CONCEPÇÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E
TRABALHO
Edinéia Groszevicz (PIBIC/CNPq-UNICENTRO), Carlos Herold Júnior
(Orientador), e-mail: [email protected]
Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de
Pedagogia/Guarapuava, PR.
Educação; Fundamentos da educação; História da educação
Palavras-chave: Trabalho. Educação. Marx.
Resumo:
O objetivo desta pesquisa é investigar algumas concepções sobre a relação
entre trabalho e educação em teóricos que pensam as transformações
contemporâneas pelas quais passam as ideias e as práticas educacionais.
De caráter bibliográfico, dividimos as reflexões em duas partes: na primeira,
estudamos a importância da categoria trabalho no pensamento de Marx
(1994). Na segunda, focalizamos estudiosos da educação buscando
apreender de que maneira a categoria trabalho é por eles desenvolvida.
Como conclusão, observamos que o referencial marxista possui grande valor
para esses teóricos e que eles defendem de maneira intensa a necessidade
de se entender a educação a partir das mudanças no mundo do trabalho.
Introdução
O presente artigo é resultado de um trabalho realizado em Iniciação
Científica, intitulado Concepções sobre a relação entre educação e trabalho.
O que este estudo levantou como problema foi a análise de alguns
entendimentos sobre a relação entre as formas históricas de trabalho (modo
de produção) e a educação, buscando verificar as maneiras como eles se
relacionam entre si e com a obra de Marx (1994). Dessa maneira, o objetivo
foi analisar as diferentes concepções sobre a relação entre o mundo do
trabalho e as questões educacionais.
Este estudo foi de caráter bibliográfico. Para execução da parte
referente ao pensamento de Marx, utilizamos textos escritos pelo autor. Na
parte concernente à relação entre educação e trabalho, estudamos as obras
dos seguintes autores: Saviani (1992), Kuenzer (1985), Frigotto (1998).
O trabalho e sua centralidade em Marx
Karl Marx (1994) analisou o processo produtivo e a organização da
sociedade capitalista. Antes do surgimento do capitalismo, no período em
que a produção é vista como baseada em procedimentos artesanais, os
trabalhadores tinham mais autonomia, não faziam trabalhos tão
parcializados, possuindo um maior controle da totalidade de procedimentos
necessários para produzirem o que precisavam para sua sobrevivência.
Com o avanço do capitalismo o trabalhador e o trabalho passam a ser
explorados pelo processo de aperfeiçoamento da divisão social trabalho,
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
bem como submetidos a um novo regime de relações de produção: o
assalariamento. O trabalhador assalariado vende sua força de trabalho ao
capital, isto é, seu potencial para produzir. Ao vender sua força de trabalho
ao capital, seu trabalho é feito de maneira cada vez mais mecanizada
acarretando uma maior exploração.
Por outro lado, a partir das concepções de Marx, observamos que o
trabalho também é a relação do homem com a natureza, a capacidade de
transformá-la e se transformar a partir dessa relação. Além disso, é o
trabalho social para a produção da existência social que marca a diferença
entre os seres humanos e os demais animais que se mantém vivos nos
limites impostos pela natureza.
O processo de trabalho enquanto forma de consumo da força de
trabalho pelo capitalista, mostra dois fenômenos próprios: no primeiro, o
capitalista controla o trabalho do trabalhador. Cuida para que o trabalho se
realize em ordem e os meios de produção sejam empregados conforme
seus fins. O segundo é que o produto é propriedade do capitalista, e não de
seu produtor direto. Para o capitalista o processo de trabalho é algo que ele
comprou, uma coisa que passa a lhe pertencer.
Marx demonstra que na sociedade capitalista, bens produzidos
possuem um duplo caráter. Os produtos do trabalho são valores de uso, por
satisfazerem necessidades concretas, por serem, de fato, consumíveis. Ao
lado disso, observa-se que para o capitalista os produtos do trabalho
possuem um valor de troca, destinado a venda. Ao analisar o modo de
produção capitalista, Marx evidencia que é nesse processo de produção de
mercadorias através da exploração do trabalho assalariado é que o capital
se reproduz e aumenta (a mais valia), em que pese uma deterioração cada
vez mais aguda dos reais produtores dessa riqueza: os trabalhadores. Para
considerarmos o processo de produção como processo de formação de
valor, tem-se de calcular, de início, o trabalho necessário para a construção
desse produto. Durante o processo de trabalho é importante que somente
seja consumido apenas o trabalho socialmente necessário para a produção,
pois é esse trabalho que conta como formando valor. “O vendedor da força
de trabalho, realiza seu valor de troca e aliena seu valor de uso” (MARX,
1994), pois o valor seu de trabalho pertence tão pouco ao seu vendedor, seu
trabalho pertence ao capitalista que pagou o valor do dia de trabalho. Porém
pagou apenas por meia jornada de trabalho, então o vendedor da força de
trabalho criou durante o dia o dobro do valor de um dia.
A relação entre trabalho e educação a partir de alguns teóricos
brasileiros
As relações entre educação e trabalho, constituem um problema
fundamental a ser explicado para se ter uma compreensão do papel da
educação e da escola na sociedade. Por conta disso, fizemos um
mapeamento dos principais teóricos que se ocupam dessa relação,
utilizando do referencial marxista para isso.
Acácia Zeneida Kuenzer (1985) demonstra que apesar de suas
limitações a escola se constitui como alternativa para superar os aspectos
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
de parcialização e fragmentação do saber que os operários elaboram com
sua prática. Porém, a escola tem projeto político pedagógico associado às
necessidades da burguesia, “exercendo funções reprodutoras pela via da
exclusão” (p.190).
Mesmo com essa limitação ela é uma alternativa concreta e possível
de acesso ao saber. Essa proposta requer uma revisão dos conteúdos, dos
modos de operação e de organização da escola, bem como sua relação com
o trabalho. Garantir acesso e permanência dos filhos da classe trabalhadora,
“por meio de um projeto político pedagógico que tome sua prática social
como ponto de partida”. (p.195). Torna-se necessário, também, uma
pedagogia para o trabalhador adulto, “os intelectuais e trabalhadores
precisam reinventar, no fazer, a educação” (p.197). Encontrar formas para
enfrentar questão da educação do trabalhador é tarefa a ser assumida
coletivamente pelos trabalhadores e pelos intelectuais comprometidos com
seus interesses.
Gaudêncio Frigotto elabora seu pensamento em um grande
conjunto de livros e textos, geralmente afirmando que nas últimas décadas
foram realizados vários trabalhos sobre educação-trabalho. A partir disso
analisa duas questões:
A primeira busca situar, ainda que de forma breve e esquemática, os desafios
teóricos metodológicos da relação trabalho-educação no contexto da crise dos
paradigmas das ciências sociais. Dessa primeira ordem de questões deriva a
segunda – a forma mediante a qual construímos nossas análises especificas do
papel da educação e da formação técnico-profissional na produção social da
existência humana. (1998, p.25)
Para tanto, parte da perspectiva que “reafirma o materialismo
histórico, no horizonte posto por Marx, como uma concepção ontológica e de
realidade, método de análise e práxis” (p.26). Para ele existe a necessidade
de superar algumas análises datadas de Marx e Engels e “historicizar o
núcleo fundamental de sua teoria” (FRIGOTTO, 1998).
O autor ressalta que esta perspectiva não é dominante no campo
educativo, mas para aqueles que buscam compreensão da realidade em
uma perspectiva histórico-dialética percebem a crise como o reflexo da crise
econômico-social, cultural e ético-político. Um risco que existe na área da
educação e trabalho é o de ao se constatar as dificuldades da análise
marxista com problemas que não existiam à época de Marx, chegar a
conclusão que é necessária uma superar da própria teoria. Para o autor,
convivemos no campo educacional, não só com “uma espécie de anorexia
teórica ou impulsão pelo instantâneo das alteridades, um insuportável
presentismo, onde cada um, no limite, tem sua própria teoria igualmente
válida.” (1998, p.34)
Dermeval Saviani trata da relação entre educação e trabalho a partir
do desenvolvimento da sociedade de classes, especificamente nas suas
formas escravista e feudal, na qual consumou a separação. Para ele, não se
pode perder de vista que isso só foi possível pela própria determinação do
processo de trabalho. É o modo como se organiza o processo de produção
que permitiu a organização da escola como um espaço separado da
produção. Logo, a separação também é uma forma de relação, ou seja: nas
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
sociedades de classes a relação entre trabalho e educação tende a
manifestar-se na forma da separação entre escola e produção. (SAVIANI,
1992)
Faz uma grande divisão: de um lado, as teorias pedagógicas críticas,
de outro lado, as teorias pedagógicas não-críticas. A Pedagogia HistóricoCrítica é uma teoria embasada na dialética marxista. Essa Pedagogia se
orienta por um modelo de sujeito que supera o estado de alienação. Trata-se
de uma formação omnilateral, politécnica, isto é, “ratificação do homem
como ser genérico e lúcido” (Marx) e formado para todas as esferas: política,
trabalho e para as artes, diferentemente da formação para o capital,
unilateral, o individuo é formado apenas para a produção. Tem função de
ensinar os conteúdos referentes ao conhecimento produzido e acumulado
pela humanidade, articular a educação, trabalho e cidadania.
Conclusões
Diante disso, podemos constatar que os autores estudados durante a
pesquisa possuem grande importância para a área da educação e trabalho.
De forma geral, eles defendem um forte embasamento em Karl Marx. Desse
modo, verifica-se a maneira como o pensamento de Marx sustenta um
conjunto de reflexões que se pautam na necessidade de considerar as
transformações no mundo do trabalho para se pensar os desafios
educacionais que encontramos na atualidade.
Referências
Frigotto, G. (org.) Educação e crise do trabalho: perspectivas de final de
século. Petrópolis: Editora Vozes, 1998.
Kuenzer, A. Z. . Pedagogia da Fábrica. São Paulo: Cortez, 1985
Marx, K. O capital: crítica da economia política. 4. ed. São Paulo: Bertrand
Brasil, 1994.
Saviani, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 3.ed. São
Paulo: Cortez : Autores Associados, 1992.
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
Download

CONCEPÇÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E