o rendimento marginal (PMgK), de modo que a empresa teria interesse em reduzir o stock de Capital. PROGRESSO TÉCNICO O progresso técnico, traduzido por num aumento da produtividade dos factores, faz aumentar o stock de capital óptimo. Quando a produtividade do capital aumenta, as empresas aumentam a utilização de capital (investem). 9 TAXA DE JURO Um aumento da taxa de juro ou da taxa de depreciação, faz diminuir o stock de capital óptimo. Quando o custo de uso do capital aumenta, as empresas diminuem a utilização de capital (desinvestem). SISTEMA FISCAL O sistema fiscal tem influência sobre as depreciações (d), que reflectem a diferença entre o preço de compra e o preço de venda do capital. Os subsídios ao investimento reduzem o custo de aquisição do capital. A rentabilidade do Capital também pode ser afectada pelos impostos que recaem sobre a empresa. O valor da depreciação do Capital é dedutível (considerado como um custo pelo sistema fiscal). 10 POLÍTICAS MACROECONÓMICAS A taxa de juro real pode ser afectada pela política monetária e pela política orçamental. O custo de uso do capital pode ser alterado pela política fiscal, via taxas de imposto, regras de amortizações e créditos fiscais (ou subsídios) ao investimento. Há normalmente um grande desfasamento temporal entre a definição de políticas fiscais e a sua implementação. A incerteza fiscal aumenta o risco dos investimentos. A função de produção – Função de produção: F (K) – Formato da função de produção Função de produção tradicional (crescente e côncava) F ′( K ) > 0 F ′′( K ) < 0 – Produtividade marginal decrescente do factor capital (dada a dotação de factor trabalho disponível) 11 O custo de investir – Parábola de Robinson Crusoe – Não existe stock de capital inicial (K0 = 0 => I1=K1) – “Hoje”, R.C. pode investir K ou emprestar K aos habitantes de ilhas vizinhas • Se investir “hoje” I1=K1, “amanhã” terá uma produção F(K1) • Se emprestar “hoje” K1, “amanhã” terá um rendimento K1 (1 + r) – “A taxa de juro real define o custo de oportunidade dos recursos afectos ao investimento.” Uma tecnologia produtiva K1 K1 K1 12 Uma tecnologia produtiva V = K1 K1 K1 K1 F (K1 ) − K1 1+ r Uma tecnologia não produtiva Condição de realização de investimento: V>0 ,∀K ! " # $% ou: F (K) > K (1+r) , ∀ K “É preferível emprestar do que investir...” 13 Consolidando o sector privado... – Parábola de Robinson Crusoe – Não existe stock de capital inicial (K0 = 0) – Existe investimento “hoje” e produção “amanhã” – A restrição orçamental de R.C. desloca-se para cima e para a direita... tudo depende de quanto é investido e da rendibilidade do investimento. Uma nova restrição orçamental Volume de investimento, K1 K1 = I1 = Y1 - C1 % $ & $' Rendibilidade do investimento, V F (K1) = E – Y2 Rendimento total, “amanhã”, C2 C2 = Y2 + F (K1) Valor actual da Riqueza Total, Ω Ω = C1 + C 2 1+ r 14 Investimento e riqueza actual Decomposição da Riqueza Total, Ω Ω = C1 + C 2 1+ r C1 = Y 1 − I 1 % $ & $' C 2 = Y 2 + F (K 1) Ω = Y1 − I1 + F (K 1) Y2 + = 1+ r 1+ r = Y1 + Y2 + 1+ r F (K 1) − I1 1+ r Investimento e riqueza actual Riqueza actual sem investimento % $ & $' Ω = OB Riqueza actual com investimento Ω = OB’ > OB Rendibilidade líquida do investimento V = BB’ > 0 15 A parábola de Robinson Crusoe e o sector privado – R.C. representa o sector privado (famílias e empresas) – O valor da empresa é o valor actual do rendimento líquido gerado pelas suas actividades – As famílias são accionistas das empresas... – O modo de financiamento do investimento é relevante? • Teorema de Modigliani - Miller • O problema da tributação de dividendos, lucros retidos e mais-valias 16