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SÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV
Fabio Venturini
AULA MAIS INTERESSANTE PARA O ALUNO
Técnicas voltadas ao controle do ritmo se propõem a dosar tempo e intensidade
das atividades em sala, tornando o ensino-aprendizagem mais dinâmico
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mais ou menos tempo, desde que
exista harmonia entre a rapidez
com que o ensino ocorre e a percepção de velocidade dos alunos. Para
isso, Lemov sugere seis técnicas (veja o quadro com as práticas)
Nesse caso, a quantidade, a forma e o tipo de atividades trabalhadas em sala são fundamentais para
que o tempo de aula seja produtivo
e também agradável e estimulante. “A proposta do livro é bastante
interessante por apresentar situações reais. Lemov não impõe uma
metodologia, mas apresenta exemplos de atitudes e encaminhamentos didáticos, além de atividades
úteis ao professor”, analisa a peda-
Fundação Carlos Chagas
M
elhorar seu ritmo: técnicas adicionais para criar
um ritmo positivo em sala de aula. Com esse título, o capítulo 8 do livro Aula Nota 10 – 49
Técnicas para ser um professor campeão
de audiência, de Doug Lemov, apresenta propostas de como o docente
pode estruturar e conduzir as atividades para tornar a aula mais interessante.
Para o autor, muitos docentes
estão familiarizados com um ritmo
próprio, porém normalmente dentro de uma concepção que se trata
da velocidade com que se ensina.
A ideia central é que uma mesma
atividade pode ser trabalhada em
Bernadete Gatti: “É necessário muito
cuidado na escolha das atividades justamente para o dinamismo não levar à falta de atenção”
goga Bernadete Gatti, pesquisadora
na área de formação de docentes da
Fundação Carlos Chagas, consultora
da Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a
Cultura (Unesco) e da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes).
Por outro lado, de acordo com
a avaliação da pesquisadora, é necessário cuidado no uso das prá-
Resumo das técnicas para criar
um ritmo positivo em sala de aula
“Mude o Ritmo” – Muito tempo com
a mesma atividade durante todo o
período de aula pode causar distração. Mudar o formato das atividades
durante a aula, a cada 10 ou 15 minutos, ajuda a prender a atenção e
aumentar o rendimento.
“Marcar Etapas” – Sempre deixar claro que um trabalho começa e termina,
criando pontos que servem de referência e ajudam na percepção de que múltiplas atividades foram realizadas, tornando a aula estimulante e dinâmica.
“Todos Participam” – Mudar rapidamente o aluno que participa da
atividade, envolvendo muitos deles,
dando a impressão de ritmo rápido e envolvente. Essa técnica é especialmente adequada em situações
em que não é possível realizar muitas
mudanças de atividade.
“O Que Vem Por Aí” – Escrever no
quadro como será a rotina da aula,
se possível com nomes misteriosos,
para gerar um suspense e uma expectativa estimulante para tornar o
ritmo da aula vibrante.
“Trabalhe com o Relógio” – Dividir
o tempo da aula em partes específicas para cada tipo de atividade,
anunciando aos alunos a duração de
cada atividade se julgar necessário.
des justamente para o dinamismo
não levar à falta de atenção”, acredita.
Para Bernadete, tanto “Mude o
Ritmo” quanto “Todos Participam”
podem ser úteis, desde que não sejam utilizadas de forma genérica. O
professor deve então usar a autonomia intrínseca da sua função para
realizar tais ajustes à realidade cultural. Já “Trabalhe Com o Relógio”
Eu testei
“O diretor pedagógico do colégio me
apresentou o livro no início do semestre e comecei a testá-lo. Se tivesse lido
antes, no começo do ano, teria planejado o período inteiro de forma totalmente diferente.
No geral são técnicas que eu já
usava, mas sem uma orientação tão
estruturada e planejada, o que faz
muita diferença. Escolhi a turma mais
agitada, do 2º ano do ensino médio,
e expliquei aos alunos que mudaria
a postura. Eles aceitaram e reagiram
bem.
Os resultados foram imediatos, até
porque a matéria trabalhada, que é a
genética, também ajudou bastante. A
partir daí, tudo que dá certo com essa
turma uso com as outras. Ficou mais fácil realizar todas as tarefas propostas
em aulas de 50 minutos, por exemplo.
Com as técnicas de organização
e ocupação de espaço, como ‘Faça o
Mapa’ [capítulo 2] e ‘Circule’ [capítulo
3], chego na sala e a turma já se encontra acomodada, o que antes tomava até 10 minutos.
O capítulo 8, especificamente, é interessante porque dá ao aluno a noção de que o tempo passa mais rápido. Alguns deles ficam mais de seis
horas dentro da escola e precisam
gostar de estar nesse ambiente. O
controle do ritmo faz com que gostem
mais da aula, da instituição e do próprio professor.
Com ‘Mude o Ritmo’, por exemplo,
alterno leitura, discussão e outras atividades. Passei a escrever no quadro
o módulo trabalhado na aula, aliando
com ‘O Que Vem Por Aí’, [e então] passo uma breve introdução e a cada 10
ou 12 minutos mudo a atividade. O resultado é que os alunos não percebem
o tempo passar. O controle do tempo
(‘Trabalhe com o Relógio’) ajuda a evitar a dispersão.
Para a técnica ‘Marcar Etapas’ uso
premiações quando as tarefas das atividades são cumpridas, além de bordões, aliando com ‘Todos Participam’.
Em turmas preparatórias para vestibular, dou de presente para quem
cumpre os objetivos um ‘lápis da sorte’. Quando um aluno acerta, eu digo:
‘Fulano, você sabe’, e a turma responde: ‘você vai passar’. É uma forma de
engajar e estimular.
Em ‘Cada Minuto Conta’ não trabalho apenas no término da aula.
Depois de cada conteúdo, faço um
teste oral rápido e passo para o próximo objetivo quando foi fixado. Se ao
final as dúvidas continuam, passo como tarefa. Para não parecer algo negativo, uso também bordões, como
‘Prazer de Casa’, em vez de ‘dever’, e
‘Exorcício’ quando é uma tarefa complexa com cumprimento de objetivo
pendente. Também sempre digo para estimular que o trabalho não é mais
difícil, é mais intrigante.”
Arquivo pessoal
“Cada Minuto Conta” – Jamais deixar de usar os últimos minutos de aula por falta de tempo hábil para iniciar
uma nova tarefa ou tema. Pode-se
usar atividades curtas que podem ser
realizadas de maneira dinâmica e que
evitem a dispersão dos alunos enquanto aguardam o toque do sinal.
ticas. “Mude o ritmo”, “Todos
Participam” e “Trabalhe com o
Relógio”, por exemplo, são técnicas
que buscam estimular o aluno e ensiná-lo a lidar com prazos. “Porém
a noção de tempo nas culturas brasileira e estadunidense é muito distinta. Mudanças bruscas de atividades na nossa realidade podem
causar dispersão. É necessário muito cuidado na escolha das ativida-
Meire-Anne Rezende de Oliveira é coordenadora de Biologia e Ciências no Sistema
Elite Rio e usa as técnicas em turmas de nível fundamental II (9º ano), médio (2º ano)
e cursos preparatórios para o vestibular.
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pode ser interpretado no Brasil como um excessivo controle do tempo, e pode acabar criando tensão.
“O professor pode desenvolver o seu
próprio tempo de troca de atividades para que se privilegie a reflexão, sem criar ansiedade”, analisa.
A professora também acredita que, no controle do ritmo das aulas, é fundamental que o aluno per-
O teste da reportagem
A impressão que dá ao se usar as
técnicas adicionais, como as do capítulo 8, é que se trata de uma síntese
de técnicas dos capítulos anteriores.
“Mude o Ritmo”, por exemplo, pode ser empregada como um resumo
bem estruturado de partes do capítulo 2 (Planejar para garantir um bom
desempenho acadêmico), do capítulo
3 (Estruturar e dar aulas) e do capítulo 4 (Motivar os alunos na sua aula).
De qualquer forma, como as aulas com a turma observada ocorreram com pelo menos duas partes,
sempre havia uma alternância natural do ritmo. Apenas os intervalos entre atividades teóricas (leitura) e prática foram maiores por se tratar de
uma turma de nível superior. Com isso, marcar etapas foi dispensável,
pois as atividades em si já eram bastante distintas.
Na prática não se percebeu diferença entre “Cada Minuto
Conta” e uma prática em conjunto de “Arremate”, “Mais Uma Vez” e
“Entendeu?”, todas do capítulo 3. “O
Que Vem Por Aí” já era praticada e
“Todos Participam” não foi testada
para evitar que os alunos tratassem
a técnica de forma jocosa. “Trabalhe
com o Relógio” também pareceu mais
consequência das técnicas de planejamento das aulas do que uma proposta específica.
O repórter Fabio Venturini, também historiador e professor universitário na área de
Comunicação Social, testou as técnicas para esta reportagem durante o 1º semestre
de 2011, com uma turma de 5º período de
Jornalismo no Centro Universitário Estácio
Radial, de São Paulo (SP).
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ceba a passagem de uma atividade a
outra para não dispersar, o que pode ser obtido com “Marcar Etapas” e
“O Que Vem Por Aí”. Criar a expectativa por uma atividade é uma das
sugestões mais ricas, pois estimula a
imaginação, instiga o aluno a refletir
e encadear o raciocínio. Esse aspecto
é muito importante no nível fundamental, porém requer cuidado no ensino médio – pelo perfil da idade, os
alunos podem dar tratamento debochado a nomes e posturas. “É preciso sentir o clima da turma”, afirma.
Bernadete Gatti também descreve uma técnica chamada “Avaliação
Minuto”, muito semelhante à prática “Cada Minuto Conta”, descrita
no livro de Lemov, usada tanto para
aproveitar o tempo da aula sem desperdícios quanto para garantir que
a aprendizagem ocorra. “[Significa]
o professor propor perguntas ou
uma atividade escrita de rápida resolução para rememorar o que foi
trabalhado e verificar a compreensão. A proposta do Lemov nessa técnica é boa e vai também nesse sentido”, recomenda.
Até o sétimo capítulo, Lemov
listou 49 práticas didáticas de professores que conseguiram aumentar o rendimento de seus alunos.
Nessa fase foram envolvidos aspectos como expectativas dos alunos, planejamento, estruturação de
aulas, motivação, cultura escolar,
padrões de comportamento e autoconfiança. Os dois últimos dessa primeira parte do livro abordam
ritmo e formas de questionamento
para estimular o pensamento crítico (a segunda parte do livro é sobre
prática de leitura).
Bernadete Gatti leu as versões em
inglês e a tradução para o português
e, como pesquisadora na área de formação de professores, afirma que a
obra é uma contribuição muito grande para a realidade brasileira, considerando que no País não há livros que
orientem sobre situações específicas
de sala de aula.
“A didática praticamente desapareceu dos currículos para os cursos
de formação de professores. Quando
existe é em programas de Psicologia
Educacional, baseados em Lev
Vygotsky e Jean Piaget, não necessariamente em grandes teorias pedagógicas. Licenciaturas em Língua
Portuguesa, Matemática e Biologia,
por exemplo, não tratam de didática, mas formam professores que vão
lidar com crianças. [Estes] saem da
formação sem perfil e sem repertório para o trabalho” revela.
Para a pesquisadora, o livro poderia ser usado em disciplinas de
Prática de Ensino, por exemplo.
Além disso, ajuda o docente em atividade a entender situações didáticas,
aumentando seu repertório e possibilitando o uso dos exemplos para criar
alternativas em sala. “Por outro lado,
as propostas de Lemov se mostram
mais úteis para professores do fundamental II e do ensino médio, pois
não trazem muitas situações típicas
dos anos iniciais, como a alfabetização de crianças”, finaliza.
Na próxima edição, técnicas para estimular os alunos a pensar criticamente
O capítulo 9 do livro de Doug Lemov
aborda práticas adicionais para o
professor fazer perguntas e responder aos alunos. Segundo o autor, o
conceito por trás do ato de fazer perguntas pode servir para pelo menos
cinco objetivos: orientar os alunos para que compreendam um assunto novo, estimular os alunos a realizarem a
maior parte do raciocínio, corrigir um
erro, “puxar” mais os alunos e verificar o entendimento. Para tanto, o autor propõe as técnicas “Uma de Cada
Vez”, “Do Simples ao Complexo”, “Ipsis
Literis”, “Claro e Conciso”, “Estoque de
Perguntas” e “Taxa de Acerto”.
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